Versus Magazine #32 Setembro / Dezembro '14

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VA GOS OP EN AIR 20 14

Nº 32 Setembro / Dezembro 2014

TRI AL BY FIRE ! U LT R A U N D E R G R O U N D ! GAR AGE P OWE R !

CHEGOU A HORA!

THE GODSPEED SOCIETY OS DEUSES NÃO ESTÃO LOUCOS

QUE NUNCA O SOL

ADORMEÇA




ANUNCIA AQUI


EDITORIAL V E R S U S M A G A Z IN E

Rua José Rodrigues Migueis 11 R/C 3800 Ovar, Portugal Email: versusmagazinept@gmail.com

E M A IL

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EDITORIAL

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D IR E C Ç Ã O

Adriano Godinho, Eduardo Ramalhadeiro & Sérgio Teixeira (com Ernesto Martins)

Caro leitor,

G R A F IS M O

RubenChamuscaMultimedia® [ www.rubenchamuscamultimedia.com ] ™

Desculpa. Um atraso enorme distancia-nos da última edição, tendo também sido difícil conseguir publicar este número antes do final do ano. A última edição da Versus foi em pleno verão e com ela a última com o Ernesto Martins como director. O Ernesto decidiu recuar da direcção da versus mas continuar na equipa, apoiandonos em decisões e na orientação do projecto. Mais mudanças surgiram no seio da nossa equipa, tanto na equipa de jornalistas como na componente gráfica. Já percebem, caros leitores, os ventos de mudança que nos levaram a este atraso. Mas as nossas resoluções para esta nova equipa são as de manter a Versus o mais estável possível, respeitando a periodicidade e os nossos leitores. Posto isto e para dar ênfase a este sangue novo, nada melhor que um especial foco em projectos portugueses, com os destaques aos Hourswill, Sleeping Pulse e The Godspeed Society. Este número trinta e dois conta também com imensas boas entrevistas, reportagens e reviews. Espero que gostem e continuem a apoiar-nos, lendo e partilhando a Versus.

IL U S T R A Ç Ã O

Eyeless Illustrator [ www.facebook.com/eyeless.illustrator ]

COLABORADORES

Adriano Godinho, Carlos Filipe, Cristina Sá, Dico, Eduardo Ramalhadeiro, Ernesto Martins, Hugo Melo, Jorge Ribeiro de Castro, Ruben Chamusca, Lisa Zigg, Sérgio Teixeira, Victor Hugo

F O T O G R A F IA

Créditos nas Páginas

P U B L IC ID A D E

versusmagazinept@gmail.com Todos os direitos reservados. A VERSUS MAGAZINE está sob uma licença Creative Commons Atribuição-Uso Não-ComercialNão a Obras Derivadas 2.5 Portugal.

O U T IL IZ A D O R P O D E :

copiar, distribuir, exibir a obra

S O B A S S E G U IN T E S C O N D I ÇÕES: AT R IB U IÇ Ã O - O uti l i zador deve

dar crédi to ao autor or iginal, da for ma especi fi cada pelo aut or ou l i cenci ante.

U S O N Ã O - C O M E R C IA L . O ut ilizador

não pode uti l i zar esta obr a par a fi ns comerci ai s.

N Ã O A O B R A S D E R IVA D A S . O Adriano Godinho

uti l i zador não pode al te r ar, transfor mar ou cri ar outr a obr a com base nesta.

5 / VERSUS MAGAZINE



I´ N D I C E Nº32 SETEMBRO / DEZEMBRO 2014

36

HOURSWILL

CON T EÚ D O

E N T REV I S TA S

08 09 12 14 17 28 48

10 18 20 26 32 34 42 46 50 52 56

T R I A L B Y F I RE U LT R A U N D E RG R O U N D CAOS ARMADO ESTUDIOS D A N I E L VA N N E S M I S S I N G I N AC T I O N D EH N S O R A G A R A G E P OW E R # Monolyth

54 A L.E X M AY HE M DE SI GN

CHEGOU A HORA!

D A R K FO RTR ES S H A K EN K I NG O F A S G A R D S O NS O F C R O M C ENTI NEX SLEEPING PULSE T HE G O D S P EED S O C IETY A U TU MNA L E XEC R ATIO N VA R ATH R O N B LA C K S H EEP

2 2 FLA S H R EV IEWS 5 8 A LB Ú M D O MÊS # Soen - Tellurian

5 9 C R ITI C A V ER S US 6 7 B ES T O F 2 0 1 4 7 0 LI V E V ER S U S

# Vagos Open Air 2014 # Anathema

7 4 A G END A V ER S U S

7 / VERSUS MAGAZINE


TRIAL BY FIRE N A C H T MYST IUM

NEA L MO R S E

C A NNI B A L CO R P S E

Songs From November (InsideOut Records) MÉDIA: 3,8

The World We Left Behind

(Century Media) MÉDIA: 3,2

A Skeletal Domain (Metal Blade) MÉDIA: 2,8

C A R L O S F.

C A R L O S F.

C A R L O S F.

EDUARDO R.

EDUARDO R.

EDUARDO R.

ERNESTO M.

ERNESTO M.

ERNESTO M.

S É R G I O T.

S É R G I O T.

S É R G I O T.

LISA Z.

LISA Z.

LISA Z.

ADRIANO G.

ADRIANO G.

ADRIANO G.

NOCTEM

NE OBIVISCARIS

Exilium (Prosthetic Records) MÉDIA: 2,6

A R C H ENEMY

Citadel (Season of Mist) MÉDIA: 4,0

War Eter nal (Century Media) MÉDIA: 2,1

C A R L O S F.

C A R L O S F.

C A R L O S F.

EDUARDO R.

EDUARDO R.

EDUARDO R.

ERNESTO M.

ERNESTO M.

ERNESTO M.

S É R G I O T.

S É R G I O T.

S É R G I O T.

LISA Z.

LISA Z.

LISA Z.

ADRIANO G.

ADRIANO G.

ADRIANO G.

THE MOON AND THE NIGHTSPIRIT

OR I G I N

A EVANGELI S T

Omnipresent (Agonia Records) MÉDIA: 3,9

Holdrejtek (Prophecy Productions) MÉDIA: 3,5

Writhes In The Murk ( Debemur Morti Productions ) MÉDIA: 3,6

C A R L O S F.

C A R L O S F.

C A R L O S F.

EDUARDO R.

EDUARDO R.

EDUARDO R.

ERNESTO M.

ERNESTO M.

ERNESTO M.

S É R G I O T.

S É R G I O T.

S É R G I O T.

LISA Z.

LISA Z.

LISA Z.

ADRIANO G.

ADRIANO G.

ADRIANO G.

V I N T E R SORG

Naturbal (Napalm Records) MÉDIA: 3,5

C A R L O S F. EDUARDO R.

Obra - Prima

ERNESTO M.

Excelente

S É R G I O T.

Esforçado

LISA Z. ADRIANO G.

Esperado

Básico

8 / VERSUS MAGAZINE


ULTRA UNDERGROUND NE S TA S E G U ND A R U B R IC A DEDICADA A B A ND A S U LTR A D E S C ONHECIDAS, D E C ID IM O S TR A Z E R PA R A A S LUZES DA R IB A LTA O S K ATA C LY S M U S (*). ESTA B A ND A TE M A L G O D E PA RTIC ULAR, ALGO Q U E A D IF E R E NC IA D A S D E MAIS, ALGO Q U E C O L O C A M E S M O A L G U M A S QUEST ÕES À H U M A NID A D E ( E NÃ O S E TR ATA APENAS D E R E TÓ R IC A ) . O B TIV E M O S LICENÇA E X C L U S IVA PA R A R E V E L A R O S SEGREDOS D E S TE Q U A RTE TO E M P R IM E IRA MÃO NA C O M U NIC A Ç Ã O S O C IA L . Virtualmente desconhecidos do grande público, estes Kataklysmus, presentemente nos E.U.A., são uma banda que consegue, nos seus concertos, aplicar efeitos visuais como nenhuma outra. A faceta mais inacreditável assenta na capacidade de fazer da força da gravidade gato-sapato: ao facto de todos os elementos (Sirius, Centaurus, Andromeda e Orion) tocarem – com uma perfeição quase inumana – todos os instrumentos, junta-se uma brecha no conhecimento das regras da física, que faz com que, ao largarem o solo, pareçam puxados para cima pela força da música que executam, transportados para fora dos limites da gravidade como se esta fosse um portal para uma dimensão extra, em que as forças do Universo se tornem moldáveis, configuráveis em função do ligar e desligar de um interruptor. Numa sustentação inumana, todos os elementos

da banda se dão ao luxo de pairarem por cima do palco, por cima do público, hipnotizando todos aqueles que sabem que não se trata de efeitos especiais elaborados. Nós não pudemos assistir in loco a nenhum espetáculo da banda, mas falamos com quem já assistiu e ainda mais estupefactos ficamos, quando nos disseram que todo o público fica como que ligado por uma vontade superior. A partir do primeiro par de temas, ninguém mais controla os respetivos movimentos: o corpo passa a ser guiado por uma força ditando com precisão – músculo a músculo, tendão a tendão, osso a osso – como cada um e todos se movimentam involuntariamente. É um estar no próprio corpo e ao mesmo tempo longe dele, toda a gente da plateia envolvida numa autêntica oscilação involuntária e coletiva! No final de um dos últimos concertos, foi-nos possível estar à conversa com a banda, após mais um espetáculo realizado na América do Sul (cuja localização exata não estou autorizado a divulgar). Não sei se fiquei aterrorizado ou estupefacto, com a história deste quarteto: de certeza que fiquei incrédulo. Algures, há cerca de 4 milhões de anos, deuse o primeiro contacto com seres surgido no planeta Terra. Sabe-se que, há cerca de 8 milhões de anos, a linha evolutiva dos humanos separou-se do trilho dos símios. Porém o planeta já era há muito estudado por uma espécie alienígena. Essa espécie (os Zblarton) foi esperando pelo momento ótimo para se poder integrar no planeta. Então, há 4 milhões de anos, estes Zblarton decidiram –

KATAKLYSMUS POR: SAOEI devido às semelhanças entre a sua fisiologia e a dos nossos antepassados bípedes – colonizar o nosso planeta, numa escala muito reduzida. O que aconteceu nestes 4 milhões de anos foi uma linha evolutiva principal a que corresponde hoje a raça humana e, como o leitor deve estar a adivinhar, a evolução paralela dos Zblarton, em muito menor escala. Atualmente existe uma comunidade underground de Zblarton entre nós, que não tem expressão considerável em termos de números, sendo uma minoria entre os habitantes do planeta. Mas trata-se de uma minoria com uma adaptabilidade inconcebível! Os únicos elementos conhecidos desta espécie são os membros dos Kataklysmus, algo que foi decidido agora mesmo na comunidade Zblarton ser abertamente revelado. E é aqui que se colocam as questões à humanidade que mencionamos no início deste texto. Sirius, Centaurus, Andromeda e Orion foram os eleitos para que os Zblarton se dessem a conhecer à raça humana. Estaremos nós preparados para esta revelação? Não somos os únicos no Universo e os Kataklysmus são a prova real e palpável disso mesmo! Estes seres partilham parte da genética dos humanos, o que claramente se revela

na fisionomia. Mas, a sua música – capaz de hipnotizar tudo e todos os que aparecem nos espetáculos – já revelava contornos altamente distintivos – logicamente inumanos. Perdidos algures num misto de sentimentos, que vão do quase terror até a uma satisfação transcendente por termos sido o porta-voz dos Zblarton para o mundo dos humanos, sendo o elo que pode finalmente ligar a raça humana a outras formas de vida no Universo, despedimonos, prometendo desde já aos leitores a divulgação em breve de uma entrevista em vídeo com estes Kataklysmus. Será uma entrevista gravada, mas que permitirá aos nossos leitores aceder em primeira mão à revelação de algo muito superior a tudo o que a raça humana já descobriu até hoje: uma forma de vida surgida algures numa galáxia, que pode ou não ser a nossa, mas que coexistiu e evoluiu em simbiose perfeita connosco humanos. (*) toda e qualquer semelhança desta narrativa com a realidade é pura coincidência.

9 / VERSUS MAGAZINE


ENTREVISTA

“[…] DEIXEI-ME FASCINAR PELA IDEIA DA EXISTÊNCIA DE UMA LUZ INTELIGENTE, SENCIENTE. […]”

DARK FORTRESS © Christian Martin Weiss

DARK FORTRESS DELIGHTS AND ANGERS MO R E A N , V O C A LISTA DOS DARK FORTR ES S E C R I A D O R D E H I S TÓ R I A S D E H O R R O R “N A S HORAS VAGAS” E COM POS I TO R C LÁ S S I C O DE P R O FI S S Ã O , FALA -NOS DO Ú LTI M O Á L B U M DA BANDA - «VENEREA L D AW N» - E D A S A LEG R I A S E TR I S TEZA S , D A S A MB IÇ Õ E S C O N CRET IZADAS E DAS IDEI AS A A G U A R D A R R EA LI ZA Ç Ã O A ELE A S S O C I A D A S . D A Í Q U E T E N H A MOS PEDIDO EM PRESTADO A U MA O U TR A B A NDA O TÍ TU LO D E U MA MÚS I C A S U A Q U E MU IT O A P R ECIAM OS PARA T RADUZIR O ES S ENCI A L D ES TA B ELA ENTREV I S TA. BO M PR O V EI T O ! Por: CSA

ESTOU ME SMO FASCIN A D A P O R ES T E ÁLBUM. PARA MIM, E VOC A U MA ES P ÉC IE D E APOCAL IPSE . E RA E SSA A ID EIA D E PA RT ID A ? M OREAN: Morean: Penso que aí 90% de tudo

o que é feito no metal extremo se relaciona, de algum modo, com o apocalipse, mas tentámos mesmo apresentar uma encenação original do mesmo neste álbum. A luz do sol converte-se no inimigo invisível, que vai destruir tudo, aniquilar a natureza e a civilização. Foi interessante investigar a 1 0 / VERSUS MAGAZINE

questão da forma como um humano poderia sobreviver num meio tão hostil e, em termos biológicos, deixei-me fascinar pela ideia da existência de uma luz inteligente, senciente. A capa do álbum procura representar esta situação – um mundo em ruínas, em que a luz é o inimigo invisível – no estilo em que um velho mestre teria pintado uma tal paisagem, usando óleo em tela, o que não foi uma tarefa fácil de levar a cabo.

L I A T U A S I N O P S E D O C O N C E I T O SU BJACENTE « V E N E R E A L D AW N » . T R ATA - S E DE UMA H I S T Ó R I A FA N T Á S T I C A C R I A D A ANTES DA M Ú S I C A , O U D E C O R R E U D E S TA ? M O R E A N : Aconteceram em simultâneo, de

um modo geral. Este conceito veio-me à ideia em 2011, quase dois anos antes de as canções que agora constituem o álbum terem sido escritas. Na altura, não sabia em que é que essa ideia se iria converter, mas o início estava claramente desenhado na minha


“[…] ESTAMOS A FAZER O NOSSO MELHOR PARA EXPRIMIR POR ESSA VIA VISUAL OS MUNDOS PRESENTES NA NOSSA MÚSICA. […]” mente, até aos mais ínfimos pormenores. Pareceu-me prudente esperar até conseguir ver em que direção seguiria a música, portanto, quando as canções começaram a formar-se, o Santura e eu passámos muito tempo a tentar adaptar uma à outra a sua conceção da música e a minha conceção das letras. É um processo de dar e tirar, mas cada um de nós sempre quis que o outro tivesse liberdade suficiente, no respetivo campo, para conseguir concretizar a sua forma de ver este álbum, tão ilimitadamente quanto possível. A banda ficou um tanto traumatizada depois do segundo álbum, porque as letras foram escritas antes da música e foi preciso subordina-la a elas e, aos olhos deles, isso deu cabo do álbum. Enquanto escritor, sou suficientemente flexível para fazer a versão instrumental das canções exprimir as minhas ideias e não gostaria nada de que outros tentassem dizer-me como deveria escrever as respetivas letras, portanto este sistema é o ideal para nós.

POR QUE FAL AS DE U MA “ MA D R U G A D A VENÉRE A”? ACRE DITAS QU E O MU N D O VA I S ER DESTRUÍDO POR DOE NÇAS O R IG IN A D A S P ELO S SEUS E XCE SSOS? M OREAN: Apesar da palavra “venéreo” não

ser forçosamente empregue numa aceção sexual – aqui significa apenas “venusiano” e, na expressão “doença venérea”, significa apenas doença do sangue –, não me custa nada acreditar que a espécie humana vai ser extinta devido a toda a sua idiotice. Não estou propriamente a pensar numa catástrofe externa, como a queda de um meteoro ou o advento de uma nova idade do gelo. Mas, mesmo que entretanto adquiramos alguma da sensatez que nos tem faltado até agora e que nos permitiria deixarmos de nos comportar como os primatas domesticados que ainda somos, o sistema cósmico e ecológico que nos rodeia está tão fragilizado que a mais leve alteração da órbita da Terra ou qualquer mudança – como, por exemplo, o desaparecimento do gulf stream ou a subida da temperatura global – chegará para submergir a maior parte da terra no oceano – significaria o nosso fim. O tempo já está contra nós, como espécie intimamente ligada à Terra, se não nos aventurarmos o suficiente no espaço, porque uma coisa é certa: daqui a um bilião de anos, da Terra só deve restar um pedaço de pó consumido pelo fogo, sem nada vivo.

PENSA STE E M FAZ E R U M ACOM PANHAR O ÁL BUM?

FILME

PA R A

M OREAN: Pois, não é proibido sonhar…

Alguns dos membros da banda são grandes cinéfilos e eu sei exatamente o que é necessário fazer, como filmar e com quem trabalhar, se nos fosse dada essa oportunidade. De momento, a única coisa que podemos oferecer aos nossos fãs é um vídeo, que estamos a preparar atualmente, com meios muito modestos, como sempre. Mas, tendo em conta o que é possível fazer, com pouco tempo e dinheiro, estamos a fazer o nosso melhor para exprimir por essa via visual os mundos presentes na nossa música.

QUEM F E Z A CAPA DO Á LB U M? C O MO FO I FEI TA? NÃO PODIA E STAR MA IS A D A P TA D A A O CONCE ITO SUBJACE NTE A «V EN ER EA L D AWN ». M OREAN: É um quadro original, pintado a óleo, que encomendámos especificamente

para este álbum e que foi feito tendo em conta a forma como este universo aparecia na minha mente, quando a inspiração para fazer este álbum se manifestou. Fiquei arrebatado, quando vi o que o Nespress fez com as minhas ideias. Neste caso, podemos realmente dizer que a arte gráfica, a música e as letras para o álbum foram criadas em conjunto, durante um período de tempo mais longo do que o habitual, por uma pequena equipa de mentes criativas, que se entenderam perfeitamente umas às outras. Nunca mais quero trabalhar de outra forma!

S Ã O FÃ S D E N O V E L A S G R Á F I C A S , TA I S C O M O AS DO GRANDE ALAN MOORE E TODOS OS A RT IS TA S Q U E F I Z E R A M O S D E S E N H O S PA R A A S S U A S T EN EB R O S A S E E S PA N T O S A S C R I A Ç Õ E S ? MO R EA N: Não sou um perito em novelas gráficas, mas adoro as visões de Alan Moore e também sou fã do trabalho de artistas como John Coulthart, Alex Grey ou Aeron Alfrey, cada um com a sua fantástica maneira pessoal de ver os horrores sobrenaturais e as dimensões psiconauticas de que todos gostamos, mas que poucos conseguem traduzir para arte gráfica. E, a propósito, eu continuo à espera do primeiro filme decente inspirado no trabalho de Lovecraft. Acho incrível que, até a este momento e nesta era, em que há filmes inteiros feitos apenas com recurso ao computador e praticamente tudo o que possamos imaginar em termos visuais pode ser concretizado, ainda ninguém tenha tentado criar monstros cósmicos e multidimensionais usando as técnicas que são postas ao serviço da encenação de estúpidos acidentes de viação e cenas de luta que vemos a toda a hora e momento nos filmes atuais. De vez em quando, aparece um monstro decente – por exemplo, em “Cloverfield” – mas, geralmente, os filmes dessa natureza são péssimos – como é o caso de “Pacific Rim”, por exemplo, que para mim foi uma grande deceção. No fim de contas, os monstros acabam por ser um horror qualquer com quatro patas, dotado de grandes dentes, que faz um barulho do tipo “WCHCHCH” e que um soldado depressa destrói. Quero filmes com criaturas diferentes, que não sejam humanas (a não ser para serem devoradas pelas não humanas) e histórias com um argumento diferente.

C O N V ID A R AM , A L G U É M PA R A FA Z E R O S A R R A N J O S O R Q U E S T R A I S N E C E S S Á R I O S PA R A ES T E Á LB U M ? MO R EA N : Sim: eu próprio. Na minha vida diária, sou compositor clássico. Portanto, na nossa banda, não precisamos de nos preocupar, quando é preciso alguém para trabalhar nesse campo.

E Q U EM C O N V I D A R A M PA R A A S V O Z E S FEMIN IN A S Q U E P O D E M O S O U V I R E M A L G U M A S FA IX A S ? MO R EA N :

Para os coros da faixa que deu o título ao álbum e de “Betrayal and Vengeance”, pedimos a colaboração de amigos, que vivem na nossa cidade natal: Anja Braeutigam, soprano; Monika Bullok, mezzosoprano; Mortal (que já tinha feito os vocais limpos de “Wraith”, uma faixa do «Ylerm»), tenor; e Mehothra, que tocou connosco em várias bandas (The Shroud, Sleep Is Wrong, The Beelzebuben e até num ensaio de Noneuclid), no baixo. A cantora a solo de “On Fever’s Wings” é uma incrivelmente talentosa jovem tunisina

chamada Safa Heraghi. Ainda é completamente desconhecida, mas isso mudará rapidamente, se nós pudermos ajudar. Todos os que trabalharam connosco neste álbum são amigos íntimos da banda. Assim, pudemos encontrar exatamente o que pretendíamos, porque estas pessoas têm exatamente os talentos de que precisávamos para atingir os nossos objetivos. E nós sabemos sempre o que queremos e por que o queremos.

P O D E M O S C O N S I D E R A R Q U E E S TE ÁLBUM M A R C O U U M A M U D A N Ç A D E D I REÇÃO NA C A R R E I R A D E D A R K F O RT R E S S O U R EPRESENTA A P E N A S U M A E V O L U Ç Ã O N AT U R A L DECORRENTE DO TRABALHO ANTERIOR? M O R E A N : Aí está uma pergunta difícil, a que

é impossível responder. Nós vemos o álbum como uma continuação lógica do trabalho que temos vindo a desenvolver, não como uma rutura com o passado. É evidente que algo mudou,

P E N S A R A M E M A L G U M A S R O U PA S E A DEREÇOS PA R A O S C O N C E RT O S D E A P RESENTAÇÃO DESTE ÁLBUM AO VIVO? M O R E A N : Essa parte está no mesmo estádios

que a ideia do filme. A história subjacente a este álbum tem uma forte componente visual e poderíamos fazer muitas coisas a partir dessa componente, se tivéssemos os meios e o tempo necessários. Mas a realidade limitanos muito. A banda não nos traz proventos dignos desse nome e somos demasiados pequenos para pensarmos em montar um espetáculo para grandes palcos, implicando roupas, uma iluminação complexa, efeitos especiais e adereços, etc. Afinal, nove em cada dez vezes que atuamos, o que nos pedem é que montemos o nosso material num palco já todo desarrumado e estejamos prontos para tocar vinte minutos depois. É claro que o espetáculo relativo a este álbum será um pouco diferente, mas não muito, porque estamos muito limitados no que podemos realmente fazer. Adoraríamos poder um dia fazer o espetáculo como o imaginámos. Tivemos imensas ideias… mas, deste modo, temos de fazer o melhor que pudermos com o que temos à mão. Mas, uma vez que tudo depende essencialmente da música e que, no que toca a essa parte, tentamos sempre fazer o nosso melhor, esperamos sinceramente que as pessoas não sintam muito a falta de uma grande produção visual. Uma coisa podemos prometer: as atuações vão ser muito intensas!

“[…] CADA ÁLBUM FOCASE EM ALGO DIFERENTE E O Q U E É M A I S D E S TA C A D O NUM DELES PODE TER UM PA P E L B E M M A I S A PA G A D O NO SEGUINTE. […]” WWW.FACE BOOK.COM/OF F ICIAL DARKFORT RESS HTTP://YOUTU.BE /G YAESN VM _ HA

11 / VERSUS MAGAZINE


ENTREVISTA

“[…] É LITERALMENTE A MINHA CASA PORQUE ESTÁ EM CASA. FOI ALGO QUE “LUTEI” PARA TER E QUE SEMPRE QUIS. SEMPRE SENTI QUE ERA A MINHA VONTADE, VOCAÇÃO, JEITO […]”

CAOS ARMADO ESTUDIOS O QUE É NACIONAL... É BOM! DESTA VEZ NA VERSUS ENTREVISTAMOS UM DOS JOVENS (IMERGENTES) PRODUTORES NACIONAIS – DANIEL VALENTE. UMA ENTREVISTA BEM-DISPOSTA ONDE FICÁMOS A SABER UM POUCO MAIS SOBRE AS DIFERENTES FASES DE GRAVAÇÃO - MASTERIZAÇÃO E PRODUÇÃO - ASSIM COMO É VIVER DA MÚSICA EM PORTUGAL. O CAOS ESTÁ POIS, ARMADO! Por: Eduardo Ramalhadeiro PA R A A B R I R AS HO S T I L I D A D ES . . . NA TU A PA G INA D O FA C E B O O K T E M L Á A SE GU I N TE FR A S E: ”ES TA É A M I N H A P R I M E I RA CA S A . O M E U ES TÚ D I O . ”. P O R Q U Ê? D A N I EL VA L E N T E : É verdade, é literalmente a minha

casa porque está em casa. Foi algo que “lutei” para ter e que sempre quis. Sempre senti que era a minha vontade, vocação, jeito, sei lá…Sempre senti que era o que estava pré-destinado a fazer. Assim que consegui, senti que estava finalmente em casa e daí a vontade de fazer todos perceber onde estava.

S E B EM ( P O U C O ) T E CO NH EÇ O , V IV ES D A TU A “ M Ú S I CA ” . Q U Ã O D I F Í CI L É PA R A TI E S E Q U IS ER ES EX T R A P O L AR , PAR A O U T RO S Q U E FA ZEM D ES TA V I D A O SE U SU S T E N T O , V I V ER D A MÚ S IC A EM P O RT U G AL ? Q U A I S S Ã O O U F OR A M A S TU A S MA I O R ES D I F I C U L D A D E S? D .V.: Sim, da “música” e e mais algumas coisas que 1 2 / VERSUS MAGAZINE

a envolvem. E não da minha, (no final de um disco sinto-a mais como um filho criado…!) mas da que “passa” por mim… Neste momento sou mais o interface criativo das bandas com quem trabalho. Quanto a sobreviver da arte musical, “não é nada fácil” é algo um pouco gasto para descrever o que realmente é. Na realidade tive que abdicar de uma grande parte dos confortos de uma vida “normal”. Os valores materiais são outros e os valores humanos do dia a dia também são muito diferentes. O nível de dedicação tem que ser total, é uma constante procura de conhecimento e é uma eterna luta de David contra Golias! Os padrões neste momento são altíssimos, o nível de qualidade exigida é surreal e despertam num produtor/técnico as capacidades que eles ainda não sabem que têm ou sequer que existem. Para se poder ter sustento de algo assim tem que se ser muito comedido em todas as decisões, quer de investimentos, quer da própria qualidade de vida pessoal. A dificuldade é constante e nunca há tempo para pausas. Não sei como é nos outros países, mas por cá…se queres

ser autêntico e fazer só as coisas que gostas…não é fácil…

TU E O TE U E STÚDIO JÁ TÊ M AL GUM A ( BOA) FAM A F E ITA NE STE M E IO. COMO F OI CHE GAR AT É AO DI A D’HOJE ? NE STE TE U TRAJE TO MUDARI AS ALGUM A COISA NA TUA F ORM A DE TRABAL HAR? D.V.:

Sinto a cada dia que passa, que o reconhecimento é proporcional à minha dedicação. As bandas com quem trabalhei reconhecem a minha entrega à sua criatividade e o meu esforço de os tornar melhores músicos. Esse é sempre o meu principal objectivo, aprender com quem trabalho e fazer aprender ao mesmo tempo. Sinto a evolução de cada músico, sempre que os gravo num novo disco. Isso para mim é a melhor conquista! A única coisa que mudava era ter começado bem mais cedo, mas como sempre dependi de mim mesmo para tudo, chegar até ao dia d’hoje, mesmo que começasse novamente, iria-se repetir. Por isso dou-me por quase totalmente satisfeito neste momento.


“[…] TIVE QUE ABDICAR DE UMA GRANDE PARTE DOS CONFORTOS DE UMA VIDA “NORMAL”. O NÍVEL DE DEDICAÇÃO TEM QUE SER TOTAL, (…) PARA SE PODER TER SUSTENTO DE ALGO ASSIM TEM QUE SE SER MUITO COMEDIDO EM TODAS AS DECISÕES, QUER DE INVESTIMENTOS, QUER DA PRÓPRIA QUALIDADE DE VIDA PESSOAL.” […]” EU S E I QU E N Ã O “ FAZ E S ” SO M S Ó PA R A B A ND A S D E M Ú S I C A , TA M B É M FA Z E S OU T RO TI P O D E TR A B A LH O S . O Q U E É M A I S DI F Í CI L OU QU E TE C U S TA MA IS FA ZER ? B A N D A S D E RO C K / M E TA L , MU S IC A TR A D IC I O NA L P O RT U G UE SA , C O M Í CI OS ? Q U E D I FER ENÇ A S H Á EN T R E E S TA VA R I E D A D E S O N OR A ? O S TEU S MÉTO D O S VA R I A M ? D .V.: Bem, como tenho a liberdade de escolher,

normalmente evito ao máximo fugir da minha área de conforto. Que é a música :) No meio aconteceram alguns episódios menos felizes que gosto de não recordar :D Não vou numerar nenhum, mas deixo um conselho, por favor não me convidem para comícios…! No som ao vivo ao contrário do estúdio, as variáveis para tudo correr mal aumentam, o descontrolo é maior e o estilo/tipo de trabalho também tem muita influência nas decisões. Os métodos variam muito! Mas mesmo assim existe sempre uma factor comum a todos eles, que é a fonte. A qualidade da fonte. Ou seja, mais uma vez, a qualidade do músico… Daí o meu eterno objectivo de fazer o músico, um melhor músico. O meu trabalho fica tão mais fácil.

PA S S A N D O AO S AS P E T O S UM P O U C O MA IS TÉC NIC O S E ES PE CÍ F I CO S : T U P R O D U ZES , MIS TU R A S E M A S T ER I Z A S . E U SE I QU E PA R A TI, O Q U E V O U P E R G U N TA R , É D E M AS I AD O Ó B V IO MA S A Q U I PA R A O S N O S S O S L E I T OR E S, O QU E D I S TING U E ES TA S TR ÊS FA ZE S ? ( R E SP O N DE S S E QU I S ER ES . . . ) Q U E TI P O D E EQ U I PA M E N T O US A S PAR A M I S TU R A R E MA S TER IZA R ? D .V.: Bem, vou tentar não me alargar muito…

Produção para mim é a parte divertida, é a altura em que posso me sentir mais músico e contribuir com as minhas vivências musicais. Construir, desconstruir, recriar, é como se tivesse uma caixa de legos nova! E a parte ainda mais divertida é que como sou eu que depois misturo, de repente já nessa fase, vem uma ideia e aparece mais qualquer coisa nova. Ou seja, produzir basicamente é pegar numa caixa de legos com instruções e fazer um lego totalmente diferente do que era suposto. A descrição não é muito técnica mas acho que ilustra bem… Mistura é a altura de muitas decisões. Aqui vem ao de cima o protagonismo de cada músico. É preciso saber gerir para além de padrões qualitativos, os elementos importantes que contribuem em cada momento para o equilíbrio. Saber gerir o que cada parte da música exige sem ferir o ego de cada músico, é um trabalho exigente e psíquico. Tem que se agradar a todos e sempre com um olho no ouvinte final. Quanto à parte técnica, somo as pistas todas em analógico, numa TL Audio VTC. A maior parte do processamento é feito dentro do computador, aos poucos está a passar para o tradicional analógico, mas como os equipamentos analógicos são mesmo muito caros, tem que ser um investimento progressivo e lento. Mas o meu objectivo é tornar o processo pelo menos 90% analógico, neste momento devo ir nos 65%… A masterização é ITB (in the box ou dentro do computador). É aqui que ando de um lado para o outro a ouvir em tudo que é sítio, tudo o que é altifalante é objecto de análise e factor de decisão na masterização final. Só as escutas todas do estúdio não chegam…A opinião de pessoas que confiamos também conta.

Q U A L DE STAS 3 FA S E S É A MA IS C O MP LIC A D A E A M A I S I M P O RTAN T E PAR A A I D ENTI D A D E D E U M ÁLBUM? D .V.:

Bem, tirando a masterização que é definitivamente a mais técnica, tanto a produção como a mistura definem a identidade do trabalho. Pessoalmente a produção. Mas tem dias que mudo de opinião…

S E N D O T U F R E E L AN CE R, B A S IC A MENTE, A S B A ND A S PA G A M PAR A T U GR AVA R E S O Q U E ELES Q U ER EM, D A M AN E I RA C O M O E L E S MA IS G O S TA M, C ERTO ? Q U A N D O T U SA B E S DE A N T E - M Ã O Q U E O P R ETEND I D O VA I S AI R U M A C A G A D A , QU A L É A TU A ATI TU D E P E R A N T E O GR U P O ? D .V.: Aqui entra a veia de psicólogo de todos os produtores…Os egos são seres adormecidos que convém nunca despertar…reconheço que é preciso uma sensibilidade especial para se conseguir “dar a volta” a um ego com um sono pouco profundo. Mas

basicamente é fazer alguém perceber por outras palavras em vez de “Ei que cagada é que estás para aí a fazer!?” que podemos chegar ao mesmo porto de uma forma mais criativa. O produtor tem que ter conhecimento/causa, saber mostrar outras formas de se fazer, dar a possibilidade ao músico de escolher…Quando o músico se apercebe da diferença, ele é o primeiro a querer! É a forma como mostras que faz a diferença. No final estamos todos para o mesmo e os egos mesmo os mais sensíveis nunca chegam a aparecer.

o mais transparentes possíveis, que preservem ao máximo o factor dinâmico de cada música.

NA S EQ U ÊNCIA DA PE RGUNTA ANTE RIOR E DADA A TU A VA S TA CULTURA M USICAL , ACRE DITO QUE TU O S A C O NS ELHE S A M UDAR. SE M E SMO ASSIM E L E S Q U IS ER EM SE GUIR O CAMINHO DE L E S, NÃO SE NTE S Q U E O NO ME DO TE U E STÚDIO ASSOCIADO AO QUE P O D E S ER U M MAU ÁL BUM TE PRE JUDIQUE ?

ANTE S DE IRE M PARA E STÚDIO, O Q UE É QUE T U ACONSE L HAS A E STAS MIL HARE S DE BAN DAS DE GARAGE M QUE PRE TE NDE M GRAVAR, UM DI A, UM CD?

D . V. : Todas as pessoas têm bom senso, é só preciso um pouco mais de paciência e sempre se chega a um bom termo. Não gosto de impor o meu gosto pessoal acima do da banda, aliás, transformo-me um pouco e passo a ser o outro elemento da banda. Apenas mais um elemento com uma visão um pouco mais periférica. Um álbum menos bom também é bom, significa que és terrestre, real e acessível a todos. É isso que eu gosto de ser! Se no final for menos bom, tenho sempre a consciência que no início era pior. E mesmo sendo um trabalho menos bom posso continuar a orgulhar-me do que consegui no final

NA TU A O P INIÃO, QUAL A ME L HOR F ORM A DE GRAVAR O S I NS TR U M E NTOS? JÁ VI BANDAS A GRAVAR TUDO J U NTO , B ATE RIA PRIME IRO, OUTRAS HÁ QUE GRAVAM EM PA ÍS ES DIF E RE NTE S...

JÁ AL GUÉ M TE PE DIU PARA GRAVAR ALGO N ESTAS CIRCUNSTÂNCIAS? D.V.: Que me lembre, acho que não… Claro que o pessoal gosta que o álbum soe alto. Mas eu normalmente recomendo aumentar o volume do leitor. Coisa que eles fazem e todos ficam felizes.

D.V.: Sejam autênticos, não oiçam demasiado um

único estilo musical, não queiram ser a banda que mais gostam, sejam humildes e por favor, comprem um metrónomo. Quando estiverem totalmente à vontade com ele encostem-no e façam música espontaneamente.

ACHO QUE A E NTRE VISTA JÁ VAI L ONGA. M AS AN T ES DE TE RMINAR, AS DUAS ÚLTIM AS D ECLARAÇÕES: QUAIS F ORAM OS PIORE S E ME L HORES M ÚSI COS/ BANDA QUE PASSARAM PE L O CAOS ARM ADO EST ÚDI O. D.V.: Ui…Isso é como perguntar a um pai de que filho gosta mais… :-))) !!!! Existem bandas em que o produto final não foi tão bem conseguido, outras mais, mas em todas aprendi e me senti realizado por fazer aquilo que escolhi e gosto. No final para além de todo o trabalho ficam sempre novos laços de amizade. Não há nada que supere isso!

D . V. : Para mim não existe uma melhor forma…

Existem formas mais confortáveis mas que não têm a suposta influência no produto final. A criatividade não tem limites de paredes ou distâncias. Passa muito para além disso.

J Á A G O R A , QUAL É O MAIS COMPL ICADO DE GRAVAR? B ATER IA , C ORDAS OU VOZ ? D . V. : Complicado… Não sei se será esse o termo…

Trabalhoso talvez…A bateria é bastante trabalhosa. Complicado são todos… Existem tantas formas de se fazerem as mesmas coisas, tantas técnicas, tantos tipos de instrumentos, micros, prés, compressores…É mesmo muita variável no que toca à captação.

H O J E EM D IA TODA A GE NTE UTIL IZ A COM PUTADORE S NO P R O C ES SO DE GRAVAÇÃO, E TC. O QUE É QUE TU A C H A S D A U TIL IZ AÇÃO DA CORRE CÇÃO DIGITAL PARA D IS FA R Ç A R AS DE F ICIÊ NCIAS DOS MÚSICOS, (NÃO O S ER R O S PONTUAIS) “AUTO TUNE S”, E TC. ACHAS Q U E A O V I V O E A CURTO/M É DIO PRAZ O A “SE L E CÇÃO NATU R A L” ACABARÁ POR OS E L IMINAR DE STE “C I R C U I TO ”? D . V. : Existem muitas ferramentas para nos ajudar.

Até demais talvez. Gosto de usar algumas como um processo de exploração. Muitas vezes um músico não está na fase da sua vida capaz de chegar ao que se é pretendido. Essas ferramentas muitas vezes vêm mostrar o que se pode fazer. No álbum fica o que é pretendido, o músico vai para casa estudar isso, aprende e evolui. Para mim esta é a forma de se usar essas ferramentas. Isto quando se é comedido…Quando se usa uma coisa num álbum e outra ao vivo é obvio qua a selecção natural vai eliminar os menos bom. Ninguém gosta de ver um mau concerto duas vezes…

NO NÚ MER O ANTE RIOR DA VE RSUS E NTRE VISTE I O D A N S WA NÖ ACE RCA DA “L OUDNE SS WAR”. SE NDO TU , TA MB ÉM, UM PRODUTOR E MASTE RIZ ADOR, O Q U E A C H AS DA MÚSICA SE R E L E VADA A NÍVE IS S O NO R O S ESTÚPIDOS, PRE JUDICANDO TODA A D INÂ MIC A MUSICAL ? D . V. : Os dias de hoje levaram a uma evolução no mau caminho. Muitas outras parecidas já aconteceram. Acho que isto é uma questão de tempo, mais uma vez a selecção natural das coisas vai mudar o rumo. A dinâmica musical esmagada é algo que se sente claramente. Acho um assunto muito importante e tento sempre usar os limitadores

“[…] NO ÁLBUM FICA O QUE É PRETENDIDO, O M Ú S I C O VA I PA R A C A S A ESTUDAR ISSO, APRENDE E E V O L U I . PA R A M I M E S TA É A FORMA DE SE USAR E S S A S F E R R A M E N TA S [ … ] ” WWW.FACE BOOK.COM / CAOSARM ADO CAOSARM ADO@GM AI L.COM

13 / VERSUS MAGAZINE


ENTREVISTA

“[…] CONSIDERO-ME COMO UM ARTISTA MULTIDISCIPLINAR. TENHO UMA FORMAÇÃO [CLÁSSICA], MAS ADORO EXPERIMENTAR DIFERENTES TÉCNICAS […]”

PAINTING © Daniel Van Nes

DANIEL VAN NES CONSTRUINDO CASTELOS NO AR! É U M C U LT O R DAS BELAS ART ES, M AS NÃO D ES D ENHA A P R O X I MAR -S E D O MUNDO D A MÚ S I C A E X TR E MA . A S U A T RANSVERSALIDADE E A I MENSA SENSI B I LI D A D E PER MI TEM-LH E CI R C U LA R C O M I G U AL C O N F O RT O ENT RE A PINT URA, A GRAVU R A , O V Í D EO , O D ES ENHO . TOD O S S A EM A G A N H A R ! ! ! Por: CSA AO PERCORRER O TEU PORTEFÓLIO, APERCEBI-ME DE QUE ÉS MUITO MAIS UM PINTOR E UM ESCULTOR DO QUE UM ARTISTA GRÁFICO DEDICADO AO TRAB ALHO COM BANDAS QUE FAÇAM MÚSI CA EXTREMA. VÊS-TE ASSIM TAMBÉM? DANIE L VAN N E S : Obrigado por gastares

algum do teu tempo a mergulhar no meu trabalho. Considero-me como um artista multidisciplinar. Tenho uma formação relacionada com as artes clássicas, mas adoro 1 4 / VERSUS MAGAZINE

experimentar diferentes técnicas para me familiarizar com elas. O meu principal objetivo é criar o meu “próprio” mundo, para me afirmar como um artista independente. As minhas obras têm sido exibidas no mundo inteiro, a começar pelo New York Comic-Con. Quando trabalho para uma banda, tem de haver alguma conexão entre a minha perspetiva e a deles. Interesso-me muito pelo que move os outros artistas e o público em geral. Esta curiosidade aproxima-me da música extrema e de muitos outros meios e formas de comunicação. O meu recente projeto com Dark Fortress é um excelente

exemplo de como me consigo envolver com todos os cérebros que estão associados a uma banda. No passado, trabalhei com artistas como Jonathan Davis, dos Korn, e Amanda Palmer e também consegui manter com eles o mesmo tipo de ligação. Como qualquer tipo de música me pode inspirar, não vejo razão para me dedicar exclusivamente a um género!

COM QUE FREQUÊNCIA TENS TRABALHADO COM BANDAS DE MÚSICA EXTREMA?


“[…] INTERESSO-ME […] PELO QUE MOVE OS [..] ARTISTAS E O PÚBLICO [O QUE ME APROXIMA] DA MÚSICA EXTREMA E DE [..] OUTROS MEIOS […] DE COMUNICAÇÃO. […]” D.V.N. : De vez em quando, aparece-me

um projeto, aí uma ou duas vezes por ano. Não é de modo nenhum o principal foco da minha arte, mas cada vez gosto mais de trabalhar para esse tipo de clientes. Há sempre algo a germinar na minha mente e nas dos meus amigos que são músicos. Certamente, não vais ficar surpreendida por eu te dizer que a música é uma das minhas principais fontes de inspiração.

PINTASTE UM QUADRO MAGNÍFICO PARA A CAPA DE «VENEREAL DAWN» DOS DARK FORTRESS. COMO FIZESTE PARA CRIAR – COM MOREAN E OS OUTR OS MEMBROS DA BANDA – ESTE UNIVERSO ALTERNATIVO, TÃO ADEQUADO AO ÁLBUM? D.V.N. : Obrigado pelo elogio! Trabalhei

de perto particularmente com Morean e foi verdadeiramente assombroso. Assim que comecei a trabalhar nesse projeto, as ideias começaram a nascer como cogumelos. Durante as nossas frequentes conversas sobre o universo e as criaturas de «Venereal Dawn», estavam sempre a materializar-se imagens no meu espírito, que me suplicavam que as registasse desenhando-as em papel ou pintando-as a óleo. Imergir em projetos desta natureza faz-te sentir que estás mergulhado naquele universo em decomposição, onde imperam uma luz destruidora e Lloigor. Foi maravilhoso!

QUE TÉCNICAS USASTE PARA CRIAR OS BELOS DESENHOS NEGROS QUE ADORNAM O LIVRO QUE ACOMPANHA O ÁLBUM? D.V.N. :

Usei lápis Conté e papel branco. A mina desses lápis é feita com cravão comprimido. Pareceu-me que seria adequado utilizar um material queimado para desenhar criaturas vindas de um mundo em chamas. Alguns desenhos – como “Luciform” – foram reproduzidos em negativo: logo, tudo o que era preto ficou branco e vice-versa. Assim, obtive o efeito de um desenho a branco feito em papel negro. Para fazer esse trabalho, usei a minha câmara, para inverter as imagens e verificar se conseguia obter o efeito desejado.

PINTAS FREQUENTEMENTE? FIZESTE ALGUMA EXPOSIÇÃO PINTURA?

JÁ DE

D.V.N. : Não com a frequência que

desejaria. Neste momento, estou mais concentrado na gravura. Alguns dos projetos que tenho em mãos requerem murais pintados e eu aproveito para dar largas a esse meu gosto. Costumo publicar esses trabalhos ou exibi-los

em exposições. As pessoas que quiserem ver o que ando a fazer só têm que subscrever a minha newsletter e terão acesso a todas as novidades. Em alternativa, podem consultar o meu website e as minhas páginas nas redes sociais.

OS HOLANDESES DERAM NOVOS MUNDOS AO MUNDO NO QUE DIZ RESPEITO À PINTURA. DE QUE FORMA ESTA HERANÇA CULTURAL SE REFLETE NA TUA ARTE? D . V. N . :

Adoro misturar imagens clássicas com as minhas próprias visões. As técnicas que uso são antiquadas, mas eu consigo transpôlas para materiais modernos e associálas a conceitos atuais e isso dá-lhes uma nova vida. Não é difícil encontrar a “dimensão holandesa” na minha arte. Sou louco por golas à moda do séc. XVI e rendas. Mas as minhas influências não ficam por aqui. Para mim, a verdadeira arte consiste em fazer uso da tua herança cultural, das tuas influências, combinando-as com ideias tuas e uma inspiração pessoal, do mesmo modo que um chef usa especiarias e ervas aromáticas para criar um novo prato. As pessoas que me inspiram são exímias nestas manipulações.

REALMENTE, APERCEBI-ME DE QUE, NESTE MOMENTO, TENS UMA GRANDE PREFERÊNCIA PELA GRAVURA. COMO FIZESTE AS QUE APARECEM NO TEU PORTEFÓLIO? D . V. N . : A técnica que mais uso foi

inventada por mim. Dei-lhe o nome de “Gravura Iluminada” [“Illuminated Engraving”]. Deriva das técnicas de gravação em madeira e cobre. A gravura é toda feita à mão, não uso quaisquer ferramentas elétricas. É um grande desafio trabalhar assim, porque não te podes enganar. Traças as primeiras linhas num material virgem e, a partir daí, vão surgindo centenas, milhares, centenas de milhar doutras linhas. Por muito pequena que a gravura seja, nunca demoro menos de duas semanas a fazê-la. As maiores levam três meses e, por vezes, um ano. Só há um exemplar, não faço reproduções nem impressões, como acontece normalmente com as gravuras.

COMO FIZESTE OS DESENHOS PARA AS TUAS OBRAS QUE PARECEM APRESENTAR LINHAS BRANCAS TRAÇADAS NUM MATERIAL ESCURO? ESTOU A PENSAR EM PEÇAS COMO “TRICKSTER”, “FLYBOY”, “FISH ON DRY LAND” OU “THE BOY WITH THE WORLD ON HIS MIND”, QUE ADMIREI MUITO.

D .V.N.:

Gravei-as num material transparente, portanto podes olhar através da imagem e ver a caixa em que está contida. Às vezes, pinto o fundo. Fiz isso em “Devil’s Acre”.

ADOREI O “SILVER HEART” E A PEÇA DE JOALHARIA GRAVADA. OS TEUS VÍDEOS TAMBÉM SÃO FANTÁSTICOS. QUE TRAÇOS UNEM TODAS AS TUAS OBRAS DE ARTE? QUE LINHAS DELIMITAM A PERSO NALIDADE ARTÍSTICA DE DANIEL VAN NES? D .V.N.: A realidade e a capacidade de

a (des)construir na minha imaginação. Com todos os meios que tiver à mão.

E O QUE NUTRE A TUA ARTE? D .V.N.:

Uma grande curiosidade por tudo o que me rodeia. O desejo constante de aprender. A capacidade de ser flexível, quando tal é necessário, e rígido, quando é preciso.

QUE PARTE TE COUBE NA CRIAÇÃO DO CONTO DE FADAS QUE FIZESTE COM JONATHAN DAVIS DOS KORN? ADOREI AS GRAVURAS EM COURO E OS MEDALHÕES EM METAL TAMBÉM GRAVADOS. D .V.N.: É um projeto em curso e ainda

não estabelecemos nenhuma data para a publicação. O livro conterá contos de fadas antigos e tenebrosos. Eu fiz o livro e uma série de esboços. Estamos a pensar em escrever o livro usando sangue…

TENCIONAS AVENTURAR-TE NO UNIVERSE DA LITERATURA PARA A INFÂNCIA? D .V.N.: Sim! De facto, quero explorar

qualquer tipo de literatura. É claro que será tenebrosa e misteriosa como tudo o que faço. O escritor que mais me inspira é Maurice Sendak. Também sou um grande fã de Neil Gaiman, Alistair Reynolds, Neal Stephenson… Não me puxes a língua para os escritores e os livros, que nunca mais me calo! Se me aparecer alguma oportunidade interessante relacionada com o universo da literatura, agarrá-la-ei com ambas as mãos. E fica a saber que, neste preciso momento, estou a trabalhar num pequeno projeto relacionado com o universo da criança.

W W W.NESSED.NL W W W. FA C E B O O K . C O M / D A N I ELVA NNESSS

15 / VERSUS MAGAZINE



MISSING IN ACTION

QUEM?

Joaquín Cardiel, Juan Valdivia, Pedro Andreu e Enrique “Bunbury”.

ONDE?

Espanha

QUANDO?

Década de 90.

COMO?

Joaquín Cardiel – Baixo; Juan Valdivia – Guitarra; Pedro Andreu – Bateria; Enrique “Bunbury” - Voz e guitarra

LANÇAMENTOS

El Mar No Cesa (1988); Senderos de Traición (1990); El Espíritu del Vino (1993); Avalancha (1995)

Consoante quem escreva, esta secção pode ter várias finalidades. Um simples reavivar de memórias, uma chamada de atenção ou porque simplesmente gostamos de uma banda ou artista já desaparecido. Para nós que vivemos, sentimos e respiramos música há muitos anos há um punhado de bandas que nos marcaram para sempre. Muito provavelmente, todas elas têm uma história, seja ela da primeira vez que foram ouvidas na rádio ou na casa do amigo que tinha uma aparelhagem melhor que a nossa e onda passámos tempos “infinitos”! Era uma manhã de sol, o café era novo e o convite surgiu para um cafézinho. Nesse dia, ele, o Rui, mostrou-me no walkman, algo que ele disse que era “muito fixe”. “Rolava” “Entre dos tierras” e n’altura “custava” um pouco ouvir rock ou metal que não fosse em inglês. Acho que me emprestou a cassete e a partir daí não mais deixei de ouvir os Héroes nem mais me esqueci do Rui – um amigo não de sempre mas que seria para sempre, não fosse a puta da vida atraiçoar-lhe. Os Héroes del Silencio, são por isso, muito especiais, não só pela música mas pelas memórias que trazem. São unanimemente considerados uma das maiores bandas espanholas. A sua carreira foi curta – doze anos – e quatro álbuns de estúdio e todos eles com “hinos” que muito dificilmente se esquecerão. A viagem começa com “El Mar No Cesa” e abre com o emblemático: “Mar adentro”, havendo, também, outros temas que se destacavam, como “Fuente esperanza”, ou “Agosto”. A produção não foi a melhor havendo grandes divergências

HEROES DEL SILENCIO POR: EDUARDO RAMALHADEIRO nesse aspecto. O próximo passo foi o grande passo que catapultou o espanhóis para o sucesso: “Senderos de Traición”. O meu primeiro contacto com os Héroes e já considerado pela banda como o melhor da curta carreira. Por incrível que pareça é considerado uma compilação, já que alguns temas teriam sido gravados em demos, maquetas e interpretados ao vivo. São os casos de “Entre dos Tierras”, “El cuadro II” e Maldito Duende”. As letras começaram a ser mais profundas, introspectivas e demonstrando vários sentimentos de raiva, melancolia e tristeza. O vício das drogas é abordado no tema “Hechizo”. Comparativamente ao anterior a produção está muito mais refinada e a cargo do conceituadíssimo Phil Manzanera, que trabalhou entre outros, Roxy Music ou David Gilmour. Em 1993 chega “El Espíritu del Vino” e com ele a confirmação plena do sucesso. A produção continuou a cargo de Manzanera e é considerado o que mais sucessos gerou. “El Espiritu...” mostranos os Héroes muito mais rockeiros. A música, letras e todo o aspecto estético tornaramse maisomplexos. Musicalmente, o guitarrista Mexicano, Alan Boguslavsky, junta-se ao grupo para apoiar Valdivia.

No entanto, as guitarras rítmicas foram gravadas por Manzanera. Visualmente é um disco carregado de simbologia, por exemplo, foi criado um anagrama para cada tema e um símbolo para cada membro da banda. “Avalancha” foi o quarto e último álbum. Com ele veio uma viragem musical e lírica e a inclusão oficial de Boguslavsky. Outra mudança importante foi o do produtor, para os não menos conceituados Andrew Jackson e Bob Ezrin. Ainda mais pesado e rockeiro que o seu predecessor, “Avalancha” mostra uns Héroes mais “amerecanizados” e mais maduros. No entanto, apesar da evolução nunca conseguiu igualar “El Espiritu del Vino”. “Avalancha” aparece no “Guitar Hero III: Legends of Rock”. Devido à sua produção é um disco que ainda consegue ser “muito actual”. Haveria muito mais para escrever mas este não é o objectivo. Os Héroes del Silencio continuam a ser uma das bandas de referência e fazem-me lembrar o Rui, esse que não era de sempre mas que continuará para sempre, tal como os Héroes del Silencio. Em 2013 Enrique “Bunbury” falou numa reunião...

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ENTREVISTA

“[…] NO PASSADO ERA EU QUE ASSUMIA A COMPOSIÇÃO, MAS DESTA VEZ VAMOS COMPOR COMO UMA BANDA […]”

HAKEN A ENTRADA ESTÁ SERVIDA! TAL C O M O N O S RE STAU R A N T E S S E S ERV EM ENTR A D A S , NO FU ND O PARA ESTA R M O S E N T R E T I DO S AT É Q U E NO S S EJ A S ERV I D O O P R ATO P R I NC I PAL , OS HAK E N A P R ES E N TAM - N OS U M “ RES TA U R O ” D E TEMA S D A P R IMEIR A DE MO. UM “ A B R E AP E T I T E ” DE C AT E G O R I A PA R A O “P R ATO ” P R INC I PA L S ERVIDO ALGU R E S E M 20 1 5 E QU E N ÃO HAVER Á D Ú V I D A S S ER Á U MA “R EFEI Ç Ã O ” D E TOPO. Por: Eduardo Ramalhadeiro OLÁ, RICH! OBRIGADO PELA ENTREVISTA E PARABÉNS PELO EXCELENTE EP. ACHO QUE JÁ OUVI ÁLBUNS MAIS CURTOS QUE ESTE.

NOVO. A QUESTÃO PRINCIPAL É: O QUE PODEMOS ESPERAR? FARÃO ALGUMAS MUDANÇAS? R . H . : Com a realização do novo álbum

RICHARD H E N S HAL L : Muito obrigado. Não conseguiríamos fazer um mais curto, nem que tentássemos.

NO QUE DIZ RESPEITO AO ÁLBUM, NA VOSSA PÁGINA DO FACEBOOK VOCÊS DIZEM QUE ESTÃO A ESCREVER UM 1 8 / VERSUS MAGAZINE

decidimos fazer uma abordagem diferente. No passado era eu que assumia a composição, mas desta vez vamos compor como uma banda. Na realidade, nós nunca trabalhámos desta forma, então eu estou realmente ansioso para ver o que podemos criar juntos. Ainda é muito cedo, mas o

material que já temos é muito promissor. Estou ansioso para ver estas ideias crescerem.

ALGO QUE ADOREI EM «THE MOUNTAIN» FORAM AS ESPETACULARES HARMONIAS VOCAIS, TAL E QUAL AQUELAS QUE OUVIMOS EM “CRYSTALLISED”. IRÃO MANTER ESTE TIPO DE PRODUÇÃO NO PRÓXIMO ÁLBUM?


“[…] TENHO A CERTEZA QUE VAMOS MERGULHAR PROFUNDAMENTE NO MUNDO DE HARMONIAS VOCAIS. […]” R. H. : Tenho a certeza que vamos

mergulhar profundamente no mundo de harmonias vocais. Nós ouvimos muito Gentle Giant, The Dear Hunter e Queen e nunca deixamos de ser surpreendidos pelas suas maravilhosas harmonias! Se pudéssemos conseguir apenas uma fração da sua genialidade, já a banda seria feliz. Nós também experimentámos algumas ideias electro-contemporâneas em “The Mountain” e temos a certeza que no próximo álbum vamos continuar a explorar e desenvolver estas ideias.

PORQUE É QUE ESTE EP TEM SOMENTE TRÊS TEMAS JÁ LANÇADOS COMO DEMO, EM VEZ DE SEREM LANÇADOS ALGUNS DO FUTURO ÁLBUM? ALGUNS DESTES TEMAS SERÃO LANÇADOS NO ÁLBUM? R. H. :

Os três temas no EP são totalmente independentes do 4º álbum e não farão parte. Ao longo dos anos recebemos muitos pedidos para remisturar a nossa demo de 2007, então, decidimos finalmente fazer alguma coisa relativamente a isso. Em vez de gravarmos as demos nota-pornota decidimos escolher os nossos três temas favoritos e trabalhá-los de uma forma diferente. Estes temas têm algumas semelhanças com a demo, no entanto, podem ser vistos como três temas completamente novos.

VOCÊS ESTÃO A PROMOVER «RESTORATION» E A MESMO TEMPO ALGUNS CONCERTOS. QUÃO DIFÍCIL É PARA VOCÊS ESCREVER UM NOVO ÁLBUM E PROMOVER O EP AO MESMO TEMPO? R.

H. : Nós acabámos de chegar de uma série de concertos com os Leprous e os Maschine, que foram muito porreiros. Ambas as bandas têm imenso talento e foi impecável conviver com eles. Felizmente, todo o trabalho mais complicado para o EP já foi feito e não temos outros concertos marcados até ao “Rosfest” em Maio do próximo ano. Isto dá-nos um hiato de tempo suficiente para nos concentrarmos exclusivamente em escrever o próximo registo.

PORQUE É QUE ESCOLHERAM ESTES TRÊS TEMAS EM PARTICULAR? FOI MUITO DIFÍCIL PARA VOCÊS DAREM UMA “NOVA VIDA” AOS TEMAS ANTIGOS? (NÃO CONSEGUI ENCONTRAR NENHUM PARA OUVIR…) R. H.: Assim que as discussões sobre o EP começaram, foi óbvio que seriam estes três temas a serem trabalhados.

Não só eram os nossos favoritos dessa demo, como também eram os que resultavam melhor ao vivo. Entre eles há um bom equilíbrio entre estilo, “cores” e estado de espírito que é muito importante na música.

VOCÊS FIZERAM GRANDES MUDANÇAS NOS TEMAS OU LIMITARAM-SE A REGRAVAR COM A NOVA FORMAÇÃO? R . H . : Na nossa opinião, a versão

original de “Darkest Light” tinha muita “gordura”, então, decidimos livrar-nos dela e fazer uma versão mais refinada. Mantivemos muito dos temas originais mas adicionámos alguns riffs, que aos nossos ouvidos soavam muito melhor dos que os anteriores. “Earthlings” tem um vibe completamente diferente e está completamente focado no ambiente musical. A segunda parte do tema tem muito do original mas tem mais polirritmia devido às partes de bateria acrescentadas. Assim como “Darkest Light”, “Crystallised” tem muito do original. Adicionámos algumas secções novas, uma vez que sentimos que o tema precisava de desenvolver mais de modo a atingir todo o seu potencial. As novas partes fizeram com que o tema se aproximasse dos 20 minutos, o que significa, acho eu, que fica agora na “zona” do “Prog Épico”. Este tema em particular tem sido bastante divertido de tocar ao vivo.

R . H .: O Conner adaptou-se muito bem

à irmandade dos Haken; a sua natureza calma e humilde encaixa muito bem na dinâmica da banda. Uma das razões porque fizemos «Restoration» antes de avançarmos para o novo álbum foi para ambientar o Conner a todo o processo. Ele é um grande fã de música Indie e Jazz e apresentou-nos a um leque diferente de novos artistas: Volcano Coir e Tigran Hamasyan que têm vindo a “derreter” os nossos cérebros ao longo do último mês. Tenho a certeza que estas influências se vão reflectir no próximo álbum.

MAIS UMA VEZ OBRIGADO E ESTOU CURIOSO PARA OUVIR O NOVO MATERIAL. ESPERO MESMO PODER VER-VOS EM PORTUGAL. R . H .: Obrigado. Esperamos em breve estar em Portugal!

POR FALAR EM NOVOS… EU VI E OUVI A AUDIÇÃO DO CONNER E É EXTRAORDINÁRIA. AQUELAS PARTES EXTRA NO FIM SÃO… FANTÁSTICAS. VOCÊS TOCAM AGORA “BECAUSE IT’S THERE” DA FORMA QUE ELE TOCOU NA AUDIÇÃO OU MANTÊM-SE NA FORMA ORIGINAL? R . H . : Ele é tipo um “monstro”. Nós,

simplesmente, adorámos a versão que tocou de “Because It’s There” e particularmente os arranjos de “The Path” no fim do tema. A sua barba enorme também contribuiu para que ele ficasse com o lugar! Nós tocámos este tema na tournée de Abril e ele tocou essa parte da audição. Parece que resulta muito bem ao vivo. Ele também tocou o arranjo de “The Path” e fez sobressair alguns sentimentos no público. Ainda me fez crescer uma lágrima…

COMO FOI A ADAPTAÇÃO DO CONNER À BANDA E À NOVA REALIDADE? E JÁ AGORA, COMO FOI A VOSSA ADAPTAÇÃO AO NOVO BAIXISTA? ELE VAI CONTRIBUIR PARA A ESCRITA DO NOVO ÁLBUM?

“[…] NA NOSSA OPINIÃO, A VERSÃO ORIGINAL DE “DARKEST LIGHT” TINHA M U I TA “ G O R D U R A ” , E N T Ã O , DECIDIMOS LIVRAR-NOS D E L A E FA Z E R U M A V E R S Ã O MAIS REFINADA. […]” W W W. H A K E N MU SI C.COM H T T P : / / Y O U T U . B E / Q HLH S17DQY8

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ENTREVISTA

“[…] TEMOS UM ESTILO CADA VEZ MAIS DEFINIDO, QUE RECONHECEMOS QUANDO ESTAMOS A ESCREVER, E O QUE COMPOMOS SOA BEM […]”

KING OF ASGARD A CAMINHO DA DEPURAÇÃO A E N T R E V I S TA S OBRE O ANT ERIOR ÁLBUM DE K O A D EI X O U -NOS C O M SU FI C I ENTE CU R I O S I D A D E PA R A V O LTA R M O S A C ONTACTAR A BANDA PAR A MA I S UMA CO NVER S A , A G O R A AC ER C A DE «KA R G », O S U C C E S S O R D E « … T O NORT H». M AIS UM A VEZ, FO I O B A I X I S TA D A B A NDA Q U E FEZ A S H O NRA S D A C A S A . APURÁMOS Q UE EST E ÁLBUM PRETENDE DEP U R A R AO MÁ X I MO O ESTI LO DA B A N D A , PA R A O AFIRM AR. COM O SE CO S TU MA DI ZER : “À TERC EI R A É D E V EZ! ” Por: CSA O QUE TÊ M ANDADO A FAZER D ES D E A N O S S A ANTER IOR CONVE RSA SOBR E «… T O N O RT H »? COM O F OI E STE VOSSO Á LB U M R EC EB ID O N O S LOCAI S ONDE O APRE SE NTA R A M? JONAS AL BRE KTSSON:

Por aqui vai tudo bem, obrigado. Acabámos agora mesmo de verificar a qualidade da versão final de «Karg», em vinil e CD, e está exatamente como o imaginámos, na altura em que nos sentámos para apreciar a arte e o layout. É claro que também estamos encantados com o som e a produção. Portanto, estamos a viver bons momentos. Quanto a «… to North»,

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penso que foi bem recebido e deu que falar na cena metal. Tivemos reações entusiásticas e sentimos que a sua grandeza épica foi muito apreciada, tanto pela imprensa, como pelos nossos fãs e simpatizantes. É muito lisonjeiro ver que as pessoas despendem tempo a apreciar o nosso material antes de fazerem um juízo sobre ele, pelo que podemos confiar nas opiniões que nos foram transmitidas, sejam elas favoráveis ou desfavoráveis. É claro que continuamos a ser comparados com Amon Amarth, o que nos parece bastante injusto. O que KOA faz é genuíno, há apenas semelhanças nos temas e no género. Os poucos concertos que fizemos para promover «...to North» também

correram muito bem e foi fantástico ver as reações ao álbum tocado ao vivo. Infelizmente, não podemos fazer muitos concertos por vários motivos, mas, felizmente, essa situação vai mudar em breve.

D E V E M T E R T R A B A L H A D O D U R A M ENTE PARA C O N S E G U I R E M L A N Ç A R T R Ê S Á L B UNS D ESDE 2 0 1 0 . O Q U E H Á D E N O V O N E S T E ÁLBUM D E KOA? J O N A S A L B R E K T S S O N : Pois foi. Trabalhámos e esforçámo-nos muito, para chegarmos aqui, sem dúvida. Para fazermos «Karg»,


“[…] OS TEMPOS ANTIGOS FORAM TEMPOS DIFÍCEIS E É ESSE ESPÍRITO QUE PRETENDEMOS MOSTRAR NA NOSSA MÚSICA […]” não parámos um momento depois de «... to North». O que aconteceu é que temos um estilo cada vez mais definido, que reconhecemos quando estamos a escrever, e o que compomos soa bem aos nossos ouvidos. Demorámos bastante tempo a atingir esse estado de satisfação com este álbum, mas, quando lá chegámos, parecia que tudo se tinha encaixado automaticamente. Em «Karg», tudo é mais autêntico, mais direto e baseado em riffs, o que constitui uma nova abordagem de KOA, mas sentimo-nos muito seguros do que fizemos e satisfeitos com o nosso trabalho. Foi como se tivéssemos retrocedido um pouco, para nos apoiarmos mais em momentos épicos. A evolução entre os três álbuns foi muito natural e, quando os ouvimos, ficámos com a sensação de que sabemos para onde vamos, qual é a nossa direção. Logo, o que este álbum trouxe de novo para a banda é que nos permitiu afirmar a nossa identidade. Mas, no futuro, vamos ter de continuar a esforçar-nos para a reforçar.

ESTE ÁL BUM É UMA SEQ U ELA D O S D O IS ANTER IORE S, CONTA UMA N O VA ETA PA D A M ESM A HISTÓRIA? JONAS AL BRE KTSSON: Não, cada canção

vale por si e conta a sua própria história. Mas todas elas estão ligadas ao conceito de base que deu origem à banda. Em «Karg», as letras estão mais afastadas umas das outras do que nos álbuns anteriores, mas continuam a manter-se debaixo do estandarte de KOA. Sempre tratámos temas relacionados com a mitologia nórdica, ligada às nossas origens, da história do nosso país, mas também das suas lendas e mitos e dos de países vizinhos. São temas que fazem parte do nosso dia-adia, mas que ignoramos frequentemente. Precisamos de honrar a história do nosso país.

POR Q UE CHAMARAM «B A R R EN » [ ES T ÉR IL] AO VOSSO NOVO ÁL BU M? N Ã O É FÁ C IL ASSOCIAR TAL TÍTUL O A U MA MÚ S IC A T Ã O I M PRESSIONANTE . JONAS AL BRE KTSSON: Acredito. Mas, para

nós, essa palavra tem uma conotação positiva. Refere-se ao facto de querermos fazer música que seja impressionante, épica, essencialmente séria. Portanto, a palavra que serve de título ao álbum – «Karg» – pretendia caracterizar a atmosfera que daríamos o álbum e que nos influenciou durante todo o tempo em que estivemos a compô-lo. Por isso, ele é tão despojado. O resultado final é mais tenebroso e desesperado do que os seus antecessores. Imagina uma paisagem árida atingida pelas asas ásperas da História. Os tempos antigos foram tempos difíceis e é esse espírito que pretendemos mostrar na nossa música, daí a carga simbólica da palavra «Karg». Parece-me que andámos lá perto, porque é mais difícil “entrar” neste álbum do que nos anteriores, mas, quando se capta a sua essência, a paisagem “árida” ganha vida e a nossa criatividade emerge da sua “esterilidade”. Sentimos que escolhemos o título certo para este álbum.

QUEM F E Z O QUÊ NE STE Á LB U M? JONAS AL BRE KTSSON: Eu e o Karl [Bekmann,

vocalista] somos responsáveis pelas canções do álbum. Trabalhámos as nossas ideias, desde o primeiro até ao último momento.

O Karl escreve sempre praticamente todo o material e eu acrescento pormenores e estruturo tudo, de acordo com ele. Este sistema de trabalho funciona mesmo, porque nos conhecemos muito bem e cada um complementa o outro por termos bases e estilos musicais ligeiramente diferentes. É isto que faz a essência de KOA. Depois levámos o produto do nosso trabalho para o local de ensaios e trabalhámo-lo mais com os outros elementos da banda. O material está constantemente a ser trabalhado durante a pré-produção e nada é definitivo até ao dia da gravação. Mas posso dizer-te que o que sai das sessões de gravação não é muito diferente do que existia antes, tanto no que diz respeito às palavras, como no que se refere à música. As letras foram sobretudo escritas por mim, o Lars [Tnagmark] escreveu três e juntos fizemos uma.

TA MB ÉM F O I O M AT T I A S Q U E F E Z A A RT E PA R A ES T E Á L B U M ? A C A PA T E M A M E S M A S IMP LIC ID A D E M Í S T I C A D A D O V O S S O Á L B U M A N T ER IO R . J O N A S A LB R E K T S S O N : A arte deste álbum inspira-se na arte antiga e tradicional da nossa cultura, logo tem tudo a ver com o espírito de KOA. Efetivamente, tal como em «… to North», é um trabalho do Mattias Frisk. Trabalhou a partir de um conceito que lhe apresentámos e consegiu concretizálo da forma mais adequada que podíamos imaginar. A capa representa uma montanha cheia de mistérios e lendas. Inspira-se numa montanha chamada Omberg, que fica perto de onde vivemos. Pusemo-la na capa do álbum, porque traduz a sua atmosfera. Está ligada ao sentido do título – «Karg» – e a uma das canções do álbum – “Omma” –, palavra que significa “Rainha da bruma”. Faz referência à história de um dos numerosos mitos e lendas associados àquela montanha. Logo, o nosso álbum está ligado a um lugar que existe e ao qual rendemos tributo.

Portanto, as duas bandas têm uma longa história de colaboração, mas a única coisa que partilhamos mesmo, até agora, é o Mister Karsten.

T E N C I O N A M V I R AT É A O L O N G Í N Q UO SUL PARA A P R E S E N TA R O V O S S O T E R C E I R O ÁLBUM? G O S TA R I A M U I T O D E A S S I S T I R A U M CONCERTO VOSSO. JONAS

A L B R E K T S S O N : Infelizmente, não temos digressões, nem festivais previstos para essas paragens. Esperemos que tal venha a acontecer, porque gostávamos de fazer uma boa divulgação deste álbum. J Á E S T Ã O A E S C R E V E R O V O S SO Q UARTO Á L B U M , U M A V E Z Q U E S Ã O T U DO MENOS ESTÉREIS? J O N A S A L B R E K T S S O N : (Risos) Nós estamos

de forma quase constante a trabalhar em algo. Mas, de momento, ainda não temos nada que possamos apresentar e levar para o local de ensaios. Temos material de «Karg» que nunca assentou bem no álbum e penso que vamos trabalhá-lo melhor depois do verão. Uma coisa é certa: estamos ansiosos por começar a escrever para esse álbum.

Q U E R ELA Ç Ã O E X I S T E E N T R E A I D E I A D E ES T ER ILID AD E D A D A P E L O T Í T U L O D O Á L B U M E U MA IMA G E M E M Q U E S E P O D E V E R U M A B E L A FLO R ES TA N Ó R D I C A ? J O N A S A LB R E K T S S O N : À primeira vista, deve

parecer realmente estranho, até contraditório. Mas a esterilidade é algo que pode ser belo e poderoso. A imagem da capa de «Karg» não se refere diretamente à esterilidade, mas, na minha opinião, remete para essa ideia, porque, de alguma forma, capta a atmosfera do álbum e revela o que está escondido. É difícil de explicar e de compreender, mas penso que vais chegar lá.

R EC EN T EME N T E , ENTREVISTEI FA L C O N E R SOBRE O ÁLBUM «BLACK RISING MOON». VI Q U E T ÊM O M E S M O B AT E R I S TA . É E S S A A Ú N IC A A FIN I D A D E E N T R E A S D U A S B A N D A S ? J O N A S A LB R E K T S S O N : Sim. Também há uma

grande história de amizade entre nós, até porque partilhamos o local de ensaios, uma casa que pertence precisamente ao Karsten, o baterista. Stefan, dos Falconer, também foi membro dos Mithotyn, portanto eles já tocam juntos há muito tempo. Ele escreveu algumas letras para o nosso primeiro álbum e, em «… to North», temos um longo solo do Jimmy [Hedlund], o guitarrista deles.

“ [ … ] T E M O S M AT E R I A L DE «KARG» QUE NUNCA ASSENTOU BEM NO ÁLBUM E P E N S O Q U E VA M O S TRABALHÁ-LO MELHOR DEPOIS DO VERÃO […]” W W W. FA C E B O O K . C O M / K I NGOFASGARD H T T P : / / Y O U T U . B E / 9 X 7W 0VPSSLE

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FLASH REVIEWS ARCH ENEM Y

«War Eternal» (Century Media)

A primeira questão que levanto ao ouvir o novo Arch Enemy é a seguinte: Então a Angela [Gossow] não tinha saído?!?! De facto, a nova vocalista é… tão parecida vocalmente (para não dizer igual) à sua antecessora, que o facto per si provoca alguma confusão. Por outro lado, não há melhor cumprimento do que este: Alissa White-Gluz é uma excelente nova vocalista que em nada deixa a desejar a anterior. Simplesmente brutal! Quanto ao resto, é o habitual nos Arch Enemy, grandes malhas, grandes riff e uma voz acutilante a rasgar - literalmente - as letras das músicas. «War Eternal» revela alguma falta de frescura já que o som geral faz lembrar em demasiado os álbuns anteriores. Fizeram muito bem em não arriscar numa mudança mais radical da vocalista (Como outros o fizeram) mas urge arriscarem mais musicalmente para não se tornarem nuns balofos musicais.

[ 7,0 / 10 ] CARLOS FILIPE

BJORN RIIS

«Lullabies in a Car Crash» (Karisma Records) Quando escrevemos que certa e determinada se parece com Steven Wilson/ Porcupine Tree e/ou Pink Floyd é preciso ter muito cuidado. Ou o escritor não percebe nada do ofício ou então o artista é muito bom. Felizmente neste caso é a segunda opção. Bjorn Riis é o guitarrista principal e principal compositor dos Airbag e a sonoridade é seriamente parecida as bandas supra-citadas. Neste caso, é mais numa vertente acústica, introspectiva, calma e pessoal. O artista não nega as influências e «Lullabies (...)» é mesmo isso... um álbum para embalar. [ 8,0 / 10 ] EDUARDO RAMALHADEIRO

CAVALERA CONS P I R A C Y

«Pandemonium» (Napalm Records) A vida nem sempre tem sido fácil para os irmãos Cavalera. Sinónimo de determinação e perseverança, os fundadores dos Sepultura dividem-se agora entre projectos paralelos e os Cavalera Conspiracy são o seu ponto de encontro. «Pandemonium» é um autêntico pandemónio musical de brutalidade. Música “crua” e muito directa, bateria furiosa, qual massacre sonoro! A produção é simples, também não precisava de muito, só desvirtuava por completo a bestialidade musical! Os riffs de «Babylonian Pandemonium» e “Bonzai Kamikazee” são... demoníacos!! [ 9,0 / 10 ] EDUARDO RAMALHADEIRO

CRYSTAL T EARS

«Hellmade» (Massacre Records)

Este lançamento dos Crystal Tears já tem alguns meses mas mesmo assim achei que o devia partilhar com vocês. Já por aqui andava no meio da playlist, esquecido e eis que resolvi dar-lhe uma oportunidade. «Hellmade» é um sólido esforço de uma banda multicultural europeia. Power Metal agressivo e melódico. Nada de absolutamente fantástico ou espantosamente bom, mas... e falando em bom calão: curti. “The Skies Are Bleeding”, “Under Your Skin” as mais cativantes e “Ever Alone” uma cópia eletrizada de “One in a Million” dos G’n’R. Se querem algo de fácil audição, deem uma oportunidade a este quinteto.

[ 8,0 / 10 ] EDUARDO RAMALHADEIRO

M YRKUR

«Myrkur» (Relapse Records) Chegados ou deverei dizer... chegada directamente da fria Escandinávia, eis que Myrkur se lança às feras com o EP de estreia homónimo. Sete temas Black Metalianos com algum sentido etéreo, interpretado exclusivamente pela senhora, tanto nas vocalizações como instrumentalmente. Brutal na sua essência Nórdica e obscura, «Myrkur» é também cru, como deve ser no meio desta escuridão. Há que dar grande crédito à artista pela interpretação e ambiente criado. Estamos perante um bom álbum que se deve ter em conta. [ 7.5 / 10 ] EDUARDO RAMALHADEIRO 2 2 / VERSUS MAGAZINE


FLASH REVIEWS NEAL M ORSE

«Songs From November» (InsideOut Music) Neal Morse é sinal de qualidade, talento e um excelente bom gosto. Um dos Senhores do Rock Progressivo com curriculum invejável. «Songs From November» é uma nova “estrada”, um desvio no que faz habitualmente. Os adjectivos para o classificar são muitos: Desafiador, melódico, pacífico, belo, pessoal, introspectivo, super-refinado, etc. As músicas têm um naipe de instrumentos muito interessante, trompete, cordas e percussão. Neal Morse seguiu um caminho novo e reinventou-se. Resta saber se vocês estão aptos para o seguir. Eu já me fiz à “estrada”... [ 9,0 / 10 ] EDUARDO RAMALHADEIRO

NECROS CHRISTOS

«Nine Graves» (Shureshot Worx) Maleficência é o que sente com este «Nine Graves». Envolto em rasgos de doom este mini-álbum, mantém a estrutura dos trabalhos anteriores, contendo interlúdios instrumentais, já próprios destes alemães, entre cada umas das quatro músicas constituintes deste trabalho. Encontramos duas novas regravações de músicas editadas anteriormente, a «Va Koram Do Rex Satan» e a decadente «Baptized by the Black Urine of the Deceased». Este «Nine Graves» não deixa por mãos alheias toda a visão ritualista que estes «Necros Christos» vêm imprimindo às suas obras. [ 8,0 / 10 ] HUGO MELO

NUM SKULL

«Ritually Abused – reissue» (Relapse Records) Nova mistura e novo lançamento dos Num Skull a comemorar os 25 anos de «Ritually Abused». Portanto, temos um bom álbum de Thrash Metal nascido nos gloriosos anos 80 – 1988, para ser mais preciso. Como sempre estas novas misturas vêm com temas extras, desta vez é “Murder By the Minister”. Tenho sempre alguma relutância quando se fazem novas misturas de álbuns antigos, no entanto, «Ritually Abused» parece manter a original sonoridade Old School que muitas vezes caracteriza este tipo de álbuns Para quem quiser recordar eis um bom álbum para ouvir a alta velocidade! [ 7,5 / 10 ] EDUARDO RAMALHADEIRO

ORDO INFERUS

«Invictus Et Aeternus» (Doomentia Records) Um grupo de gente muito competente, a que alguns chama de super-grupo, com elementos que já integraram bandas como Nifelheim ou Black Trip. Death Metal do mais clássico e puro que possa existir. Não deixa de ser Brutal a forma como nos atingem, até com os temas líricos sobre o antigo império romano. É portanto, um álbum bem trabalhado a todos os níveis, faltando ali, talvez, um pouco de originalidade. Não deixa de ser, no entanto, um lançamento interessante. Merecem uma oportunidade. [ 7,0 / 10 ] EDUARDO RAMALHADEIRO

ST EVE ROT HERY BA ND

«Live in rome» (InsideOut Music) Outro peso pesado da música, outro magnífico álbum ao vivo. Steve Rothery é o lendário guitarrista dos Marillion e aqui dá aso à sua carreira a solo. Guitarrista exímio e com um estilo muito particular, a Steve Rothery Band oferece-nos um concerto em Roma e uma edição condizente com o artista: Duplo CD + DVD. A interpretação roça o brilhante e tem como foco central a “aveludada” guitarra de Steve. Alguns dos clássicos dos Marillion são tocados com convidados especiais. Apesar do álbum já ter saído em Agosto é uma excelente prenda a oferecer nesta época natalícia. É impossível não gostar. [ 9,0 / 10 ] EDUARDO RAMALHADEIRO

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FLASH REVIEWS T HE M OON & T H E NI G H TS P I R I T

«Holdrejtek» (Prophecy Productions) Aqui estão almas sensíveis e talentosas, que conseguem sempre recriar com os seus álbuns, ambientes oníricos, inspirados e únicos, fazendo-nos viajar confortavelmente para mundos encantados, naturais e de extrema beleza. «Holdrejtek» é mais um marco no caminho da evolução deste duo de multi-instrumentalistas, sempre fiéis à sua essência, consistentes na sua expressão. Este trabalho reflecte o fluir de um percurso tranquilo e sábio, mostrando-se mais completo, criativo e mágico nas vozes e instrumentos. [ 8,0 / 10 ] LISZH

T RANSAT LANT IC

«KaLIVEoscope» (InsideOut Music) Bem... Neal Morse não para e se os álbuns que faz são sempre excelente, o que dizer dos concertos? Cada lançamento que faz é certo e sabido que o nosso dinheiro é sempre bem empregue. «KaLIVE (...)» é uma edição com 3 CD’s audio em Tilburg, DVD e BluRay em Colónia. Todo o último álbum é interpretado na cidade de Colónia. Que mais é preciso? Que mais querem? Um dos maiores e respeitados artistas do Rock Progressivo, a dar tudo o que tem em palco. Muitas horas para ouvir e desfrutar. Edição riquíssima. Não falei da música, nem dos músicos... é preciso!? [ 9,5 / 10 ] EDUARDO RAMALHADEIRO

T RAP T HEM

«Blissfucker» (Prosthetic Records) Os Trap Them são, talvez, os mais interessantes dos colectivos a despejar toneladas pesadas de Grindcore e Crust Punk. O trabalho anterior foi uma valente bojarda de peso e adrenalina, mas este «Blissfucker» apresenta-se diferente. O colectivo norteamericano parece estar mais maduro e ponderado nas suas composições – ou talvez isso seja uma desculpa para temas mais lentos. No entanto, há por aqui malhas interessantes e com um feeling frio e cru, mas pouco mais que isso. E bem vista a situação actual, os Trap Them são um dos colectivos mais interessantes dentro do género. [ 6,0 / 10 ] VICTOR HUGO

UNHERZ

«Sturm & Drang» (Massacre Records)

Chegados directamente da Alemanha os Unherz lançam o seu quarto álbum de Hard Rock melódico. As melodias ficam imediatamente no ouvido e por vezes, deixam a música desviar-se ligeiramente para o Punk Rock. «Sturm & Drang» é divertido, bem-disposto e de consumo imediato. A estranheza de ouvirem cantar em alemão não será um óbice para disfrutarem de um punhado de boas malhas. No entanto, a produção parece-me demasiado comprimida e a música, nomeadamente as guitarras, soam-me demasiado estridentes para o meu gosto pessoal.

[ 7,5 / 10 ] EDUARDO RAMALHADEIRO

WORK OF ART

«Framework» (Frontiers) Certamente já devem ter ouvido falar dos Work of Art quando revi um extraordinário álbum ao vivo dos W.E.T.. Robert Säll, fazia parte dessa reunião e é o guitarrista e teclista deste trio sueco. Bem, «Framework» é um álbum destinado aos amantes do bom Hard Rock Melódico... muito melódico, mesmo! Está lá tudo e com a vantagem de não ser clichet. Portanto, se vocês são como eu, amantes do bom Hard Rock ou Hard’n’Heavy dos gloriosos anos 80, acho que devem seguir com atenção os Work of Art. «Framework» é diversão e boa disposição garantida! [ 8.5 / 10 ] EDUARDO RAMALHADEIRO 2 4 / VERSUS MAGAZINE


FLASH REVIEWS ZOM BIEFICAT ION

«Procession Through Infestation» (Doomentia Records) Terceiro longa duração deste duo Mexicano que se dedica ao Death Metal (versão muito Dark) e a uma temática lírica de Voodoo, morte e... Zombies!!! Apesar de não ser dos meus géneros de eleição, é com relutância que às vezes ouço estas bandas brutais. (Uma questão de gosto pessoal, somente) No entanto, falando numa linguagem pouco coloquial, “Que raio, estou a curtir isto à brava!!” São raros os CD’s que ouço mais que as vezes necessárias para uma boa review mas este vai manter-se a “rolar”! [ 8 / 10 ] EDUARDO RAMALHADEIRO

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ENTREVISTA

“[…] A MAIORIA DAS NOSSAS LETRAS TRATA DA NECESSIDADE DE […] DERROTARES OS DEMÓNIOS EXTERIORES […] E OS QUE VIVEM DENTRO DE TI […]”

SONS OF CROM PESO E BOM HUMOR SONS OF CROM É UMA ESPÉCIE DE “NEGÓCIO DE FAMÍLIA”. JUNTANDO O SEU TALENTO PARA A MÚSICA EXTREMA E O SEU BOM HUMOR – UMA MISTURA ESTRANHA, MAS QUE FUNCIONA NA PERFEIÇÃO – OS PRIMOS JANNE POSTI E IIRO SARKKI CONSEGUIRAM ATRAIR A ATENÇÃO DA DEBEMUR MORTI PRODUCTIONS LOGO NA ALTURA DE LANÇAREM O SEU ÁLBUM DE ESTREIA, CHAMA-SE A ISTO UM GOLPE DE SORTE, CERTAMENTE BEM MERECIDO. BASTA OUVIR «RIDDLE OF STEEL» PARA O COMPROVAR. A CONVERSA COM OS DOIS SIMPÁTICOS MÚSICOS LEVA-NOS DA MITOLOGIA NÓRDICA AOS FILMES D E HERÓIS À LA CONAN, PASSANDO POR REFLEXÕES FILOSÓFICAS E EXCURSÕES PELO MUNDO DA MÚSICA CLÁSSICA. Por: CSA

A QUE SE RE F E RE A PAL AV R A C R O M N O N O ME DA BANDA? JANNE : Representa, entre outras coisas,

a natureza da nossa pátria e da nossa herança cultural e é uma palavra-chave do conceito lírico da banda. Crom é tenebroso e impiedoso, nunca estende a mão aos seus seguidores. Só aceita os homens voluntariosos e de espírito forte e troça dos fracos. Esta aspereza leva os seus súbditos (ou filhos) a feitos heroicos, porque lhes são exigidos. Se substituíres “Crom” por “natureza nórdica”, compreenderás o sentido 2 6 / VERSUS MAGAZINE

do que acabo de dizer. A maioria das nossas letras trata da necessidade de testares o eu poder, o que consiste em derrotar os demónios exteriores que te cercam e os que vivem dentro de ti, o que está logicamente relacionado com o mito de Crom. É claro que esta história tem outros aspetos, mas é coisa que dava para escrever um livro, haha!

C O MO É Q U E V O C Ê S O S D O I S S E E N C O N T R A R A M ?

nascido, haha. Há anos que somos grandes amigos e que fazemos música juntos. Temos variado de género, mas é sempre Metal. Desta vez, em janeiro, enveredámos por um subgénero ligeiramente diferente e vimos logo que ia ser fantástico. O resto é história.

P E N S O Q U E S Ã O G R A N D E S F Ã S DE B ATHORY, J Á Q U E A V O S S A M Ú S I C A T E M PASSAGENS M U I T O O N Í R I C A S . E S T O U C E RTA ?

IIR O : Somos primos, O Janne é sete anos mais velho do que eu. Conhecemo-nos pouco depois de eu ter

JANNE:

Bathory é obviamente uma das nossas influências. Quorthon fez música


“[…] PRETENDEMOS CRIAR HEAVY METAL ÉPICO […] MAIOR DO QUE A VIDA REAL, CONTANDO HISTÓRIAS QUE FAÇAM PENSAR. […]” absolutamente fantástica, antes da sua morte trágica, e o seu génio e pioneirismo influenciaram a maioria das bandas de Metal da atualidade, incluindo a nossa. Pensamos que a maior razão para a existência de semelhanças entre o nosso som e o de Bathory vem do facto de partilharmos fontes de inspiração e sermos semelhantes em termos de perspetivas sobre o que é a música. Inspiramo-nos em filmes heroicos, bandas sonoras de filmes, música clássica, tal como Quorthon. Pretendemos criar Heavy Metal épico, que tem a característica de ser maior do que a vida real, contando histórias que façam pensar. Estas são características que podemos encontrar em muitos álbuns de Bathory. Não me leves a mal: adoramos Bathory e, por isso, não nos custa nada admitir que a discografia do Q deixou profundas marcas no nosso som, mas não se trata só disso.

QUAL É A BASE DA MÚSIC A ÉP IC A D E S O N S O F CROM ? SE RÁ QUE AS TR A D IÇ Õ ES C U LT U R A IS DA SU É CIA E DA “TE RR A D O S MIL LA G O S ” NÃO SÃO BASTANTE DIFER EN T ES U MA S D A S OUTRAS? I I RO: Bem, como já te explicámos, somos

ambos finlandeses, logo as tradições culturais finlandesas são a nossa principal fonte de inspiração. De um ponto de vista cultural, podemos dizer que o substrato da nossa música se relaciona com a natureza e a forma como as religiões antigas a divinizaram. Não precisas de passar muito tempo a estudar o folclore de vários povos escandinavos e o paganismo para constatares que têm vários aspetos em comum, nomeadamente a proliferação de divindades. Por exemplo, na antiga mitologia nórdica e no paganismo finlandês, havia muitos deuses quase idênticos, mas que têm nomes diferentes. Por exemplo, nós temos Ukko Ylijumala (aka. Perkele), que é o deus do tempo meteorológico e do trovão, e os nórdicos têm Thor, o deus do trovão. Mas estes comentários referem-se apenas aos aspetos culturais subjacentes à música de Sons of Crom. Logicamente, há muito mais coisas a dizer sobre nós.

COM O DIVIDE M AS TARE FA S EN T R E O S D O IS M EM BR OS DA BANDA? JANNE: É fácil: cada um faz aquilo para

que é mais dotado. É tão simples como isto. Ambos compomos música e escrevemos as letras e, quando chega a hora de gravar, também dividimos as tarefas em função dos nossos pontos fortes. O Iiro é muitíssimo melhor do que eu na bateria, portanto logicamente encarrega-se dessa parte. Eu ocupo-me sobretudo da guitarra, do baixo e dos teclados. Partilhamos os vocais e, como somos bons em diversos estilos, temos muito por onde escolher, quando nos ocupámos dos arranjos. Escolhemos o estilo mais adequado em função de critérios intelectuais e afetivos, e, se a voz do Iiro e o seu estilo são os mais adequados, é ele que faz o trabalho. Também temos de dividir as tarefas mais práticas. Como gravamos quase tudo no meu estúdio, a edição, mistura e masterização são da minha responsabilidade. O Iiro tem mais talento para as artes gráficas, portanto encarregou-se de desenhar o logo da banda e a capa dso dois EPs que lançámos até agora. Usamos sempre o mesmo método: o que tiver mais competência para a tarefa em questão é o que fica responsável por ela.

QUEM TOCA PIANO NO ÁLB U M? S O U U MA

G R A N D E FÃ D E S T E I N S T R U M E N T O . IIR O : Sou eu que me ocupo dos teclados.

O piano é um instrumento magnífico. Tenho um major em piano clássico, logo é um instrumento que me é muito familiar. Tocar e analisar peças de Bach, Beethoven, Rachmaninoff, Chopin, Khachaturian, etc. influenciou muito, sem dúvida, o meu estilo de composição. Sinceramente, aconselho as pessoas que têm medo de teoria da música a não se aventurarem nos domínios da composição, dos arranjos e da orquestração.

A V O S S A M Ú S I C A É M U I T O VA R I A D A , TA L C O M O D EB EMU R M O RT I A F I R M A N A I N F O R M A Ç Ã O R ELAT IVA A O V O S S O P R I M E I R O Á L B U M , LA N Ç A D O N O V E M E S E S D E P O I S D E T E R E M FO R MA D O A B A N D A . Q U E PA RT E D E L A V E M D E CADA UM DE VOCÊS?

IIR O :

Tal como está escrito nessa informação: “Música e arranjos de Sons of Crom”. Colaboramos em tudo. Mas pareceme que os vários estilos emergem muito simplesmente dos nossos variadíssimos gostos musicais. A pedra de toque da nossa arte é que NUNCA nos limitamos. Se alguma parte ou estilo parece adequado, tiramos proveito disso. Muitas vezes, isso leva-nos a quebrar barreiras de géneros, mas sentimos que apenas reforça a nossa visão da música e o que fazemos. Confiamos na música para nos orientar.

O N D E EN C O N T R A R A M O A RT I S TA Q U E F E Z A B ELA C A PA D E « R I D D L E O F S T E E L » ? IIR O :

Helgorth (Babalon Graphics) está associado à Debemur Morti Productions. Foram eles que sugeriram que recorrêssemos a este artista e acertaram em cheio. Helgorth, erguemos os nossos chifres de beber em tua honra!

P O D EM EX P L I C A R A R E L A Ç Ã O E N T R E A IMA G EM NA C A PA D O Á L B U M E O C O N C E I T O S U B J A C EN T E A E S T E ? P O R Q U E A PA R E C E M S ER P EN T ES N E S S A I L U S T R A Ç Ã O ? S U P O N H O Q U E T ÊM U M VA L O R S I M B Ó L I C O . J A N N E: Neste caso, o valknut é um símbolo

que se refere metaforicamente ao coração do guerreiro, de onde tudo parte: uma luta interna, que é o mote deste álbum. As imagens dentro do valknut representam aspetos da viagem solitária do guerreiro, recheada de tormentos físicos e psicológicos, na sua demanda da paz de espírito, que o levará a compreender-se a si próprio. Será que vai encontrar a resposta para as suas dúvidas, tornando-se famoso e cobrindo-se de glória ao vencer todos os vilões? Poderá contar com a ajuda da família e dos amigos? Ou será que a solução para a “riddle of steel” só existe dentro dele próprio, na sua mente, e só ele poderá ter acesso a ela através da autoanálise e da contemplação filosófica, da meditação? As serpentes representam os demónios íntimos, que crescem odiosamente dentro do seu coração, ameaçando a todo o momento escapar da sua prisão para destruir os seus inimigos num acesso de raiva furiosa, que, no entanto, também o envenena a ele devido à sua violência. Cabe ao fã encontrar outras relações possíveis entre a música, a história e as imagens que as ilustram.

A O O U V IR O V O S S O « R I D D L E O F S T E E L » , V IER A M- ME À C A B E Ç A I M A G E N S D E S É R I E S D A T V E D O C U M E N T Á R I O S . V E E M - S E A FA Z E R O U A D A P TA R M Ú S I C A PA R A S A G A S C O M O “ T H E V IK IN G S ” , Q U E E S T Á A G O R A A PA S S A R

N O S E C R Ã S ? O U , P E L O C O N T R Á R I O , SENTEMS E C A PA Z E S D E FA Z E R U M F I L M E ADEQUADO À E P O P E I A A Q U E S E R E F E R E E S TE VOSSO ÁLBUM? I I R O : Somos ambos viciados em cinema e,

portanto não é surpreendente que isso se reflita na nossa música, indubitavelmente influenciada pelos compositores de bandas sonoras. Vês-nos a fazer música para filmes? Eu acho que “Riddle of Steel” devia ser a banda sonora do novo filme do Conan! Hahaha! Sou franco: gostaria muito de fazer música para uma banda sonora – quer seja para uma série, um documentário ou um filme! Seria uma experiência fantástica. Nós a fazermos um filme? Se alguém quiser usar o nosso álbum para ilustrar algo filmado, eu ficaria encantado. Este tipo de oportunidades é raro e eu não hesitaria em aproveitar alguma que me aparecesse!

C O M O C O N S E G U I R A M Q U E U M A ED I TO RA C O M E X C E L E N T E R E P U TA Ç Ã O N O UNI VERSO U N D E R G R O U N D D A M Ú S I C A E XTR EMA S E P R E S TA S S E A L A N Ç A R O V O S S O Á LBUM D E E S T R E I A ? D E V E M T E R U M A G R A N D E C ONFI ANÇA N O V O S S O TA L E N T O ( E N Ã O S E E N GANARAM). J A N N E : Eles imploraram-nos que fizéssemos

um contrato com eles e, depois de termos recebido numerosas dádivas, acabámos por aceitar a sua proposta. Haha. Falando a sério: contactámos muitas editoras depois de termos lançado o EP «Victory» e a Debemur Morti Productions foi a primeira a mostrar interesse no nosso trabalho. Ainda mantivemos o contacto com outras editoras, mas acabámos por reconhecer que seria uma grande falta de bom senso não fechar negócio com a DMP. Tem uma sólida reputação e não deixa os seus créditos por mãos alheias. Tem sido fantástico trabalhar com eles. Já tínhamos o álbum pronto a 99%, quando lho enviámos para apreciação e eles gostaram imenso do nosso trabalho, logo rapidamente fechámos o negócio. Penso que as únicas pessoas que depositam mais confiança na nossa música do que o pessoal da DMP são uns indivíduos que dão pelos nomes de Janne e Iiro. Estamos muito gratos por esta oportunidade.

C O M O I M A G I N A M Q U E S E R Á A V O SSA V I DA EM SETEMBRO DE 2015? IIRO:

Janne: Estaremos um ano mais sensatos, mas também um ano mais imbecis. Por essa altura, já teremos uma formação adequada para tocar ao vivo e, certamente, alguns concertos no papo. Provavelmente, já teremos também lançado o nosso segundo álbum, que já está a ser composto neste preciso momento. Temos mais algumas ideias de reserva, mas essas não vamos divulgá-las tão cedo. Gostaríamos de ser senhores do mundo, mas somos rapazes muito modestos e não estamos a contar com isso para já. Talvez lá para 2016.

“[…] A PEDRA DE TOQUE D A N O S S A A RT E É Q U E N U N C A N O S L I M I TA M O S . [ … ] L E VA - N O S A Q U E B R A R BARREIRAS DE GÉNEROS […]” WWW.FACE BOOK.COM/SONSOF C ROM OFFI CI AL WWW.SONSOFCROM .COM

2 7 / VERSUS MAGAZINE


ENTREVISTA

“[…] EXPRESSO-ME ATRAVÉS DO QUE FAÇO, NÃO PRECISO DE USAR UMA MÁSCARA, MAS PARADOXALMENTE, QUERO SER CONHECIDO PELO MEU PSEUDÓNIMO. […]”

PAINTING © Dehn Sora

DEHN SORA PENSAMENTOS DE UM GUARDADOR DE SONHOS VIVE N O M UN DO D O S O N H O , M A S “ T EM O S P É S B E M A S S E NTE S NA TE R R A ”! FA Z D O PA R A D O X O A MAT RIZ DA SUA ARTE E , A SSIM , IMP R ES S IO N A Q U EM V Ê O S S E U S TR A B A L H O S , D E IX A ND O -NO S P R E S O S A E L E S C OMO UMA CRI AN ÇA QUE F OL H EIA AV ID A MEN T E U M LIV R O D E IM A G E NS , O ND E E NC O NTR A “R E A L ID A D E S ” Q U E NU NCA VIU. ESTE É O R E TRATO D E V IN C EN T P ET IJ EA N ( A K A D E H N S O R A ) , U M NO M E Q U E E V O C A A F IC Ç Ã O CIENT ÍFICA.

Por: CSA GOSTE I IME NSO DO TE U P O RT EFÓ LIO E T EN H O M UI TAS PE RGUNTAS PARA T I. A N T ES D E MA IS , GOSTA RIA DE SABE R O QU E S IG N IFIC A O T EU PSEUDÓNIMO, POR QUE R A ZÃ O U S A S ES S E NOM E NO MUNDO DA ARTE. DEHN S ORA: Tem a ver com uma linguagem

instintiva, através da qual me exprimo em Treha Sektori [banda de que faz parte], uma linguagem automática a que recorro, quando não encontro palavras para expressar algum sentimentos. . Logo, não posso dar-te uma “tradução literal” desse nome. Quando somos muito jovens, procuramos sempre encontrar uma designação que represente a nossa identidade, algo que corresponda à nossa essência. Foi algo que quis conservar na vida adulta e que articula entre si todos 2 8 / VERSUS MAGAZINE

os aspetos do meu trabalho. Expressome através do que faço, não preciso de usar uma máscara, mas paradoxalmente, quero ser conhecido pelo meu pseudónimo. Talvez para me sentir autêntico. Não me vejo a assinar os meus trabalhos com outro nome. O meu nome próprio é Vicente, que, etimologicamente, significa “vencer a guerra”. “Dehn Sora” tem um significado semelhante, mas sem o lado militar. Não é preciso usar armas para combater, não é preciso uma guerra para vencer na vida.

R EPA R EI Q U E U T I L I Z A S F R E Q U E N T E M E N T E C O R ES S O M B R I A S E B R A N C O E TA M B É M O EFEIT O S ÉP I A , C O M B I N A Ç Ã O Q U E C O N F E R E À T U A A RT E U M S E N T I M E N T O D E M E L A N C O L I A , D E N O S TA L G I A , S I M U LTA N E A M E N T E D O C E E

AMARGA. TRATA-SE DE UMA ESCOLHA PESSOAL? T E M A V E R C O M A S C A R A C T E R Í STI CAS DOS T E U S C L I E N T E S ? É U M A C O M B I NAÇÃO D OS D O I S FAT O R E S ? D E H N S O R A : É uma combinação dos dois, mas

eu tenho tendência para “empalidecer” as coisas. Gosto do paradoxo de introduzir uma sensação de apaziguamento numa temática “dura”. Ou que as coisas pareça emergir de um nevoeiro. Gosto do inesperado. Os trabalhos que faço por encomenda têm sempre em conta o sentido do que se pretende ilustrar. A escolha dos tons depende dos sentimentos que se pretende exprimir. Mas também gosto de abordar as temáticas de uma forma paradoxal. . Por exemplo, posso recorrer ao branco predominantemente


“[…] GOSTO DO PARADOXO DE INTRODUZIR UMA SENSAÇÃO DE APAZIGUAMENTO NUMA TEMÁTICA “DURA”. OU QUE AS COISAS PAREÇA EMERGIR DE UM NEVOEIRO. […]” para exprimir algo tenebroso, que evoque o desespero. As coisas não precisam de ser binárias, do género: sentimentos luminosos = cores luminosas. Não sou dessa opinião. Podemos usar cores luminosas para exprimir algo que é tenebroso. E o inverso também pode acontecer. Esforço-me por encontrar fornas originais de exprimir o que é pedido.

ADORO O ASPE TO « T O D O S O S P O N T O S BEM D E F INIDOS» QUE C A R A C T ER IZA O T EU TRABAL HO. PARE CE QUE A P ER FEIÇ O A S T U D O ATÉ AO ÚLTIMO DE TAL HE ( C O MO N O D ES EN H O I NTI TUL ADO « NO ONE F OR C ED U S T O LEAV E») , APESAR DE , POR VE Z ES , O S O B J ET O S PARECERE M APRE SE NTAD O S DE FO R MA HETERÓCL ITA ( COMO NA C A PA D O Á LB U M «TEETH , TOE S AND OT H ER T R IN K ET S » D E M ANES) . QUE E F E ITO( S) P R ET EN D ES O B T ER ? DEHN S ORA: Esforço-me cada vez mais por

fazer com que os meus trabalhos visuais sejam credíveis e passem por reais. Pretendo criar universos “outros”, alternativos, irreais, mas que sejam suficientemente detalhados e realistas para que as pessoas sejam induzidas a acreditar na sua existência. É esta a atual direção do meu trabalho. Procuro que as pessoas se percam nessas imagens. Quero fazer incidir a sua atenção sobre um ponto central, ao mesmo tempo que as faço sentir que ali há algo de errado. Gosto da expressão “qualquer coisa que não bate certo”. É isso que eu quero que as pessoas sintam. Inversamente, também trabalho muito com o vazio. Ensinam-nos a não deixar espaços em branco. Vivemos angustiados pelo vazio. Ninguém pensa que inserir um elemento isolado num vazio, fazê-lo viver no vazio, pode conferir-lhe uma grande força. Não nos resta outra alternativa senão enfrentá-lo. Tento fazer com que as pessoas se percam, que se sintam bem ou mal, mas que tenham vontade de permanecer no espaço que crio, mesmo que este não lhes pareça muito “são”.

AS TU AS IL USTRAÇÕE S PA R EC EM FEITA S A PARTI R DE OBJE TOS RE AIS , MA S T ÊM U M A R ABSOL UTAME NTE ONÍRICO . C O MO FA ZES PA R A PRODUZ IR E SSA AMÁL GA MA D E R EA LID A D E E SONHO? DEHN SORA: Faço muita pesquisa, tiro muitas

fotos, às vezes faço desenhos. Tenho algo na cabeça e começo logo a vasculhar, para encontrar o elemento mais adequado, o símbolo ideal. Também gosto de imaginar situações paradoxais. Reconhecemos esses objetos, essas figuras, mas nada têm a ver uns com os outros. As ferramentas que temos à nossa disposição atualmente nem sempre ajudam. Tento fixar instantes, que não podem existir senão no mundo das ideias. Procuro remeter para símbolos, ícones que têm significados diferentes, do ponto de vista cultural ou da sensibilidade. Por isso é que gosto tanto de trabalhar com figuras de animais. Remetem para um mundo sensível, em que o sagrado também se manifesta. Matamos, comemos, glorificamos alguns dos animais associados a essas figuras. Mas procuro dar-lhes uma nova vida. Foi o que fiz na série «Cavity». Um dos grandes objetivos é criar novos ícones. Inventar uma mística privada da ideia de sagrado. Não pretendo justificar nenhum ato, apenas levar o espetador a reconhecer, a aceitar que não controlamos a natureza. Reencontrar estas quimeras num espaço real deixar-nos-ia inquietos, far-nos-ia sentir que o perigo é real. Não teríamos onde nos esconder. Raramente sonhamos com premonições, geralmente

povoamos os nossos sonhos com as nossas angústias e as que teremos de enfrentar.

A LG U N S DO S T E U S T R A B A L H O S FA Z E M - M E P EN S A R EM Q U A D R O S D E G U S TAV E M O R E A U . R EFIR O -ME PA RT I C U L A R M E N T E À S C O R E S . Q U A IS S Ã O A S R E F E R Ê N C I A S E S T É T I C A S D A T U A A RT E ? D EH N S O R A : De facto, tenho influências muito

clássicas. Prezo o lado intemporal dessa arte. Admiro muito o Simbolismo, sobretudo Klimt e também Moreau. No entanto, para ser honesto, acho que o meu conhecimento da arte ainda é muito limitado. Quero conhecer tudo e mesmo assim não sei se será o suficiente. Também sou influenciado por outras formas de comunicação. Na minha opinião, alimentamo-nos mais de coisas que não dizem diretamente respeito ao nosso trabalho. No fim de contas, eu procuro as minhas referências estéticas quotidianamente no meu trabalho numa agência. Tento estar atento ao máximo ao que me rodeia, leio muita imprensa, sigo o melhor que posso o que o mundo moderno oferece, as transformações que vai sofrendo. Aliás, às vezes, até armazeno informação “poluidora”, que também faz parte do nosso quotidiano. Sinto-me influenciado por tudo o que é completo e autêntico. Pelas abordagens que vão o mais longe possível, a arte que implica o corpo. Estou a pensar nos acionistas de Viena [movimento artístico do séc. XX que fazia arte com o corpo], mais recentemente em Berlinde de Bruyckere ou Choi Xooang, por exemplo. Posso também referir o trabalho de certos cineastas, com Bergman e Tsukamoto à cabeça da lista. Mas confesso que as minhas referências principais vêm dos museus de História Natural. Fazem-nos pensar em tantas angústias e obsessões universais. Ter vontade de ver o que existe por baixo da pele. Sinto-me muito bem nesse ambiente.

ES T U D A S T E A RT E ? É S U M A U T O D I D ATA ? U M P O U C O D E CA D A ? D E O N D E V E M A T U A A RT E ? D EH N S O R A: Comecei por ser um autodidata. Sei que o que vou dizer é um cliché, mas, desde que tenho consciência do que faço, que me dedico a desenhar, esculpir, fazer música… Sempre tive esta vontade de experimentar muitas coisas, sou curioso por natureza. Descobri o grafismo na adolescência, uma disciplina em que se pode combinar formas de expressão muito diferentes. Portanto, comecei a explorar programas de grafismo, a procurar captar as suas bases. Quando quis dedicar-me ao grafismo de forma séria, depois de ter concluído o Ensino Secundário, estudei durante dois anos numa escola de Paris. Aí encontrei uma organização estável, novos desafios. Mas foi a trabalhar com outros artistas, grupos, clientes mais ligados a empresas que aprendi a maior parte do que sei. A única forma de evoluíres verdadeiramente passe pela exposição ao olhar dos outros, penso eu. Aprendo sempre algo com o meu trabalho, confrontandome com o meu próprio olhar, ao sabor dos trabalhos… Ao perseguir novos objetivos, avançamos sempre, de algum modo. As direções seguidas podem ser boas ou más, mas avança-se sempre. Recentemente, decidi que trabalharia à mão nos meus projetos gráficos e que só utilizaria instrumentos construídos a partir de matérias orgânicas nos projetos musicais. Impomos certas barreiras a nós próprios, para tentarmos infringir outras. A qualidade técnica e visual não tem fim. Procuro evoluir todos os dias, considero-me sempre “mau”. Nunca me sinto à altura, quando dou início a um projeto. Tentar ultrapassar esse sentimento todos os dias é algo muito stressante. Mas eu levo

tudo muito a sério, esforço-me e assim vou aprendendo. Não sei dizer-te de onde vem a minha “arte” (aliás, eu usaria antes o termo “trabalho”). Tenho a certeza de que vem de algo que existe dentro de mim. Tudo o que faço parte de obsessões, da necessidade de fixar momentos, imagens que se projetam na minha mente. Tenho a sensação de viver permanentemente neste estado, não consigo parar, apesar da fadiga, do sacrifício. Vou usar mais um cliché: para mim o meu trabalho é como a respiração. Não posso passar sem ele. Gosto da quietude depois do stress. É uma alternância de que nunca me canso.

O T E U P O RT E F Ó L I O I N C L U I U M A G RANDE VA R I E D A D E D E T R A B A L H O S ( C A PAS DE CDS, C A RTA Z E S , F O T O S P R O M O C I O N A I S – ADOREI A S Q U E F I Z E S T E PA R A B L U T A US NORD – , D E S E N H O S PA R A T- S H I RT S …) E TENS C L I E N T E S B E M C O N H E C I D O S N O MU NDO D A M Ú S I C A E X T R E M A . T O R N A S T E -TE PA RTE D E S T E U N I V E R S O , P O R Q U E G O S TA S D ESSE TI P O D E M Ú S I C A , O U F O R A M A S B A N DAS Q UE TE ACHARAM A SEU GOSTO? D E H N S O R A : Há muito tempo que acompanho

esta cena de perto. Por isso, as minhas primeiras “encomendas” vieram desse universo. Tenho uma espécie de lista secreta de bandas com quem gostaria de trabalhar e tive a sorte, até ao momento, de já ter conseguido riscar alguns desses nomes. Penso que trabalhar com essas bandas é, ao mesmo tempo, uma honra e uma monumental pressão. Elas inspiraramme de alguma forma e poder\partilhar um pouco da sua história é algo fundamental para mim. Dá-me a sensação de me tornar um pouco semelhante aos que me deram força. Logo, há forçosamente uma grande ligação entre os meus gostos e o que estas bandas me pedem para fazer. Mas, para lá do lado musical, o que me interessa é a forma como fazem as coisas. Pode dar-se o caso de uma banda fazer música que não me parece muito apelativa, mas, se o fizerem de uma forma autêntica, sincera, terei muito orgulho em trabalhar com os seus membros. Cada vez sinto mais necessidade de “calor”. Que as bandas sejam autênticas, que levem até ao fim o que pretendem fazer. Quando se trabalha assim, experimenta-se uma grande sensação de liberdade. E penso que esta liberdade nunca é demais: mesmo num meio que pretende ser extremo, livre, há quem se deixe aprisionar por códigos, limitar por estratégias, quem queira agradar a este ou àquele. Não tenho vontade de respeitar certas exigências que são ditadas mais pela estratégia do que pela sinceridade. Há bandas que não sabem como se hão de apresentar em termos visuais e, quando me consultam sobre essas questões, procuro pôr-me no lugar dos seus membros, sentir o que eles sentem, converter-me nas suas mãos. Se confiam plenamente em mim, os resultados são sempre surpreendentes, para o bem ou para o mal. É impossível acertar sempre na “mouche”. Mas penso que a música a que chamas “extrema” deve procurar manter-se nesta linha de liberdade total, de arte completa, que nos sai do coração e das tripas. O cérebro só intervém no fim do processo, não o contrário.

D E A C O R D O C O M A I N F O R M A Ç Ã O S OBRE TI D I S P O N Í V E L N A M E TA L A R C H I VES, FAZES PA RT E D E D U A S B A N D A S , Q U E T I P O D E MÚ SI CA FA Z E M E S S E S D O I S P R O J E T O S ? D E H N S O R A : O meu projeto pessoal é Treha

Sektori (www.trehasektori.com). Penso que se pode dizer que se trata de música ambiental.

2 9 / VERSUS MAGAZINE


“[…] PRETENDO CRIAR UNIVERSOS […] MAS QUE SEJAM SUFICIENTEMENTE DETALHADOS […] PARA QUE AS PESSOAS SEJAM INDUZIDAS A ACREDITAR NA SUA EXISTÊNCIA. […]” Já lancei vários CDs, alguns em colaboração (por exemplo, um split com Amenra). É um projeto muito pessoal, que me acompanha há muito tempo e que dá resposta às minhas obsessões. É um espaço de liberdade, em que me sinto à vontade para me mostrar tal como sou. Também faço parte do projeto Sembler Deah (www.heallifelong.com ou h t t p s : / / w w w. f a c e b o o k . c o m / S e m b l e r D e a h ) com amigos da Bélgica, que são como família para mim. Fazemos música ambiental, mas mais serena, mais contemplativa. Ultimamente, também me integrei no projeto de um amigo próximo, que é mais pesado, do tipo post-“o-que-quiseres”. É diferente, algo de mais bruto, que me agrada partilhar com os outros membros da banda. Tenho trabalhado ainda em novos projetos, alguns deles igualmente colaborativos. Vamos a ver no que dão. Não há limites.

JÁ FI Z E STE UMA E XPOSIÇ Ã O ? DEHN

SORA: Participei em pequenas exposições coletivas, por exemplo com o meu amigo Sylvain Doerler (inciviltragedia. bandcamp.com). Em breve, participarei também na exposição Krieghallen, a ter lugar em Rouen, organizada pela Metastazis [pela qual é responsável Valnoir, artista gráfico francês que também já foi entrevistado na Versus], Vou partilhar as paredes com artistas muito talentosos. Só de pensar nisso, já me sinto pequeno! Tive a sorte de poder fazer uma exposição a solo em Paris, que incluiu uma vernissage com concertos e projeções. É um tipo de evento que me agrada muito, porque é possível cruzar disciplinas artísticas, onde se pode propor ao espetador um universo, não apenas meras impressões. Se tudo correr bem, farei algumas exposições no estrangeiro ao longo de 2015. SE EST IVE SSE S A SONHAR N ES T E MO MEN T O , COM QUE SONHARIAS? DEHN

SORA: Raramente tenho sonhos agradáveis e, para ser franco, isso até me convém. Tenho muita dificuldade em dormir. Raramente me sinto repousado. Ter sonhos cor-de-rosa significaria o fim, não te parece?

WWW. D EH NS O R A . C O M W W W. BEH A NC E. NET/ D EH NS O R A

3 0 / VERSUS MAGAZINE

© William Lacalmontie



ENTREVISTA

“[…] ENTRETANTO, REEDITARAM ALGUNS ÁLBUNS ANTIGOS DA BANDA E EU TINHA MATERIAL NOVO PRONTO, LOGO DECIDIMOS REGRESSAR À LIÇA! […]”

CENTINEX O REGRESSO DOS GUERREIROS H Á O I T O A N O S , SENT IRAM NECESSIDADE D E DA R NO V O RU MO ÀS SU A S VI D A S ARTÍ S TI C A S . EM 2 0 1 3 , C O N S I D E RARAM SER ALT URA DE REU NI R A S H O S TES PA R A P R EPAR A R O R EG R ES S O C O M O L A N Ç A M ENT O DE UM EP. FACE ÀS REA Ç Õ ES DO PÚ B LI C O , ENTRA R A M EM ES TÚ D I O PA R A A G R AVA Ç Ã O D E UM NOVO ÁLBUM , O NONO NA S U A LO NGA C A R R EI R A . EI S A ES S ÊN C I A D O Q U E MA RT IN S CHULM AN, BAIXISTA E MENTO R DA BA NDA , TI NHA PAR A CO NTA R À VER S U S . Por: CSA

O QUE VOS FEZ REGRESSAR DEPOIS DE UM INTERLÚDIO DE OITO ANOS? E POR QUE DECIDIRAM ACABAR COM A BANDA NESSA ALTURA? MARTIN SCHULMAN:

Bem, Centinex estava a seguir por caminhos que eu nunca tinha considerado como adequados, portanto decidi que já chegava. Foi assim que esta banda desapareceu e surgiu Demonical e 3 2 / VERSUS MAGAZINE

ninguém se queixou. Entretanto, reeditaram alguns álbuns antigos da banda e eu tinha material novo pronto, logo decidimos regressar à liça!

QUE REAÇÕES TIVERAM AO EP LANÇADO EM 2013? AJUDARAM-VOS A TOMAR A DECISÃO DE REGRESSAR DOS (QUASE) MORTOS? MARTIN SCHULMAN:

As reações foram

muito boas e estava tudo à espera do nosso regresso, portanto…

«REDEEMING FILTH» É UM ÁLBUM MUITO MADURO. SENTEM QUE A BANDA EVOLUIU DURANTE OS OITO ANOS DE PARAGEM? MARTIN

SCHULMAN: Claro! Crescemos, logo o álbum é mais maduro do que os anteriores. Também


“[…] CRESCEMOS, LOGO O ÁLBUM É MAIS MADURO […] TAMBÉM REGRESSÁMOS UM POUCO ÀS NOSSAS RAÍZES E PENSO QUE ISSO É FORMIDÁVEL! […]” regressámos um pouco às nossas raízes e penso que isso é formidável!

O QUE TERÁ CONTRIBUÍDO PARA ESSA EVOLUÇÃO? MARTIN SCHULMAN:

Os anos vão passando, ficamos mais velhos e vamos vendo a vida e tudo o que nos rodeia com olhos diferentes.

EM Q UE MEDIDA SE PODE ESPERAR A REDENÇÃO VINDA DO LIXO? MARTIN

SCHULMAN:

sobreviverem verão.

Os

que

QUERES FAZER UM COMENTÁRIO SOBRE A INTRIGANTE CAPA DO ÁLBUM? TWILIGHT 13 MEDIA PARECE-ME UM EXCELENTE CANDIDATO A UMA ENTREVISTA PARA A SECÇÃO DA VERSUS CONSAGRADA AOS ARTISTAS GRÁFICOS LIGADOS À MÚSI CA EXTREMA. MARTIN SCHULMAN:

Adoro esta capa, para nós está perfeitamente adaptada ao álbum! Já trabalhei várias vezes com a Twilight 13 Media e fico sempre admirado com a sua arte!

COMO ÉS O BAIXISTA DA BANDA, GOSTARIA DE SABER QUE IMPO RTÂNCIA ATRIBUIS AO TEU INSTRUMENTO DE ELEIÇÃO NESTE TIPO DE METAL. MARTIN SCHULMAN:

É certamente muito importante! Sem o baixo, o som ficaria muito monótono. Somos uma banda de Death Metal da velha guarda, não um conjunto de baile sueca.

GOST EI IMENSO DOS VOCAIS NEST E ÁLBUM: EMBORA SEJAM UM TANTO MONOCÓRDICOS, ESTÃO PERFEITAMENTE ADEQUADOS ÀS CANÇÕES. CONCORDAS COMIGO?

álbuns têm um som diferente, portanto…

QUE TAL É TRABALHAR COM A AGONIA RECORDS? MARTIN

SCHULMAN: Muito bom! Apoiam-nos muito, acreditam em nós e cumprem as promessas feitas. Estamos completamente satisfeitos com eles. TENCIONAM FAZER UMA DIGRESSÃO PARA PROMOVER ESTE ÁLBUM? QUE BANDAS GOSTARIAM DE CONVIDAR PARA FAZER A DIGRESSÃO DOS VOSSOS SONHOS? MARTIN

SCHULMAN: Não temos nenhuma digressão prevista. Apenas planeamos participar em muitos festivais. Gosto muito de participar em festivais, a beber cerveja e “schvammla” com os fãs. A ÚLTIMA MAS NÃO MENOS IMPORTANTE PERGUNTA: SE TIVESSES O PODER DE RESSUSCITAR UM MÚSICO, QUEM ESCOLHERIAS? MARTIN SCHULMAN:

Quorthon! Seria muito interessante saber que rumo Bathory teria seguido se ele ainda estivesse entre nós.

“ [ … ] [ R E S S U S C I TA R I A ] Q U O RT H O N ! S E R I A M U I T O INTERESSANTE SABER QUE R U M O B AT H O RY T E R I A SEGUIDO SE ELE AINDA ESTIVESSE ENTRE NÓS. […]” H TTP S : / / WWW.FACE BOOK.COM/CE NTINE XOF F ICIAL HTTP://YOUTU.BE /F K3PCDF QFAK

MARTIN

SCHULMAN: Concordo, mas não me parece que sejam monocórdicos. O Alex [Alexander Hogbom] fez um trabalho maravilhoso com as letras e tem uma voz fantástica, que não poderia estar mais adaptada ao estilo de Centinex. DESPREZAM O DEATH METAL EUROPEU? POR QUE OPTARAM PELA VERSÃO AMERICANA? MARTIN SCHULMAN:

Não, nada disso. Mas reconheço que o material deste álbum tem um cunho marcadamente americano. Contudo, todos os nossos

ANUNCIA AQUI 33 / VERSUS MAGAZINE


ENTREVISTA

“[…] AS PRIMEIRAS IDEIAS PARA O PROJECTO PARTIRAM DE MIM, NUMA FASE EM QUE AINDA NÃO CONHECIA O MICK, ISTO POR VOLTA DE 2007/2008. […]”

SLEEPING PULSE … QUE NUNCA O SOL ADORMEÇA E S TE Ú LT IM O T RIM EST RE, EM PART ICULA R , FOI B A S TANTE PR O D U TI V O Q U A NTO À MÚS I C A E MÚ S IC O S N A C IO NAIS. UM DOS M ELHORES É A C O LA B O R A Ç Ã O D E LU Í S FAZENDEI R O C O M MI C K MO S S . D E S TA PA R C ERIA NASCERAM OS S LEEP I NG S U N, UM PR O J EC TO QUE NÃO PODE SER DEIXADO DE PARTE. O SO L NA S C EU E É PAR A TODOS. Por: Adriano Godinho & Eduardo Ramalhadeiro ANTES DE MAIS, PARABÉN S P ELO Á LB U M. ESTÁ MUITO BOM! CO MO T EM S ID O A RECEPÇÃO DOS F ÃS, PRIN C IPA LMEN T E D O T EU OUTRO PROJE CTO, PAINTE D B LA C K ? A LG U MA S CRÍ TI CAS? LUÍ S FAZ E NDE IRO: Muito obrigado! Temos

recebido feedback de pessoas de várias partes do mundo e até agora a recepção tem sido muito positiva. É muito bom ver que as pessoas reagem e criam uma ligação emocional com a nossa música e ficamos obviamente muito contentes com isso porque também existiu da nossa parte um investimento emocional, e não só, em tudo o que respeita a criação do álbum. 34 / VERSUS MAGAZINE

Relativamente a críticas de fãs de Painted Black especificamente, não tenho muito essa percepção porque a maioria das mensagens que têm chegado até nós são de pessoas que simplesmente gostaram do que ouviram e não se identificam como pessoas que já seguiam Painted Black. De qualquer forma, sendo Antimatter uma banda com mais projecção, é natural haver pessoas que chegaram aos Sleeping Pulse porque já seguiam o trabalho do Mick.

C O MO N A S C E U A I D E I A D E S T E P R O J E C T O E C O N S EQ U EN T E C O L A B O R A Ç Ã O C O M O M I C K MO S S ? A ID E I A PA RT I U D E Q U E M ?

L . F.: As primeiras ideias para o projecto

partiram de mim, numa fase em que ainda não conhecia o Mick, isto por volta de 2007/2008. Tinha o nome para o projecto e ideias para dois temas mas ainda não tinha um objectivo bem definido. Sabia que queria fazer algo separado do universo metal e dos Painted Black mas não tinha vocalista. No dia em que conheci o Mick através do Duncan Patterson (em 2008), eles acabaram por pernoitar em minha casa e aproveitei para mostrar algumas coisas em que andava a trabalhar ao Mick. Ele era (e é!) uma grande influência para mim e não ia deixar escapar a oportunidade de lhe mostrar alguma coisa. Naquele momento nem me passou pela cabeça convidá-lo para cantar mas


“[…] A PARTE MUSICAL APARECE SEMPRE PRIMEIRO E SÓ DEPOIS AS LETRAS E A VOZ, POR ISSO NESSE ASPECTO O MICK É QUE DIGERIA À SUA MANEIRA O QUE OUVIA E ADAPTAVA UMA LETRA E CRIAVA AS MELODIAS VOCAIS SOBRE A MINHA BASE MUSICAL. […]” lembro-me que depois de ouvir uma versão demo instrumental de uma música, ele prontamente virou-se para mim e disse que se eu tivesse mais ideias para músicas ele adoraria criar linhas vocais para os temas. Como costumamos dizer, na altura “caíramme ao chão” e fiquei um bocado sem reacção, mas foi naquele instante que as peças necessárias para arrancar a sério com Sleeping Pulse se juntaram. Depois foi uma questão de ir criando temas ao longo dos anos, sem pressões ou deadlines, até que finalmente as nossas agendas se alinharam para lançarmos este primeiro álbum.

ESTE PROJE CTO É INTIMIS TA , IN T R O S P EC T IV O . TODA A PARTE MUSICAL ES T EV E A T EU C A R G O E O MICK TRATOU DO A S P EC T O LÍR IC O E VOCAL . COMO É QUE FO I A D A P TA R A T U A M ÚSI C A ÀS L E TRAS QUE NÃ O FO R A M ES C R ITA S POR TI? PODE S DIZ E R-NO S A LG O MA IS S O B R E A CRI AÇÃO DE “UNDE R TH E S A ME S K Y ” ? L. F.: O processo criativo foi precisamente

ao contrário, tal como acontece em Painted Black. A parte musical aparece sempre primeiro e só depois as letras e a voz, por isso nesse aspecto o Mick é que digeria à sua maneira o que ouvia e adaptava uma letra e criava as melodias vocais sobre a minha base musical. Uma das coisas que definimos foi mesmo essa separação de papéis, eu contribuo com toda a música e ele faz o trabalho lírico de forma livre sem “pisarmos os calos” um do outro mas este processo é muito dinâmico e como é óbvio trocamos sempre ideias e damos sugestões um ao outro. Há temas que musicalmente e a nível de estrutura não foram alterados e o trabalho vocal e lírico encaixou na perfeição mas houve outros que sofreram algumas alterações a nivel de estrutura ou que levaram ajustes de arranjos. Apesar de cada um ter o seu papel bem definido, no final é a junção das nossas duas partes e a nossa sinergia que faz uma canção ganhar vida.

O RESULTADO F INAL E RA O Q U E T U IMA G IN AVA S ANTES DE COME ÇAR? L. F. : Como referi, antes de conhecer o

Mick já tinha uma ideia de fazer algo fora do espectro metal e simplesmente experimentar coisas diferentes. No espaço de seis anos muita coisa mudou e posso dizer que foi o Mick que me incentivou e pôs à vontade para incluir alguma energia e uma sonoridade mais Rock ao nosso som. Na altura eu estava mais focado em criar um álbum completamente intimista e sem grande uso a “distorções”. Nessa perspectiva, o resultado final não foi completamente como eu imaginava na altura da génese do projecto. Ter uma pessoa como o Mick a criar música comigo é algo realmente especial e o facto de termos tido muito tempo para amadurecer as ideias também serviu para me habituar de forma muito orgânica e natural à música que íamos criando sem criar expectativas desnecessárias. Este tempo serviu também para percebermos que somos pessoas com sensibilidades muito idênticas e dada a variedade musical do nosso projecto tinha apenas a certeza que o quer que resultasse da nossa colaboração ia ser algo extremamente honesto e feito com paixão.

SENDO “UNDE R THE SAME S K Y ” U MA ES T R EIA , ESTE PROJE CTO SE RÁ PAR A C O N T IN U A R ? L. F. : Sim, a ideia é que os Sleeping Pulse são um projecto activo e sempre que a oportunidade aparecer e tivermos material

suficiente vamos voltar a entrar em estúdio para lançar um álbum. Neste momento, e agora que o disco já está cá fora, o Mick está focado no próximo álbum de Antimatter e eu estou no meio do processo de gravações do segundo álbum de Painted Black que deverá sair em 2015. Vamos ter as agendas bastante ocupadas a curto/médio prazo por isso penso que ainda vai demorar até voltarmos a ter tempo disponível para trabalhar novamente em música para os Sleeping Pulse, mas eventualmente irá acontecer.

A LÉM D E V O C Ê S O S D O I S , T I V E R A M A PA RT IC IPA Ç Ã O D E M A I S A L G U É M E M E S P E C I A L ? L. F.: Houve um conjunto de músicos de sessão que participaram no disco e que ajudaram a dar vida à nossa música. Destaco o baterista/percussionista Marcelo Aires (Colosso, Sullen, ex-Oblique Rain), o produtor Pedro Mendes (WAKO, Sullen) que emprestou os seus dotes de guitarrista em alguns solos, as vocalistas Jenny O’Connor e Sue Marshall e o músico David Miguel que me ajudou a transpor algumas melodias e arranjos que tinha para um quarteto de cordas e que acabou por incorporar algumas ideias dele também durante o processo.

ES T E T R A B A L H O F O I M A S T E R I Z A D O P E L O D A N IEL C A R D O S O , E M B R A G A , C O M O F O I T R A B A LH A R C O M E L E ? P E L O Q U E S E I E L E É B A S TA N T E R I G O R O S O E E X I G E N T E . L. F.: O Daniel para além de masterizar

também misturou o álbum mas não foi em Braga e sim no seu estúdio pessoal em Lisboa. Já o conheço há alguns anos e já tinha trabalhado com ele no primeiro álbum de Painted Black. Com base no seu longo currículo sabia que ele ia dar uma maisvalia à nossa música e dar o toque final que estávamos à procura e como grande profissional que é, ser rigoroso e exigente é algo obrigatório, algo que nós também somos no que diz respeito ao nosso trabalho. Como tal é uma forma de trabalhar que em nada choca e com que estamos completamente em sintonia. Criei uma amizade com ele ao longo do tempo e pessoalmente é sempre bom quando consigo passar tempo com ele e aprender algumas coisas ao mesmo tempo!

( EU S O U A FAV O R D O Q U E É N A C I O N A L , Q U A N D O O N A C IO N A L É B O M ) P O R Q U E E S C O L H E R A M ES T E ES T Ú D I O E M PA RT I C U L A R ? L. F. : Escolhi os UltraSound Studios em Braga

principalmente pelo produtor residente Pedro Mendes e pelas condições que ele oferece. Tenho uma amizade muito forte com ele de há já alguns anos e considero-o um dos melhores músicos e produtores do nosso país. Sabia que ele era a pessoa indicada para estar ao meu lado como co-produtor e engenheiro de som e neste momento vejo-o como uma pessoa essencial para me acompanhar sempre que gravar um projecto em que esteja envolvido.

EU A C H O Q U E A N Í V E L M U S I C A L F I Z E S T E U M T R A B A LH O A D M I R Á V E L E I N T E L I G E N T E . A MÚ S IC A A D A P TA - S E N A P E R F E I Ç Ã O À S L E T R A S E À V O Z. LI R I C A M E N T E FA L A N D O , “ U N D E R T H E S A ME S K Y ” T R A N S M I T E A L G U M A M E N S A G E M , A LG U M C O NC E I T O ? L. F. : Relativamente ao conceito lírico, prefiro sempre deixar essa explicação ao Mick, pelo simples facto que o conceito por trás do

álbum vem de uma experiência extremamente pessoal para ele. Por linhas gerais posso apenas dizer que fala de manipulação sociopática de uma pessoa para alcançar os seus objectivos, sem olhar a meios e sem consideração pelos sentimentos das pessoas que ela usa.

P O D E PA R E C E R U M C L I C H E T M A S NA S MI NH AS E N T R E V I S TA S A O S M Ú S I C O S P O RTU GUESES FA Ç O S E M P R E U M A S P E R G U N TA S S OBRE O T R A J E C T O M U S I C A L – N Ã O É F Á CI L V I VER D A M Ú S I C A E M P O RT U G A L E A C HO MU I TO I N T E R E S S A N T E P E R C E B E R O P E RCURSO DE Q U E M C O N S E G U E T E R S U C E S S O . PORTANTO , C O M O F O I PA R A T I , E N Q U A N T O MÚSI CO P O RT U G U Ê S , C H E G A R A E S T E P O N TO ? L . F. :

Bem, primeiro não me considero um músico de sucesso e muito longe de conseguir viver da música. O que posso dizer é que tudo o que alcancei até hoje foi fruto de uma vontade e paixão enorme que tenho em fazer música. Não acredito que sem esta vontade e este querer se consiga fazer o que quer que seja. A dedicação e espírito de sacrifício são características que acabam por vir ao de cima quando se tem de conjugar um emprego e o nosso tempo pessoal com o tempo necessário para criar música e apresentá-la às pessoas com o mínimo de qualidade. As pessoas de fora não fazem a mínima ideia do esforço e trabalho envolvido em construir um álbum do nada. Não é de todo uma vida fácil mas também não a sei viver de forma diferente. Acredito que todos nós temos um chamamento e eu decidi seguir o meu e fazer os possíveis (e às vezes o impossível) para equilibrar esta minha paixão com todos os outros aspectos da minha vida.

A C H A S Q U E E M P O RT U G A L C O NSEGUI RI AS E N C O N T R A R A L G U É M PA R A FAZER UM PROJECTO DESTES CONTIGO? L . F.: É uma pergunta difícil de responder...

Se fosse com outro vocalista/letrista certamente que em alguns aspectos o álbum seria diferente porque a sinergia não seria a mesma. Mas em Portugal há pessoas muito talentosas e até quis aproveitar este projecto para trabalhar com pessoas novas e que admiro e com as quais sabia que ia aprender muito. Toda a componente instrumental do álbum e a nível de produção teve mão de portugueses por isso nesse aspecto sinto que já estou a trabalhar com portugueses em Sleeping Pulse!

C E RTA M E N T E T Ê M M U I T O P E S S O A L Q UE V OS G O S TA R I A D E V E R A O V I V O , P O RTANTO , VOCÊS T Ê M A L G U M C O N C E RT O A G E N D ADO PA RA P O RT U G A L ? L . F.: Existe um esforço logístico considerável

para levar Sleeping Pulse para a estrada porque seria necessário juntar mais músicos e formar uma banda. Por essa e outras razões neste momento não existe nenhum plano para tocar ao vivo mas não fechamos essa porta no futuro caso apareçam oportunidades e as condições necessárias. No entanto, podem ouvir o tema “War” nos sets que os Antimatter andam a tocar ao vivo e a partir do próximo ano também vão ter a possibilidade de ouvir um tema de Sleeping Pulse nos concertos de Painted Black, caso o nosso tempo de actuação nos permita. WWW.FACE BOOK.COM/SL EEPI N GPULSE 35 / VERSUS MAGAZINE


ENTREVISTA

“[…] SERÁ ESCUSADO DIZER QUE ESSA NOMEAÇÃO FOI UMA AUTÊNTICA SURPRESA PARA NÓS… ATÉ PORQUE, NA REALIDADE, NÃO SABEMOS MUITO BEM COMO LÁ FOMOS PARAR… […]”

HOURSWILL © Cláudia Fonseca

HOURSWILL CHEGOU A HORA! CHEGARAM, G RAVARAM E VEN C ER A M . O S H O U R S WILL S Ã O U M A D A S NOVAS BAN D AS E M E RGE N TES N O C EN Á R IO MET Á LIC O N A C IONA L . A PROVAR I STO E S TÁ A M A IS R EC EN T E N O M EA Ç Ã O N O S ITE HE A DBANGERS DA AM É RI C A LAT IN A PA R A O MELH O R Á LB U M D E ME TA L PROGRESSI V O. P ODE SE R TUD O O U P O D E S ER N A D A . PA R A J Á P R O VA QUE TÊM QUAL I DADE E ASSI M O Q U EIR A M E A S O RT E O P ER M ITA , SE R Ã O UM CASO SÉ R I O N O PAN ORA MA N A C IO N A L. S EJ A M B EM - V IND O S ! Por: Eduardo Ramalhadeiro & Sérgio Teixeira & Adriano Godinho

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“[...] QUALQUER PESSOA QUE TENHA TENTADO ALGUMA VEZ INICIAR UM PROJECTO DE RAIZ SABE QUE EXISTEM MUITAS DIFICULDADES A SUPERAR [...]” VERSUS: ANTES DE MAIS, PARABÉNS PELO VOSSO ÁLBUM DE ESTREIA! ACHO QUE NÃO É NECESSÁRIO PERGUNTAR COMO ESTÁ A SER RECEBIDO...! NUNO S. DAM I ÃO: Boas! Muito obrigado pela vossa opinião! Até agora as opiniões têm sido bastante positivas sim. Esperemos que assim continuem (risos). E que continuemos a chegar ao maior número de pessoas que nos for possível. Aproveito desde já a oportunidade concedida, a qual agradecemos imenso, para convidar os vossos leitores a irem às nossas páginas das redes sociais (facebook, youtube, etc.), a ouvirem a nossa proposta e a porem um like se gostarem e nos acompanharem nos concertos que já temos agendados ou que eventualmente possam surgir no futuro. Toda a informação é disponibilizada no nosso site oficial ou facebook, é uma questão de estarem atentos às nossas publicações.

SÉRGIO TEIXEIRA: QUANDO É QUE SE JUNTARAM PARA FORMAR OS HOURSWILL? NUNO S. DAM I ÃO: O projecto iniciouse por volta da década passada inicialmente apenas com o José Bonito (guitarrista) e o Nuno Peixoto (baterista). O ano exacto nem eu próprio me recordo já… Algures por volta de 2009 entrei eu para a banda, quando me foi possível ter disponibilidade para me dedicar ao projecto. Na altura estava já a trabalhar e estudava à noite ao mesmo tempo, pelo que me era mesmo muito complicado assumir qualquer compromisso deste género. Nós os 3 já nos conhecemos há bastante tempo e fomos acompanhando os projectos uns dos outros aqui na nossa cidade, e sempre houve a vontade de fazermos algo em conjunto. Mais tarde juntaram-se a nós o Ruben Chamusca (baixo) e o Rodrigo Louraço (guitarrista) e foi aí que para além de completarmos a formação começámos a trabalhar mais afincadamente nas músicas que viriam a compor o “Inevitable”. Durante o processo de gravação o Rodrigo decidiu sair e nós convidámos o Sérgio Melo que nos estava a ajudar no processo

como co-produtor / engenheiro de som. Ele já estava familiarizado com as músicas e revelava-se genuinamente entusiasmado com o que estávamos a fazer, portanto foi a escolha natural para ocupar o lugar vago.

EDUARDO RAMALHADEIRO & SÉRGIO TEIXEIRA: QUANDO É QUE COMEÇARAM A TER A PERCEPÇÃO DE QUE TINHA CHEGADO A VOSSA VEZ E LOGO A SER CANDIDATOS A MELHOR DISCO DE PROG/HEAVY NO SITE/BLOGUE HEADBANGERS LATINO AMERICA. N U N O S . D A M IÃ O : Será escusado dizer que essa nomeação foi uma autêntica surpresa para nós… até porque, na realidade, não sabemos muito bem como lá fomos parar… Nós temos tentado entrar em contacto com a imprensa especializada, numa tentativa de divulgar o nosso trabalho o máximo possível, mas foi uma surpresa enorme chegar um dia ao facebook da banda e ter uma mensagem privada a anunciar que fomos escolhidos como candidatos aos melhores álbuns de Prog/Heavy numa publicação que inclusive desconhecíamos que existisse! Começando no próprio rótulo que nos têm atribuído, Metal Progressivo, que até acaba por nos servir mas com o qual não nos sentimos muito confortáveis (quando se fala em “progressivo” normalmente associa-se a músicos virtuosos e de um nível técnico “estratosférico”, o que não corresponde à nossa realidade) até ao facto de aparecermos ao lado de nomes com uma carreira enorme e do qual inclusive somos fãs… foi um pouco assustador o choque inicial. Mas é sem dúvida uma honra para nós, tanto o facto de sermos nomeados como o de aparecermos ao lado de nomes tão ilustres! Só posso concluir que ou não saíram assim tantos álbuns de jeito na categoria prog/ heavy este ano (risos) ou então realmente conseguimos atingir algo minimamente decente com o “Inevitable”, que era de facto o único objectivo a que nos propusemos. Não houve propriamente uma altura em que nos sentámos e achámos que estava na altura de gravar o “Inevitable”. As músicas foram surgindo naturalmente na nossa sala de ensaios e quando tivemos

um número de músicas suficiente com as quais estávamos satisfeitos decidimos passar para a fase de gravação. Nem sabíamos sequer muito bem se estávamos realmente e totalmente preparados para isso, apenas decidimos seguir em frente.

EDUARDO RAMALHADEIRO: UMA VEZ QUE VIVER DA MÚSICA EM PORTUGAL É UMA TAREFA COLOSSAL ISTO É ALGO QUE GOSTO DE PERGUNTAR AOS ENTREVISTADOS PORT UGUESES: COMO FOI CHEGAR ATÉ AQ UI? QUÃO DIFÍCIL FOI E QUE OPÇÕES DE VIDA TIVERAM DE TOMAR? NU NO S . D A M IÃ O : Não foi fácil, mas nunca é fácil para ninguém, nós não somos excepção nesse aspecto. Qualquer pessoa que tenha tentado alguma vez tentado iniciar um projecto de raiz sabe que existem muitas dificuldades a superar. Começa logo no aspecto monetário, investimentos que obrigatoriamente se têm que fazer a nível de material, local para ensaiar com o mínimo de condições, e há igualmente alguns gastos inusitados e que não estamos propriamente à espera, para além de tudo resto que me estou a esquecer. Tudo isto é pago do próprio bolso do músico, o que implica um investimento monetário bastante grande dos mesmos e do qual há uma forte probabilidade de não se chegar alguma vez a ver algum retorno sequer. É nesse estádio, por assim dizer, que nos encontramos actualmente. Depois, há que sacrificar parte do tempo pessoal, e não pouco, para ensaiar e fazer as coisas acontecerem, nada cai do céu aos trambolhões. Posto isto, não é nada que outro músico qualquer do nosso underground não pudesse igualmente dizer. No nosso caso, e uma vez que somos todos um grupo de pelintras (risos), não podemos abdicar dos nossos trabalhos do dia-a-dia de modo a poder “sustentar” os nossos gastos com a banda. Isto implica também ter menos tempo para nos dedicarmos à música, e consequentemente maior roubo do nosso tempo pessoal. Alguns de nós já temos casas para pagar, relações fixas e até as nossas próprias famílias, o que dificulta ainda mais as coisas. Outros optam por ainda viver em casa dos pais. 37 / H O U R S W I L L


ENTREVISTA

HOURSWILL © Cláudia Fonseca

São basicamente este tipo de escolhas que fazemos numa base quase diária, mas no fundo é uma escolha que todos já fizemos há muito tempo e somos o que somos em função disso. Quando se tenta erguer um projecto minimamente sério há que ter em conta todos estes factores, para além do aspecto emocional, pois o percurso vai sendo feito com altos e baixos e há que estar preparado para isso. O tempo vai nos dando a “bagagem” necessária para enfrentar essas dificuldades e acaba por ser um processo natural. Ainda não chegámos a um ponto de fazer aquelas escolhas realmente difíceis, por isso as coisas vão evoluindo gradualmente.

SÉRGIO TEIXEIRA: ALGUNS DE VOCÊS TÊM FORMAÇÃO MUSICAL OU SÃO TODO S AUTO-DIDACTAS? NUNO S . D AM I ÃO: Não sei responder com toda a certeza por todos na banda, mas tenho a percepção que somos todos praticamente autodidactas. Eu pelo menos sou-o totalmente, nunca tive formação ao nível musical. Durante algum 38 / H O U R S W I L L

“[…] MAS TENHO A PERCEPÇÃO QUE SOMOS TODOS PRATICAMENTE AUTO-DIDACTAS […]”

tempo participei num coro de vozes e nessa altura deu para apanhar algumas coisas, mas não se trata na verdade de formação musical uma vez que o objectivo é o resultado final no conjunto e não a aprendizagem de cada um dos elementos. É possível que alguns dos outros membros tenham tido algum tipo de aulas numa fase inicial mas neste momento nenhum de nós está a ter formação nesse sentido. Deste modo, o que cada um de nós tem aprendido nos últimos anos é de um modo totalmente auto-didacta.

ADRIANO GODINHO: FOI COMPLICADO/ DEMORADO CONSEGUIR ALCANÇAR O OBJECTIVO QUE TINHAM DELINEADO PARA ESTA GRAVAÇÃO? NUNO S. D A M IÃ O : Foi um pouco complicado sim, mas especialmente bastante demorado. Como ninguém na banda se dedica 100% a isto devido às nossas outras actividades (especialmente laborais), o processo de gravação foi sendo gradual e de acordo com a disponibilidade de cada um, o que acabou por se tornar num

processo que demorou alguns meses. A própria mistura e masterização do álbum foi feita por uma pessoa que também não se dedica a 100% a essa actividade, pelo foi um processo gradual e que atrasou ainda mais o lançamento do “Inevitable”. Depois, claro, houve alguns problemas técnicos relativos ao equipamento usado, tipo computadores a darem o berro ou pistas que desaparecem inexplicavelmente, sem qualquer razão aparente. Aliás, isso tem sido uma constante ao longo de toda a nossa carreira desde o início, ao ponto de considerarmos de certa forma que estamos amaldiçoados (risos). Apesar de tudo, acho que toda a gente envolvida no processo fez o seu melhor e estamos bastante contentes com o resultado final. Óbvio que agora, uma vez que já tivemos algum tempo para avaliar melhor o trabalho feito, temos noção de algumas coisas que poderiam ter ficado melhor ou sido feitas de forma diferente. Acho que isso é natural para qualquer músico, mas não há nada que nos faça perde o sono.


“[...] COMO NINGUÉM NA BANDA SE DEDICA 100% A ISTO DEVIDO ÀS NOSSAS OUTRAS ACTIVIDADES (ESPECIALMENTE LABORAIS), O PROCESSO DE GRAVAÇÃO FOI SENDO GRADUAL E DE ACORDO COM A DISPONIBILIDADE DE CADA UM [...]” ADRIANO GODINHO: COMO É O PROCESSO CRIATIVO DA BANDA? BASEIAM-SE EM RIFF OU IDEIAS MAIS DIVERSAS? NUNO S . D AM I ÃO: Não há propriamente uma regra ou plano para o processo criativo. A maioria dos temas surgiram inicialmente baseados em riffs que foram aparecendo e as músicas foram sendo montadas na sala de ensaios de acordo com o que gostávamos e nos soava bem. Houve outras coisas que surgiram espontaneamente durante os ensaios em determinadas alturas que compúnhamos as músicas e fazíamos experiências. A partir do momento em que nos sentimos satisfeitos com determinada estrutura-base de uma música começamos a trabalhar ao nível dos arranjos, sendo essa parte a que acaba por ser mais pensada, por assim dizer, até porque alguns dos arranjos feitos não existiam antes do processo de gravação por serem impossíveis de reproduzir na sala de ensaios. Alguns eram apenas ideias que fomos guardando ao longo do processo criativo e que só quando os gravámos é que foram reproduzidos.

ADRIANO GODINHO: O ÁLBUM FALA DA INEVI TABILIDADE, PODES NOS CONTAR MAIS DETALHES SOBRE A MENSAGEM QUE PRETENDEM TRANSMITIR? NUNO S . D AM I ÃO: As letras do “Inevitable” abordam vários temas e possuem muito criticismo à sociedade e ao estado actual do mundo em geral. Nelas falamos de erros do passado, situações actuais e incerteza quanto ao futuro. O clima de insegurança gerado pela crise económica mundial actual bem como outras situações que ocorrem um pouco por todo o mundo e que já não são de agora tiveram uma influência muito grande nas letras que fizemos. Ponderando atentamente nalguns casos retratados, é quase inevitável não os abordar de um ponto de vista extremamente negativo. Eu preferia não me alongar muito e fazer uma análise muito profunda das letras individualmente pois prefiro deixar em aberto para que o ouvinte as ouça e leia e as interprete ou se identifique à sua própria maneira. É óbvio que muitas delas partem

de situações e reflexões de certa forma pessoais, mas acho interessante ser confrontado com outras ideias e pontos de vista diferentes aos que inicialmente me motivaram a escrever. De resto, as letras não são crípticas ao ponto de serem ininteligíveis, pelo que não acho que requeiram uma explicação muito detalhada, e penso que desta forma até acabam por se tornar mais interessantes para o ouvinte.

ADRIANO GODINHO: QUAL É PARA TI A MÚSICA MAIS CONSEGUIDA DESTE TRABALHO? E QUAL É A QUE MAIS CUSTOU A SER CONCLUÍDA, ATÉ VOS SATISFAZER INTEIRAMENTE PARA PERTENCER A ESTE TRABALHO (SE ALGUMA)? N U N O S . D A M IÃ O : Sinceramente, há algumas músicas que me são mais apelativas mas por razões mais de um ponto de vista sentimental ou por terem uma certa energia diferente, mas acho que estão todas num nível bastante equilibrado e como tal não vou realçar nenhuma. Quando olhamos para as músicas é como se fossem as nossas meninas (risos) e cada uma tem uma particularidade diferente que faz delas especiais, por isso é difícil escolher alguma em detrimento das outras, pelo menos ainda nesta fase. A nível de composição da estrutura-base, talvez indicaria a “Inevitable Collapse” como a que nos deu algum trabalho adicional e foi uma espécie de quebracabeças por não ter propriamente uma estrutura linear e típica de uma canção riff, refrão, riff, refrão. Ao nível dos arranjos, talvez a “Weight Of Vengeance” por causa da parte no meio que faz a ponte entre o início e o fim da música, tínhamos muitas ideias para ela e nem todas resultaram, pelo que essa parte mereceu uma atenção especial. Mas nada que fosse particularmente penoso ou difícil, todas fluíram de um modo bastante natural.

SÉRGIO TEIXEIRA: NÃO DEVE SER FÁCIL CONCILIAR A VIDA PESSOAL E PROFISSIONAL COM AS CADA VEZ MAIORES SOLICITAÇÕES PARA ACTUAÇÕES AO VIVO; COMO É QUE GEREM A BANDA DESTE PONTO DE VISTA?

NU NO S . D A M IÃ O : De momento não temos assim tantas solicitações ao vivo de modo a que esteja a ser impossível de conciliar todos os nossos deveres. A nível profissional, as coisas são como são e têm um “estatuto” quase intocável, infelizmente, pelo que o que acaba por sofrer mais é mesmo a vida pessoal. Mas todos nós e com quem estamos já tínhamos consciência disso, sempre tentámos levar as coisas o mais sério possível, por isso acaba por haver muito entendimento nesse aspecto. As solicitações vão sendo analisadas conforme aparecem e sempre que as condições se encontram minimamente encaminhadas para podermos corresponder ao pedido, fazemonos à estrada e damos o nosso melhor.

SÉRGIO TEIXERA: ACHAM QUE AINDA TÊM MARGEM PARA PROGREDIR TENDO EM CONTA O ÚLTIMO DISCO? EM QUE VERTENTES GOSTARIAM AINDA DE TENTAR MELHORAR? NU NO S . D A M IÃ O : Claro que sim! A nível técnico há sempre muito para aprender, mesmo coisas que depois não se utilizem numa base regular mas que abrem perspectivas para outras. Mas o que interessa no fim de tudo não é isso, é que as músicas soem bem e sejam interessantes, principalmente para nós que somos os nossos primeiros críticos e para o público em geral. A composição e o sentimento são sem dúvida a alma do negócio, por assim dizer, podes ser capaz de tocar 300.000 palhetadas por micro segundo e no entanto não escrever uma única música que seja apelativa. Esperamos continuar a evoluir constantemente nesse sentido.

EDUARDO RAMALHADEIRO: QUAIS SÃO OS VOSSOS PLANOS RELATIVOS A CONCERTOS? HÁ A POSSIBILIDADE DE VOCÊS SE INTERNACIONALIZAREM? NU NO S . D A M IÃ O : Para já temos dois concertos agendados como banda suporte a Sacred Sin (dia 19 no Hard Club, Porto, e 20 deste mês no RCA, Lisboa). De resto, temos alguns convites já para 2015 que ainda não estão confirmados, e como tal não posso já revelar.

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ENTREVISTA

HOURSWILL © Cláudia Fonseca

O nosso objectivo é tocar o máximo possível de modo a promover o “Inevitable”, desde que as condições estejam reunidas para isso. Quanto a internacionalização… bem, nunca podemos dizer nunca e todos veríamos isso com bons olhos, mas não nos cabe a nós dizer se isso vai acontecer. Será tudo definido tendo em conta o nosso próprio trabalho e as circunstâncias que eventualmente possam surgir, e como tal é algo que foge um pouco ao nosso controlo. Quem sabe? Esperemos que sim, seria bom sinal!

A VERSUS ESPERA ESTAR NO HARD CLUB PARA FAZER A REPORTAGEM E VOS APOIAR. OBRIGADO NUNO S. DAM I ÃO: Mais uma vez nós é que agradecemos a oportunidade que nos deram e esperamos encontra-vos e aos vossos leitores por lá. Esperemos que gostem do nosso trabalho e das nossas actuações e que continuem a apoiar as bandas portuguesas, sem o vosso suporte nenhuma consegue resistir. Um grande abraço a todos, e ROCK ON! 40 / H O U R S W I L L

HO U R S W I LL

«Inevitable» (Ethereal Sound Works) É sempre motivo de satisfação quando encontramos uma banda portuguesa a lançar um disco com repercussões fora do território nacional. Desta feita os Hourswill foram os responsáveis pela proeza de serem nomeados para melhor álbum de metal progressivo de acordo com o site “Headbangers Latinoamerica”. Com o álbum «Inevitable» deste ano de 2014, conseguiram um trabalho suficientemente robusto para que não passasse despercebido. Globalmente, este «Inevitable» é sobretudo uma

incursão bem consistente e homogénea nos meandros do metal progressivo. Sem ser demasiado melódico (a ausência de sons de sintetizador ou teclados abarca quase todo o trabalho), este «Inevitable» acaba por ser mais cru do que a generalidade dos álbuns progressivos que são atualmente produzidos. No entanto é com facilidade que após 2 ou 3 audições se consigam memorizar uma mão cheia de riffs. Os temas “Vows of Submission” e “Inevitable Collapse” ou ainda “Nothing Divine” são exemplo do que me refiro, com riffs que ficam no ouvido sem que os temas se esgotem nesses segmentos mais apelativos. Aliás o essencial está cumprido no que diz respeito à linha de composição com os temas a não sucumbirem à evidência, fruto da dinâmica de riffs suficientemente imprevisíveis e originais tanto nas guitarras como na bateria; a acompanhar estão vocalizações à altura do trabalho. Para um primeiro trabalho de 9 temas, fazer melhor não é nada fácil; julgo que há margem para evolução deste quinteto. Acredito que o processo de maturação só agora começou e que novas surpresas virão por intermédio dos Hourswill. [ 8 . 5 / 1 0 ] S É R G I O TEI X EI RA WWW.HOURSW I LL.COM HTTP://YOUTU.BE /N H0BF4VCB_ M


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ENTREVISTA

THE GODSPEED SOCIETY OS DEUSES NÃO ESTÃO LOUCOS O S T H E G O D S P E E D SOCIET Y SÃO UM A DAS MELH O R ES BA NDA S NA C I O NAI S . “K I LLI NG TA LE” FOI U M D O S ME L H O R E S Á L B U N S DE 2012 E UM A REFERÊNC I A NO RO C K NA C I O NAL. U MA AB O R D A G EM I NOVAD O R A E O R I GIN A L A T O D O S OS NÍVEIS. QUANDO PENSÁVAMOS Q U E A FAS Q U I A S ER I A I NTRA NSP O NÍ VEL EI S Q U E O S THE GODSPEED SOCIETY NOS SURPREENDEM. VAMOS LÁ CONHECER AS NOVIDADES COM A AJUDA DA SÍLVIA. Por: Eduardo Ramalhadeiro OLÁ SÍLVIA! É UM PRAZ E R FA ZER MA IS U MA ENTREVISTA. NO E NTANTO, N Ã O T E P O S S O D A R JÁ OS PARABÉ NS PE L O N O V O Á LB U M. Q U E PENA. BEM ... F UI VASCUL HAR A EN T R EV IS TA Q U E T E FI Z HÁ UNS ME SE S NA QUA L P ER G U N T EI S O B R E AS VOSSAS INF L UÊ NCIA S MU S IC A IS . IS T O PORQUE E STOU A GOSTAR IMEN S O D O Q U E ESTOU A OUVIR. A VE RSÃ O D E “ WIT C H C R A FT ” FAZ-M E L E MBRAR MUITO J ET H R O T U LL, C O M OS PORME NORE S DA F L A U TA T R A N S V ER S A L. COM O SÓ AINDA PODE MOS O U V IR U M T EMA , O QUE É QUE PODE MOS E SPER A R D O Á LB U M? VA I SER NA ME SMA L INHA DO A N T ER IO R O U FA R Ã O UM A ABORDAGE M DIF E RE NT E? 42 / VERSUS MAGAZINE

S ÍLV IA : Estávamos de facto a preparar uma

sequela de «Killing Tale» há bastante tempo. Temos já o início da história delineado e alguns temas preparados, tudo na gaveta neste momento. O que aconteceu foi que desta vez o trabalho estava a ser muito mais feito em conjunto na sala de ensaios. Criámos, ensaiamos, gravámos coisas e pelo meio fizemos muitas jam sessions e experiências. Percebemos que nos unimos muito mais e nos divertimos muito mais daquela forma e acho que quando nos olhávamos nos olhos ao fazer aquelas novas músicas, estávamonos todos a sentir de alguma forma aliviados e surpreendentemente libertos. Concluímos rapidamente que agora não nos apetecia continuar presos a personagens e a uma

única estória e a partir daí a liberdade foi total. Todos os nossos gostos musicais, influencias e experiências vieram à tona e por isso, respondendo à tua pergunta, se no «Killing Tale» tínhamos um bolo com ingredientes como o Blues, o Jazz e o Rock, agora temos uma sobremesa um pouco mais colorida. Poderemos sentir a presença do Rock, do Pop, uma pitada de psicadelismo e do Rock Progressivo, de Jazz, de Blues e por aí fora.

C O M “ K I L L I N G TA L E ” V O C Ê S I NO VA RAM DE U M A F O R M A E X T R A O R D I N Á R I A . O CONCEI TO D A H I S T Ó R I A , O L I V R O N O C D ( Q U E EU TENHO! : - ) ) ) ) , A S I L U S T R A Ç Õ E S , U M A E D IÇ ÃO


ENTREVISTA

“[…] LIBERTÁMO-NOS DE UMA HISTÓRIA, DE PERSONAGENS COM UMA PERSONALIDADE VINCADA, ETC. MAS QUERÍAMOS MANTER O NOSSO EU QUE TANTO NOS ORGULHAMOS DE TER CRIADO . […]”

GRÁFI C A 10 E STRE L AS ( NU MA ES C A LA D E 0 - 5 ) . VOCÊS COL OCARAM A FAS Q U IA ELEVA D ÍS S IMA . QUE SU RPRE SAS PODE MO S ES P ER A R ? VA MO S TER O UTRO ÁL BUM CON C EP T U A L? EX P LIC A NOS O CONCE ITO DAS CARTA S E D A S P EQ U EN A S NARRATIVAS? SÍ LVI A:

Como te disse na pergunta anterior, libertámo-nos de uma história, de personagens com uma personalidade vincada, etc. Mas queríamos manter o nosso EU que tanto nos orgulhamos de ter criado. Não podíamos, nem queríamos deixar de ser os The Godspeed Society, para passar a ser outra banda mas com o mesmo nome. Então perguntámo-nos se ao invés de escrever uma nova estória, se não poderíamos escrever várias. Então surgiu o conceito de passar às pessoas várias mensagens. Podemos ser quem quisermos livremente: uma mulher idosa, uma mulher amargurada, um filho, um pai, um amigo, sentir amor, sentir raiva, não sentir nada, ser fútil, ser profundo, o que quisermos. Conceptualmente poderemos decidir o final deste novo capítulo da banda. Escrever quantas canções quisermos e fechar este ciclo quando quisermos. Podemos só lançar as músicas digitalmente ou se os fãs nos ajudarem, chegar ao fim com um álbum físico novamente surpreendente. Pelo menos o esboço dele, está feito, espero que se concretize.

EU TE NHO ACOMPAN H A D O OS TGS, TANTO A NÍVE L PE SSOA L C O MO A N ÍV EL “PROF ISSIONAL ”. PORQU E É Q U E V O C ÊS ESCOLHE RAM E STE TIPO D E A B O R D A G EM MU I SUI GENE RIS. L ANÇAR UM T EMA D E D O IS EM DOI S ME SE S? O QUE É QUE FA ZEM

EN T R ETA N T O ? G R AVA M , ENSAIAM, T R A B A LH A M . . . ! ? ( P R O VAV E L M E N T E , E S TA S D U A S Q U EST Õ E S “ F U N D E M - S E ” N U M A S Ó . . . ) EU LI Q U E V O C Ê S N O S V Ã O S U R P R E E N D E R D E V Á R IA S FO R M A S . U M A D E L A S É O C O N C E I T O “ LA S T WO R D S S E S S I O N S ” . C O M O F U N C I O N A E PA R A Q U E S E RV E ?

ALGO QUE VOU ACHAR M U I TÍ S SI MO I N T E R E S S A N T E É O S I S T E M A DE A UDI ÇÃO 3 D . C O M O É Q U E I S S O VA I FUNCI ONAR? P O S T E R I O R M E N T E H AV E R Á U M A ED I ÇÃO C OM E S T E F O R M AT O ? Q U A N D O S E R Á LANÇADA A EDIÇÃO FINAL?

S ÍLV IA : Lançar um disco sem um investimento

Chris Landone que é um engenheiro de som que está a colaborar com a nossa agência de espectáculos como Consultor Técnico. O Chris está a explorar a gravação e audição binaural e está a desenvolver o seu próprio software que permite transformar os temas que gravamos num tema para audição em 3D com auscultadores tradicionais, ou seja, não é necessário nenhum equipamento especial. Explicando muito rapidamente, o que este sistema faz será semelhante a um efeito de panorâmica, mas ao invés de determinado instrumento passar do auscultador direito para o esquerdo ou vice-versa, esse instrumento pode “viajar” para a parte de trás da nossa cabeça, para o topo, para a frente, etc. Podemos ouvir o movimento do instrumento em qualquer direcção que o Chris programar, ou simplesmente ouvi-lo situado onde quisermos, por exemplo, a bateria pode situar-se na nossa nuca, e minha voz à frente ou no topo, ou onde quisermos. O Witchcraft por exemplo, estará disponível em todas as plataformas digitais para streaming e para compra do tema (no iTunes por exemplo). Se o ouvirmos através dos speakers dos nossos computadores ouviremos como é habitual, mas se o ouvirmos com auscultadores ou in-ears de preferência, teremos a audição 3D a funcionar.

financeiro grande não é impossível. Conhecemos de perto alguns casos que mencionam o “low cost” e o “é possível se quiserem” como uma bandeira. Acontece que para isso acontecer, há sempre alguém que o financia por ti ou há sempre um amigo que empresta material, que te faz um preço mais económico e que te permite que se realize! Nós fizemos um grande esforço para concretizar o «Killing Tale» e não estávamos dispostos a passar por isso outra vez. O problema é que, não temos nada contra o crowdfunding, mas não queríamos ir por aí. Não nos sentíamos confortáveis em pedir às pessoas que nos pagassem primeiro para fazermos o nosso trabalho. Também não estávamos a tocar com a regularidade que queríamos. Então estávamos num impasse. O que fazemos, gravamos novo álbum? Como? E como tocamos sem trabalho novo? Então este conceito das cartas veio clarificar todas as nossas dúvidas. Lançamos uma carta / canção nova e apresentamo-la ao vivo. Com a receita desse espectáculo, gravamos nova canção e apresentamo-la ao vivo, etc., etc. Desta forma tocamos mais e gravamos o nosso disco.

S Í LV I A : Tivemos o prazer de conhecer o

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ENTREVISTA

“[…] LANÇAR UM DISCO SEM UM INVESTIMENTO FINANCEIRO GRANDE NÃO É IMPOSSÍVEL.. […]”

ESTE TIPO DE . . . CHAMEMO S -LH E C O N C EIT O TAM BÉ M SE RÁ L ANÇADO FO R A D O PA ÍS ? COM O É QUE E STÁ A SE R FEITA A P R O MO Ç Ã O NO ESTRANGE IRO – SE É Q U E ES T Á – E S E TAM BÉ M HÁ CONCE RTO S P R EV IS T O S . N Ã O ACHAS QUE O VOSSO F U T U R O PA S S A P ELO VOSSO RE CONHE CIME NTO LÁ FO R A ?

T O D A ES TA “ G I N Á S T I C A ” D E F I N A N C I A M E N T O Q U E V O C ÊS FA Z E M , T E M A V E R C O M A S D IFIC U LD A D E S E M V I V E R E M D A M Ú S I C A ? O U S EJ A , IS T O É A V O S S A P R O F I S S Ã O O U H Á A LG O MA IS PA R A L Á D A M Ú S I C A ? N U N C A V O S PA S S O U P E L A C A B E Ç A S A I R D O PA Í S ?

SÍ LVI A: Estamos a trabalhar com calma em

formula para o sucesso. Vejamos dois exemplos de sucesso lá fora completamente distintos: Uma banda de metal que conheço (que não os RAMP), agarraram na sua juventude, garra, força e inteligência mais uns trocos (poucos ou nenhuns) e bastantes latas de conservas (que eram as suas refeições durante dias a fio), colocaram tudo dentro de malas de viagem e partiram rumo à aventura e venceram. Não o teriam conseguido se as pessoas não gostassem da música que fizeram, mas também não o teriam conseguido se cá tivessem ficado à espera de reviews aos seus discos. Uma outra banda que acompanho e de que gosto com um registo completamente diferente, tocaram por cá, conseguiram tocar num festival que lhes deu alguma visibilidade, o programador de um festival internacional viu o espectáculo e gostou. Tocaram uma data nesse festival lá fora, falou-se muito nesse espectáculo através dos media e assim conseguiram marcar mais datas lá fora. Eu nunca tive a coragem de largar tudo e partir para a aventura sem garantias, confesso, mas gostaria muito de tocar lá fora, de fazer algumas datas, de fazer uma tour. Até porque o reconhecimento, infelizmente é muito diferente fora do país do que o que temos cá. As reviews que tivemos ao «Killing Tale» lá fora são o exemplo disso: o que dizem de nós garante-nos que as pessoas ouviram o álbum de fio a pavio e pesquisaram sobre a banda, entenderam o conceito e gostaram. Tivemos sempre excelentes criticas. Cá em Portugal, nem se deram ao trabalho porque não estávamos na moda.

todas as frentes, nacional e internacional. Em breve todo o mundo poderá ouvir a nossa música nas plataformas digitais e sim, o nosso objectivo passa por tocar lá fora, é uma coisa que queremos muito fazer.

COM I STO VOCÊ S NÃO TÊM O R EC EIO Q U E A S PESSOAS OUÇAM OS TEMA S E D EP O IS N Ã O COM PRE M O ÁL BUM? ( P O R MIM, S Ó Q U ER O SABER ONDE E QUANDO. . . ) SÍ LVI A: Quem quiser o nosso álbum poderá ir

comprando os nossos temas um a um e no final terá um álbum. Tal como outros artistas também nós temos a opção da edição digital e física. Se acharmos que temos condições e vontade de o lançar fisicamente, então também o faremos. Deixemos o futuro para o futuro. O nosso próximo plano é mais um tema, e mais uma apresentação oficial desse tema e mais espectáculos. O que acontecerá a seguir é um surpresa até para nós. Imagina tu que ao responder-te a estas questões, até estou a ter ideias para o nome do álbum!

ESTAMOS E M PORTUGA L Q U E N Ã O É U M PAÍ S CONHE CIDO PE L AS O P O RT U N ID A D ES – ESPECIAL ME NTE NA MÚSIC A . EN T R EV IS T EI O RUI DUARTE DOS RAMP, Q U E É O U T R A B A N D A COM MUITA QUAL IDADE E LU TA M FER O ZMEN T E PARA MANTE RE M A “CABEÇ A FO R A D ’A G U A ” .

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S ÍLV IA : Hoje em dia é inútil tentar encontrar a

PERANTE A VOSSA Q U A LI DADE (E INTELIGÊNCIA) CONTINUO ES PANTADO P O R N Ã O V O S O U V I R N A S R Á DI O S – FI Z R E F E R Ê N C I A A I S T O N A O U T R A ENTREVI STA – É E N E RVA N T E E D E S E S P E R A N T E VER P OR A Í TA N TA M E D I O C R I D A D E C O M O P O RTUNI DADES, P U B L I C I D A D E E O U T R A S C O I S A S QUE TA I S... O Q U E É Q U E V O S FA LTA PA R A V O C Ê S TER EM O D E V I D O R E C O N H E C I M E N T O ? B E M . . . NÃO Q UERO C O M I S T O D I Z E R Q U E PA R A T E R Q UALI DADE É P R E C I S O PA S S A R N A S R Á D I O S MAS EU I A A D O R A R O U V I R - V O S N A S R Á D I O S NA CI ONAI S DE REFERÊNCIA! S Í LV I A : Não te sei responder sinceramente o

público a quem já chegámos, gosta, até agora, do que ouve, dá-nos os parabéns pelas nossas músicas e comprou-nos o nosso primeiro álbum. As rádios, não todas mas a maioria, ainda não nos deram a oportunidade de nos ouvir, por isso ainda somos ilustres desconhecidos

V O C Ê S M E R E C E M T U D O P O RQUE SÃO D I F E R E N T E S E T Ê M I M E N S A Q U A L I DADE, P OR I S S O T Ê M O M E U R E S P E I T O E A P OI O. SENDO A S S I M , Q U A N D O E O N D E S E R Ã O O S P RÓXI MOS C O N C E RT O S D O “ L A S T W O R D S SESSI ONS”? A P R O V E I TA A P U B L I C I D A D E ! ! S Í LV I A : Para já podemos anunciar que a nossa

próxima sessão será em Janeiro no Musicbox. Mantenham-se atentos ao nosso Facebook! Obrigada à Versus Magazine e ao Eduardo pelo apoio desde sempre e pelas palavras calorosas!

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ENTREVISTA

“HÁ MUITOS SENTIMENTOS PESSOAIS E MUITAS HORAS INVESTIDAS NESTE ÁLBUM.”

AUTUMNAL REAL MELANCOLIA O S NUE STR O H E RM ANOS AUTUM NAL LANÇA M , S O M E N T E , O S E U S E G U N D O Á L B U M D E O RI GI N AI S. U M A OD E A O SENTIM ENTO E À M ELANCO L IA M IS T U R A D O C O M F Ú R IA E D E S E S P E R O . F IC ÁM OS A S A B ER, TA MBÉ M, QUE A DIFICULDADE EM V IV E R E S O B R E V IV E R D A M Ú S IC A E M E S PA N H A É UM P R O BL EMA IR MÃO. DEIXEM - SE LEVAR P O R E S TA M A R AV IL H A O U T O N A L … N E M A P R O PÓSI TO! Por: Eduardo Ramalhadeiro OLÁ! ANTES DE MAIS OS MEUS PARABÉNS PELO ÁLBUM. ESTÁ EXCELENTE! É DAQUELES LANÇAMENTOS QUE SOMOS OBRIGADOS A ESCREVER SOBRE ELES. «THE END OF THE THIRD DAY» ESTÁ A SER BEM RECEBIDO? Obrigado pelas tuas palavras!! (Vamos tentar usar o Português; Está um pouco enferrujado agora). As opiniões têm sido mistas, mas, em geral, este álbum está a ser muito bem recebido. No entanto, estamos ansiosos para saber o

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que vai acontecer e qual será a reação do público. É algo diferente de “Grey Universe”, o trabalho anterior, mas acreditamos que vão gostar muito. Há muitos sentimentos pessoais e muitas horas investidas neste álbum.

APESAR DOS AUTUMNAL TEREM NASCIDO EM 1998, ESTE É SOMENTE O VOSSO SEGUNDO ÁLBUM. NO ENTANTO, VOCÊS DEMONSTRAM UMA GRANDE MATURIDADE MUSICAL. PARA JÁ, ESTE É UM GRANDE LANÇAMENTO VOSSO E POR ISSO PERGUNTO: FOI

MUITO DIFÍCIL CHEGAR ATÉ ESTE PONTO? Temos ido a um ritmo mais lento por diferentes situações pessoais (alguns vivem em Madrid, Javier vive em Barcelona, na sua maioria pais, etc.) e porque este não é o nosso meio de subsistência (ainda!). Não podemos gastar todo o tempo necessário. Durante todo este tempo, temos ouvido muitos grupos diferentes e propostas tão grandes e diversas, que temos melhorado em maturidade e experiência. Também tivemos a ajuda de músicos incríveis, por isso este


“[…] TEMOS IDO A UM RITMO MAIS LENTO POR DIFERENTES SITUAÇÕES PESSOAIS (ALGUNS VIVEM EM MADRID, JAVIER VIVE EM BARCELONA, NA SUA MAIORIA PAIS, ETC.) E PORQUE ESTE NÃO É O NOSSO MEIO DE SUBSISTÊNCIA (AINDA!). […]” trabalho, embora tenha sido difícil para todos, tem sido uma das experiências mais intensas de nossas vidas.

NÃO É POR ACASO QUE SOMOS PAÍSES IRMÃOS E A NÍVEL MÚSICAL SÃO DOIS PAÍSES PARECIDOS NA MENTALIDADE. EU LI QUE OS VOSSOS EP’S FORAM PRODUZIDOS PELA BANDA. É MUITO DIFÍCIL EM ESPANHA UMA BANDA GANHAR ESPAÇO E ESTATUTO? QUAIS FORAM AS VOSSAS MAIORES DIFICULDADES? COMO É VIVER DA MÚSICA EM ESPANHA? (EM PORTUGAL, POR EXPERIÊNCIA PRÓPRIA SEI QUE É MUITO COMPLICADO…) O apoio é geralmente pobre (falta de instalações, a falta de apoio das pessoas do mundo da música, “os média”, etc), mas há muitas propostas e bandas interessantes, criando grandes coisas. O maior obstáculo é seguir no meio das adversidades, dificuldades e falta de apoio; isto é o trabalho de todos os dias. No entanto, como as barreiras de comunicação entraram parcialmente em colapso por causa das redes sociais, agora é mais fácil chegar a mais lugares. Os promotores como Doomed Events, produtores como Carlos Santos, ou bandas espanholas como Helevorn, Evadne, El Páramo, Adrift, Aathma, Kmehr, Otus, ou os Portugueses Process of Guilt, estão a trabalhar mais do que nunca para serem ouvidos.

MUSI CALMENTE FALANDO, A VOSSA MÚSICA É UMA EXCELENTE MESCLA DE VÁRIOS SENTIMENTOS E CARACTERÍSTICAS QUE LHE CONFEREM UM DOS MELHORES TRAB ALHOS A NÍVEL SENTIMENTAL. EU NÃO SEI SE GOSTO MAIS DAS PARTES ÉPICAS, NEGRAS OU DAS HARMONIAS. NO ENTANTO, VOU DIZER QUE ESTOU COMPLETAMENTE APAIXONADO PELO TEMA “HEAD OF THE WORM”, PARTICULARMENTE, O ÚLTIMO MINUTO ONDE DEPOIS DE UMA MELODIA JAVIER SOLTA UM GROWL DESESPERADO. PORQUÊ ESTE FINAL APÓS TODO O TEMA NUM RESGISTO BELO, MELANCÓLICO E HARMONIOSO? Era apropriado para o tema. “The Head of the Worm” é a luta para evitar a paralisação, as fases da vida em branco... Aqueles momentos em que tu sentes que não te podes mover e perceber que estás perdendo dias, semanas e anos e que a morte se aproxima rapidamente. No final da

canção, a realidade iminente: A mãe de preto, a morte um dia chega. Todas as cordas, juntamente com growls, elevando a intensidade até o fim mais drástico.

instrumentos são problemáticos ao vivo, podemos dizer que vão ser sintetizados. No entanto, vamos lutar para que os instrumentos possam ser vistos e ouvidos ao vivo.

A PROPÓSITO DOS GROWLS, ELES ESTÃO NOS TEMAS NA QUANTIDADE CERTA. NUNCA VOS PASSOU PELA CABEÇA FAZER ALGO MAIS COM A VOZ MAIS AGRESSIVA E DESEPERADA?

O DESIGN DA CAPA ESTÁ, TAMBÉM, FANTÁSTICO! O CONCEITO É DA RESPONSABILIDADE DO JÚLIO. O QUE É QUE SE ESCONDE POR DETRÁS DO MENINO NA JANELA? O Q UE É QUE ELE ESPERA NO FINAL DO TERCEIRO DIA?

Na verdade, equilibrar as músicas com mais ou menos growls não é a intenção. Contamos especialmente com a letra e geralmente dá lugar a rebentar com rugidos de desamparo. Canções como “A Tear from a Beast”, que narra com extrema melancolia como podemos influenciar o destino e formação de nossas gerações mais jovens, não permitiu tons agressivos. No entanto, em “The Storm remains the Same” pura ação e agressividade de eventos passados, a agressividade foi necessária. Depende da história que precisa ser contada.

UM TEMA QUE SIMPLESMENTE ADORO É A VERSÃO DOS SUPERTRAMP – “DON’T LEAVE ME NOW”. ESTÁ EXCELENTE NA FORMA COMO VOCÊS A TOCAM E NA VOLTA QUE LHE DERAM. PORQUE É QUE ESCOLHERAM ESTE TEMA? SE NÃO ME ENGANO O TEMA ORIGINAL TEM MENOS 1M30S. O QUE É QUE VOCÊS ACRESCENTARAM A MAIS NA VOSSA VERSÃO? As influências dentro do grupo são variadas. Nunca foi fácil chegar a um acordo sobre estas questões. Esta “Don’t leave me now” deu-nos a solução. Supertramp é uma das bandas presentes na nossa infância e “Don’t leave me now” uma das canções mais deprimentes e melancólicas da banda. Continha a mensagem perfeita e precisávamos de a incluír no disco. No final, a versão foi muito boa... Embora um pouco diferente do original, para dar um pouco mais de cor “metálica” e depressão, usando os nossos recursos.

VOCÊS INCLUÊM DE UMA FORMA QUASE DISCRETA E SUBLIMINAL ALGUMAS ORQUESTRAÇÕES. DE QUEM FOI A RESPONSABILIDADE? ELAS SÃO SINTETIZADAS OU SÃO MÚSICOS A SÉRIO? Responsável, junto com a banda, é Alberto Román Silgado, um bom amigo (conhecemos-nos há mais de 20 anos) e um músico excepcional, atualmente a trabalhar com artistas como o violinista e compositor Ara Malakian. Devido às condições das instalações (usualmente) e o facto de que esses

A capa foi feita por Mario C. Vaises, um designer local com excelentes trabalhos por trás. Julio teve a ideia inicial e com a ajuda de todos, foi mais enriquecida. A luz da janela representa as promessas, oportunidades e bons momentos que desfrutamos quando somos crianças. Isto desaparece à medida que nos tornamos adultos, por causa do tempo perdido, decepção, desesperança, etc. Mas, mesmo quando somos derrotados, continuamos a ficar no escuro, lamentando e procurando uma luz que nos possa guiar de volta. Quanto ao que acontece no final do terceiro dia, podemos dizer que a ideia é resumida na frase do encarte do CD: “E no final do terceiro dia acabou, porque três foi demais.” Alguém que acompanhou a Javier na sua vida costumava dizer: “Três é demais” “Eu amo vocês três” e assim por diante. Mas tudo terminou como habitualmente termina tudo. Chegou o “três”. Eu gosto da ideia de fazer a comparação com as três idades do Homem: infância, idade adulta e velhice... e depois tudo termina. Estas são as etapas de um relacionamento romântico: paixão, estabilidade e off ... e depois tudo termina.

OBRIGADO PELA ENTREVISTA! O ÁLBUM ENTROU PARA A MINHA LISTA DE ÁLBUM DO ANO. POR ULTIMO, HÁ PLANOS PARA VOCÊS VIREM A PORTUGAL? Muito obrigado por esta avaliação!! Nós estamos contentes por teres gostado do álbum. Estaremos em Portugal no início do próximo ano, possivelmente em Lisboa. Obrigado pela entrevista e por promover os Autumnal na página da VERSUS

“ O A P O I O É G E R A L M E N T E P O B R E ( FA LTA D E I N S TA L A Ç Õ E S , A FA LTA D E A P O I O DAS PESSOAS DO MUNDO DA MÚSICA, “ O S M É D I A ” , E T C ) , M A S H Á M U I TA S P R O P O S TA S E B A N D A S I N T E R E S S A N T E S , CRIANDO GRANDES COISAS. […]” HTTPS://WWW.FACE BOOK.COM /AUTUM N ALDOOM HTTP://YOUTU.BE /RVQS- QEEHWA 4 7 / VERSUS MAGAZINE


GARAGE POWER

“HOJE EM DIA É POSSÍVEL AFIRMAR QUE UMA BANDA DEPENDE PRINCIPALMENTE DE SI E DO TRABALHO DE CADA UM DOS MEMBROS PARA SE MANTER “VIVA” NO PANORAMA MUSICAL, PRINCIPALMENTE NO METAL”

MONOLYTH DESCOBERTA DA ORIGEM É I NE G Á V E L Q U E O SEIO UNDERGROUND DO METAL RES ERVA BO A S SU R P R ES A S . E PO R I SS O CO S TU MA MO S E S TA R AT E N T O S A O QUE SE PASSA NESSE S EI O . HÁ A LG U M TEMP O Q U E A V ER S U S A NDA D E O LH O N U MA B A N D A Q U E D E S DE LOGO NOS SUSCIT OU UMA CERTA CU R I O S I D A D E. FO R A M P R ES ENÇA EM V Á R I O S C O N C E RT O S L O C AIS, M OST RANDO SEM PRE O SEU VA LO R E EV O LU Ç Ã O . ATÉ Q U E AG O R A SU R G EM C O M U M DIS C O Q U E S ERÁ O PASSAPORT E PARA UM MU NDO D E R EC O NHEC I MENTO . É MA I S U MA H I S T Ó R I A D E U MA B A N D A Q UE COM O SEU ESFORÇO C O NSEG U I U TR A B A LH A R , AP ER FEI Ç O A R -S E E D ES TA C A R S E . FA L Á MO S C OM ALGUNS ELEM ENT OS D A B A NDA PAR A S A B ER MOS U M PO U C O D A S U A O R I G EM. Por: Victor Hugo HÁ AL GUM TE MPO QUE O U Ç O FA LA R N O S M ONOLYTH E A CURIOS ID A D E FO I FIC A N D O VI NCADA. COME ÇO POR V O S P ER G U N TA R COM O F OI O VOSSO NASCIMEN T O ? BUTUC: Este projeto nasceu em 2009. Eu e o

Tiago somos vizinhos e desde que me lembro tivemos interesse em criar uma banda. Começámos por ensaiar no meu quarto durante uns meses só os dois, contudo sentimos a necessidade de recrutar mais

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elementos para a banda. O primeiro a juntarse à banda foi o MP (vocalista) e de seguida entrou o Gonçalo Lemos (guitarra). Um dos principais obstáculos de Monolyth foi a procura de um baixista. O nosso primeiro baixista foi o Pedro Maia que esteve connosco até final de 2011, depois chamámos o João Mota que esteve connosco até Junho de 2013. Após a saída do Mota o David Alves integrou nos Monolyth como baixista. Como membro fundador deste projeto sinto que todos evoluímos bastante como músicos,

pessoas e profissionais. Aproveito para fazer uma ligação com a temática do novo álbum e “apresentar” o sexto elemento dos Monolyth que é o Andrés Malta, que foi o homem que produziu este álbum e merece todo o nosso respeito por ter acreditado em nós.

S I N T O Q U E C O M E S T E « O R I G I N » E S TÃ O A D AR U M PA S S O I M P O RTA N T E N A V O S S A C ARREI RA. O Q U E S I M B O L I Z A E S T E « O R I G I N» PARA A BANDA?


GARAGE POWER GONÇAL O:

Não é só um passo importante, é O mais importante. Até agora não tínhamos maneira de chegar a mais pessoas pois não havia um álbum ou um EP para representar o nosso som. Estamos muito orgulhosos do disco, e vai ser durante algum tempo a cara da banda.

AO OUVIR O « ORIGIN» PA R EC EU -ME N AT U R A L RECORDAR-ME DE UMAS TA N TA S B A N D A S CONHE CIDAS. AS VOSSAS IN FLU ÊN C IA S ES T Ã O PRESENTE S. COMO DE F IN IR IA M O S O M D O S M ONOLYTH? GONÇAL O:

Temos muitas influências já admitidas… Machine Head, Lamb of God, Gojira, Meshuggah, etc. Neste disco penso que são essas as mais presentes. Muitos riffs pesados, partes rápidas, groove, mas também secções limpas, refrões cantados e uma produção muito cuidada.

M AS NÃO F OI ISSO QUE M E ES PA N T O U . O Q U E M E ESPANTOU F OI A QUAL ID A D E A P R ES EN TA D A . COM O F OI TRABAL HAR N ES T E Á LB U M AT É TEREM O PRODUTO F INAL?

GONÇA L O :

Foi um processo mesmo muito longo! Para teres uma ideia, começámos a gravar as baterias do disco em Abril de 2012 (!). Por vezes tornou-se angustiante, mas por outro lado demos muita importância aos detalhes e isso permitiu-nos fazer o melhor disco que conseguiríamos fazer nesta altura.

SEI Q UE HÁ PARTICIPA Ç Õ ES ES P EC IA IS NALGU MAS MÚSICAS. Q U ER EM FA LA R U M POUCO SOBRE E SSAS PA RT IC IPA Ç Õ ES ? PENSA RAM E M OUTRO S N O MES PA R A PARTI C IPARE M NO VOSSO Á LB U M? M P: Aconteceram de forma muito natural na

verdade. O Andrés Malta (que participa na Denied and Broken) foi o produtor do disco, trabalhou imenso neste projeto e colaborou de forma espontânea (não só nessa música, mas em muitos pormenores do álbum). Sendo músico e vocalista de outros projectos (Munchies, The Lemon Lovers, ex-Beautiful Venom), para nós foi ótima a sua participação mais “presente” nesta faixa. Quanto ao Snake (participa na Fake Symptom), já conhecíamos o seu trabalho há algum tempo (Colosso, ex-Nebulous). Após um concerto no Hard Club em que partilhámos o palco com os Nebulous, fui falar com ele para voltar a partilhar o palco com a banda, e daí surgiu esta colaboração. Tivemos outros nomes em mente, mas devido à sua inteira disponibilidade e profissionalismo decidimos optar por chamá-lo, e não poderíamos estar mais satisfeitos.

VOCÊS NÃO TÊ M E D IT O R A . S EN T EMSE CONF ORTÁVE IS SE M U M S U P O RT E PROM OCIONAL E DE VE NDA Q U E U MA ED IT O R A OFEREC E ? PROCURARAM U MA ED IT O R A ? T ÊM I NTERESSE NAL GUMA?

GONÇA L O :

É óbvio que estamos recetivos a quaisquer propostas de editoras, mas não é algo que nos tire o sono. Mas sem dúvida que seria uma rampa de lançamento para o grupo.

S EN T EM Q U E N O S D I A S D E H O J E , E T E N D O E M C O N TA O PA N O R A M A D A C E N A M E TA L , U M A ED IT O R A J Á N Ã O É T Ã O I M P O RTA N T E C O M O D A N T ES , E Q U E U M A B A N D A É C A PA Z D E S E A U T O -P R O M O V E R ?

para um segundo disco. Aliás, até já vamos tocando ao vivo 2 ou 3 temas feitos numa fase pós-“Origin”, digamos assim. Esperem uma sonoridade mais pesada…

G O N Ç A LO :

“O

Hoje em dia é possível afirmar que uma banda depende principalmente de si e do trabalho de cada um dos membros para se manter “viva” no panorama musical, principalmente no Metal. Contudo, penso que isso não invalida a ajuda das editoras e agências, que não deixam de ter importância quanto à promoção e divulgação de um disco. Se acreditam e se empenham para defender os interesses dos músicos, tanto melhor, senão estes apenas têm que dar o seu melhor para serem reconhecidos.

G R A N D E T R U N F O PA R A C O N Q U I S TA R O P Ú B L I C O E GANHAR SEGUIDORES É DAR O MELHOR ESPETÁCULO POSSÍVEL AO VIVO […]”

ES TA R EI ER R A D O A O D I Z E R Q U E A V O S S A “ ED IT O R A ” É O PA L C O ? G O N Ç A LO : É até mais importante do que isso. O grande trunfo para conquistar o público e ganhar seguidores é dar o melhor espetáculo possível ao vivo, até porque como sabemos as vendas de discos atualmente não são fonte de sustento para quase ninguém…

C O MO C O R R E R A M O S V O S S O S C O N C E RT O S PA R A P R O M O V E R O « O R I G I N » ? G O N Ç A LO :

Ainda só tivemos dois concertos no mês de Outubro (mês do lançamento do disco), sendo um deles a data de apresentação em Aveiro, mas podemos afirmar que tivemos uma boa reacção e que apresentámos uma evolução positiva desde os últimos concertos que tivemos no início do ano.

C O MO C O R R E R A M O S V O S S O S C O N C E RT O S FA LA N D O U M P O U C O , A G O R A , A C E R C A DOS ASSUNTOS DAS MÚSICAS. QUAL É A MEN S A G EM D O S M O N O LY T H ? MP : Tentamos não expor uma só mensagem,

mas várias, de acordo com o contexto das letras das músicas. Se prestarem atenção ao conteúdo lírico do “Origin”, apercebem-se de que este segue um padrão, e transmite uma história ao longo do disco. O álbum fala sobre a procura dos sentimentos e emoções humanas através duma personagem fictícia, que pode ser qualquer um de nós, passando por várias fases; perseguição, loucura, aceitação, redenção, e o descobrimento do próprio ser.

T ÊM P LA N O S PA R A C O N C E RT O S F O R A D E AV EIR O ? SI N T O Q U E I S S O N Ã O S E R Á D I F Í C I L T EN D O EM C O N TA A V O S S A Q U A L I D A D E – O MU N D O ES P E R A - V O S ! BUTUC:

Posso adiantar que temos planos para concertos fora de Aveiro, mas não posso dizer onde nem quando. Se tudo correr como estamos a planear vocês vão ter uma grande surpresa! Estejam atentos!

E MAT ER IA L N A G AV E TA ? J Á H Á ?

M O NO LY TH «Origin» (Edição de Autor) Se pensarmos numa estrutura forte, maciça e quase inquebrável, é uma possível imagem que podemos imaginar ao ouvir esta estreia dos aveirenses Monolyth. «Origin» é algo assim, sem dúvida. Mal escutamos os primeiros minutos do álbum percebemos que estamos presente uma obra bem pesada. Mas não se resume só a peso. Há por aqui riffs bem interessantes, detalhes bem esgalhados ora de bateria, ora de guitarra, ora da voz, ora do baixo. Significa, portanto, que este álbum traz consigo um bom leque de malhas que se destacam por si mesmo. Fruto, claro está, do esforço e bom trabalho da banda, com a ajuda do incansável, e já reconhecido, Andrés Malta que ajudou imenso na produção do disco. O resulto é muito satisfatório. De destacar, também, que para um álbum de estreia, este «Origin» está muito acima da média. O pessoal aqui da Versus fica à espera dum sucessor, até que já há material na gaveta. E, apesar das reminiscências e óbvias comparações com outras bandas que façamos ao longo do disco, «Origin» vale muito mais que essas comparações – vale pelo resultado final que é muito, muito bom. É caso para dizer aos vários colegas suecos: “Cuidem-se!” [ 9 / 1 0 ] V I CTO R HUGO

G O N Ç A LO :

Felizmente, isso não é um problema de todo. Nunca parámos de compor desde o início das gravações do “Origin”, e temos bastante material novo

4 9 / VERSUS MAGAZINE


ENTREVISTA

“[EXECRAMOS] A FALSIDADE E AS PESSOAS IGNORANTES QUE NÃO CONSEGUEM COMPREENDER-SE A SI PRÓPRIAS.“

© Carsten Aniksdal

EXECRATION SUBINDO A FASQUIA A P O S TA R A M N O DEAT H M ETAL NUM PAÍ S ONDE NÃ O É C ERTAMENTE ESTE O GÉNERO P O P U L A R . S E N T EM QUE FAZEM PART E DE UM MOV I MENTO NO SENTI DO DE RENOVAR A ME TAL N O R U E G UESA. JÁ NO SEU T ER C EI R O LONGA DU R A Ç Ã O , S ENTEM-S E CA D A VEZ E X I G E N T E S E M RELAÇÃO AO SEU T RAB A LH O E ES P ER A M A S S I M C O NQU I S TAR NO V O S

MA I S C EN A MA I S FÃ S .

Por: CSA QUEM OU O QUÊ QUEREM EXECRAR? CATO S YVE R SRUD: A falsidade e as pessoas ignorantes que não conseguem compreender-se a si próprias.

DE ONDE VÊM? JÁ NOUTRAS BANDAS? CATO S YVE R SRUD:

ESTIVERAM

Sim, todos, mas nunca com a dedicação com que nos envolvemos com Execration. A tarefa de formar uma banda constituída por pessoas que têm a mesma atitude 5 0 / VERSUS MAGAZINE

perante a música e objetivos semelhantes e que tocam com perícia os instrumentos que interessam é um empreendimento que requer muito tempo e esforço. Portanto, todos nós passámos por muitos estádios antes de chegarmos aqui. Esse processo moroso acabou por se revelar muito positivo, porque nos deu alguma experiência destas lides.

OUVIR A VOSSA MÚSICA LEMBRA-ME BANDAS ALEMÃS DE BLACKMETAL RECENTES COMO SECRETS OF THE MOON OU DARK FORTRESS MAIS DO

QUE O TIPICAMENTE NÓRDICO MELODIC DEATH METAL. QUEM VEEM COMO OS ANTEPASSADOS DE EXECRATION? C ATO S Y V E R S R U D : Já nos compararam

com muitas bandas, alguma das quais nós próprios nem conhecemos. Penso que isso acontece, porque não damos a mínima importância à inclusão num género dentro do Metal. Mas é claro que nos vemos como herdeiros de algumas bandas, algumas com muito peso para nós: por exemplo, Autopsy, Darkthrone, Voivod, Gorguts... Mas frisamos a


“[…] COMO OS NOSSOS INTERESSES VÃO SOFRENDO ALTERAÇÕES, [...] O MESMO ACONTECE COM A FORMA COMO EXECRATION SE EXPRIME EM TERMOS MUSICAIS.” ideia de que não pretendemos copiar o som de ninguém e acrescentamos que também somos influenciados por outras formas de arte e música. Como os nossos interesses vão sofrendo alterações, à medida que o tempo passa, o mesmo acontece com a forma como Execration se exprime em termos musicais.

NEST E MOMENTO, ANDO A LER UM NÚMERO ESPECIAL DA TERRORIZER DEDICADO AO BLACK METAL NORUEGUÊS. JÁ CHEGUEI AO ARTIGO CONSAGRADO AO DEATH METAL, APARENTEMENTE VISTO COMO UM ESTILO UM TANTO ESQUECIDO NO VOSSO PAÍS. O QUE PENSAM DESTA IDEIA ? CATO S YVE R SRUD: De facto, a cena

norueguesa de Black Metal resultou mais ou menos do estiolamento do Death Metal. Algumas das primeiras bandas norueguesas de Black Metal começaram por tocar Death Metal, mas depressa chegaram à conclusão de que tinham de fazer algo diferente. À exceção de Cadaver e mais algumas bandas, a Noruega tem sobretudo “produzido” Black Metal desde o início dos anos 90. Mas, com o tempo, também este género acabou por se exaurir. Portanto, recentemente, temos assistido ao renascer do Death Metal e há bandas a tocar Heavy Metal, Thrash e estilos mais experimentais. Assim, apesar de, durante algum tempo, o Black Metal ter estado na ribalta, houve sempre novidades noutros géneros underground. Quando um estilo começa a ficar demasiado gasto, é altura de dar lugar a outro. É uma lei da natureza. Mesmo tendo isto em conta, não sinto que o Death Metal seja um género esquecido no meu país. Apenas esteve enterrado durante algum tempo, para amadurecer.

SERÁ QUE TODAS AS CANÇÕES DESTE VOSSO ÁLBUM SE REFEREM MESMO A DIMENSÕES MÓRBIDAS DA VIDA QUOT IDIANA? OU SELECIONARAM O NOME DE UMA CANÇÃO FAVORITA PARA DESIGNAR TODO O CONJUNTO? CATO S YVE R SRUD: «Morbid Dimensions»

é uma designação global para o álbum, corresponde ao seu tema central. Cada canção poderia ser vista como uma das dimensões, uma parte de um todo, embora sejam todas diferentes umas das outras. O título do álbum, as faixas e a arte representam partes iguais de uma experiência. Trabalhámos com todos esses elementos em simultâneo desde o início. Portanto, não usámos o nome de uma das faixas para designar todo o álbum. Pelo contrário, foi a designação global que lhe demos que

condicionou a integração das canções no conjunto criado.

NÃO TÊM A SENSAÇÃO DE, POR VEZE, ESTAREM A VIVER NUM MUNDO QUE NÃO EXISTE, QUANDO FAZEM MÚSICA DESTE TIPO? PODERIA FUNCIONAR COMO UM DOS “PARAÍSOS ARTIFICIAIS” DE QUE FALA BAUDELAIRE. C AT O S Y V E R S R U D :

Penso que não. Mas concordo com a ideia de que esta música tem o condão de te levar a transcender o quotidiano, a evocar certos sentimentos e a viajar para lugares que só existem na tua imaginação. O nosso propósito é tão só dar corpo a uma ambiência obscura, tenebrosa, mortífera. Neste contexto frio e desolado, cada um tem de encontrar o seu próprio sentido para a vida ou, alternativamente, reconhecer que esta carece de sentido. As trevas são omnipresentes, mas não pretendemos, nem desejamos ir para outro lugar. Na minha opinião, a religião e as superstições são apenas meios que o ser humano encontrou para conseguir gerir estas ansiedades, porque não é fácil lidar com elas. De facto, é paradoxal que a morte seja um tabu na nossa sociedade, quando ela diz respeito a todos nós.

COMO É O TRABALHO DA BATERIA EM «MORBID DIMENSIONS»? COMO SE ORGANIZARAM OS QUATRO PARA FAZER ESTE ÁLBUM? S YV E R S R U D : Como sempre, escrevemos o álbum em grupo. A maior parte das nossas canções são escritas na sala de ensaios, resultando da improvisação. Gastamos muito tempo a trabalhar os riffs e as estruturas para aperfeiçoar as várias faixas. Embora tenhamos uma base musical semelhante, inspiramonos em diferentes quadrantes e é a combinação de todos esses elementos que dá origem ao som característico de Execration. No estúdio, trabalhámos imenso para chegarmos ao som desejado, para conseguirmos ter o melhor ponto de partida possível para fazer a mixagem. As linhas básicas de bateria, baixo e guitarra foram gravadas no estúdio, ao vivo. Pareceunos que esta era a melhor maneira de captar a energia da banda e também é um processo que mais rápido do que gravar em pistas diferentes. Quando o trabalho de base ficou concluído, acrescentámos overdubs, extras e os vocais. Esta parte do processo também foi muito criativa. No fundo, consiste em encontrar a atmosfera ideal para cada faixa e também para a globalidade do álbum.

DE QUE FORMA IRÁ ESTE ÁLBUM AFETAR A CARREIRA DA BANDA? C ATO S Y V E R S R U D : Antes de mais, tendo

em conta os nossos objetivos artísticos, acho que fomos bem-sucedidos na tentativa de elevar o nosso som e a nossa competência de composição a níveis que nunca antes tínhamos atingido. Com «Morbid Dimensions», criámos um álbum singular, relevante no panorama atual da música extrema e que se distingue de todos os nossos lançamentos anteriores. No entanto, será facilmente reconhecido como um álbum de Execration. Ainda é difícil dizer de que forma vai afetar a nossa carreira, mas posso desde já dizerte que todas as críticas que tivemos até agora foram muito promissoras. Despendemos muito tempo e esforço na criação deste álbum, portanto esperamos naturalmente granjear uma audiência mais alargada. No fim de contas, estamos muito satisfeitos com o resultado obtido. Aconteça o que acontecer, isto é o mais importante para nós.

JÁ FIZERAM COM A TENCIONAM ÁLBUM COM

VÁRIOS LANÇAMENTOS DUPLICATE RECORDS. LANÇAR O PRÓXIMO ESTA EDITORA?

C ATO S Y V E R S R U D : Para já, ainda não

temos nenhuns planos. Até ao momento, temos mantido uma excelente relação com a Duplicate Records. Na altura própria, faremos o que nos parecer mais vantajoso para nós.

C AT O

“[…] NÃO SINTO QUE O D E AT H M E TA L S E J A U M GÉNERO ESQUECIDO NO M E U PA Í S . A P E N A S E S T E V E ENTERRADO DURANTE A L G U M T E M P O , PA R A AMADURECER.”

W W W. FA C E B O O K . C O M / E X E C R AT I O NNORWAY H T T P : / / Y O U T U . B E / S L 2XKH_PH9C

5 1 / VERSUS MAGAZINE


ENTREVISTA

“[…] AGORA É A INTERNET QUE DESEMPENHA ESSE PAPEL [DIVULGAÇÃO DO METAL], ATRAVÉS DO FACEBOOK E OUTRAS REDES SOCIAIS. (…)“

VARATHRON BLACK METAL E CULTURA CLÁSSICA: UMA MISTURA EXPLOSIVA É E S TA A O P I N IÃ O DE ST EFAN NECROABYSS I O U S , LÍ D ER DO S GR EG O S VAR ATHR O N, SO B R E A L I G A Ç Ã O E N TR E U M G É N E RO M USICAL SURGIDO NO FI NA L DO SÉC . X X E A MI LENAR CU LTUR A CLÁ S S I C A G R EG A . D A Í Q U E O Ú LT IM O ÁLBUM DA BANDA T ENH A P O R TÍ TU LO «U NTRO D D EN CO R R I D O R S O F H A D ES »! Por: CSA CONSTATEI QUE FAZES UM PROGRAMA DE RÁDIO E ÉS EDITOR DE UM FANZINE. NA TUA OPINIÃO, QUE PAPEL PODERÃO ESSES MEIOS DE COMUNICAÇÃO DESEMPENHAR NA DIFUSÃO DA MÚSICA EXTREMA NA GRÉCIA, PRINCIPALMENTE JUNTO DOS MAIS NOVOS? STEFA N

N E C ROABYSS IO U S : Penso que meios de comunicação como as revistas e programas na rádio e na TV 5 2 / VERSUS MAGAZINE

desempenharam um papel importante nesse contexto, especialmente nas últimas décadas. Não me parece que seja esse o caso atualmente. Parece-me que agora é a internet que desempenha esse papel, através do facebook e outras redes sociais. Nos bons velhos tempos, os fanzines, os programas de rádio consagrados ao metal e a troca intensa de cassetes eram as melhores formas de promover qualquer banda. Também usávamos flyers, que seguiam nos envelopes, para reforçar a promoção. Já fui responsável pela edição de vários

fanzines: “Genital Grinder”, “Genital Necrosis” e a poderosa “Blasphemous” magazine. Todos eles foram grandes trabalhos de arte. Desde 1997, tenho um programa chamado “Twilight Zone”, que passa na 98.7FM.

DE QUE FORMA PODERÁ ESTE TIPO DE MÚSICA PREPARAR OS JOVENS PARA ENFRENTAR OS TEMPOS NEGROS QUE ESTAMOS A VIVER NA EUROPA? S . N. : As dificuldades que estamos a


“ […] PARA MIM, A MÚSICA TENEBROSA É UM PASSAPORTE PARA VIAJAR PARA QUALQUER DIMENSÃO OU MUNDO, ALGO QUE NÃO É FÁCIL DE ALCANÇAR. […] ” atravessar foram criadas pelos políticos idiotas que governam os nossos países. A música tem o condão de se espalhar, de entrar nas nossas almas e de enriquecer as nossas mentes. Para mim, a música tenebrosa é um passaporte para viajar para qualquer dimensão ou mundo, algo que não é fácil de alcançar. É uma ode ao senhor das trevas. A nossa música transmite crenças verídicas às gerações futuras e fortalece-as contra as mentiras e as falsas promessas. Esta é a minha sincera opinião.

Se leres sobre os nossos deuses da Antiguidade, sobre o seu culto, irás encontrar muitas semelhanças com o universo desse subgénero do Metal. Estou a pensar na adoração de Hades, nas reuniões infernais e na celebração dos deuses do mundo subterrâneo. As odes e salmos que irás encontrar constituem a maior prova desse parentesco.

APRESENTAM-VOS COMO UMA BANDA CLÁSSICA, QUE FAZ BLACK METAL TRAD ICIONAL. É ASSIM QUE SE VEEM?

S . N . : Bem, depois do lançamento de

S. N. : Somos uma banda de culto

na cena Black Metal desde 1988. Fomos a primeira banda do género a aparecer na Grécia e fazíamos parte da “Trindade Maldita” com Necromantia e Rotting Christ. Como me sinto? Maravilhosamente bem. Atualmente, tratam-nos com imenso respeito e isso honra-nos muito. Os nossos fãs desejam ver-nos criar mais salmos malditos. Eu nutro o maior respeito por todos os que nos apoiam no mundo inteiro e não quero desapontá-los de modo algum.

COMPARAM-VOS A BANDAS DA PRIMEIRA VAGA DE BLACK METAL COMO BEHERIT E CELTIC FROST. ESTAS BANDAS INFLUENCIARAM-VOS? HÁ OUTR AS QUE VOS TENHAM ENSINADO ALGO QUE TIVESSE AJUDADO A CONSTRUIR O VOSSO ESTILO? S. N. : Hellhamer, Celtic Frost, Bathory,

Sarcófago dos primeiros tempos, Venom e Morbid Angel. São estas as bandas que nos influenciaram e que constituem fontes de inspiração para nós. Foram elas que nos levaram a formar Varathron, a criar música malévola e tenebrosa! Ainda me lembro desses tempos que passámos no estúdio. Ensaios em que políamos riffs que surgiam constantemente nas nossas mentes. Grandes momentos! Grandes ideias! Amo esses dias e, por vezes, pensar neles faz despertar em mim uma grande nostalgia.

COMO PODEM RELACIONAR O BLACK METAL COM A CULTURA GREGA CLÁSSICA? POR OUTRAS PALAVRAS, QUE INFLUÊNCIA TEM O FACTO DE SEREM GREGOS NA VOSSA MÚSICA OBSCURA?

O QUE ANDARAM A FAZER ÚLTIMOS CINCO ANOS?

NOS

«Stygian Forces of Scorn», começámos a trabalhar no novo álbum. Entretanto, o Haris, o nosso baterista, teve de ir fazer o serviço militar obrigatório. Portanto, tivemos de adiar as gravações. Depois, tivemos problemas para encontrar fundos para pagar o lançamento do álbum. Andávamos à procura de uma boa editora, que nos pudesse apoiar. Depois tivemos problemas com o baixo. Felizmente, o Stratos juntou-se a nós e começou a fazer um trabalho fantástico com Varathron. O Haris regressou do serviço militar e assinámos contrato com a Agonia Records. Depois de todas essas vicissitudes, tínhamos uma formação forte e estável, uma grande editora e os fundos necessários. A gravação e a mistura do álbum demoraram cerca de 16 meses. Estamos mais do que satisfeitos com os resultados. Estamos a ter críticas fantásticas por parte da imprensa e reações de grande agrado dos nossos fãs e amigos do mundo inteiro.

POR QUE DECIDIRAM REGRESSAR COM ESTE ÁLBUM? POR QUE VOS PARECEU QUE ESTE ERA O MOMENTO ADEQUADO PARA O FAZER? S . N . : Como já referi, a maior parte do

álbum estava escrita em 2010. Depois de todos os problemas relatados, conseguimos lançar «Untrodden Corridors of Hades». A Agonia Records está encantada com o nosso álbum. Logo, o nosso sonho é agora uma realidade. O lançamento na Europa está previsto para 21 de novembro e, nos EUA e no resto do mundo, para 9 de dezembro.

A CAPA DO VOSSO ÁLBUM PARECE REALMENTE UM TRABALHO CLÁSSICO DE BLACK METAL. QUEM NEGOCIOU COM O ARTISTA GRÁFICO QUE A CRIOU? COMO COMBINARAM A VOSSA PERSPETIVA COM A DELE? S . N . : A capa deste álbum foi criada

S. N. : Eis uma associação estranha: Black Metal e a cultura grega clássica. Na minha opinião, as duas correntes culturais têm muitos pontos de contacto.

Começou por fazer alguns esboços e, assim que recebeu uma cópia do álbum, pôs-se a trabalhar numa ideia completamente nova, resultado da adoção de uma perspetiva totalmente diferente. Acabou esta imagem pintada com acrílico do dia para a noite. E assim chegou à versão final da capa de «Untrodden». Penso que é a imagem perfeita do espírito deste álbum. Uma viagem pura à escuridão eterna e um retrato do grande testamento da obscuridade. Um infinito obrigado ao meu eterno irmão Mark!

ESTAMOS A CAMINHAR RAPIDAMENTE PARA O FIM DE 2014. QUE PLANOS TÊM PARA 2015? S . N. : Depois do lançamento da nossa

obra mais recente, pretendemos fazer concertos e participar em festivais no mundo inteiro. Agora temos uma formação poderosa e estamos mais capazes do que nunca de agradar aos nossos eternos fãs. Estamos também a prever reeditar alguns dos nossos trabalhos ao longo de 2015 e lançar em breve novos salmos!

COMO SE SENTIRIAM SE PUDESSEM TOCAR COM A MAIS RECENTE CRIAÇÃO DO LÍDER INCONTESTADO DE CELTIC FROST? S . N. : Bem, seria a concretização de

um sonho. Adoro todos os trabalhos de Celtic Frost, porque o seu estilo evoluiu de forma polimórfica. Sempre pareceu estranho e muito afastado do que qualquer outra banda da época fizesse. A eles dedico o meu respeito eterno! Obrigado por esta entrevista e pelo apoio dado a Varathron. Saúdo todas as almas negras que por aí circulam! Adiram aos nossos salmos malditos e sigam os caminhos tenebrosos dos corredores de Hades! O Reino dos Infernos chegará!

“[…] A NOSSA MÚSICA TRANSMITE CRENÇAS VERÍDICAS ÀS GERAÇÕES F U T U R A S E F O RTA L E C E - A S CONTRA AS MENTIRAS E AS FA L S A S P R O M E S S A S . [ … ] ”

W W W. FA C E B O O K . C O M / VA R AT H RO NOFFI CI AL H T T P : / / Y O U T U . B E / 8 OR KYRQLRBY

pelo magnífico Mark Riddick, um artista fantástico e um grande amigo meu. O seu trabalho é simplesmente perfeito.

5 3 / VERSUS MAGAZINE


ENTREVISTA

“[...] FICO FELIZ POR VER QUE AINDA HÁ QUEM APRECIE MÚSICA OLD SCHOOL NOS TEMPOS ESTRANHOS QUE CORREM.”

AL.EX – MAYHEM DESIGN DA RÚSSIA COM ARTE! APESAR DE SER POUCO CONHECIDO FORA DO SEU PAÍS NATAL E DE ALGUNS EX-MEMBROS DA EXTINTA UNIÃO SOVIÉTICA, O ARTISTA RUSSO, QUE DÁ PELO NOME DE AL.EX E ESTÁ À FRENTE DA MAYHEM DESIGN JÁ TEM UM INTERESSANTE PORTEFÓLIO. A VERSUS MAGAZINE, SEMPRE PRONTA A DAR A CONHECER NOVOS VALORES, APÓS UMA REFERÊNCIA AO SEU TRABALHO FEITA POR UMA BANDA ENTREVISTADA – CURIOSAMENTE UCRANIANA –, APRESSOU-SE A CONTACTAR O ARTISTA GRÁFICO, QUE RAPIDAMENTE RESPONDEU AO NOSSO APELO. E ASSIM OS NOSSOS LEITORES PODERÃO FICAR A CONHECER MAIS UMA FUTURA – SENÃO JÁ PRESENTE – ESTRELA DO FIRMAMENTO DA MÚSICA EXTREMA. Por: CSA DROMOS A N I L I A GOS, D E Q U IN T ES S EN C E MYSTI CA, CHAM O U A M IN H A AT EN Ç Ã O PARA A TU A ART E, Q U A N D O O ENTRE V I S TE I S OBRE «D U A LIT Y », C U J A CAPA M I S TE RI O SA ADO R EI. AL.EX:

Obrigado pelo elogio. A capa e o layout que fiz para o álbum de Quintessence Mystica são realmente muito tenebrosos e simples. Tal e qual como os tínhamos imaginado.

É CURI O SO UM R USSO E S TA R A T R A B A LH A R COM U M A B AN DA U CRA N IA N A . A V O S S A É CURIOSO U M RUSSO E S TA R A T R A B A LH A R 5 4 / VERSUS MAGAZINE

C O M U MA B A ND A U C R A NIA NA . A V O S S A R ELA Ç Ã O C O NTR A S TA B A S TA NTE C O M A IM A G EM D A S R E L A Ç Õ E S E NTR E O S D O IS PA ÍS E S TA L C O M O NO S S Ã O A P R ES EN TA D A S P E L A C O M U NIC A Ç Ã O S O C IA L INTE R NA C IO NA L . Q U E R E S D IZ E R A LG U M A C O IS A S O B R E E S TE TE M A ? A L. EX :

Penso que esse problema existe em termos políticos, não em termos individuais. Trabalhei muitas vezes com músicos ucranianos, porque a Ucrânia é um país com uma cena metal muito forte. Nem eu, nem os músicos ucranianos para quem tenho trabalhado nos preocupamos com questões políticas ou as relações entre os nossos

países. Se estivesse em meu poder fazê-lo, esses problemas já teriam sido ultrapassados. Aliás, durante esta entrevista, vou certamente mencionar mais algumas bandas ucranianas…

V I V Á R IO S E X E M P L O S D A TUA ART E E C O NC L U Í Q U E U S A S V Á R IA S T ÉCNICAS: G E R A L M E NTE , R E C O R R E S A FOT OS A P R E TO E B R A NC O ( P O R E X E MPLO, NA C A PA D E « D U A L ITY » ) , O U FOT OS A C O R E S ( P O R E X E M P L O , NA CAPA DE « C R E E D A M A G E » D E M U NR U TH EL) E, POR V E Z E S , R E C O R R E S A D E S E NHOS QUE PA R E C E M F E ITO S A TINTA -D A -CHINA (POR


“ [...] OS ÁLBUNS PRECISAM DE TER BOAS CAPAS, MAS TAMBÉM UM BOM LAYOUT. […] ELEMENTOS COMO O LIVRO, O GRAFISMO […] AJUDAM A CRIAR A ATMOSFERA […] ” EXEMPL O , N A CAPA D E «WIN D O F FREEDOM » , DE PAGAN LA N D ) . ES T O U A VER B E M ? AL.EX:

O meu trabalho é essencialmente feito com fotos, que podem ser retocadas, e texturas e, por vezes, faço desenhos. Tenho alguns trabalhos inteiramente pintados (usando lápis, mesa digitalizadora, programas de edição digital), mas isso só acontece, quando me parece que é o estilo mais adequado àquele trabalho. Tens de ver as capas que fiz para Woodscream, «Living Ruins», Empires Allways Fall. A propósito, não fui eu que fiz a capa para «Creedamage». É da autoria de Mstibog. Eu só fiz o layout para a edição em digipack/ jewel case da Svarga Productions. As outras edições provavelmente têm outro layout e capas diferentes. Mas fui eu que fiz a capa para a reedição de «Epoch of Aquarius» e «Nav ...» dos Munruthel. (Curiosamente, a edição de «Epoch of Aquarius» que saiu na América do Sul foi feita por Marcelo Vasco). Para a capa do álbum dos Paganland (que também é uma banda ucraniana), usei uma ilustração feita a partir de uma foto dos Cárpatos, recorrendo a uma técnica mista.

QUAIS SÃO AS F E RRAMEN TA S Q U E U S A S HABITU AL M E N TE N O T EU T R A B A LH O ARTÍ STI CO? AL.EX:

O computador, uma mesa digitalizadora, vários programas gráficos. Às vezes, desenho em papel usando lápis e depois digitalizo o desenho e processo-o num ambiente digital. E também uso uma câmara para as fotos.

A QU E C RI TÉ R I O S R EC O R R ES PA R A DECIDI R Q UE TÉ CN I C A S VA IS U S A R EM CADA CASO? AL.EX:

Faço sempre um esboço a lápis para ter uma antevisão da composição da capa.

MUI TA S D AS C APAS Q U E V I EV O C AVA M MUND O S AL I E N Í GE N A S. ES T O U A P EN S A R , POR EX E M PL O , N A Q U E FIZES T E PA R A «TOTE N TAN Z » , DOS T H U N D ER K R A FT. MAS, ÀS V E Z E S , TAMB ÉM U S A S FO T O S MUI TO DRAM Á TI CAS ( P O R EX EMP LO , NA CAPA DE « POSSES S IO N », D E N O X DOLORI S ). C OM O C RI A S A A RT E PA R A U M DADO ÁL B UM ? AL.EX:

Para a capa desse álbum, a banda arranjou uma rapariga que serviu de modelo. Antes disso, tinha tentado fazê-la sobrepondo posters de filmes de horror sobre exorcismo. Fiz cerca de trinta fotos e depois escolhi uma para essa capa (ou antes, escolhi várias fotos e combinei os melhores elementos delas) e usei outras para fazer o livro do álbum (que conta a sua história). O resto (ambiente, cenário, luz, cor, cara) foi feito em pós-produção. A propósito, penso que os álbuns precisam de ter boas capas, mas também um bom layout. É uma pena que atualmente os CDs estejam tão baratos. É que, num suporte físico como esse, elementos como o livro, o

grafismo em geral ajudam a criar a atmosfera do álbum.

T EN S A LG U M A S F O NTE S D E INS P IR A Ç Ã O ? O U T R O S A RTIS TA S , P O R E X E M P L O ? A L. EX :

Sim, claro. Sou um grande fã da arte ligada ao Metal (e não estou a pensar só em capas de álbuns). Tenho uma coleção de CDs que comprei apenas por causa das suas capas. Sou um grande admirador de Seth Siro, Travis Smith, Colin Marks, Gustavo Sazes, etc. Também me inspiro em filmes. E, às vezes, as próprias bandas trazem boas ideias.

Q U E P O S I Ç Ã O TE PA R E C E Q U E O C U PA S N O MU N D O G R Á F IC O L IG A D O À M Ú S IC A EX T R EMA ? A L. EX :

Acho que sou conhecido sobretudo na Rússia, porque trabalho principalmente com bandas do meu país. Mas também tenho feito muitos trabalhos para bandas ucranianas (Khors, Munruthel, Ungrace, Dimicadum, Quintessence Mystica, Dysphoria, entre outras) e da Bielorrússia (Ivorygod, Stormhold). Poderei também vir a trabalhar para bandas da Letónia e da Estónia. Tenho muito pouca experiência de trabalho com bandas europeias ou americanas. Fiz o layout para Aphyxion (mas a capa foi feita pelo Niklas Sundin). Um dos meus últimos trabalhos é um site promocional para o engenheiro de som e produtor Jacob Hansen (http://jacobhansen.com), conhecido pelo seu trabalho com Aborted e Epica (entre muitas outras bandas) Além das capas que incluí no portefólio que te passei, também fiz sites (por exemplo, http:// atrahora.org, http://opheliasbreath.com, http://cityofthelost.ru, http://gardarikamusikk. com), posters e capas para revistas. Sou o autor das capas dos quatro últimos números de Atmosfear zine.

ÉS T U Q U E E NC O NTR A S O S TE U S C L IE NTE S O U S Ã O EL E S Q U E TE P R O C U R A M ? A L. EX :

B IE L A K ) Q U E FA Z E M E X P O S IÇÕES PARA D A R A C O NH E C E R A S U A ART E, POR V E Z E S , ATÉ E M F E S TIVA IS D E METAL. QUE TE PA R E C E E S TA ID E IA ? A L .E X :

Fantástica. Ambos os artistas que referiste têm um estilo próprio, inimitável, a sua visão pessoal, uma maneira de pensar característica, um nível muito elevado. São grandes talentos, que inspiraram outros artistas, dos quais faço parte. Apesar de, recentemente, terem acusado Seth Siro de se repetir muito, eu penso que se trata da prova cabal de que soube criar o seu registo pessoal. É como se acusasses os Slayer de imitarem Slayer.

J Á TIV E S TE U M A E X P E R IÊ NCIA DESSA NATU R E Z A ? A L .E X :

Infelizmente não. Nem te sei dizer se isso me acontecerá alguma vez e muito menos quando. Nunca vi nenhum artista gráfico russo ligado à cena metal fazer uma exposição. Mas há sempre uma primeira vez para tudo.

V IV E S D A TU A A RTE , O U T ENS UM EMPREGO? A L .E X :

Não, tenho mesmo um emprego. Mas também tem a ver com design, só que numa vertente comercial.

TO D O S TE M O S S O NH O S . Q U E RES FALARNO S D O S TE U S ? A L .E X :

Como qualquer artista gráfico da cena metal, gostaria de trabalhar para as minhas bandas favoritas. Mas esse sonho tem um lado negro: por exemplo, sou um grande fã de Septicflesh, mas não consigo imaginar um álbum deles sem um artwork feito pelo Seth.

S E P U D E S S E S S E R O U TR A P ESSOA POR U M D IA , Q U E M G O S TA R IA S D E SER? A L .E X :

De momento, são eles que me

procuram. Nunca me preocupo em saber se são bandas conhecidas, se têm ou não uma discografia. O que me interessa é que o projeto seja interessante e que falemos a mesma “linguagem”. Se alguém quiser um trabalho gráfico da minha autoria, só tem que enviar um email para mayhemprj@gmail.com

ES T U D A S T E A RTE ? NO TE U PA ÍS ? NO ES T R A N G EIR O ?

Não sei bem. Talvez um músico de metal para conhecer o outro lado. Ou um índio, a viver numa selva, sem computadores, cidades de cimento e eletricidade, para variar. Obrigado pela entrevista.

“[…] TENHO UMA COLEÇÃO DE CDS QUE COMPREI APENAS POR CAUSA DAS S U A S C A PA S . [ … ] ”

A L. EX :

Não, nunca. Mas desenho desde a infância. Comecei com os Transformers (os desenhos animados, que surgiram antes dos filmes) e com as Tartarugas Ninja. Agora é fácil encontrar tutoriais na internet e livros sobre todo o tipo de arte. Interessome pela leitura desses livros e costumo ver vídeos de master classes.

W W W. FA C E B O O K . C O M / M AY H E M PR OJECTART H T T P : / / V K . C O M / M AYHEMDESI GN

H Á A RT IS TA S G R Á F IC O S C O M O TU ( E S TO U A P EN S A R , P O R E X E M P L O , NO S P IR O – D O S S EP TIC F L E S H – O U E M Z B IG NIE W 5 5 / VERSUS MAGAZINE


ENTREVISTA

“[...] FICO FELIZ POR VER QUE AINDA HÁ QUEM APRECIE MÚSICA OLD SCHOOL NOS TEMPOS ESTRANHOS QUE CORREM.”

BLACKSHEEP RIDENDO CASTIGAT MORES E I S U M A F R A S E QUE DESCREVE BEM O PR O P Ó S I TO DE BLA C K S H EEP, U MA BA NDA RO MEN A Q U E D E S C O B R I MOS NO FACEBOOK, NUM MO MENTO EM QU E P O R LÁ C I R C U LÁ VAMOS . D A Í A C O N TA C TA R MO S LIVIU GUGUI ( AKA STAR TRAV ELLER ) PAR A UMA ENTR EV I S TA FOI UM MO MEN T O . Por: CSA ENCONTREI UM POST NO FACEBOOK A ANUNCIAR UMA FAIXA DO VOSSO ÁLBUM DE LANÇAMENTO, FUI FAR UMA ESPREITADELA E... FOI AMOR À PRIMEIRA VISTA STAR TR AVE L L E R:

Eis um comentário bem simpático. Fico feliz por ver que ainda há quem aprecie música old school nos tempos estranhos que correm.

COMO DEFINES “DEATH N’ ROLL”?

5 6 / VERSUS MAGAZINE

S TA R T R AV E L L E R :

Penso que se trata de exprimir a liberdade recorrendo à música, que se assemelha ao que aconteceu com o Heavy Metal há trinta anos atrás, mas com uma abordagem mais agressiva. Não estou à espera de que isto tenha o impacto do que aconteceu nessa época, tanto mais que este estilo é um tanto antiquado. Para mim, o “death n’ roll” serve para dizer: “Ergue-te e diz o que te vai na alma!” Fica ainda melhor, quando a mensagem é irónica, sarcástica. Há diversas maneiras de exprimir através da música, mas nenhuma me parece tão ironicamente astuta e divertida

como o “death n’ roll”. Até lhe podíamos chamar “death n’ droll”. Em termos musicais, penso que este género passa por nos libertarmos de tudo o que não serve para grande coisa, elementos tais como arrebiques, excessivo tecnicismo, etc. Trata-de se criar música de qualidade, agradável ao ouvido, sem estar preocupado com o número de notas produzido por segundo, mas também sem ter medo disso. Penso que só é possível fazer desta música, quando se atinge um certo grau de maturidade artística.


“ [...] [DEATH N’ ROLL] ASSEMELHA [-SE] AO [...] HEAVY METAL HÁ TRINTA ANOS ATRÁS, MAS COM UMA ABORDAGEM MAIS AGRESSIVA. […] ” POR QUE RAZÃO A BANDA SE CHAMA BLACKSHEEP? SERÁ QUE ESTA EXPRESSÃO EM ROMENO TEM CONOTAÇÕES MAIS OU MENOS PEJORATIVAS COMO EM PORTUGUÊS? STAR TRAVE L L E R:

Pareceu-me que era o nome que melhor se adequava ao espírito da banda. Tenho a impressão de que o nome da banda em Romeno significa mais ou menos o mesmo que em qualquer outra língua. Efetivamente somos do contra, somos diferentes, etc. Mas, acima de tudo, o que interessa é que não se leve nada demasiado a sério. Na minha opinião, “ser Blacksheep” significa desafiar tudo e todos, ser um crítico exigente de si próprio antes de mais. Quem não sabe criticar-se a si próprio, quem guarda as críticas apenas para os outros, é uma ovelha perdida, não uma ovelha negra.

SABIAS QUE HOUVE UMA BANDA DE HEAVY METAL QUE DAVA PELO MESMO NOME (NOS EUA, FUNDADA EM 1981)? STAR TR AVE L L E R:

Decidi ignorar esse facto. Quando dei o nome de Blacksheep à minha banda, um amigo enviou-me uns links sobre essa banda e outras entidades não musicais que se chamavam ou chamam Blacksheep. Não liguei nenhuma a essa informação, porque o nome assenta tão bem ao meu projeto musical que me estou a borrifar para isso.

O TÍTULO DO ÁLBU M É DIVERTIDO, MAS TAMBÉM TRADUZ UMA VERDADE INDISCUTÍVEL. É TUA INTENÇÃO FAZER MÚSICA EXTREMA HUMORÍSTICA, UMA ESPÉCIE DE COMÉDIA EM METAL? RECENTEMENTE, ENTREVISTEI UMA BANDA INDIANA (WORKSHOP), CONSTITUÍDA POR EXCELENTES MÚSICOS E QUE TEM ESSE PROPÓSITO EXPLÍCITO. STAR TR AVE L L E R:

O título do álbum é realmente divertido, pelo menos à primeira vista, mas pretende sugerir que coisas que vemos e que, frequentemente, não aprovamos já estão a acontecer. Não interessa saber se se está a pensar na globalização, na estandardadização, na perda da privacidade, em tendências económicas, na gerra silenciosa, na poluição, nos alimentos geneticamente modificados, na política, nos direitos humanos ou dos animais, na orientação religiosa ou sexual, ou se estamos a falar da despersonalização, da desolação, dos padrões de vida, da solidão, do medo, da vergonha, da ira, da perda de controlo, de tudo o que

pode fazer parte de um drama pessoal, individual. São tudo coisas que já não estão para vir, já cá estão, já começaram a acontecer e provavelmente já é demasiado tarde para nos prepararmos para elas. De facto, o título completo do álbum é «The Future Started Yesterday (Tomorrow Might Be Too Late)». Blacksheep não está criar comédia em Metal, pretendo fazer as pessoas sorrir, não rir. Será que sou mesmo engraçado?

COSTIN [CHIOREANU, DA TWILIGHT 13] FEZ O ARTWORK PARA BLACKSHEEP. É MEMBRO DA BANDA? COMO COMBINARAM OS VOSSOS ESFORÇOS PARA PRODUZIR A ARTE GRÁFICA PARA «THE FUTURE STARTED YESTERDAY»? S TA R T R AVE L L E R : Blacksheep começou

por ser um one man projetc. Depois de ter gravado 8 ou 9 canções do álbum, perguntei ao Costin se queria tocar as linhas de baixo da nona faixa – “Last Song Never Be Sung” – e ele aceitou. Algum tempo depois, falei com Martin Wittsieker (da banda alemã Harasai) e pedi-lhe para compor e gravar a voz para essa mesma faixa. Assim, criámos essa última canção e eu gostaria de aproveitar para agradecer aos dois a sua dedicação. Neste momento, Costin Chioreanu não é um membro da banda. Está envolvido num projeto muito singular chamado Bloodway, mas será sempre bem vindo para atuar com Backsheep como músico convidado. O mesmo se aplica a Martin Wittsieker. Entretanto, consegui reunir alguns músicos que aceitaram fazer concertos ao vivo com Blacksheep e já começámos a ensaiar. Voltando à questão do trabalho gráfico feito pelo Costin, na realidade nunca tivemos nenhuma conversa sobre como deveriam ser a capa e o artwork do álbum. Ele ouviu a demo que lhe passei e trouxe-me um esboço do logo da banda e da capa do álbum. Para mim, foi um daqueles momentos em que ficas sem fala. Costin é inimitável na capacidade de captar exatamente a mensagem que pretendes transmitir. Não altera nada, apenas a traduz acrescentando um toque pessoal. Pelo menos, é assim que eu vejo o trabalho dele. É um verdadeiro profissional e sinto uma grande segurança, quando trabalho com ele. Também gostava de mencionar o trabalho de Gina Sandulescu. Obrigada a ambos!

S TA R

TR AV E L L E R : Entre 1995 e 2004oquei em várias bandas, tais como Vaginal Blood, Asmodeus, The Final Silence, In Bitterness, Asgard, Cheta. Nesse ano, abandonei a cena metal pública, para me dedicar a projetos pessoais como November’s Dirge, In Bitterness e agora Blacksheep. Sempre que componho uma canção, relaciono-a com algo que foi importante para mim. Mas verdadeiramente importante para mim é criar música, colaborar com amigos nessa atividade e lançar o meu trabalho para ser apreciada por pessoas que gostam de música. Ou não. Como disse Martin Wittsieker: “A música é a maior oferta que podemos receber.”.

COMO É QUE OS FÃS PODERÃO OBTER UMA CÓPIA (FÍSICA OU VIRTUAL) DESTE ÁLBUM? S TA R TR AV E L L E R :

O álbum está a ser distribuído grátis em blacksheeproll. bandcamp.com. Estou a planear lançar várias cópias em vinil ou CD para colecionadores. Oportunamente, divulgarei o nome da distribuidora e informação sobre como adquirir essas cópias físicas. Poderá dar-se o caso de serem acompanhadas por alguns itens de merchandizing.

TENS PLANOS PARA FAZER CONCERTOS AO VIVO COM A TUA IMPERTINENTE “OVELHA NEGRA”? S TA R TR AV E L L E R :

Sem dúvida! Já estamos a ensaiar, para fazermos alguns concertos bem sérios com esta banda que trata assuntos muito sérios de forma divertida. O nosso objetivo será atingido, se conseguirmos que o público sorria e se divirta connosco. Obrigada, Cristina. As nossas saudações para todos os metal heads do mundo inteiro!

“[…] “SER BLACKSHEEP” SIGNIFICA DESAFIAR TUDO E TODOS, SER UM CRÍTICO EXIGENTE DE SI PRÓPRIO ANTES DE MAIS. […]”

W W W. FA C E B O O K . C O M / B L A C KSHEEPROLL B L A C K S H E E P R O L L . B A N DCAMP.C OM

CALCULO QUE JÁ TENHAS FEITO PARTE DE OUTRAS BANDAS. PODES DARNOS A CONHECER ALGUNS MOMENTOS IMPORTANTES DA TUA CARREIRA MUSICAL? 5 7 / VERSUS MAGAZINE


ALBUM DO MES

SOEN «TELLURIAN»

(Spinefarm Records)

Tellurian = de, relativo a, ou que habitam a Terra. Quando Martin Lopez abandonou os Opeth fundou, juntamente com Kim Platbarzdis, os Soen. «Cognitive» foi um excelente álbum de estreia e tive a oportunidade de os ver no Hard Club na torunée de suporte ao álbum. Já n’altura fiquei surpreendido pela forma como mesclavam a melodia, complexidade e peso. No entanto, as influências e as referências aos Tool eram evidentes. Para mim não deixa de ser boa música mas géneros e comparações à parte, «Tellurian» eleva ainda mais o nível já revelado na estreia e demonstra que o género

5 8 / VERSUS MAGAZINE

progressivo ainda tem espaço para alguma criatividade, diversidade e inovação. Tecnicamente irrepreensíveis, o gosto aumenta a cada audição e sempre a descobrir novos pormenores, tentei destacar algum aspecto que julgava mais importante, mas quando dei por mim estava a destacar tudo! As melodias e os ritmos criados são por vezes complexos e por entre os riffs mais pesados Joel Ekelöfow consegue imprimir na música um certo calor e conforto melancólicos. Martin Lopez prova que não é preciso ser exuberante para ser uma das grandes referências ao nível da bateria e percussão. O baixo sobressai de uma forma absolutamente soberba e toda esta coesão é complementada na perfeição pelos riffs pesados, simples, complicados, acústicos,

melancólicos da guitarra. Os Soen não “descobriram a pólvora” mas souberam-na trabalhar e quando a maior parte das bandas deste género insiste em fazer mais do mesmo, qual fogo de artífico monocromático, os Soen fazem explodir a sua criatividade de uma forma multicolor. Não será uma nova definição do Rock/Metal Progressivo mas é uma abordagem diferente que merece o maior respeito e muitas... muitas audições!!! O único senão é mesmo a dinâmica musical: DR6. O que quer dizer que a música está demasiado “alta”. Isto merecia mais dinâmica e outro tipo de mistura! 9.5 ou 10 é indiferente... ÁLBUM DO MÊS!(ponto)

[ 9,5 / 10 ] EDUARDO RAMALHADEIRO


CRITICA VERSUS ÆVA N G ELIST Writhes In The Murk (Debemur Morti Productions) Se há parâmetro que eu valorizo em bandas nos domínios do metal é a capacidade de reinventar estilos, por outras palavras a originalidade e autenticidade. Pois os norte-americanos Ævangelist são na minha opinião uma das bandas que melhor reinventou o Death Metal. Não sei mesmo se o estilo em que se enquadram terá algum tipo de classificação. Se calhar algo como Strange Metal ou Amorphic Metal poderão ser chavões que melhor se adequariam ao desafio sonoro que estes evangelizadores nos lançam tal é a densidade de inversões de marcha, piruetas temáticas, coerência da incoerência auditiva. Não é difícil perceber que após 3 anos seguidos a lançar novos álbuns, todo este trabalho que culmina em 2014 com «Writhes In The Murk», é um caminho de dedicação apaixonada e genial. O resultado é o que se esperaria de Ævangelist porém desta feita a densidade de melodias contra natura, ruído, segmentos aparentemente desconexos que nos arrebatam a um canto, surgem com o dobro da intensidade. Em «Writhes In The Murk» é feito um convite a entrarmos numa dimensão que oscila entre a loucura e a genialidade musical. Não há espaço para meios-termos. Nada aqui se compagina com mainstream. O resultado não dá espaço a dizer “gostei”. A palavra gostar é posta fora do dicionário, sobram sentimentos (sim alguns) em que a descaracterização e até mesmo esquizofrenia musical são preponderantes. Se houver manifestações na música do surgimento de uma nova espécie de músicos, então teremos aqui as primeiras amostras. «Writhes In The Murk» é resumindo, um desafio aterrador. [ 9,0 / 10 ] SERGIO TEIXEIRA

A E O N S GAT E Pentalpha (The Church Within

Records) Este lançamento chamou-me a atenção quando li o texto informativo e constatei que, além de ser um projecto de Doom os músicos eram de grande qualidade. Além disso, a promo enviada pela editora continha só um tema – é mesmo isso, um tema de 1h. Não que seja um ávido consumidor deste género particular mas por ver o nome de Marco Minneman associado a ele. Por isso a minha curiosidade adensouse e fui descobrir um pouco mais dos Aeonsgate. «Pentalpha» é somente o primeiro álbum deste grupo liderado por Jondix, fundador/guitarrista dos Great Coven e integrante dos Eight

Hands, entre outros. O que torna este álbum deveras interessante é todo o ambiente e os diferentes elementos que o envolvem. Desde a voz de Mats Leven que há primeira vista poderia não estar enquadrada – ouçam-no em outros projectos bem mais melódicos – mas que, no entanto, consegue imprimir uma boa dose de triste agonia, bem negra. As guitarras são... misteriosas, progressivas, de uma maneira... estranha, quase hipnótica e os elementos orientais ajudam a elevar o espírito a um estado de transe. Com a ajuda da magia, simples e discreta de Minneman (Devo confessar que estava à espera de algo mais elaborado riffs de bateria técnicos e marados. Mas... esqueci-me que isto é Doom. Só nos deliciamos com pormenores muito interessantes.) somos, finalmente, levados para outro lugar ou outra vida. De facto, Jondix não o faz por menos e «Pentalpha» conta-nos uma história dos primeiros minutos de... morte. Claro que a história só poderia ser triste, negra e pesada. Não sendo um ouvinte regular do género, «Pentalpha» excedeu por completo as minhas expectativas. Terá este projecto capacidades para se tornar um culto? O tempo... só o tempo o dirá! [ 8,5 / 10 ] EDUARDO RAMALHADEIRO

A LTERNATI VE 4 The Obscurants (Prophecy Productions) Sim, é aquilo que estão a pensar O nome da banda foi dado após o álbum «Alternative 4» dos Anathema. Porquê? Bem, o fundador e mentor da banda é Duncan Patterson que esteve nos Anathema até 2008, altura do lançamento de «Hindsight». Depois, ainda integrou os Antimatter. «The Obscurants» é uma continuação do trabalho anterior - “The Brink” e dado o estilo muito particular na forma como compõe os temas é de prever que estes deixem transparecer algumas influências de trabalhos e bandas anteriores – no entanto, nada que belisque a sua qualidade. O ambiente criado é “negro”, misterioso, mas ao mesmo tempo consegue transmitirnos serenidade e tranquilidade. Este ambiente poderá tornar-se ainda mais “negro” e obscuro se seguirmos as letras com atenção. De facto, «The Obscurants» segue todo um conceito ao nível das decepções pessoais, religião, ofuscamento da verdade e consequente luta pela justiça. Os temas não caem na monotonia, a variedade instrumental e os sóbrios efeitos usados não deixa que isso aconteça, sempre com o piano como elemento aglutinador. O único tema que é diferente é o de abertura: “Theme For the Obscurantist” - somente com o piano, misterioso e muito pausado e alguns poucos efeitos que depois se

une na perfeição ao resto dos temas. Não há temas a destacar porque eles estão tão bem trabalhados que não fazem sentido uns sem os outros. Sendo assim, recomendo vivamente para quem quer sair da obscuridade e ouvir algo alternativo, calmo, maduro e sofisticado. [ 8,5 / 10 ] EDUARDO RAMALHADEIRO

ANNI S O K AY The Lucid Dream[er] (Debemur Morti Productions) Álbum de estreia para os germânicos Annisokay. E como é álbum de estreia muitos dos leitores não conhecerão a banda portanto antes de mais o que estes rapazes da cidade alemã Halle nos trazem é Metalcore melódico sem grandes toques de originalidade. Notase claramente uma produção que não deixa margem para sons mais chocos ou baços nem para explosões demasiado estridentes esquecidas no meio dos 14 temas. Está tudo na proporção correta e este trabalho cuidado deixa espaço às composições que surgem com todo o propósito numa mistura das mais equilibradas que tenho ouvido entre teclados, sintetizadores, guitarras, vozes limpas e sujas enfim, parece que nada falha aqui. Não há uma nota que esteja a mais ou a menos ou ao lado, fico com a ideia que a inspiração não faltou a esta malta, durante todo o processo de conceção de «The Lucid Dream[er]». Mas estritamente do ponto de vista musical, quase todo o álbum tem uma sólida consistência melódica devido sobretudo à utilização quase ininterrupta de teclados, estes só largam os temas “à solta” quando é estritamente necessário. Mas sempre que isso acontece é porque o tema está a pedir explosividade (por exemplo no tema “Monstercrazy” este padrão de vaivém dos teclados é evidente). Este álbum deixa também espaço a introspeção e contemplação como no tema “Who Am I” onde a melancolia toma lugar de destaque. Convido os leitores a pelo menos surfarem na Internet e procurarem mais sobre estes Annisokay. [ 7,5 / 10 ] SERGIO TEIXEIRA

AU D R EY HO R N E Pure Heavy (Napalm Records) Nem só da Noruega vem o Black Metal. Há muito tempo que suspirava por um bom álbum de Rock. Não daqueles que são bem tocados e tal mas... acabam sempre por soar a mais do mesmo e rapidamente caem no esquecimento. O último que ainda vai “rolando” com alguma regularidade é o álbum ao vivo dos W.E.T.. Ora bem, «Pure Heavy» não é bom, é excelente! É uma cornucópia 5 9 / VERSUS MAGAZINE


CRITICA VERSUS de excelente temas. Estes Noruegueses conseguem viciar-nos! Desde o primeiro tema até ao último é uma autêntica autoestrada, sem tempo para paragens. Desculpem... há um interlúdio de 1m30s, uma espécie de balada. Tudo o que um grande álbum de Rock deveria ter encontram aqui. Autenticidade, energia, melodia e harmonia, grande dinâmica, riffs que cativam e ficam imediatamente no ouvido, solos de guitarra. Pura magia e boa disposição para os nossos ouvidos. Outro aspecto que fica no ouvido são as mais variadas influências, não só temporais – temos uma janela temporal bem larga dos anos 70 até aos 90 - mas também musicais, isto sem nunca perder a sua personalidade bem característica. Para abrir as hostilidades nada como uma reunião dos The Who com os Zeppelin em “Wolf in My Heart”, «Out of the City»... hail to Thin Lizzy, Up the Irons!!! com “High and Dry” ou “Volcano Girl” que não envergonharia os irmãos Van Halen. E isto, meus amigos são só quatro exemplos. Tudo o que se espera de um álbum de Rock está lá, até a voz... a voz, ele é Ozzy, ele é Scott ele é Roth. Uma sonoridade retro com um toque moderno, querem melhor!? Este gajos são puramente... genuínos!

[ 9,5 / 10 ] EDUARDO RAMALHADEIRO

A U T U MNAL End of the Third Day (Cyclone Empire) Apaixonante! É o que me ocorre dizer sobre «End of the Third Day». Os nuestros hermanos Autumnal lançam excelente peça melancólica. Estes álbuns eminentemente melancólicos, para mim, têm sempre o problema do estado de espírito. Não será quando se está contente que se escolhe este tipo de música. No entanto, por mais paradoxal que possa parecer, ouço os Autumnal em qualquer altura, independentemente do estado de espírito. Acontece o mesmo com os Anathema ou Woods of Ypres. Na senda musical desde 1998, só em 2006 conseguiram o seu primeiro longa duração e foram precisos oito anos até repetirem a façanha. Se lerem a entrevista, logo verão que não é só cá em Portugal que se luta pelo merecido reconhecimento... muitas vezes a luta é inglória. «End of the Third Day» tem muita qualidade e muito da vida de quem o fez e interpretou. Por isso, acredito muito seriamente, que esta luta está ganha. Aqui nada foi deixado ao acaso, desde o conceito da capa, até narrativa das letras. Os Autumnal não caem na banalidade e no facilitismo, não se limitam a ser melancólicos só porque sim. Vários elementos enriquecem todo este ambiente, o piano – ouçam o final de “One Step... And the Rest of Our Lives”, as orquestrações, a voz limpa, 6 0 / VERSUS MAGAZINE

os growls quando a música, a letra e os sentimentos assim o exigem. Ainda na entrevista destaco “The Head of the Worm” toda aquela bela e melódica melancolia. Para o fim estános reservado o apogeu enfurecido e desesperado, qual perfeita tempestade de raiva! E ainda não falei da versão dos Supertramp: Magnifica!! Um dos pontos altos do alinhamento! Estou apaixonado e rendido a toda esta doce e bela melancolia.

[ 9,5 / 10 ] EDUARDO RAMALHADEIRO

A X EL RU D I PELL Into the Storm (SPV/Steamhammer) Confesso que nunca foi um artista que me chamasse particular atenção – Declaro-me culpado! Um quarto de século depois, Axel Rudi Pell lança «Into the Storm» e com isto festeja da melhor maneira as “bodas de prata”. Simples, melódico, riffs que cativam à primeira audição. «Into the Storm» não nos traz absolutamente nada de novo. Tudo transpira a Rainbow e a um Deus presente no Olimpo dos Deuses: Ronnie James Dio. \m/ - Rock and Roll!!! - O melhor do álbum, será mesmo a voz! Johnny Gioeli tem um trabalho fantástico e não estou a ver outro à altura a desempenhar de forma tão... eficiente, a não ser, talvez Jorn Lande. Quem não conhece ARP tem aqui uma boa oportunidade para entrar no mundo deste veterano. Não espere, no entanto, encontrar algo diferente mas o Heavy/Power Metal tão típico de terras germânicas é assim mesmo. Será muito dificil distinguir um tema que seja, porque todos eles têm riffs altamente cativantes, o típico mid-tempo e ainda um certo ambiente épico com as teclas muito Rainbow. O alinhamento fica completo com as duas baladas – uma delas versão de Neal Young “Hey hey my my”. Como já escrevi, «Into the Storm» não nos traz nada de novo ou bombástico, é simples e directo. No entanto, estas características em nada beliscam a qualidade. Com toda a certeza que vos irá prender por muitas horas e proporcionar momentos descontraídos e bem passados. Do lado de cá... prendeu e ainda prende. Uma vez embrenhados na tempestade, dificilmente saíram dela.

[ 8,5 / 10 ] EDUARDO RAMALHADEIRO

B LU T AU S NO R D Memoria Vetusta III – Saturnian Poetry (Debemur Morti

Productions)

A entrada é melódica e com cenários de ocultismo e mistérios. Uma entrada perfeita para um composto que é, como poderão prever, brilhante. Os franceses

Blut Aus Nord estão de volta com «Memoria Vetusta III – Saturnian Poetry», a terceira parte de uma saga que tem acompanhado o percurso da banda. Dois anos depois do «Cosmosophy», terceira parte da trilogia 777, algumas coisas mudaram no seio de Blut Aus Nord, sendo que a entrada do baterista Thorns é a mais significativa. O registo deste baterista faz toda a diferença e parece marcar um paradigma em Blut Aus Nord, no sentido em que a musicalidade fica mais cheia e mais orgânica – sente-se que é um ser humano a tocar. Além do mais, Thorns é um excelente baterista com detalhes bem esgalhados e nada monótonos. Os restantes elementos da música deste novo registo é similar ao que a banda nos tem apresentado – aquela harmonia entre as dissonâncias e as melodias, ora das guitarras ora dos tímidos teclados; e a voz de Vindsval igualmente entre o gélido e o melódico, misturada de tal modo que se confunde com um outro instrumento musical. O resultado é positivo, sem dúvida, embora por vezes faça falta algo de diferente nesta viagem que a banda propõe, pois todos os temas são muito homogéneos. Mas não deixa de ser uma das mais interessantes viagens do Black Metal deste ano.

[ 7,0 / 10 ] VICTOR HUGO

CA NNI B A L CO R P S E A Skeletal Domain (Metal Blade) Bandas como os Cannibal Corpse e álbuns como “A Skeletal Domain” são o paraíso para nós que escrevemos um pouco sobre música. Há duas vias que podemos seguir: ou pegamos na falta de originalidade e no facto de ser mais do mesmo e desatamos a “desancar” na banda e no álbum ou, então, seguimos a via do que está feito, está muito bem feito. Os Cannibal Corpse são uma das bandas de referência no Death Metal brutal e se seguirem toda a sua discografia facilmente constatam dois factos: 1 - não são muito dados a mudanças; 2 – Tudo o que fazem, fazem-no bem. Portanto, não há nada de novo a dizer. Convenhamos, também não estou a ver que tipo de mudança os canibais poderiam fazer sem alterar a sua identidade e manter consigo a sua massiva legião de fãs. Neste estilo não há nada a reinventar e eles não o negam. Mas... Portanto, só vos posso dizer se gostei, ou não, de «A Skeletal Domain». Penso que será óbvio que não falarei da falta de originalidade, ou como dizem eles... consistência. Como sempre, estou receptivo a mudanças e foi com aquela pontinha, muito pequenina de esperança que esperava ouvir algo de novo. Mas... nada. A primeira audição foi frustrante, dando até para o “enconstar”. No entanto,


CRITICA VERSUS para tecer uma opinião honesta tive que o ouvir mais vezes e aí... toda a brutalidade veio ao de cima. À medida que ouvia «A Skeletal Domain» o volume aumentava e isto só podia ser um bom sinal. A única diferença que notei foram uns canibais com uma sonoridade um pouco mais moderna e refinada. De resto, mais do mesmo, o que por acaso é brutal! (Certamente um dos álbuns Death do ano.)

[ 7,5 / 10 ] EDUARDO RAMALHADEIRO

C R IM S ON SHADOWS Kings Among Men (Napalm Records) Após terem vencido em 2013 o Wacken Metal Battle, esta banda canadiana, que define o seu estilo musical como sendo Epic/Heroic Metal, assinou pela «Napalm Records» e regressa com o seu segundo trabalho «Kings Among Men». Ultrapassada a Intro, basta ouvir os primeiros acordes da música «Rise to Power» para logo identificarmos o som com o powermetal de uns Dragonforce (bem espelhado na música «A Gathering Of Kings» e nos despiques entre os guitarristas). Esta aproximação manifesta-se ao longo de todo este trabalho, uma vez que estes «Crimsom Shadows» não se inibem de mostrar todo o seu virtuosismo e velocidade de execução. Em contraponto, encontramos a voz gutural de Jimi Maltais a transportar o som para uns Children of Bodom (COB), logo para um ambiente mais Death Metal. No entanto as semelhanças ficam por aqui uma vez que em termos líricos a abordagem destes «Crimsom Shadows» entra pelo espectro do powermetal, ou seja, não tem a visão negra que pauta as letras de COB. Dito isto, a dualidade das vozes, com a utilização da voz limpa do guitarrista Morgan Rider, permite que não sejam vistos como mais do mesmo, dentro de um género que tem sido inundado por vários exemplos de pouca originalidade. Marcado pelas variações de tempo, gritos guturais adornados pela clareza da voz limpa, solos de tirar a respiração e melodias emotivas, este «Kings Among Men» apresenta-se com uma dinâmica refrescante no panorama do powermetal mais técnico.

[ 8,5 / 10 ] HUGO MELO

D A R K S PACE Dark Space III I (Avantgard Music) Depois de há cerca de 2 anos ter descoberto a reedição de Darkspace –I, foi com grande expectativa que esperei pelo surgimento do 4º de originais desta banda com base em Berna, capital da Suíça. Para quem já investigou um pouco sobre estes

intérpretes sobredotados do Ambient Black Metal, sabe que a parte rítmica é 100% digital e que ao vivo se tornam uma banda muito pouco dada a grandes manifestações de adrenalina, sendo até paradoxal a postura quase estática em palco. Mas, como é lógico, o que conta é a música propriamente dita e neste campo pode-se dizer que “Darkspace há só um, os Darskspace e mais nenhum”. Não tenho dúvidas que este é mais um excelente trabalho de Black Metal. Mais um dos Darkspace em que as dinâmicas clássicas deste género musical são reinventadas por um conjunto de camadas sonoras que servem para emular todas as emoções, singularidade, explosões, paisagens que poderemos tirar do nosso imaginário para caracterizar o Cosmos e as suas multiplicidades de eventos, estruturas, energias, enfim tudo o que possamos lembrar-nos. Temos tudo aqui em CD. Os Darkspace não são claramente uma banda que faz mil e um números de acrobacia com os instrumentos. O segredo está claramente na composição e nos ambientes que esta consegue construir. A genialidade destes Suíços está na capacidade impar de transportar o ouvinte para uma quarta dimensão exclusivamente pela força da música. Falta um tudo-nada para que este trabalho seja claramente uma obraprima. Deixo aqui o repto para que ouçam este Darkspace III I e tentem descobrir os confins do Cosmos.

[ 9,5 / 10 ] SERGIO TEIXEIRA D E V IN TO WNS E ND P R O J E C T Z2 (InsideOut) Após 7 anos de espera, eis que nos chega o sucessor de «Ziltoid the Omniscient». Quem acompanhou o desenvolvimento do universo ziltoidiano, foi, ao longo destes anos, vindo a ser brindado com uns doces do Sr. Devin Townsend, quer através da Ziltoid Radio quer dos clips da ZTV. Relativamente a «Z2», este é composto por dois álbuns distintos, o «Blue Sky» ligado ao «The Devin Townsend Project» e o «Dark Matters» relacionado com «Ziltoid». O primeiro segue a linha de «Epicloud», possuindo uma produção similar mas divergindo na composição das músicas, marcadas por serem mais ecléticas. Sobressai neste primeiro CD a musica «Warrior» com a brilhante voz de Anneke van Giersbergen e o fantástico trabalho de bateria de Ryan Van Poederooyen. «Dark Matters» é a sequela da história de Ziltoid e aproxima-se mais a «Deconstruction», lembrando, por vezes, os saudosos «SYL». Comparando com o álbum de 2007, gravado com curto orçamento, este álbum transborda a evolução e dedicação, sendo uma prova do talento

deste senhor. O uso de várias camadas de vozes, bem como a excelência das intrincadas composições, parecem contrastar com o devaneio de um trabalho, a lembrar um programa de rádio, com uma história por vezes ridícula e cheia de diálogos hilariantes. De apontar a participação vocal, para além da habitual Anneke, de Chris Jericho (Fozzy) e Dominique Lenore Persi (Stolen Babies) que dão outra profundidade à história. Como nota final de referir que existe uma versão de Z2 com 3 cd’s onde se encontra o «Dark Matters» sem os diálogos, permitindo usufruir de todos os pormenores que fazem a música de Devin única.

[ 9,0 / 10 ] HUGO MELO

EMP Y R I U M The Turn of the Tides (Prophecy Productions) A digestão deste álbum não é simples, mas o seu efeito não deixa de ser interessante pela riqueza instrumental e os vocais, que numa base de canto lírico masculino, variam com alguns rugidos guturais (Dead Winter Ways) e sussurros melosos (Turn of the Tides), para no final obter um resultado melancólico, inquietante, num ambiente algo demente mas com alma. Isto não se trata de um Folk qualquer e Dark é com certeza!... É o piano que inicia esta obra de Empyrium, a banda alemã do dark symphonic folk metal, que surge após um hiato de 12 anos, por ventura curto demais... A ideia é explorar as várias emoções humanas através dos ciclos da natureza, claramente presentes nas letras e onde se entende esse como sendo o fio condutor de toda a estrutura musical, mas não deixo de ter a sensação que em termos de conteúdo melódico, falta um elo de ligação e consistência na passagem e ordem das faixas. O mais curioso dessa inconsistência é a facilidade com que se torna irrelevante após algumas audições. Este álbum cresce dentro de nós, pois apesar de tudo transparece um forte sentido atmosférico e manifesta uma riqueza sonora “suis generis” que os Empyrium sempre nos habituaram. Ele envolvenos e mantém a nossa atenção para no final ainda ter o poder de saber a pouco. Talvez mais uns anitos de molho e a coisa ficasse mais composta, quem sabe?... Mas vale a pena e será sem dúvida uma boa banda sonora para os dias invernais que se aproximam.

[ 7,0 / 10 ] LISZH

FR O M TH E VAS T LA N D Temple Of Daevas (Non Serviam Records) Encontramos em «From the Vastland» 61 / VERSUS MAGAZINE


CRITICA VERSUS um projecto solitário de apenas um homem, o iraniano Sina. Neste ponto não há fuga possível e é-nos difícil, para não dizer impossível, falar deste senhor sem referir que é originário do Irão e, consequentemente, compreender todo o rol de dificuldades que esse factor transportou, desde a liberdade de expressão à dificuldade de acesso a e ao material no surgimento e crescimento de um género musical como é o metal, e em especial o black metal, num país como aquele. Agora a residir na Noruega, Sina apresenta-nos este «Temple of Daevas», envolto num som que, para os puristas que defendem que o black metal deve ter um tipo de som semelhante ao praticado pelos míticos Mayhem ou Immortal, será do seu agrado. É de todo impossível ouvir este trabalho sem reconhecer as influências das bandas referidas pois, logo o riff de abertura, transporta-nos para um som semelhante ao criado no início dos anos 90. Mesmo residindo fora do seu país, Sina continua a apresentar-nos neste trabalho toda a sua capacidade e mestria em criar ambientes e universos baseados na sua própria herança, presenteando o ouvinte com um trabalho cheio de referências e alusões à mitologia e história persa, fugindo, neste ponto, dos temas clássicos e que são habitualmente a fonte e o objecto da temática das bandas de black metal. Sem trazer nada de novo, este trabalho não desilude, em especial a quem aprecia aquele som “sujo” a lembrar outros tempos.

[ 7,5 / 10 ] HUGO MELO

Z O MB IEFICAT ION Procession Through Infestation (Doomentia Records) Terceiro longa duração deste duo Mexicano que se dedica ao Death Metal (versão muito Dark) e a uma temática lírica de Voodoo, morte e... Zombies!!! Apesar de não ser dos meus géneros de eleição, é com relutância que às vezes ouço estas bandas brutais. (Uma questão de gosto pessoal, somente) No entanto, falando numa linguagem pouco coloquial, “Que raio, estou a curtir isto à brava!!” São raros os CD’s que ouço mais que as vezes necessárias para uma boa review mas este vai manter-se a “rolar”! [ 8 / 10 ] EDUARDO RAMALHADEIRO

K N I F E W ORLD The Unravelling (InsideOut Music)

6 2 / VERSUS MAGAZINE

Quando achava que o final de 2014 não podia trazer mais surpresas eis que chegam os Knifeworld. Kavus Torabi, apontem este nome, se faz favor. «The Unravelling» pode ser só o segundo álbum mas Kavus já tem um curriculum, apesar de curto, rico e invejável. Foram poucas as vezes que me surpreendi de verdade. Assim muito de repente lembro-me dos Diablo Swing Orchestra..No entanto, os Knifeworld conseguiram ir mais à frente. Esta banda é composta por oito elementos com uma rica variedade de instrumental. Além dos habituais ainda temos vários tipos de saxofone, clarinete e fagote. Sendo assim, como é que vos posso descrever com palavras o que é ouvir «The Unravelling»? Ou melhor, como é que vos posso convencer com palavras a ouvir isto? Isto faz-me lembrar os filmes do Tim Burton, muita gente acha-o um “louco” genial, outros nem por isso. A verdade é que para perceber e entender a génese de alguns filmes é preciso vêlos com inteligência e não raras as vezes, mais que uma vez. O mesmo se passa com Knifeworld. Vão ouvir a primeira vez, talvez levianamente e detestar. À segunda vez já o ouvem e sentem de modo diferente, já não o detestam e partir daqui começa o caleidoscópio musical. Os tradicionais instrumentos de Rock fundem-se com os saxofones, clarinete e fagote, em melodias muitas vezes dissonantes e complexas, com as harmonias vocais femininas e masculinas, deambulando por momentos psicadélicos, às vezes dementes, arranjos polirritmos, ambiciosos, imprevisíveis. Isto tudo sem descurar a melodia. Dinamicamente é um regalo para os ouvidos com um Dynamic Range de 13!!! Assim, como a música deve ser. É um desafio ouvir «The Unravelling» mas prometo-vos que vai valer bem a pena!

[ 9,5 / 10 ] EDUARDO RAMALHADEIRO

LA S T LEAF DO W N Fake Lights (Lifeforce Records) É certo que o cruzamento do Shoegaze com o Post Rock já foi explorado por inúmeras bandas, muitas delas bem conhecidas, outras que se mantêm num nicho underground. Mas apesar da fórmula não ser nova, os suiços Last Leaf Down não se deixaram intimidar e decidiram criar o que realmente gostam de tocar. E o resultado foi um belíssimo «Fake Lights». Curiosamente, os primórdios da banda foram assombrados pelo Doom e por ritmos mais pesados, até que em 2007 decidiram tomar este rumo, muito por causa de novos elementos. Desde logo foram conhecidos por tocarem música etérea e idílica, com vozes bem melódicas e sonhadoras. Slowdive é

a banda que salta logo aos ouvidos. Mas após algumas audições podemos distinguir ambientes que também fazem recordar os franceses Alcest. O álbum ouve-se muito bem, e os fãs deste género poderão encontrar em «Fake Light» um bom aliado para as paisagens mais frias do Inverno. Há aqui, portanto, uma certa melancolia, doce, acompanhada por uma luz que, apesar do que o título sugere, é bem forte e entranha-se no ouvinte mais receptivo. Contudo, pode acontecer o ouvinte querer algo mais deste registo, já que o álbum soa muito ao mesmo. Mas tenho a certeza que quem o acolher não o largará tão cedo.

[ 7,0 / 10 ] VICTOR HUGO

MA NES Be All End All (Debemur Morti productions) Bem, aqui vou ter de começar pelo princípio e no princípio era o Black Metal com o aclamado e promissor «Under Ein Blodraud Maane», 1999 - um álbum provocante e engenhoso dentro do género – mas a seguir os fãs levaram com «Vilosophe», 2003, e nada voltou a ser como era! Ainda bem (!) pois quem acompanha estes senhores jamais se poderá queixar de monotonia, falta de qualidade ou profundidade! Ok, confesso que talvez tenha uma leve saudade das guitarras pesadas e baterias insanas, mas a vasta paleta de criatividade dos álbuns seguintes é notável, onde até uma interessante tonalidade de improviso surge, fazendo esquecer o resto! Impiedosos, estes noruegueses surpreendentes deixaram os fãs a chafurdar na nostalgia do metal obscuro e seguiram em frente a toque de eletrónica, trip-hop, pop inspirado, detalhes de jazz e ambiente falsamente calmo, de onde brota o caos e a intensidade, e de onde as lascas de metal se têm vindo a libertar no tempo, sendo já apenas uma memória latente. «How The World Came To An End», 2007, foi a prova de que Manes são verdadeiramente atípicos, livres de dogmas e ei-los agora em 2014, com o aguardado e muito bem conseguido «Be All End All». Espécie de upgrade a «Vilosophe», nota-se o elevar daquilo que foi um álbum bastante mental e filosófico, a uma outra dimensão. Um desprendimento do foco sobre o lado existencial humano mais frio e racional, surgindo inclusive o desejo de sair para fora desse controlo mental e depressivo, para entrar num espaço mais liberto, com vislumbres de esperança. As experiências com gravações áudio acentuam-se, as vozes estrategicamente colocadas ao longo das faixas, ora num tom emocional, ora num tom irónico ganham uma nova abertura. Experiências… Não só este


CRITICA VERSUS álbum, como toda a obra, a serem degustados com a devida atenção por mentes abertas. De louvar o design e artwork do irreverente Ashkan Honarvar. Nota máxima! [ 10 / 10 ] LISZH

M O N U MENT S The Amanuensis (Century Media) Oriundos das terras de Sua Majestade, os «Monuments» presenteiam-nos com um álbum conceptual que bebe inspiração no livro de ficção científica de David Mitchell «Cloud Atlas» (por cá «Atlas das Nuvens») e na filosofia oriental da Roda do Samsara. «The Amanuensis» gira à volta da ideia de que todas as nossas acções influenciam o passado, o presente e o futuro, é um ciclo ao qual todos estamos presos entre o nacimento e a morte, sendo que quem o conseguir quebrar, atinge a iluminação. Não sendo grande adepto do metal progressivo, em parte devido à panóplia de projectos que apareceram sem trazer nada de original ao movimento e, principalmente, pela maioria deles darem mais ênfase ao instrumental, exibindo o próprio virtuosismo, deixando para segundo plano as letras, sendo estas uma parte de uma obra como um todo, tornandoas por vezes desajustadas ao som. Neste segundo trabalho, sucessor do então aclamado «Gnosis», que conta com o novo vocalista Chris Barretto (ex. Periphery, Ever Forthright), os «Monuments» continuam a mostrar o seu cuidado em coadunar a composição instrumental ao conteúdo escrito, não comprometendo a essência do metal progressivo. Pelo contrário, encontramos na «Origin of Escape» todo o virtuosismo dos seus executantes que, aliado a um groove contagiante, torna-a uma das minhas favoritas. O trabalho vocal deste novo vocalista transparece ao longo das 11 músicas, nas transições entre os vários tons e géneros de voz, limpa e agressiva, mas sobressai em músicas como «Garden of Sankhara» ou na introspectiva «Samsara». Estes britânicos têm conseguido surpreender e renovar a cada álbum que lançam e provam que posso estar errado em relação ao género. [ 9,0 / 10 ] HUGO MELO

M R . B IG The Stories We Could Tell

(Frontiers Records) Pode parecer, à primeira vista, que ao verem o título Mr. Big se lembrem das baladas e dos temas mais comerciais, tipo: “To Be With You”, “Just Take My Heart” ou a versão de Cat Stevens “Wild World”. No entanto, os Mr. Big são muito mais que aparentam, mais que

não seja pelo talento dos músicos: os virtuosos Paul Gilbert e Billy Sheehan que dispensam qualquer tipo de apresentações e os “menos conhecidos” Eric Martin com uma excelente carreira a solo e Pat Torpey que entre vídeos instrucionais também percorre mundo fazendo drum clinics para uma conhecida marca de baterias. (Má notícia saber que Pat sofre de Parkinson e não efetuará a tournée com os Mr. Big) «The Stories We Could Tell» é Rock n’ Roll – puro e simples. Isto é uma delícia para os ouvidos, os riffs de Gilbert e Sheehan inundam por completo o ambiente e claro os pormenores são de arrasar! Mais, em que grupo podemos encontrar um solo de baixo e guitarra? Ouçam, então, “The Light of Day”, por exemplo. «The Stories We Could Tell» é sobre Rock, groove e às vezes um funkzinho, o Blues/Rock está representado pelo tema que dá nome ao álbum, irreverência, alegria e boa disposição. Como acontece muitas vezes, os vocalistas vão perdendo alguma potência vocal mas por incrível que pareça, Eric Martin está como novo – confirma-se no álbum e ao vivo. É pois, a par dos Audrey Horne, um dos melhores álbuns do ano no que ao Rock diz respeito. As baladazinhas também lá estão e são duas. Treze histórias que vale bem ouvir!

[ 9,0 / 10 ] EDUARDO RAMALHADEIRO

NAC H TMSTI U M The World We Left Behind

(Century Media) Confesso que não sabia o que esperar da nova proposta dos americanos Nachtmystium. Depois daquela dupla «Addicts» nos quais a banda se emerou e deu um salto de gigante na sua carreira, apresentando uma mistura da frieza do Black Metal com o psicadelismo pinkfloydiano, regressaram em 2012 com um álbum bem negro e pesado, bem distante dos seus anteriores. Desta feita, não sabia o que este «The World We Left Behind» reservaria. Neste trabalho os Nachtmystium parecem terem recuperado algumas essências dos álbuns «Addicts», mas também se nota algum Swedish Black Metal à là Dissection, como no tema “Voyager”. O psicadelismo mantêm-se presente, nomeadamente nalguns efeitos sonoros que podem passar despercebidos, mas que noutras audições poder-se-ão notar e reconhecer o seu valor. Mas o trabalho de Nachtmystium é mais que música, é igualmente uma expressão do Blake Judd, mentor e criador da banda. Ao longo destes álbuns todos foi explorado a viagem e a luta de Blake Judd com o seu vicio pela heroina. Este álbum supostamente poderia ser o último desta viagem, mas Blake já confirmou mais futuro para a banda.

Quem sabe o que reservará a música dos Nachtmystium daqui em diante. O final deste álbum termina com um tema bastante curioso, a fazer lembrar o genial “The Great Gig in the Sky”, dos Pink Floyd. “Epitaph of a Dying Star” é um hino a uma certa luz, com uma voz gospel a espalhar essa tão desejada luz, quiçá, o que Blake Judd tanto anseia. Um final bastante bom, de um álbum igualmente atraente, com detalhes interessantes embora por vezes demasiado mais do mesmo, sendo essse mais do mesmo algo que não é, de todo, original.

[ 6,5 / 10 ] VICTOR HUGO

NE OB LI V I S C A R I S Citadel (Season of Mist) Confesso que relativamente ao primeiro álbum destes Australianos tive alguma relutância em catalogá-lo como obraprima, pese embora fosse evidente a capacidade (pelo menos em estúdio) de produzir temas complexo e executálos na perfeição. Não há nenhuma estrada que seja feita só de retas ou apenas de curvas. No primeiro caso adormece-se ao volante com alguma facilidade, no 2º o cérebro fica meio atordoado e até dá para enjoar. Assim, o ideal é termos um equilíbrio entre retas e curvas para a viagem de automóvel se tornar interessante. Sou da opinião que é necessário deixar respirar álbuns demasiado densos do ponto de vista da composição com zonas de recuperação de fôlego. Em «Portal of I» surgia com demasiada facilidade um sem número de riffs complexos que todos juntos tornavam, na minha opinião o álbum demasiado aleatório e algo descaracterizado. Em «Citadel» parece-me que neste aspeto houve uma clara evolução; há agora mais espaços que constituem uma base para os segmentos subsequentes, sejam eles progressivos, melódicos, agressivos e eletrizantes. Ainda assim não julgo que «Citadel» seja o melhor trabalho que os Ne Obliviscaris podem conceber. É tudo uma questão de opções de composição e ainda há um clique que fica por dar. Algo que cole imediatamente aos ouvidos e tornem o ouvinte incapaz de largar o botão do play para voltar ao início e voltar a ouvir este ou aquele riff. Ainda não é desta que os Ne Obliviscaris me convencem do ponto de vista das opões musicais que são logicamente legítimas. Mas são de facto uma banda de eleição; isso é mais do que certo.

[ 9,0 / 10 ] SERGIO TEIXEIRA

63 / VERSUS MAGAZINE


CRITICA VERSUS N I G H T INGALE Retribution (InsideOut Music) Nightingale é um dos muitos projectos paralelos do multi-facetado Dan Swanö, Edge of Sanity, Bloodbath ou Pan-Thy-Monium fazem parte do seu curriculum. No entanto, Nightingale está nos antípodas dos projectos já mencionados. É incrível como alguém que dedica a esmagadora maioria do seu tempo a produzir e misturar música ligada ao Death Metal, integra ainda projectos como os Witherscape, consiga encontrar criatividade para lançar um álbum de... AOR – Album Oriented Rock. Ou ainda se quiserem extrapolar mais um pouco: Rock Progressivo. As influências presentes são notórias, Asia, Foreigner ou Journey, etc. Isto é daquele tipo de música que pode ser muito bem divulgada nas rádios mais generalistas. Os fãs da música mais pesada de Swanö poderão ficar surpreendidos pela simplicidade e aproximação não agressiva de Nightingale mas isto é mesmo assim, é a mente criativa de Swanö a funcionar e em todo o seu esplendor! No entanto, para fazer boa música com riffs aparentemente simples, sem complicações, espontânea e muito porreira não é fácil. Podia escolher um qualquer tema, à excepção da balada semi-acústica “Divided I Fall” que melhor definisse o álbum ou para meu favorito, mas gosto cada vez mais de “Chasing the Storm Away”. Resume tudo o que foi dito num tema. Por isso vos digo que devem ouvir «Retribution» sem sequer ter dúvidas. Depois é só desfrutar de um excelente álbum de Rock melódico, com “uns toques” dos anos 70 e 80 feito por um dos grandes senhores do Death Metal actual.

[ 9,0 / 10 ] EDUARDO RAMALHADEIRO

N O N P O INT The Return (MetalBlade) Os Nonpoint não são propriamente novatos nestas andanças. Já andam por estes meandros há 17 anos, por isso não compreendo muito bem a falta de versatilidade de «The Return». Também, não me preocupei em comparar com álbuns anteriores. O início nem podia ser da melhor forma. «Pins and Needles» é daquelas malhas que nos fazem ter uma cara de mau, bastante groove, boas vocalizações e um um baixo que se distingue a milhas. O solo assenta num ritmo mais Thrash, mudando a meio para o riff inicial. Atenção, portanto, à audição em lugares públicos... podemos ser. 6 4 / VERSUS MAGAZINE

mal interpretados. Apesar da introdução auspiciosa os Nonpoint perdem-se um bocado e senti que os temas se repetem muito, riffs muito parecidos, não obstante alguns deles terem bastante groove. Falta-lhes alguma diversidade. Os temas diluemse entre eles, parece que não consigo distinguir entre uns e outros. É pena, pois, isto prometia. De qualquer das formas, nem tudo é mau. Há alguns temas bem fortes e que sobressaem à aparente monotonia: a juntar ao tema de abertura, “Goodbye Letters” é um tema mais lento e “meloso” - diferente, portanto - “Never Cared Before”, é o tema mais Thrash e tal como «Pins and Needles» está acima dos demais, o reacionário “F – K’D” com o seu précoro “Hey Hey” para depois “desaguar” num ritmo “cavalgante” e frenético. Sendo assim, gostaria de vos poder dizer mais qualquer coisa sobre «The Return» mas estaria a repetir-me... Ouçam e tirem as vossas conclusões.

[ 6,5 / 10 ] EDUARDO RAMALHADEIRO

NUC LEU S TOR N Street Lights Fail (Prophecy Productions) Após o lançamento da trilogia «“Nihil”/”Knell”/”Andromeda Awaiting”», e a prequela «Golden Age», a «Street Lights Fail», é o primeiro álbum de um trabalho conceptual que se vai dividir por dois registos, tendo o segundo data de lançamento em 2015 com o nome «Neon Lights Eternal». Identificamos nestes suíços, liderados por Fredy Schnyder, influências que vão desde a música clássica, passando pelo jazz, ao folk e ao metal e, como exemplo disso temos os toques de jazz na «Worms» ou o início de piano clássico da «The Promise Of Night». É daqueles projectos que ou se gosta ou não se gosta, não há meio termo. Este trabalho, segundo a própria banda, não é de fácil acesso, é diferente e estranho. A track list, e as suas 3 longas músicas onde, segundo Fredy Schnyder, temos um trabalho que “procura romper com o espectável e a previsibilidade, surpreendendo o ouvinte com mudanças e sons com os quais não estava a contar…”. Embora longas, nomeadamente as duas últimas faixas, é fácil identificar, dentro de cada música, os vários géneros que definem o som deste «Street Lights Fail». A experiência que a audição deste trabalho nos transmite, levanos a uma viagem introspectiva e de caracter intimista, que procura levar o ouvinte a uma viagem pelos sentidos. Embora este trabalho por si só esteja e seja completo, sendo um trabalho conceptual, apenas fará sentido como um todo, isto é, quando a trilogia estiver completa. [ 7,0 / 10 ] HUGO MELO

OB ER O N Dream Awakening (Prophecy Productions)

Oberon diz muito à Prophecy, pois, foi um dos primeiro artistas que a editora lançou. Após um hiato de treze anos, Oberon que é nome de artista e não de banda, lança o seu terceiro álbum. À «Dream Awakening» teria tudo para ser excelente, os “ingredientes” estão lá. Estamos perante um álbum que demorou um ano a ser feito, a história é conceptual e fala sobre o caminho de uma alma depois do despertar, a música é também um mescla de estilos e alguns elementos ligados ao Avantgarde, Rock ou Neofolk. É suficientemente diverso para não nos deixar cair na monotonia, imaginativo e carregado de misticismo e simbolismo. No entanto, o grande problema acaba por ser a duração das músicas. A mais longa tem cerca de 4m16s e quando a música cresce, começa a ganhar forma e todos os sentimentos que o autor quer transmitir nos começam a envolver, o tema.... termina! Isto deixa-nos num profundo lamento. Isto é recorrente em praticamente todos os temas. Na minha opinião, «Dream Awakening» teria ficado tão bom se os temas fossem mais longos e tivessem tempo de “crescer”. A música nem sequer é monótona e podiam, ainda, ser um pouqinho mais épicas. Mas foi assim que Oberon as quis e sendo assim, ficamos sempre com aquela sensação que a música acaba ainda antes de ter começado. De qualquer das formas, não posso deixar de recomendar, mas sempre com o aviso de que ainda não começaram a sonhar e já estão a acordar.

[ 7,0 / 10 ] EDUARDO RAMALHADEIRO

PAI N O F SA LVAT I O N Falling Home (InsideOut Music) A música é uma “droga” e nós somos viciados. “Alimentamo-nos” dela e esperamos por momentos destes, em que nos saciamos e alimentamos o nosso vício. Não há dúvida que os Pain of Salvation são uma das grandes referências no mundo Progressivo. Como ávido fã e ouvinte de todo e qualquer material que sai da mente de Gildenlöw (e companhia) é sempre com enorme entusiasmo que recebo um novo álbum. No entanto, quando li que «Falling Home» só iria conter versões de temas já gravados pelos Pain of Salvation esperei o pior e ainda mais quando soube que uma das versões era “Holy Diver” dos Dio. Além de coragem é preciso muita inteligência para fazer uma versão de uma das


CRITICA VERSUS maiores bandas do Metal, ainda por cima da forma que o fizeram – Não escrevo mais nada... ouçam só! É que muitas vezes as bandas inventam e o resultado pode ser catastrófico ou no mínimo nada consensual. Quando ouvi a versão de “1979” descansei. As preocupações eram infundadas. Os Pain of Salvation inventaram e o resultado foi... absolutamente SOBERBO! Até podem dizer que isto é um “Unplugged”, no entanto, isto está muito para além de um simples rearranjo, está aqui muita coragem, muito trabalho e sobretudo muita inteligência. Introspectivo, intimista e pessoal. “Perfect Day” de Lou Reed é a outra versão... cantada com tremendo sentimento. Perfeita e é só. A voz de Gildenlöw continua versátil e expressiva, aliás, como sempre. «Falling Home» é o único tema novo e encerra o álbum. Totalmente acústico, excelente jogo e harmonias vocais. “A nossa casa é onde nós estamos” e é assim que me sinto, e vocês se vão sentir também... em casa.

[ 10 / 10 ] EDUARDO RAMALHADEIRO

S L E E P I NG PULSE Under the Same Sky (Prophecy Productions) Sleeping Pulse é um projecto 50% nacional que resulta da estreita colaboração de Luís Fazendeiro (Painted Black) e Mick Moss (Antimatter). Tudo isto nasceu da mente de Fazendeiro que nos conta um pouco mais na entrevista – A não perder – e chama a si toda a responsabilidade de compor a música, enquanto Moss trata exclusivamente das letras e voz. Acredito que cá por terras lusas não se dê o devido valor nem as devidas oportunidades a quem tem talento, em vez disso premeia-se a mediocridade. A nível musical Fazendeiro conseguiu criar um disco de Rock multi-facetado, que vai desde o progressivo até ao “frágil” acústico, passando também por elementos eletrónicos e arranjos orquestrais. Tudo isto foi conduzido e produzido por Daniel Cardoso que lhe conferiu um som vibrante e muito diverso, criando, no entanto, um álbum bastante homogéneo. Claro que tudo isto é complementado na perfeição pelos arranjos vocais de Moss que tal como a música é versátil e tremendamente expressiva. Esta ligação “umbilical” entre a música e as palavras é complementada pelo conceito que explora a manipulação sociopata, a desconsideração das emoções e falta de empatia na sociedade. O título do álbum reflete o modus operandi destes sociopatas que convencem as vitimas de que são um só e assim retirar aos mais incautos tudo o que seja de valor. Já veem, portanto, que é um álbum inteligente a todos os

níveis. Como já tive oportunidade de escrever, é uma pena que projetos como este, quase na totalidade nacionais, não tenham mais oportunidades e não sejam mais conhecidos e divulgados.

[ 9,0 / 10 ] EDUARDO RAMALHADEIRO

S Ó LS TAFI R Ôtta

(Season of Mist) O melhor de escrever críticas de música, é que de tempos-a-tempos tropeçamos em verdadeiras pérolas musicais, que caem assim do nada. Sólstafir e o seu «Otta» é uma destas excelentes descobertas. Não será um estilo musical que agradará a todos, em especial aqueles metalheads mais “hardcore”, mas agradará a um bom punhados de open minders que saberão apreciar e enaltecer a música dos Islandeses Sólstafir. Alias, eles próprios definem a sua música como “Icelandic Heathen Metal”. A música dos Sólstafir é diferente de tudo o que ouvi até agora e ponho mesmo em causa a sua inclusão no universo do Metal, já que tocam um post-metal “arrockalhado”. Eles conseguem misturar momentos de rock com momentos psicadélicos com áure de metal e uma clara influência de rock/ Stoner clássico. Complexo? Pensem num estilo de rock metal melódico e as paisagens da Islândia (vulcão incluído!). É isto a música presente em «Otta», toda ela cantada em islandês. Desde o excelente “lagnaetti” até “Nattmal” somos absorvidos por uma música com caracter e sonoridade única, tudo envolto numa produção bem equilibrada. Os Sólstafir já por cá andam à mais de 10 anos a refinar o seu som, sendo «Otta» o seu (já!) quinto álbum de originais e aquele que os poderá colocar no caminho do reconhecimento.

[ 9,0 / 10 ] CARLOS FILIPE

S S S H EENSS S Strapping Stallions (Soulseller Records) Este álbum chegou às minhas mãos pela Soulseller Records, e o que me chamou imediatamente a atenção foi o nome. Para além de sonoro, o nome é gráfico e nada indica do som que reserva. A primeira audição não foi fácil e deixei o álbum a marinar. Depois, tornou-se numa bomba de Rock bem pesado e bem esgalhado. São finlandeses e a estreia merece atenção e palmas de todos os apreciadores de Rock pesado, e de outros que por curiosidade encalham neste explosivo «Strapping Stallions». Guitarras estrondosas e pesadas e uma voz a fazer lembrar o Josh Homme – aliás, a sonoridade parece uns Queens of the

Stone Age mais pesadões – fazem as maravilhas deste trabalho. O tema que abre é como um agarrar de colarinhos para chamar a atenção, para logo de seguida nos apresentar uma cover dos ZZ Top, “Concrete and Steel”. Mas o mais extraordinário dos temas é o “You and Your Daughters”, cujo final merece headbanging e uma aparição do mellotron. O Blues também é palavra de ordem, aqui bem pesado e misturado com o Rock, como o tema single “Wolf Street Blues”. Destaco ainda mais um cover, “Love Will Tear Us Apart”, dos Joy Division, que está irreconhecível mas, por isso mesmo, interessante. O trabalho de estreia destes finlandeses é muito bom e recomenda-se, e adivinha muito trabalho para o seu sucessor, caso queiram manter ou superar este nível. Estaremos atentos.

[ 7,5 / 10 ] VICTOR HUGO

THE HA U NTED Exit Wounds (Century Media) Passaram 16 anos desde o primeiro álbum, corria então o longínquo ano de 1998. Em bandas com tanto tempo de actividade há sempre o perigo de haver alguma estagnação, especialmente quando os membros se mantêm inalterados durante vários anos. Se recordarmos o álbum de 2011 «Unseen», temos um exemplo desse risco... Acontece, por vezes, que as mudanças são necessárias para a sobrevivência. E, é o caso deste «Exit Wound», onde os regressos de Marco Aro (The Resistence, ex. Face Down) , às lides vocais, e Adrian Erlandsson (At The Gates, Paradise Lost, ex. Cradle of Filth), aos comandos da parte rítmica, bem como a contratação de Ola Englund (Feared, ex. Six Feet Under) nas guitarras, marcaram o retorno ao som que os «The Haunted» nos habituaram. Visivelmente marcado pela agressividade na voz, que parecia se ter extinguido, e as malhas bem conseguidas, com mudanças de tempo e riffs orelhudos, este álbum abre com a 317 (intro) em tons de crescendo, ao som da batida de um coração (metáfora à entrada de novo sangue e consequente saída do torpor?), e a entrada sequencial dos vários instrumentos para culminar com um berro de raiva em «Cutting Teeth» e numa música bem demostrativa desta nova etapa que percorrem. Por curiosidade encontramos na «Trend Killer» a participação de Chuck Billy dos Testament. Propositado, ou não, é a faixa mais chamativa. Com uma entrada com baixo, guitarra e voz, é daquelas malhas que ficam no ouvido e martelam no cérebro. Esperemos que de facto se tenham encontrado com este trabalho porque, pelo que fizeram, mostraram

65 / VERSUS MAGAZINE


CRITICA VERSUS que ainda são capazes.

[ 7,5 / 10 ] HUGO MELO

THE PINEAPPLE THIEF Magnolia (Kscope) Conhecidos por uns e desconhecidos por muitos, os The Pineapple Thief já contam com 15 anos de carreira e 10 álbuns, e muitos concertos. Calcando o terrendo do Rock e do Progressivo, a banda tem afinado bem a sua sonoridade ao longo da sua carreira, sendo que este último regosto, «Magnolia», pode bem ser considerado o que de melhor os The Pineapple Thief fazem. Ou seja, canções orelhudas, com um excelente sentido de melodia e harmonia entre os momentos calmos e os momentos onde os instrumentos e a voz atingem níveis de sentimentos muito subtis. Curioso foi perceber que os músicos deixaramse levar precisamente pelo lado emocional, e menos pelo lado racional e técnico da música. O resultado são 12 canções bem feitas, com refrões que se colam na cabeça – como a magnifica “Alone At Sea”, ou mesmo o tema de abertura, “Simple as That” malhas de guitarra que fazem justiça, ora pesadas, ora melodiosas, com um baixo com detalhes interessantes, juntamente com uma bateria bem ritmada. Claro, não se pode esquecer a excelente voz, que acaba por ser uma das grandes referências desta banda – um sentido de melodia e harmonia muito acentuado. Estamos perante, assim, um registo que por vezes parece estar entre uns Porcupine Tree e uns Anathema, sem por isso perder a sua identidade própria. Uma boa surpresa deste ano. [ 8,5 / 10 ] VICTOR HUGO

T H O MAS GILES Modern Noise (MetalBlade) Thomas Giles, para quem não conhece, é tão só Tommy Rogers, vocalista e teclista dos Between the Buried and Me. «Modern Noise» é o seu segundo álbum a solo pela Metal Blade. Embora tendo outros projectos ainda com outros nomes, são os que lançou por esta editora que mais têm sobressaído. Já aqui na VERSUS revi o primeiro álbum a solo, «Pulse». Giles “transporta” para «Modern Noise» as partes mais calmas dos BTBAM e confere-lhe, mesmo assim, uma dinâmica diferente com muitas e excelentes combinações; Rock, PostRock, elementos eletrónicos e ainda um certo ambiente jazzy - “Blueberry Queen” é um perfeito exemplo disso, ficando ainda bem vincada toda a versatilidade vocal e não só, também em termos de estrutura e composição dos temas. … já que “vem a talhe de 6 6 / VERSUS MAGAZINE

foice”, Giles testa um novo limite do que consegue fazer, naturalmente, com a voz. Falsetto e uma grande dinâmica, adjectivam tudo o que quer imprimir à música: ansiedade, colapso, força, etc. Tudo isto é “decorado” com arranjos orquestrais, em género de toque final, “a cereja no topo do bolo”. Em «Pulse», o génio de Giles foi o suficiente para chamar a si toda a responsabilidade de tocar todos os instrumentos. Em «Modern Noise», Will Goodyear – antigo baterista/percursionista dos BTBAM – abarca a responsabilidade da bateria e percursão. Juntamente com Mikael Åkerfeldt ou Devin Townsend, entre outros, Thomas Giles é uma das pessoas mais inteligentes a fazer música. Até o tema que encerra o álbum, “Modern Noise” o “mais eletrónico” se ouve com prazer e fica completamente enquadrado num setlist estupidamente coerente. Nas suas palavras: “Música é sempre ruído moderno. Actualmente sou só uma pessoa a tentar criar algo de novo”. Concordo!

[ 9,0 / 10 ] EDUARDO RAMALHADEIRO

ZO D I A C Sonic Child (Napalm Records) O Rock, em todas as suas variantes, será talvez o estilo mais difundido e tocado em todo o lado. O número de bandas é infindável e sobressair neste universo de estrelas é uma tarefa… bem… absolutamente colossal. Os Zodiac têm vindo solidamente a crescer e se, «A Hiding Place», por mim revisto num número anterior da VERSUS, já era excelente, este «Sonic Child» é um passo à frente e uma referência na ainda curta discografia. Não é fácil para uma banda alemã tocar Rock de uma forma tão versátil, competente, cativante como os Zodiac o fazem e de uma forma tão Amerecanizada “A Penny and a Dead Horse” poderia muito bem ter saído de uma “novela” de Neal Young, que apesar de Canadiano fez toda a sua carreira no EUA ou o espetacular e expressivo “Rock Bottom Blues”, um tema Blues de 9m16. O funky e groovy “Good Times”: “Feel That groovy, baby; looking for some blues”, yeah! A fantástica balada semi-acústica “Sad Song” quebra um pouco o ritmo mas ouve-se tão bem, tão bem... Isto tudo num estilo tradicional, não há riff que não fique no ouvido, muito bluesy e envolvente, por vezes um pouco cru mas muito versátil, o som de guitarra “aveludado” e suave envolve-nos num manto de conforto e tranquilidade. Nada foi deixado ao acaso e o álbum segue todo um conceito centrado na música que ouvimos enquanto criança e que tem o seu inicio na capa, também ela conceptual. No fim vão achar que «Sonic Child» é “Just Music”. É isso, só música! [ 9,5 / 10 ] EDUARDO RAMALHADEIRO

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BEST OF 2014 VICTOR HUGO

SÉR G I O TEI XEI R A

LANTLÔS

BEHEMOTH

INTERNACIONAL

INTERNACIONAL

«Melting Sun»

«The Satanist»

I N F E S T U S « T h e R e f l e c t i n g Vo i d »

D A R K S PA C E « D a r k S p a c e I I I I »

THE PINEAPPLE THIEF

DEVIN TOWNSEND PROJECT

«Magnolia»

«Z2»

ALFAHANNE «Alfapokalyps»

N U X V O M I C A « N u x Vo m i c a »

MANES

SOEN

«Be All End All»

VICTOR HUGO NACIONAL

M O N O LY T H

« Te l l u r i a n »

ER NESTO MA RTI NS

«Origin»

INTERNACIONAL

HOURSWILL «Inevitable»

OPETH

PIORES DO ANO

MORBUS CHRON

QUINTESSENCE MYSTICA «Duality»

T H E G R E AT O L D O N E S

VICTOR HUGO

«Pale Communion» «Sweven» « Te k e l i - L i »

OBSIDIAN KINGDOM «Mantiis»

E D U A R D O R A MA LHADEIRO INTERNACIONAL

HAKEN

«Restoration (EP)»

JOHN WESLEY

«Disconnect»

NE OBLIVISCARIS

«Citadel»

WITHERSCAPE «The Inheritance» SOEN

« Te l l u r i a n »

VICTOR HUGO

SLEEPING PULSE «Under The Same Sky» HOURSWILL «Inevitable»

VICTOR HUGO

PIORES DO ANO

MARTELO NEGRO «Equinócio Espectral» HOURSWILL «Inevitable»

C R I S TI NA SÁ

INTERNACIONAL

«Futile»

I N F E S T U S « T h e R e f l e c t i n g Vo i d » S A M M AT H « G o d l e s s A r r o g a n c e » O TA R G O S « A p e x Te r r o r » RAUHNÅCHT

VI C TO R HU G O

«Thrive»

«Urzeitgeist»

NACIONAL

VICTOR HUGO

MENÇÃO HONROSA

MOONSPELL

P A I N O F S A LV A T I O N

«V»

NACIONAL

EUDAIMONY

NACIONAL

ANGELICA

THE FLIGHT OF SLEIPNIR

VI C TO R HU G O

«Falling home»

«Alpha Noir»

A Z A G AT E L « L u x - C i t a n e a »

CA R LO S FI LI PE

DICO

INTERNACIONAL

INTERNACIONAL

C AVA L E R A C O N S P I R A C Y R AT O S D E P O R Ã O OBITUARY

«Pandemonium»

«Século Sinistro»

«Inked in Blood»

ARKONA

« Ya v »

G R A N D M A G N U S « Tr i u m p h a n d P o w e r » D R E A D S O V E R E I G N « A l l H e l l ’s M a r t y r s »

MACHINE HEAD «Bloodstone & Diamonds»

MARTY FRIEDMAN «Inferno»

EXODUS

VA N D E N P L A S

«Bllod in Blood Out»

VICTOR HUGO NACIONAL

MACHINERGY

VI C TO R HU G O

«Chronicles of the Immortals»

NACIONAL

«Sounds Evolution»

MARTELO NEGRO «Equinócio Espectral»

P E R P E T R AT O R « T h e r m o n u c l e a r E p i p h a n y »

KARBONSOUL «3logy»

V12 «Bor n to Die/The Last Waltz»

PIORES DO ANO

VI C TO R HU G O OPETH

«Pale Communion» 67 / VERSUS MAGAZINE


BEST OF 2014 ADRIANO GODINH O INTERNACIONAL

LOUDBLAST

«Burial Ground»

E OBLIVISCARIS SEPTICFLESH

«Citadel»

«Titan»

TRIPTYKON «Melana Chasmata» VA L L E N F Y R E

VICT OR HUGO

«Splinters»

NACIONAL

A TREE OF SIGNS

«Saturn»

SLEEPING PULSE «Under The Same Sky» WE ARE THE DAMNED «Doomvirate»

VICT OR HUGO

PIORES DO ANO

ANGELICA

«Thrive»

ASTRA

«Broken Balance»

INDICA

«Shine»

www.etherealsoundworks.com



LIVE VERSUS

KREATOR / OPETH / GOJIRA VAGOS OPEN AIR 08, 09, 10.08.2014

© Sérgio Teixeira

VAGOS OPEN AIR 2014 UM VERÃO METALEIRO! Antes de mais introduzimos um curto parágrafo para justificar o facto de não termos assistido a todos os concertos. Devido a condicionantes pessoais e profissionais, não estivemos presentes nas atuações de Gates of Hell, Kandia, Sylosis, Requiem Laus e Opus Diabolicum. A todas estas bandas apresentamos os mais sinceros pedidos de desculpa. Esperamos que, numa próxima oportunidade, possamos estar de corpo e alma desde o primeiro minuto, se possível já no próximo ano. Mas, no primeiro dia do VOA (08 de Agosto), ainda chegámos a tempo de ouvir e ver a atuação de Soilwork. Pode-se dizer que foi uma atuação que não rebentou a escala, longe disso, pois, apesar da qualidade e solidez da atuação, a banda não deu ao público a dose de adrenalina suficiente para levantar o pó do chão como gente grande. Logicamente a assistência marcou presença, mas sem se entrar num paradigma de “sardinha em lata”, pelo que o espaço para Mosh Pit ou os cada vez mais populares Wall of Death não faltava, mas apenas se registaram mãos erguidas, algum head banging e pouco mais. Sendo uma banda experiente, com bastantes anos de estrada, julgo que, ou a sonoridade que empregam em público, ou até mesmo um set list que poderá ter passado algo ao lado, poderão ter deixado os aficionados do Vagos

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com mais vontade de escutar de pés assentes no solo. Seguidamente entraram os holandeses Epica. Destacou-se Simone Simons, pela simpatia e demais atributos estéticos mas também pela voz que funciona bem, tanto em estúdio como ao vivo. A formação como um todo acabou por convidar a generalidade do público a assistir numa toada mais tranquila, em vez de enveredar pelo crowd surfing. Claro está que o género mais melódico e a puxar ao sentimento de parte das composições não pede muito mais ao público do que mãos a aplaudir e alguns coros espalhados aqui e ali no decorrer da atuação. A componente estética acabou por funcionar a favor destes holandeses, que entraram em palco já de noite, o que ajuda a apurar o espetáculo visual com as múltiplas cores e efeitos visuais disponibilizados pela organização do evento. Resumindo, tendo em conta os créditos dos Epica, pode-se dizer que a banda cumpriu em todos os itens. Porém, da parte do público não foi nesta atuação que se obtiveram os maiores picos de adrenalina. Mas o “prato principal” foi servido cerca da meia-noite pelos germânicos Kreator. E que banquete! Numa das melhores atuações de todo o evento, o público não teve razão para se queixar, a não ser os mais alérgicos ao pó

que se levantou durante a atuação desta banda. Foi um não parar de Mosh Pit, Circle Pit, Crowd Surfing, e chegou mesmo a haver lugar ao Wall of Death, algo que é cada vez mais frequente em atuações de bandas mais extremas. Seria de esperar que dificilmente viesse a ser ultrapassada tamanha adrenalina no decorrer de um concerto mas ainda faltavam 2 dias de peso em Vagos. No segundo dia do VOA, o entusiasmo tinha aumentado, a avaliar pela afluência nas zonas de estacionamento, em tudo quanto era café na zona do festival e na entrada para o recinto. A dificuldade em encontrar estacionamento e as formalidades da entrada fizeram-nos perder a primeira banda do dia: Requiem Laus. Desde já apresentamos as nossas desculpas aos metaleiros da Madeira, que, certamente, tiveram uma prestação no bom nível habitual. Seguiram-se os espanhóis Angelus Apatrida, que, com o seu poderoso Thrash continuaram a animar os metalheads presentes no campo, que já iam sendo bastante numerosos. Coube ao vocalista – Guillermo Izquierdo – a tarefa de puxar pelo público, já que os outros membros estavam muito ocupados a manobrar os respetivos instrumentos, como era requerido pela música da banda. Apesar da boa reação à arte de “nuestros hermanos”, o público mostrava-se calmo, prescindindo


LIVE VERSUS de manifestações ruidosas do tipo Mosh Pit. Após o intervalo da praxe e o habitual sound check, subiram ao palco os suecos The Haunted. A temperatura subiu ainda mais – em termos meteorológicos e musicais – até porque os naturais do “país frio e forte” – como se dizia numa canção da minha infância – depressa eletrizaram o público, cada vez mais numeroso. Ou não fossem eles uma banda constituída por estrelas a brilhar também noutros universos musicais, como uma rápida vista de olhos pela sua filiação permitirá comprovar! A certa altura, começou a notar-se um curioso fenómeno de “dogbanging”, já que uma fã fervorosa acompanhava os riffs mais substanciais abanando furiosamente um engraçado cão de borracha insuflado, que se erguia acima da multidão. Pouco depois dos nada assombrados suecos terem abandonado o palco, começaram os preparativos para uma atuação bem diferente. Caso o público não soubesse quem se seguia, o estandarte dos Behemoth veio esclarecer todos. Para quem ignorasse de que quadrante vinham estes polacos, os adereços que se foram acumulando no palco facilitavam a sua identificação como uma banda de Black Metal: a predominância do negro e a presença de candelabros criando uma atmosfera religiosa funcionavam como uma espécie de ex libris. O concerto foi antecedido por um compasso de espera, que permitiu aos adeptos do género procurarem os melhores lugares junto do palco e aos restantes decidirem se iriam assistir ao concerto ou desfrutar da sombra dos lugares de restauração montados no recinto. Assim que os músicos deram início às hostilidades e Nergal fez soar a sua poderosa voz, os dados estavam lançados. Foi uma bela

atuação – bem diferente do que se pôde ver no resto do dia. A indumentária adotada pelos músicos – que evocava as descrições de guerreiros bárbaros presentes em textos da Antiguidade clássica e, no caso de Nergal, os leprosos da Idade Média –, ajudou a criar o cenário adequado para uma música mais pesada, mas também mais lenta. Alguns momentos dramáticos (por exemplo, o balancear de um incensório, no início de uma das canções) marcaram a diferença. O público que apostou nesta banda pareceu achar que tinha boas razões para não arredar pé antes de os músicos darem por terminada a sua intervenção. Uma pequena nota negativa: foi pena não terem agendado o concerto para um pouco mais tarde, para este decorrer inteiramente de noite. Black Metal à luz do sol é uma combinação bizarra e que resulta mal! O quinto concerto do dia foi protagonizado pelos Annihilator, a “navegar em águas bem diferentes”. Apesar de ser a hora do jantar para muita gente, o porco no espeto – grande atração gastronómica do recinto – teve de esperar, para que os consumidores usufruíssem do animado Thrash destes canadianos. O mínimo que se poder dizer de Mr. Walters e companhia é que… têm pilhas Duracel (passando a publicidade). Felizmente para o pescoço dos metalheads que se deixaram ficar até ao fim da noite – que entretanto receberam reforços – os Opeth – bisando como cabeça de cartaz de um dos festivais mais populares do género, atualmente, em Portugal – apostaram numa alternância de temas pesados, em que Mikael Akerfeldt usou vocais ásperos, e temas mais lentos e suaves, com vocais limpos. No entanto o mentor dos Opeth teve ainda uns 30 segundos iniciais em que a voz não

passou para o PA, problema que não manchou a atuação tendo em conta a rápida resolução. Coube-lhe também a tarefa de desempenhar o papel de cicerone, guiando o público numa viagem pela carreira já longa desta banda sempre progressiva, agora mais dedicada ao Rock. Cerca de hora e meia depois, a maioria do público dirigiu-se para a saída do recinto. No terceiro dia de Vagos Open Air, foinos possível acompanhar a atuação dos portugueses Murk, que, tendo sido a segunda banda a atuar, acabaram por ter um público ainda a precaver-se para os horários mais próximos dos cabeças de cartaz. Ainda assim, apesar de o recinto “à pinha”, a atuação dos Murk pôde contar com uma bela “moldura humana”. Os que presenciaram o espetáculo mantiveram-se bastante atentos, tanto pela parte musical, como pela componente mais ligada à presença em palco da banda de Olhão, que não descuidou a indumentária e a caracterização. No final da atuação, não faltaram os agradecimentos ao público e as respetivas palmas. De seguida, subiram para cima do palco os também portugueses The Quartet of Woah, que cumpriram os requisitos tendo em conta a prestação prévia dos Murk. Sabendo à partida que esta banda de Lisboa se enquadra numa toada mais Rock com bases de Sludge/Stoner, a produção sonora acabou por ajudar a que uma tonalidade mais pesada fosse transposta, mantendo assim o espírito mais Heavy do evento. A energia em palco de todos os elementos da banda foi notória e esse foi um grande ponto a seu favor para manter a atenção do público, sempre na ânsia de ver mais um detalhe, de perceber qual o tema seguinte. É claro a música foi também o ponto-chave: sem boa música, não

KREATOR / OPETH / GOJIRA VAGOS OPEN AIR 08, 09, 10.08.2014

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LIVE VERSUS

KREATOR / OPETH / GOJIRA VAGOS OPEN AIR 08, 09, 10.08.2014

há público que se mantenha atento. No final, foi mais uma atuação que terminou numa onda de aplausos. Confesso que não conhecia Vita Imana e aqui esteve uma das maiores atuações do evento, tendo em conta a resposta do público. Foi verdadeiramente impressionante a quantidade de Mosh Pit, Circle Pit, Crowd Surfing e, claro, o Wall of Death (no tema “Paranoia”) a marcarem presença na atuação da banda espanhola. Se tivéssemos de eleger os concertos com maior coeficiente de “partiram tudo”, diria que Vita Imana – a par de Kreator – foram os vencedores. A nível sonoro já não é a primeira vez que vejo a parte de percussão numa banda ser catapultada para dimensões de intensidade mais elevadas, quando, para além do set up típico de bateria, um percussionista auxiliar contribui para os ritmos, como é o caso da Miriam nestes Vita Imana. Logicamente não é esse o único aspeto que jogou a favor desta banda. A banda fez provas, em palco, de uma filosofia de fazer Metal, que é demasiado abrangente e energética para deixar o público a fazer de conta que não se passa nada. Foi de facto uma excelente estreia destes Vita Imana no Vagos e uma das atuações mais marcantes de todo o evento. Fica aqui o repto pela parte da VERSUS para que estes espanhóis nos visitem novamente. Excelente! De seguida, entraram em palco os Paradise Lost. Quem já esteve presente em concertos destes britânicos viu o mesmo de sempre. São músicos competentes e continuam a arrastar multidões, são uma banda que tem um conjunto de temas-chave com lugar na história recente do Rock/Heavy, o que se reflete ao nível de assistência ao vivo e o VOA não foi exceção. O público esteve bem

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atento e houve muitos aplausos. Nos dias de hoje, ter os Paradise Lost em qualquer cartaz é ainda a garantia de casa composta com aplausos q.b. e refrões bem acompanhados do lado da plateia. Para uma banda que já anda na música desde 1988, é de facto de realçar e o mérito é todo destes britânicos. Finalmente e para fechar com chave de ouro, foi tempo de assistir à intervenção de Gojira, a primeira em Portugal. Pergunto-me onde é que tem estado esta banda e por que razão só em 2014 nos visitaram! Que concerto! Acho que só por ser o último concerto dos 3 dias bem intensos é que já não sobrou muito mais pólvora do lado da assistência para lavrar Mosh Pits intermináveis: digamos que houve Mosh Pit q.b.. É claro, houve o mais do que requisitado Wall of Death, que os Gojira não deixaram passar. O Mur de la Mort – acompanhando o monumental som que os franceses debitaram – deve ter dado origem a mais umas nódoas nos corajosos e persistentes do evento. Foi feita referência às origens lusas do front man – Joe Duplantier – cuja avó é de origem açoriana: um dos temas foi dedicado precisamente a esta senhora num momento que ligou com particular incidência este músico e o resto da banda à moldura humana que esteve de pedra e cal nas últimas horas da edição deste ano do Vagos Open Air. A chuva apareceu durante o concerto, contribuindo para baixar um pouco a temperatura, refrescando o pessoal à borla, além de deixar a poeira colada no chão. Finalmente, no decorrer do evento, houve ainda espaço para algumas sessões de autógrafos. Pelo menos os Vita Imana e os Paradise Lost estiveram pacientemente em contacto com os fãs em sessões bem animadas em que houve não apenas autógrafos, mas também algumas fotos e

selfies, algo a que é difícil escapar hoje em dia. Terminamos com um parágrafo relativo à impressão que a organização do evento nos deixou. Com um conjunto tão alargado de bandas, um serviço de “comes e bebes” que foi para além dos mínimos exigidos para que ninguém ficasse com muita vontade de sair do recinto, julgo que é um festival que está para continuar e se recomenda cada vez mais. Eventualmente, mais uns pontos de repouso (bancos) davam jeito, pois 3 dias em pé durante 8 horas fazem mossa. No 3º dia, viam-se claramente mais pessoas que cediam ao cansaço, acabando por se sentar no relvado do recinto, enquanto as bandas mais sonantes não subiram ao palco. É de registar também a presença e colaboração do pessoal de segurança e bombeiros. Estes últimos ainda tiveram algum trabalho entre mãos, devido a algumas lesões (sobretudo ao nível das mãos/pés de festivaleiros) e a desmaios de alguns entusiastas. Como se costuma dizer “devagar se vai ao longe” e, apesar de haver coisas a melhorar, não é de descurar a hospitalidade e cooperação de todo o pessoal da organização, pois, tomando por amostra o evento deste ano, a malta festivaleira, pelo comportamento irrepreensível, não merece nada menos que a total dedicação da organização do VOA. Com um cartaz de peso como o deste ano, é sem dúvida de louvar o papel da organização que fez subir a altura da barra. Parabéns!

Reportagem: CSA & Sérgio Teixeira Fotografia: Sérgio Teixeira


LIVE VERSUS

ANATHEMA / MOTHER’S CAKE HARD CLUB – PORTO 11.10.2014 TRAIL NOTURNO, EXTREME XL, RUAS CORTADAS, ENGARRAFAMENTOS… POR FIM ANATHEMA Os Anathema regressaram ao HardClub a escassos dias de fazer 2 anos desde a última vez que passaram pela sala 2 da meca portuense dos espetáculos Rock & Heavy (mas não só). Com Distant Satellites na bagagem, foi sem grandes dificuldades que a banda de Liverpool agarrou a atenção do público mal entrou em palco. Embora a sala estivesse a rondar os 60% de lotação aquando do início do espetáculo, à medida que o tempo passava, mais se aproximava de uma lotação bem perto de casa cheia; uma noite cheia de trânsito devido a outros eventos na zona ribeirinha do Porto que obrigaram a cortes e desvio do tráfego intenso e que atrasaram boa parte dos fãs. É de algum modo inevitável comparar o espetáculo deste ano com o que ocorreu em Outubro de 2012. Algo surpreendente foi a notória presença de um maior número de fãs bastante jovens sem que deixassem de comparecer os adeptos de longa data dos britânicos. Também foi possível ouvir alguns diálogos em castelhano, e outros em inglês de parte das pessoas que compareceram na assistência. Algo que sem dúvida tem a ver com o destaque da cidade do Porto enquanto destino turístico internacional, a par do

afluxo de estudantes em Erasmus que também se encontra em crescendo. Julgo também que o resultado foi um concerto com uma componente mais elétrica e menos psicadélica este ano; do ponto de vista da recetividade do público a adesão foi idêntica. Também de realçar a comparência feminina de Lee Douglas nas vocalizações algo que não aconteceu em 2012. Ao longo das quase 2 horas de espetáculo houve uma grande presença de temas dos últimos 3 álbuns mas não ficaram de fora temas como Closer ou Fragile Dreams. Os pontos mais altos do concerto foram em The Lost Song part 1 & 2, Untouchable part 1 & 2 e no clássico Fragile Dreams. Claro que o tema Universal é muito mais pausado e menos dado a grandes manifestações na plateia mas foi também em sincronismo que banda e público marcaram o balanceamento da melodia com aplausos, quase que ensaiados pela espontaneidade da interação banda assistência. Em Thin Air, Vincent Cavanagh esteve particularmente ativo em cima do palco demonstrando que os Anathema não andam na estrada para marcar o ponto mas que diversão faz parte do livro de regras da banda. No final do concerto já no encore houve foi ainda possível

ver Daniel Cavanagh a usar um arco de violino/violoncelo para tirar sons da sua guitarra e ainda o português Daniel Cardoso a trocar por momentos os teclados/ritmos pela bateria. Nada no meio das várias facetas que esta banda revela em palco belisca a consistência das suas atuações. Só por isso, mas a somar também os vários anos de palco, estes Anathema estão cada vez mais de parabéns. Quem os vê só pode agradecer. Reportagem e fotos: Sérgio Teixeira SETLIST: Anathema 1. The Lost Song 1 2. The Lost Song 2 3. Untouchable 1 4. Untouchable 2 5. Thin Air 6. Ariel 7. The Lost Song 3 8. Anathema 9. The Beginning And The End 10. Universal 11. Closer 12. Firelight 13. Distant Satellites 14. Take Shelter 15. A Natural Disaster 16. Fragile Dreams 7 3 / VERSUS MAGAZINE


AGENDA VERSUS CANCER

[ 10 DE JANEIRO ]

JANEI RO

02 -

MONOLYTH, DESTROYERS OF ALL,

VAI-TE FODER, FURCAZ

03 -

-

Toca, Braga

WAKO + SOTZ + FALLEN PARADISE

-

Metalpoint, Porto DISPLAY OF POWER + CANCER + DISASTER + BIZARRA LOCOMOTIVA + ARKHAM WITCH + WEB + ATTICK DEMONS + ACROMANÍACOS + ENCHANTYA + RAVENSIRE + UNDERSAVE + TERROR

10 -

EMPIRE - C.C Santo André, Mangualde HardMetal Fest 2015 HARSH TOKE + COMET CONTROL Kommix Bar, Viana do Castelo 17 - MIDNIGHT PRIEST + RAVENSIRE +

17 -

CORMAN - RCA CLub, Lisboa 17 - RISEN FROM THE ASHES W/ ABOVE THE HATE + DIABOLICAL METAL STATE + THE VOYNICH CODE + [...] - Academia de Linda-a-Velha, Lisboa Phoenix Fest - Act 24 PROSTITUTE DISFIGUREMENT + GROG + VXPXOXAXAXWXAXMXC + SERRABULHO + ANALEPSY + SHORYUKEN

-

RCA CLub, Lisboa XXXapada na Tromba Freak n’ Grind Fest 31 - HOURSWILL + SCAR MIND + STONERUST + THE ROYAL BLASPHEMY

-

Nirvana Stu Dios, Lisboa 31 ALCOLÉMIA FEST (FESTA LANÇAMENTO DO ÁLBUM PALMA DA MÃO)

31 -

-

Cine Incrivel, Almada TRINTA & UM + MATA-RATOS +

MORDAÇA + SARNA + PUSH! de Linda-a-Velha, Lisboa

-

MOONSPELL

AMON AMARTH [ 10 / 11 DE FEVEREIRO ]

FEV ER EIR O

MARÇO

04 -

20 -

-

05 -

-

ELUVEITIE + WINDROSE + SKÁLMÖLD

Hard Club, Porto ELUVEITIE + WINDROSE + SKÁLMÖLD

RCA Club, Lisboa

06 -

VALLENFYRE + FOSCOR Club, Lisboa

-

RCA

VALLENFYRE + FOSCOR - Hard Club, Porto 07 - THE SECRET + MUTILATION RITES + HIEROPHANT + PLEBEIAN GRANDSTAND + BLIND TO FAITH + TOMBSTONES + ACID DEATHTRIP + OLD SKIN + FÍSTULA

07 -

+ HYMN + ADRIFT [...] - RCA Club, Lisboa Burning Light Festival 08 - THE SECRET + MUTILATION RITES + HIEROPHANT + PLEBEIAN GRANDSTAND + BLIND TO FAITH + TOMBSTONES + ACID DEATHTRIP + OLD SKIN + FÍSTULA + HYMN + ADRIFT [...] - RCA Club, Lisboa Burning Light Festival 10 - AMON AMARTH + HUNTRESS + SAVAGE MESSIAH - Paradise Garage, Lisboa 11 - AMON AMARTH + HUNTRESS + SAVAGE MESSIAH - Hard Club, Porto 27 - SATURNUS + LANTLÔS + AUTUMNAL + OPHIS + BOSQUE - RCA Club, Lisboa Under The Doom 2015 28 - FORGOTTEN TOMB + MOURNING BELOVETH + DESIRE + DOLENTIA +

[ 27 / 28 DE MARÇO ]

XII EXTREME METAL ATTACK B, Benavente

-

Side

21 -

-

Side

XII EXTREME METAL ATTACK

B, Benavente 01 Coliseu – Porto

-

DREAM THEATER

MOONSPELL + SEPTICFLESH Coliseu dos Recreios, Lisboa 27 MORE THAN A THOUSAND + ONSLAUGHT + GROG + SWITCHTENSE + IBERIA + WEB + MISS LAVA + WAKO + TERROR EMPIRE + ALBERT FISH + KARNAK SETI + CROSSED FIRE + ANALEPSY + BIZARRA LOCOMOTIVA + COLOSSO + DESTROYERS OF ALL +

27 -

JACKIE D + BORDERLANDS - Sociedade Filarmónica Estrela Moitense, Moita Moita Metal Fest 2015 MOONSPELL + SEPTICFLESH - Hard Club, Porto 28 - MORE THAN A THOUSAND + ONSLAUGHT + GROG + SWITCHTENSE + IBERIA + WEB + MISS LAVA + WAKO + TERROR EMPIRE + ALBERT FISH + KARNAK SETI + CROSSED FIRE + ANALEPSY + BIZARRA LOCOMOTIVA + COLOSSO + DESTROYERS OF ALL +

28 -

JACKIE D + BORDERLANDS - Sociedade Filarmónica Estrela Moitense, Moita Moita Metal Fest 2015

AGONIA - RCA Club, Lisboa Under The Doom 2015

Academia

PRÓXIMA FEVEREIRO | 2015

CAVALERA CONSPIRACY | NIGHTINGALE SOEN | AUDREY HORNE SEGUE A VERSUS MAGAZINE NO FACEBOOK facebook.com/versusmagazinepage versusmagazinept@gmail.com

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-




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