Jornal Valor Local Edicao agosto 2015

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Destaque

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Valor Local

Pela primeira vez a trabalhar a tempo inteiro na sua área trabalhar há três semanas na Câmara de Alenquer, Sandra

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Ferreira de 26 anos, com raízes na Lourinhã, também vive atual-

mente na vila de Alenquer. Licenciada numas das áreas que me-

nos saídas tem quando se fala em estabilidade profissional, o de-

sign gráfico, confessa que neste momento está a viver uma espécie de sonho. Para trás ficam alguns empregos nos CTT ou num café, dada a dificuldade que sempre sentiu em entrar no mercado de trabalho na sua área. O estágio na autarquia será de um ano. Até ter concorrido à autarquia através de concurso público, foram três anos de envios sem parar de currículos. Quando estava a acabar o curso que fez na Escola Superior de Artes e Design nas Caldas da Rainha conseguiu perceber que não seria “muito fácil” vingar neste mercado. Muito esporadicamente “lá ia fazendo um flyerzitos mas não passava disso”. Sobre a experiência profissional fora da sua área, refere que encarou com naturalidade essa fase – “Não me fez diferença, eu queria trabalhar, e foi o que me apareceu”. Dessas experiências, retira um ensinamento – “Pensava que não ia gostar, mas foi positivo o contacto com o público; atender as pessoas!”. Ao mesmo tempo, ia enviando os cv’s e deslocavase a muitas entrevistas – “Corriam bem, mas havia sempre muitos

candidatos, e nunca tive a sorte de ser selecionada. Concorri a tudo dentro do que era compatível com a minha área”. “Tive de ser muito persistente porque é fácil ficarmos desmotivados”, acrescenta. Aproveitou ao mesmo tempo para ir fazendo algumas formações que se revelaram como decisivas para o facto de ter sido escolhida para este estágio, em web design e programação em ambiente web. “O designer gráfico só fica a ganhar se juntar estas vertentes ao seu currículo que nem sempre são exploradas nas universidades”. Hoje confessa que “está a ser excelente” a sua estadia na Câmara. “Estou a fazer paginação e a criar layouts para um boletim”, resume assim o seu trabalho. Sandra Ferreira deixa alguns conselhos aos jovens designers ou a quem deseje seguir esta área – “Ser o mais versátil possível e tentar saber um pouco de tudo, porque temos de estar abertos a várias vertentes, o mercado do trabalho assim o exige porque a concorrência também é muito elevada”.

“Não se valoriza quem é bom no que faz” ndré Santos é o mais velho dos jovens entrevistados e como tal a sua visão é necessariamente mais nua e crua dos tempos em que vivemos. Com 35 anos, confessa que o mundo do mercado de trabalho é feito de muitas pedras no caminho. Depois de ter terminado o curso superior de Educação Física na Universidade de Algarve, as coisas até foram relativamente fáceis. Conseguiu emprego na sua terra natal, o Cartaxo, como professor de atividades desportivas no primeiro ciclo através de concurso público promovido pelo município. Contudo, anos mais tarde no Governo de Sócrates estes programas foram substituídos pelas denominadas Atividades de Enriquecimento Curricular (AEC’s) que acabaram por lhe baralhar os planos. “Confesso que antes da implementação das AEC’s cheguei a ser muito bem pago, depois perdi

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cerca de 40 por cento dessa remuneração. As Câmaras desresponsabilizaram-se e entregaram essa vertente às empresas; e como se diz na gíria popular quem se lixa é o mexilhão.”, enfatiza. O seu percurso a partir de 2007 passa por ficar a dar aulas em escolas o que fez até 2012. Os acontecimentos precipitaram-se nesse sentido. E como a vida não para de dar voltas, esteve ainda nos últimos anos a trabalhar num restaurante da família, porque confessa acabou por desistir da vida de professor – “A minha família era mais importante para mim, e não valia a pena o sacrifício de ir dar aulas para longe, o restaurante foi-nos sustentando”. Por outro lado, “confesso que a convicção que tenho do que deve ser a organização e a evolução das escolas esbarra muito naquilo que experienciei”. E consegue ser mais definitivo – “Só por maso-

Dados do desemprego e acordo com os dados estatísticos presentes no site do IEFP e tendo em linha de conta os centros de emprego da área de abrangência do Valor Local, nomeadamente, Vila Franca de Xira, Santarém e Torres Vedras, estavam inscritos em junho de 2015 na faixa etária dos 25 aos 34 anos, 1217 no IEFP de Torres Vedras, 1108 jovens no de Vila Franca de Xira e por último 1945 no de Santarém. No caso do IEFP DE Santarém foi ainda possível aferir que estão inscritas 350 pessoas para primeiro emprego, o que representa 6,5 por cento dos inscritos. No que se refere aos estágios, e na área do centro de emprego de Santarém, foram abrangidos 528 jovens, não tendo sido divulgados conforme pedido pelo nosso jornal quantos dos jovens abrangidos por estes estágios ficaram a trabalhar à posteriori nos locais de estágio.

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quismo é que se vai para professor hoje em dia”. No fina de 2014, decidiu abraçar um projeto seu com a criação de um negócio que acaba por ser uma academia para crianças mas com a atividade física incluída. “Não conhecia nenhum conceito como o que criei, porque centro de estudos existem muitos, não há novidade nisso, mas para além dessa componente, temos a dita componente física como ballet, ténis de mesa, entre outras”.

Para já está a ser bem-sucedido dado que possui cerca de 20 crianças a frequentarem o seu espaço, e ainda dá emprego a uma outra professora. “Fiz questão de lhe dar um contrato, pois não quero fazer aos outros o que me fizeram a mim”, dá a entender. Depois da sua passagem pelas escolas e pelo meio académico, e tendo em conta que muitos jovens da sua idade escolhem o estrangeiro para fazerem a sua carreira, André Santos exprime a sua

opinião muito pessoal acerca do denominado “fabulos mundo da emigração”, visto como a única saída e onde o sucesso está ao virar da fronteira. “Acredito que nem tudo seja assim tão cor-derosa lá fora, mas também sou da opinião de que os jovens no estrangeiro fazem coisas que aqui se recusam a fazer, mas por outro lado são mais reconhecidos pelas entidades empregadoras desses países. O que se passa cá em Portugal, e tive essa experiência,

é que não importa o quão se é bom ou não numa determinada profissão, não somos reconhecidos por isso, mesmo que nos estafemos a trabalhar”. Se a idade jovem for até aos 35 anos, André Santos ao olhar para o seu percurso deixa também este conselho aos jovens mais novos – “Que afiram de outras possibilidades dentro das suas áreas, que se especializem, tendo em conta também onde é que há emprego”.


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