Revista Viração - Edição 69 - Fevereiro/2011

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Percebendo a dislexia De 10 a 15% das crianças do mundo sofrem de dislexia, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). Os primeiros relatos foram descritos no Jornal Médico Britânico em 1896 e era chamada de “cegueira verbal”, mas “cada caso de dislexia é único e como tal deve ser tratado”, diz Ana Maria Leite. Segundo a psicopedagoga, em geral, os sintomas da dislexia tornamse evidentes já na alfabetização, 1º ano do Ensino Fundamental ou mesmo na Educação Infantil, quando a criança apresenta dificuldade para ler e escrever. Quando o diagnóstico só acontece mais tarde, por volta do 3º ou 4º ano do Fundamental, acarreta em comprometimento emocional do indivíduo. Após observar a dificuldade, o diagnóstico é feito por uma equipe multidisciplinar formada por psicólogo, fonoaudiólogo, psicopedagogo escolar, clínico e, dependendo do caso, até neurologista, geneticista, pediatra e oftalmologista. Avalia-se então todas as possíveis causas que estejam comprometendo o processo de aprendizagem e só quando são excluídos os outros possíveis fatores, chega-se à conclusão da dislexia. A psicopedagoga Fabíola Jucá esclarece que “não é uma doença. Trata-se apenas de uma disfunção neurológica em que a informação no cérebro se processa de forma diferente”, influenciando não só no comprometimento da linguagem, mas também no aspecto motor.

O acompanhamento Cada caso é único e não existe uma cartilha pronta para acompanhar a dislexia. Mas fonoaudiólogo e psicopedagogo deverão focar o trabalho nas dificuldades mais severas observadas no processo de alfabetização e estabelecer parceria com a escola, afirma Ana Leite. Ela conclui que, de todo modo, “o método de ensino mais indicado é o multissensorial (aprendizado que trabalha simultaneamente com o uso dos olhos, ouvidos, órgãos da fala, dedos, músculos). Como exemplo, a criança pode ser estimulada a escrever as letras com massinha de modelar, na areia, com a ponta do dedo, cada assunto abrangendo diversos sentidos. Com a compreensão e acompanhamento apropriado, além do estímulo a diversas maneiras de aprender a ler e se expressar, a criança pode superar as dificuldades satisfatoriamente. Mas é preciso lembrar que a dislexia é congênita, algo com que se aprende a conviver. “É primordial a aceitação dos familiares, acreditarem que ele ou ela é capaz, incentivar sem haver superproteção, valorizar sem subestimar”, afirma Fabíola. Laíse Gabriel tem 20 anos e descobriu a dislexia aos 11. A jovem conta que sempre confundia letras parecidas como “b” e “d”, “m” e “n”. “Isso prejudicava a minha escrita e ler também era bastante complicado, mas hoje não acontece muito, eu até já faço faculdade.” Atualmente ela cursa Ishaan é um garoto de 9 anos que é Serviço Social e diz pressionado a melhorar seu desempenho que nunca sofreu escolar no filme Como Estrelas na Terra qualquer tipo de discriminação. Segundo a autora Sally Shaywitz, “as pessoas disléxicas adultas utilizam outras regiões do cérebro para ler.” Afirma que “o maior obstáculo que impede uma criança disléxica de explorar seu potencial e perseguir seus sonhos é a ampla ignorância sobre a verdadeira natureza da dislexia”. V Aamir Khan Productions

Não saber lidar com a aparente preguiça e falta de interesse da filha também fez parte da vida de Samira Tavares, professora do Ensino Infantil. Mesmo incentivando a criança com livros sobre temas que a interessavam e buscando acompanhar o cotidiano de leituras, essas dificuldades pareciam não diminuir. “Me sentia insegura e não sabia se eu estava pressionando demais ou a protegendo. Minha filha já estava no 3º ano e além de sentir desprazer ao ler, era chamada de lenta em sua antiga escola. Eu compreendia seu ritmo diferenciado mas temia não prepará-la adequadamente.” Quando a menina foi encaminhada para a psicóloga da nova escola (pois Samira não aceitou a postura da anterior), depois para uma neurologista e finalmente para a psicopedagoga, esclareceu-se que ela poderia ter dislexia e, assim, a mãe pôde compreender melhor a situação e saber como acompanhar a filha.

Livro: Entendendo a Dislexia. Sally Shaywitz (Editora Artmed, 2006) Filme: Como Estrela na Terra: Toda Criança é Especial (Direção: Aamir Khan, 2007) * Um dos Conselhos Jovens da Vira presentes em 22 Estados e no Distrito Federal (rn@viracao.org) Revista Viração • Ano 8 • Edição 69 17


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