Revista Viração - Edição 112 - Jul/Dez 2017

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Os direitos trabalhistas são suficientes para garantir estabilidade às juventudes brasileiras? Acho que temos muito o que avançar nesse sentido. Existem uma série de direitos garantidos constitucionalmente que na prática não são efetivados, o que atinge a juventude de maneira significativa. Esse grupo ainda possui dificuldades de acessar esses direitos! É preciso pensar nas desigualdades no interior da própria juventude. De maneira geral, jovens têm mais dificuldades de acessar o mercado de trabalho, mas quem tem mais dificuldade ainda são os jovens das camadas periféricas, mulheres e negros, grupos que são marginalizados. No quesito trabalho, isso se dá de forma mais agravante. Você acredita que o trabalho informal está mais relacionado às juventudes do que outros grupos etários? Pensando no trabalho formal, os jovens são os mais atingidos pela dificuldade de formalização do trabalho. Exatamente por estarem em um momento específico da vida, jovens são atingidos pelo trabalho informal e estão mais sujeitos às taxas de informalidade, precarização do trabalho e jornadas flexíveis. Isso afeta principalmente a saúde e a segurança do trabalho. A Reforma da Previdência, articulada pelo governo Temer, pode afetar os direitos trabalhistas das juventudes brasileiras? Muito. A gente pensa que a Reforma só atingirá os mais velhos, mas na verdade os jovens serão afetados diretamente. Os jovens deverão ficar muito mais tempo nos seus postos, sendo assim, terão mais dificuldades de acessar esses direitos de aposentadoria e, quando acessarem, será em condições imprevistas. Quando você aumenta as idades de aposentadoria você aumenta o desemprego entre jovens, pois as pessoas mais velhas demorarão mais tempo para saírem de seus postos de trabalho e os novos jovens perderão este possível acesso ao emprego. Os jovens terão muito mais dificuldades, haverá mais competitividade por vagas de trabalho. Efeitos da falta de diálogo nesta articulação.

Entre a Reforma da Previdência e a Reforma Trabalhistas, qual articulação apresenta maior impacto? Eu acho que as duas reformas de maneira geral limitam direitos duramente conquistadas pelos trabalhadores, e na medida que o trabalho é parte da experiência juvenil desde muito cedo, os dois prejudicam a juventude. Elas não são favoráveis e apresentam condições que podem prejudicar sobretudo as minorias sociais. Como os jovens podem reivindicar seus direitos neste cenário? Os jovens, muito mais que adultos, demonstram um conjunto muito positivo. Eles têm se manifestado bastante, considerando todas as manifestações e ocupações realizadas nos últimos anos, contra as várias reformas, em especial a reforma do Ensino Médio. Eles demonstram capacidade de mobilização, o que é importante, é necessário reaver isso. Além da participação e mobilização de adultos na mesma sintonia, existem ferramentas que podem ser positivas, como a parceria de sindicatos e instituições, para assim formar em conjunto um ambiente mais institucionalizado e mobilizado. Neste momento, temos pouco espaço de escuta, os canais que estavam abertos deixaram de funcionar. Quais são os maiores desafios quando pensamos em juventude e trabalho? Acredito que existem dois grandes desafios quando pensamos em juventude e trabalho. O primeiro, seria de ordem mais geral para o país: promover o crescimento econômico com distribuição de renda e diminuição das desigualdades, pois na medida em que o país cresce, aumenta a qualidade e a expectativa de vida. Outro fator que necessariamente não segue uma ordem de importância seria a valorização da diversidade, um fator importante, seja diversidade racial, de gênero ou território, que impactam na presença ou ausência do trabalho para esses jovens. Olhar para essas desigualdades e como elas se expressam é extremamente importante para poder agregar ao crescimento econômico.

Revista Viração • Ano 14 • Edição 112

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