Ateliê Integrado 1

Cultivar o Vazio Marianna de Assis Palmeira Baptista Victoria Cristina C. F. da Cruz

Ateliê Integrado 1 2020.1 R

Cultivar o Vazio

O projeto, situado na Avenida Presidente Vargas, consiste em atender necessidades da população em situação de rua através de uma horta, sistema de chuveiros e redes públicas, um restaurante e um edifício dormitório.

A construção da Avenida Presidente Vargas gerou um apagamento de parte da malha urbana do Centro da Cidade para a construção da Avenida Presidente Vargas sob uma ficção de progresso (MARQUEZ, 2011), a qual se utiliza da “vontade utópica da tabula rasa” - que intervém uma superfície como se ela fosse uma página em branco, ignorando sua pré-existência, apagando o que uma vez ali existiu. A partir dessa ideia, o projeto tensiona a ideia do vazio, vendo-o não como método de demolição para que seja construído no seu todo, mas como um espaço livre, que pode ser utilizado para o cultivo das relações sociais e do cuidado com os seres humanos e não-humanos - ao seu redor.

Se subverte, com isso, as demolições que ocorreram para a construção da Presidente Vargas. Ao invés de se fazer uma via reta para chegar ao destino mais rápido, por que não pensar em cultivar o vazio para o ócio, para a relação social, para o contato com o externo?

Igrejas do Bom Jesus do Calvário (1796) e de São Pedro dos Clérigos (1733) (Arquivo Diários Associados-RJ/Acervo IMS)

A partir da presença marcante de população em situação de rua no centro da cidade, o projeto procura atender esse público proporcionando-lhe um espaço para repouso, alimentação, higiene e comunhão através de estruturas integradas com o exterior.

Localiza-se na Avenida Presidente Vargas, entre os números 1100 e 1146, um “vazio” que atualmente serve como um estacionamento. Limitado por 7 empenas - dois edifícios de grande gabarito nas suas laterais e os fundos de cinco casarões localizados na Avenida Marechal Floriano -, possui uma frente

1

Planta de Situação 0

50

100m

ampla que é sua única conexão com a rua. Nesta calçada, identifica-se o entrecruzamento de vários fluxos: faixa de pedestres, saída do metrô e um ponto de ônibus. A partir dessas circulações préexistentes, o projeto apresenta novos percursos que se entrelaçam com os da rua, esmaecendo o limite do lote.

2

Planta de Implantação 0

4

8m

1

6 Grama são carlos:

Aceroleira:

7 Cimento queimado:

8 Piso fulget:

9 Deck de madeira:

10 Pedra portuguesa:

Árvore frutífera de pequeno porte, se adapta bem ao clima tropical, de fácil cuidado e com grande produção de frutos.

2

Amoreira: Com média de 12m de

Piso durável e resistente, de baixo custo e com fácil manutenção.

Folhas largas que promovem boa cobertura, de fácil cuidado e resistente à sombra.

Piso áspero que contém pequenas irregularidades e antiderrapante, utilizado em áreas externas.

Utilizado em áreas externas, possui montagem rápida e fácil manutenção.

altura, é uma árvore frutífera de crescimento rápido e fácil adaptação ao clima tropical.

3

9 2

Limoeiro:

1

Os limoeiros são árvores relativamente pequenas, o que

4

os torna apetecíveis em jardins

5

de pequena dimensão. Além

4

3

5

do benefício de seus frutos, é de fácil cuidado.

4

Árvore de romã:

6

A romã é uma pequena árvore ou arbusto decíduo, com

3

7

1

folhas estreitas e oblongas,

8

flores vermelhas e grandes frutos vermelhos redondos.

5

Bambu: Resistente

e

10 de

fácil

crescimento. Sua cerca cria um anteparo visual, dando privacidade ás aberturas dos pátios

Prolongamento da pavimentação pré-existente. É antiderrapante, de fácil limpeza e manutenção.

Uma das estratégias criadas para conectar o projeto com o seu entorno foi a construção de pilotis que se interligam aos seus vizinhos laterais.

Com isso, é possível expandir o ponto de ônibus que pode se localizar em toda a extensão coberta, como também proteger a saída do metrô da luz do sol e da chuva.

Outro artifício foi a criação de um espaço aberto central, que além de dividir o terreno transversalmente em dois - do lado esquerdo, há o edifício dormitório, e do direito, o restaurante -, permite uma circulação linear da rua até seus fundos. Essa zona não construída é formada por uma horta rebaixada, ligada ao nível da rua por uma arquibancada em todo seu limite. O rebaixamento desse plantio de hortaliças cria duas passagens nas suas laterais para chegar nos fundos do terreno, onde se encontra um sistema de redes formado por estruturas cobertas de madeira e um sistema de chuveiros aberto mais recuado. Dessa forma, quanto mais se adentra ao terreno, o público da rua vai se tornando mais íntimo.

A área construída é composta por dois edifícios localizados nas empenas laterais com modulação estrutural de 4x4. Ambos possuem acessos diagonais, que podem ser vistos da horta e da rua, além de possuírem painéis móveis em suas fachadas que permitem a transposição do construído com o não construído.

1

Planta do Térreo

1

Planta do 1o Pavimento

1

Planta da Cobertura

O edifício dormitório é constituído por quartos e banheiros coletivos, possui pátios que recortam sua massa, estabelecendo contraste entre a empena e o espaço livre. Esse recurso possibilita a ventilação e iluminação dos ambientes internos e das suas circulações. A presença de um banheiro coletivo logo na sua entrada serve para atender aqueles que estão de passagem e que não pretendem ficar no edifício. A escada se apoia na fachada que se conecta à rua por um plano de vidro, permitindo a conexão visual entre a circulação vertical do edifício e a horizontal da rua. No segundo andar, a presença de uma varanda compensa os recortes na laje para que haja um espaço de permanência com vista da rua e da horta - espaços múltiplos de trabalho, convivência e passagem.

1

Corte AA O edifício restaurante

possui apenas o nível

térreo com uma varanda coberta ao nível da rua, que, juntamente com a horta, delimita o caminho para os fundos do terreno. Sua área externa pode ser separada do interior por painéis pivotantes móveis. Por ter toda a extensão lateral conectada com o meio externo, seu mobiliário se fixa ao piso.

Essa conexão se estende até a cozinha, a partir de vedações rebaixadas, possibilitando a visualização e interação dos usuários com o preparo da comida.

2

Corte BB

1

Corte CC

Telha sanduíche

Painel Wall Forro Acústico

Estrutura de Madeira

Telha Ondulada Transparente ou Translúcida

Piso de Madeira / Piso de Cerâmica

Compensado Naval

Laje de concreto

Referências Bibliográficas MARQUEZ, Renata. Apagamentos. PISEAGRAMA, Belo Horizonte, número 02, página 26 - 27, 2011.Disponível em:< https:// piseagrama.org/apagamentos/>. Acessado em: 03 mar. 2021.

LOREDANO, Cássio. Podia ser pior. ACERVO IMS, Rio de Janeiro, 2018. Disponível em:<https://ims.com.br/por-dentro-acervos/ podia-ter-sido-pior/>. Acessado em: 03 mar. 2021.