Compendio de Teologia

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futuro, e é também a respeito delas que buscavam respostas nos adivinhos. Por essa razão é que o destino é chamado de fado ("fatum"), termo que se origina do verbo falar (em latim, "fando"). Admitir tal destino é também contrário à fé. 3 — Contudo, porque não apenas as coisas naturais, mas também as humanas, estão submetidas à Providência Divina, aquilo que parece acontecer casualmente nas coisas humanas deve ser reduzido à ordenação daquela Providência. Por isso, os que afirmam que tudo está submetido à Providência Divina devem também admitir o destino. O destino, assim considerado, refere-se à Providência Divina, como um efeito próprio dela. Essa é uma consideração da Providência Divina enquanto ela se aplica às coisas, conforme o que afirmou Boécio, dizendo ser o destino "a disposição (isto é, a ordenação) imóvel, inerente às coisas móveis". Como, porém, não devemos, o mais possível, ter em comum com os infiéis nem os nomes das coisas, para que os menos inteligentes não encontrem nisso ocasião de errar, os fiéis, ao usarem a palavra destino, devem fazê-lo com muita cautela, justamente porque tal palavra é mais convenientemente e mais comumente entendida conforme a primeira acepção. Por isso é que Santo Agostinho disse que "se alguém entendeu o destino conforme a segunda acepção, guarde a sentença e corrija a língua" ("De Civ. Dei", cap. V). 156

CAPÍTULO CXXXIX NEM TUDO ACONTECE POR NECESSIDADE Embora a ordem da Divina Providência realizando-se nas coisas seja certa, e, por esse motivo, Boécio definiu o destino como sendo a disposição imóvel inerente às coisas móveis, nem por isso se deva concluir que tudo aconteça necessariamente. Ora, os efeitos são ditos necessários ou contingentes conforme a disposição de suas causas próximas. É, pois, evidente, que se a primeira causa for necessária e a segunda, contingente, o efeito será também contingente. Assim é que a causa primeira da geração nas causas corpóreas inferiores é o movimento de um corpo celeste, movimento necessariamente causado, mas a geração e a corrupção desses corpos inferiores são contingentes, justamente porque as suas causas inferiores são contingentes e podem falhar. Foi visto acima que Deus dá execução à ordem da sua Providência por meio de causas inferiores. Devem, por conseguinte, existir alguns efeitos da Divina Providência que sejam contingentes, de acordo com a condição dessas causas inferiores.

CAPÍTULO CXL EXISTE A PROVIDÊNCIA DIVINA, E, NÃO OBSTANTE, MUITOS FATOS SÃO CONTINGENTES A contingência dos efeitos ou das causas não prejudica a certeza da Providência Divina. 1 — A certeza da Providência Divina parece fundamentar-se em três coisas: na infalibilidade da presciência divina, na eficácia da vontade divina e na disposição de tudo pela sabedoria divina, que encontra sempre o meio adequado para realizar o seu efeito, dos quais nenhum repugna à contingência das coisas. A ciência de Deus é infalível também com relação às coisas contingentes, enquanto Deus contempla na Sua própria 157

eternidade as coisas futuras conforme existem atualmente no seu ser, do que já acima falamos. A vontade de Deus, sendo a causa universal das coisas, também ela não somente age para fazer as coisas, bem como para que estas sejam feitas em determinado modo. Pertence, com efeito, à eficácia da vontade divina, que se realize não só o que Deus quer, mas também que se faça


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