Versus Magazine #34 Março / Maio '15

Page 41

ENTREVISTA ABORDAGEM ESTILÍSTICA. FALA-NOS DESSA ÉPOCA. NUNO

C OSTA : A partir de 2000 assistimos à marcha ascendente dos Morbid Death e dos Classic Rage, mas também ao desaparecimento de muitas bandas promissoras dos anos 90. Poucas foram as que resistiram, eventualmente por questões pessoais, profissionais, académicas ou (e este pormenor é muito importante) devido à mudança das tendências musicais. Alguns músicos que tocavam metal extremo na década anterior começaram a tocar material mais popular na época, sobretudo metal com groove e fortes influências do nu-metal. Com o lançamento de «All Rights Reserved» os Classic Rage transmitiam a sensação que a insularidade já não era uma barreira. No entanto, a banda despedia-se pouco depois, deixando espaço aos Hangover, que já há alguns anos estavam na dianteira do metal açoriano, embora lhes faltasse uma gravação. Os Hangover (que, aquando do lançamento de «43 Minutes Of Hate», em 2004, já respondiam pelo nome Tolerance 0) tinham a particularidade de arrastar uma fiel legião de fãs e de serem consensuais entre os diversos públicos de metal. Tanta era a convicção e a vontade de chegarem longe que viajaram para o Canadá depois do lançamento do álbum, mas as coisas não correram como o esperado e alguns membros regressaram pouco depois. O grupo não mais se voltaria a juntar. Os Kaos eram outra grande promessa, mas por volta de 2002 cessaram funções sem deixar qualquer registo - a não ser o tema «Four Leaf Clover», incluído na compilação «Concurso Novas Ondas 98». Embora os In Peccatum lançassem o seu primeiro EP, «Antilia» em 2002, é difícil ignorar que a década de 2000 foi claramente dominada por uma geração de músicos influenciados pelo hype dos Limp Bizkit, Korn, Deftones, Slipknot ou Mudvayne. Os Pantera também exerciam grande influência nas bandas açorianas, mas a MTV, sobretudo, criava um enorme deslumbramento nos músicos. Assim, surgiram na primeira metade da década de 2000 bandas como Hemptylogic, Stampkase, Blasph3my, Psy Enemy, Neurolag, Spinal Trip e Trauma Prone (uma espécie de supergrupo com elementos dos Tolerance 0, Kaos e Hemptylogic). É verdade que o nu-metal era o fio condutor, mas felizmente a maioria desses projectos tinha um cariz bem pessoal e não soavam propriamente a rap-metal ou a cópias chapadas dos nomes internacionais, à exceção de um ou dois casos. De salientar ainda que o panorama local continuava a apresentar uma saudável variedade estilística. Longe dos tempos

em que o black, o death e o gothic predominavam, continuamos a ter bandas mais tradicionais, chamemoslhes assim, com os Dark Emotions que lançaram a promo-track «Possessed», os Nableena, Sanctus Nosferatu, Zymosis (estes dois últimos os resistentes do black metal), Summoned Hell ou Sacred Tears. Os Spitshine foram um projecto interessante mas de curta duração. Reunia elementos dos Kaos, Classic Rage, Carnification e mais tarde Crossfaith. O hard’n’heavy era a sua linguagem musical. Os Massive Sound Of Disorder foram um dos nomes mais promissores, sobretudo em termos instrumentais, dada a presença do virtuoso guitarrista Rodrigo Raposo. Tocavam um power metal progressivo. Chegaram a gravar mas o resultado nunca chegou a ser editado oficialmente. Os Hiffen também aperfeiçoaram (e de que maneira) a sua sonoridade, bem patente no álbum «Crashing», de 2005. Outro projeto incontornável da década de 2000 são os terceirenses Anomally, que além da qualidade musical sempre apresentaram uma comunicação e imagem muito profissionais. Em termos de meios de divulgação, e já com a Thrash Publishing apenas como distribuidora, surge a SoundZone em 2003 em formato fanzine. O Metalicidio emerge um ou dois anos depois, tornando-se uma verdadeira enciclopédia do metal açoriano! Por esta altura, ainda o José F. Andrade se mantinha na rádio (com o programa Overdose), ao mesmo tempo que redigia colunas semanais no Açoriano Oriental e coordenava espetáculos como a Maratona Rock e os Prémios Açores Música. Também o site Armageddon viria a ter relevo. De notar que tanto a SoundZone como o Metalicidio e mesmo o Armageddon foram responsáveis por uma grande parte da dinâmica de eventos de metal organizados em São Miguel na década de 2000. Muito interessante também foi a edição da revista anual Metal Bit IX, um projeto apoiado pelo Governo e realizado pela Associação de Juventude Bit IX. Abordava apenas artistas regionais e era impressa com qualidade profissional.

EM TERMOS DE CONCERTOS E FESTIVAI S, A DADA ALTURA AS COISAS TAMBÉM COMEÇARAM A MEXER SIGNIFICATIVAMENTE, COM ALGUMAS GRANDES PRODUÇÕES A TEREM LUGAR. QUE EVENTOS DESTACAS? N U N O C O STA : No virar do milénio surgiu

na Terceira o concurso/festival Angra Rock, o sucessor perfeito do Novas Ondas, e que rapidamente granjeou um estatuto de respeito. Foi aí que

começaram a vir com regularidade aos Açores nomes de relevo do rock e metal internacionais, com especial destaque para os Paradise Lost. Igualmente marcante foi a realização do Roquefest, um evento com algumas limitações estruturais, associado a um Império do Espírito Santo, mas que transpirava um feeling underground muito interessante. Realizou-se em 2005 e 2007 (inclusive com bandas do continente e da Madeira), tendo sido recuperado em 2013. Um dos grandes momentos da década em termos de espetáculos foi a realização do festival Alta Tensão (do António Freitas) no Coliseu Micaelense, que assinalou a primeira vinda de uma banda internacional de metal à ilha de São Miguel - os Mnemic. A partir daí (estávamos em 2007) começou a ser regular a realização de eventos de maior dimensão. Nesse especto, a SoundZone teve um papel particularmente ativo. Se em 2006 já havia trazido os The Temple, em 2008 segue-se outro festival com os internacionais Dagoba e Fear My Thoughts, além dos seus aniversários, que incluíram os Switchtense e, mais recentemente, os espanhóis Angelus Apatrida. Em 2008, o Rui Sousa (teclista dos Hiffen, Crossfaith, entre outros) tornou-se uma das personalidades mais interventivas do metal local, fundando o Live Summer Fest, que cresceria para o plano internacional com os Paradise Lost, Threat Signal, entre outros. Inclusive, o festival foi filmado e transmitido em diferido pela RTP Açores. Outro evento, com menores dimensões mas com um carisma tremendo, foi o October Loud. Realizou-se entre 2007 e 2009 e reunia praticamente todas as bandas de São Miguel em duas ou três noites de espetáculos. Num ambiente mais intimista - o Salão Paroquial de São José - fazia quase lembrar o espírito dos áureos anos 90. De igual forma, o Metalicídio organizou um concurso de músicos e uma compilação, tendo o Armageddon promovido duas edições do Metal Clash com bandas regionais. Além disso, era frequente verem-se bandas de metal inseridas em festas mais populares e fora do contexto do metal - uma tendência que se perderia quase em absoluto a partir de 2010. De salientar a Maratona Rock, que teve edições no Coliseu Micaelense em 2005, 2006 e 2009 e deu origem a um disco ao vivo com mais de uma dezena de bandas. A primeira edição levou à risca o termo “maratona”, com cerca de sete horas de espetáculos que terminaram pelas seis da manhã. Cada banda atuou cerca de 15 minutos. Dada a complexidade do formato, as segundas e terceiras edições do evento foram divididas por dois dias e tiveram mais tempo de espetáculo. Incluíram ainda workshops com Paulo Barros e Hugo Danim. Por falar em workshops, em 2007 a 41 / e s p e c i a l m e ta l a c o r e s


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.