Mensal Maio de 2020 nº006 Online
DS
ALMADA ATRIUM
DECISÕES COM CONFIANÇA SOLUÇÕES À MEDIDA
MINISTRO DA ECONOMIA Siza Vieira e a recuperação económica SAÚDE E BEM-ESTAR Psicologia: área-chave durante o confinamento EMPRESAS DE VALOR
Histórias de quem não parou
Hoover
Por esse motivo, fizemos questão de contar com a presença do ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, para ficar a perceber qual o caminho traçado pelo Governo com vista à recuperação económica. Por outro lado, é-nos impossível deixar de lado a questão de Saúde, particularmente latente na área da Psicologia e saúde mental, que passou por uma provação durante o período de confinamento. Fá ma Lopes Um dos temas também presentes é a Liderança Feminina e o que se espera, no futuro próximo, dos responsáveis das empresas nacionais. Será possível continuar a liderar da mesma forma, após a pandemia? Venha descobrir mais exemplos de quem nunca parou de trabalhar, mesmo através de casa, para continuar a satisfazer os clientes e garantindo sempre a qualidade do seu trabalho. Cris na Silva
A Valor Magazine leva-os até si… sem sair de casa! VALOR - aquilo que uma coisa vale; importância que se atribui ou reconhece a algo ou alguém; qualidade que desperta admiração por alguém; valia, mérito, préstimo; qualidade de quem pratica atos difíceis, extraordinários ou perigosos; valentia; coragem.
Somos Bárbara Cardoso
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Jornalista: Maria João Costa NIF: 515 541 664 Registo ERC nº 127356 ISSN: 2184-6073 Depósito Legal: 462265/19
FICHA TÉCNICA
Neste mês de maio, a Valor Magazine deu continuidade ao seu trabalho e apresenta-se, mais uma vez, na versão digital, para levar até si conteúdos atuais e mensagens importantes, sobretudo num tempo de regresso ao “novo normal”.
DESTAQUES
Editorial
IMOBILIÁRIO 05 - DS Almada - Decisões com confiança, soluções à medida 09 - Ana Morgado Proper es - A nova tendência -"preços corona"!
EMPRESAS DE VALOR
ÍNDICE
10 - Ministro da Economia - "Portugal necessitará de mobilizar esforços..." 12 - A.G.Cunha Ferreira - Há 140 anos a Proteger a Propriedade Intelectual 14 - Hoover - "A Covid-19 deu a conhecer ap dões que pensávamos não ter" 16 - Fá ma Lopes - "É necessário começar a consumir produtos portugueses" 18 - Mercearia de Portugal - "A Covid-19 fez-nos aproximar das pessoas" 20 - Tocá Rufar - Tocá Rufar: desafios de ontem e de hoje
SAÚDE E BEM-ESTAR
23 - Bárbara Cardoso - "Saúde sica e mental estão interligadas" 26 - Diana Gaspar - Aceitar, recomeçar, evoluir. 28 - Lugar Seguro - "Vemos a pessoa como um todo" 30 - Ana Cris na Silva - "Vai correr tudo pelo melhor!" 32 - Ordem dos Médicos Veterinários - O papel do Médico Veterinário na Saúde Pública
MULHERES DE VALOR
35 - Alexandra Seixas - "As mulheres são resilientes e corajosas" 38 - Patrícia de Melo e Liz - Liderar com um propósito em tempo de Covid-19
Imobiliário
DECISÕES COM CONFIANÇA A SOLUÇÕES À MEDIDA
DS é, por definição, uma marca virada para as pessoas e para a atenção ao cliente. Nesta agência, isso também se verifica?
decisoesesolucoes.com/agencias/almadaatrium
Nuno Henrique Santos é o diretor de agência da Decisões e Soluções Almada Atrium. Acabada de completar três anos, esta agência DS360 viu o dia-a-dia dos seus agentes comprometido, devido à situação de isolamento profilático que o país atravessou, mas isso não impediu a equipa de continuar a trabalhar, uma vez que o recurso ao digital era já muito utilizado. Otimista quanto ao futuro, Nuno Henrique Santos considera que no segundo semestre a economia já terá retomado alguma da sua dinâmica, mas alerta para problemas financeiros com as micro, pequenas e médias empresas.
Antes de mais, quero agradecer em nome de toda a equipa da DS Almada Atrium, a oportunidade de podermos dar a conhecer um pouco dos valores e princípios que norteiam a nossa atuação enquanto player, nos diversos setores de atividade económica em que estamos presentes.
Sem dúvida! Enquanto agência DS, o nosso propósito é o de canalizar todas as nossas energias no sentido de atender as necessidades dos nossos clientes de uma forma que os surpreenda pela positiva. Sabemos que cada cliente tem as suas necessidades específicas, e o que se adequa a um não vai de todo ao encontro das necessidades de outro. Serviço
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Imobiliário
personalizado, tailor made, ter o cliente no centro de todas as decisões estratégicas, essa é a nossa principal preocupação enquanto empresa. Que serviços disponibiliza ao cliente, para que este possa ter uma experiência tranquila de aquisição de casa?
Nuno Henrique Santos Diretor de agência
Para que possamos ter uma experiência tranquila de aquisição de casa, é necessário primeiro olhar para o aspeto financeiro do cliente, para que a escolha da casa não se baseie só no aspeto emocional. É necessário trazer o racional para a escolha, pois só desta forma poderemos prestar um bom serviço aos nossos clientes. Nesse sentido, enquanto empresa especializada nos serviços de Consultoria Imobiliária e de Intermediação Financeira, é nossa obrigação prestar um serviço 360º, olhar para os diversos aspetos da vida dos nossos clientes e apresentar uma solução desenhada à medida de cada um. Isso significa que o cliente beneficia de um consultor durante todas as fases diferentes de aquisição de casa, nomeadamente financiamento, seguros e aquisição do imóvel? Exatamente! A DS Almada Atrium é uma agência 360º, que disponibiliza aos seus clientes um profissional especializado em cada uma das fases do processo de aquisição. Nem poderia ser de outra forma, pois para se poder apresentar um serviço de excelência, que crie valor acrescentado para os nossos clientes, temos de ter profissionais altamente treinados e conhecedores nas respetivas áreas em que atuamos. Como avaliam o mercado imobiliário da região em que estão inseridos? A DS Almada Atrium está inserida num mercado bastante heterogéneo. Na nossa área de influência, temos o segmento de luxo, como é o caso da Herdade da Aroeira, depois o segmento de zona turística, como é a zona Costa de Caparica, S. João da Caparica, Trafaria, e também Almada, Laranjeiro, Feijó, zonas de forte foco residencial. É difícil definir um mercado-tipo, mas é um mercado com enorme potencial, ganhando especial interesse por estarmos inseridos na Zona Metropolitana de Lisboa.
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Imobiliário
concerne ao produto Crédito Habitação, o que nos permite uma margem de negociação das condições do financiamento muito interessante, e mais, até os prémios pagos para a fixação de taxa no financiamento a 30 anos estão a níveis incrivelmente baixos, dando uma previsibilidade e segurança aos clientes r e l a t i vam e n te a o s e u p l an e am e n to financeiro muito maior.
Parece-lhe que este desequilíbrio entre a oferta e a procura irá prevalecer muito mais tempo? Que consequência poderá acarretar? Creio que não, até porque esta situação da Covid-19 veio acelerar esse processo de atingirmos o equilíbrio de forças pelo lado da procura de uma forma mais rápida, havendo na minha perspetiva uma pequena retração momentânea nas intenções de compra. Na minha opinião, essa retração não trará grande quebra nos preços dos imóveis, pelo simples facto de que grande parte da oferta ou tem os imóveis livre de ónus, ou financiouse em grande medida a custos muito baixos, não sentindo necessidade de se desfazer dos imóveis a qualquer preço. Penso que, após restaurada a confiança, o mercado seguirá a tendência e a dinâmica que vínhamos assistindo.
cada caso é um caso, e temos de olhar para cada processo de uma forma isolada. No entanto, de uma forma genérica e partindo da premissa de que as condições financeiras do cliente estão reunidas, pareceme, sem sombra de dúvida, que estamos num excelente momento para avançar para a q u i s i ç ã o, p o i s c o n t i n u a m o s n u m a conjuntura muito favorável ao nível de taxas de juro, existe liquidez no setor bancário, os bancos estão em “ guerra” acesa entre si, para aumentar a sua quota de mercado no que
Que desafios existem para os mediadores atualmente, dado o súbito crescimento de agências de mediação e mediadores imobiliários, de há uns anos a esta parte? Acredito que o próprio mercado tem a capacidade de purgar e de fazer uma seleção natural das empresas de mediação que estão no mercado para ficar e as que abrem de uma forma circunstancial, pelo simples facto do setor do imobiliário estar, até então, a viver um bom momento. Isso não invalida que tenha obrigatoriamente de haver uma evolução na regulação do setor. Sou a favor de que devem ser verificados requisitos obrigatórios para acesso à profissão de Consultor Imobiliário, exames de aptidão profissional, cursos de reciclagem periódica,
Quais os conselhos-chave que dá a quem quer comprar ou arrendar casa, atualmente? Existe uma “opção mais aconselhável” ou tudo é avaliado caso a caso? No seguimento do que eu disse há pouco,
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Imobiliário
registo na entidade que tutela a atividade imobiliária de todos os intervenientes nos processos de mediação imobiliária, da mesma forma como já acontece na mediação de seguros e na intermediação financeira. Como classifica o mercado imobiliário nacional, no que respeita aos preços, à relação entre a oferta e a procura e a capacidade económica dos portugueses versus a redefinição das regras de concessão de crédito habitação? Em primeiro lugar, temos de diferenciar mercado residencial de mercado empresarial, pois apesar de os números serem bastante positivos e animadores, à data, em ambos os segmentos, são realidades totalmente distintas que têm de ser analisadas de perspetivas diferentes. No segmento residencial, que é sem dúvida onde as nossas operações têm maior volume, vejo que a relação de forças tende a equilibrar-se. É verdade que a dinâmica de preços tem aumentado nos últimos anos de uma forma consistente, no entanto, para a análise ser rigorosa e podermos afirmar que o preço das casas está sobrevalorizado, é necessário perceber o contexto. Existiu um movimento de correção em baixa nos preços das casas após a crise do subprime, o que é perfeitamente entendível, e estamos a assistir, nestes últimos anos, ao ajuste do preço dos imóveis para níveis pré-crise. Não me parece, de todo, que tenhamos neste momento o mercado sobreaquecido. Na minha opinião, a redefinição das regras da concessão de crédito habitação por parte do regulador era um mal necessário. É importante aprender com os erros do passado e não voltar a cometê-los. No entanto, é necessário que exista a sensibilidade por parte do regulador de não cair em excessos de zelo, pois estamos a mexer com um dos setores económicos com maior impacto no país, e qualquer medida exacerbada ou descontextualizada trará resultados bastante negativos à nossa economia.
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A Covid-19 veio causar algum desconforto ao setor imobiliário? O que sentiram e como lidaram com isso? Sim, é um facto, não só no setor imobiliário, como praticamente em todos os quadrantes da nossa sociedade. Sentimos que era um problema que tinha vindo para ficar bastante tempo entre nós, que não se resolveria no espaço de um ou dois meses. Felizmente, enquanto empresa, sempre olhámos para o negócio digital com muita naturalidade, faz parte do nosso dia-a-dia, todos os processos, desde a captação de clientes até ao processo de comunicação dos nossos serviços, tratamento documental, contacto com os nossos parceiros estratégicos, etc… Já tínhamos todos os processos implementados, por isso sinceramente este surto pandémico não nos criou, enquanto organização, grande entropia.
Como antecipa o futuro? Olho, logicamente, com alguma preocupação para todos estes eventos, como não poderia deixar de ser, mas sou otimista e antecipo um futuro positivo. Acredito que vamos ter uma retoma da atividade normalizada, dentro do possível, no segundo semestre do ano, partindo do pressuposto de que todos os agentes económicos colaboram e, acima de tudo, o nosso Governo passe confiança para o mercado, pois a alavanca de todo o processo de normalização da economia é a confiança. Essa confiança não se ganha com palavras, transmite-se com medidas concretas de apoio às famílias, empresas, e não podem acontecer situações como as que estamos a assistir, relativamente às linhas de apoio à Covid-19, por parte das instituições financeiras, não chegando esse dinheiro às micro, pequenas e médias empresas que estão realmente em dificuldades.
Imobiliário
... IA C N Ê D N E T A V O N A
“PREÇOS CORONA”!
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polémica da descida dos preços dos imóveis está instalada. Há várias opiniões ... uns acham que os preços vão descer, outros acham que tudo se vai manter, eu acho que é tudo uma questão de ponto de vista. No geral, todas as empresas sentiram o travão. O que é certo é que, nesta última semana, me apercebi que, dia após dia, o interesse dos clientes começava a despertar. Os primeiros a surgir foram obviamente aqueles que neste momento procuram grandes oportunidades. As propostas de compra apresentadas são para valores completamente desadequados, feitas a frio, sem sequer conhecerem os imóveis. Nada importa, é tudo uma questão de preço. A não ser em situações limite, que deverão estar devidamente identificadas, ainda é cedo para esse tipo de abordagem. No entanto, há imóveis que dificilmente poderão manter valores tão elevados. Quantos
Ana Morgado CEO e Executive Manager
negócios não avançaram no último ano por questões de incompatibilidade de acordo no preço? Provavelmente não ficará surpreendido se eu lhe disser que ainda hoje esses imóveis estão para venda, uma vez que o proprietário acreditava que iria com certeza surgir alguém que lhe iria oferecer um valor um bocadinho mais alto. Não aconteceu! A nova tendência são os imóveis a “Preço Corona”. Estamos a falar de imóveis que sofreram um ajuste em baixa, o que os torna mais atrativos para aqueles clientes que têm mesmo interesse em comprar e precisam de o fazer nesta altura por, por exemplo, terem já as condições de crédito aprovadas e poderem vir a perder algum benefício, caso o negócio não se concretize. Não se esqueça que continua a haver oportunidades e clientes interessados em comprar. Se está a vender ou a pensar vender a sua casa, tenha em atenção que esta poderá
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ser a sua oportunidade de concretizar um valor mais interessante. Não sabemos ao certo o que vai acontecer, mas a expectativa da descida de preços existe e o próprio mercado vai forçar essa tendência. Não se esqueça ainda que os estrangeiros estão fora e, embora alguns mantenham o interesse em comprar, também já perceberam que o poderão fazer por valores um pouco mais baixos. Mesmo antes de tudo isto acontecer, o fecho de um negócio implicava muitas vezes uma autêntica maratona, com um processo muitas vezes moroso e complicado, que obrigava a descidas de preço consideráveis. Não tenhamos ilusões! Agora a OPORTUNIDADE é principalmente para si, que está a vender a sua casa. Avalie o custo de oportunidade e pense bem antes de recusar uma proposta, pois poderá não voltar a ter outra para esses valores e aí sim, vai ficar a perder.
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Empresas de Valor
“PORTUGAL NECESSITARÁ DE MOBILIZAR ESFORÇOS PARA PREPARAR A RECUPERAÇÃO” Pedro Siza Vieira Ministro de Estado, da Economia e da Transição Digital 10
Empresas de Valor
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restrições, que possibilitará o início da retoma social e económica. A imagem desportiva que surge é a de que nos encontramos a meio de uma maratona, mesmo que a fase inicial tenha sido particularmente brusca e intensa.
É neste quadro que se inserem a sociedade e a economia portuguesas.
Os princípios que nortearam a resposta económica pública em Portugal prendem-se com a manutenção da capacidade produtiva instalada, garantia do acesso contínuo a liquidez pelas empresas e a preservação do emprego. No entanto, a fase que se avizinha requer a tomada de medidas de cariz específico para cada setor da sociedade e da atividade económica, pelo que se reforça a importância de auscultar e analisar as especificidades das respostas de cada ponto em Portugal.
normalidade que o globo conhecia ao final de 2019 foi interrompida pela pandemia do vírus COVID-19. Numa pr i m e i ra fa s e, a c om un i d a d e c i e n t í fi c a e m é d i c a consensualizou a importância de medidas restritivas, desde a contenção na sociabilidade, até aos cuidados redobrados de sanitização. Foram tomadas medidas em diversos países, que alteram temporariamente o funcionamento e a organização da economia mundial. A Europa não é exceção, particularmente numa altura em que a Organização Mundial de Saúde reconheceu que o continente europeu é o atual epicentro da pandemia.
A reação à disrupção requer unidade, empenho e o sentimento de pertença à sociedade. Verifica-se a importância da capacidade da mobilização social para responder em conjunto a um desafio comum a todos. O exemplo português procura aprender com a mobilização dos esforços de diversos quadrantes da sociedade: empresários e trabalhadores, entidades privadas e públicas de todos os setores, sem exceção; entidades governativas locais, regionais e centrais. Portugal necessitará de mobilizar os melhores esforços havidos na primeira fase desta crise para preparar a recuperação económica e social. A pandemia trouxe às economias europeias um choque de procura e de oferta que não tem precedente nas últimas décadas. Enquanto se dissipa a incerteza entre cenários macroeconómicos, verifica-se que a rutura principal terá epicentro no segundo trimestre de 2020, com repercussões persistentes nos anos que se seguem. Em paralelo, a saúde pública é a prioridade que não se pode perder de vista, tanto no que diz respeito à ocorrência de novos surtos, como na fase de levantamento das
Se a pandemia tornou bastante visível a integração dos portugueses na sociedade de que fazem parte, importa agora apresentar um caminho sólido e partilhado de recuperação social e económica. Este caminho terá de ser interativo, com a capacidade de se reavaliar e reformar, tendo em conta a evolução da propagação da infeção e as respetivas consequências de saúde pública. Sem perder de vista esta prioridade, cabe a todos os agentes económicos portugueses ter a capacidade para, com segurança e criatividade, combinar práticas de higiene e de saúde públicas com as atividades económicas presentes no dia-a-dia dos portugueses; da ida ao supermercado ao trabalho no chão de fábrica; da ida a um cabeleireiro até aos serviços turísticos. Porque a maratona ainda vai a meio, importa dar os pequenos e decisivos passos para que famílias e empresas portuguesas vislumbrem a meta em conjunto, seja em Bragança, Funchal, Vila Nova de Gaia, Aveiro, Ponta Delgada, Beja ou Faro.
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Empresas de Valor
HÁ 140 ANOS A PROTEGER A PROPRIEDADE INTELECTUAL Manuel da Cunha Ferreira é a quinta geração da família Cunha Ferreira a trabalhar enquanto Agente Oficial de Propriedade Intelectual (AOPI). O A.G. da Cunha Ferreira nasceu no século XIX e, desde então, o compromisso para com os clientes sempre guiou esta empresa que protege a Propriedade Intelectual. Atravessou duas Grandes Guerras e, agora, uma pandemia, mas o serviço nunca parou e os clientes continuam a ver os seus pedidos respondidos. A adaptação é requisito obrigatório de uma empresa com 140 anos e Manuel da Cunha Ferreira explica como.
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que pode ser considerado “propriedade intelectual” e qual a importância de a proteger?
A Propriedade Intelectual pode ser definida como o conjunto de direitos provenientes de criações humanas e divide-se em dois grandes ramos: o primeiro, dos “Direitos de Autor e Direitos Conexos” e o segundo dos “Direitos de Propriedade Industrial”, relativos a marcas, patentes, desenhos ou modelos, entre outros. Ainda que não seja obrigatório o registo destes direitos, é extremamente aconselhável que seja realizado. Só assim terão ao seu dispor todos os expedientes legais disponíveis na prossecução e proteção dos seus direitos. Com efeito, e dando como exemplo os Direitos de Propriedade Industrial, o registo permitirá aos titulares desse exclusivo protegerem-se contra uma utilização não autorizada das suas patentes, marcas e desenhos ou modelos, e ainda, de assegurarem que não existem criações idênticas ou semelhantes às suas. Assim, é nosso objetivo sensibilizar o mercado para a
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importância deste tipo de direitos enquanto ativo fundamental de uma empresa e, como tal, na necessidade do seu registo. Mais, tentamos salientar que o registo dos seus direitos é apenas o primeiro passo a tomar na defesa dos mesmos, uma vez que esta defesa deve ser constante e permanente. Esta empresa atravessou duas guerras mundiais e nunca os seus colaboradores deixaram de cumprir as suas funções. Neste momento que atravessamos, quais as adaptações que foram feitas para garantir aos clientes o serviço de sempre? Em primeiro lugar, fomos capazes de fazer uma transição muito rápida e eficaz para o regime de teletrabalho, garantindo que todos os colaboradores dispunham das mesmas ferramentas que tinham aquando do cumprimento das suas funções na sede da empresa. Fomos também capazes de garantir a manutenção de todos os colaboradores, todos eles com papéis essenciais para o bom funcionamento da nossa empresa.
Empresas de Valor
Mais, tornámos possível o contacto a qualquer hora, quer telefónico quer via email, entre os nossos clientes e os nossos Agentes Oficiais da Propriedade Industrial, o que acabou por tornar a nossa relação ainda mais próxima. Como conseguiram continuar a servir os clientes, mesmo nas duas guerras mundiais que o mundo atravessou? Comparando com a atual “guerra” que atravessamos, nesses contextos acrescia uma dificuldade, a grande limitação dos meios de comunicação. Assim, por exemplo, na Segunda Guerra Mundial o A. G. da Cunha Ferreira decidiu garantir a manutenção de todos os direitos dos clientes, mesmo não tendo instruções dos próprios. À posteriori, se possível, obtíanhamos as devidas instruções e se o cliente não desejasse manter o seu direito, os custos eram assumidos pelo A.G. da Cunha Ferreira. O nosso grande objetivo foi sempre, e ainda se mantém, o de nunca colocar em risco os direitos dos nossos clientes, ainda que tal se traduzisse em prejuízo para a empresa. Todos os vossos colaboradores estão em teletrabalho? Sim, de momento todos os nossos colaboradores estão em regime de teletrabalho. Com os meios e ferramentas que existem atualmente, a transição correu sem problemas de maior. Foi um desafio diferente, mas soubemo-nos adaptar com relativa facilidade, até como tem sido hábito na longa história da nossa empresa.
Manuel da Cunha Ferreira Partner e AOPI
Que balanço faz deste período de trabalho? Tendo em conta as dificuldades inerentes ao período em que vivemos, tenho de fazer um balanço positivo. Foi uma situação diferente, com particularidades muito próprias, que acabou por nos permitir retirar ilações muito interessantes sobre o método de atuação que tínhamos. Serviu também para confirmar o que já sabíamos, que contamos com uma excelente equipa, cheia de colaboradores muito profissionais e dedicados, quer à empresa, quer aos seus clientes. Que diferença se sentiu no mercado? Na sua generalidade, todos os negócios se
ressentiram com o surgimento desta pandemia e o nosso não foi exceção. Para se ter uma noção, em março de 2020 registaram-se, aproximadamente, menos 25% de pedidos de registo de marca junto do Instituto Nacional da Propriedade Industrial do que no mês anterior. Como seria de esperar, as prioridades das pessoas e empresas estavam focadas noutros temas, mas agora, estando a vida das empresas e trabalhadores cada vez mais integrada neste “novo normal”, o mercado vai começando a reagir positivamente. Enquanto bisneto do fundador da empresa e a 5ª geração de AOPI, como é que isso o faz sentir? Em primeiro lugar, faz-me sentir orgulhoso. Não existirão, com certeza, muitas empresas que se possam orgulhar de ter uma história tão rica e longa como o A.G. da Cunha Ferreira, com muitos colaboradores a fazerem todo o seu percurso profissional sempre na mesma empresa, e mais, que possam ter várias gerações da mesma família a dar continuidade ao esforço e trabalho dedicado na vida desta empresa. Como se desenha o futuro do A.G. Cunha Ferreira? Numa era de globalização, onde o poder da Propriedade Intelectual, sejam marcas, patentes ou outro, se torna cada vez mais forte para o sucesso do negócio, a proteção da mesma é essencial. Isto aplica-se tanto a pequenas, como médias ou grandes empresas. A nossa expectativa é que a procura pela proteção da Propriedade Intelectual se intensifique e, por isso, a missão do A.G. da Cunha Ferreira é garantir que continuamos a responder às necessidades dos nossos clientes com a excelência e dedicação que os acostumámos. Temos, para isso, alicerces fortes, sustentados em 140 anos de knowhow que nos permitiu desenvolver um conjunto de profissionais altamente especializados, orientados pela integridade, rigor e compromisso na prossecução dos seus deveres.
agcunhaferreira.pt
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Empresas de Valor
“A COVID-19 DEU A CONHECER APTIDÕES QUE PENSÁVAMOS NÃO TER”
João Paulo Ferreira é o country manager da Hoover em Portugal e, em entrevista à Valor Magazine, falou sobre o período que o mercado nacional atravessa, dos desafios colocados às empresas e colaboradores e do comportamento dos consumidores. O futuro e as medidas a tomar para relançar a economia foram temas em destaque.
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omeço por lhe dar os parabéns pelas distinções Marca de Confiança e RedDot 2020 que foram atribuídas à Hoover. Qual a importância destas distinções na relação da Hoover com os seus clientes? Muito obrigado, aproveito para agradecer também aos consumidores que votaram em nós pelo quinto ano consecutivo, elegendo a Hoover como marca de confiança em 2020 na categoria de aspiradores. Estes prémios trazem muita responsabilidade, mas também uma grande satisfação. Quanto ao RedDot, trata-se de um prémio de design que nos deixa muito orgulhosos de poder fazer produtos que os consumidores consideram atraentes. Quais foram as adaptações que a Hoover levou a cabo para enfrentar a Covid-19? Toda a empresa foi colocada em teletrabalho desde o dia 14 de março. Felizmente, todos os colaboradores estavam já dotados de tecnologia suficiente para trabalharem de qualquer ponto remoto e é assim que temos trabalhado até hoje. Estamos em contacto diário com todos os clientes, tentando manter o mais possível a normalidade, com a devida distância.
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João Paulo Ferreira Country Manager Portugal
Empresas de Valor
Que impacto teve a Covid-19 na empresa? Esta pandemia tem tido impacto em todos os setores e o nosso não é exceção. O mercado de grandes e pequenos eletrodomésticos tinha, no nosso país, uma predominância nas lojas físicas, talvez por uma questão cultural. As vendas por internet eram apenas cerca de 6% do total, mas em três semanas houve um crescimento exponencial do canal online. Todo o mercado teve de se ajustar rapidamente a este modelo de compra. Acredito que o online crescerá bastante a partir de agora e, se as experiências de compra forem boas para os consumidores, terá uma continuidade crescente. Houve, por isso, uma grande transformação nos canais de venda. Esta alteração obrigou todos os players a terem um maior foco em todo o meio digital, de forma a chegar nesta altura ao maior número de consumidores, garantindo que as experiências de compra são as melhores possíveis. Os clientes continuam a procurar este tipo de produtos e equipamentos? Hoje, máquinas de lavar roupa, a louça, entre outros produtos, fazem parte do quotidiano de todas as pessoas. Na nossa área houve, nos primeiros dias, uma corrida a produtos de armazenamento de alimentos, como arcas e frigoríficos. Obviamente que há categorias de produtos com muito mais procura do que outros, tais como produtos de limpeza de pavimentos. Como está a Hoover a marcar presença no mercado, dadas as circunstâncias atuais de confinamento? Tentando estar mais ativos nos meios digitais e redes sociais, de forma a continuarmos perto dos nossos consumidores, quer seja com campanhas ou outras atividades que tentamos adaptar ao meio digital. Melhorando dia a dia todos os conteúdos disponíveis na web, para ajudar a uma melhor opção de compra. Quais são os últimos avanços da marca, e em que setores? A nossa aposta é contínua na área de aspiração, apresentando novos produtos que vão ao encontro das necessidades dos consumidores. Vamos lançar brevemente uma linha de purificadores de ar e produtos de limpeza a vapor, para preencher a nossa gama de pequenos domésticos. Nos grandes domésticos, temos toda uma gama renovada
e produtos de encastre para equipar as cozinhas, aliando um belo design à tecnologia de ponta. Lançaremos, em junho, uma gama de máquinas de lavar roupa Hoover, super inovadoras com design profissional - as H-Wash 500. Quais lhe parecem ser os grandes desafios do pós-Covid-19? Os tempos atuais obrigaram-nos a todos a repensar estratégias que nos pareciam certas e inabaláveis. Felizmente o confinamento deu a conhecer uma parte mais humana das empresas que, como nós, não baixaram os braços e tentaram manter postos de trabalho, sem recorrer a apoios. Contamos obviamente com a solidariedade de todos os funcionários em manterem-se ativos, mesmo que remotamente, e com os constrangimentos causados pelo afastamento social. Acredito que o mundo nunca mais será o mesmo e muitas das barreiras criadas pela pandemia vão acompanhar-nos durante algum tempo ou talvez para sempre. O maior desafio para retomar e relançar a economia, mais uma vez, ficará a encargo da iniciativa privada, porque a forma que o Estado encontrou para apoiar é criar mais impostos, que muitas vezes asfixiam e muito as pequenas e médias empresas e afastam os grandes investimentos de multinacionais no nosso país. O turismo, por exemplo, que tem um peso importante no PIB do país, tem de ser apoiado de forma inequívoca e a médio e longo prazo, para se tentar segurar os postos de trabalho e continuarmos a atrair turistas de todo o mundo, porque continuamos a ser um povo que sabe bem receber, onde há segurança, boa comida e boa gente. O nosso país até agora tem estado longe dos números negros dos nossos vizinhos, e isso pode ajudar, mas as trocas comerciais entre nós necessitam de reatar urgentemente, para dinamizar algumas áreas. Talvez uma parte importante das empresas em Portugal, que já não tinham antes uma boa saúde financeira, tenham imensas dificuldades se a Banca não apoiar fora dos ratings habituais, permitindo um endividamento extra, com prazos de pagamento mais alargados. Caso contrário, haverá um número crescente de insolvências e respetivo aumento do desemprego. Sou um otimista e acredito que haverá vida no pós-Covid-19 e, mesmo que socialmente esta fique marcada por alguma desconfiança e mudança de postura, deu também a conhecer muitas aptidões que pensávamos não ter. Mas este será sempre um infeliz acontecimento, que marcará para sempre todos os que passaram por ele, quer direta quer indiretamente. hoover.pt
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“É NECESSÁRIO COMEÇAR A CONSUMIR PRODUTOS PORTUGUESES” Fátima Lopes é uma marca de moda mundialmente conhecida e apreciada, que herdou o nome da sua fundadora – a madeirense Fátima Lopes abriu a sua primeira loja em Lisboa, em 1992, e rapidamente viu o talento reconhecido. Três anos mais tarde, marca presença no Portugal Fashion e, em 1999, desfila pela primeira vez na Semana da Moda de Paris. Com uma marca de jóias, calçado e eyewear, bem como uma agência de modelos própria – a Face Models – o maior reconhecimento chegaria em 2006, quando lhe foi atribuído o grau de Comendadora da Ordem do Infante Dom Henrique. Fátima Lopes falou sobre a marca, as dificuldades que todo o mercado sente e o que tem aproveitado para fazer durante este tempo de confinamento.
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omo é que a marca foi atingida?
A marca Fátima Lopes foi atingida como todas as marcas de moda. A indústria e o comércio tradicional estão parados à espera da retoma. Eu sou uma pessoa otimista e acredito que haverá melhores dias, desistir não é opção mas ninguém tem soluções milagrosas neste momento. O confinamento é uma boa altura para avaliações de percurso e eventuais planos para o pós-crise? Eu estou em confinamento há mais de um mês, mas aproveitei para fazer muitas coisas que normalmente não tenho tempo. Com calma e sensatez, estou a preparar a coleção comercial para o próximo Inverno 2020/21 e já a pensar no Verão 2021. Esta paragem pode ser vista como uma oportunidade, nomeadamente no que respeita ao reshape e rethinking das marcas e do mercado? Acredito que é obrigatório repensar e reinventar formas de trabalhar. Nada será igual e temos de ter essa consciência. O online, obviamente, é o presente e o futuro e tem de ser uma aposta prioritária.
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Fátima Lopes Criadora de Moda
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Da sua experiência enquanto líder e empreendedora, como avalia o estado do setor da moda / têxtil no país? Acho que o nosso país tem falta de visão e noção das mais-valias que representam as marcas. A maior parte da nossa indústria está vocacionada para a confeção a feitio das marcas estrangeiras, desperdiçando totalmente os talentos dos criadores portugueses e as interessantes sinergias que poderiam e deveriam coexistir entre indústria e criadores. Que medidas lhe parecem necessárias para voltar a ativar a economia e o consumo, sobretudo no que respeita à Alta Costura? Acho que a solução passa por um grande sentido de patriotismo e começar a consumir produtos portugueses. No que respeita às coleções a apresentar este ano, sofreram alguma consequência devido à chegada da Covid-19?
Tive a sorte de conseguir apresentar a coleção Outono/Inverno 2020/21 na Paris Fashion Week, no dia 29 de fevereiro, e logo a seguir parou tudo. O desfile em Lisboa, que teria sido apresentado no início de abril, não aconteceu e não sei quando acontecerá... Que mensagem gostaria de deixar àqueles empresários que estão a atravessar um momento difícil devido à paragem laboral? Estamos todos no mesmo barco, em primeiro
lugar, temos de sobreviver com inteligência e sensatez. Baixar os braços não é opção, mas cada um sabe de si e tem de agir de acordo com o que achar melhor. Acho que é altura para nos reinventarmos, mas também agirmos de acordo com as nossas realidades. Ninguém tem a solução ou consegue prever o futuro, quero ser otimista, mas é fundamental sermos muito realistas, porque ser empresário normalmente significa assumir riscos pessoais para a vida. fatimalopes.com
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«A COVID-19
FEZ-NOS APROXIMAR
DAS PESSOAS» A Mercearia de Portugal nasceu em plena crise económica, quando muitos jovens portugueses estavam a emigrar, para procurar melhores condições de vida. Inicialmente, o objetivo era fazer chegar produtos tradicionais portugueses aos emigrantes, um pouco por toda a Europa, mas com o negócio a crescer, o próximo passo é começar a enviar para outros mercados. A Covid-19 veio ajudar a Mercearia de Portugal a crescer e Filipe Perdigão, administrador da empresa, quer continuar a fornecer qualidade e tradição aos seus clientes.
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omo surgiu a Mercearia de Portugal?
A criação da Mercearia de Portugal surge na altura de crise e no “boom” da emigração de jovens portugueses. Na altura, enviávamos produtos a familiares residentes no Reino Unido e os elevados custos de transporte e as várias dificuldades que se impunham fizeram surgir a ideia da criação da Mercearia de Portugal, com o intuito de facilitar a compra e envio de produtos portugueses para toda a Europa. Que produtos têm disponíveis? A ideia inicial é de comercializar apenas produtos portugueses e tradicionais. Posteriormente, e dada a possibilidade de fazer crescer a nossa oferta, e mediante alguns pedidos de clientes, foram sendo adicionados alguns produtos estrangeiros, ainda que tenhamos como princípio o conceito “compre o que é nosso”. 18
Como selecionam os artigos que disponibilizam? Não existe um processo de seleção obrigatório, por assim dizer. Os produtos disponibilizados no nosso site provêm de uma primeira seleção feita por nós, de pedidos dos nossos clientes, que nos dão ideias e mostram as suas necessidades, e também de propostas de fornecedores e de pequenos produtores, que tentamos sempre ajudar e dar a conhecer. No q u e r e s p e i t a a o e m b a l a m e n t o e acondicionamento dos produtos, como garantem que este é feito de forma segura e correta? Os produtos são praticamente todos embalados e acondicionados pela nossa equipa. No caso dos artigos mais frágeis, como gar rafa s d e v i n h o, s ã o d e v i d am e n te protegidas individualmente, com material próprio. Produtos como queijos ou enchidos são também embalados a vácuo, de modo a
garantir a sua máxima qualidade aquando da entrega ao cliente. Que garantias é possível dar ao consumidor de que todos os produtos são tradicionais portugueses e que a qualidade não se deteriora, por exemplo, durante o transporte até ao cliente? Fazemos todos os possíveis para garantir a máxima qualidade dos produtos na altura da entrega ao cliente, porém, e apesar de 99,9% dos envios chegarem em perfeitas condições ao cliente, falamos de envios de milhares de quilómetros, pelo que não estamos livres de algum dano ou imprevisto. Nestas raras situações, garantimos sempre o reenvio ou devolução aos nossos clientes. Para onde enviam? Neste momento enviamos para toda a União Europeia, mas o nosso objetivo é expandir a Mercearia de Portugal para outros mercados.
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Com as dificuldades trazidas pela pandemia da Covid-19, como está a Mercearia de Portugal a adaptar-se a esta nova realidade? Esta pandemia trouxe para a Mercearia de Portugal um inesperado “boom” de trabalho e encomendas, novos clientes e mais visibilidade. Tivemos de aumentar a nossa equipa e foi, desde logo, decidido que os preços não seriam inflacionados. Foi também bom sentir que ajudámos, e ajudamos, muitas pessoas que nos ligam porque estão fora e têm familiares idosos que não podem sair de casa ou porque nos supermercados mais próximos não há bens essenciais, como massa ou arroz. Temos tido uma maior aproximação à realidade do que anteriormente, e é uma realidade muitas vezes chocante, à qual não estamos habituados. Sentiram um aumento dos vossos consumidores, dado que grande parte dos países europeus impôs medidas de confinamento obrigatório? Sim, temos nesta altura cerca de 10 vezes mais trabalho do que no período homólogo. Devido a esta situação, as compras online tornaram-se a opção preferida, incluindo a de produtos alimentares, e a Mercearia de Portugal foi a opção de muita gente, tanto em Portugal como no estrangeiro.
Como vê o presente e o futuro deste projeto? A Mercearia de Portugal é um projeto que já conta com seis anos de existência e tem apresentado um crescimento notável. Começou precisamente como um negócio de garagem, com pouco material e apenas um trabalhador. O nosso público-alvo era apenas o emigrante português, enquanto consumidor final. Hoje, trabalhamos com muitas lojas e restaurantes portugueses, e não só, espalhados um pouco por toda a Europa. É também verdade que Portugal está na moda e é bem visto pelos seus turistas e visitantes, não só pelo Sol e pelas praias, mas também pela qualidade dos seus produtos. Como tal, temos tido uma crescente procura de clientes estrangeiros que visitam o nosso país, provam os nossos produtos e procuram obtê-los nos seus países de residência. Falamos principalmente dos países nórdicos e que procuram, na sua maioria, os nossos vinhos e licores.
merceariadeportugal.com
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TOCÁ RUFAR: DESAFIOS DE ONTEM E DE HOJE
Arte Património Inclusão Social
A rufar desde 1996
Organização das Nações Unidas para a Educação a Ciência e a Cultura
Membro da Rede de Associações e Clubes para a UNESCO
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omeçamos por enumerar as diversas atividades da nossa associação de modo a podermos, de forma distinta, encontrar modelos claros de reorganização, adaptando cada área às novas necessidades e, assim, a novas formas de oferta. O último ensaio da Orquestra Tocá Rufar realizou-se no passado dia 7 de março. Fomos apanhados de surpresa e não tivemos mais oportunidade de estar com os 50 elementos da orquestra na nossa prática semanal, coração deste projeto, assim como com os nossos 750 alunos, em 30 turmas do 1º ciclo. E em que medida está o Tocá Rufar habilitado a dar continuidade, evoluir e fazer os seus alunos e tocadores progredirem num contexto como o atual? Um projeto musical, uma orquestra, aulas nas escolas, que vivem de uma dinâmica em que a proximidade predomina –física e espiritual– pode sobreviver nestas circunstâncias? Retrocede, desanima, cede à pressão e abandona os seus integrantes e abandona-se a si próprio? A resposta é clara e sem hesitação, mas falta saber, ou melhor, descobrir e aprender como.
Quisemos evitar uma precipitação em medidas avulsas e inconsistentes, na expectativa de que o problema passasse rapidamente e aguardámos que tudo voltasse ao normal. Procurando manter as melhores práticas de inclusão e acessibilidade, passámos as primeiras semanas a avaliar as capacidades e valências de que dispomos e como, dentro dos limites impostos e necessários, conseguir contrabalançar com a produção de serviço, de conteúdos, de obra. Optámos por elaborar um plano de trabalho ajustado, com objetivos formativos e didáticos ao nosso alcance, realizáveis e pertinentes, tendo em conta o público-alvo desta associação, a ver, os tocadores da orquestra Tocá Rufar e todos os integrantes do projeto, os professores, nossos formandos, que aplicam ou estão em vias de aplicar o nosso método nas suas turmas ou em projetos socioculturais locais, as orquestras de percussão contemporâneas, os grupos de bombos e os amantes desta prática, que não integram qualquer grupo, mas que se apoiam nos conteúdos de que vão dispondo nos nossos manuais e/ou nas publicações e edições em diversos suportes. tocarufar.com
Rui Júnior Fundador e Diretor-geral Foto por: Fernando Branquinho
Empresas de Valor Alguns canais digitais que podem ser úteis em época de confinamento social: ORQUESTRA TOCÁ RUFAR https://www.tocarufar.online Aqui publicamos as aulas online à medida que vão sendo produzidas e editadas, do nível mais básico ao mais avançado, segundo o método Tocá Rufar. Pretendemos manter um ritmo de dois episódios semanais até final de setembro, perfazendo um total de 56 episódios. B O M B O - PA T R I M Ó N I O D E PORTUGAL https://www.bombo.website Na sequência e como resultado do projeto de investigação em curso, desde 2014, com vista à inscrição da “Construção e Práticas Coletivas Tradicionais dos Bombos em Portugal” na lista representativa do Património Imaterial da Humanidade (entretanto submetida), o Tocá Rufar criou um local de partilha para tocadores, construtores, formadores e público em geral e onde, para além de todos os textos, imagens e vídeos submetidos na candidatura, se pode descarregar o Dossier de Candidatura completo em formato PDF. TOCÁ RUFAR NAS ESCOLAS https://www.tocarufarescolas.pt Ainda antes de ser um método experimentado e sólido, o ensino da percussão tradicional portuguesa, idealizado pelos fundadores do Tocá Rufar, em 1996, regia-se por um conjunto de princípios e vontades que permanecem atuais no projeto. Este local, dedicado à formação nas escolas do 1º ciclo do ensino básico, é uma nova ferramenta de apoio aos alunos de percussão Tocá Rufar e seus encarregados de educação, assim como à Formação de Formadores, na área da percussão tradicional portuguesa. Realizam-se, anualmente, ações de formação creditada para os grupos 250 e 610 “Projeto Artístico: O Bombo - O potencial dos instrumentos de percussão
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tradicionais portugueses no ensino da música”, numa parceria APEM/CFAPEM e Tocá Rufar. Tem como formador o percussionista Rui Júnior, fundador do projeto Tocá Rufar e Flávio Santos, monitor do mesmo projeto. Com lotação esgotada em 2019, esta foi a primeira de um ciclo de quatro anos de formação contínua de p r of e s s o r e s p a r a a c r i a ç ã o e acompanhamento de projetos de percussão nas escolas. TEAMBUILDING TOCÁ RUFAR https://www.teambuildingtocarufar.pt Vocacionado para a formação ao serviço das associações, empresas e corporações, através da prática instrumental das percussões tradicionais portuguesas, o Tocá Rufar criou uma plataforma específica para que o cliente aceda, de forma simples, intuitiva e eficazmente célere, às informações necessárias para a sua decisão e contratação. Este website dispõe de um chat online (auxílio imediato online a um visitante por um operador), disponível durante as horas habituais de expediente. LOJA TOCÁ RUFAR https://tocarufar.pt O Tocá Rufar tem como missão promover a identidade e cultura portuguesas atuais e desenvolver a sua prática. Daí produzirmos instrumentos com preços mais acessíveis, de qualidade comprovada e para todas as idades. Desde a sua génese que o Tocá Rufar tem procurado formas de democratizar a prática das percussões e a sua padronização, nomeadamente no que concerne aos instrumentos de percussão de construção artesanal (vulgarmente designados por bombos) e aos elevados custos que representam a sua produção, os quais estão interdependentes de outras práticas e atividades em desuso – da pastoril aos curtumes artesanais passando pelas aquisição e tratamento de outras matérias que fazem parte da sua construção.
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“SAÚDE FÍSICA E MENTAL ESTÃO INTERLIGADAS” Bárbara Cardoso é psicóloga, enquanto profissional ligada à saúde mental, adaptou-se, também ela, à realidade provocada pelo confinamento. Integrante do projeto “acalma.online”, explica como a saúde mental foi afetada e o que mudou na população, após este período passado em casa.
Bárbara Cardoso Psicóloga 23
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quais não podem contactar e, portanto, foge do controlo das pessoas a evolução da situação clínica e dos cuidados que o seu familiar está a receber. De facto, esta condição pode ser um fator catalisador de ansiedade. Assim, é importante que cada pessoa confie nos profissionais que prestam cuidados de saúde, bem como Para além de muitas outras emoções inerentes a mantenham pensamentos positivos e de esta pandemia, o medo é provavelmente aquela esperança. com que, a meu ver, as pessoas mais se debatem diariamente. Também a ansiedade, a angústia e Considera que pode ter havido alguma o stress podem ser fatores que interferem no dia- habituação dos portugueses ao confinamento? a-dia do indivíduo, deixando-o muitas vezes sem ferramentas para lidar com o que está a sentir. É Todos nós fomos confrontados com uma nova importante que pessoas que tenham membros realidade de estar confinados às nossas casas, a da família infetados adquiram um sentimento aprendizagem deste novo comportamento teve de segurança nos cuidadores que prestam auxílio de ser conseguida de forma rápida e inesperada. aos seus familiares. Muitas vezes, falamos de Contudo, estamos a falar de quase dois meses de idosos que estão em estruturas residenciais ou confinamento que, inevitavelmente, poderá ter até mesmo hospitais, longe da família, com os levado os portugueses a uma rotina adquirida e a ntre muitos sintomas que se tem falado devido à pandemia, existe o m e d o. O q u e a c o n s e l h a a o s portugueses que vivem com membros da família infetados, muitas vezes mais velhos, e não podem estar com eles?
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uma certa habituação. Muito embora os indivíduos continuem a manifestar ansiedade com o confinamento, parece-me que a grande maioria não se sente totalmente capaz e segura para voltar à vida do exterior de forma tranquila. Quais os principais conselhos que dá os portugueses no regresso à normalidade? Apesar de algumas medidas de confinamento terem sido levantadas, sabemos que provavelmente o regresso à «normalidade» tal como a conhecíamos antes de março ainda é uma miragem. É importante, antes de tudo, explicar às pessoas que este processo pode demorar mais algum tempo, promovendo a aceitação de cada um relativamente a esta situação. Só aceitando tudo o que estamos a viver se pode ajudar a criar estratégias pessoais para lidar com sentimentos menos positivos e encarar
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esta pandemia como uma «nova normalidade». A precaução que cada Sei que disponibilizou gratuitamente os seus serviços, online, para um de nós deve ter pode ser também vista como um comportamento quem necessitasse de apoio, em tempos de confinamento social. Que que contribui para a diminuição de níveis de ansiedade ao longo deste avaliação faz do estado psicológico dos portugueses? desconfinamento. Após tomar conhecimento do projeto «acalma.online» reconheci de A saúde mental é um dado imperativo na qualidade de vida de cada imediato ser uma ótima iniciativa. É um privilégio poder ajudar pessoas um, com particular destaque neste período. Parece-lhe que este é nesta fase tão adversa pela qual estamos a passar. De forma gratuita, também um momento de reconhecimento da importância da saúde todos os portugueses podem ter acesso a ajuda de profissionais, psicólogos especializados em intervir em situação de crise. Na minha mental? opinião, foram bastantes as pessoas que recorreram e recorrem a este Sem dúvida que sim. A saúde mental é muitas vezes negligenciada e serviço, umas porque já tinham problemas vindos do passado que pouco valorizada pela sociedade em geral. Mas é fundamental que todos depois se vieram a agudizar com a pandemia e o confinamento, e outras percebam que é das peças mais fundamentais para conseguirmos ter que desenvolveram algum tipo de sintomatologia exclusivamente nesta qualidade de vida, bem-estar físico, emocional e social. Contudo, presta- fase. Na grande maioria falamos mais uma vez de questões relacionadas se mais atenção às questões de saúde física do que propriamente à com o medo, crises de ansiedade, insónias, pensamentos negativos saúde mental. Mas as duas estão intimamente ligadas e relacionadas frequentes e angústia. A meu ver, as pessoas sentem-se gratas e entre si. Hoje, e com o desenvolvimento da pandemia que estamos a valorizam o trabalho que estamos a desenvolver neste âmbito. viver, surge como tema atual, uma vez que há um maior número de pessoas a recorrer à ajuda psicológica e a desenvolver fatores de risco Parece-lhe que algo vai mudar, a nível comportamental, no Ser mental. Mas não nos podemos esquecer que as ajudas existem, sempre Humano, após esta experiência de confinamento? existiram e vão continuar a existir, está na hora de valorizar mais os Creio que sim. É possível que num futuro próximo as pessoas tenham profissionais desta área, agora e no futuro. algum receio em se relacionar com os pares e que se sedimentem Que conselho dá aos pais na supervisão dos mais jovens, após o hábitos de distanciamento físico na população em geral. O «beijinho» aos avós que os pais sempre tentaram interiorizar ao longo dos anos nos período de confinamento? mais novos deixa de fazer sentido na nova geração, sendo que o O conselho para os pais é que estes transmitam a informação de forma ensinamento é agora manter algum distanciamento daqueles que apropriada aos seus filhos, de maneira clara, verdadeira e adequada a fazem parte de um grupo de risco, de forma a protegê-los. A meu ver, as cada idade. Que procurem também educar os seus filhos para novas pessoas estão a adquirir algum receio no que respeita a estar com regras de higiene, etiqueta respiratória e distanciamento físico. Dando- pessoas, olham com desconfiança e apreensão, para além de todas as lhes estas ferramentas, a meu ver é a melhor forma para que os mesmos barreiras físicas que nos são agora colocadas. As máscaras, embora se sintam tranquilos e consequentemente, possam tranquilizar também essenciais e de extrema importância, podem alterar também a nossa os seus filhos. Claro é que, se falarmos de crianças em idade mais forma de comunicação, as expressões faciais deixam de estar ao alcance precoce, estas dependem sempre da supervisão de adultos nos cuidados da perceção dos outros, tal como antigamente estávamos habituados. a ter face ao vírus. Caso os pais se sintam menos capazes, podem pedir Mas nem tudo tem de ser necessariamente negativo, talvez este ajudar a profissionais que certamente adequarão as estratégias a cada confinamento tenha permitido às pessoas um autoconhecimento que, em qualquer outra circunstância, não aconteceria. É hora de ver o copo caso em particular. meio cheio e tirar o melhor possível desta vivência.
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ACEITAR, RECOMEÇAR, EVOLUIR
Diana Gaspar Psicóloga e Coach dianagaspar.pt
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empre que resistimos à aceitação de alguma situação não encontramos a energia mental suficiente para a sua resolução. Às vezes, resistir leva-nos à evolução, outras tantas à destruição. É preciso perceber e aprender quando faz sentido resistir com determinação ou quando faz sentido aceitar para resolver e crescer. Acredito que o momento que vivemos nos convida à aceitação do momento como forma de reconstrução. A Covid-19 trouxe com ela a sensação profunda de incerteza, medo e perda, e só por isto não poderia ser mais indesejável. Sentimos, em alguns momentos, que estamos mesmo a viver um dos piores pesadelos das nossas vidas. Num ápice, tudo ficou questionável, imprevisível e incontrolável. A Covid-19 trouxe o pânico, o isolamento e algumas perdas. Mas, por muito que seja indesejável, está entre nós e disto não conseguimos fugir, e só controlamos o que cada um de nós pode fazer por si e consequentemente por todos. Somos os principais responsáveis pela sua evolução ou não, e juntos somos responsáveis por criar respostas para encontrarmos as soluções necessárias para o que estamos a viver e para o que vamos viver depois do pesadelo passar. E para isso precisamos de aceitar que o vírus trouxe mudanças, exige mudanças e que ficarmos resignados pelo seu aparecimento não nos trará qualquer tipo de solução. Se a primeira solução é a prevenção, então não há qualquer razão para não ser cumprida. Está provado e mais que provado que é na prevenção que encontramos a primeira solução. Sempre foi, e neste caso, também. É importante perceber que, mais do que remediar, o sucesso está, como sempre esteve, em prevenir doença e promover saúde. Depois de salvarmos a pele, que é como quem diz - a vida -, precisamos de perceber o que podemos fazer para nos adaptarmos à nova realidade sem perdermos o foco do que é de facto o mais importante, dos nossos valores, princípios e das nossas paixões. Acredito que cada mudança traz consigo um potencial de crescimento e de transformação mas,
mais uma vez, precisamos de aceitar que algumas coisas mudaram e não entrar em espirais de negatividade e pânico que em nada acrescentam. Como dizia a minha avó, com saúde tudo se faz, e acredito que é naadaptação que nasce também a solução. Aceitar significa também aprender a viver com as incertezas. Não gostamos delas porque nos tiram o chão, nos tornam inseguros, nos fazem vacilar nos passos a dar, no entanto, se olharmos ao longo da história da Humanidade e da história de cada um de nós percebemos que a incerteza, na realidade, sempre existiu, embora não com este impacto tão duro e exigente. No entanto, aprender a viver com ela é a escolha mais inteligente que podemos fazer se queremos viver da melhor forma possível, com serenidade, confiança e acima de tudo com saúde. É pelo medo da incerteza, do não controlo, que nasce a ansiedade e o pânico. Acredito, assim sendo, que este momento também nos traz esta oportunidade de nos conhecermos melhor, de percebermos o que precisamos de trabalhar dentro e fora de nós. Afinal, no fim de tudo, queremos todos fazer desta experiência chamada vida a melhor experiência de sempre, onde o balanço entre o sofrimento e o bem-estar penda sempre mais sobre o bem-estar. Acredito também que este momento de grande dificuldade que todos passamos nos convida a refletir sobre a necessidade constante de querermos aquilo que não temos, de valorizarmos apenas quando perdemos e na construção interior do conceito de felicidade. Afinal, o que nos traz mesmo felicidade, o que precisamos de aprender sobre ela e como num momento tão desafiante podemos redefinir o nosso sentido de vida, como pessoas e como comunidade. O mundo não é o mesmo e não voltará a ser depois desta experiência, quer se resista quer se aceite. E assim sendo, acredito que é na aceitação que virá a adaptação, a evolução e o recomeço individual e coletivo.
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"VEMOS A PESSOA COMO UM
TODO"
A Valor Magazine conversou com Carlos Castro, psicólogo e diretor clínico da Lugar Seguro, e com Ana Leite, psicóloga e hipnoterapeuta na mesma clínica, que oferece, além da Psicologia outros serviços, como Reiki, cura reconectiva e nutrição. Esta clínica dispõe ainda de um outro espaço, a Quinta Maria Luísa, destinado a quem necessite de ficar internado, para um tratamento mais longo. O período de confinamento social lançou o mote para esta entrevista.
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medo esteve sempre presente durante este período. O que aconselha aos portugueses que vivem com membros da família infetados ou não podem estar com eles? O medo é algo essencial à nossa sobrevivência. Ele impulsionanos para a proteção. Transforma-se num problema quando nos impede de agir. Viver com familiares infetados pode gerar o medo da perda do familiar em questão, bem como o medo do contágio, por isso é importante ter uma atitude consciente, protetora e não permitir que as emoções se sobreponham à razão. O nosso conselho é que considerem este tempo em que estão juntos como uma oportunidade para desfrutar da companhia de quem amam e também para enaltecer ou despertar em nós um verdadeiro sentimento de compaixão. Desta forma iremos suscitar sentimentos de felicidade nos outros e, naturalmente, quando partilhamos a felicidade, esta aumenta em nosso favor. Através das novas tecnologias, com as videochamadas, é possível estar próximo, mesmo estando longe. Considera que pode ter havido habituação dos portugueses ao confinamento? Alguns estudos mostram que o ser humano demora 21 dias para criar alguns hábitos simples, assim sendo é natural que muitas
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pessoas tenham adquirido novas rotinas, como forma de se adaptarem ao confinamento, e isso é muito positivo, demonstra a grande capacidade de adaptação do Ser Humano a novas formas de Ser e de Estar. Mais importante que a habituação será a mudança, a aprendizagem que os portugueses podem realmente retirar deste período de confinamento. Além disso, a habituação pode criar rotinas positivas, que sejam para manter mesmo depois do desconfinamento. Que conselhos dá aos portugueses no regresso à normalidade? O conselho é que seja uma adaptação gradual, para que não haja sofrimento, que poderá desencadear uma série de problemas ao nível psicológico e emocional, como depressão e crises de ansiedade. Deve, gradualmente, ir alterando as rotinas, mas não precisa de ser um corte total com rotinas e hábitos que se adquiriram durante o confinamento, pois este foi também um momento de aprendizagem, em que cada pessoa poderá ter percebido a importância de algo fundamental – ter tempo para cuidar de si – e isto pode e deve ser integrado no pósconfinamento, aprendendo a dividir o dia entre trabalho, lazer e dedicação à pessoa mais importante – o próprio.
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Que conselho dá aos pais na supervisão dos mais jovens, após o período de confinamento? Os pais tiveram uma tarefa muito árdua - tiveram de ser pais, professores e muitos ainda a dar continuidade ao seu trabalho em teletrabalho. Agora que terminou o confinamento, é importante conversar com as crianças e jovens, sem alarmismos, mas mostrando de forma clara que a situação melhorou, no entanto ainda não é um regresso à normalidade. Assim sendo, terá de haver um ajuste comportamental à situação vivida atualmente. De forma gradual, poderão levantar-se algumas restrições, mas para já ainda manter um comportamento consciente, protetor e de respeito pelo outro. Não é apenas não ficar doente, mas também impedir que o outro fique doente. Para isso terá de haver uma consciencialização coletiva para que os comportamentos sejam os melhores, os mais saudáveis. A Lugar Seguro oferece serviços como hipnose clínica, Reiki, nutrição, cura reconectiva, entre outros. Quão importante é manter esta diversidade e modernização no tratamento de cada paciente? Esta diversidade existe para melhor corresponder às necessidades de cada paciente. O Ser Humano é composto por várias dimensões, física, social, psicológica e espiritual. Assim sendo, é de grande importância a existência de diversas valências, para que seja possível atuar em todas as dimensões do Ser Humano. Na Lugar Seguro vemos cada paciente como um ser único e especial e é dessa forma que trabalhamos com ele, em equipa, ajustando a terapia às suas necessidades, crenças e preferências. É o que chamamos de uma terapia feita à medida. A flexibilidade dos nossos serviços é uma mais-valia para todos os que procuram o seu equilíbrio, pois não tratamos apenas patologias. Para o bem-estar do Ser Humano a procura de equilíbrio, a evolução, a necessidade de potenciar as suas capacidades, atingir os seus objetivos, parar com os seus padrões negativos automáticos, aprender a ser feliz, ou simplesmente aumentar a sua capacidade de concentração é algo que ensinamos.
descoberta de 5.000 m2 para que as pessoas se sintam num hotel rural, onde existe piscina, salão com piano, bilhar, biblioteca, jardim envolvente, quartos privados com suite, tratamento de roupa, alimentação e cuidados 24h por dia. Existem outros aspetos que vos diferenciem? A Lugar Seguro diferencia-se das outras clínicas por diversas razões: estamos em constante investigação de novas técnicas e metodologias no sentido de melhor corresponder às necessidades de todos aqueles que nos procuram. Possuímos técnicas exclusivas, que foram desenvolvidas por nós, com resultados comprovados, após um longo período de investigação e experimentação. Mais importante do que as técnicas, como dizia Carl Gustav Jung “Ao tocar uma alma humana seja apenas uma outra alma humana”, e é isso que praticamos na nossa clínica. Um atendimento próximo, vendo a pessoa que nos procura como um todo e um verdadeiro cuidado em ver através dos seus olhos, em crescer junto com ele, tocando e transformando vidas. Devolvendo sorrisos a quem já se esqueceu de como sorrir.
lugarseguro.pt
Os vossos serviços estão disponíveis online? Sim, todos os nossos serviços estão disponíveis online, quer por videochamada, whatsapp, videoconferência, entre outros. Neste tempo de confinamento continuamos sempre muito próximos dos nossos pacientes, tentando minorar as suas preocupações e problemas e potenciando recursos. A Lugar Seguro possui também um local onde as pessoas podem ter um tratamento mais específico e intenso? É verdade. Para corresponder à necessidade de todas as pessoas, a Lugar Seguro possui instalações para consultas e internamento, na Quinta Maria Luísa – quinta terapêutica e pedagógica em Paços de Ferreira. A Quinta Maria Luísa possui uma área coberta de 700 m2 e uma área
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"VAI
CORRER TUDO PELO
MELHOR!" Ana Cristina Silva Psicóloga Clínica e da Saúde
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stá na altura de parar, olhar para o que muito certamente vai surgir a uma grande percentagem da nossa população após a Covid-19: a doença mental nas crianças, nos adolescentes, nos adultos e nos
idosos.
Um estudo recente realizado pela American Psychiatric Association mostra que a Covid-19 está a afetar seriamente a saúde mental americana. Em Portugal, a realidade também é assustadora nos diferentes domínios: pessoal, familiar, social, relacional… Os dados mais recentes dizem-nos que os pais em teletrabalho acusam cansaço, perda de apetite, obsessão por limpeza, dores constantes no peito, noites mal dormidas, preocupação constante em estar informado sobre a pandemia, entre outras. Somos e vivemos do resultado da genética, da família, da cultura e do mundo que nos rodeia. Todos sabemos, ou deveríamos saber que, inevitavelmente, o mundo está a mudar. Associado a esta diferença de tudo o que era e agora já não é, quase que nos é imposta a célebre frase “Vai ficar tudo bem!”. Parece que não podemos pensar no medo, no desespero, na angústia, na incerteza. Mas a realidade é que todos nós precisamos de processar emocionalmente o que estamos a viver. E o que vivemos é, naturalmente, o medo do desconhecido. Encontrar um espaço de aceitação e expressão emocional é imprescindível para a promoção da saúde mental. Aconteceu exatamente neste momento, totalmente de surpresa e de forma inesperada, impedindo os nossos planos e muitas outras coisas nas quais acreditávamos que pudéssemos confiar: de repente surge uma situação
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nova. O que acontece exatamente neste momento exige e permite-nos uma mudança. De repente abre-se um outro horizonte ou uma porta fecha-se para sempre. Ou seja, “exatamente neste momento” significa agora mesmo. O que acaba de acontecer está presente, totalmente presente. Podemos reagir imediatamente e devemos fazê-lo. Exatamente neste momento o passado acabou e exatamente neste momento começa o futuro. Isto trazme à memoria o último livro que li de Miguel Sousa Tavares “No passado e no futuro estamos todos mortos”. Vejo esta mudança como uma recolocação nas nossas vidas. Recolocar significa também que reorganizamos algo dentro de nós, adaptamo-nos a algo diferente. Por exemplo, a novos desafios, a outros objetivos, a tomar uma nova direção, satisfazendo melhor as nossas necessidades. Como conseguimos uma recolocação assim? Através de uma compreensão nova, criativa, que terá êxito através da nossa coragem em segui-la, mesmo contra grandes resistências internas e externas, intrínsecas ou extrínsecas. Na minha prática como psicóloga clínica e da saúde, em contexto de consultório, depressa observei que necessitaria de outras valências, multidisciplinares, como a Psicologia da Infância e Adolescência, com a Dra. Ana Rita Fernandes, e a Psiquiatria, com o Dr Ricardo Teixeira Ribeiro para uma melhor compreensão e interação com os utentes e as suas famílias. Desta forma, através da nossa prática clínica, e associado a esta fase, denotamos um aumento da probabilidade de as pessoas
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desenvolverem Perturbação Obsessiva Compulsiva, bem como Fobia Social. Isto porque é um período de maior vulnerabilidade e, se a intervenção não for direcionada e ajustada às necessidades de cada pessoa, estas e outras doenças poderão desenvolver-se de forma gradual. Assim, a Psicologia e a Psiquiatria devem andar de mãos dadas no desenvolvimento de estratégias de atuação em Portugal e no mundo. É primordial reforçar o Sistema Nacional de Saúde com psicólogos e psiquiatras, com as diferentes especializações da infância e adolescência, adultos, idosos. É igualmente importante tornar a consulta acessível e viável para todos. É um momento dos especialistas das diferentes áreas da Psicologia, Psiquiatria e até da Sociologia repensarem, estudarem, analisarem e discutirem o impacto desta pandemia na Saúde Mental e elaborarem uma linha orientadora de intervenção d a m e s m a . E s t a l i n h a d e v e r á s e r, preferencialmente, de atuação preventiva e não remediativa. Mas terá de ser, obrigatoriamente, diferente do trabalho realizado até ao início da pandemia. Pois, como referíamos no início do nosso texto: o mundo está a mudar.
b) falar, falar e falar (da mesma forma que ouvimos testar, testar e testar) da importância de aceitar o medo, de libertar as emoções negativas, de perceber que estes sintomas e todos os outros (irritabilidade, ansiedade, fadiga, impulsividade, cefaleias, dores no peito, desconcentração constante, desmotivação) são uma resposta ao que estamos a sentir e a viver; c) criar equipas especializadas e direcionadas para o combate à violência; d) desenvolver equipas especializadas para estar e orientar os idosos, de forma a que a solidão não os preencha e que cometam o suicídio; e) desenvolver programas que potenciem o desenvolvimento da empatia nas crianças e nos adultos, pois consideramos que é, talvez, o mecanismo mais importante para nos protegermos
e, por conseguinte, protegermos a saúde mental e física de todos nós: a capacidade de nos colocarmos no lugar do outro. Enquanto membro efetivo da Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP), gostaria de acrescentar a importância da mesma na divulgação de informação gratuita, atualizada e fidedigna no site da OPP, bem como na Direção-Geral da Saúde. Diariamente são divulgadas novas estratégias para as diferentes faixas etárias, de forma a que quase toda a população tenha acesso. Mais acrescento que a mesma disponibilizou um curso gratuito para que todos os psicólogos pudessem conhecer as vantagens e desvantagens do acompanhamento por videochamada. Por fim, queria solicitar-vos para conjugarem o medo e a esperança em fazer diferente para sim, TUDO CORRER MELHOR.
A nossa sugestão para se fazer diferente assenta nas diferentes estratégias: a) reforçar os clínicos de intervenção psicológica e torná-los acessíveis a todos, como por exemplo psicólogos, psiquiatras, médicos de família; 31
Saúde e Bem-Estar
George Stilwell
O PAPEL
Membro do Conselho Diretivo da Ordem dos Médicos Veterinários Foto por: Fernando Branquinho
Foto: Veterinária Actual omv.pt
DO MÉDICO VETERINÁRIO
NA SAÚDE PÚBLICA
A
globalização trouxe enormes desafios à defesa da saúde pública. Cada vez mais temos de pensar em termos do conceito de “Uma Só Saúde”, que inclui a saúde humana, a saúde animal e a saúde ambiental. As doenças não respeitam fronteiras quer entre países, quer entre espécies. Por exemplo, a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) refere que cerca de 60% das infeções humanas são zoonoses 1 e que, pelo menos, 75% das doenças emergentes têm origem animal. Ou seja, não faz sentido pretender a completa Saúde Humana sem procurar, com igual empenho, a Saúde Veterinária. Refletindo esta realidade, a Organização Mundial de Saúde (OMS) trabalha em íntima colaboração com a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e com a OIE, no sentido de prevenir e administrar as ameaças comuns e os seus impactos do ponto de vista social, económico e de saúde pública.
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À medida que estas doenças zoonóticas emergem, os riscos de pandemias, como aquela que vivemos atualmente, tornam-se cada vez mais prováveis e críticos. No entanto, existem outras ameaças comuns à saúde humana e animal, nomeadamente, as resistências a antimicrobianos ou a poluição e degradação ambiental, que não podemos nem devemos ignorar. Igualmente, um conhecimento aprofundado do impacto das atividades humanas e dos diferentes estilos de vida, nos ecossistemas, é crucial para uma interpretação rigorosa das dinâmicas das doenças e para conduzir a políticas mais eficazes. Em suma, a saúde deve ser considerada como um bem global, multifacetado e multidisciplinar, exigindo uma abordagem transversal que integre a saúde humana, a saúde animal, a saúde dos vegetais, a saúde dos ecossistemas e a preservação da biodiversidade.
Portanto, o conceito “Uma Só Saúde”, apresentado oficialmente em 2004, deve incorporar a saúde humana, animal e ambiental, incluindo a fauna selvagem, e deve estar por detrás da uma estratégia global que realce uma abordagem holística e transdisciplinar, onde são necessários conhecimentos multissetoriais para lidar com todas as dimensões da saúde. Claro que uma das principais barreiras ao desenvolvimento de abordagens no contexto de “Uma Só Saúde” tem sido a falta de comunicação entre a medicina humana, a medicina veterinária e as ciências agronómicas, ecológicas e ambientais. Remover estes impedimentos implica um grau de integração e de compreensão suficiente entre todas as disciplinas, mas também abordagens multidisciplinares e favorecimento das condições ideais para as suas implementações.
1 Zoonoses referem-se a doenças que podem atingir tanto humanos como animais.
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No caso particular da medicina veterinária, o conceito “Uma Só Saúde” é amplamente promovido e aplicado diariamente. A profissão médico-veterinária desde sempre abraçou a ideia de que a saúde humana, a saúde animal e a saúde do ambiente estão intrinsecamente interligadas e sempre evidenciou vontade para uma corrente e efetiva colaboração transdisciplinar. Especialmente no controlo de doenças zoonóticas, os benefícios da cooperação entre Médicos Veterinários e Médicos de humanos são por demais evidentes. Os combates a doenças zoonóticas, como a brucelose, a tuberculose, a hidatidose ou a raiva, têm como pilar básico e fundamental a atuação dos Médicos Veterinários. Neste contexto, torna-se cada vez mais necessária a consolidação das posições conquistadas pelos Médicos Veterinários na Saúde Pública, bem como a conquista de novos espaços. É importante que os cidadãos estejam cientes de que o contributo do Médico Veterinário para a saúde de todos passa, hoje em dia, não só pelo diagnóstico e tratamento de doenças animais (zoonóticas e outras), mas também pela investigação científica no âmbito da saúde animal, pela inspeção da qualidade e salubridade dos produtos de origem animal (ovos, carne, leite, pescado…), pelo controlo dos locais de abate e de comercialização desses produtos e pela coordenação de equipas de vigilância na área da saúde pública. O conceito de monitorização e certificação faz-se do “prado ao prato”, ou seja, ao longo de toda a cadeia desde a produção ao consumo. Aliás, é fácil identificar em todas estas atividades do quotidiano, o contributo do Médico Veterinário em termos de Saúde Pública. Os Médicos Veterinários são cruciais na defesa da saúde e bem-estar dos animais de produção ou de pecuária. Através das suas
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ações e de campanhas por si coordenadas, é possível identificar e eliminar focos de infeções zoonóticas, impedindo que atinjam os humanos através dos seus produtos. Pela sua ação no sentido da prevenção e do diagnóstico precoce, será possível reduzir o u s o d e fár m a c o s, e s p e c i a l m e n te antimicrobianos, garantindo ainda maior segurança dos alimentos que chegam às prateleiras e ao consumidor. Assim, programas sanitários como o controlo e erradicação da brucelose e tuberculose dos bovinos, bem como da sanidade suína e avícola estão diretamente associados à gestão necessária para impedir efeitos negativos na saúde humana, através do contágio a partir dos próprios animais ou dos produtos deles derivados.
A inspeção sanitária e a segurança alimentar são duas outras atividades cruciais desenvolvidas pelos Médicos Veterinários, que garantem a higiene e a sanidade dos produtos e dos locais onde se processam e preparam os alimentos de origem animal, assegurando todas as qualidades necessárias e exigidas pelo consumidor. Sem a atuação dos Médicos Veterinários ao longo de toda esta cadeia o consumidor estaria exposto a muitos mais riscos e a sua segurança e saúde não estaria garantida.
Igualmente, a atividade de clínica de animais de companhia é um importante elemento no contexto de “Uma Só Saúde”. O Médico Veterinário é responsável pelo controlo das doenças que, não só podem afetar a qualidade de vida e bem-estar dos animais, mas também a saúde e bem-estar dos seus detentores. São inúmeras as doenças que potencialmente podem circular entre as diversas espécies, e apenas o Médico Veterinário tem competência para as prevenir ou eventualmente diagnosticar e eliminar. Será única e exclusivamente pela atuação do Médico Veterinário que relativamente poucos casos de zoonoses chegam às mãos dos profissionais de saúde humana.
Finalmente, sendo a epidemiologia a ciência que estuda a distribuição e os determinantes dos problemas de saúde em populações, no caso da medicina veterinária, esta avalia a incidência das doenças dos animais, fornecendo elementos importantes para a decisão sobre que medidas de prevenção e controlo devem ser implementadas. Assim, ao avaliar a epidemiologia das doenças dos animais, o Médico Veterinário está a dar um passo no sentido do tratamento e controlo das zoonoses, eliminando ou diminuindo as possibilidades de transmissão aos seres humanos. Não é coincidência que muitos dos especialistas ouvidos nos meios de comunicação social ou convidados a integrar as equipas de combate a pandemias em muitos países, tenham uma formação na área da medicina veterinária. Estamos preparados e formados para atuar perante epidemias e surtos em grandes populações e para procurar soluções rápidas e eficazes.
Amplamente citada anteriormente, a luta contra as zoonoses é considerada pela OMS uma das principais atividades da saúde pública veterinária. Pois, além de serem um fator de morbilidade e mortalidade para os animais, que é extensível aos seres humanos, estão diretamente ligados a aspetos económicos. A prevenção e a eliminação das zoonoses nos seres humanos dependem, em grande parte, das medidas adotadas contra estas enfermidades nos animais.
Em jeito de conclusão, vale a pena assinalar o contributo da Medicina Veterinária para a Saúde Pública através do cuidado e controlo da relação dos animais, e os produtos deles derivados, com o homem e com o meio ambiente. Assim, o Médico Veterinário está perfeitamente preparado para assumir as funções nos organismos de saúde, coordenando, planeando e executando os programas que vão permitir a promoção e a preservação da saúde humana.
Mulheres de Valor
“AS MULHERES SÃO RESILIENTES E CORAJOSAS” CEO, empreendedora, professora universitária, consultora, palestrante e mulher. Alexandra Seixas é uma líder que reconhece ser incapaz de fazer apenas uma atividade. O seu ímpeto de criar obriga-a a investir em si e nos outros e a sua veia empreendedora já deu frutos: o Grupo EdenVet é disso exemplo. Uma entrevista feita sob vários ângulos, porque assim é Alexandra Seixas…uma mulher de muitas paixões.
Alexandra Seixas CEO e empreendedora alexandraseixas.com 35
Mulheres de Valor
CEO, empreendedora, professora universitária, consultora, investigadora, palestrante e autora. Como é possível coordenar todos estes aspetos da vida e garantir tempo para a família?
É
A gestão do meu dia-a-dia tem uma matriz bem definida, que reuniu vários anos de reflexão e preparação, à volta de um conjunto de competênciaschave que otimizam o meu tempo de modo a atingir os objetivos propostos numa lista pré-definida de prioridades. Uso quatro bandeiras: tenho uma rotina diária sólida e consistente; domino muitas ferramentas testadas na sua efetividade, sobretudo no meu desenvolvimento pessoal e hard & soft skills encontro o foco e permaneço no mesmo, independentemente das distrações do mundo; estimulo a minha mente criativa em modo On & Off. O desenvolvimento pessoal e profissional em várias áreas, com vários mentores e com diferentes sistemas, permite uma maior amplitude de consciência e um empoderamento direcionado ao somatório de resultados, que é sempre maior que a soma das partes. Criei, desta forma, uma base de rotina eficiente e eficaz, que é consistente com o meu modo de vida. Somos uma família monoparental, que trabalha no intervalo que sobra entre as 16 e as 23h, pois este tempo é 100% íntimo, 200% presente, 300% amoroso, numa esfera criada com o mantra “Mamã e as Meninas”. Formou-se em Medicina Veterinária e especializou-se em Cirurgia, pois era uma paixão de criança. 20 anos depois dessa decisão, conseguiu inclusivamente criar um franchising de clínicas veterinárias. Como foi o seu percurso e como o aplica agora aos olhos do empreendedorismo? Sou licenciada em Medicina Veterinária, com especialidade em pequenos animais, pela Universidade da Extremadura – Faculdade de Cáceres. A minha motivação sempre foi a cirurgia e a capacidade de resolver problemas graves de forma consistente e imediata, evitando a dor e sofrimento o quanto antes, assim me fosse permitido. Avancei para o diploma pela Universidade Católica, em Gestão e Marketing, e várias pósgraduações nacionais e internacionais, tanto a nível de Medicina Veterinária como em Gestão, Comunicação e Marketing Digital. Mas não é isto que me define como profissional. O que me levou até onde estou foi a curiosidade e o empenho em relacionar sistemas e processos. A ideia de avançar até um determinado ponto, e depois perder o horizonte, criava em mim uma série de inseguranças e fraquezas. Decidi sair ao mundo e reequipar-me com as ferramentas necessárias para o meu desenvolvimento pessoal e profissional. Encontrei várias áreas de interesse, às quais dedico fragmentos do meu tempo, devidamente identificadas. Tudo começa com o Grupo EdenVet, em 2001, e numa escalada cheia de percalços aparecem novos degraus no empreendedorismo: fundei o primeiro franchising de Centros Veterinários
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com uma rede atual de 10 CAMV (Centro de Atendimento Médico Veterinário), no atendimento de primeira linha e com elevada proximidade a todas as pessoas - LowCost Vet- marca nacional e europeia; fundei a Vetzania – hospital veterinário dos pequeninos - que leva a todas as crianças os cuidados a ter com um animal de estimação; fundei a Academia A.S. – Assertividade & Sucesso, que em cursos modulares dá formação e consultoria num sistema de método demonstrativo e bootcamp a unidades de negócio; sou palestrante, autora e docente universitária, nas disciplinas de Gestão/Marketing/Comunicação, assim como disciplinas na área da inovação e invenção, sendo que a temática de soft skills é aplicada em todas as minhas disciplinas; na área da restauração e eventos formativos, com o Eat & Thinking Club, faço a consultoria para empresários de pequenas e médias empresas, com temas que são escaláveis ao longo do tempo; em outubro de 2019 foi-me atribuída, em exclusivo, a Patente de Invenção Internacional, para um equipamento “Ginásio- Animal” utilizado por animais de companhia (cão, gato, cavalo) com uma componente lúdica e outra clínica pois, sendo modular, tem anexos, desde realidade virtual e aromaterapia à recolha de todos os dados biomédicos, para recuperação integrada em casos de fisioterapia ou desenvolvimento de grupos musculares. Neste momento, estou numa procura ativa de investidores para entregar o produto ao mundo. Como avalia a posição da mulher, atualmente, no mercado de trabalho, sobretudo no que respeita à liderança? Considero que cada um de nós tem um conjunto único de pontos fortes, fraquezas e sensibilidades, eu chamo a Zona Nuclear ou Génio Interior. É única, diferenciadora, sustentável e potenciadora. A diferenciação é sempre pessoal, temos uma combinação idiossincrática de estratégias com base nas nossas experiências, exigências, hábitos e preferências, tanto a nível pessoal como profissional. Somos o que pensamos e o que pensamos define o nosso comportamento que, por sua vez, é avaliado como o nosso caráter. Como mulher, as tarefas do quotidiano ainda são muito alargadas, na tentativa diária de fazer frente a todos os desafios e conseguir atingir a nota de “Excelente" quando se entrega o trabalho final. Esta sociedade ainda exige que a mulher cumpra em todas as frentes, em casa como doméstica, mãe de família, esposa de marido, filha de pais e tia de sobrinhos, amiga de amigos, e possa passear o cão no jardim com os vizinhos. Exige que no local de trabalho se supere e não permita que assuntos familiares e rotinas existentes se sobreponham ao prazo de entrega de projetos e resultados excecionais nos trabalhos realizados. Se for possível fazer tudo a 100%, embora o exigível seja 120%, estaremos seguramente duas velocidades acima de qualquer homem na sua existência quotidiana.
Mulheres de Valor
A liderança feminina é diferente da masculina? Quando se tem uma mente criativa, (e todos a têm), basta chamar por ela, o processo de liderança torna-se parte do percurso. Gosto de ensinar aos meus alunos e formandos que a liderança não é um processo hierárquico, é um tema do terreno. É no dia-a-dia que se faz a diferença para o hoje e para o amanhã. Até porque dizer sim é decidir e dizer não também. Envolver-me é decidir e não me envolver também é decidir sendo sempre, no limite, a responsável pelas ocorrências. Quando imputas a ti próprio o comando da tua vida, como personagem principal, o fator liderança é ferramenta de trabalho. Agora basta estudar a mesma, otimizar e saber como a usar de forma correta em cada situação. No entanto, dedico algum tempo e trabalho ao Empoderamento Feminino, porque é uma luta desigual entre os direitos e acessos devido à diferença de género. Este conceito foi criado para definir ações e iniciativas que possam levar as mulheres a uma posição justa no mercado de trabalho, na comunidade, em espaços de debate, ou até no seu agregado familiar. Deriva do termo em inglês “empowerment”, porque diz respeito à capacidade do indivíduo, neste caso da mulher, de realizar por sua conta própria as mudanças necessárias para o seu desenvolvimento pessoal e profissional. Que mensagem gostaria de deixar às mulheres que, como a Alexandra, não conseguem estar paradas e querem sempre fazer mais da vida? Um Objetivo é para mim um propósito, uma inclinação para o resultado. Depois de identificar de forma clara o meu Grande Objetivo, divido o mesmo numa série de tarefas mais pequenas e realizáveis, são metas individuais para o atingir, e trabalho para o somatório de tarefas. Devemos diferenciar a produtividade do efeito de satisfação pessoal de nos sentirmos ocupados. Não é esse o foco. Não é a ocupação de 24h do nosso dia que nos torna eficazes: não será seguramente esse o método para obter os melhores resultados. Se estou aqui, fruto de um qualquer acaso, fruto de uma qualquer queda, fruto de tantas perdas é também porque sou uma sobrevivente, se optei por sorrir, abraçar, caminhar e amar são meros efeitos de pequenas ações ou tarefas do quotidiano, na tentativa de que o somatório da minha humilde vivência seja o Grande Objetivo de ter criado duas meninas muito felizes, abraçadas pela vida, pela emoção, pelas conquistas pessoais, pela alegria de não querer nada de diferente, pois este caminho foi, sem dúvida, a perfeição de um Objetivo Grandioso. As mulheres são desta casta. Resilientes, valentes e corajosas.
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Mulheres de Valor
LIDERAR COM UM PROPÓSITO EM TEMPO DE COVID-19 Lino Santos Coordenador
Patrícia de Melo e Liz CEO
S
e pensarmos qual o propósito da existência das nossas empresas, temos de ir mais longe do que a mera definição da missão e visão da mesma e entender conceitos como o bem comum, a solidariedade e o objetivo para além do legítimo retorno ao acionista. Nunca como agora se manifestou tão necessário liderar com um propósito, perceber a quem atingir com o bem que fazemos. Entender que chegar aos números no final do ano não tem de acontecer só pelo enriquecimento vazio, mas sim olhando para o nosso próximo e para as outras empresas como para nós mesmos e aplicar critérios de gestão que nos transformam e transformam o mundo. A componente meramente financeira enfraquece-se tanto mais quanto maior for a nossa consciência de que, para além do nosso negócio, há pessoas, há famílias. Há uma sociedade onde podemos atuar e influenciar positivamente naquilo que nos cabe e na medida das nossas possibilidades, não deixando passar oportunidades para fazer crescer ou, no momento específico que
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atravessamos, para salvaguardar não só as nossas empresas, mas todos os que nela se veem envolvidos, direta ou indiretamente. Pessoas. É tempo de dar prioridade às pessoas que ajudam a fazer crescer os nossos negócios em momentos de prosperidade, em lugar de deixar que o pânico nos tolde o pensamento e provoque decisões irrefletidas, descartando precipitadamente quem, de repente, parece estar a mais. Está claramente demonstrado que o despedimento massivo em tempos difíceis nem sempre se manifesta a melhor opção financeira para as empresas, dado o investimento significativo que, na retoma, terá de ser feito em novos recrutamentos. Famílias. É tempo de entendermos que por detrás “daquela pessoa” está, na maioria das vezes, uma família que é fortemente impactada pelas nossas decisões, no seu bem-estar ou até mesmo nas suas necessidades essenciais.
Empresas. É tempo de saber que aquela empresa a quem deixamos de pagar atempadamente para salvaguardar as nossas reservas financeiras ou o pequeno fornecedor a quem deixamos à espera mais umas semanas, não subsistem se não cumprirmos com tudo o que estiver ao nosso alcance para que ninguém fique para trás. Sociedade. É tempo de discernir que, quando causamos os impactos acima descritos, influenciamos fortemente o mundo que nos rodeia. Como líderes, temos agora mais do que nunca de “pôr os nossos talentos a render” e com resiliência, inovação, criatividade, responsabilidade… ser ousados na procura de um bem maior, sem desânimos ou desistências, conscientes de que estamos sempre na linha da frente para construir o futuro económico e que o propósito maior que hoje podemos ter na nossa liderança é o de CONSTRUIR A ESPERANÇA NA CRISE. savills.pt
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