
Dhara Leandro Textos Ana Kálita Vale, Karine Rocha, Dhara Leandro Ilustrações Dhara Leandro Fotografia Ana Kálita Vale, Karine Rocha
Um recado das garotas por Dhara Sonhar se tornou uma atividade ainda mais difícil nos últimos dois anos. Perdemos tanto as nossas esperanças que acabamos desistindo de inúmeros projetos antes mesmo de começar.
Diagramação
A 21 nasceu assim. Da vontade de criar algo novo, compartilhar nossas histórias, exercitar a criatividade. Nasceu da busca por um algo mais, da inconformidade com o que esperam de nós. É mais que um zine, é a nossa juventude, nossas histórias, nossos medos e tristezas, é nossa vontade de mudar o nosso presente antes de pensar em mudar o mundo. Mesmo que a gente desista daqui um ou dois meses, estamos felizes de termos começado.


classe de 2022






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A volta do jeans cintura baixa e porque quando é minha vez de ser adulto tá tudo mais difícil por Ana Kálita O ano era 2008. Eu assistia algum filme da Barbie na televisão, provavel mente A Princesa e a Plebeia (o *melhor* filme do universo cinematográfico da Barbie). Minha mãe estava do meu lado com um fio de nylon na mão enquanto eu segurava o outro lado e ela colocava as miçangas. Esse era um ritual comum em nossa casa, eu era obcecada por pulseiras, anéis e colares feitos de miçanga e todo mês uma nova leva de bijuterias eram confeccionadas por nós duas. Aqueles fios cheios de flores, quadradinhos e todas as for mas possíveis, eram o que eu considerava o ápice da moda, acompanhados de uma bota, claro. E essa era a realidade não só para garotinhas de 8 anos como eu, mas para jovens até os seus 20 anos. Os anos 2000 foram uma época de minissaias, blusas tomara que caia, óculos extravagantes e rosa, mui to rosa. É claro que para falar sobre os anos 2000 os jeans de cintura baixa não podem ser deixa dos de fora. Sendo sincera, essa parte da moda dessa época não é a minha favorita, mas assim como um antropólogo não julga a cultura de um povo, também não julgarei o jeans que só funciona se você estiver em pé. 2022, 14 anos após a minha fase de miçan gas e roupas da Lilica Ripilica, a moda dos anos 2000 está tão forte quanto naquela época. Vestidos por cima de calças, bijuterias diver tidas, sobreposições de peças, tudo isso está de volta, com uma roupagem mais inclusiva, mas ainda assim, y2k é tendência do mo mento. Acho que alguns se surpreenderam com a volta “repentina” dessa moda, mas se a história se repete, por que a moda se ria diferente? Os historiadores desse meio chamam essa repetição de “ciclo dos 20 anos”, que teoriza que a moda de duas

Quando conheci a Lara meu primeiro pensamento foi “uau, que estilosa”, ela parecia ser uma daquelas mulheres nas revistas em que eu recortava as roupas e guardava numa pasta para ficar olhando depois. Mas a Lara não é tão diferente assim de mim (exceto pelas roupas incríveis e o gosto impecável), nossas mães gostam de Laura Pausini, nós duas nascemos no ano 2000 e ambas fomos influenciadas pela moda dessa época.
Eu não sei vocês, mas a Lara descreveu a minha infância inteira assim que começou a me explicar os ícones da moda de quando ela era criança. Acho que se inspirar na Demi Lovato ou na Selena Gomez era quase obrigatório naquela época. A
“Uma memória da minha infância que tenho mais clara é da Capricho. De pesquisar em revista ou comprar nas revistas e ir seguindo os looks que eu achava legal. Na época ainda que não tinha site, que eu não tinha com putador nem nada, e eu não podia ir na lan house, era pela revista mesmo, eu cortava as revistas e ia montando as minhas inspirações. Gosta va muito de fazer colagens, então eu usava as revistas para fazer isso, eu amava aqueles testes assim de “qual é seu estilo” de acordo com alguma famosa. E eu me lembro muito que eu queria ser a Demi Lovato. Era uma referência para mim.”
décadas atrás volta a ser atraente para os jovens da geração atual. Mas a nostalgia por tempos em que as vestimentas eram diferentes não se resume somente a esse quesito, sentir saudades de um tempo mais simples e sem tantas preocupações é também parte da psique dos jovens adultos. Eu me pergunto se a obsessão da geração Z pelos anos 2000 também não é uma escapatória para uma época da vida em que pensávamos que ser adulto seria como nas revistas, com glamour e brilho. Mas esse pensamento não é uma exclusividade da geração Z, é como o meme: “ser adulto é como andar de bicicleta. Exceto que a bicicleta está em chamas. Você está em chamas. Tudo está em chamas. E você está no inferno.” Então, querer voltar para seus dias de miçanga e filmes da Barbie só pode ser descrito como natural. (eu espero)

E que melhor jeito de descrever não só a moda, mas o ritual que todo jo vem passa ao se tornar adulto. As configurações são diferentes, mas o medo e a incerteza ao entrar na “vida de gente grande” são os mesmos. A Lara me contou algo interessante e que talvez aqueles com mais de 30 se sintam um pouco injustiçados, mas é verdade para aqueles que acompanharam a verdadeira ascensão da internet. “De certa maneira eu acho que era mais fácil (ser adulto), porque com o passar do tempo a gente vai adquirindo novos problemas. Por exemplo: eles não tinham que lidar com a crise existencial promovida pela internet.”
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Lara hoje mora em Teresina, é jornalista, trabalha com redes sociais e ouso dizer que é uma influenciadora. Eu, pelo menos, sou bastante influenciada pelo conteúdo que ela posta. Acho que se fosse comprar a Lara a uma Bar bie (e eu vou, porque O filme tá chegando aí), ela seria a Barbie em Moda e Magia. Com um estilo influenciado pelos anos 2000, mas totalmente único, ela é o exemplo perfeito de uma geração que volta as suas “raízes” quando se trata de roupas. Como ela mesmo diz: “A moda sempre volta, de um jeito ou de outro a gente tenta retornar algo, modificando ou utilizando de uma outra forma, mas é tipo aquela coisa, ‘nada se cria, tudo se copia’.”
“Que me mandassem cartinha de hate, mas que não me mandassem mil tweets ou que me cancelassem na internet.” Se isso não é verdade, eu não sei o que é. Nada disso quer dizer que ser adulto só foi difícil para nós, o autor do livro “The Prime Of Life”, Steven Mintz, diz que há “um mito de que a transição para a vida adulta foi mais tranquila e suave no passado”, e eu concor do. Ter que se conformar com as ideias de sucesso e do que configura ser um adulto em qualquer época, seja nos anos 50 ou em 1990, sempre foi trabalhoso. Mas quando as pressões da socieda de chegam a você de forma muito mais rápida e te diz de mil formas diferentes que aos 21 anos você já deveria estar fora da casa dos seus pais e com uma fortuna no banco, é

quase impossível não surtar. Ser adulta hoje é uma mistura de ter milhões de oportunidades e ficar sobrecarregada com tudo. “É clichê falar que só temos o hoje? É clichê. Mas é a realidade”, diz Lara com ar de quem sabe o que é pensar demais sobre o futuro. “Ser adulta é totalmente difícil. É difícil ser tudo, sempre é difícil o hoje.” Parece até pessimismo falar assim, mas Lara não faz soar como uma coisa ruim. A verdade é que nossos problemas de hoje sempre serão um problema de hoje e não há como fugir disso, mas é só o que a gente tem. Lidar com as dificuldades do jeito que a gente acha certo é o melhor que podemos fazer. E ser adulto não é isso?“Oser adulto para mim é sempre o ‘depois’. É o meu eu do futuro. Eu estou no presente, mas não estou percebendo que já sou uma adulta. É só ser uma criança mais independente, de certa forma, mas altamente dependente do trabalho, dos estudos, do dinheiro para pagar as contas, de um casamento, de uma vida financeira boa, de uma vida social boa. Ser adulto antes pra mim era uma coisa tipo ‘uau, vou caminhar com minhas próprias pernas’, e agora eu vejo que é ‘nossa, eu tenho que realmente caminhar com minhas próprias pernas’.”
Caminhar com as próprias pernas aos 21 anos é tão difícil quanto caminhar com as próprias pernas pela primeira vez. Mas, como um bebê cambalean te, a gente leva a vida e vai levando uns tombos até os passos ficarem mais firmes e só precisar de uma ajudinha aqui e ali. A gente se veste divertido, canta músicas da Hannah Montana, começa a abraçar a cor rosa (meninas que queriam ser “diferente” levantem a mão), e ao mesmo tempo enfrenta filas de banco e tenta fazer um salário mínimo durar um mês inteiro. Ser adulto é isso! (é isso mesmo né, gente? Por favor, me diz que eu tô sendo adulta do jeito certo!)

10. Noite de cabaré? Você precisa de uma playlist de safadeza, é obriga tório!
2. Mais praticidade na hora de procurar o que ouvir.
1. O primeiro motivo é bem óbvio: você pode organizar suas músicas com base na vibe e nos momentos que elas representam.
21 motivos para fazer playlists
15. Uma lista de músicas que o seu xodó te enviou.
9. E no seu livro favorito?
8. Por que não fazer uma playlist inspirada na sua série preferida?
13. Limpar a casa ouvindo só as melhores da Turma do Pagode.
4. Compartilhar uma playlist com quem você ama também é uma lin guagem do amor
Por duas viciadas
14. Uma lista de músicas para dedicar ao seu xodó.
5. Acordou meio triste e capenga? É só colocar uma playlist tristonha, sem se preocupar com um funk proibidão atrapalhando sua vibe.
3. Você pode criar uma trilha sonora para qualquer situação.
7. Sabe quando você está revoltada com a vida e só quer saber de gritar? Aquela seleção de músicas de bandas punk feministas é a única coisa que pode te ajudar.
11. Postar aquela playlist no melhores amigos que só tem aquela pessoa que você quer pegar é ótimo para iniciar uma conversa.
6. Dia de academia? Nada de escutar Ed Sheeran. Você tem sua própria playlist de reggaeton para te ajudar na hora de fazer agachamentos.
12. “Poxa, eu só queria escutar músicas com uma vibe meio vampiro que se apaixona pelo caçador de vampiros que também é um lobisomem.” Uma playlist resolveria isso.
19. Aquela playlist que te lembra casa.
21. Porque fazer playlists é quase terapêutico. Organizar tudo bonitinho, procurar as músicas certas e a capa perfeita no Tumblr não tem coisa melhor.
20. Aquela que te acalma e te faz dormir melhor.
17. Selecionar as maiores músicas de gostosa! Para ouvir se arrumando pra sair.
18. Você pode separar as músicas que mais gostava de ouvir na adoles cência e curtir a deprê quando bate a nostalgia.
16. Separar a discografia inteira do seu artista favorito e ouvir quando precisar de energia para fazer os trabalhos da faculdade.

O mundo está fervendo com a ascensão das sobrancelhas fi ninhas, tendência nos anos 2000. Uns piram porque querem aderir e outros piram em virtude das consequências que a retirada excessiva do bulbo pode causar no crescimento dos pelinhos. Apesar das polêmicas e dos delírios, essa e tantas outras tendências do início dos anos 2000 estão voltando com tudo, temos aí o TikTok para provar. Especialistas de moda e até quem gosta de acompanhar e estudar o assunto percebe que a moda é cíclica. Vai e volta. Estou na busca de compreen der os motivos, mas certamente há uma explicação antropológica, social e cultural para o fato. Historiado res da moda afirmam que tem relação com um certo saudosismo de cada geração em dar vida a algo que não experimentou. Estudiosos também colocam a internet e suas possibilidades como fatores que impulsionam o retorno dos anos 2000. Através da internet, é possível ao usuário viajar no tempo. Dessa forma encontrar re ferências de diversas épocas se torna ainda mais fácil. Porém nem tudo volta igual. Em parte porque o con texto em que vivemos no presente não o mesmo de 30 ou 40 anos atrás. E a outra parte se deve ao fato de nós, humanos, gostarmos do que é novo. A curadora de Traje e Acessórios do Museu do FIT, Colleen Hill, em entrevista ao site Byrdie, coloca uma outra parte ao afirmar que os estilistas dispõem de doze meses para dar conta de aproximadamente oito coleções e por isso tomam emprestado as características do que foi sucesso para a produção de novas peças. Ao longo de toda a existência humana nos servimos de livros, arquivos midiáticos, pinturas para conhecer o cotidiano daqueles que estive ram neste planeta e contribuíram para mudanças
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A volta das tendências envolve muito mais que roupas por Karine


Espelhos e devaneios: se eu tivesse que falar de amor por Dhara Sempre que sento pra escrever acabo falando de amor. Dessa vez hesitei em deixar as palavras fluírem, é cansativo sempre falar das mesmas coisas e perder sempre a esperança de uma mudança para melhor. No entanto, entre a insegurança de crescer e a descoberta do olhar para si, a falta de amor tam bém é algo que pesa em nós, jovens adultas nascidas nos anos 2000.
Nunca recebi nenhuma cartinha de amor. Faz uns três dias que abro esse arquivo e fico olhando o cursor piscar per dido na página. No final de semana passado fomos tirar as fotos do ensaio de formatura. Quando a maquiadora tirou o pincel da minha cara e disse que eu já podia me olhar no espelho, tremi. Pensei se eu enfrentava aquilo ali mesmo ou se
Com tudo isso tão perto e sob a influência de sentimentos nostálgicos dis pomos do poder de viver o passado de uma forma nova.
Crescemos sonhando com romances. Vimos isso nos filmes que passavam na Sessão da Tarde, nos livros que eventualmente caiam em nossas mãos. Não sei bem como é que começou, mas em algum momento da minha ado lescência eu aceitei que talvez nunca fosse viver algo assim.
que nos colocaram no exato ponto onde estamos. O avanço da tecnologia e a criação de um universo imaterial quase mágico, chamado internet, onde encontra-se tudo e é possível ser o que quiser, fez com que todo o papel, imagem, som e museu sejam acessíveis a nós com dois cliques ou mais. Assim, uma multidão consegue assistir ao MET Gala mesmo não estando no evento ou ler um livro escrito na Grécia antiga, mesmo que não esteja disponível na livraria local.

Como resultado, passei a minha adolescência inteira me acostumando com as imperfeições do meu rosto. Não aprendi a amá-lo mas pelo menos conseguia fingir que não me incomodava.
esperava chegar em casa para passar pelo estranhamento que eu sabia que viria. Mas a Ana estava no quarto com a gente, e achei que seria mais vulne rável mostrar para elas que eu não queria me ver no espelho. Aí olhei.
Marquei um trecho de Eu sei porque o pássaro canta na gaiola, da Maya Angelou, que expressa bem algo que sempre pensei.
Acho que pulei algumas partes. Mas você só precisa saber que minha ado lescência foi bem conturbada nesse sentido e que foram anos até eu conseguir me ver como uma das bonitas (ainda que bem lá no fundo eu não tenha tanta certeza disso).
E não me reconheci.
Acredito que a maioria das garotas comuns é virtuosa por causa da escassez de oportunidades para serem diferentes. Elas se protegem em uma aura de indisponibilidade (pela qual depois de um tempo começam a ganhar cré dito) mais como defesa do que como tática.
Eu li isso e fiquei pensando: “Cara, é sobre mim!”. Sendo a filha dos meus pais (se você sabe, você sabe!), eu sempre fui a menina mais inocente e cer tinha de todos os meus círculos de amizade. Mas a verdade não é bem o que
E o que isso tem a ver com amor? Resposta: Absolutamente tudo!
Acho que a primeira vez que comprei maquiagem foi em 2020, quando consegui meu primeiro emprego. Antes disso, sempre dependia dos meus pais para comprar as coisas que eu queria e precisava, e eles me criaram deixando claro o quanto o nosso dinheiro era suado e precioso. Então eu nunca pedi nada a não ser que realmente precisasse. E maquiagem não era uma dessas coisas.
Se as bonitas sofriam a expectativa de fazer o sacrifício supremo para ‘pertencerem’, o que a mulher não atraente podia fazer? Ela, que vinha pela periferia da mudança na vida sem nunca mudar, tinha que estar preparada para ser ‘uma boa amiga’ de dia e talvez à noite. Só lhe era requisitado ser generosa se as garotas bonitas não estivessem disponíveis.
parece. Eu não era certinha, só era feia!
Daí você acorda um dia e tem 21 anos. O seu corpo ainda não é daqueles que faz todo mundo na rua parar para te ver, mas você olha no espelho e descobre que seu rosto até que é bonitinho. Só que a adolescência acabou há tempos, e enquanto todo mundo vivia os primeiros amores e primeiros tudo, você se trancava no quarto com um livro do tamanho de uma Bíblia. Tenho 21 agora. Ontem fui dormir às três da manhã, pensando em como finalizar esse texto. Senti uma coceirinha nos dedos e um frio na barriga. Fiquei me revirando na cama e até o Meia-noite reclamou.
Quando a Angelou escreve isso, ela descreve uma experiência que toda garota “feia” provavelmente já vivenciou. Desprezada durante toda a adolescência — que é quando os hormônios afloram e você começa a desejar ser notada pelos crushes, a mulher não atraente adota a postura de “não estou sendo rejeitada, só não estou a fim”. E se você é como eu, tem o bônus: “não tenho namorado porque quero focar nos estudos”. Que piada.
Em Brand New City, a Mitski canta “But if I gave up on being pretty I wouldn’t know how to be alive”— Mas se eu desistisse de ser bonita, eu não saberia como é estar viva. Eu costumava me identificar bastante com esse trecho, só que hoje em dia é o contrário, fico me perguntando se existe sentido em querer ser bonita o tempo todo. Abro o aplicativo do Instagram e do TikTok e todas as blogueiras fashion girlies estão publicando milhares de conteúdos te ensinando a ser mais esteticamente atraente, mas esse con teúdo não me alcança mais como antes. Como elas não se cansam de estar sempre em busca de um padrão inalcançável, só possível se você tiver muito dinheiro? Eu só quero dias tranquilos e habitar em segurança no refúgio do meu quarto. Também nem sei mais se quero entregar meu coração para al guém, apesar de querer um romancinho às vezes porque ninguém é de ferro, né? Acho que me acostumei a ser só e não sei se saberia viver de uma outra forma. Não ter sido uma das bonitas na adolescência afetou bastante como me sinto sobre relacionamentos românticos hoje em dia. A pergunta que sempre me faço é: “sou Muito ace ou só sou Muito Insegura? Não sei. Talvez daqui a uns anos eu descubra a resposta.
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