Acolhendo com autonomia: comunicação de notícias difíceis

VANNESSA CARVALHO ALMEIDA
ANDREA MARQUES VANDERLEI FREGADOLLI


MARIA VIVIANE LISBOA DE VASCONCELOS
CÉLIA MARIA SILVA PEDROSA
VANNESSA CARVALHO ALMEIDA
ANDREA MARQUES VANDERLEI FREGADOLLI
MARIA VIVIANE LISBOA DE VASCONCELOS
CÉLIA MARIA SILVA PEDROSA
Título: Acolhendo com Autonomia: comunicação de notícias difíceis
Autoras: Vannessa Carvalho Almeida, Andrea
Marques Vanderlei Fregadolli, Maria Viviane
Lisboa de Vasconcelos e Célia Maria Silva
Pedrosa
Imagens: Criadas por inteligência artificial utilizando a ferramenta Criador de Imagens do Bing (Microsoft Edge)
Diagramação: Diagramado por Vannessa
Carvalho Almeida utilizando o software CANVA
Ano de publicação: 2023
Editora: Quick Mind
Local de Publicação: Maceió-AL
Produto Educacional: Este produto integra requisito de avaliação da disciplina Pesquisa e Desenvolvimento de Produtos Educacionais I do Mestrado Profissional em Ensino na Saúde da Faculdade de Medicina da UFAL
(MPES/FAMED/UFAL), ministrada pela Profa. Dra. Andrea Marques Vanderlei Fregadolli. Programa de Mestrado coordenado pela Profa. Dra. Maria
Viviane Lisboa de Vasconcelos
Criação: Este produto foi desenvolvido por meio de inteligência humana e inteligência artificial
Dedicamos este ebook aos profissionais de saúde que se empenham em cuidar dos outros com compaixão e humanidade. Vocês são faróis de esperança com sua assistência e apoio em momentos desafiadores.
Aos pacientes que enfrentam notícias difíceis, este ebook é também dedicado a vocês. Sua coragem, resiliência e confiança nos inspiram a buscar a excelência na comunicação e aprimorar nossas práticas de cuidado na saúde.
Que as páginas a seguir possam transmitir conhecimento ao mesmo passo que norteiam o caminho da comunicação eficaz e da autonomia, fortalecendo o elo do cuidado com empatia na relação entre profissionais de saúde e pacientes.
As autoras
Acolhendo com Autonomia: comunicação de notícias difíceis traz uma história fictícia que retrata situação muito frequente nos ambientes de saúde: a revelação de um diagnóstico desafiador. Comunicar más notícias é uma das tarefas mais complexas para os profissionais de saúde o que evidencia a relevância do treinamento desta habilidade desde os momentos iniciais de sua formação.
Nas páginas com leitura leve e fluida a seguir, convidamos você a embarcar em um percurso emocional e compassivo, onde a delicada arte da comunicação se entrelaça com o acolhimento e o respeito à autonomia do paciente.
À medida que os caminhos dos personagens desta história se cruzam, você será guiado na apresentação do Protocolo SPIKES, um modelo sensível e eficaz para a comunicação de notícias difíceis, constituído por seis passos estabelecidos em seu mnemônico e que se encontra apresentado mais detalhadamente na segunda parte do livro.
Por meio desta história somos lembrados que a comunicação atenciosa é uma ponte poderosa entre profissionais de saúde e pacientes, e as palavras escolhidas, os gestos cuidadosos e a conexão humana podem ajudar a suavizar o impacto de uma notícia difícil, ao mesmo tempo em que respeitam a autonomia e a capacidade de escolha do paciente.
As autoras
Em um ambulatório médico no serviço de saúde, Fred, 23 anos, aguardava ansiosamente a consulta para saber o resultado dos exames laboratoriais que realizou após uma série de sintomas indesejáveis que vinha sentindo nos últimos meses.
Após ouvir seu nome sendo chamado, apesar sentir-se assustado e apreensivo, o jovem dirigiuse rapidamente ao consultório médico.
Na porta do consultório a Dra. Ana o aguardava com uma atitude acolhedora pois sabia que precisava compartilhar uma notícia delicada que mudaria a vida daquele jovem para sempre. A médica havia se preparado e revisado cuidadosamente todos exames e o histórico das consultas de Fred naquele ambulatório, de forma que pudesse ser o mais assertiva possível na comunicação.
Ana apertou a mão de Fred na entrada do consultório, percebendo-a fria e trêmula, identificando assim o grau de tensão do rapaz diante daquela expectativa. A médica sentia empatia pela situação daquele jovem paciente e precisava fornecer as informações com sensibilidade e prestando apoio emocional.
Convidou-o então a sentar e em seguida perguntou o que Fred já sabia sobre os exames realizados até aquela ocasião.
Diante das informações apresentadas por Fred, inclusive sobre as suas próprias suspeitas e receios quanto ao diagnóstico, a médica propôs-se a apresentar os resultados atuais. Convidou Fred para o diálogo ao passo em que questionou se o rapaz desejava ser informado sobre todos os achados ou preferia que outra pessoa de sua confiança participasse juntamente com ele de todos processos.
Após Fred mencionar que desejava receber o resultado, a Dra. Ana expressou que já tinha a confirmação do diagnóstico e que, infelizmente, não lhe trazia boas notícias.
Fred já imaginava: o resultado do exame para HIV havia sido reagente. Essa palavra "HIV" já vinha martelando em sua mente desde o momento em que ele havia feito o teste.
A Dra. Ana começou a prestar as informações sobre o diagnóstico e o plano de ação e cuidados a ser tomado a partir de então, sempre com
atitude empática e perguntando se Fred estava compreendendo.
Fred não conseguiu conter sua tristeza diante daquela notícia, então cobriu o rosto com as mãos e se pôs a chorar.
A Dra. Ana deu-lhe o tempo necessário para que o mesmo expressasse suas emoções, depois olhou bem nos olhos do rapaz e, como sinal de acolhimento e empatia, colocou-se à disposição para esclarecer alguma dúvida que surgisse, também deixando o rapaz ciente de que ela permaneceria disponível para esclarecimentos em todas as futuras consultas.
Um pouco mais calmo após assimilar essa nova informação, Fred esclareceu algumas dúvidas iniciais com a Dra. Ana e finalmente recebeu da médica uma síntese de todas as informações prestadas naquela consulta, bem como das possíveis estratégias a serem adotadas a seguir.
Estando esclarecidas todas as dúvidas e prestadas todas as orientações, Ana entregou a Fred os resultados de seus exames, as receitas médicas e os encaminhamentos para que Fred seja assistido por uma equipe multiprofissional, de forma que possa receber atenção ampliada e integral.
Fred então saiu do consultório indo diretamente para a casa de sua mãe, com quem partilhou imediatamente a notícia, recebendo um afetuoso abraço juntamente com a certeza de que poderá contar com muito amor, companheirismo e suporte para o enfrentamento dessa nova situação.
As más notícias ou notícias difíceis, compreendem qualquer informação que afete de forma adversa e séria a visão de alguém sobre o seu futuro.
Na história fictícia de Fred e Ana, você pode observar um exemplo de comunicação baseada no Protocolo SPIKES, percebendo que a vivência da comunicação de um notícia difícil impacta tanto o profissional de saúde quanto a pessoa que a recebe.
Dessa forma, uma comunicação empática, responsável e eficaz requer o reconhecimento desse espaço compartilhado entre profissionais e pacientes, sendo uma habilidade que pode ser desenvolvida e aprimorada a qualquer tempo.
O Protocolo SPIKES é um modelo proposto para comunicação de notícias difíceis, estruturado em seis passos conforme o mnemônico a seguir:
S S
Setting up - preparando-se para o encontro
P I K E
Perception - percebendo o paciente
Invitation - convidando para o diálogo
Knowledge - transmitindo as informações
Emotions - expressando emoções
Strategy and Summary - resumindo e organizando estratégias 13
Esta etapa visa que o profissional se prepare antes do encontro, certificando-se de ter verificado previamente as informações, exames disponíveis, além de dispor de ambiente calmo e privativo.
Isto colabora para que o paciente ouça e compreenda melhor, além de respeitar a confidencialidade e fornecer o melhor apoio.
Se possível e o paciente assim desejar, o profissional pode manter um acompanhante presente para deixar o paciente mais seguro.
Idealmente, o profissional deve ser capaz de mostrar-se disponível e sem pressa.
Nesta etapa o profissional deve perceber o que o paciente já sabe sobre a situação de saúde, utilizando perguntas abertas. Por exemplo: "o que você sabe sobre sua situação de saúde até o momento"? ou "Qual o seu entendimento sobre os motivos necessários para fazer o exame 'X'?"
A partir de tais informações, o profissional pode corrigir uma eventual desinformação como também pode adaptar a comunicação das más notícias ao que o paciente já sabe e compreende.
Convidando para o diálogo
Esta é a etapa em que o profissional identifica até onde o paciente quer saber sobre a situação, se deseja ser totalmente informado ou se prefere que um familiar participe das tomadas de decisões. Esta intenção deve ser manifestada pelo próprio paciente, evitando condutas de prejulgamentos ou mesmo uma eventual ocorrência de "conspiração do silêncio".
Um exemplo de pergunta feita ao paciente pode ser: “Como você prefere que eu dê as informações sobre os resultados do teste? Gostaria que eu lhe desse todas as informações ou apenas o resultado e depois passando mais tempo discutindo o plano de tratamento?” ou ainda "Prefere que as decisões sejam tomadas/compartilhadas por/com alguém da sua família?”
Caso o paciente deixe claro que não quer saber detalhes, o profissional deve manter-se disponível para conversar posteriormente, no momento em que o paciente desejar obter mais informações sobre o diagnóstico e até mesmo o prognóstico.
Transmitindo as informações
É nesta etapa que o paciente recebe a notícia. Ao anunciar que tem más notícias, o profissional pode até mesmo diminuir o impacto da própria divulgação da notícia e facilitar o processamento de informações.
A introdução da notícia pode ser apresentada como: “Infelizmente, trago más notícias” ou “Lamento dizer isso…”.
Para facilitar a compreensão é essencial que o profissional adeque a informação e o vocabulário ao nível de compreensão do paciente e periodicamente interrogue sobre o seu entendimento. O profissional deve evitar o excesso de franqueza ao mesmo passo que não deve mitigar a realidade promovendo ilusões ou fantasias sobre prognóstico e tratamento.
Ainda que diante de perspectivas limitadas de tratamento da doença, o profissional deve recordar que os pacientes muitas vezes têm outros objetivos terapêuticos importantes, como um bom controle da dor e alívio dos sintomas.
Esta etapa requer essencialmente sensibilidade e empatia por parte do profissional de saúde após informar a má notícia. As reações dos pacientes podem variar entre silêncio, raiva, angústia ou negação. É fundamental observar o paciente e dar-lhe um tempo.
Caso o profissional perceba manifestação de choque deve perguntar o que o paciente está sentindo, sempre atento às manifestações do mesmo, questionando quando não tiver certeza do que ele expressa e então respondendo com empatia, visto que a atitude de reflexão empática poderá assegurar ao paciente que o profissional percebe o que ele está transmitindo por meio de linguagem verbal ou corporal.
É essencial compreender que é difícil discutir qualquer coisa enquanto alguém experimenta forte emoção. Assim, o profissional deve dar espaço também ao silêncio, além de acolher a expressão de emoções com empatia, sem críticas ou julgamentos.
O profissional deve demonstrar que compreende os problemas enfrentados pelo paciente e, enquanto faz um resumo das informações apresentadas, deve também distinguir o que pode ou não ser corrigido.
Ao traçar um plano de cuidados ou estratégia de ação, o profissional deve ir explicando suas etapas ao paciente e mantendo-se aberto a dirimir todas as dúvidas emergentes. Esta abordagem diminui a ansiedade do paciente ao apresentar-lhe um plano de cuidados além de prepará-lo para o que pode vir a acontecer.
A identificação e reforço das estratégias de enfrentamento manifestadas pelo paciente é essencial, bem como a identificação de outros mecanismos de suporte que possam ser incorporados.
Igualmente relevante é que, ao final da abordagem, o profissional aprecie os seus próprios sentimentos e assim também estará mais preparado na próxima abordagem.
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