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Deste marco partem todas as distâncias para todas as terras de Teresina.

Gosto de pensar que me apaixonei por Teresina andando pelo Centro.

Lembro de desbravar alguns dos pontos mais conhecidos fazendo os trabalhos da faculdade. As praças, museus, os feirantes e as lojas de bijuteria, tudo parecia novo para mim, que vim de uma cidade tão pequena que o centro da cidade se resume em uma única avenida.

Em Teresina, sempre que acho que percorri todas as quadras, todas as ruas, acho um canto que me chama atenção e me faz parar o que é que eu esteja fazendo para saciar minha curiosidade. E quando não tenho tempo, faço questão de anotar o lugar para visitar em uma outra oportunidade.

Faz pouco mais de um ano que mudamos da zona Sul para o Centro.

Agora que moro e trabalho nessa área, que considero a melhor da cidade, as discussões que tínhamos na universidade, sobre ocupar espaços e a revitalização do Centro, se fazem cada vez mais presentes no meu dia a dia.

Mês passado estava passeando pelo Twitter, onde começam (e nunca terminam) as piores discussões do mundo, quando me deparei com um comentário de uma jornalista teresinense sobre o Centro. O tweet dizia que o show de uma certa cantora era motivo suficiente para enfrentar os riscos de assalto e a escuridão das ruas, algo assim. Entendi o que a jornalista quis dizer, mas assim como muitos pontuaram, não existe lugar em Teresina que esteja livre de perigos, e frequentemente apontar o Centro como a zona mais perigosa da cidade também contribui para a marginalização e o esvaziamento que há anos se fazem presente.

Cansei de ouvir, ler e escrever sobre o abandono dos prédios históricos, inclusive aqueles de propriedade do poder público. Algumas iniciativas alternativas, ligadas ao movimento LGBTQIAPN+, muito têm contribuído para a ocupação do Centro, com seus bares e restaurantes e casas noturnas. No Carnaval deste ano, tivemos os blocos de rua agitando esses espaços, e provando, que com a devida organização e a presença das polícias, o Centro é tão seguro quanto outras zonas da cidade, e também pode oferecer cultura e lazer.

Sem transporte próprio, eu costumava chegar ao trabalho de ônibus, ou de Uber. Agora que trabalho mais perto de casa, decidi que ia fazer o esforço de ir a pé, aproveitar para fazer um exercício físico e conhecer melhor as ruas do meu bairro. E eu, que gosto de manter a rotina, de ter um trajeto que eu possa fazer de olhos fechados, agora decido, de vez em quando, mudar a rota. Paro pra tomar um suco numa lanchonete que eu nunca fui, faço um catálogo mental de casinhas que eu compraria se tivesse dinheiro, prometo para mim mesma que vou voltar, armada somente com uma câmera analógica, para fotografar esse lugar tão mágico que ninguém parece amar.

Fico sonhando com companhias para aproveitar um fim de tarde na P2. Um empresário bondoso que ressuscite o Cine Rex. A volta da Casa da Cultura para a praça Saraiva. Penso em pegar um dos meus muitos livros não lidos e ir aproveitar o vento, os banquinhos e as árvores na frente da Nossa Senhora das Dores.

E sempre chamando mais gente. Divulgando eventos nas redes sociais, compartilhando com os amigos. Fico pedindo, implorando para amarem o Centro comigo. Não posso começar nada mas pelo menos posso aproveitar o que já existe. É trabalho de formiguinha, e tem mais esperança e carinho por essa cidade que qualquer outra coisa.

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