Vivência LGBTQIA+ no Brasil

O

LUTO

O

QUE

OFUSCA

ARCO-ÍRIS

A VIVÊNCIA LGBTQIA+ NO BRASIL

Universidade Federal Fluminense Jornalismo - 2020.2 Revista digital produzida como atividade final da disciplina de Introdução ao Fotojornalismo, ministrada pelo professor Michele Pucarelli e monitorada por Mariana Mangueira Leite.

Discentes: Larissa Vitória de Oliveira e Paulo Roberto Guimarães.

Foto: Autor desconhecido, Agência Brasil

DIA INTERNACIONAL CONTRA A LGBTFOBIA No dia 17 de maio comemora-se o Dia Internacional contra a LGBTfobia. Isso porque neste mesmo dia, em 1990, a Organização Mundial da Saúde deixou de considerar a homossexualidade uma patologia quando a retirou da lista da Classificação Internacional de Doenças.

Desde então os indivíduos da comunidade LGBTQIA+ conseguiram conquistar espaço na sociedade brasileira. Todavia, dados mostram que essa conquista é descontínua e lenta. Por essa razão, aqueles que integram a sigla seguem sendo vítimas de represálias diariamente no país.

Ainda que constituam uma mesma coletividade e sejam atingidos pela LGBTfobia, seus integrantes sofrem diferentes formas de retaliações. Pensando nisso, esta reportagem decidiu abordar cada sigla separadamente, a fim de considerar todas as individualidades presentes no grupo.

O Brasil, ao contrário de países como os EUA, não possui estatísticas oficiais sobre a violência contra a comunidade. Por isso há uma dependência de dados produzidos por entidades não governamentais.

Os dados expostos nessa publicação são referentes ao Observatório de Mortes Violentas de LGBTI+ no Brasil em 2020, elaborado pelas ONGs Acontece Arte e Política LGBTI+ e o Grupo Gay da Bahia. O relatório mostra que 237 mortes foram causadas pela LGBTfobia no Brasil em 2020.

Foto: Claudinho Irennio, Arte Cultura Imagem

L

A letra “L” representa as lésbicas – mulheres que sentem atração e se relacionam com outras mulheres. A discriminação sofrida por quem se identifica com esta orientação recebe o nome de lesbofobia. Em 2020, 10 (15% do total) mulheres lésbicas foram mortas vítimas do preconceito. Entre elas, três tinham de 15 a 30 anos de idade; três entre 31 e 45; e quatro não foram informadas.

[Para saber mais]: Série: The Sex Lives of College Girls

Foto: Fernanda Piccolo, Documentadas

Foto: Fernanda Piccolo, Documentadas

T

Foto: Dar Yasin - AP

O “T” diz respeito aos termos transgênero e

Dito isso, mulheres trans e travestis são as

travesti – pessoas que não se identificam

mais vitimizadas pela lgbtfobia no Brasil. O

com o gênero que lhes foi designado pelo

relatório realizado pelas entidades mostra

sexo no nascimento.

que em 2020, 161 (76%) das mortes dizem respeito a esse grupo. Tendo sete sido

Antes de expor os dados equivalentes ao

causadas por suicídio.

grupo, é preciso esclarecer algumas dúvidas recorrentes sobre os termos mulher trans e

Entre elas, 59 tinham entre 15 e 30 anos; 30

travesti.

de 31 a 45; seis 46 ou mais; e 66 não foram informadas.

Primeiramente,

travesti

é

exclusivamente

feminino.

um

não

Já no que diz respeito aos homens trans, três

existem homens travestis. Já os termos trans,

(1%) foram vitimizados pela transfobia, e

transgênero

todas

utilizados

e

Ou

vocábulo

transexual

tanto

para

seja,

podem

as

ser

identidades

masculinas quanto para as femininas.

as

mortes

foram

causadas

pelo

suicídio. Dentre eles, dois tinham entre 15 e 30 anos e um não teve idade informada.

Muitas pessoas acreditam que a diferença entre ser uma mulher trans e travesti está no desejo de realizar ou não a modificação genital. De acordo com esse imaginário, mulheres trans seriam as que teriam o

Homem trans. 3. 1%

Homem cis.

42. 20%

desejo de realizar a mudança e as travestis não.

Mulher cis.

7. 3%

No entanto, a diferença entre os termos está em uma questão de autodenominação.

Nem todas as travestis se identificam com o gênero feminino dentro da binariedade, e sim

apenas

contrapartida,

como

travestis.

existem

aquelas

Em se

identificam com o gênero e se reconhecem tanto

como

travestis,

quanto

como

mulheres trans.

Travesti e mulher trans. 161. 76%

Por fim, é importante ressaltar que trans e travesti são identidades de gênero, e não possuem

influência

sobre

a

orientação

sexual de nenhum indivíduo.

[Para saber mais]: Linn da Quebrada - Oração

Foto: Giorgia Prates - Portal Gelédes

Foto: Gabriel Renné, Gay.tv.br

“Eu sou o fracasso. Eu fracassei.

Não sou mulher, não sou homem,

Sou o fracasso de tudo que esperavam que eu fosse.

sou TRAVESTI”

LINN DA QUEBRADA

Foto: Gabriel Renné, Gay.tv.br

Q O “Q” representa a palavra queer – teoria que acredita que orientação sexual e identidade de gênero se tratam de construções socioculturais e não de questões biológicas. Logo, a pessoa que se enquadra no termo pode

tanto

transitar

entre

as

identidades masculina e feminina; quando se reconhecer como nãobinária, não se enquadrando em nenhum gênero, ou os rejeitando por não se limitar a apenas um.

[Para saber mais]: Quebrada Queer - Guigo Murillo Zyess Harlley Boombeat Tchelo Gomez

Foto Rovena Rosa, Agência Brasil

Foto: Grupo Dignidade

I O “I” diz respeito aos indivíduos intersexuais – pessoas que ao nascerem desenvolvem parcial ou completamente tanto características sexuais biológicas femininas quanto masculinas.

Foto: Revista Saúde

A variação sexual é vista por muitos como um desvio. Por essa razão, intersexos são submetidos à retaliação desde cedo, já que ao nascerem diversos médicos e responsáveis defendem a intervenção cirúrgica a fim de fazer com que a criança se encaixe no binarismo de gênero; privando-a, portanto, de escolher como deseja viver

[Para saber mais]: Filme: XXY

CRÉDITOS Foto 1: Fernando Bizerra Jr, VEJA Disponível em: https://veja.abril.com.br/ciencia/7-conquistas-e-um-grande-desafio-dos-lgbt-nos-ultimos-20-anos/ Acesso em 04, dez. 2021.

Foto 2: Autor desconhecido, Agência Brasil Disponível em: https://www.cartacapital.com.br/diversidade/um-lgbt-e-agredido-no-brasil-a-cada-hora-revelamdados-do-sus/ Acesso em 04, dez. 2021.

Foto 3: Claudinho Irennio, Arte Cultura Imagem Disponível em: https://gay.blog.br/noticias/cantor-ge-de-lima-ocupa-redes-sociais-do-gayblogbr-para-conscientizarsobre-racismo/ Acesso em 04, dez. 2021.

Foto 4: Fernanda Piccolo, Documentadas Disponível em: https://www.documentadas.com/maternidadesapatao Acesso em 04, dez. 2021.

Foto 5: Fernanda Piccolo, Documentadas Disponível em: https://www.documentadas.com/maternidadesapatao Acesso em 21, jan. 2022.

Foto 6: Dar Yasin, AP Disponível em: https://g1.globo.com/retrospectiva/2021/noticia/2021/12/20/retrospectiva-2021-fotos-do-ano.ghtml Acesso em 14, jan. 2020.

Foto 7: Giorgia Prates, Portal Géledes Disponível em: https://www.geledes.org.br/parana-governo-dificulta-acesso-a-saude-para-populacao-trans-etravesti/ Acesso em 21, jan. 2022.

Foto 8: Gabriel Renné, Gay.tv.br Disponível em: https://gay.blog.br/online/oracao-linn-da-quebrada-2019/ Acesso em 21, jan. 2022.

Foto 9: Gabriel Renné, Gay.tv.br Disponível em: https://gay.blog.br/online/oracao-linn-da-quebrada-2019/ Acesso em 21, jan. 2022.

Foto 10: Rovena Rosa, Agência Brasil Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2019-06/parada-do-orgulho-lgbt-de-saopaulo-ocupa-avenida-paulista-no Acesso em 04, dez. 2021.

Foto 11: Autor desconhecido, Grupo Dignidade Disponível em: https://www.grupodignidade.org.br/intersex-o-que-voce-precisa-saber-sobre-o-i-em-lgbti-no-dia-davisibilidade-intersexual/ Acesso em 21, jan. 2022.

Foto 12: Autor desconhecido, Revista Saúde Disponível em: https://rsaude.com.br/sinop/materia/intersexo/12012 Acesso em 21, jan. 2022.