Revista Viração - Edição 64 - Agosto/2010

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a r i V a z a f m e Veja qu

Sexo e Saúde

pelo Brasil

Associação Imagem Comunitária Belo Horizonte (MG)

Casa da Juventude Pe. Burnier Goiânia (GO)

Universidade Popular Belém (PA)

Ciranda – Curitiba (PR) Central de Notícias dos Direitos da Infância e Adolescência

Rede Sou de Atitude Maranhão São Luís (MA)

Catavento Comunicação e Educação Fortaleza (CE)

Centro Cultural Bájò Ayò João Pessoa (PB)

Avalanche Missões Urbanas Underground Vitória (ES)

Cipó Comunicação Interativa Salvador (BA)

Companhia Terra-Mar Natal (RN)

Agência Uga-Uga Manaus (AM)

Girassolidário Campo Grande (MS)

União da Juventude Socialista Rio Branco (AC)

Bemfam - Recife (PE)

Diretório Acadêmico Freitas Neto Maceió (AL)

Fundação Athos Bulcão Brasília (DF)

Grupo Makunaima Protagonismo Juvenil (RR)

Centro Cultural Escrava Anastácia Florianópolis (SC)

Jornal O Cidadão Rio de Janeiro (RJ)

Grupo Cultural Entreface (Diversidade Juvenil, Comunicação e Cidadania) Belo Horizonte (MG)

Grupo Atitude - Porto Alegre (RS)

Centro de Refererência Integral de Adolescentes Salvador (BA)

Virajovem Vitória - Vitória (ES)

Taba - Campinas (SP)


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e s o d n a c i n u m o Educ A “

parceria ecial. Em p s e m e g porta CA/USP), az uma re da USP (E tr s s e ê rt al m A e te es profission icação Viração d de Comun lternativa a to a n v e o n m a a part r um com o De a conhece idade de cê, leitor, na Univers o v o ã s ç o a u m d a e gra convid o curso d a e USP, çada com n la r e s res da Vir e o d d a a b ic a n c u a m que uco unicação. cialistas e ns e os ed : a educom com espe ntes, jove s e c ta s is le v o São Paulo e d tr a n r ea de e ls feito po por meio abalho qu O especia unicação mpos de tr m a o c c s u o d e s s e o a ue m cla m tod istória d carreira q a presentara s conta a h a s e e d u m feitos q s , a a as dúvid textos fora is da áre s a a e n d s io to s ta s r is fi v ra pro ntre lém de ti rtagens, e oferece, a unicativo. as as repo d o T profissão . o o educom s ã s ç e a c ic n ro u p m m o ec os do or, nu educação os cem an a, ou melh re v b ti o s ra o m b e la g a co da Vira de porta de maneir Conselho ém uma re o b , m te s ta e m rd o No A edição te idas pelas Brasil e, n ades ating coteiro no id s c E s a to d n e a ), um Movim jovens têm Murici (AL como os r té a a h i n a fo p s a m Alago para aco de junho, -tragédia. enchentes rotina pós a v o n a o enfrentad Confira!

Quem somos

Conteúdo

Copie sem moderação! Você pode: • Copiar e distribuir • Criar obras derivadas Basta dar o crédito para a Vira!

Apoio Institucional

A

Viração é um uma organização não governamental (ONG), de educomunicação, sem fins lucrativos, criada em março de 2003. Recebe apoio institucional do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), do Núcleo de Comunicação e Educação da Universidade de São Paulo e da Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi). Além de produzir a revista, oferece cursos e oficinas de capacitação em comunicação popular feita para jovens, por jovens e com jovens em escolas, grupos e comunidades em todo o Brasil. Para a produção da revista impressa e eletrônica (www.viracao.org),contamos com a participação dos conselhos editoriais jovens de 22 Estados, que reúnem representantes de escolas públicas e particulares, projetos e movimentos sociais. Entre os prêmios conquistados nesses seis anos, estão Prêmio Don Mario Pasini Comunicatore, em Roma (Itália), o Prêmio Cidadania Mundial, concedido pela Comunidade Bahá'í. E mais: no ranking da Andi, a Viração é a primeira entre as revistas voltadas para jovens. Participe você também desse projeto. Veja, ao lado, nossos contatos nos Estados. Paulo Pereira de lima Coordenador Executivo da Viração – MTB 27.300

Conheça os Virajovens em 22 Estados brasileiros e no distrito Federal Belém (PA) - pa@viracao.org Belo Horizonte (MG) - mg@viracao.org Boa Vista (RR) - rr@viracao.org Brasília (DF) - df@viracao.org Campinas (SP) - sp@viracao.org Campo Grande (MS) - ms@viracao.org Curitiba (PR) - pr@viracao.org Florianópolis (SC) - sc@viracao.org Fortaleza (CE) - ce@viracao.org Goiânia (GO) - go@viracao.org João Pessoa (PB) - pb@viracao.org Lavras (MG) - mg@viracao.org Maceió (AL) - al@viracao.org Manaus (AM) - am@viracao.org Natal (RN) - rn@viracao.org Porto Velho (RO) - ro@viracao.org Recife (PE) - pe@viracao.org Rio Branco (AC) - ac@viracao.org Rio de Janeiro (RJ) - rj@viracao.org Sabará (MG) - mg@viracao.org Salvador (BA) - ba@viracao.org S. Gabriel da Cachoeira - am@viracao.org São Luís (MA) - ma@viracao.org São Paulo (SP) - sp@viracao.org Serra do Navio (AP) - ap@viracao.org Teresina (PI) - pi@viracao.org Vitória (ES) – es@viracao.org

A Revista Viração é publicada mensalmente em São Paulo (SP) pela ONG Viração Educomunicação, filiada ao Sindicato das Empresas Proprietárias de Jornais e Revistas de São Paulo (Sindjore); CNPJ: 11.228.471/0001-78; Inscrição Municipal: 3.975.955-5

at en dimen t o ao l eit o r Rua Augusta, 1239 - conj. 11 - Consolação 01305-100 - São Paulo - SP Tel./Fax: (11) 3237-4091 / 3567-8687 HoRáRio dE atEndimEnto Das 9h às 13h e das 14h às 18h E-mail da REdação E assinatuRa redacao@viracao.org assinatura@viracao.org

Revista Viração • Ano 8 • Edição 64

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Alforria musical

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Começar do z

ero Acompanhe a história de três famílias de jovens que sofre ram com as ch uvas que alagaram o No rdeste em junho

Assexuados, não!

pessoas com Seminário discute o sexo entre nas ações rado lemb co pou ico públ deficiência, aids de enfrentamento às dst/

No Galera Repórter, uma entrevista com os integrantes da banda de rock Los Porongas, que surgiram de um movimento musical independente do Acre

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Demorou!

) lança curso de Universidade de São Paulo (USP poderá atuar em nal issio prof e ação unic Educom um especial para arou prep diversas áreas. A Vira ador unic com edu do el pap o decifrar

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Após projeto do Un ação em o social e comunic ações de mobilizaçã o Paulo comunidades de Sã

Sempre na Vira

Manda Vê . . . . . . . . . . . . . 06 PCU . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 De Olho no ECA . . . . . . . . 14 No Escurinho . . . . . . . . . . 29 Rango da Terrinha . . . . . . 30 Escuta Soh! . . . . . . . . . . . . 32 Sexo e Saúde . . . . . . . . . . 33 Parada Social . . . . . . . . . . 34 Rap Dez . . . . . . . . . . . . . . 35

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Comemoração

Com 28 milhões de participantes no mundo, Movimento Escoteiro comemora cem anos de presença no Brasil

Encontro verde

Saiba o que rolou na Confint, even to que reuniu em Brasília (DF) crianças e adolescentes, de 53 países, para discutir meio ambiente

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na da is cantoras Trilha latium a das principa sa s So Considerada ina Mercede Sul, a argent a ic lít po América do de r ica para fala ús m a u zo utili

RG VÁLIDO EM TODO TERRITÓRIO NACIONAL Conselho Editorial

Coordenação Executiva

Eugênio Bucci, Ismar de Oliveira, Izabel Leão, Immaculada Lopez, João Pedro Baresi, Mara Luquet e Valdênia Paulino

Paulo Lima e Lilian Romão

Conselho Fiscal Everaldo Oliveira, Renata Rosa e Rodrigo Bandeira

Conselho Consultivo

Equipe Ana Paula Marques, Carol Lemos, Elisangela Nunes, Eric Silva, Gisella Hiche, Luciano de Sálua, Maria Rehder, Micaela Cyrino, Rafael Lira, Rafael Stemberg, Simone Nascimento, Sonia Regina, Vânia Correia e Vivian Ragazzi

Douglas Lima, Isabel Santos, Ismar de Oliveira e Izabel Leão

Administração/Assinaturas

Presidente

Mobilizadores da Vira

Juliana Rocha Barroso

Acre (Leonardo Nora), Alagoas (Jhonathan Pino), Amapá (Camilo de Almeida Mota), Amazonas (Cláudia Ferraz e Délio Alves), Bahia (Nilton Lopes), Ceará (Amanda Nogueira e Rones Maciel), Distrito Federal (Ionara Silva), Espírito Santo (Filipe Borges, Jéssica Delcarro, Leandra Barros e Wanderson Araújo), Goiás (Érika Pereira e Sheila Manço), Maranhão

Vice-Presidente Cristina Paloschi Uchôa

Primeiro-Secretário Eduardo Peterle Nascimento

Norma Cinara Lemos e Danilo Asevedo

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(Sidnei Costa), Mato Grosso do Sul (Fernanda Pereira), Minas Gerais (Maria de Fátima Ribeiro e Pablo Abranches), Pará (Alex Pamplona), Paraíba (Niedja Ribeiro), Paraná (Juliana Cordeiro), Pernambuco (Maria Camila Florêncio), Piauí (Anderson Ramos da Luz), Rio de Janeiro (Gizele Martins), Rio Grande do Norte (Alessandro Muniz), Rondônia (Luciano Henrique da Costa), Roraima (Cleidionice Gonçalves), Santa Catarina (Celina Sales e Ciro Tavares) e São Paulo (Damiso Faustino, Luciano de Sálua, Sâmia Pereira, Simone Nascimento e Virgílio Paulo).

Consultor de Marketing Thomas Steward

Projeto Gráfico Ana Paula Marques e Cristina Sayuri

Jornalista Responsável Paulo Pereira Lima – MTB 27.300

Divulgação Equipe Viração

E-mail Redação e Assinatura redacao@viracao.org assinatura@viracao.org

Colaboradores Amanda Proetti, Anne-Sophie Lockner, Antônio Martins, Carolina Cunha, Emilia Merlini, Juliana Giron, Heloísa Sato, Lentini, Marcelo Rampazzo, Márcio Baraldi, Natália Forcat, Novaes, Paulo Pepe, Philipe Leonhardt e Sérgio Rizzo.

Preço da assinatura anual Assinatura Nova Renovação De colaboração Exterior

R$ 58,00 R$ 48,00 R$ 70,00 US$ 90,00


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A Vira pela igualdade. Diga lá. Todas e todos Mudança, Atitude e Ousadia jovem.

Fale com a gente!

Diga lá

Ida Pietricovsky Oliveira Belém (PA) - por e-mail Parabéns. A cada edição vocês conseguem se superar. A Viração com a capa “Melhores amigos” (nº 62), a justa homenagem à Neide Castanha e, claro, Mauricio de Sousa, está um arraso. Beijos!

Marta Gil – São Paulo (SP) por e-mail

Ida, é bom saber que está gostando da revista. Todos os meses, nossos Conselhos Jovens “ralam” muito para trazer um material de qualidade (editorial, pedagógico e político) aos leitores.

Como sempre, é muito bom fazer parceria com a Viração! Gostaria de agradecer e dar os parabéns aos jovens Nair e Carlos Henrique, que acompanharam o seminário Marta, os virajovens “Ações e Reflexões sobre Aids e deficiência” e também curtiram muito fizeram reportagens. O blog continua no ar: participar desse evento e www.aidsedeficiencia2010.blogspot.com ajudar na discussão do assunto. Beijos, até a próxima! A reportagem está nesta edição da Vira (pág.23) para todos verem o que rolou.

Nivia Machado – Sabará (MG) – por e-mail Sou jornalista da AFFAS (Ação Faça uma Família Sorrir), ONG situada no município de Sabará, que tem o Ponto de Cultura TI VI no Morro. Gostaria de dizer virei leitora assídua desde que li a Vira pela primeira vez. As matérias são super interessantes e bem escritas. A diagramação é super bacana, jovial.

Nivia, ficamos até com vergonha com tantos elogios =). Muito obrigado por acompanhar nosso trabalho. Abraços!

Siga a Vira no Twitter! Nosso perfil é http://twitter.com/viracao

Mande seus comentários sobre a Vira, dizendo o que achou de nossas reportagens e seções. Suas sugestões são bem-vindas! Escreva para nosso endereço: Rua Augusta, 1239 - Conj. 11 Consolação - 0135-100 - São Paulo (SP) ou para o e-mail: redacao@viracao.org Aguardamos sua participação!

Ponto G Para garantir a igualdade entre os gêneros na linguagem da Vira, onde se lê “o jovem” ou “os jovens”, leia-se também “a jovem” ou “as jovens”, assim como outros substantivos com variação de masculino e feminino.

Parceiros de Conteúdo


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Manda Vê Sâmia Pereira e Simone Nascimento, do Virajovem São Paulo (SP)* e Weslei Vicente Silva e Silmara Aparecida dos Santos, do Virajovem Lavras (MG)

É, as eleições estão chegando e logo todos os cidadãos que tenham mais de 16 anos de idade poderão exercer um de seus direitos, o voto! E nestas eleições acontecerá um grande marco para a história eleitoral brasileira: políticos com processos criminais em aberto, ou que já tenham suas “fichas sujas”, terão um sério problema com a nova lei Ficha Limpa, que barra a candidatura de pessoas condenadas por crimes graves, tais como racismo, homicídio, estupro, tráfico de drogas e desvio de verbas públicas. Porém, candidatos que aguardam algum julgamento poderão concorrer às eleições com a condição de perder seus mandatos caso sejam declarados culpados após o

período eleitoral. A campanha foi lançada em abril de 2008, por meio da iniciativa popular, conseguindo mobilizar grande parte do público através de discussões em redes sociais como o Facebook, Orkut e Twitter. O retorno foi tão positivo que, em setembro de 2009, o Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE) entregou o projeto ao presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer, junto com um milhão e 600 mil assinaturas. Até o fechamento desta edição, muitos políticos estavam impedidos de se candidatar por conta da lei. E nós, os virajovens, fomos ver o que a galera pensa sobre isso.

O que você achou da Lei Ficha Limpa? Andressa da Silva, 17 Anos, Carrancas (MG) “A Ficha Limpa é muito importante. Na maioria das vezes, quem comete um crime uma vez pode cometer novamente, e pôr em risco a sociedade.” Rodrigo Fernandes Primon, 17 anos, São Paulo (SP)

Fabio Tito Reis, 19 anos, Carrancas /MG

“Achei super válida e correta, pois é difícil acreditar e confiar nos políticos do Brasil. Particularmente não gosto de generalizar, mas infelizmente nessa área a corrupção domina. E se a pessoa tem um processo criminal aberto, dá para tirar uma conclusão de que não é 'alguém de bem' e que não faz as coisas em conformidade com a lei.”

“Achei a lei muito legal, pois uma pessoa que foi desonesta uma vez pode muito bem cometer outros erros.”

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*Integrantes de Conselhos Jovens da Vira presentes em 22 Estados e no Distrito Federal (sp@viracao.org e mg@viracao.org)


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Diego Pereira dos Santos, 22 anos, São Paulo (SP)

Daniela de Oliveira Vieira, 16 anos, Taboão da Serra (SP) “Eu aprecio a lei Ficha Limpa, pois acredito que os cidadãos que não cumprem com os seus deveres não podem assumir um cargo no governo. Aqueles que erraram e almejam assumir algum cargo no Executivo devem primeiro resolver suas 'pendências'. Alguém que cometeu um erro como cidadão pode cometer erros piores ao ter responsabilidades que envolvem outros cidadãos, e aí a coisa complica.”

“Acho bom para o desenvolvimento e fortalecimento da política brasileira. Isso é apenas o começo de um novo Brasil que ainda está crescendo”.

Rizete dos Reis, 17 Anos, Carrancas (MG) “Penso ser um absurdo as pessoas que têm ficha suja se candidatarem, porque a gente quer eleger pessoas que sejam honestas e estejam dispostas a lutar por um País cada vez melhor”.

Natália Moreno, 23 anos, Porto Feliz (SP) “Achei ótimo. Infelizmente existem pessoas que não acompanham a vida dos candidatos e votam sem saber o que este já fez ou deixou de fazer. Há também as pessoas que trocam seu voto e esta lei irá, de alguma maneira, selecionar os candidatos mais ‘limpos’ para nos representar.”

José Paulo Guimarães, 17 anos, Carrancas (MG) “Legal, pois, além de não permitir que políticos com nome ‘sujo’ sejam eleitos, proporciona uma grande segurança à população em relação ao seu voto”.

Ficha Limpa – Lei Complementar no 135 de 4 de junho de 2010 (vários autores) – Editora Edipro Lançado no final de julho, o livro reúne trabalhos de 23 autores (entre juristas e integrantes de movimentos sociais), responsáveis pela iniciativa popular que deu origem à Ficha Limpa, que ajudarão os leitores a interpretarem a nova lei. A publicação é uma das ações do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), que também lançou um site (www.mcce.org.br) para monitoramento das eleições de 2010 e orientações sobre como o eleitor pode formalizar uma denúncia sobre algum político corrupto.

Faz Parte

A MTV Brasil também resolveu dar sua contribuição para que o eleitor fiscalize os candidatos às eleições deste ano. Além de manter um site com informações sobre todos os candidatos que disputam o cargo de presidente da República (www.mtv.com.br/tomecontadobrasil), o projeto “Tome Conta do Brasil” prevê um debate presidencial, com a participação dos jovens, e programas jornalísticos sobre o tema durante a programação da emissora.


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Texto e fotos: Daniel Silva, Elaine Cecília, Jhonathan Pino, Roberta Batista e Thaís Magalhães, do Virajovem Maceió (AL)*

U

m mês depois das enchentes que castigaram milhares de famílias nos Estados de Pernambuco e Alagoas, deixando mais de 100 mil pessoas desabrigadas e quase uma centena de mortos e desaparecidos, a equipe do Virajovem foi a Murici, cidadezinha de 27 mil habitantes que fica a 51quilômetros da capital, Maceió, e uma das mais atingidas pelas enchentes. Logo na entrada da cidade é possível ver um varal com milhares de roupas estendidas nas cercas das fazendas ao redor da região. Em frente ao varal coletivo, estão centenas de desabrigados ocupando quatro prédios que foram construídos para servir de rodoviária e galpões para futuras instalações de indústrias têxtil na cidade, e que agora servem de abrigo para essas pessoas. Um dos desabrigados é Antônio Carlos Rufino Moreira, de 16 anos. Encontramos com ele em frente a um dos galpões com seus atípicos olhos azuis que tanto encantaram as meninas da Vira. Quando o vimos pela primeira vez, ele estava encostado num dos galpões, olhando pacientemente para aquele amontoado de gente que se ocupava nas caixas d’água, lavando suas roupas e dando banho nos menores em frente ao galpão. Barulho, mau cheiro, brigas, tentativas de roubo: “Aqui acontece coisa que até Deus duvida”, nos falou a mãe de Rufino, Maria da Silva, de 46 anos. Quando as

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e os Rio Mundaú Margens do ) da er qu (à es desabrigados

águas do Rio Mundaú estavam subindo, no dia 18 de junho, o jovem partiu, ao lado de seus três irmãos, com as águas pelos joelhos para a Usina São Simieão, local mais alto onde poderiam ficar mais seguros. Sua mãe, dona Maria, não resistiu à curiosidade: preferiu ficar e passou três dias em cima da casa esperando a água baixar. “Fiquei pra ver a enchente, porque nunca tinha visto uma.” Maria foi avisada pelas pessoas que haveria a cheia, mas preferiu ficar para ver. “Porque eu era curiosa, mas agora, graças a Deus não sou mais. Eu quase morri!”, revela Maria. Ela recebeu ajuda de um vizinho, que colocou uma escada para que Maria e mais três vizinhos ficassem em cima da casa. “Não teve socorro não. O helicóptero passava, a gente gritava, mas ninguém foi socorrido”, disse ela. Rufino ficou três dias com os irmãos menores sem saber onde estava a mãe e esperando as águas passarem. Quando o encontramos, no dia 18 de julho, um mês depois das enchentes, Rufino ainda

trabalhava como uma formiguinha, tirando sozinho a lama de sua casa, que chegou a atingir um metro de altura. Ele disse que agora só falta limpar o telhado da casa para que voltem para o local onde moravam. Maria e seu filho Rufino perderam tudo e agora vivem das doações que chegam, além de estarem abrigados num ambiente coletivo, em que o barulho é constante, o mau cheiro toma conta do lugar.

Recomeço Enquanto estávamos fotografando o centro da cidade de Murici, que mais parecia um cenário daqueles que vemos em filmes de guerra, encontramos Maria de Lurdes de Deus Ferreira, de 17 anos, sua mãe Maria José, de 49 anos e os filhos de Lurdes, Derick Luan, de 2 anos, e Dalisson Werick, de apenas 10 meses. Eles estavam indo para casa, na rua da Floresta – a mesma onde Rufino morava – levando num carrinho de mão algumas roupas velhas distribuídas pelo exército. A casa, ainda úmida e com marcas de água até o teto, estava cheia de roupas velhas espalhadas por todos os cômodos. Apesar do número grande de roupas, estas não serviam, eram muito grandes e as


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por um rio Se puder, saiba como colaborar com doações ao Nordeste (As contas foram divulgadas pelo Gabinete de Segurança Institucional, órgão da Presidência da República): Alagoas: Banco do Brasil – C/C 5241-8 Agência 3557-2 Pernambuco: Banco do Brasil – C/C 100.000-4 Agência 1836-8

crianças ainda ficavam quase nuas e descalças devido à falta de donativos voltados para as crianças. Como o colchão ainda estava molhado e o chão, tanto da casa como da rua, cheio de lama, todos eles pegaram micoses, e os dois filhos de Lurdes ficaram seriamente doentes. Eles souberam da cheia um pouco antes, às 16h da sexta-feira, quando um homem desconhecido passou avisando: “quem tiver criança vá embora daqui, vai chegar muita água daqui a pouco. Vem muita coisa descendo aí.” Mas elas acharam que seria uma experiência como as outras, em que a água não subiu mais que a altura dos joelhos. Maria Patrícia, de 20 anos, irmã de Lurdes e mãe de Saniele Lauane, que não tinha sequer 2 meses de vida, não quis saber de esperar, “estava chovendo, botei a pequeninha no braço, peguei a sombrinha e fui. Meus vizinhos ficaram três dias em cima das casas”, disse Patrícia. Lurdes e Patrícia, que estavam doentes havia vários dias e não estavam se alimentando direito, ficaram com bastante medo. Elas foram para a casa do irmão, que fica na Usina São Simeão, “porque é longe do rio”. Quando elas saíram, pouco mais de 17h, a água já estava próximo ao joelho. “A água já tava na perna”, diz Lurdes, mostrando a perna e a altura da água na parede.

Vida provisória Longe do rio estava a família de Carla

livros unicipal tinha Biblioteca m s de teto re do nos ventila os ad ur nd pe

Taíse da Silva, de 12 anos. Ela, seus pais, Carlos Henrique, de 33 anos, e Maria José da Conceição, de 28 anos, além de seus irmãos Claudemir Henrique, de 11 anos, Charles Henrique, de 9 anos, Cleberson Eduardo, de 4 anos, e Carlos Eduardo, de 3 anos, estavam num complexo de barracas de lona montadas pelo Corpo de Bombeiros. Na barraca deles tinha roupas e quatro colchões de solteiro que eles ganharam. Eles também recebem comida três vezes ao dia, mas não sabem quando vão sair das barracas. “Ninguém chegou para dizer ainda quanto tempo vamos passar aqui”, disse Maria, mãe da Carla. Eles saíram de casa quando a água estava no joelho, mas não deu tempo de tirar nada. “Tudo foi muito rápido”. Mas mesmo assim, Maria José disse que não queria sair de casa na sexta. “A gente perdeu a casa, não queria sair porque ficamos desabrigados, com tantas crianças. Eu não pensava no perigo, não dá pra pensar em nada,” fala Maria José. Eles disseram que durante a noite é tranquilo ficar na barraca, mas que durante

o dia, devido ao calor, não há condições disso, “a quentura é demais”, comentam. Apesar de existirem torneiras perto do local, Maria José ainda não sabe como vai fazer para lavar roupa, “aqui é ruim pra lavar pano, não tem onde separar. Quando a gente vai tomar banho, o pessoal fica olhando, aí tem que tomar banho de roupa,” avisa Carla com os olhos negros e confusos. Todos os adolescentes com quem conversamos estudavam no mesmo colégio. Não se conheciam, mas tinham o mesmo destino naquela sexta-feira, 18 de junho. Foram expulsos de suas casas com as águas do Rio Mundaú batendo nos joelhos; esperaram durantes três dias as águas baixarem enquanto estavam ilhados e agora estão apenas esperando alguma ajuda capaz de tirá-los da bagunça, da sujeira e dos olhos curiosos daqueles que se aproveitam do momento para ver seus corpos enquanto tomam banho. V * Um dos Conselhos Jovens da Vira presentes em 22 Estados e no Distrito Federal (al@viracao.org)

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a r e l a G

r e t r Repó

Do Acre para São Paulo, de São Paulo para o Brasil Perto de lançar o segundo álbum, integrantes da banda Los Porongas falam sobre o cenário musical independente do Acre e das experiências vividas em São Paulo Carolina Santos, Sâmia Pereira e Simone Nascimento, do Virajovem São Paulo (SP)*

F

ormada em 2003, a banda Los Porongas vem de um cenário musical independente de Rio Branco (AC), que passou a ser conhecido recentemente. Diogo Soares (vocalista), João Eduardo (guitarrista), Márcio Magrão (baixista) e Jorge Anzol (baterista) já se conheciam antes de tocarem juntos, pois integraram outros grupos, todas parceiras. “Não tinham muitas bandas e músicos em Rio Branco, então rolava uma espécie de 'promiscuidade musical'. Todo mundo tocava com todo mundo”, conta Anzol. Além disso, outra característica desta cena musical é a formação de bandas com participantes de diferentes classes sociais e gerações. O início foi difícil. Como é de costume nesse meio, bandas de trabalho autoral não recebem muitos incentivos para tocarem, pois existe a preferência para bandas covers. Os Porongas começaram tocando seu rock em festas de amigos, para uma galera mais alternativa, que recebeu muito bem o som da banda. Conforme o público crescia, a banda organizava cada vez mais shows. Pouco tempo depois, foi criada a Edu FM, uma rádio educativa que tinha como política tocar músicas de artistas regionais, o que gerou uma necessidade de aumentar a produção fonográfica do local. Deste movimento, surgiram festivais como o Guerrilha, atual Varadouro, financiado pelo governo e um dos maiores festivais independentes da região.

Viração: Los Porongas é um nome curioso. Como chegaram a ele? Diogo Soares: Poronga é uma artefato que o seringueiro usa sobre a cabeça para iluminar o caminho, quando sai de madrugada para tirar seringa. Como achamos que só “Porongas” não soava bem, acrescentamos o “Los”, que é uma referência local, pois o Acre, por fazer fronteira com a Bolívia, tem influência do espanhol. Quais foram as maiores influências musicais que vocês tiveram? Jorge Anzol: Como pertencemos a gerações diferentes, também temos gostos distintos. Eu curtia punk rock, o Magrão mais heavy metal, o Diogo tem influências de MPB e rock dos anos 1980, e o João, apesar de ser o mais jovem, é beatlemaníaco e gosta muito de bandas dos anos 1960. Acho que essa diversidade é uma característica de quem mora longe dos grandes centros e,

Renato Reis

Linha do Tempo

Para se dedicar à banda em tempo integral, os Porongas decidiram vir para São Paulo. Com um CD e um DVD, atualmente a banda está em processo de gravação de seu segundo álbum, “O Segundo Depois do Silêncio”. E para conhecermos um pouco mais sobre a trajetória da banda, a Vira recebeu os músicos Diogo Soares e Jorge Anzol para a entrevista que você confere a seguir:

Em Cuiabá, show no Grito do Rock Los Porongas no Festival Varadouro, no Acre

Vini Mania

2006 10 Revista Viração • Ano 8 • Edição 64

Gravação do programa Poploaded veiculado pelo portal IG

Fábio Battista

2007

Show do projeto “Mais Massa” com Saulo Duarte, e Daniel Groove


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Galera do Virajovem São Pau lo recebe Diogo (centro) e Jorge par a entrevista

talvez por conta disso, a gente tenha dificuldade de rotular nossa música. Sobre o “Mais Massa”, projeto que faz criações comunitárias com diferentes artistas e bandas de fora de São Paulo, qual a importância que essa “mistura” traz para os Porongas? Diogo: No período de adaptação à nova cidade, acabamos conhecendo pessoas com histórias diferentes, mas em momentos parecidos. Era uma galera que saiu de seu lugar de origem e veio para São Paulo viver de música. Além disso, fez com que a gente entrasse em outro processo artístico, pois a partir do momento que começamos a interagir com os meninos, nós abrimos a nossa cabeça para outras referências. Eu diria que nós achamos a nossa turma.

Enrico Porro

Falem um pouco sobre o novo álbum (em produção), “O Segundo Depois do Silêncio”. Diogo: Esse novo álbum tem muito da nossa procura para construir a narrativa da música. Uma influência foi a relação do homem com o tempo. No Acre, as coisas acontecem em outro ritmo, a forma que você se relaciona com a cidade e com as pessoas é completamente diferente de outros lugares. Em Rio Branco, eu tinha a impressão de que era um tempo só, devagar e tranquilo. Mas, aqui em São Paulo, o tempo do apartamento é um, o tempo dos nossos amigos, das pessoas, é outro. O tempo é um elemento dentro do estranhamento que a gente sentiu quando se mudou pra cá. Então, é um disco que tem uma esperança angustiada, embora eu não saiba dizer se existe esperança sem angústia. O primeiro disco era mais “o eu”. Esse está mais “eu e você” (risos).

No parque da Aclimação, em São Paulo (SP)

“Nós não temos um método d compor, nós const e ruímos a músicas c s olaborat ivamente, um modo de meio caót ico.”

Diogo Soa res (voca lista)

Hoje em dia, várias bandas têm usado a internet e outros tipos de mídias para se fortalecer no cenário musical, como disponibilizar músicas pra download e ter contas em diferentes redes sociais. Para vocês a internet ajuda ou não? Diogo: A internet é fundamental pra qualquer artista, porque ela nos dá maior acesso ao público. O artista conseguiu aquilo que era mais difícil: divulgar seu trabalho do jeito que quiser. Anzol: A internet democratizou e facilitou a maneira de divulgar e gravar um trabalho. Hoje em dia, todo mundo pode ter um disco. Do mesmo jeito que há bandas sérias, com um trabalho consistente, há outras que surgiram repentinamente, só pra atender uma expectativa de mercado, utilizando o mesmo formato. Os timbres e a estrutura das canções é parecida, as temáticas são semelhantes, a estética é praticamente a mesma. A música vira produto. E os Porongas e vários outros músicos do Brasil não enxergam isso como caminho. Uma pergunta meio “ovo ou a galinha”: o que vem primeiro para os Los Porongas, a melodia ou a letra? Diogo: No nosso caso é a melodia. Já tiveram casos em que eu tinha feito a letra inteira de uma música, cheguei 'empolgadaço' com a poesia, mas quando a música começou a ser feita, teve uma série de elementos do texto que foram se adequando à melodia. Nós não temos um método de compor, nós construímos as músicas colaborativamente, de um modo meio caótico. Qual o recado que vocês deixam para a galera que está começando a fazer música agora? Anzol: Escutem os pais de vocês, quando dizem que isso é uma loucura (risos). Diogo: A vontade é dizer algo como 'acredite nos seus sonhos', mas a gente sabe que não é tão simples. Enfim, se você realmente quer, se escute, e vá atrás. V *Um dos Conselhos Jovens da Vira presentes em 22 Estados do País e no Distrito Federal (sp@viracao.org)

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Com todo o vapor Paulo, que e oeste de São e rt o n as n zo as cutir os Comunidades d iativas para dis ic in am iz al re , U participam da PC ções ir atrás de solu e is ca lo s o d problemas Estefania Santos Silva, Michel Sanabio Santos, Victor Aquino Urresti e Wesley Thiago do Nascimento, adolescentes da Plataforma dos Centros Urbanos*, e Maria Rehder, da Redação

P

alestra em forma de roda de conversa, dinâmicas e muito bate-papo sobre direitos sexuais e reprodutivos com mais de 120 alunos de escola pública. Tudo isso é fruto do envolvimento de duas adolescentes, Maiara da Conceição Mariano e Nair Moraes Oliveira, que moram na comunidade Anhanguera, no extremo oeste de São Paulo (SP), e participam da Plataforma dos Centros Urbanos (PCU), uma iniciativa do Unicef voltada para a garantia dos direitos de crianças e adolescentes que vivem nas grandes cidades. O principal motivo da realização do evento, que contou com a participação da médica ginecologista Ana Cláudia Nogueira Mendes e a enfermeira Érika Ertes, que trabalham na Unidade Básica de Saúde do Jardim Rosinha, foi o alto índice de adolescentes grávidas na região.“Trabalhamos com alunos da 8 a série da escola, com o objetivo de conscientizá-los sobre a prevenção e os métodos contraceptivos. Fizemos isso para acabar com a 'vergonha' que eles têm em relação a procurar o posto de saúde para orientação e atendimento médico”, explicou a agente comunitária de Saúde Lucimara Damascena de Almeida, que desde 2005 desempenha a função no bairro e atualmente integra a PCU. Após a palestra, houve uma dinâmica de grupo onde foram utilizadas bexigas nas cores verde (livre), amarela (provável compromisso com alguém) e vermelha (compromissado) com o objetivo de estimular a resolução de dúvidas. As adolescentes Nair e Maiara ajudaram na elaboração da metodologia do evento para garantir que fosse realizado em uma linguagem voltada

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para o jovem. “Também temos o objetivo de que os adolescentes participantes sejam multiplicadores de informações, realizando teatros, colando cartazes para atingir outros adolescentes para tratar dos assuntos com os demais colegas”, complementou Lucimara. Outro bairro da região, Perus também contou com o envolvimento de adolescentes na luta por seus direitos. No dia 28 de junho, os representantes da comunidade que participam da Plataforma dos Centros Urbanos se reuniram com o subprefeito da região para discutir sobre o problema do excesso de lixo nas ruas do local. A adolescente Manuela dos Santos Silva, que participou da reunião, conta que a comunidade fez um pedido para a retirada do lixo que há mais de dois meses estava entulhado. Em menos de um mês um caminhão da prefeitura retirou todo o lixo que estava jogado nas ruas. Mas muito além da reunião, ela ressalta que o pessoal da região fez uma parceria com enfermeiros e agentes de saúde para mobilizar os moradores para separar o lixo reciclável e fazer o descarte no dia certo em que a prefeitura faz a coleta. Dona Lenilda, que trabalha na Pastoral da Criança, conversou pessoalmente com muitas pessoas que moram ali. “Não é porque a nossa comunidade não tem asfalto que devemos jogar o lixo em qualquer esquina. A população tem que colocar o lixo no dia certo para manter a comunidade limpa porque os ratos vão até o lixo e voltam para as gavetas de nossa casa trazendo com eles doenças, e prejudicando a nossa saúde e a saúde das pessoas da nossa comunidade”, ressalta dona Lenilda.


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Reggae para mobilizar! No dia 23 de maio, os adolescentes Estefânia Santos Silva e Vitor Urresti, que moram na comunidade Jova Rural, zona norte de São Paulo, saíram às ruas para mobilizar mais crianças e jovens da região para integrarem a PCU e se engajarem na luta pelos seus direitos. A dupla aproveitou a realização de um grande evento da região, o Sabadania, que reuniu mais de 17 mil pessoas para fazer a articulação com a comunidade. Nesse dia, vários serviços foram oferecidos aos moradores locais como a emissão de RG, corte de cabelo, tratamento dentário, balcão de empregos e cursos. Depois de conversarem com muitos jovens, Estefânia e Vitor entrevistaram André Morais, líder da banda de reggae Ya Rock, que se apresentou no evento. “As pessoas podem conhecer as músicas e por meio delas a gente pode contribuir para que os jovens não usem drogas e tenham a chance de se envolver com os projetos culturais que existem na comunidade”, disse o músico. V

população ortunidades para op o sã s ro nt co En gião problemas da re compartilhar os

Essa é a segunda de uma série de três reportagens produzidas pelos adolescentes comunicadores da PCU de São Paulo com o objetivo de mostrar o que as comunidades que integram essa iniciativa do Unicef estão fazendo nas regiões onde vivem em prol dos direitos das crianças e dos adolescentes. No mês passado, os adolescentes escreveram uma matéria sobre as experiências realizadas na zona leste. Nesta edição, o foco foi a mobilização realizada pela galera que mora nas zonas norte e oeste. No próximo mês você vai poder conferir o que está rolando nas zonas central e sul da capital paulista.

*A Plataforma dos Centros Urbanos (PCU) é uma iniciativa do Fundo das Nações Unidas para Infância (Unicef), desenvolvida em parceria com diferentes parceiros, que tem como objetivo melhorar a qualidade de vida e garantir os direitos das crianças e dos adolescentes que vivem nas grandes cidades. A Plataforma está sendo implementada inicialmente nas cidades de São Paulo, Itaquaquecetuba (SP) e Rio de Janeiro (RJ), com duração prevista até 2011. Os chamados adolescentes comunicadores são membros das comunidades que integram a PCU e são responsáveis por auxiliar na mobilização comunitária para a conquista das metas e comunicação de ações realizadas no âmbito de suas comunidades.

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Ivo S

A C E o n o De olh

sa ou

Equipe do Portal Pró-Menino*

Os avanços do Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente

A

Convenção Internacional dos Direitos da Criança e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) deram uma enorme contribuição à história dos direitos infanto-juvenis. Incluíram a criança como sujeito de direitos, rompendo radicalmente com a condição de incapaz imposta pelo velho Código de Menores e estabeleceram as diretrizes para uma organização social que desse conta da nova doutrina jurídica e social, a doutrina da proteção integral. Esta nova organização social proposta pelo ECA, traduzida no chamado Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente, representa um importante passo Lentini na luta pela cidadania plena de crianças e adolescentes. O momento atual, passados 20 anos de vigência do Estatuto, reveste-se de desafios particulares, tendo em vista que a execução do Sistema é de grande complexidade. Estes podem ser destacados em duas grandes frentes: o trabalho articulado em rede e o conhecimento e capacitação dos atores do sistema. O trabalho sistêmico e articulado em rede envolve uma gama de atuações conjuntas e sucessivas para que se cumpra a proteção da criança. Uma mudança importante de paradigma diz respeito ao conceito de incompletude institucional, que deve ser incorporado pelas políticas e pelas instituições que as compõe. Na prática, o que se exige é uma articulação orgânica e permanente entre as políticas sociais e o Sistema

de justiça, de modo que, na ponta, a criança seja devidamente compreendida, ouvida, encaminhada, atendida e protegida. A outra dimensão destacada para o devido funcionamento do Sistema é o conhecimento necessário acerca das atribuições de cada um dos atores da rede local, assim como os meios e mecanismos de comunicação entre eles, para que haja fluência e efetividade junto à criança. O que um professor deve saber sobre as atribuições de um promotor de justiça? Quais são os limites da atuação do professor em casos de conhecimento de violência doméstica? Tais questões só podem ser respondidas se houver clareza sobre as funções e níveis de articulações entre os diversos setores e seus atores. Obviamente não é algo que se atinja rapidamente, mas que merece investimento continuado de treinamento e capacitação de maneira que os municípios tenham organizados os seus sistemas de proteção integral. Vale destacar, em especial, a atuação dos Conselhos dos Direitos e dos Conselhos Tutelares e a importância de suas funções para o bom ou mau funcionamento do sistema. Nestes 20 anos de Estatuto, houve a instituição destes conselhos em quase 100% dos municípios brasileiros, mas a devida qualificação de suas funções de controle social e defesa dos direitos infanto-juvenis está ainda aquém das expectativas. A solução para este enorme desafio encontra-se em debate. No entanto, a percepção de que quando os atores atuam corretamente, o sistema funciona e a criança e suas famílias são preservadas e cuidadas é a melhor dica de como se deve prosseguir. É, portanto, na organização institucional do Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente que reside o passo necessário para a implementação e efetividade do ECA. V

*O Portal Pró-Menino, parceiro da Vira, é uma iniciativa da Fundação Telefônica em conjunto com o Centro de Empreendedorismo Social e Administração em Terceiro Setor (CEATS/FIA). Não deixe de visitar: www.promenino.org.br

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Muito Prazer!

Foto: Paulo Pepe

Especial

EDUCOMUNICADOR, Universidade de São Paulo lança curso de Educomunicação no próximo vestibular da Fuvest

educação

vestibular projetos compartilhar escrever comunicação informação

tecnologia

audiovisual

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Foto: Paulo Pepe

Especial

Profissional do futuro O que faz um educomunicador? Saiba mais sobre a profissão nas próximas páginas

V

ocê que está prestes a terminar o Ensino médio e está meio perdido, pois a profissão dos seus sonhos parece ainda não existir, já pode se informar sobre um novo campo de trabalho: a Educomunicação. no próximo vestibular da Fuvest, você já vai poder concorrer a uma vaga ao curso noturno de licenciatura em Educomunicação criado pela Escola de comunicações e Artes da universidade de são Paulo. Educomunicação é nosso jeitinho de se comunicar educando, ou seja, quando escrevemos, falamos ou fazemos algo com a intenção de mostrar, ensinar, trocar informações com alguém, garantindo o direito que todos nós temos à comunicação e à informação. Há muita gente que já trabalha com Educomunicação. A secretaria municipal de

são Paulo, por exemplo, abriu um edital em 2009 para contratar pessoas para o cargo de educomunicador. o Fundo das nações unidas para a infância (unicef) adotou a Educomunicação como metodologia de formação de adolescentes em uma iniciativa chamada Plataforma dos centros urbanos. o programa de ensino a distância mídias na Educação, do ministério da Educação, abre espaço para a discussão sobre Educomunicação entre os milhares de professores participantes. mas, afinal, o que faz um educomunicador? Essas perguntas estão respondidas pelos professores que vão dar aulas na licenciatura em Educomunicação e também por pessoas que atuam como educomunicadores. t oda a produção deste caderno especial contou com a participação de adolescentes de diferentes comunidades de são Paulo.

“o curso da usP é o reconhecimento da luta do movimento social pelo direito à comunicação. nesse sentido, fiquem tranquilos todos os que já estão na área, exercendo funções educomunicativas na mídia, na educação não formal e nas organizações sociais. o licenciado em Educomunicação virá para somar e ocupar espaço onde o diploma se fizer indispensável como ocorre no exercício do magistério (ensino médio), em atividades junto ao poder público (ministérios e secretarias) e em consultorias especializadas no t erceiro setor, em funções que exigem formação acadêmica específica.” Ismar de Oliveira Soares é o chefe do departamento de comunicação e Artes da EcA/usP, responsável pelo lançamento da l icenciatura em Educomunicação da EcA/usP

Expediente: Est E EsPEciAl Foi PRoduzido dE FoRmA col AboRAt iVA PoR Adol EscEnt Es comunicAdoREs, EducomunicAdoREs E PRoFEssoREs dA usP Escola de Comunicações e Artes/USP Professores doutores Adilson citelli, ismar de oliveira soares, Ricardo Alexino Ferreira, Roseli Figaro e Vinícius Romanini Viração Educomunicação Alan Vieira da silva, Alison cordeiro, cássio de Goes, Kariny sopranzi, l eonardo belo e sílvia Ariel, adolescentes comunicadores da Plataforma dos centros urbanos camila Andrade, t haís Vidal, do Virajovem são Paulo Ana Paula marques, carol l emos, cristina sayuri, danilo Asevedo, douglas l ima, Elisangela nunes, Eric silva, Gisella Hiche, izabel l eão, l ilian Romão, l uciano de sálua, maria Rehder, maurício silva, micaela cyrino, norma l emos, Paulo l ima, Rafael l ira, Rafael stemberg, sâmia Pereira, simone nascimento, sonia Regina, Vânia correia e Vivian Ragazzi, da equipe Viração

os depoimentos dos entrevistados podem ser conferidos na íntegra em www.viracao.org


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Conheça o curso de Educomunicação Por ser mais um curso que a usP oferece, para ingressar na licenciatura em Educomunicação é necessário passar no vestibular da Fuvest. nas atividades teóricas, o aluno conhece as teorias da comunicação e da Educação; a epistemologia da Educomunicação (teoria do conhecimento); a gestão da comunicação. Em aulas práticas, poderá ter contato com a produção das diferentes áreas midiáticas e os processos comunicacionais. o perfil desejado do graduando é que ele tenha interesse pelas áreas de comunicação social e afins e a área de Educação, no sentido de pensar constantemente a interseção entre mídia e processos educacionais.

“A implantação desta licenciatura se reveste de importância por várias razões. Revela o caráter pioneiro da usP, da EcA e do ccA, no reconhecimento das demandas sociais evidenciadas por um mundo em transformação. indica a abertura de espaço de formação profissional, pesquisa, docência, prestação de serviços à comunidade, sintonizado com a perspectiva de que no mundo contemporâneo existem novas formas de produção, circulação e recepção do conhecimento e da informação. materializa o empenho de educadores que se envolveram na criação deste curso animados pela ideia segundo a qual é cada vez mais difícil pensar nos desafios da educação sem considerar os processos de comunicação.” Adilson Odair Citelli, doutor em l iteratura brasileira, é professor de l inguagem Verbal nos meios de comunicação

"no curso de licenciatura em Educomunicação, atuarei em duas frentes: na preparação do profissional para o trabalho com a linguagem verbal, sobretudo capacitando-o a percebê-la como fundamento das relações sociais, utilizando-a em seus diferentes níveis e normas; e em disciplinas voltadas às práticas educomunicativas seja no âmbito do desenvolvimento de projetos, seja no âmbito do aperfeiçoamento temático e conceitual na área específica da comunicação."

Licenciatura em Educomunicação Início do curso: 1º semestre de 2011 Duração: 8 semestres (4 anos) Número de vagas: 30 (período noturno) Inscrições para a Fuvest: 27/08 a 10/09, pela internet: www.fuvest.br Mais informações sobre o curso: http://www.cca.eca.usp.br/educom

“minha disciplina no novo curso será Práticas laboratoriais em multimídia: fundamentos teóricos. Ela discute os fundamentos da comunicação em ambientes educomunicativos a partir de uma visão sistêmica e complexa. introduz conceitos ligados à teoria da informação, da teoria do sistemas e da cibernética para mostrar como aparelhos, dispositivos e meios de comunicação transmitem informação e produzem um campo de possibilidades de significação." Vinícius Romanini, jornalista, doutor em ciências da comunicação, é professor da disciplina Práticas laboratoriais em multimídia: fundamentos teóricos

Foto: usP

Roseli Figaro, jornalista, doutora em ciências da comunicação, com pós-doutorado na área de comunicação e trabalho. Ela é professora da disciplina Epistemologia da Educomunicação

Escola de comunicação e Artes EcA/usP

Revista Comunicação & Educação A Revista comunicação & Educação, editada pelo curso de Gestão do departamento de comunicações e Artes numa parceria com as Edições Paulinas, é a fonte mais lembrada pelos pesquisadores da comunicação social de todo o País em suas dissertações e teses e uma referência teórica na área. sob a coordenação de maria Aparecida baccega, maria cristina costa e Adilson odair citelli, a revista divulga resultados de pesquisas, relatos de experiências e textos de reflexão de especialistas internacionais e nacionais. É reconhecida como o veículo que mais ajudou a sistematizar as referências em torno do conceito e das práticas educomunicativas em todo o País. Ver mais: www.eca.usp.br/comueduc.

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Especial

Mercado de Trabalho

Educação com autoria marcílio Rocha é mestre em Educação, doutorando em difusão do conhecimento, consultor de novas mídias e assessor de comunicação de uma empresa estatal. marcílio foi um dos responsáveis, em 2007, pela criação do departamento de Educomunicação da secretaria Estadual de Educação da bahia. marcílio também é um dos idealizadores do projeto cinemação, que promove a produção de filmes feitos com celulares na escola. “comecei a trabalhar com sindicatos, associações, assessoria de parlamentares e tornei-me também professor dos cursos de Jornalismo e Pedagogia. Percebi que a educação é um dos campos para fertilizarmos mudanças.”

Veet Vivarta, secretário-executivo da Agência de Notícias dos Direitos da Infância (www.andi.org.br) “Ao iniciar minha vinculação profissional com a Agência de notícias dos direitos da infância (Andi), entrei em contato com ações ligadas à educação para a mídia, várias delas no campo da Educomunicação. A prática cotidiana me fez reconhecer a importância de incentivar o desenvolvimento de uma crítica dos conteúdos midiáticos desde os primeiros anos de vida – seja por meio de iniciativas ligadas à educação formal ou de oportunidades extracurriculares. É nesse sentido, também, que hoje a Andi inclui as estratégias de educação para a mídia entre os temas prioritários quando se discutem as políticas públicas de comunicação.”

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Comunicação na sala de aula Alexandre sayad atua como secretário executivo da Rede de comunicação, Educação e Participação (cEP), criada em 2004. sayad também atuou como coordenador de projetos de Educomunicação integrados ao currículo de escolas privadas de são Paulo, como o colégio bandeirantes, onde, por exemplo, sayad ministrou um curso de pré-jornalismo para alunos do Ensino médio. “não consigo pensar em produzir comunicação ou fazer educação de uma forma pura, porque uma precisa da outra. A Educomunicação bem planejada pode oferecer uma oportunidade para que a escola volte a ter importância na vida de uma criança ou jovem. É um respiro na educação formal.”

com os alunos Alexandre sayad eirantes do colégio band Foto: colégio bandeirantes

Fazer rádio, escrever, mobilizar pessoas. soa como função de jornalista, certo? sim, mas imagine fazer tudo isso de forma participativa, com o objetivo de educar ou fazer a diferença na vida das pessoas, garantindo que elas não só recebam a informação, mas também se comuniquem. conheça um pouco da prática de trabalho dos educomunicadores e veja se você se identifica com algum deles!

Gilberto Dimenstein é membro do Conselho Editorial da Folha de S. Paulo e criador da ONG Cidade Escola Aprendiz (www.aprendiz.org.br) “o curso pode ser uma grande chance de formar pessoas capazes de trabalhar comunicação em sala de aula. t ive formação bem tradicional de jornalista e chegou um momento em que achei que não deveria só informar, mas sim usar a comunicação de forma educativa. comecei a escrever livros a partir de reportagens minhas que foram usadas em escolas.”


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Foto: cEu Parque são carlos

Direto da escola pública Rodrigo Koprowski é formado em Educação Física e pós-graduado em ciências da Atividade Física. t rabalha no centro Educacional unificado (cEu) Parque são carlos, em são Paulo (sP), onde desenvolve diferentes programas de Educomunicação. Educadores e educandos contribuem para a produção de programas para a “Rádio t V cEu”, de textos para o “Jornal Gazeta clarear” e também para o “blog da Educomunicação”. “A Educomunicação na escola visa uma sociedade que preza valores essenciais na construção de um mundo de paz. conheci o Projeto Educomunicação no cEu e vi a alegria das crianças com o microfone, gravador, e a satisfação delas a cada edição. infelizmente, muitos vivem o 'pré-conceito' da qualidade da educação, porque não conhecem a iniciativa e criatividade dos Rodrigo e alunos projetos e dos profissionais”. do cEu Parque sã o carlos

Onde atuar? na escola, o educomunicador pode introduzir a comunicação, estimulando os alunos a organizar, discutir, produzir e avaliar conteúdos, utilizando como ferramenta revistas, jornal, rádio, vídeo, blog e outras tecnologias. Educomunicador é o profissional que assessora, implementa e executa projetos que buscam utilizar a comunicação e tecnologias da informação de uma maneira educativa. desta maneira atua em empresas privadas, escolas, onGs e no poder público. Além disso, o educomunicador pode trabalhar junto as empresas de comunicação. o educomunicador consultor atuará também como pesquisador, investigando a qualidade educativa nos meios de comunicação e a relação entre os meios de comunicação e o público.

Guilherme Canela, consultor da Unesco (www.unesco.org.br) “não é um campo tão novo. As práticas datam de mais de 60 anos, desde que a comunicação de massa começou a ganhar força. Esse campo (Educomunicação) vêm ganhando importância nas últimas décadas por conseguir fazer com que as pessoas realmente garantam o que eu chamo de direito à comunicação. minha trajetória profissional sempre buscou melhorar a relação da mídia com a garantia dos direitos humanos.”

Eugênio Bucci, jornalista e professor da ECA/USP “t enho grande respeito por professores que trabalham nesta área, sempre trazendo esse viés educativo. Acho muito positivo quando se vinculam esses dois pontos para chamar a atenção. não é uma nova forma, trata-se de uma consciência educativa de se fazer comunicação.”

Anna Penido, coordenadora do escritório do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) em São Paulo (www.unicef.org.br) “Estudei Jornalismo porque queria interagir com todo tipo de pessoa e porque queria que essa interação pudesse fazer diferença na vida delas. Foi então que comecei a trabalhar na Fundação odebrecht e no l iceu de Artes e ofícios da bahia, onde realizava oficinas com adolescentes para que produzissem jornais, cartazes, sobre temas importantes para sua vida. mais adiante, fundei a cipó - comunicação interativa, onde desenvolvemos metodologias de Educomunicação para melhorar a cobertura da mídia sobre os direitos da infância e adolescência, a qualidade do ensino-aprendizagem em escolas públicas, a formação e inserção de jovens no trabalho, a participação política e para que os jovens promovessem o desenvolvimento de suas comunidades. muitas dessas experiências vieram comigo para o unicef e influenciaram a metodologia da Plataforma dos centros urbanos.”

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Especial Paulo Nassar, jornalista, coordenador de Relações Públicas da ECA-USP e diretor-geral da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje)

Eric silva, de 19 anos, trabalha na Viração Educomunicação como educomunicador. seu primeiro contato com o tema foi na 7 aª série, por meio do projeto Educom.Rádio (desenvolvido pela secretaria municipal de Educação e pelo ncE da usP, capacitando cerca de 12 mil pessoas em atividades educomunicativas em escolas da rede pública municipal de são Paulo), quando aprendeu a produzir pequenos programas radiofônicos. “mobilizamos adolescentes e jovens por meio de telefonemas, e-mails e redes sociais para pensar nos conteúdos da revista e do portal da Vira e possíveis ações nas regiões onde vivem. outra atividade são as formações que damos para os adolescentes que colaboram com a Viração. Vejo que o papel do educomunicador é muito importante para a sociedade, porque ele tem a função de construir coletivamente muitos conhecimentos por meio das ferramentas da comunicação.” Eric Silva, educomunicador da Viração Educomunicação (www.viracao.org) e estudante de Ciências Sociais

Edgard Patrício, jornalista pós-graduado em Educação, articulador institucional da Catavento Comunicação e Educação (www.catavento.org.br) “o conceito que se tem quando falamos de Educomunicação é a utilização de metodologias que articulem a educação pela comunicação. na catavento comunicação e Educação (onG que atua com o desenvolvimento humano e local por meio de práticas de comunicação e educação, em Fortaleza (cE), desenvolvemos projetos que buscam fazer essa ligação entre as duas áreas. um dos projetos que a gente desenvolve é o rádio-escola, na perspectiva de considerar o rádio como ambiente de aprendizagem sociocultural.”

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Foto: Acervo Viração

De jovem para jovem

“A Educomunicação no contexto das empresas, das instituições, tem muito a ver com o processo comunicacional. Para as pessoas mudarem de comportamento, é muito difícil. Produzem da mesma forma há muitos anos. mas, com a inovação tecnológica, são necessárias mudanças. É preciso que quem está emitindo a informação cheque se a informação chegou, se foi entendida, aceita e se virou um processo para a transformação. t em a ver também com a questão dos relacionamentos e a humanização no mercado de trabalho, sendo voltada para mudanças qualitativas. É um trabalho que exige muita paciência, que exige que você deixe ser ditador e se transforme em um ouvinte, para estabelecer o diálogo”.

Alexandre Schneider, secretário municipal de Educação de São Paulo

“na Rede municipal de Ensino de são Paulo, a Educomunicação é desenvolvida pelo programa nas ondas do Rádio, que oferece aos alunos a oportunidade de se expressar utilizando tecnologias. A escola se comunica mais e melhor com a comunidade e os estudantes se tornam protagonistas do conhecimento”.

Paulo Lima, diretor executivo da Viração Educomunicação (www.viracao.org) “A Educomunicação representa um campo fértil para se refletir criticamente e trabalhar com os meios, processos e ações de comunicação tendo como missão maior a transformação socioambiental. É aprender fazendo comunicação de forma colaborativa e à base da gestão democrática. isso porque cada processo comunicativo é por si só educativo, envolve aprendizagem e ensinamento, compartilhamento de saberes, prazeres e fazeres.”


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Pelo mundo afora

Foto:

Acervo

Angola “A Educomunicação é uma forma de darmos voz e vez a crianças e adolescentes para poderem dizer o que pensam e levarem suas preocupações a quem é de direito”. Anabela Pacheco, jornalista da Rádio Nacional de Angola, é realizadora do programa “Rádio Piô”, existente há 27 anos e que conta com a participação de crianças e adolescentes como correspondentes em todo o país abordando assuntos ligados à educação, saúde, lazer e direitos.

Cuba “Em nossas sociedades, centradas no adulto, uma pluralidade de vozes permanece silenciada ou deformada. As vozes da infância e da juventude são parte desse grande coro de ausentes. concebo a Educomunicação como a gestão de ecossistemas comunicativos que geram espaços para o exercício da liberdade de pensamento, opinião e expressão de setores que têm sido considerados como objetos e não sujeitos de direitos”. Pablo Ramos é coordenador da Rede Universo Audiovisual da Criança Latino Americana (Red Unial), em Cuba, projeto que possibilita a gestão por crianças e adolescentes de processos participativos de comunicação. A experiência, iniciada em1995, tem como centro a realização de oficinas de criação audiovisual nas quais se incentiva um processo de observação– reflexão-apreciação-expressão criadora que utiliza, como fio condutor, os problemas identificados pelas próprias crianças e adolescentes. As oficinas terminam com a realização de documentários curta-metragem que são exibidos e debatidos na comunidade.

.org.br w.futura Foto: ww

Viraçã

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Experiências em Educomunicação, Comunicação Educativa ou Educação para a Comunicação, como são conhecidas em alguns países, estão rolando em diversos lugares do mundo. Inspire-se com o que a galera anda fazendo!

Timor Leste - Brasil “À frente do Futura há 12 anos, essa vocação para atuar nas duas áreas se radicalizou de forma integral, na medida em que o canal atua diretamente com escolas e onGs. Para nós, a tela da televisão é o ponto de partida para a mobilização da sociedade, especialmente da educação, em torno de causas relevantes para a sociedade”. Lúcia Araújo é gerente geral do Canal Futura que é mantido por um pool de grandes empresas do Brasil e é umas das emissoras abertas às práticas educomunicativas. Anualmente a emissora oferece um curso de produção de vídeo para 200 jovens de várias partes do país. Desde 2008 o Canal Futura mantém parceria com a TVTL, televisão de Timor Leste. Funcionários dos dois canais em co-produção elaboram desde logomarca para programas de televisão, roteiros e séries veiculados nos dois países.

Chile “A Educomunicação é a chave para qualquer processo de aprendizagem, entendendo-a como um processo que é social e colaborativo que necessita dos outros, é para os outros e com os outros”. Ricardo González desenvolve no Chile, desde 1999, o programa de TV “Pintacuentos”, no qual um conto tradicional é narrado para crianças que, em seguida, fazem desenhos. Tudo é filmado e a equipe grava junto com as crianças os efeitos de som e ambiente.

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Especial

"Em contato com as organizações que trabalham na promoção da alfabetização em todo o país, apresentei um projeto de comunicação visual em forma de quadrinhos e os resultados foram encorajadores, pois foram levantadas várias questões de importância local. A ideia da metodologia Grassroots comics é simples e consiste em dar às pessoas comuns o poder de contar sua história, o que eles consideram ser importante. se a comunidade está empoderada, ela tem poder suficiente para comunicar uma mensagem e conscientizar os outros. A ideia é proporcionar a todos uma ferramenta para contar todas as histórias importantes em forma de quadrinhos. Este método ajuda as pessoas a contarem suas histórias por um meio diferente da mídia convencional”.

Foto: Acervo Viração

Índia

Sharad Sharma, jornalista e cartunista indiano, é o fundador do World Comics Network, projeto que utiliza a criação de histórias em quadrinhos como ferramenta de mobilização social em diversos países como Índia, Moçambique, Paquistão, Nepal, Finlândia e Brasil. Quem faz os quadrinhos são pessoas comuns que aprendem a técnica por meio de oficinas e apostilas, uma forma de permitir que qualquer pessoa, alfabetizada ou não, possa contar sua história e transformá-la em quadrinhos.

Angola www.rna.ao

Chile

Ìndia www.worldcomicsindia.com; www.worldcomics.fi

Equador www.aler.org

Brasil www.bemtv.org.br www.catavento.org.br www.ciranda.org.br www.futura.org.br www.matraca.org.br www.redeandi.org.br www.redecep.org www.usp.br/nce

8

Equador

Foto:

Cuba www.habanafilmfestival.com

Aler

www.karinavega.com/pintacuentos www.fundaciónchulpicine.org www.youtube.com/user/portafolioRicardo

“A Educomunicação propõe a consciência, tanto para educadores como para comunicadores, de que todo ato educativo é comunicativo e todo ato comunicativo é educativo. isso, em todos os espaços da vida, em escolas e na educação informal, nos meios de comunicação e nas relações, mesmo as mais cotidianas, como a conversa de um pai com um filho. É a construção de conhecimentos, saberes, experiências e vivências de forma não autoritária, mas por meio do diálogo e do intercâmbio”. Fernando López atua na Secretaria Executiva da Associação Latinoamericana de Educação Radiofônica (Aler), no Equador, uma rede de 112 emissoras de rádios associadas de quase todos os países da América Latina, que se organizam para abordar temas como a questão indígena e LGBT, entre outras. A Aler apoia trabalhos de comunicação radiofônica e desenvolvem atividades de formação e capacitação em rádio para que toda ação comunicativa tenha um sentido educativo e incida politicamente em seu contexto social.


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s a s o i c n e l i s Barreiras

M

ais de 80 pessoas estiveram reunidas em São Paulo (SP), nos dias 23 e 24 de junho, para o seminário “Ações e Reflexões sobre aids e deficiência”, realizado pelo Amankay Instituto de Estudos e Pesquisas. O evento reuniu especialistas e militantes para dar visibilidade aos temas referentes às dst/aids, envolvendo pessoas com deficiência (que tenham ou não o vírus HIV), pessoas soropositivas que posteriormente adquiriram deficiência (ou não) e demais pessoas envolvidas com esses assuntos. Dados lançados pelo IBGE, em 2000, apontam que mais de 24,5 milhões de brasileiros possuem algum tipo de deficiência física, visual, auditiva ou intelectual. Mesmo assim, quase são inexistentes os programas de saúde e prevenção às dst/aids voltadas a esses 14,5% da população. Soma-se a isso o fato de muitas pessoas olharem com preconceito e desprezo a ideia de que pessoas com deficiência também fazem sexo. André Resende Marques enfrenta com frequência o preconceito gerado pelo fato de ter deficiência visual. Pai de dois filhos, ele conta que quando sai com sua família sempre ouve alguém questionando sua vida sexual. “As pessoas falam: 'olha lá, o cego faz sexo, tem até filhos´. É como se meu histórico de vida fosse incompatível com minha condição”, disse em uma

am formas de 80 pessoas discutir No evento, mais de às dst/aids, s temas referentes dar visibilidade ao m deficiência lmente pessoas co envolvendo principa

das mesas de discussões do seminário. Assim como André, muitas pessoas com deficiência vivem hoje num ambiente nada favorável ao desenvolvimento saudável de seus aspectos sexuais, e isso os deixam mais vulneráveis aos riscos de se contrair uma doença. Dora Simões, membro da Associação Brasileira de Inclusão, defende que a discussão do tema deve começar No encontro, discutiu-se também a em casa. “Somos tratados como seres falta de materiais didáticos e iluminados, assexuados. Este é o grande pedagógicos, disponibilizados pelo problema, as famílias não debatem o assunto com os portadores de deficiência. governo, para trabalhar sexualidade com crianças, adolescentes e jovens com É um tabu que gera a falta de informação deficiência. Uma demanda que precisa ser nestas pessoas”, disse. colocada em pauta pelos candidatos a Outra participante foi Bia Pacheco, cargos públicos deste ano, pois sem a ativista social, de 61 anos, formada em troca de informação, com linguagem fácil direito e com quatro filhos. Ela contou que e adequada, o problema irá persistir. V contraiu HIV numa época de muita discriminação. Casada três vezes, encontrou em seu terceiro parceiro o grande amor da sua vida. “Mesmo eu estando com o No blog “Ações e reflexões sobre aids e vírus, em momento algum deficiência: Diferentes vozes”, você confere meu companheiro contraiu o mais informações sobre o tema: HIV (por usar preservativo), http://aidsedeficiencia2010.blogspot.com/ porque a gente tem respeito e amor um pelo outro”.

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Fernanda So

Nair Moraes e Carlos Henrique Lima, adolescentes comunicadores da Plataforma dos Centros Urbanos, e Luciano de Sálua, da Redação

delli

milhões de O Brasil possui mais de 24 de deficiência; brasileiros com algum tipo úde específico, por falta de programa de sa às dst/aids esse público fica vulnerável


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Que estilo cola

Adriana Teixeira, Damiso Faustino, Denis Marchello, Tamires Celote, do Virajovem São Paulo (SP)* e integrantes do Movimento Escoteiro

P

ara quem pensa que ser escoteiro é apenas ajudar pessoas idosas a atravessarem ruas e permanecer toda a temporada de férias acampando em florestas sob a vigília de orientadores, se engana, e feio. Hoje, o escotismo é reconhecido como o maior movimento organizado de educação não-formal. Atualmente, são mais de 28 milhões de escoteiros espalhados por 216 países - até o ano de 2005 foram registrados mais de 300 milhões de jovens que já passaram por essa experiência. Fundado em 1907 pelo general inglês Robert Stephenson Baden-Powell, o Movimento Escoteiro tem como objetivo formar cidadãos de caráter, conscientes de seus atos e úteis à sociedade. No mundo, os participantes ficaram conhecidos pelo uso do lenço em volta do pescoço e o grito de guerra “Be prepared” (no português foi adaptado para “Sempre alerta”). A cor do lenço varia conforme o país, e geralmente é usado em cerimônias. Com o intuito de formar líderes, o escotismo contribui para o crescimento do jovem, que sempre mantém contato com a natureza e aprende a conviver com as diversidades. Com um sistema de valores baseados na lei e na promessa escoteira, permite que os jovens assumam seu próprio crescimento por meio do “aprender fazendo”. Procura aprimorar o lado intelectual, o lado físico, o social e o espiritual dos jovens por meio de atividades diversas como jogos, debates, trabalhos voluntários e outras inúmeras tarefas que podem ser realizadas em equipe, valorizando a participação construtiva na sociedade. “O papel do escoteiro é estabilizar uma balança na sociedade, ele seria o lado da compaixão em conflito com o egoísmo. Mas apesar de querermos ajudar, parece que o mundo não liga mais pra isso. Não falo de abrir mão da sua vida pessoal. Mas sempre que possível tentar não pensar só em si mesmo”, conta Beatriz Laranjeira, de 14 anos, que mora em São José do Rio Preto (SP) e é escoteira há quatro anos.

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Damiso

no Brasil. No mundo, os an m ce a et pl m co Movimento Escoteiro pela organização am ar ss pa já ns ve jo de mais de 300 milhões

Faustino

Jo v en s q u e t r a n s Jovens pionei ros durante encontro em São Paulo (S P)

Um século de movimento Neste ano, o escotismo completa cem anos de presença no Brasil. O movimento, que chegou no País em 1910, por meio de um grupo de suboficiais da Marinha, lotados no navio Minas Gerais, foi fundado no Rio de Janeiro com o Centro de Boys Scouts do Brasil. Os marinheiros haviam tido contato com o recém-criado grupo de escoteiros da Inglaterra. Nos anos que se seguiram, o movimento ganhou novas organizações, como a Associação Brasileira de Escoteiros, em 1914, em São Paulo, que incentivou o surgimento do Movimento Escoteiro em todos os Estados do País, mas cada uma atuando de forma independente. Em 1920, após um grande número de instituições criadas, o então chefe Benjamim Sodré publicou um artigo propondo a criação de uma confederação geral, necessidade que só foi atendida quatro anos depois, quando as principais organizações se reuniram para fundar a União dos Escoteiros do Brasil, reconhecida por Baden-Powell como a única organização escoteira do País. Hoje, a União dos Escoteiros adota uma organização vertical, definindo ações para as unidades locais associadas, por meio de um programa único. Ela é dividida em escritórios regionais distribuídos por diversos Estados da federação que administram 45 mil voluntários responsáveis por mais de 70 mil jovens que praticam o escotismo no Brasil. O movimento se espalhou pelo País, sendo adotado inclusive como proposta educativa governamental. Com o tempo, foi se modificando e adaptou-se às mudanças da sociedade, passando a aceitar garotas e ampliando a faixa etária de participação dos jovens, que podem ter entre sete e 21 anos de idade. Em cem anos de escotismo no Brasil, permanecem ilesos os mesmos valores e compromissos criados no início. Principalmente a educação do escoteiro para a liberdade e a preservação do meio ambiente, privilegiando a vida ao ar livre como experiência educativa. "Ser escoteiro não é apenas vestir o traje e ter o lenço da promessa. É mais do que isso, é ajudar o próximo em qualquer ocasião e ter amor à natureza”, diz a


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s f o r m a m Jo v en s O Movimento Escoteiro no Brasil é dividido em quatro ramos que foram pensados de acordo com as experiências, os desafios e os caminhos dos jovens em cada fase da vida. Confira quais são!

Escoteiros de todo o mundo participam do acampamento Jamboree

estudante Ana Carolina Giacomim, de 14 anos, que mora em Lucas do Rio Verde (MT).

Adulto voluntário

Ramo Lobinho Voltado para crianças de sete a dez anos, é Ra ael inspirado na fobra S te O Livro da Jângal (Rudyard mbe rg Claret). Tem a Kipling – Editora Martin finalidade de colaborar com o processo de socialização da criança, ensinando a fazer seu melhor e respeitar as regras. Ramo Escoteiro Voltado para crianças e jovens de 11 a 14 anos, este ramo trabalha a vida em equipe e o contato com a natureza, além de outros aspectos da personalidade que são apresentados em forma de leis escoteiras.

No escotismo, a função de chefe funciona como um irmão mais velho, que incentiva e orienta os jovens no seu desenvolvimento, criando um espírito de grupo. “Quando nos referimos ao voluntário, falamos sobre Ramo Senior aquele que luta por um ideal ou comprometimento com uma causa. É o Voltado para jovens de 15 a 17 anos, trabalha caso do chefe escoteiro, que tem como remuneração por seu trabalho a o desafio e colabora com o processo de felicidade de ver os jovens bem encaminhados na vida, por seu trabalho autoconhecimento e aprimoramento das útil à comunidade”, diz o chefe Alvaro Tavares, diretor vice-presidente da características pessoais. União dos Escoteiros do Brasil e escoteiro há 67 anos. Outras funções também podem ser exercidas pelos adultos que se Ramo Pioneiro interessam pelo movimento. É o caso de Flávio Celoti, que começou na Para jovens de 18 a 21 anos, auxilia na função de pai de apoio e envolveu toda a sua família na atividade. Ele integração ao mundo adulto, privilegiando o começou sua vida de escoteiro após acompanhar as atividades dos filhos, serviço à comunidade como expressão de que estavam no ramo lobinhos (leia box). Após alguns meses, Flávio cidadania e ajudando o jovem a praticar os passou a ajudar no acompanhamento de viagens dos participantes até valores da Promessa e Lei escoteira nesse chegar à assistência do ramo alcateia. Hoje, ele e sua mulher são chefes mundo novo. de grupo. “No sábado que não temos atividade, parece que está faltando algo, pois não existe coisa melhor que ver aquelas crianças sorrindo, aprendendo a praticar o bem, longe de drogas, bebidas, tabagismo etc”, conta Flávio. Então, para reforçar o recado: se você se interessa em ajudar ao próximo e, ao mesmo tempo, zelar pela natureza, ter muitos No site da Vira você confere depoimentos de jovens escoteiros de todo o amigos e vivenciar diversas experiências... Brasil: www.viracao.org Fique alerta! Procure a representação do Movimento Escoteiro mais próxima de sua Conheça mais sobre o movimento e saiba como participar: casa e entre para o grupo. V www.escoteiros.org.br www.escotismo.org.br * Um dos Conselhos Jovens da Vira presentes em 22 Estados e no Distrito Federal (sp@viracao.org)

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Cenas dos últimos e próximos capítulos Gisella Hiche e Elisângela Nunes, da Redação Fotos: Vivian Lobato, colaboração para a Vira

olas de São Projeto de formação em esc l, mas com Paulo chega ao fim no pape adolescentes continuidade garantida pelos

Encontro definiu ações que serão realizadas pelo Brasil

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“M

udando sua escola e comunidade, transformando o mundo”. Este é o longo nome do projeto de educomunicação do Unicef, com apoio da British Telecom, que envolveu por dois anos, em São Paulo (SP), as ONGs Viração e a Cidade Escola Aprendiz. Outras cinco cidades do País também realizaram essa iniciativa. O projeto teve encerramento no final de junho. Mas quem disse que os adolescentes que aprenderam sobre como usar a comunicação para participar e mobilizar sua comunidade querem parar? E nem devem! Parte dos esforços das organizações foi sempre desenvolver um projeto que depois seguisse a partir dos frutos deixados pela formação. No Cantinho do Céu, bairro periférico às margens da represa Billings, no extremo sul da cidade, os adolescentes deram o nome de “Navegantes da Notícia” a seu grupo de jovens comunicadores. Independente das educomunicadoras, que facilitavam as oficinas, estarem por lá, eles se encontram, fazem cobertura dos eventos da comunidade e até mesmo participam de plenárias para fazerem propostas de educação para o município. A empolgação do pessoal é tanta, que parte deles escreveu e teve um projeto aprovado pelo Aprendiz Comgás (programa que seleciona projetos sociais elaborados por estudantes) para dar continuidade à campanha “Cuidado”, uma iniciativa que busca mobilizar escola e comunidade para que todos busquem o cuidado consigo, com o outro e com o ambiente onde vivem. Nessa campanha, há muitas frentes de trabalho, como a ação Jovem, em que os adolescentes comunicadores apresentaram uma pequena peça de teatro para os estudantes da 7 a série para debater o tema “pichação e cuidado com o ambiente”. Também foram feitos grupinhos de trabalho que pesquisaram e multiplicaram, por meio da comunicação, seus conhecimentos sobre violência e acidentes domésticos e bullying (uso da violência, física ou psicológica, para intimidar outra pessoa). E a campanha não parou por aí! O lançamento oficial da iniciativa foi feito no dia 18 de junho e contou com uma grande ação comunitária no CEU (Centro Educacional Unificado) Cantinho do Céu. Para a grande estreia, toda a


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equipe esteve em ritmo acelerado de produção, pois precisava entregar mais de 300 pulseirinhas de cetim roxas com a divulgação da campanha “Cuidado”, 300

fanzines (jornal produzido artesanalmente) para serem dobrados, pessoas a serem contatadas, reportagens para serem realizadas... V

Ufa! Cansou? Eles não. Confira abaixo alguns depoimentos dos adolescentes do “Navegantes da Notícia”, da comunidade do cantinho do Céu e de pessoas que trabalham no CEU sobre como o projeto mexeu com suas vidas: Weslley Silva “Aprendi a olhar de forma a questionar a informação que a gente recebe. Isso aconteceu quando conversamos sobre textos, programas de televisão e coisas da comunidade e da nossa vida. Na escrita me ajudou. Como a Elis (educomunicadora) sempre falou que escrevo bem, que tenho ideias legais e, por isso, devia escrever mais, sem ligar para os erros…hoje minha professora de português me elogia. Vejo-me como um mensageiro da comunidade, o meu papel é informar as pessoas do que acontece por aqui para ajudar a melhorar a região. Hoje em dia as lideranças comunitárias me procuram para conversar e me escutam, perguntam o que acho dos problemas da comunidade e pedem propostas de melhoria.” Gabriel Mambelli “Depois do projeto, a minha vida mudou um pouco, passei a ter gosto por ela e vêla de um jeito diferente. Tive mais amigos que ajudaram a me mudar. Perdi a vergonha de entrevistar as pessoas, coisa que antes não fazia nem me pagando. Passei a participar mais do cotidiano da escola. Estou puxando um grupo, montando um estatuto para concorrer ao grêmio e para isso estou conversando com muita gente para escrever o estatuto e entender essas coisas de grêmio, dá muito trabalho!”. Dayara Cordeiro da Silva “Aprendi a mexer nos aparelhos de comunicação, como gravador e máquina fotográfica. Para mim, hoje é muito importante participar da comunidade, ver o que precisa, tentar ajudar, melhorar, ver o que falta, ver o que já tem, o que é bom para comunidade. Minha relação com a família também mudou: eu converso mais

com minha mãe, falo com ela o que acho que está certo ou não”. Pamela Spocratti de Queiroz “Hoje eu me apresento para saberem que a jovem comunicadora tem atitude e opinião. Antes eu não via a comunidade, apenas ia e vinha da escola. Agora eu vejo, percebo e sinto seus problemas. Além disso, busco uma solução. Aprendemos a nos comunicar através de debates jovens, oficinas, pequenos projetos, atuando junto com o grupo articulador comunitário. No futuro, eu me vejo uma grande mulher, dando aula para crianças, para um grupo enorme, estudando, trabalhando e construindo algo que motive as pessoas. Agora quero fazer um projeto para multiplicar o que aprendi com as crianças de 8 a 12 anos aqui no CEU Navegantes, então enviei um projeto para o Programa Aprendiz Comgás. Espero mobilizar mais gente para isso dar certo”. Juliana Araujo “Aprendi a pensar a comunicação com um olhar mais atento. Faço isso fazendo leitura de textos, assistindo a vídeos, analisando fotografias, fazendo entrevistas, dinâmicas. Isso me ajudou na aula de Português, pois agora escrevo melhor. Na hora de apresentar trabalhos sou mais criativa. Uma vez fiz até um teatro. Foi bem divertido e todos participaram. Na escola não é assim. Na hora de fazer trabalhos nem sempre todos participam. Antes eu nem ligava para as informações do mundo, hoje busco ficar por dentro e entender o que está acontecendo de verdade”. Jonathas Carvalho “No começo, quis participar para não ficar na sala (de aula) e porque vários

amigos meus estavam participando, mas depois comecei a gostar e estou até hoje no grupo. Hoje consigo falar com pessoas de nível maior sem me sentir mal, consigo me comunicar com todo mundo: crianças, lideranças comunitárias, quem precisar. Estou fazendo muitas coisas para transformar o lugar onde moro. Estamos mobilizando para fazer alguma coisa, para amanhã ver o resultado que não só ficou no papel. Se a gente não conseguir fazer agora, quem vai fazer?”. Cristina Jorge Vieira, gestão CEU Navegantes “O projeto é inovador por buscar potenciais dentro da comunidade e levantar a autoestima porque ensina a aprender fazendo. A comunidade agora sabe como lidar com a situação. Os adolescentes se apropriaram dos espaços, das pessoas, eles interagem com todos. Não tem mais aquilo: você é o coordenador e eu tenho medo de falar. Agora eles se sentem à vontade”. Mônica Navarrete, coordenadora Ação Educacional - Gestão CEU “Vejo o projeto como uma ação de efetivo despertar do adolescente para o seu papel na comunidade escolar e local. E para tal, antes de compreender o outro, faz-se necessário refletir sobre si mesmo – deste importante ponto partiu o projeto. Progrediu para o coletivo, para o ‘nós’: a busca pela constituição e fortalecimento das redes sociais. Em resposta, trouxe a comunicação, a revisão dos valores e atitudes e o respeito pelo meio ambiente. O ”Navegantes da Notícia” trouxe ‘provocações’ na rotina escolar. Exigiu a busca da conciliação da aprendizagem formal (escolarizada) com a não-formal”.

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o s s o n é a t e n a O pl Infanto-Juvenil Conferência Internacional ne jovens Vamos Cuidar do Planeta reú e o futuro do para falar sobre o presente líticas públicas meio ambiente e discutir po sobre o tema

E

m junho, 323 jovens entre 12 e 15 anos, de 53 países, se encontraram em Brasília (DF) para a primeira Conferência Internacional Infanto-Juvenil Vamos Cuidar do Planeta (Confint 2010). O evento, organizado pelo governo brasileiro, teve o objetivo de elaborar, com os países participantes, a “Carta das Responsabilidades Vamos Cuidar do Planeta”, documento que reúne iniciativas de preservação ao meio ambiente. As conferências infanto-juvenis pelo meio ambiente começaram no Brasil em 2003 como uma proposta da então ministra do Meio Ambiente Marina Silva, que atendeu a um pedido de suas filhas, de 12 e 15 anos, que disseram ser fundamental que crianças e adolescentes também assumissem responsabilidades para cuidar do planeta. Criou-se então o Vamos Cuidar do Brasil com as Escolas, que por meio do Ministério da Educação, incentivou escolas do Ensino Médio a realizarem pequenas conferências, das quais seriam escolhidos representantes para participarem de etapas municipais, estaduais e, finalmente, a nacional. Até hoje o Brasil já realizou este ciclo nos anos de 2003, 2006 e 2009. Desde então, 63 países foram mobilizados a realizarem o mesmo processo em suas escolas. Durante o encontro deste ano, os participantes compuseram diversas músicas expressando os quatro dias de trabalhos em que participaram de diversas

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oficinas, como as de reciclagem do lixo, uso responsável da água, rádio, fotonovela e vídeo. O evento contou com tradução, mas os jovens também se organizaram para ajudar, tornando as oficinas mais dinâmicas. Eles também escreveram a “Carta das Responsabilidades” e criaram uma música em diversas línguas onde o cuidado com o planeta foi sempre ressaltado. Para ajudar na comunicação desta galera, pulseiras do Senhor do Bonfim com quatro cores diferentes foram distribuídas aos participantes. Cada cor representava um dos idiomas oficiais do evento: espanhol, francês, português e inglês. Rolou também o Festival das Culturas dos Países, onde cada delegação teve a oportunidade de apresentar um número artístico, como uma forma de compartilhar com todos um pouco da cultura de cada país participante. No último dia, crianças representando cada país subiram o tapete vermelho da rampa do Senado Federal e entregaram nas mãos de José Sarney, presidente da casa, a “Carta das Responsabilidades Vamos Cuidar do Planeta”, seguida de uma enorme ciranda em frente ao Congresso Nacional. O encontro se encerrou após a leitura da Carta para representantes do Ministério da Educação e do Meio Ambiente, além de uma apresentação da música construída coletivamente em oficina. V

www.sxc.hu

Texto e fotos: Renata Trindade, colaboradora da Vira em Brasília (DF)

Em www.vamoscuidardoplaneta.net, você pode ler a “Carta das Responsabilidades” e acompanhar tudo o que aconteceu na Confint 2010.


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No Escurinho

r a t r e p s e d e d o Temp Sérgio Rizzo, crítico de cinema Fotos: Divulgação Sony Pictures

“A

ssim que terminei de ler na (revista literária) “Granta” o maravilhoso ensaio autobiográfico de Lynn Barber sobre seu caso com um misterioso homem mais velho no começo da década de 1960, percebi que aquilo tinha todos os ingredientes para um filme", conta o escritor inglês Nick Hornby na introdução do livro Educação - O Roteiro (Ed. Rocco). “Havia ali personagens memoráveis, uma noção vívida de tempo e espaço - uma Inglaterra bem à beira de mudanças radicais-, uma incomum mistura de extremo humor e profunda tristeza, e - o que é interessante coisas originais para dizer sobre classe social, ambição e relacionamento entre pais e filhos", continua ele para explicar porque gostou de escrever um roteiro baseado em obra alheia. Desde que adquiriu prestígio internacional, Hornby viu seus livros serem adaptados para o cinema. Febre de Bola teve duas versões - uma na Inglaterra, em 1997, com roteiro assinado pelo próprio escritor, e a outra nos EUA, em 2005 (com o título brasileiro de Amor em Jogo). Alta Fidelidade e Um Grande Garoto deram origem a filmes de sucesso lançados, respectivamente, em 2000 e 2002. Em Educação, que disputou o Oscar de melhor filme, roteiro adaptado e atriz (Carey Mulligan), Hornby "apropriou-se" do relato autobiográfico da jornalista inglesa Lynn Barber para narrar a história de uma adolescente de 16 anos (Mulligan) atraída por um homem (Peter Sarsgaard) que lhe acena com prazeres adultos. O romance, surpreendentemente aprovado pelos pais, a faz pensar em abandonar os estudos e o sonho de chegar à universidade para se casar. Dirigido pela dinamarquesa Lone Scherfig (Italiano para Principiantes), o filme trabalha com o contraste entre a educação formal, proporcionada por escolas, e outra espécie de educação, proporcionada pela vida. Na adaptação de Hornby, a personagem se vê subitamente na situação de optar entre uma e outra, mas ela própria perceberá com o tempo que o dilema é falso.

r de melhor disputou o Osca Filme Educação an) riz (Carrey Mullig filme, roteiro e at

V

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Rango da terrinha

É de Minas, uai! neira, o feijão tropeiro

efe da cozinha mi Aprenda a fazer o carro-ch Cirdes Lopes, do Virajovem Belo Horizonte (MG)*

M

inas Gerais é conhecida por suas belas cidades históricas, como Mariana, Ouro Preto, São João Del Rei, Tiradentes, dentre outras. É famosa pelo mestre do Barroco brasileiro, Antônio Francisco Lisboa, conhecido como Aleijadinho. Seus belos horizontes deram nome à sua capital. Na política, Minas Gerais representa o segundo maior colégio eleitoral do País. Sua importância política é de tal grandeza que, no ano de 1898, formalizou-se a política do café-com-leite - nome dado em alusão à economia de São Paulo, na época, grande produtora de café, e Minas Gerais, grande produtora de leite. A culinária acentua seu valor e destaque no Brasil. No Estado pode-se encontrar, por exemplo, o Festival Internacional de Gastronomia e Cultura de Tiradentes, Brumadinho Gourmet e o Comida di Buteco, que já foi destaque no jornal americano “The New York Times”. O feijão tropeiro é um dos carros-chefes da culinária de Minas. Nos séculos 17 e 18, em decorrência do crescimento da mineração no Estado, a mão-de-obra mineira foi direcionada a esta atividade, o que resultou no comprometimento da produção de alimentos básicos. O transporte de matérias-primas para os centros de mineração, vindas de outras Hely partes do País, Pa plon feito por cresceu na região. Na época, o transportemera a tropas a cavalo ou em lombos de burros. Os homens que guiavam esses animais eram chamados de tropeiros e sua alimentação baseava-se em feijão, toucinho, linguiça, carne-seca, farinha de mandioca, fubá, café, pimenta-do-reino, dentre outras iguarias de fácil conservação, por fazerem longas viagens. A mistura destes ingredientes culminou em um dos mais tradicionais pratos da cozinha mineira: o feijão tropeiro, em referência aos integrantes daquelas tropas.

Como fazer o feijão tropeiro Margarida de Oliveira, de 60 anos, é cearense e aprecia a comida de Minas Gerais. Margarida conhece vários Estados brasileiros, mas confessa que, quando experimentou o feijão tropeiro pela primeira vez, foi o suficiente para se apaixonar pela cantina mineira. “Quando bem preparado, não tem nada igual. É muito gostoso”, comenta. E, para que fique bem preparado, aí vão os ingredientes: 500 g de feijão carioca ou roxinho 200 g de farinha de mandioca 200 g de toucinho de porco ou bacon 1 concha de gordura de porco 1 colher de sal de alho 1 cebola média em cubinhos 5 ovos Cheiro verde a gosto Pimenta e tempero a gosto www.tem

perandoav

Modo de preparo

ida.com.b

Coloque a gordura ou óleo numa panela quente e acrescente os ovos inteiros (coloque os ovos aos poucos para que as gemas cozinhem depressa). Em seguida, desligue o fogo para que cozinhe bem lentamente. Na mesma panela, coloque o alho e frite até ficar bem dourado. Quando dourar, junte a cebola (roxa, de preferência). Em outra panela, frite o bacon picado em fogo baixo. Depois da cebola, refogue o pimentão e o tempero caseiro. Junte o feijão cozido. Prove o sal, abaixe o fogo e acrescente farinha de mandioca torrada sobre o refogado de feijão, até que vire farofa semi-seca. Salpique bastante cheiro verde. Misture o ovo em pedaços e o bacon frito. Na mesma panela em que fritou o bacon, refogue a couve crua picada fina com o tempero caseiro. Decore o prato com pedaços de linguiça assada, torresmo e pronto. Agora, para virar um bom mineiro, é só falar “uai”!

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* Um dos Conselhos Jovens da Vira presentes em 22 Estados e no Distrito Federal (mg@viracao.org)

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Que Figura!

La Negra sa foi a voz que Cantora Mercedes So o na Argentina politizou uma geraçã

Fernanda Garcia, do Virajovem Campo Grande (MS)*

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ercedes Sosa era mais do que uma cantora argentina, Mercedes era toda ela alma latina. Pontuou a música de uma geração que ajudou a politizar por meio da música. É símbolo de uma época em que a Argentina clamava por liberdade. La Negra, como era conhecida, cantou a liberdade em tempos de ditadura militar em seu país. Descoberta aos 15 anos em um concurso de rádio, consagrou-se internacionalmente nos EUA e Europa em 1967, e em 1970, com Ariel Ramirez e Felix Luna, gravando “Cantata Sudamericana” e “Mujeres Argentinas”. Gravou um tributo também à chilena Violeta Parra. Censurada e perseguida na década de 1970, seus discos, carregados de crítica social, se converteram em um referencial durante o último governo militar argentino (1976-83). Sosa ainda demonstrou oposição durante os governos militares de diversos países da América do Sul nas décadas de 1970 e 80. A prisão aconteceu em um show para universitários. Libertada 18 horas depois, Sosa foi embora para a Espanha e depois para a França. O diretor musical da cantora, Popi Spatocco, disse que o exílio foi excessivamente difícil para uma mulher que amava a Argentina. Sosa voltou para casa apenas em 1982, nos meses finais do regime ditatorial.

Dona de uma voz imponente de contralto, sua presença no palco bastava-se pelo talento e pelo visível prazer de interpretar grandes compositores latinos. Com poesia, La Negra foi a voz de tantos oprimidos.

Nova Canção A preocupação sócio-política marca o repertório de Mercedes, tornando-a uma das grandes expoentes da Nueva Canción, um movimento musical latino-americano da década de 1960, com raízes africanas, cubanas, andinas e espanholas. No Brasil, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque, entre outros artistas, são expressões da Nueva Canción, marcada por uma ideologia de rechaço ao que entendiam como imperialismo norte-americano, consumismo e desigualdade social. Fez parcerias com cantores brasileiros, como Fagner, Beth Carvalho e quase no fim da vida gravou a canção “La Maza” (A Marreta) com Shakira. Além de muitos outros nomes que compartilharam do talento de Mercedes. Sosa teve três de seus discos considerados os melhores álbuns de folk na premiação do Grammy Latino – “Misa Criolla”, em 2000, “Acustico”, em

2003, e “Corazón Libre”, em 2006. Ela também atuou em filmes como El Santo de la Espada, sobre o herói da independência argentina, José de San Martin. A cantora gravou mais de 70 discos, sendo o mais recente um álbum duplo, “Cantora”. Morreu em outubro de 2009, aos 74 anos, de problemas renais e respiratórios. V * Um dos Conselhos Jovens da Vira presentes em 22 Estados e no Distrito Federal (ms@viracao.org)

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Fortalecendo redes Encontro Amazônico Belém (PA) realiza primeiro ds de Jovens Vivendo com HIV/ai Eduardo Soares, da Escuta Soh!

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ntre os dias 14 e 17 de julho, Belém (PA) sediou o primeiro Encontro Amazônico de Adolescentes e Jovens Vivendo com HIV/aids - Fortalecendo Redes, formando Jovens multiplicadores em prevenção à HIV/aids na Amazônia. Durante a abertura do evento, houve a acolhida dos Estados presentes na atividade, seguida da mesa inicial, composta por representantes de organizações da sociedade civil e do poder público. O encontro serviu como um momento de reflexão sobre a atuação da Rede Nacional de Adolescentes e Jovens Vivendo com HIV/aids (RNAJVHA) na região Norte do Brasil, ressaltando as conquistas e as parcerias construídas nos dois últimos anos. Ana Paula Silveira, do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde destacou o trabalho dos jovens da Rede. “O Departamento tem estudado uma política que possa dar conta das especificidades das pessoas que vivem com HIV, principalmente dos jovens, e a RNAJVHA tem contribuído muito nessa construção”. Durante os quatro dias, foi evidenciada a importância de se travarem diálogos mais próximos à população juvenil, por meio de metodologias de exposição e debate adequados às necessidades da região. Coordenador do escritório do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) em Belém, Fábio Atanásio citou os 20 anos do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), comemorados neste ano, como uma das principais conquistas da juventude e que o documento deve servir de base para as mobilizações em prol da defesa da vida.

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com o objetivo de for Evento foi realizado Norte do Brasil a RNAJVHA na região

Um dos principais objetivos do encontro era possibilitar a capacitação de lideranças nos vários Estados da região e assim fortalecer a atuação da Rede no enfrentamento à aids. O encontro teve encerramento no sábado, dia 17, com a apresentação e reflexão da “Carta de Princípios da RNAJVHA” construída no encontro estratégico realizado em São Paulo, em junho. Dentre as reflexões pertinentes, encontraram-se as casas de apoio, como um dos grandes desafios da população juvenil. Durante a tarde, um passeio pelos pontos históricos e

talecer

turísticos de Belém complementou a programação e proporcionou aos participantes um momento de descontração e confraternização. Camila Pinho, integrante da RNAJVHA em Belo Horizonte (MG), acredita que o encontro trará muitos frutos para o fortalecimento da Rede. “Foi uma experiência muito importante para a região Norte, para que possamos reproduzir isso em nossas famílias, nossas vidas”, conta a jovem, que foi convidada a participar da mesa de abertura. V

Você pode acompanhar as notícias da RNAJVHA no blog do encontro: http://encontroamazonicodejovenspositivos.blogspot.com


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Sexo e Saúde lho s e Gleison Sousa, do Conse Os virajovens Anderson Ramo Ricardo vistaram o educador físico Jovem de Teresina (PI)*, entre e o uso riscos e as consequências qu Pereira, que falou sobre os à saúde de anabolizantes pode trazer

Quais as consequências e reações adversas do uso de anabolizantes? Jessica Vieira, 21 anos

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As consequências são as mais drásticas possíveis. Pesquisas revelam em torno de 70 tipos de malefícios ao organismo. O surgimento de câncer na próstata, problemas no fígado e no coração, depressão, e o surgimento de acne são alguns dos efeitos colaterais. Nos rapazes aparece o surgimento de mamas (conhecida como ginecomastia) e entre as moças o crescimento exagerado de pêlos e a voz grave, deixando-as com aspecto masculinizado.

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Anabolizantes provocam impotência sexual? Dharllyson Cezar, 20 anos Natalia Forcat

Sim. A potência sexual diminui tanto nos homens quanto nas mulheres. No caso dos rapazes o problema é mais sério, pois com o uso contínuo da droga, o organismo reduz a produção de testosterona (hormônio natural masculino), diminuindo a quantidade de esperma, causando a infertilidade e a redução no tamanho dos testículos. Com isso o rapaz pode “falhar” na hora H. Existe alguma situação em que o anabolizante é indicado para o tratamento de alguma doença? Vinicius Mota, 23 anos Somente nos casos de indicação médica. Os esteróides anabolizantes são receitados para o tratamento de reposição hormonal em garotos que têm dificuldades no crescimento e também nos casos de osteoporose, ajudando na recuperação e ganho de massa óssea. No mais, nada de usar anabolizantes para fins estéticos, pois os danos à saúde podem ser irreversíveis e levar até a morte. Usar anabolizantes por muito tempo pode fazer com que, quando mais velho, tudo “caia” ou “murche”? Diego Silva, 18 anos Isso pode acontecer devido à massa muscular perder a elasticidade após a interrupção no uso da droga, causando a flacidez do músculo e gerando o excesso de pele. É o que chamamos de efeito “balão”, onde a pessoa incha, ficando com o corpo aparentemente Mande suas dúvidas sobre Sexo e bonito e depois vai secando. V Saúde, que a galera da Vira vai buscar as respostas pra você! * Um dos Conselhos Jovens da Vira presentes em 22 O e-mail é redacao@viracao.org Estados e no Distrito Federal (pi@viracao.org)

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a campanha Instituto do Câncer realiz las mulheres contra o uso de tabaco pe Gizele Martins, do Virajovem Rio de Janeiro (RJ)*

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este ano, o tema escolhido pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca) para a campanha contra o tabagismo é direcionado às mulheres, público que gasta, em média, 12% do salário mensal na compra de cigarros, como aponta pesquisa do IBGE de 2008. Com o slogan “Mulher, você merece algo melhor que o cigarro!”, os cartazes da campanha mostram pulmões com flores, que tem o objetivo de alertar que por trás das belas campanhas publicitárias de cigarro, as pessoas descubram que essa droga mata, destrói vidas e que apenas serve para que empresas lucrem com a venda do tabaco. Segundo dados de pesquisa divulgada pelo Inca, as mulheres estão na mira da indústria do cigarro, sendo ele o responsável por 40% das mortes de mulheres com menos de 65 anos e por 10% das mortes por doença cardíaca nas mulheres com mais de 65 anos de idade. Atualmente, estima-se que 9,8 milhões de brasileiras são fumantes. No mundo, a Organização Mundial da Saúde (OMS) diz que o sexo feminino responde por 20% dos mais de 1,3 bilhão de pessoas fumantes. Em 2009, estudo feito pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) nas escolas públicas do município de São Paulo mostra que dos 10% de alunos fumantes, 61% são meninas e 39% meninos. Além das mulheres, o Inca também alerta sobre a facilidade do jovem conseguir cigarro. A grande maioria dos fumantes (90%) começaram

ulheres são milhões de m No Brasil, 9,8 ativas do Inca gundo estim fumantes, se

a fumar antes dos 19 anos de idade. Mas a boa notícia disso tudo é que ao largar o fumo, após um ano, reduz-se pela metade o risco de uma doença do coração. Para quem deseja parar de fumar, o Ministério da Saúde mantém uma linha telefônica para que o usuário tenha as orientações sobre onde iniciar um tratamento, assim como informações sobre a legislação referente ao tabagismo. O número é 0800 61 1997. Então, se esse é o seu caso, agora é a hora!

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* Um dos Conselhos Jovens da Vira presentes em 22 Estados e no Distrito Federal (rj@viracao.org)

Mais informações sobre a campanha, você encontra no site: www.inca.gov.br/tabagismo


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“Encontrei em Minas as cores que adorava em criança. Ensinaram-me depois que eram feias e caipiras. Mas vinguei-me da opressão, passando-as para minhas telas: azul puríssimo, rosa violáceo, amarelo vivo, verde cantante, tudo em gradações mais ou menos fortes conforme a mistura de branco.” Novaes

Tarsila do Amaral (1886-1973)

Pintora paulista, que rompeu a arte cinzenta dominante e seus tons pastéis. Nasceu em 1º de setembro de 1886 e morreu em 17 de janeiro de 1973.


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