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Universidade da Beira Interior -“A UBI contribuiu para alterar o perfil competitivo do interior do país”

Como é que descreveria o impacto que a criação desta universidade teve a nível nacional?

Ao longo dos 36 anos de atividade a UBI contribuiu para uma alteração do perfil competitivo da cidade da Covilhã e do ecossistema do interior do país. A partir da década de 80 do século passado, houve uma alteração profunda dos fatores de competitividade do setor têxtil, face ao avanço da tecnologia, agravada a partir do início do seculo XXI, com o desaparecimento das barreiras alfandegárias aos produtos têxteis provenientes dos países da Ásia. A UBI contribuiu para amortecer o desaparecimento das empresas têxteis através da criação de conhecimento e de recursos humanos altamente qualificados, que possibilitou a melhoria da competitividade das empresas sobreviventes e a atração de empresas de outros setores de atividade. Contribuiu ainda para a formação de professores dos Politécnicos da região. A nível nacional a UBI trouxe uma visão diferente ao ensino superior, com uma aposta clara num ensino mais laboratorial, de caráter humanista e de proximidade aos estudantes. A sua contribuição para a criação de conhecimento científico está patente na sua posição em vários rankings internacionais, com desempenho muito acima dos recursos que lhe são atribuídos. A UBI foi pioneira em Portugal na introdução do ensino de competências empreendedoras na maior parte dos seus currículos, atuando como um spill-over da criação de novas empresas.

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A UBI está muito ligada à inovação, tecnologia e desenvolvimento. Esta vocação está inscrita no ADN da universidade? O início do ensino superior na Covilhã tinha uma forte vocação tecnológica e inovadora, com vista ao desenvolvimento de soluções para a indústria. A UBI herdou esta vocação, apostando numa forte componente laboratorial. Ainda antes da entrada de Portugal na UE, a instituição apostou na formação avançada dos seus recursos humanos, através de um protocolo com a Universidade de Clemson, da Carolina do Sul, que trouxe professores americanos à UBI e levou vários docentes nossos a fazerem lá a sua formação. Após a entrada na UE em 1986, contratámos vários cientistas dos países de Leste que trouxeram importantes conhecimentos em várias áreas científicas, alavancando o desenvolvimento das áreas de Ciências e das Engenharias. Já nessa altura se lecionavam as aulas em língua inglesa. Isto foi fundamental para atrair bons investigadores, bons alunos e para o reconhecimento das nossas formações pelas empresas.

Quais são os principais problemas que o ensino superior enfrenta atualmente? O Ensino Superior em Portugal enfrenta vários problemas. Desde logo, a quebra demográfica da população que irá ter reflexos no número de alunos a curto prazo. Por outro lado, uma legislação de enquadramento que necessita de ser completamente revista, o ECDU e o RJIES, entre outros diplomas. Depois, a mentalidade centralista e retrógrada que existe na população, nos políticos e nos decisores, que consideram que as coisas são sempre melhores nos grandes centros urbanos do litoral. A realidade mostra que a UBI apresenta idêntica capacidade de formação nas várias áreas científicas com conteúdos curriculares atualizados e acompanhando cientificamente o “state of the art” , como se constata pelas avaliações da A3ES. Além disso, é necessária uma alteração no modo como o financiamento é distribuído pelas universidades. Se o valor global do orçamento do Ensino Superior é, em termos de percentagem do PIB, inferior a 2005, a UBI é claramente prejudicada, recebendo um financiamento por aluno muito inferior ao custo médio do aluno nacional, sendo umas das universidades com menor valor financiado por aluno. Globalmente falamos em cerca de sete milhões de euros/ano. Em cinco anos isto corresponde a 35 milhões de euros. Esta verba teria permitido alavancar muitas áreas da Universidade. A proposta do OE para 2022 atribuiu-nos pouco mais de 28 milhões de euros, mas se a fórmula fosse aplicada ao número de alunos que a UBI tem, deveriam ser cerca de 36 milhões de euros.

Nesse caso, como é que a UBI sobrevive? A nível da gestão, somos eficientes e eficazes. Temos menos recursos humanos do que as outras instituições têm, o que nos dá uma carga muito grande de trabalho. Além disso, temos 1800 alunos internacionais, que pagam o custo real, em Portugal. Isso ajuda-nos a colmatar a verba que nos falta dos alunos nacionais. Temos ainda uma grande capacidade de captar projetos europeus e fazemos parte de uma aliança de universidades europeias – a UNITA, que tem sido muito importante.

Que balanço faz deste primeiro ano de mandato e que planos estão a ser traçados para o futuro da UBI? Posso assinalar algumas fases importantes. Em primeiro lugar, a questão da pandemia e do regresso à normalidade, na sequência do teletrabalho e da desabituação das pessoas das atividades presenciais. Por outro lado, as nossas residências universitárias não estavam em condições, pelo que tivemos de encerrar duas. Vamos recuperá-las, porque esta parte social é muito importante para os alunos. Outra situação é a questão dos orçamentos, que já tinha sido conversada com o Governo anterior e que, com as novas eleições, deu um passo atrás. Também estamos a trabalhar para permitir progressões na carreira, de forma que as pessoas se sintam mais motivadas. Queremos ainda continuar a investir em projetos europeus e analisar aquilo que está bem e menos bem na nossa universidade.

“Muitas vezes, a qualidade de alguns cursos é maior no interior. Há, de facto, este problema de termos o país com uma visão muito retrógrada do que é o interior. Por outro lado, somos altamente prejudicados no nosso financiamento. A UBI não pode ser, a nível nacional, a universidade menos financiada por aluno” .

www.ubi.pt

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