Versus#43 - 04/2017

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a meu ver, reforça a relação com peculiar, que traduza a essência 14-18)? Onde se pode encontrar das nossas personalidades. Este desnudamento é, para nós, a alegria nessa ilustração? Stefan – É da autoria de Dehn Sora, um artista hiper talentoso. Estamos muito orgulhosos de ele ter aceitado trabalhar para nós. Aliás, já tinha feito a capa do EP «Le Jour se Lève». Wilheim – Admirámos muito os contrastes e os jogos de luz que é possível encontrar na sua arte e a sua forma de dar vida ao preto e branco. Trata-se de uma imagem cheia de significado, profunda, em que a terra devastada dá lugar à morte e se vê uma luz ao longe. Podemos ver nela uma referência à alquimia, dado que a matéria orgânica, amassada e queimada até ficar toda negra, está na origem de uma matéria pura e luminosa, que anuncia a etapa que se segue: a criação do Ouro filosofal, fim último desta doutrina. A Alegria reside nessa finalidade. Stefan – É atributo dos grandes artistas como Dehn Sora serem capazes de produzir obras que têm uma infinidade de interpretações. Logo, deixo a cada um a responsabilidade de forjar o seu próprio sentido.

O vosso Black Metal pareceme bastante old school. No entanto, encontram-se nele muitos elementos discordantes: melodias, um jogo de vozes de tipos diferentes. Que te parece esta descrição da vossa música? E que influências têm? Quais são as bandas que vos inspiram (em França ou fora dela)? Stefan – Como já referi, as nossas influências estão fortemente ancoradas no Black Metal old school, como é evidente, mas também decorrem da Cold Wave, do Hard Rock, do Dark Folk. Antes de mais, a nossa música constitui uma homenagem a todas as cenas musicais que nos formaram tal como somos. Queremos acima de tudo evitar as fórmulas prontas a consumir e os clichés de qualquer estilo em particular, para chegarmos a algo

um elemento essencial do nosso trabalho. É difícil para nós descrevermos a nossa própria música, pelo que te deixo esse trabalho. Pela parte que me toca, dediquei toda a minha existência à música, essa forma de arte que tem algo de transcendental. A música é um ritual. Nela tudo se associa à espiritualidade, à elevação, à procura do conhecimento, à origem. No fim de contas, não é mais do que a expressão da necessidade primária de encontrar um sentido. No que concerne às influências, não aceitamos limitações: deve ser isso que dá uma cor tão especial a ACDM. Há bandas que me perseguem há décadas: Bathory, Celtic Frost ou And Also the Trees, ou ainda outras mais recentes, tais como Austere, Alcest ou The Devil’s Blood.

Como se organizam para assegurar a composição da música e a escrita das letras que acompanham as vossas canções? Stefan – Há algo de inabalável na criação dos trechos de ACDM. Tudo nasce de uma ideia que se forma na minha mente - uma pequena melodia, um ritmo - e que, de repente, se converte numa obsessão. Segue-se uma fase em que tenho a impressão de que não consigo controlar o que se passa. A música gera música, as camadas acumulam-se, sobrepõem-se, os riffs sucedemse uns aos outros, sem que eu pense verdadeiramente neles, um pouco como se tudo isso viesse de um outro nível de existência, de um estado não manifesto que finalmente se materializa. Wilheim – A estrutura é composta a partir desta base, com ritmos simplificados, e, de seguida, passamos aos ensaios, para trabalhar a composição e lhe insuflar vida. É nessa altura que a partes de cada um se formam. No que se refere às letras, elas

vão-se construindo ao sabor das emoções do momento. Trata-se de uma escrita visceral, desconexa, espontânea e cada um de nós junta a sua pedra ao edifício coletivo.

O vosso álbum vai ser lançado no inverno. Parece-te que esse facto vai reduzir as possibilidades de promoção?

Stefan – Pelo contrário, penso que não há melhor altura que o “coração do inverno” para ouvir o nosso álbum! Mas, para ser franco, não pensamos minimamente nisso. Só queríamos compor e gravar um álbum pessoal, imersivo e intenso, No que toca ao resto, confiamos plenamente na Debemur Morti Productions.

A vossa editora fala de concertos para dar a conhecer o álbum. Será que Portugal faz parte desse itinerário? Conhecem congéneres portugueses com quem gostariam de tocar? Stefan – Neste momento, não temos quaisquer concertos previstos. Não estamos particularmente interessados em fazer grandes digressões e encher o nosso calendário de datas de concertos. Além disso, não sabemos se vamos continuar a ser um trio ou se nos vamos converter num quarteto. Wilheim – Queremos principalmente construir uma execução verdadeiramente representativa do que a nossa música tem de melhor, mesmo que isso implique que não pisemos o palco com muita frequência. É claro que ficaríamos encantados em poder visitar o máximo de países possível, incluindo Portugal.

Querem deixar uma última mensagem aos leitores da Versus Magazine? Stefan e Wilheim – Tudo acabará na Alegria e na Luz.

https://www.facebook.com/Au-ChampDes-Morts-1061663760580553/ https://youtu.be/zQc-ZbPjXMU

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