Revista Viração - Edição 77 - Outubro 2011

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a r i V a z a f m e Veja qu

Sexo e Saúde

pelo Brasil Ciranda – Curitiba (PR) Central de Notícias dos Direitos da Infância e Adolescência www.ciranda.org.br

Associação Imagem Comunitária Belo Horizonte (MG) www.aic.org.br

Centro de Refererência Integral de Adolescentes – Salvador (BA) blogdocria.blogspot.com

Grupo Conectados de Comunicação Alternativa GCCA - Fortaleza (CE) www.taconectados.blogspot.com

Gira Solidário Campo Grande (MS) www.girasolidario.org.br

Movimento de Intercâmbio de Adolescentes de Lavras – Lavras (MG)

Catavento Comunicação e Educação Fortaleza (CE) www.catavento.org.br

Universidade Popular – Belém (PA) www.unipop.org.br

Casa da Juventude Pe. Burnier – Goiânia (GO) www.casadajuventude.org.br

Taba - Campinas (SP) www.espacotaba.org.br

Avalanche Missões Urbanas Underground Vitória (ES) www.avalanchemissoes.org

Instituto de Estudos Socioeconômicos Brasília (DF) www.inesc.org.br

Grupo Makunaima Protagonismo Juvenil (RR) grupomakunaimarr.blogspot.com

Rede Sou de Atitude Maranhão São Luís (MA) www.soudeatitude.org.br

Grupo Cultural Entreface Belo Horizonte (MG) gcentreface.blogspot.com

Cipó Comunicação Interativa Salvador (BA) www.cipo.org.br

Agência Fotec – Natal (RN)

Apôitcha - Lucena (PB) www.apoitcha.org

Jornal O Cidadão – Rio de Janeiro (RJ) ocidadaonline.blogspot.com

Lunos - Boituva (SP) www.lunos.com.br

Projeto Juventude, Educação e Comunicação Alternativa Maceió (AL)

União da Juventude Socialista – Rio Branco (AC) ujsacre.blogspot.com


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m e n E e Mês d

o milhões is de cinc a m , ro b io (Enem), de outu nsino Méd E s 22 e 23 ia o d d l s a o n im estibular, e Nacio os próx s para o v o o Exam to rã n o fa p s is te a n studo em guir m de estuda olsas de e os: conse b v ti a je e b is o s ra o de s com divers para Todo públicas fe ersidades iversidade iv n n U u a rais, m m e tu ra u s g a vaga ao Pro nças estr m a d re u e d m a s e concorrer a ivers lares qu sou por d es particu aspectos. prova pas a instituiçõ , o s o n em alguns a s s ta o s li im ia lt tro de com c ú e os s e esp a por den c te fi n a ê (ProUni). N d c o tu v s e ê?, e desagrada em pra qu s opiniões mas ainda e capa En ntender a d e m e e d g a m rt lé va, a Na repo em na pro no mandar b ra a p e. r e a Cuba m ra re o exa lidariedad se prepa b o o s s e d m s la a o ,n iativ s que ro E conhece o das inic discussõe que dura. ca sabend e fi d a a d iz in m a l A e m sáv Você reportage ia, respon mundo na ual da Bah o d n ta e s res e il s a to s d ra e B puta que g órter, a de ue propõe q i le e d Galera Rep jeto s que ão do pro s e banda pela criaç m músico te a tr n o c ão ! públicos n Boa leitura a mulher. m e ix a b re

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Quem somos A

Viração é um uma organização não governamental (ONG), de educomunicação, sem fins lucrativos, criada em março de 2003. Recebe apoio institucional do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), do Núcleo de Comunicação e Educação da Universidade de São Paulo e da Agência de Notícias dos Direitos da Infância (ANDI). Além de produzir a revista, oferece cursos e oficinas de capacitação em comunicação popular feita para jovens, por jovens e com jovens em escolas, grupos e comunidades em todo o Brasil. Para a produção da revista impressa e eletrônica (www.viracao.org),contamos com a participação dos conselhos editoriais jovens de 22 Estados, que reúnem representantes de escolas públicas e particulares, projetos e movimentos sociais. Entre os prêmios conquistados nesses oito anos, estão Prêmio Don Mario Pasini Comunicatore, em Roma (Itália), o Prêmio Cidadania Mundial, concedido pela Comunidade Bahá'í. E mais: no ranking da Andi, a Viração é a primeira entre as revistas voltadas para jovens. Participe você também desse projeto. Veja, ao lado, nossos contatos nos Estados. Paulo Pereira de lima Diretor Executivo da Viração – MTB 27.300

Conteúdo

Copie sem moderação! Você pode: • Copiar e distribuir • Criar obras derivadas Basta dar o crédito para a Vira!

Apoio Institucional

Asso

ciazione Jangada

Conheça os Virajovens em 22 Estados brasileiros e no distrito Federal Belém (PA) - pa@viracao.org Belo Horizonte (MG) - mg@viracao.org Boa Vista (RR) - rr@viracao.org Brasília (DF) - df@viracao.org Campinas (SP) - sp@viracao.org Campo Grande (MS) - ms@viracao.org Curitiba (PR) - pr@viracao.org Fortaleza (CE) - ce@viracao.org Goiânia (GO) - go@viracao.org João Pessoa (PB) - pb@viracao.org Lavras (MG) - mg@viracao.org Lima Duarte (MG) - mg@viracao.org Maceió (AL) - al@viracao.org Manaus (AM) - am@viracao.org Natal (RN) - rn@viracao.org Porto Velho (RO) - ro@viracao.org Recife (PE) - pe@viracao.org Rio Branco (AC) - ac@viracao.org Rio de Janeiro (RJ) - rj@viracao.org Sabará (MG) - mg@viracao.org Salvador (BA) - ba@viracao.org S. Gabriel da Cachoeira - am@viracao.org São Luís (MA) - ma@viracao.org São Paulo (SP) - sp@viracao.org Serra do Navio (AP) - ap@viracao.org Teresina (PI) - pi@viracao.org Vitória (ES) – es@viracao.org

Com 12 edições anuais, a Revista Viração é publicada mensalmente em São Paulo (SP) pela ONG Viração Educomunicação, filiada ao Sindicato das Empresas Proprietárias de Jornais e Revistas de São Paulo (Sindjore).

at en dimen t o ao l eit o r Rua Augusta, 1239 - conj. 11 - Consolação 01305-100 - São Paulo - SP Tel./Fax: (11) 3237-4091 / 3567-8687 HoRáRio dE atEndimEnto Das 9h às 13h e das 14h às 18h E-mail da REdação E assinatuRa redacao@viracao.org assinatura@viracao.org

Revista Viração • Ano 9 • Edição 77 03


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8 Vote na Web

Site permite que a população se manifeste com relação aos projetos que deputados federais e senadores apresentam no Congresso Nacional

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14 Brincando com fantasias

Conheça o caminho trilhado pela mania e sensação juvenil do Cosplay, e as histórias contadas pelos fãs que fazem dessa arte um estilo de vida

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e usam os processos Jovens de Curitiba (PR) discutem sobre os tizar cien cons para ação unic de com iente problemas do meio amb

Manda Vê . . . . . . . . . . . . . 06 De Olho no Eca . . . . . . . . 09 Imagens que Viram . . . . . 12 No Escurinho . . . . . . . . . . 30 Que Figura . . . . . . . . . . . . 31 Sexo e Saúde . . . . . . . . . 32 Rango da Terrinha . . . . . . 33 Parada Social . . . . . . . . . . 34 Rap Dez . . . . . . . . . . . . . . 35

Eu, hein! Enem?

outubro em Saiba mais sobre o exame que acontece em estudantes entre taviva expec de todo o país e que é motivo prova da nota a com ade faculd na r entra m que quere

Deu samba

Bossa com pop e atitude rock... Conheça a música e a mistura que um jovem paulista vem fazendo nos palcos

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Autora de projeto de lei que proíbe a contratação de bandas e músicos que depreciam a mulher na Bahia cede entrevista aos virajovens de Salvador (BA)

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Sempre na Vira

Não à baixaria

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Como se faz!

Hermanos cubanos

Conheça ações de solidariedad e a Cuba no Brasil e no mundo para minimizar os efei tos do isolamento da ilha

Eles se entendem

A educação entre pares está dando o que falar e permit e cada vez mais a autonomia dos jovens

No mundo deles

Quarto Mundo já A 5ª temporada do programa de TV últimos seis meses es começou! Confira o que rolou ness

RG VÁLIDO EM TODO TERRITÓRIO NACIONAL Revista Viração - ISSN 2236-6806 Conselho Editorial Eugênio Bucci, Ismar de Oliveira, Izabel Leão, Immaculada Lopez, João Pedro Baresi, Mara Luquet e Valdênia Paulino

Conselho Fiscal Everaldo Oliveira, Renata Rosa e Rodrigo Bandeira

Conselho Pedagógico Alexsandro Santos, Aparecida Jurado, Isabel Santos, Leandro Nonato e Vera Lion

Presidente Juliana Rocha Barroso

Vice-Presidente Cristina Paloschi Uchôa

Primeiro-Secretário Eduardo Peterle Nascimento

Direção Executiva Paulo Lima e Lilian Romão

Equipe Adrielly dos Santos, Aleska Drychan, Ana Paula Marques, Bruno Ferreira, Elisangela Nunes, Eric Silva, Evelyn Araripe, Gisella Hiche, Karina Lakerbai, Gutierrez de Jesus Silva, Ionara Silva, Manuela Ribeiro, Mariana Rosário, Novaes, Sonia Regina e Vânia Correia

Administração/Assinaturas Douglas Ramos e Norma Cinara Padilha

Mobilizadores da Vira Acre (Leonardo Nora), Alagoas (Jhonathan Pino), Amapá (Camilo de Almeida Mota), Amazonas (Cláudia Ferraz e Délio Alves), Bahia (Nilton Lopes), Ceará (Amanda Nogueira e Rones Maciel), Distrito Federal (Danuse Queiroz e Pedro Couto), Espírito Santo (Jéssica Delcarro e Leandra Barros),

Projeto Gráfico Goiás (Érika Pereira e Sheila Manço), Maranhão (Sidnei Costa), Mato Grosso do Sul (Fernanda Pereira), Minas Gerais (Maria de Fátima Ribeiro e Pablo Abranches), Pará (Alex Pamplona), Paraíba (Niedja Ribeiro), Paraná (Juliana Cordeiro e Vinícius Gallon), Pernambuco (Maria Camila Florêncio), Piauí (Anderson Ramos da Luz), Rio de Janeiro (Gizele Martins), Rio Grande do Norte (Alessandro Muniz), Rondônia (Luciano Henrique da Costa), Roraima (Cleidionice Gonçalves) e São Paulo (Ana Luíza Vastag, Damiso Faustino, Sâmia Pereira e Virgílio Paulo).

Colaboradores Antônio Martins, Heloísa Sato, Lentini, Márcio Baraldi, Natália Forcat, Paulo Pepe e Sérgio Rizzo.

Ana Paula Marques e Cristina Sayuri

Jornalista Responsável Paulo Pereira Lima – MTb 27.300

Divulgação Equipe Viração

E-mail Redação e Assinatura redacao@viracao.org assinatura@viracao.org

Preço da assinatura anual Assinatura Nova Renovação De colaboração Exterior

R$ 58,00 R$ 48,00 R$ 70,00 US$ 75,00


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A Vira pela igualdade. Diga lá. Todas e todos Mudança, Atitude e Ousadia jovem.

Diga lá

E-mail Prezados, A Biblioteca Pública Municipal Da Costa e Silva recebeu com satisfação um exemplar da Revista Viração. Nossos consulentes, em sua maioria, são jovens e indubitavelmente eles apreciarão esse periódico. José Augusto Pedreira Coordenador

Perdeu alguma edição da Vira? Não esquenta! Agora você pode acessar, de graça, as edições anteriores da revista na internet: www.issuu.com/viracao

Ponto G Para garantir a igualdade entre os gêneros na linguagem da Vira, onde se lê “o jovem” ou “os jovens”, leia-se também “a jovem” ou “as jovens”, assim como outros substantivos com variação de masculino e feminino.

Fale com a gente! E-mail Gostaria de parabenizá-los por essa maravilhosa revista. Para ser sincera, são as primeiras edições que eu leio (74 e 75). Adorei os assuntos, e todas as reportagens foram maravilhosas. Saúdo também pela maneira com que formulam um lugar de debate para jovens de todas as idades, crenças e culturas. Confesso que estava cansada de ler revistas para jovens, com testes de amor, famosos mais gatos etc. Adorei a ideia de fazerem uma revista inspirada em matérias de todos os âmbitos. Gostaria de saber se a revista é vendida por mês ou bimestre, e se tem como comprar de uma em uma edição? Como eu faço para adquirir?

Que bom que curte o nosso trabalho, Luana! A revista não é vendida em banca, mas você pode fazer uma assinatura anual por R$ 58,00. Se tiver interesse, entre em contato pelo e-mail assinatura@viracao.org

Luana Rui Fernandes, de João Neiva (ES) Prezado José Augusto, agradecemos o seu contato e esperamos que o público jovem da Biblioteca da Costa e Silva aproveite o nosso conteúdo de diversas formas!

Siga a Vira no Twitter! Nosso perfil é http://twitter.com/viracao

E-mail Sou jornalista da cidade de Picuí (PB) e atuo num ponto de cultura em Nova Palmeira (PB) e numa associação em Aquiraz (CE). Minha área de atuação é a comunicação comunitária. Também tenho me interessado, desde 2006, na relação educação-comunicação (educomunicação). Tenho realizado palestras no Ceará acerca do tema "Educomunicação" e participo da rede de comunicadores da Ong Catavento do Ceará. Gostaria muito de me integrar ao projeto Viração. Como faço para participar do trabalho de vocês? Manassés de Oliveira

Mande seus comentários sobre a Vira, dizendo o que achou de nossas reportagens e seções. Suas sugestões são bem-vindas! Escreva para Rua Augusta, 1239 - Conj. 11 - Consolação - 01305-100 - São Paulo (SP) ou para o e-mail: redacao@viracao.org Aguardamos sua colaboração!

É muito bom saber que o interesse por Educomunicação anda cada vez mais frequente! O nosso conselho jovem de Fortaleza é composto por membros da ONG Catavento, uma grande parceira nossa. Por meio dela, é possível articular a sua colaboração! Ou se preferir, podemos criar um Conselho Jovem da Vira aí em sua cidade.

Parceiros de Conteúdo


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Manda Vê Silmara Aparecida dos Santos e Reynaldo de Azevedo Gosmão, do Virajovem Lavras (MG); Alex Pamplona, do Virajovem Belém (PA)*, e Bruno Ferreira, da Redação

São muitas as leis que defendem o direito do consumidor, o trabalhador e também o meio ambiente. Mas ainda há empresas que exploram os seres humanos e os recursos naturais para obtenção de lucro. Essas condições não aparecem nas embalagens dos produtos e muito menos fazem parte das propagandas nos veículos de comunicação, que raramente abordam essa questão.

O consumismo torna as pessoas pouco atentas às questões sociais que envolvem a confecção de produtos, muitas vezes produzidos a custa do sofrimento do trabalho escravo e do desrespeito à natureza. E o consumo desses produtos só contribui para que os abusos de empresas gananciosas persistam. Por isso, os virajovens de Lavras (MG) e Belém (PA) perguntaram para a galera:

Você leva em conta as condições sociais em que as coisas que você consome são produzidas? Vanessa da Cunha Silveira, 27 anos, São Paulo (SP)

Aline Carvalho Veiga, 23 anos, Lavras (MG) “Acho que sim, porque a gente está acostumada a não ver o valor das coisas. É importantíssimo perceber as condições em que os produtos são produzidos. Exatamente por causa do sistema em que vivemos.”

"Eu sempre fui atenta à parte dos alimentos, mas roupa só vejo quando deixa transparecer na mídia. Quando o produto envolve matança de animais, por exemplo, fico receosa."

* Um dos Conselhos Jovens da Vira presentes em 22 Estados e no Distrito Federal mg@viracao.org e pa@viracao.org)

06 Revista Viração • Ano 9 • Edição 77

Priscila Castro, 21 anos, Belém (PA) “Quase sempre não, e acho muito difícil que isso ocorra no senso comum, mas alguém deve fazer essa reflexão. E seria o mínimo que deveríamos fazer. Refletir todo o processo que o produto faz até que ele chegue em nossos lares. Não levar em conta as condições socias dos produtos que consumimos é aliená-los por completo e não dar importância para quem e para o que faz parte desse processo.”


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Eline Silva de Souza, 23 anos, Belém (PA)

Emerson Caldas, 37 anos, Belém (PA)

“A princípio não, pois quando compro um produto só me preocupo como ele está, se em bom estado, bem armazenado. Nunca parei para pensar como esses trabalhadores iniciais estão sendo remunerados e suas condições de trabalho. Temos que nos informar mais, fiscalizar para que os vendedores estimulem a produção ecológica e ter certeza de que cumprem todas as exigências ambientais e sociais.”

“Com certeza, embora na sociedade contemporânea, em tempos de globalização neoliberal, é difícil você encontrar produtos que não sejam frutos de alguma exploração do homem pelo homem ou fruto do trabalho infantil e etc.”

Melina Marcelino 25 anos, Belém (PA)

Joberth R. Baliza de Paula, 20 anos, São Sebastião das Estrelas (MG)

"Eu não levava em consideração, mas a partir da reportagem que foi realizada de uma empresa de roupa eu comecei a perceber. Isso tudo é muito mascarado, mas na questão dos alimentos, eu já olhava se a embalagem era ou não biodegradável, até porque é importante saber o que está consumindo.”

"Quando compro alguma coisa sempre me preocupo com a procedência. Vejo se é uma empresa legal, se ela tem algum projeto social ou se preocupa com questões ambientais. Mas, às vezes, é complicado saber essas informações, porque a maioria não tem isso tão evidente e a gente acaba comprando sem saber. Acho que é direito nosso saber de onde vem o produto e como ele é feito. Só assim teremos uma forma mais democrática de consumo."

Não é de hoje Recentemente, a imprensa divulgou o caso de um grupo de pessoas em situação semelhante a de trabalho escravo, prestando serviço para a marca de roupa Zara, na cidade de Americana (SP). Mas outras marcas também já foram denunciadas por condições desumanas de trabalho no Brasil e em outros países. A Nike, por exemplo, já foi acusada por adotar trabalho infantil na confecção de seus artigos esportivos, além de submeter trabalhadores indonésios a humilhações e remuneração inferior a três dólares diários.

Fernando Godoy Ósio, 20 anos, São Carlos (SP) "Geralmente, as lojas populares brasileiras oferecem condições melhores de trabalho na confeccção de roupas, já a moda internacional avança em produtos que são prejudiciais, mas temos que usar de ética para não patrocinar essas marcas."

Faz Parte O Pará é um dos Estados brasileiros com maior índice de trabalho escravo no Brasil, além de ser ser o primeiro em desmatamento ilegal e conflitos de terra, de acordo com dados de 2007 do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e Comissão Pastoral da Terra (CPT). Essa situação chamou a atenção do diretor Alexandre Rampazzo e da produtora Tatiana Polastri, que estrearam no mesmo ano um documentário chamado Nas Terras do Bem-Virá, que aborda o desmatamento e histórias de pessoas enganadas com a promessa de condições dignas de trabalho, mas que foram submetidas à escravidão em terras paraenses. O documentário está disponível em partes no site Youtube (www.youtube.com). (Com informações do site Repórter Brasil).


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Mídias Livres

CIDADANIA SEM FRONTEIRAS

anhar, a semana, o site que possibilita acomp Mais de 15 mil pessoas acessam, tod ar propõe no Congresso Nacional opinar e votar no que cada parlament

Luciano Frontelle, do Virajovem Boituva (SP)* Divulgação

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cada quatro anos votamos em deputados federais e senadores para que nos representem em Brasília (DF), no Congresso Nacional, para que criem leis e votem assuntos do interesse da população. Antigamente, seria muito difícil saber se quem elegemos está fazendo tudo aquilo que prometeu durante a campanha, mas desde novembro de 2009, quando foi lançado o Vote na Web, essa história mudou. O site apresenta os projetos de lei propostos pelos deputados e senadores de forma clara e objetiva, em apenas uma linha. Possibilita ainda uma votação simbólica, gerando um gráfico que compara os votos daqueles que frequentam o site com a dos políticos em Brasília. Segundo Fernando Barreto, sócio da empresa mineira Webcitzen, que desenvolve o projeto, o objetivo é oferecer ao cidadão uma maneira mais fácil, simples e direta de acompanhar o trabalho dos parlamentares. “Nossa intenção é resgatar o respeito e a credibilidade da atividade política”, afirma. Os resultados do site têm demonstrado que na internet a realidade é um tanto quanto diferente. Com uma média de 15 mil acessos semanais, o site já contabilizou mais de 400 mil votos e superou o número de 12 mil comentários em projetos de lei. “Os brasileiros estão avançando com o processo democrático por meio da internet e o Vote na web é uma ferramenta que está contribuindo com este processo”, diz Barreto. O projeto já chamou a atenção até mesmo fora do Brasil. Em maio de 2010, os idealizadores foram os únicos no Brasil a serem convidados para participar da conferência Gov 2.0 Expo em Washington, nos Estados Unidos. E dividiram a fala com grupos como Nasa, Microsoft, Google, o Pentágono, Governo da Austrália e outros. E esse convite acabou gerando mais outro, dessa vez para ir até Barcelona, na Espanha, para participar de um fórum sobre engajamento cívico realizado pela Organização das Nações Unidas (ONU).

Fernando Barreto, um dos responsáveis pelo site Vote na Web

Como o projeto surgiu em 2009, é claro que nem todos os projetos de parlamentares estão disponíveis no site, mas foram definidos alguns critérios para facilitar o trabalho da equipe que disponibiliza o conteúdo. A prioridade é incluir todos os projetos mais recentes e, pelo menos, um projeto de cada um dos 680 parlamentares, e depois os que foram propostos antes de 2010. É possível encontrar alguns que são de antes de 2009 por causa do grande número de internautas que pediram ou porque a equipe considerou ser relevante para a sociedade. V

Confira o site Vote na Web: http://www.votenaweb.com.br/

* Um dos Conselhos Jovens da Vira presentes em 22 Estados e no Distrito Federal (sp@viracao.org)

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Larissa Pereira Ocampos, do Portal Pró-Menino*

Conselho Tutelar: o órgão que zela por seus direitos

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onselho Tutelar (ou CT) é uma instituição de extrema importância para a luta pela garantia dos direitos infantojuvenis. Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente, cada município brasileiro deve ter ao menos um Conselho Tutelar, composto por cinco conselheiros, que devem dialogar com a sociedade, Ministério Público, família e as mais diversas áreas do governo municipal (educação, saúde, alimentação, cultura etc) a fim de zelar pelos direitos de crianças e adolescentes. Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas), 98% dos municípios brasileiros já possuem Conselhos Tutelares. A escolha desses representantes deve ser feita de forma democrática, por meio de eleições a cada três anos, com a participação de todos os cidadãos que tenham interesse em melhorar o Sistema de Garantia dos Direitos de Crianças e Adolescentes. Para se candidatar é necessário ter no mínimo 21 anos. Para votar, basta ser eleitor no município, ou seja, ter 16 anos ou mais e portar Título de Eleitor registrado na cidade. Cada município tem uma data de eleição, definida pelo Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente – a de São Paulo, por exemplo, está programada para o próximo dia 16 de outubro.

Autonomia Le

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Apesar de ser financeiramente mantido pela prefeitura e ligado ao poder executivo municipal, o CT é autônomo. Os conselheiros devem cobrar de todos, inclusive da prefeitura, quando algum direito não é garantido. É como se o Conselho fosse o PROCON da criança e do adolescente. Assim como na defesa do consumidor, quando houver alguma violação dos direitos infantojuvenis, deve-se procurar o órgão para que as medidas protetivas necessárias sejam tomadas. Mas aí é importante ter um cuidado: o Conselho Tutelar existe para proteger os direitos, não para punir ninguém. O conselheiro deve zelar pelo direito da criança e procurar o Judiciário para informá-lo da violação e a punição deve ser dada pela Justiça. Cada vez é mais comum crianças e adolescentes irem ao CT, o que é muito bom, já que o grande princípio do ECA é que eles sejam sujeitos da promoção de seus direitos. Faça isso você também. Quando perceber que um direito de alguém com menos de 18 anos foi violado, procure o Conselho. Os direitos estão previstos na lei, mas para que eles virem realidade, é necessário o empenho de todos os envolvidos: sociedade, escola, entidades de proteção e até mesmo crianças e adolescentes. Procure o CT de seu município ou comunidade, participe e o ajude a promover campanhas e debates em prol dos direitos infantojuvenis. Também repasse o seu conhecimento para amigos, familiares e colegas. Somente assim, com o seu apoio e uma ampla divulgação dos direitos, será possível desenhar um futuro melhor para as crianças e jovens de seu país.

*O Portal Pró-Menino, parceiro da Vira, é uma iniciativa da Fundação Telefônica em conjunto com o Centro de Empreendedorismo Social e Administração em Terceiro Setor (CEATS/FIA).

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Amizade que dura as à ilha mais curiosa do mundo

Conheça casas e outras iniciativas solidári

Alessandro Muniz e Daísa Alves, do Virajovem Natal (RN); e Vinícius Gallon, do Virajovem Curitiba (PR)*

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hega com um charuto cubano na mão, perguntando por fogo, pois não trouxera isqueiro. Não tínhamos. Caminhamos até o local da entrevista. Lá, nos sentamos e Olavo nos pede licença e vai atrás de algum fumante solidário. Pouco depois, ele volta com o charuto fumegante na boca. Olavo Pereira Queiroz, paulista de 53 anos, é o responsável pela Casa de Amizade Brasil-Cuba no Rio Grande do Norte. É um amante e defensor da ilha caribenha mais célebre da história, para a qual já viajou mais de trinta vezes. Sua primeira viagem a Cuba aconteceu em 1986. No período de 1994 à 1997 voltou diversas vezes por razão de trabalho e desde 2003 continua viajando pelo menos duas vezes por ano a Cuba. “Ando muito por Cuba, tenho muitos amigos”, conta Olavo, que até se tornou padrinho da filha de um de seus grandes amigos, o cubano Fabio Simeón, diretor das Brigadas Sul-Americanas de Solidariedade a Cuba. Essa imensa familiaridade com o povo cubano, após tantas viagens, sua afinidade com as ideias defendidas pelo país, pois como diz “é comunista filho de pais comunistas”, e sua indignação para com as sansões que a ilha sofre com o Embargo Americano motivou a fundação, em 2006, da Casa de Amizade em Natal, onde ele reside com a esposa há 13 anos.

10 Revista Viração • Ano 9 • Edição 77

Uma janela de informações Existem mais de duas mil Casas de Amizade a Cuba em todo o mundo, todas ligadas ao Instituto Cubano de Amizade entre os Povos (ICAP). A principal razão de ser das Casas é constituirem um canal diferenciado de informação do que se passa em Cuba, sua realidade social, cultural e política, pois “todas as informações divulgadas pelos meios de comunicação são inteiramente falsas”, afirma Olavo. Além disso, há duas lutas básicas de toda Casa de Amizade a Cuba atualmente. A primeira é contra o fim do embargo econômico imposto pelos Estados Unidos há 49 anos, e a denúncia do que sofre a Ilha, e suas consequências mais diversas. Uma delas é a proibição da ilha ser conectada aos cabos submarinos de fibra ótica para acessar a internet. Desde 1996 há internet em Cuba através de um sistema via satélite mais lento e bem mais caro

que a conexão via fibra ótica. Assim, as restrições ao acesso na ilha se devem mais a essa limitação, mais uma consequência do embargo do que a uma proibição política. Apenas em fevereiro deste ano, um cabo venezuelano chegou à ilha, o que aumentará em três mil vezes a velocidade de conexão após a conclusão dos demais investimentos em infraestrutura de redes. Há 19 anos, a Organização das Nações Unidas (ONU) aprova resoluções contra o bloqueio estadunidense a Cuba, mas estas têm apenas caráter simbólico de repúdio internacional. A segunda luta é pela libertação de cinco cubanos presos desde 1998 nos Estados Unidos, acusados de espionagem. António Guerrero, Fernando González, Gerardo Hernández, Ramón Labañino e René González eram agentes infiltrados em organizações terroristas de cubanos dedicadas a desestabilizar o


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Vinicius Gallon

governo de seu País para derrubálo, inclusive com atentados a bomba em hotéis, navios levando turistas, aviões, tentativas de assassinato a Fidel Castro etc. O objetivo desse grupo era impedir que seus compatriotas, contrários ao regime cubano, atentassem contra o seu País a partir dos Estados Unidos. Além disso, a Casa de Solidariedade em Natal realiza anualmente uma Convenção

Estadual e participa da Nacional. Promove as comemorações do 26 de julho, data que marca o início da revolução cubana, com o ataque ao Quartel de Moncada pelos guerrilheiros em 1953. Produz o boletim quinzenal Síntese Cubana, no qual divulga informações sobre a ilha, além de outras articulações, como a participação na indicação de Renato C. P. Vieira Lima, estudante natalense que faz medicina em Cuba e a responsabilidade pelas vagas do Rio Grande do Norte para as Brigadas Sulamericanas de Solidariedade a Cuba.

V

As Brigadas de Solidariedade a Cuba

Olavo Queiroz conta sua relação com a ilha, para onde já viajou mais de 30 vezes

Todos os anos, normalmente do fim de janeiro para o início de fevereiro, acontecem as Brigadas de Solidariedade a Cuba, coordenadas pelo Instituto Cubano de Amizade entre os Povos (ICAP). Pessoas de todo o mundo viajam a Cuba para realizar trabalhos voluntários, conhecer a cultura do País, a história, as pessoas, enfim, ver com os próprios olhos a ilha que desperta mais curiosidade em todo o mundo, além de prestar solidariedade. A Brigada Sul-americana congrega as vagas oferecidas ao Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. São cerca de trezentas pessoas desses quatro países, 100 das quais brasileiras. Para participar, os interessados devem buscar em seus Estados as Casas de Amizade Brasil-Cuba. A participação é mediante investimento de 305 dólares, que inclui a estadia durante os 14 dias da viagem, alimentação completa, programação e todos os traslados realizados no País. O custo da passagem de ida e volta é arcado por cada participante. A programação pode ser conferida no site: www.cubaviva.com.br.

Solidariedade cubana ao Brasil O médico cubano Osvaldo Oliva Aloma há 14 anos trabalha no Brasil, atuando em programas de saúde da família. Logo após terminar sua especialidade em medicina geral integral, na Universidade de Havana, veio para o país em missão de ajuda e colaboração ao estado de Roraima, onde permaneceu por três anos trabalhando nos bairros de periferia e no Hospital Estadual. Em seguida, se transferiu para o sudeste. Atualmente trabalha em Piraju (SP). Segundo ele, “as missões de solidariedade fazem parte do dia a dia do médico cubano. Atuam neste momento em mais de 20 países do mundo principalmente da América Latina e da África, ou seja, em países mais pobres com populações carentes e com doenças provocadas pela falta de saneamento básico e de políticas adequadas de saúde. Todo médico que se forma em Cuba sabe que em algum momento será convocado para estas funções por que já faz parte da formação acadêmica. As participações nestas missões geralmente são voluntárias e sem remuneração, o médico recebe alimentação e habitação e a família em cuba recebe o salário habitual”.

Os Últimos Soldados da Guerra Fria, autor: Fernando Morais, editora Companhia das Letras, 2011, 416 páginas. A Ilha – Um repórter brasileiro na ilha de Fidel Castro, autor: Fernando Morais, editora Companhia das Letras, 2001, 231 páginas. Tá na Mão: Confira o site oficial da Solidariedade BrasilCuba: www.cubaviva.com.br

* Um dos Conselhos Jovens da Vira presentes em 22 Estados e no Distrito Federal (pr@viracao.org)

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Vimidpaas ctadas

IMAGENS QUE VIRAM

Texto: Fábio Caffé, colaborador da Vira no Rio de Janeiro (RJ) Fotos: Fábio Caffé, Ratão Diniz, Léo Lima, Monara Barreto e Paulo Barros, do Coletivo Favela em Foco

D

esde 2009, o Coletivo Multimídia Favela em Foco vem documentando o cotidiano dos moradores do conjunto de favelas do Alemão, com ênfase nos impactos causados na vida dessas pessoas, em virtude das obras do Programa de Aceleração ao Crescimento (PAC), do Governo Federal, que acontecem em várias localidades do Brasil. Ao longo desta documentação percebe–se que, para alguns moradores, estas obras foram benéficas, já para vários outros as mesmas obras trouxeram graves problemas e danificaram as estruturas de algumas casas. E o governo? Não deu assistência adequada a algumas pessoas que passaram por isso. Confira imagens que retratam essa situação. V

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Conheça mais sobre o Coletivo Multimídia Favela em Foco: www. favelaemfoco.wordpress.com


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Que estilo cola

~ Co s p l a y : a j u n Ca , o Mariana Pailley, Hudson Oliveira, Ingridy Almeida, Débora Nogueira, Sandro Reis Silva e Emília Merlini, do Virajovem Lima Duarte (MG)*

menos da Mangás, animes, doramas, games, entre outros fenô tos que cultura japonesa se misturam com vida real em even acontecem no Brasil e no mundo

A

expressão cosplay vem da fusão das palavras inglesas costume + play e significa algo como “brincar de se fantasiar”. Em uma convenção de ficção científica nos Estados Unidos, em 1939, dois jovens apareceram vestidos com roupas espaciais. Depois disso, no final dos anos 1980, fãs de Jornada nas Estrelas e de RPG (Role Playing Game ou jogo de interpretação de papéis) já se fantasiavam de seus personagens favoritos. Naquela época, esse costume ainda não era conhecido como cosplay. Essa “mania” foi para o Japão, onde a galera começou a se fantasiar com personagens de animes, mangás e games japoneses e, aí, surgiu o cosplay como conhecemos hoje. Por isso, muita gente acredita que o cosplay surgiu no Japão. Uma de suas principais particularidades é que, além de criar as roupas, o praticante também interpreta o

personagem “imitando” sua personalidade, postura, falas e atitudes características. “Eu acho que as pessoas sempre tiveram a necessidade de se fantasiar, de brincar e se divertir”, diz Alexandre Lourenção, de 27 anos. Raniel Andrade, de 22 anos, conta ainda: “Eu acho legal ver meu personagem favorito sendo interpretado por outra pessoa. A cultura Otaku é tão importante na minha vida, que faço faculdade de artes e design por causa dos animes”. Pra explicar um pouco melhor o cosplay é preciso falar de Otaku, nome que se dá aos fãs da cultura japonesa (veja também a reportagem Qual é a sua turma? da edição 75 da Vira) e pode ser considerada uma tribo, assim como há a tribo dos nerds, das patricinhas, dos emos etc. Geralmente, o contato com essa cultura começa na infância, onde conhecemos os primeiros animes por meio da TV aberta ou mesmo da internet. “Eu nunca fiz cosplay, mas a cultura pop japonesa em geral já faz parte de minha vida há muitos anos, desde os Cavaleiros do Zodíaco e Jaspion”, explica Loanda Andrade, de 27 anos. As pessoas passam a admirar as obras tão profundamente que trazem para suas vidas toda a filosofia delas, assim como um modo de ser, pensar, ouvir (J-music’s) e até mesmo de se vestir (Visual-KEI). Lembrando que para ser Otaku não existe idade!

Flickr_Greyloch

No Brasil

Frieza - Dragon Ball Z Divulgação

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Não se sabe ao certo quando o cosplay chegou em nosso país, mas segundo o site Cosplay Brasil (http://www.cosplaybr.com.br) acredita-se que tenha sido por volta de 1996, com a primeira convenção de animes do País, o Mangacon, realizado em São Paulo pela Associação Brasileira de Desenhistas de Mangá e Ilustrações (ABRADEMI). A prática do cosplay cresceu e, hoje, praticamente todas as capitais e grandes cidades já organizam eventos do tipo. Só para se ter uma ideia de público, o Anime Friends que aconteceu em julho desse ano em São Paulo, reuniu em seis dias cerca de 200 mil pessoas, segundo a organização do evento. Agora que fizemos essa introdução podemos falar um pouco mais sobre cosplay. Ele acontece geralmente em eventos de cultura japonesa, onde um grande número de Otakus se reúne e representa seus personagens preferidos. Nessas ocasiões também


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de dois m undos ação

Divulg

é possível participar de concursos cosplay, workshops sobre aspectos dessa cultura, karaokês, campeonatos de vídeo-game e de ilustrações, jogos de cartas, exposições (de bonsais, história do anime etc), além de mesas e arenas de RPG. É possível ainda comprar itens dessa cultura em estandes de vendas, assistir a animes e a Tokusatsu (série com atores de super-heróis japoneses), apresentações de artes marciais (como aikidô), de bandas e de dança, assim como provar a deliciosa culinária japonesa. Na seção Manda Vê da edição 75 da Vira perguntamos aos jovens “como você acha que a mídia interfere nas escolhas, cultura e na violência?”. A cultura otaku e cosplay é um típico exemplo dessa influência, unindo a cultura japonesa e a mídia. Alexandre Lourenção fala também um pouco sobre essa relação: “O cosplay, com certeza, é uma forma de divulgar a cultura japonesa, ou seja, mesmo que alguém que se aproxima de cosplay esteja buscando algo novo dessa cultura, por meio desse novo, pode entrar em contato com o antigo pesquisando e se aprofundando mais no assunto”. Fábio Uerara, de 38 anos e neto de japoneses completa: “O cosplay é um fenômeno mundial, uma parte da cultura japonesa que é muito exportada, que influencia o Ocidente. No Japão existe um convívio saudável entre o tradicional e o moderno”. Assim, o cosplay é uma maneira atual de mostrar também a cultura tradicional oriental. Ao se vestir de seu personagem preferido e interpretá-lo, podemos pensar que se trata de uma forma de reconstruir a cultura e o que vemos na mídia. Com o cosplay, muitos jovens têm se divertido e conhecido de um modo diferente um pouco mais dessa cultura que está do outro lado do mundo. V

Divulgação

* Um dos Conselhos Jovens da Vira presentes em 22 Estados e no Distrito Federal (mg@viracao.org)

Titânia Erza - Fairy Tail

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a r e l a G

r e t r ó Rep

a proibição de investimento Projeto de lei de deputada da Bahia propõe rpam a imagem da mulher público em apresentações musicais que detu Ailton Mota, Amanda Campos, Anderson Santos, Andresa Ferreira, Breno Barreto, Daniela Fontoura, Elane Santos, Elissandra Cruz, Elizete Lima, Iscarlete Santana, Jacó Silva, Jamile Pereira, Janile Silva, Juliana Oliveira, Jumara Araújo, Leilane Mota, Maxwele Silva, Messias Santos, Renata Pinho, Roseliny Silva, Taiane Cavalcante, Tais de Paula e Verônica Muniz, do Virajovem Salvador (BA)*

Q

uem nunca ouviu canções que chamam a mulher de “cachorra”, ou a tratam de modo pejorativo, como objeto sexual? Na Bahia, um projeto de lei, de autoria da deputada estadual Luiza Maia (PT), militante das causas feministas e presidente da Comissão de Direitos da Mulher da Assembleia Legislativa da Bahia, é destaque na mídia por tentar impedir que o poder público contrate artistas que incentivam o preconceito e a violência contra a mulher, nas letras de músicas, danças e coreografias. A proposta é que o gestor que infligir a lei pague uma multa, que será revertida para organizações que atuam na proteção do direito da mulher. Não é a toa que a deputada está sendo alvo de muitas críticas de segmentos musicais contrários ao projeto, que se manifestam principalmente pela internet. Confira a entrevista que a galera do Virajovem Salvador (BA) fez com a deputada. Como surgiu a ideia de pensar um projeto de lei que proíbe o uso de recursos públicos para financiar shows de bandas

que cantam músicas que depreciam a mulher? Luiza Maia: Vocês conhecem algumas dessas músicas? “Cachorra”, “metralhada”, “piriguete” e todo tipo de termos inadequados com relação às mulheres. Isso não pode! A Constituição do Estado da Bahia, no capitulo dos direitos da mulher diz, no artigo 282, que cabe ao Estado garantir perante à sociedade a imagem social da mulher como mãe, trabalhadora e cidadã, em igualdade de condições com o homem. Então, não dá para a gente deixar que uma indústria de cultura de massa, que a gente não pode nem chamar de cultura, desenvolva uma campanha de rebaixamento da mulher, de discriminação, de desrespeito e incentivo à violência. Então quer dizer que era um assunto que vinha sendo discutido? O movimento de mulheres sempre discutiu isso. O machismo e o capitalismo colocaram historicamente a mulher em uma situação de inferioridade. Nós nunca aceitamos isso. Então, é uma coisa que vem muito no sentido de destruir os valores da

Linha do Tempo O Brasil aprova a Convenção sobre a Nacionalidade da Mulher, adotada pela Sétima Conferência Internacional Americana.

1937

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Acontece em Nova Iorque a Convenção Sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra a Mulher.

Os Direitos da Mulher são inclusos na Constituição Brasileira.

1979

1988


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família, solidariedade, do respeito e da valorização da mulher. Nós somos hoje mais da metade dos seres humanos. Não é justo! Nós temos o direito de viver em uma sociedade que nos valorize e que nos respeite e combata a violência. Afinal de contas, a Lei Maria da Penha foi sancionada para quê? Para combater a violência contra a mulher. Tem algumas mulheres que de alguma forma apoiam as músicas. O que a senhora acha delas apoiarem e continuarem gostando? Eu acho que a própria grande mídia também é formadora de opinião e impõe determinados comportamentos. As próprias mulheres são educadas em uma cultura machista, principalmente da periferia. Elas não têm oportunidade de conhecer outro tipo de música e acabam gostando. E se as mulheres não reagirem? É preciso que a sociedade se rebele e dê visibilidade a essa indignação. As mulheres que vão lá e “dão a pata”, que usam aquelas roupas e fazem aquela coreografia, ainda não tomaram consciência de que tudo isso está atentando contra a nossa dignidade. A senhora acha que a mídia está interferindo no processo de entendimento do conteúdo do projeto? Tem uma grande parte da mídia distorcendo o objetivo do projeto. No início, disseram que eu queria acabar com o pagode. Em nenhum momento o projeto fala em pagode. Fala para não financiar, com dinheiro público, qualquer banda ou artista que em suas letras tenha esse tipo de depreciação. Porque se você tira a letra desse pagode todo mundo gosta de dançar o pagode: tem o pagode mais suave, aquele com uma batida mais acelerada, mas é um ritmo nosso de origem africana, que na Bahia é muito realizado. Mas quando você vê um tipo de letra que fica falando baixaria, não tem sentido. Que tipo de influência essas músicas passam para as crianças? A influência de que a mulher não vale nada. Incentiva a violência, destrói os valores da

convivência civilizada, porque a sociedade é composta de seres humanos que são homens e mulheres. São dois gêneros: masculino e feminino. Mas como a primazia foi sempre do homem por causa do machismo, do homem ter todos os poderes, de ter direito a tudo e mantendo a mulher numa situação de subalternidade, eu acho que reforça esse preconceito ao dizer que a mulher é inferior, que é propriedade do homem. Todo esse tipo de preconceito ainda destrói os valores de uma sociedade civilizada. A senhora pensou que fosse causar tanta polêmica? Eu sabia que ia ser polêmico, porque existem os produtores da baixaria. Eles são usados por essa galera que produz essa baixaria: as grandes produtoras dessa indústria que a gente chama da cultura de massa e que faz esse tipo de campanha contra a mulher. Eu sabia que eles iam reagir, por que é dinheiro público. A periferia produz muita coisa boa também. O movimento Hip Hop, o Reggae, inclusive o pagode. Tanta música de pagode que não tem essa depreciação, essas ofensas às mulheres. A senhora acha que esse projeto de lei vai conseguir mudar a imagem que se tem da Bahia no país? Acho que mudar uma cultura não é como um passe de mágica. É um processo. A educação ajuda: se você apresentar um texto dizendo que a mulher é igual ao homem, que tem talento, estuda, é mãe, que compõe a maioria dos seres humanos, e que a diferença entre a mulher e o homem é uma diferença biológica, isso vai ajudar. A sociedade tem que entender que somos seres humanos, e que queremos igualdade, nós não queremos derrubar ninguém, nem tirar ninguém de seu lugar. Agora nós queremos nosso espaço.

V

“O machismo e o capitalismo colocaram historicamente a mulher em uma situação de inferioridade. Nós somos hoje mais da metade dos seres humanos.” Luiza Maia

É sancionada a Lei Maria da Penha, que criminaliza a violência contra a Mulher.

* Um dos Conselhos Jovens da Vira presentes em 22 Estados e no Distrito Federal (ba@viracao.org)

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IA C PE

ES

Juventude antenada com o meio ambiente

Jovens do projeto AmbientAção, de Curitiba (PR), registram em fotos e mídias alternativas as questões ambientais de suas comunidades Texto e Fotos: Adolescentes e jovens do Projeto AmbientAção

D

esde o início das aulas desse ano, alunos de três escolas municipais de Curitiba (PR) estão aprendendo a cuidar do meio ambiente de uma maneira diferente. Isso porque, desde então, estão participando das atividades do projeto AmbientAção – Mídia, Juventude e Educação Ambiental. O projeto é desenvolvido pela Ciranda – Central de Notícias dos Direitos da Infância e Adolescência, e utiliza ferramentas de comunicação, como vídeo, rádio, fanzines, Internet, textos e fotografias para discutir problemas ambientais do local onde moram e do planeta. Os jovens debatem temas e produzem materiais para mostrar o que pensam. Além das oficinas semanais, aos sábados são realizadas as sessões do Cineclube AmbientAção. A proposta é ampliar a discussão ambiental envolvendo a comunidade do entorno das escolas. A cada mês, um filme diferente é exibido, gerando um bate-papo junto à plateia. E para ampliar essa discussão iniciada após a exibição do filme, foi criado um espaço virtual, o blog cineclubeambientacao.wordpress.com. Assim, é possível trocar as percepções entre os grupos. Confira o resultado de uma das “saídas fotográficas” feita pelos alunos nos bairros onde o projeto acontece.

Boeiros abertos oferecem perigo para quem passa pelo lugar

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Sem água limpa, a vegetação não consegue manter-se viva


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Do meu bairro, falo eu!

A visão fotográfica permitiu mostrar contrastes socioeconômicos do bairro

“No meu bairro há muitas coisas boas. Há escolas, creches e encanamento nas casas, mas, por outro lado, há muito lixo, poluição do ar, do solo e da água. Outros lugares legais são o Parque Cambuí e o Bosque Fazendinha, que ficam aqui pertinho. Vale a pena conhecer.” Rafael Miranda, 12 anos, é estudante da Escola Municipal São Miguel, no Bairro CIC

“No meu bairro há vários locais de comércio, um bem pertinho do outro. O ponto negativo dessa parte é que ao meio-dia o trânsito fica um caos. Como tem muito comércio, e isso atrai a população, inclusive para morar, consequentemente, muito lixo é gerado e as pessoas nem sempre sabem como destinar.” Shelly Martins, 12 anos, é estudante da Escola Municipal São Miguel, no Bairro CIC

Grupo de participantes do projeto AmbientAção na Escola Municipal Professor Erasmo Pilotto, durante oficina semanal

“As ruas do meu bairro precisam de melhorias, os buracos precisam ser tampados, mas apesar disso tem muita coisa legal rolando. Aqui na minha escola, por exemplo, temos várias atividades, inclusive nos fins de semana, como o Cineclube AmbientAção, que acontece no segundo sábado de cada mês.” Calmaria do local retratada numa tarde comum, em um dia útil da semana

Joyce Ferreira Scheleider, 13 anos, é estudante da Escola Municipal Professor Erasmo Pilotto, no Bairro Alto

“Nós, do projeto, fizemos uma saída fotográfica no Parque dos Tropeiros. Foi legal, porque pudemos ver o lugar onde costumamos ir sempre, com um olhar diferente. Nós aprendemos a olhar o mundo de forma diferente.” Gustavo Pontes, 12 anos, é estudante da Escola Municipal CAIC Cândido Portinari, no Bairro CIC

“Na minha rua, quase não tem lixo jogado no chão e, se tiver, é bem pouco. Ela é bem limpa, mas tem um problema: as pessoas não separam o lixo. Elas misturam todos os tipos de resíduos em um saco só. Misturam o papelão e as garrafas, daí fica ruim para as pessoas que sobrevivem com a venda de materiais recicláveis. Ia ser bem melhor se as pessoas começassem a separar o lixo, mas pra isso, é preciso aprender como fazer.”

Estruturas de metal do parque viram esconderijo e brinquedo para a garotada

Renan Santos Octavian, 13 anos, é estudante da Escola Municipal CAIC Cândido Portinari, no Bairro CIC Realização:

Patrocínio:

Apoio:

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Capa

ENEM PRA QUÊ?

ando! Confira A data do Enem está cheg ame dá e a as oportunidades que o ex trutura da prova crítica de especilistas à es

Ana Carolyne, Bárbara Lakatos, Leonardo Almeida, Luciano Frontelle, Marcos Adriano, Marcos Paulo, Matheus Juliano, Rayla Mariê, Raquel Ribeiro, Thaysa Sartorelli e Vanusa Alves, do Virajovem Boituva (SP); Grace Carvalho, do Virajovem Lagarto (SE)*; Mariana Rosário e Bruno Ferreira, da Redação

O

utubro é o mês em que milhares de jovens estudantes do Ensino Médio de todo o Brasil param durante um final de semana para fazer o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), uma prova unificada que avalia a qualidade de ensino no Brasil. Além disso, o exame é utilizado como critério de seleção para os estudantes que pretendem concorrer a uma bolsa no Programa Universidade Para Todos (ProUni), e mais de 1000 universidades já usam a nota do Enem como critério de seleção para o ingresso no Ensino Superior, seja completando ou substituindo o vestibular. Ninguém é obrigado a fazer o Enem, mas se Plano Nacional de Educação (PNE) for aprovado pelo Congresso Nacional, a prova será um componente do currículo e, portanto, obrigatório para todos que terminam o Ensino Médio. O Ministério da Educação (MEC) quer que as 55 instituições de Ensino Superior mantidas pelo Governo Federal usem o Enem

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para substituir os vestibulares. Mas, por enquanto, cada uma escolhe uma das seguintes opções para aderir ao exame: como fase única, 1ª fase, como parte da nota ou para preencher vagas remanescentes. Pode-se dizer também que o exame seve como um mapa, pontuando onde a educação precisa melhorar. É claro que não podemos considerar apenas a nota de um teste isolado, tem-se que levar em conta como é o processo de ensino na escola, a motivação dos estudantes, dos professores, a relação e a forma de como as matérias se relacionam, até porque o Enem também serve para medir o desenvolvimento de competências fundamentais ao exercício pleno da cidadania. A ideia é deixar para trás aquela história de “decoreba” e fazer com que o estudante pense em soluções práticas para um problema do cotidiano, por exemplo. Com isso, será possível


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Fotos: Paulo Pepe

O ENEM É PAGO? A taxa de inscrição para participar do Enem 2011 é de R$ 35,00 (trinta e cinco reais). No entanto, estão isentos do pagamento da taxa: • Estudantes matriculados no 3° ano do Ensino Médio de escolas públicas; • Estudantes que apresentarem uma declaração de carência.

repensar o que é ensinado nas escolas de Ensino Médio.

Estudar é preciso

o Divulgaçã

Para muitos estudantes, o Enem não é motivo para desespero. De acordo com especialistas, quem se prepara para os vestibulares mais concorridos do país, como a Fuvest, prova que seleciona para cursos da Universidade de São Paulo (USP), tem plenas condições de mandar bem no Enem. Esse é o pensamento de Rodrigo Godoy, de 18 anos, candidato ao curso de Matemática Aplicada da USP. “O Enem não me assusta, comparado aos vestibulares que eu vou ter de fazer”, afirma o estudante. Essa mesma análise é feita por Alberto Francisco do Nascimento, coordenador de um curso pré-vestibular de São Paulo (SP). Para ele, a complexidade de muitos vestibulares é maior que a do Enem. “Se o candidato se prepara adequadamente para a Fuvest, por

Estudantes preparam-se para o Enem e vestibulares em cursinho de São Paulo (SP)

exemplo, ele terá bom desempenho no Enem”, afirma. Mas muitos não prestam o Enem por receio da prova ser difícil e não alcançar uma pontuação significativa para a seleção em universidades. Outra parte não se interessa por achar que não tem apoio da escola, ou não tem acesso nem condições financeiras de estudar paralelamente em um curso pré-vestibular, e sentem-se prejudicados com a educação que recebem na escola. Este é o caso de Aline da Silva Oliveira, de 17 anos. “A escola não fornece material para o Enem, falam que não ajuda, mas não há incentivo da escola”, diz. “Fazer o Enem, sem dúvida, é uma das maiores oportunidades para estar mais próximo do Ensino Superior. Eu, como tantos outros estudantes, almejo ingressar em uma faculdade e o Enem se tornou uma boa porta para esse sonho, que para muitos deixa de se ser apenas uma utopia”, conta a estudante Denise Janne Amaral da Silva, de 17 anos, que não se sente preparada para prestar o exame. “Necessitava de mais tempo para focar somente nos estudos preparatórios, ficar mais atualizada, rever assuntos de algumas matérias, ler mais. Estou me esforçando nesse último mês para o Enem e também para o vestibular”, completa. De acordo com a coordenadora de escola Rosângela Aparecida de Campos, estudantes de rede pública se dizem incapazes ou preferem dedicar seu tempo ao trabalho. Segundo ela, apenas dois em cada 10 estudantes das escolas estaduais do Ensino Médio para jovens e adultos prestam o Enem. “Muitos estudantes procuram trabalhar desde cedo e acabam deixando o estudo em segundo plano, não dando importância ao exame que pode influenciar na entrada em uma faculdade ou no mercado de trabalho."

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Capa Estrutura do Enem l l l

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180 questões de cinco alternativas, divididas em quatro áreas do conhecimento, além de uma Redação; A prova é realizada em dois dias consecutivos: sábado (22/10) e domingo (23/10); No primeiro dia, o estudante deverá resolver 90 questões: 45 de Ciências Humanas e suas Tecnologias (que abrange as disciplinas História e Geografia) e Ciências da Natureza e suas Tecnologias (que contempla Física, Química e Biologia), em 4h30min. No segundo dia, são mais 90 a serem resolvidas, das áreas de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias (que abrangem as disciplinas Português, Inglês ou Espanhol) e Matemática e suas Tecnologias, além da Redação. O estudante terá 5h30min para a resolução da prova.

Benefícios Karoline Ferreira, de 19 anos, se forma este ano em Gestão Ambiental pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). A estudante lembra que só pôde ingressar no curso porque seu desempenho no Enem foi bom o suficiente para conseguir uma bolsa integral pelo ProUni. "O Enem foi e é muito importante porque não são conteúdos que alienam os alunos, eu posso ir bem no exame apenas prestando atenção nos detalhes e interpretando. Para mim, que não tive um ensino de alta qualidade nem fiz cursinho, os meus conhecimentos como estudante de escola pública foram suficientes para ingressar no Ensino Superior." “O Enem avalia se o aluno é capaz de selecionar, relacionar, organizar, interpretar informações, fatos, opiniões, argumentos, em defesa de um ponto de vista. Esta avaliação sacudiu o jeito de ensinar e aprender no país. Hoje a sua capacidade, habilidade reflexiva e crítica estão sendo mais trabalhadas e solicitadas, o que é muito positivo pra formação do jovem”, analisa Anselmo Vital de Oliveira, coordenador do Enem na cidade de Lagarto (SE). Anselmo diz ainda que a prova visa lançar um problema para analisar qual a capacidade do candidato de encontrar uma solução, lançando mão de toda a carga de conteúdos que o estudante adqueriu no seu processo de formação: “São apresentadas questões que produzem efeito na dinâmica da sociedade, trazendo uma problemática, e a avaliação quer analisar de que forma você resolveria aquele problema com, por exemplo, conhecimentos adquiridos em física, matemática, história, geografia. Acabou definitivamente aquela fase de que o aluno apenas preocupa-se com uma postura conteudista, de reter e guardar informações. O candidato deve ter a capacidade de relacionar aquilo que aprendeu com a possibilidade de uma intervenção, buscando uma resolução para o problema”.

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Críticas ao exame Além de proporcionar o ingresso no Ensino Superior, o objetivo do Enem é avaliar a qualidade de Ensino Médio no Brasil. No último dia 12 de setembro, o Ministério da Educação (MEC) divulgou uma lista com as médias de cada escola brasileira, o que revelou uma queda no desempenho dos estudantes. Para o coordenador de curso pré-vestibular Alberto Francisco do Nascimento, não é necessário o diagnóstico do ensino no Brasil. Para ele, a estrutura pública de ensino do País não pode resultar em qualidade: “Não é preciso Enem para avaliar a qualidade de ensino público. A estrutura do Estado, a remuneração dos professores, desmotivados, faz com que a estrutura não funcione. O professor é obrigado a dar aulas em várias escolas e em vários períodos. É preciso investimento, sem desvio de verbas, na educação”. De acordo com Regina Lúcia Giffoni Luz de Brito, professora do Programa de Pós-graduação em Educação da PUC-SP, a tendência é que os exames pautem o currículo escolar, e não o contrário. “Há autores que consideram que tais exames associam-se à tentativa de levar professores e escolas a realizarem seu trabalho em função das diferentes matrizes curriculares de referência, utilizadas na elaboração dos testes e exames. Assim, são os exames que definem o currículo e não os currículos básicos, definidos nacionalmente, que servem de sustentação”, afirma.


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A professora diz ainda que uma avaliação adequada deve ser contínua e emancipatória. “No meu entendimento, a função da escola é preparar para o mundo do trabalho e para a cidadania. Assim, ocorre-me outra questão: Em que medida estes exames contribuem para tanto?”, questiona. O modo como a prova está estruturada prejudica o desempenho do estudante, para o coordenador Alberto Francisco do Nascimento. “O MEC deveria ter dó dos estudantes. Em vez de um sábado e domingo, deveriam ser dois domingos consecutivos. Assim, resolveria a questão dos judeus ortodoxos e adventistas, que ficam em uma sala, sem contato com ninguém, para fazer a prova após o pôr-do-sol. Além disso, não sei porque 45

testes de cada bloco. O número ideal seria 35 para o estudante ter mais tempo para resolver. Seria muito melhor para todos. Menos questões para elaborar e corrigir e mais tempo para os estudantes resolverem as questões.” V

Adventistas do Sétimo Dia e Judeus Ortodoxos guardam o sábado e, por isso, não exercem atividades que fujam ao aspecto religioso entre o pôr-do-sol da sexta-feira e o pôr-do-sol do sábado.

Se liga no Enem! Quando: dias 22 e 23 de outubro de 2011. Horário: 13h, pelo horário de Brasília. O que levar: Caneta esferográfica transparente de cor preta;  Lápis;  Borracha;  RG;  Alimentos leves como: frutas, sucos de caixinha, água,  barra de cereal. O que não levar Celular e outros aparelhos eletrônicos, como  calculadora, MP3 e iPod. Antes da Prova: Procure conhecer o local da prova alguns dias antes;  Relaxe e chegue com uma hora de antecedência no local  da prova, pois os portões fecharão antes das 13h; Procure dormir bem, mas acorde cedo para não correr o  risco de se atrasar; Não exagere na alimentação. Coma coisas leves! 

Você confere mais informações sobre o Enem 2011 e provas anteriores no site: http://portal.inep.gov.br/web/enem *Integrantes de Conselhos Jovens da Vira presentes em 24 Estados do País (sp@revistaviracao.org.br, se@revistaviracao.org.br)

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Todos os Sons

Bossa, nova em folha

Arc adora misturar O jovem cantor e compositor Rodrigo Del apresentações diversos estilos da música brasileira em suas

Mariana Rosário, da Redação

o trabalho de Rodrigo conhecido até do outro lado do mundo. Em 2009, assinou o primeiro contrato internacional com a Shinseido/Omagatoki, um dos maiores selos do Japão e que trabalha com outros artistas brasileiros como Seu Jorge, Milton Nascimento, Paulinho da Viola, entre outros. Eles tiveram interesse no trabalho de Rodrigo sem ao menos o conhecimento dele, sem envio de materiais. Ao verem sua página no MySpace, escutaram as músicas, assistiram aos vídeos e, logo em seguida, fizeram uma proposta. Atualmente, Rodrigo tem feito shows com o amigo e compositor Nikk Gutierrez, Aretha Marcos, cantora e filha da também cantora Vanusa, e Galldino, violinista do teatro mágico. O show é uma mistura de sons, com duetos, composições e covers. A plateia se anima com o som de suas músicas favoritas como The Question Song (A canção das perguntas) e Trip (viagem), conhece novas como Entrar no Mar e Deixa Rodar, curtido um som novo, e é claro, sempre misturando. V

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Fotos: Vinicius Campos/FábricadeImagens

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ossa nova, com pop e atitude rock. Esse é o som de Rodrigo Del Arc, um paulistano de 27 anos que fez uma mistura musical que tem dado certo. Em 2007 lançou seu primeiro disco, A Kind of Bossa (uma espécie de bossa, traduzindo ao pé da letra), todo cantado em inglês, já que Rodrigo morou em outros países como Suiça e Tailândia, além de ter viajado pelo mundo. O título do seu primeiro disco é também uma denominação à identidade da música feita por ele. “Eu não faço bossa, eu faço a kind of bossa”, comenta. Seu contato com a música veio do berço. A mãe cantava canções de bossa nova para Rodrigo dormir, quando ainda era um bebê. Aos oito anos de idade, o menino já brincava de escrever letras e compor melodias. Na adolescência, montou uma banda de rock e viu o sonho de ser cantor surgir, redescobrindo a bossa em sua vida. “Todos na minha casa adoram esse tipo de som, e talvez isso tenha trazido de volta aquelas melodias que estavam guardadas na minha memória desde muito cedo”. A partir de então conheceu a MPB, que deu a ele a certeza de que queria compor e cantar música brasileira. Apesar de não ser mais um ritmo tão escutado pelos jovens como foi nos tempos de Tom Jobim, Vinícius de Moraes, João Gilberto e Chico Buarque, que são grandes influências na música de Rodrigo, o público aceitou bem a sua obra. “Talvez não seja um som que todo jovem se identifica logo de primeira, mas os que curtem continuam gostando com o passar do tempo. Isso é muito legal!”, conta. A galera das redes sociais sempre encontra espaço para conversar ou ficar sabendo de algum show. A internet é uma ferramenta muito importante de divulgação de trabalhos, o que torna


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priando da se apro n a ra le a g a r Veja como dando supe tá s e e u q a rad s de uma pa o entre pare ã ç a c u d e a certo: Amanda de Paula Martins, Joabe Yuri e Verônica Mendonça, da Plataforma dos Centros Urbanos; Donizete Gomes e Marcos Eduardo, da Agência Jovem de Notícias; e Vânia Correia, da Redação

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dolescentes e jovens vivem experiências semelhantes, próprias desse momento da vida. Têm, portanto, muitas coisas em comum para partilharem entre si, ensinar e aprender. A similaridade de vivências torna mais fácil o intercâmbio de conhecimentos. Ou seja, conversam de igual para igual, como dizem por aí. É exatamente nisto que consiste a chamada Educação entre pares: troca de saberes entre pessoas ou grupos semelhantes. Trata-se de um processo no qual adolescentes e jovens atuam como facilitadores e multiplicadores de ações junto a outros adolescentes e jovens. É evidente que a contribuição de adultos é bem-vinda também, afinal, a ideia não é

criar guetos, mas potencializar a ação desse público. Existem muitas formas de praticar a educação entre pares. Oficinas, rodas de conversas, atividades artísticas, gincanas, e muito mais. Os adolescentes da Plataforma dos Centros Urbanos e da Agência Jovem de Notícias têm vivido experiências bem sucedidas nesse sentido. “É muito mais fácil ensinar para outro jovem aquilo que eu aprendo, pois temos a mesma linguagem, então o resultado é mais produtivo”, diz a adolescente Amanda de Paula Martins. Ela desenvolve diversas ações em sua comunidade, a Fazenda da Juta, zona leste de São Paulo (SP). A maior delas é o acampamento juvenil que reúne cerca de 300

adolescentes e jovens para promover ações voltadas para a cidadania. Quem coordena as atividades são os próprios jovens da comunidade. A experiência da educação entre pares possibilita o desenvolvimento de habilidades, atitudes e conhecimentos importantes, além de ser um espaço potente de participação e reflexão da realidade juvenil. “Desenvolver uma oficina com e para outros jovens é muito interessante, pois eu acabo ensinando e aprendendo ao mesmo tempo”, conta Joabe Yuri. É por essas e outras que essa metodologia está sendo cada vez mais usada em projetos e programas voltados para adolescentes e jovens. Na Agência Jovem de Notícias, por exemplo, são os


Fotos: A

Viraçã rquivos

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Jovens multiplicam os conhecimentos que adquirem em escolas e nas comunidade

jovens que decidem os temas que serão trabalhados e, com a ajuda dos educadores, promovem atividades de multiplicação de conhecimentos em escolas, organizações, eventos etc. E, se depender dessa galera, o método está aprovado. “Eu participei de formações aplicadas por outros jovens sobre Histórias em Quadrinhos e acabei multiplicando na minha comunidade. Foi legal porque a linguagem é a mesma e cria uma ligação mais próxima”, conta Marcos Eduardo.

Depois é preciso pensar qual a melhor forma para abordar o tema: palestra, roda de conversa, teatro, oficinas... Escolha o que for mais adequado e prepare o que for necessário para que a atividade aconteça: roteiro, materiais, espaço etc. Não se esqueça de pensar nos objetivos. O que

pretende com a atividade? Isso ajuda a pensar em como conduzi-la. Durante a atividade é importante garantir um espaço de diálogo e respeito, onde todos consigam se expressar. E não se esqueça de avaliar a atividade, assim você vai saber o que foi bom e o que precisa melhorar. V

Como é que faz? “Não existem pessoas sem conhecimentos. Elas não chegam vazias. Chegam cheias de coisas. Na maioria dos casos, trazem juntas consigo opiniões sobre o mundo, sobre a vida.” Essa frase é do grande educador Paulo Freire e tem tudo a ver com o que dissemos até aqui. Todo mundo tem o que dizer, partilhar, ensinar. Você já pensou em desenvolver alguma atividade na sua cidade, escola, bairro? Multiplicar algo que você aprendeu, ou simplesmente, propor um encontro para debater sobre algum tema que considere importante? Tudo isso é mais simples do que você imagina e está ao alcance de suas mãos.

Antes, durante e depois É importante preparar com cuidado a atividade. O primeiro passo é saber qual a necessidade do grupo com o qual você vai trabalhar. Sobre o que ele quer falar? O que quer aprender? Como é esse grupo: quantas pessoas tem, qual a idade delas, o que gostam de fazer?

Na boca do povo! “Talvez eu já desconfiasse que ela estivesse por aí, mas ainda é uma prática muito nova pra mim. A educação entre pares, sem dúvida, é um dos processos mais ricos que presenciei até hoje: desenvolver oficinas com os outros jovens (e para outros jovens) acredito que seja uma das práticas mais eficientes pra se aprender, crescer e se divertir ao mesmo tempo. As dificuldades sempre surgem, mas os aprendizados são muitos: ouvir o próximo e deixá-lo também mostrar como é que se faz, ver as coisas de uma nova perspectiva, além de poder estar sempre rodeada por quem gosta do que faz. Isso é uma ótima chance para perceber que a gente não precisa dar conta de fazer tudo sozinho e nem sempre sabemos o melhor jeito. A educação entre pares esta aí pra mostrar isso, que grandes ações podem surgir onde os jovens se unem em prol de um mesmo ideal: criar e ampliar os debates sobre assuntos que permeiam a nossa vida e dizem respeito a nós e, portanto, não devem ser tratados de outras maneiras que não as nossas e nem por ninguém a não ser... por nós.” Verônica Mendonça “Quando é possível trocar experiências com alguém que tem algumas características parecidas com você, como idade, personalidade, localização, temos muito a colher, pois há chance de expor mais de nós mesmos. Jovens que formam outros jovens fazem parte de um processo de troca, no qual ambos recebem novas ideias e opiniões e mudam o tempo todo, desde uma simples conversa a uma atividade de trabalho.” Donizete Gomes

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Hora de dar play

lanço de arto Mundo fazem ba Qu a m ra og Pr do s Participante TV USP ução da atração da od pr na e tr es m se atividades do Mariana Rosário, da Redação

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o primeiro semestre de 2011, o Programa Quarto Mundo, parceria da Viração Educomunicação com a TV USP, iniciou sua 5ª temporada. Os 14 novos participantes já produziram quatro programas e vão produzir mais quatro até o final desse ano. Para que esses programas acontecessem, os novos quartomundenses receberam oficinas de jornalismo e de audiovisual. Além de idealizarem e criarem o próprio


Fotos: Divulgaç

cenário e vinheta, os quatro programas abordaram temas em que os participantes, discutiram juntos, se identificaram, e fizeram acontecer! O primeiro programa foi sobre humor crítico, com o entrevistado Novaes, que contou um pouco sobre a sua carreira de chargista, histórias inusitadas, e a dificuldade de criticar a política na grande mídia. Esse programa mostra também o Making Off da nova vinheta, que mostra uma das participantes elaborando uma caricatura com o elenco da temporada. O segundo programa foi sobre flertes, com os entrevistados Thiago de Almeida, psicólogo especializado em relacionamentos, e Fabiano Rampazzo, que escreveu um manual sobre xaveco. Os convidados contaram como se dar bem no flerte e como sobreviver a um fora. Esse programa foi especialmente divertido, pois foi produzida uma encenação humorística sobre o tema, em que os participantes ajudaram um “jovem flertador” a se dar bem na balada.

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O terceiro programa falou sobre Cinema independente e recebeu participantes do projeto Perifacine, que leva um pouco da sétima arte para a periferia de São Paulo. Contou também com a participação de Thelmo Correia, cineasta do Cinemasoco, um coletivo de cinema que produz filmes, com a intenção de movimentar, e criar para se libertar. O último programa do semestre foi sobre casos sobrenaturais com Carlos Silvério, do São Paulo de Outro Mundo, um circuito que realiza um passeio pelos pontos mais macabros da capital paulista. Padre Quevedo também não poderia ficar de fora dessa pauta. O polêmico convidado contou um pouco sobre suas experiências com o sobrenatural, que segundo ele “no equissiste” (não existe), e falou sobre o Centro Latino-Americano de Parapsicologia (CLAP). No próximo semestre, mais quatro programas serão produzidos, mas dessa vez todos serão fora do estúdio. As gravações em externa começam em outubro e você confere os resultados no Canal Universitário (CNU).

Participantes do Programa Quarto Mundo com o cineasta Thelmo Correia

O Programa Quarto Mundo é exibido às quartas-feiras, às 22h pelo Canal Universitário (CNU), com reprises às segundas e terças-feiras às 10h; quartas, sábados e domingos às 01h30; quintas às 07h30 e 22h; e sextas-feiras às 18h30, no canal 71 e 187 da TVA, 11 e 189 da NET.

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No escurinho

História do Cinema - Parte 8 A cada edição, Sérgio Rizzo traz em capítulos um pouco da história cinematográfica. Uma oportunidade para colecionar e conhecer as diferentes fases que ajudaram a tornar o escurinho da sala de cinema um espaço apreciado por muitos

Fotos: Divulgação

O renascimento de Hollywood

Sérgio Rizzo*, crítico de cinema

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os anos 1950, a indústria cinematográfica dos Estados Unidos começou a enfrentar uma crise profunda que se agravou na década seguinte. Entre os diversos fatores que a motivaram, estavam a popularização da TV e o "envelhecimento" da produção, com filmes desconectados do espírito de transformações daquele período. O cenário mudou, no entanto, com longas como A Primeira Noite de um Homem (1967), de Mike Nichols, Sem Destino (1969), de Dennis Hopper, e Perdidos na Noite (1969), de John Schlesinger, que promoviam intensa comunicação com a contracultura e o público jovem. A recuperação veio para valer já nos anos 1970, quando surgiu, com O Poderoso Chefão (1972), de Francis Ford Coppola, o conceito de blockbuster, ou arrasa-quarteirão: uma produção capaz de arrecadar dez vezes (ou mais) o seu custo de produção. Tubarão (1975), de Steven Spielberg, trilhou o mesmo caminho, a exemplo de outros filmescatástrofe. Uma nova geração de cineastas, boa parte dos quais vindos de escolas de cinema, contribuiu também para revitalizar o cinema estadunidense de qualidade. Caminhos Perigosos (1973) e Taxi Driver (1976) confirmaram o talento de Martin Scorsese; A Conversação (1974) e Apocalypse Now (1979), o de Coppola; Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (1977) consagrou o humor de Woody Allen. Nesses anos de renovação de Hollywood, com a substituição da "velha guarda" por profissionais mais sintonizados com o seu tempo, o grande público passou por um processo de rejuvenescimento, graças principalmente a sucessos como Loucuras de Verão (1973) e Guerra nas Estrelas (1977), ambos de George Lucas, e Contatos Imediatos do Terceiro Grau (1977), de Spielberg. Foram estabelecidas ali as coordenadas para o movimento expansionista da O ator Marlon Brando tem a mão indústria norteamericana, com base beijada em O Poderoso Chefão sobretudo na sedução das plateias juvenis, nos anos 1980 e 1990.

Jon Voight e Dustin Hoffman em cena do filme Perdidos na Noite

“'Apocalypse Now' não é sobre o Vietnã. É o Vietnã. Estávamos na selva, tínhamos dinheiro, equipamentos. E terminamos loucos.” Francis Coppola “Não existem muitas formas de arte originalmente americanas. Há o faroeste, e o jazz ou o blues.” Clint Eastwood “Fazer os filmes que faço em Hollywood é como um presente. E de vez em quando eles até me pagam por isso.” Martin Scorsese

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* www.sergiorizzo.com.br

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“Fui o primeiro a usar recursos digitais para aperfeiçoar meus filmes, mas serei o último a rodá-los digitalmente.” Steven Spielberg


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Que Figura!

Filho de Zumbi imento lutou pelo Senador e ativista político, Abdias Nac ito dos negros no Brasil reconhecimento da igualdade de dire Enderson Araújo, do Virajovem Salvador (BA)*, e Bruno Ferreira, da Redação

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atural de Franca, cidade do interior de São Paulo, Abdias Nascimento nasceu em 1914. Durante a juventude, iniciou sua luta pela igualdade de direitos raciais. Foi preso em 1936 por protestar contra o tratamento que os negros recebiam em uma boate da capital paulista, onde só podiam entrar pelas portas do fundo. Abdias foi um dos maiores defensores da cultura e igualdade de direitos dos afrodescentes brasileiros. Além de militante da causa negra, foi poeta, escultor e ator, chegando a criar o Teatro Experimental do Negro em 1944, mas sempre procurando valorizar a temática negra. O ativista teve também participação no jornalismo, com registro profissional desde 1947 no sindicato da categoria. Durante a ditadura militar, foi exilado por 13 anos nos Estados Unidos. Após o seu retorno, no final da década de 1970, entrou para a política. Elegeu-se

deputado federal para o mandato de 1983 a 1987, sendo o primeiro parlamentar negro no Brasil a defender os direitos dos afro-brasileiros. Anos mais tarde, em 1991, assumiu o cargo de senador pelo Partido Democrático Trabalhista (PDT) do Rio de Janeiro, no lugar de Darcy Ribeiro, de quem era suplente. Em 1999, elegeu-se novamente para o Senado. Além de cargos legislativos, Abdias foi ainda secretário de governo do Estado do Rio de Janeiro, além de secretário de Direitos Humanos e Cidadania, também no Rio. Em 1945, Abdias do Nascimento organizou a Convenção Nacional do Negro, para apresentar uma proposta de criminalização do preconceito racial à Assembleia Nacional Constituinte, que não foi aprovada. O reconhecimento pela luta de Abdias levaram o ativista a lecionar e palestrar em universidades estadunidenses e africanas, nas quais abordava a cultura e a situação de discriminação vividas por afrodescentes no Brasil. O ex-senador morreu em 24 de maio de 2011, aos 97 anos, vítima de complicações decorrentes de diabetes, deixando um legado caracterizado pela humanidade e luta pela igualdade racial no Brasil.

Prêmio

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro lançou este ano o Prêmio Abdias Nascimento, para reportagens voltadas à saúde da população negra, intolerância religiosa, juventude negra, ações afirmativas, empreendedorismo, desigualdades, direitos humanos, relações raciais, políticas públicas, comunidades tradicionais e discriminação racial. V

Solto esta minha voz rouca para manter vivo e em estado de alerta o espírito de justiça diante de um dos problemas mais graves a ameaçar hoje a construção de uma verdadeira democracia em nosso país: a exclusão, do rol da cidadania, de uma maioria da nossa população.

*Um dos Conselhos Jovens da Vira presentes em 22 Estados e no Distrito Federal (ba@viracao.org)

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Sexo e Saúde

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exo é muito bom, mas uma relação sem proteção pode ter consequências graves quando não há prevenção. Tudo é válido para não termos problemas futuramente. O Relatório Epidemiológico do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids) ressalta o aumento no número de casos de aids entre os jovens de todo o mundo. Em qualquer relação, seja ela heterossexual, homossexual, oral, anal ou vaginal, uma coisa é certa: a camisinha. Então, previna-se e dê mais valor à vida. Confira abaixo uma entrevista feita com a Dra. Juliana Guimarães, especializada em doenças sexualmente transmissíveis.

Natália Forcat

Alcindo Costa, do Virajovem Fortaleza (CE)* O que se considera um comportamento de risco, que pode ocasionar uma infecção pelo vírus da aids? Relação sexual com pessoa infectada sem o uso de preservativos; compartilhamento de seringas e agulhas, principalmente, no uso de drogas injetáveis; reutilização de objetos perfurocortantes com presença de sangue ou fluidos contaminados pelo HIV. Qual o tempo de vida de um indivíduo portador do HIV? O tempo de vida é indefinido e varia de indivíduo para indivíduo. Por exemplo, algumas pessoas começaram a usar o coquetel em meados dos anos 1990 e ainda hoje gozam de boa saúde. Outras apresentam complicações mais cedo e têm reações adversas aos medicamentos. Há, ainda, casos de pessoas que, mesmo com os remédios, têm infecções oportunistas (infecções que se instalam, aproveitando-se de um momento de fragilidade do sistema de defesa do corpo, o sistema imunológico). As chances de se contrair uma DST através do sexo oral são menores do que sexo com penetração? O fato é que nenhuma das relações sexuais sem proteção é isenta de risco. Algumas DST têm maior risco que outras. A transmissão da doença depende da integridade das mucosas das cavidades oral ou vaginal. Independente da forma praticada, o sexo deve ser feito sempre com camisinha.

Quais os sintomas do condiloma acuminado (HPV)? A doença se manifesta por verrugas nos órgãos genitais com aspecto de couve-flor e tamanhos variáveis. É importante procurar um profissional de saúde, pois só ele pode indicar o melhor tratamento para cada caso.

Mande suas dúvidas sobre Sexo e Saúde, que a galera da Vira vai buscar as respostas para você! O e-mail é redacao@viracao.org

* Um dos Conselhos Jovens da Vira presentes em 22 Estados e no Distrito Federal (ce@viracao.org)

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Rango da terrinha

A galinha de Pernambuco de Cabidela Tradicional nas mesas pernambucanas, a Galinha é prato obrigatório em ocasiões especiais Edneusa Lopes, do Virajovem Recife (PE)*

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e tão rica e especial, o sociólogo Gilberto Freyre, em um de seus livros, aborda a questão da culinária pernambucana, originária das culturas indígena, africana e portuguesa. Rica em gostos, cores e aromas, as mesas pernambucanas são sempre fartas e a Galinha de Cabidela é um dos pratos mais apreciados no Estado, especialmente em ocasiões especiais, em que a família fica toda reunida. O molho do prato é preparado com sangue fresco e avinagrado, com pedaços de galinha. O prato fica bom com cuscuz e farinha de mandioca, além de arroz e farofa, que não podem faltar. V

Modo de preparo:

1 galinha (de capoeira) 2 colheres de sopa de vinagre 4 limões Sal, pimenta do reino e cheiro verde a gosto 2 dentes de alho socados 1 cebola ralada 2 colheres de sopa de óleo 1/2 pimentão cortado em tiras finas 4 tomates picados (sem pele e sem sementes) 2 colheres de sobremesa de extrato de tomate 2 folhas de louro.

Corte a galinha em pedaços, separando asas, pés, coxas, sobrecoxas, peitos, e passe limão nas partes. Lave tudo e tempere com sal, pimenta e alho. Em uma panela grande, com óleo, doure a galinha com cebola, cheiro verde, extrato de tomate, louro, pimentão e tomate. O colorau também pode ser acrescentado. Refogue tudo e espere formar um caldo encorpado. Depois, acrescente água e deixe cozinhar por 25 minutos, até a galinha ficar bem macia. Na hora de servir, junte o sangue, que pode ser comprado na feira. Não é necessário matar a galinha em casa. Aos poucos, mexa bem o sangue na panela e leve ao fogo, misturando por 10 minutos. Acrescente batatas previamente cozidas e coentro. Pronto! É só servir!

Flickr - Tadeu Pereira

(Ted)

Ingredientes:

* Um dos Conselhos Jovens da Vira presentes em 22 Estados e no Distrito Federal (pe@viracao.org)

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Parada Social

O custo da liberdade nto de dependentes São poucas as alternativas para o tratame ões não são baratas químicos no Maranhão. E as melhores opç

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em

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Lidiane Ferraz e Raimunda Ferraz, do Virajovem São Luís (MA)*

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m averiguação de uma denúncia de cárcere privado, o Conselho Tutelar maranhense identificou o sofrimento e a angústia de uma mãe que se viu obrigada, mediante o desespero de ver o filho de 17 anos entregue às drogas, a trancá-lo dentro de casa, já que o vício o dominava. Após conhecimento do caso, o conselho encaminhou relatório para o Centro de Referência Especial da Assistência Social (CREAS), ao Centro de Apoio Psicossocial CAPS AD, além de comunicar o fato ao Ministério Público. Após os encaminhamentos e várias buscas de alternativas para recuperação do adolescente, o CREAS, através da Secretaria Municipal da Criança e Assistência Social (SEMCAS), conseguiu uma vaga na Fazenda Nova Esperança, uma espécie de Clínica de Recuperação, conduzida por padres. Trata-se de um dos poucos locais de referência no Estado, localizada no município de Coroatá (MA). Para que a pessoa seja encaminhada para o local, é necessário demonstrar interesse voluntário para ser internado, e isso se dá através de uma carta escrita pela pessoa e encaminhada via fax. Os internos têm a possibilidade de trabalhar na instituição, na produção de doce de leite e queijo, uma forma de pagarem pelo tratamento que recebem, que custa um salário mínimo mensal. No caso específico, quem garantiu o pagamento dos primeiros meses, foi a SEMCAS, a fim de garantir o início do tratamento do adolescente, que após um ano, conseguiu controlar o vício. Hoje, ele faz parte do quadro de brasileiros que tem emprego fixo, e o melhor de tudo é que ele e sua mãe voltaram a viver felizes e com perspectivas que há um tempo atrás pareciam perdidas. É bom saber que esse foi um caso de sucesso, mas o triste é que as vagas na Fazenda são reduzidas, o preço não é acessível para muita gente e o poder público não atende a todos os dependentes que buscam essa oportunidade. E muitos ainda não se dispõem a vencer esse desafio, que precisa ser enfrentado por parte de toda a sociedade brasileira. V

* Um dos Conselhos Jovens da Vira presentes em 22 Estados e no Distrito Federal (ma@viracao.org)


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