Por que a cabeça da gente não para de pensar pdf com ilustrações

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Por que a cabeça da gente não para de pensar Jorge Maciel Andrade

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SOBRE O AUTOR

Nascido em 23 de janeiro de 1953 em São Paulo/SP, Jorge Maciel de Andrade conta com licenciatura e bacharelado em Ciências Sociais pela Fundação Santo André. Desenvolveu diversos trabalhos comunitários, tendo recebido o III Prêmio do Ins tuto Sou da Paz no ano de 2006 no quesito redução de danos. Fundador da A.E.P.P. (Associação de Estudos Psicossociais e Pedagógios - Projeto Cururu), onde con nuou desenvolvendo um trabalho direcionado à redução de danos nas comunidades. Delegado do movimento "democracia nos meios de comunicação" - fundador da rádio Zumbi - 96.5 F.M.- Cidade de Santo André - (uma das dez rádios padrão de rádio comunitária), além de ter sido Presidente regional do A.B.C.D. pelo sindicato da sua categoria por duas legislaturas. E atualmente exerce a função de ar culista de diversos jornais de várias en dades, trabalhando também como palestrante em escolas, empresas, centros culturais, dentre outros. 5 Cópia de prova: Não otimizada para impressão de alta qualidade ou distribuição digital


Gilberto da Silva Sociólogo e jornalista. Mestre em Comunicação pela Faculdade Cásper Líbero e pesquisador do grupo Comunicação e Sociedade do Espetáculo organizado pela Cásper Líbero. Foi professor do ensino secundário e universitário e analista de ordenamento territorial da Prefeitura de São Paulo. Edita a revista P@rtes (www.partes.com.br).

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A cabeça não para pra poder sobreviver

Enquanto eu acreditar que a pessoa é a coisa mais maior de grande Pois que na sua riqueza revoluciona e ensina Pois pelas aulas do tempo, aprende, revolta por cima Eu vou cantar... Por aí... (Coisa Mais Maior de Grande - Gonzaguinha) Jorge Maciel produz um livro baseado na sua larga experiência e vivência de trabalho nas comunidades periféricas da Grande São Paulo. Em "Por que a cabeça da gente não para de pensar?", Jorge Maciel Andrade, numa escrita direta, entretanto, poé ca, mistura histórias que se mul plicam, que em um eterno ciclo teima em se repe r. Famílias em fuga dos riscos da seca, da miséria de um outro Brasil, para o enfrentamento dos riscos generalizados dessa outra parte sonhada, repleta de contos e fantasias. São tantos os desafortunados sobrevivendo na ro na co diana dessa cidade onde as pessoas estão, mas não são vistas. Aqui ou ali um ato de compaixão, uma pequena doutrinação, uma oferenda. São poucos os que escapam, mas são muitos os que lutam. São muitos os Valdevinos e as Nenecas espalhados e espalhadas nessa imensa periferia chamada São Paulo, tantas diaristas, espíritas, evangélicos, crentes, descrentes, inclusos, reclusos, exclusos; todos sempre a tentar um rumo. Na leitura de Jorge Maciel, a arte salva; o exercício da arte é transformador e leva, em sua plenitude, à autonomia do sujeito. A arte leva à reflexão e é emancipadora. Seus próprios viventes inventam uma saída para a sua crise pessoal, sem esperar que o Estado venha com medidas palia vas. Já dizia sabiamente o grande educador Paulo Freire: “Ninguém liberta ninguém. As pessoas se libertam em comunhão”. E essa emancipação, é verdadeira em se tratando de um autor, como Jorge Maciel, que vivencia na prá ca o exercício da comunicação comunitária, através da sua Rádio Zumbi.

Gilberto da Silva

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Mestre Robson Miguel Violonista internacional e escritor Cafuzo (mes ço de Negro com Índio Guarani).

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Após ler o livro do experiente escritor Jorge Maciel de Andrade, meu amigo a mais de 40 anos e que para mim será sempre o Amigo Jorginho, podemos aprender que, até mesmo os erros se tornam acertos quando com eles aprendemos alguma coisa. Aceitar os “ensinamentos” exige sacri cios de todo po.... A envolvente história real, vivida pelo pequeno garoto albino Valdevino e sua problemá ca mãe Neneca, nos apresenta sem rodeios e sem romances o retrato fiel de quem foram e con nuam sendo muitos dos nossos irmãos brasileiros carentes dos seus direitos e da jus ça negada pelas autoridades e até por nós mesmos. Ao ler o livro “Por que a cabeça da gente não para de pensar” tomamos um verdadeiro chá de reflexão, que nos leva a vivenciar o tulo do mesmo, nos remetendo a um Brasil onde o Ministério da Jus ça ainda comete injus ça, o Ministério da Educação ainda promove a 'deseducação' de muitos que vivem á margem da sociedade. Ao mesmo tempo, este livro nos enche de esperanças, nos ensinando que todos somos carentes de oportunidades e de uma palavra amiga para que possamos perceber o quanto valemos e o quanto somos capazes de vencer as dificuldades e desenvolver nossa iden dade num novo recomeço. O livro nos ensina que a “...cabeça da gente não deve parar de pensar” que “Recomeçar” é uma palavra que jamais deve sair da vida de quem quer ter vitórias. Nessa história, vivida por Neneca e seu filho Valdevino, que após realizar um belo trabalho de artes para uma grande platéia do seu colégio aos 19 de abril, Dia do Índio, tempos depois encontraram na fé em Deus e em Jesus “O Caminho”, e a esperança de uma vida melhor. Eis aqui um livro introspec vo que nos remete a pergunta escondida no próprio tulo, que de forma polêmica e sem rodeios, Jorge Maciel escreve uma história vivida por milhares no nosso Brasil, e dá voz aos que ainda clamam por jus ça, numa resposta cristã claramente respondida na frase: "Pensando bem, realmente não importa saber quem é você, estou certo que o importante é saber que estamos na frente de uma filha de Deus. ..., não importa sequer saber o que você fez ou tem feito, .... "

Mestre Robson Miguel

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Sandra Clara Barzan Formada em Pedagogia, Psicopedagogia, Direção e Supervisão Escolar e Psicanálise, a autora nasceu em São Caetano do Sul, 1962. Prof° escritora, redigiu a “janela” – Como eu vejo o mundo e encaro a vida? – Criando personagens e escrevendo histórias com o obje vo de desenvolver, de forma sensível e bem-humorada, temas co dianos trazidos por seus alunos para a sala de aula. Neste texto, Jorge nos faz transcender o óbvio, trazendo ensejos que nos levam a refle r e enxergar mais do que os chamados “problemas sociais”, mas o ser humano e seus conflitos existenciais enga lhados pelas circunstâncias que a “necessidade de sobrevivência” lhe oferecem. O autor valoriza o jeito peculiar que cada um tem de se relacionar com o mundo em que vive, redimensionando o envolvimento afe vo posi vo ou nega vo, construído a par r das experiências vividas.

Sandra Clara Barzan

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Eligeane Caiado O autor faz com que o leitor pense e refleta sobre a decadência de jovens e adultos, mo vada não somente pelo uso dos mais variados pos de drogas, mas também pela miséria humana, que infelizmente encontrase diante de todos nós. Acredito não ser di cil encontrarmos "Nenecas e Valdevinos" na condição de personagens reais, os quais, na sua narra va veram sorte para encontrarem ao longo de um caminho tortuoso e sofrido, anjos traves dos de seres humanos que não desis ram deles. Sem sombra de dúvidas, Jorge Maciel foi muito competente na abordagem de um tema tão importante e que impressiona pela riqueza de detalhes da nossa realidade atual.

Eligeane Caiado

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Comissão editorial

Autor - Jorge Maciel Andrade Revisão/ diagramação - Jorge Silva de Andrade Ilustração - Beatriz Araújo Spolador

Material - livro infanto juvenil tratando das questões: Realidade posta e idealizada, Papel da escola na formação do indivíduo, Invisibilidade social, Linguagens, pros tuição infan l, analfabe smo funcional, abandono infanto juvenil, situações reais de risco, drogas, delinquência , propostas de superação

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida, arquivada ou transmi da de nenhuma forma ou por nenhum meio sem a permissão expressa e por escrito do autor. 12 Cópia de prova: Não otimizada para impressão de alta qualidade ou distribuição digital


Nasrudin postou-se na praça do mercado e dirigiu-se à mul dão: "Ó povo deste lugar! Querem conhecimento sem dificuldade, verdade sem falsidade, realização sem esforço, progresso sem sacri cio?" Logo juntou-se um grande número de pessoas, todas gritando em coro: "Queremos, queremos!" "Excelente!", disse o Mullá. "Era só para saber. Podem confiar em mim.Lhes contarei tudo a respeito, caso algum dia descubra algo assim. Nasrudin, Mullá - O anúncio 13 Cópia de prova: Não otimizada para impressão de alta qualidade ou distribuição digital


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INTRODUÇÃO Acho que a “escola” deve antes de tudo habilitar o “indivíduo” a fazer uma leitura inteligível da sua realidade. Essa leitura, a devida “apropriação” da linguagem adequada é que tem o “condão” de conduzir o educando ao mundo da sua superação que é par cular e individual. A situação de “fragilidade” que acomete os indivíduos menos favorecidos, porque não dizer a grande maioria dos brasileiros, decorre do fato de estarem iseridos, absolvidos pela manobra social de exclusão consen da. Não basta dizer que as nossas escolas não cumprem o seu papel, sob a alegação de estarem entre as piores, segundo determinados indices de medição. Temos que intervir no processo educacional, fazendo com que a “educação” se desvencilie do “controle” exercido pelos “saberes orgânicos” que só fazem passar ideologias comprome das que tem como fim úl mo a legi mação do poder. Não tenho dados oficiais, mas uma sondagem sem muito critério me surpreendeu ao constatar que numa amostra aleatória que contou com duzentos profissionais da área do ensino do 1º ao 3° graus, mais de oitenta por cento (80%), não haviam lido um único livro (inteiro) durante todo o ano passado. Manietados pelas teorias trazidas de lá de fora ou uma outra qualquer da “moda”, através de pasquins, folhe ns, xerox de dois ou tres capitulos de alguma obra, comentário de algum crí co ou ar culista, internet, acabam se limitado a colocar em prá ca as experiências ainda pouco estudadas em seus países de origem, mas que são do agrado dos chamados “intelectuais orgânicos” que das suas academias seguem “vomitando” regras.

JORGE MACIEL ANDRADE

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O problema do “analfabe smo funcional” é a “linguagem” . . . - O autor 16 Cópia de prova: Não otimizada para impressão de alta qualidade ou distribuição digital


Por que a cabeça da gente não para de pensar?

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VALDEVINO é um garoto franzino, albino, com várias pintas espalhadas pelo corpo, cabelos ruivos (espetados), de pouco mais de 9 anos de idade, fazendo o 3° ano do ensino fundamental na “ E.E. CLOTILDE PEÇANHA”. Sua professora atual Dona Zezé é uma senhora esbelta, morena, conta com uns 60 anos de idade, viúva, mora sozinha, cabelos curtos e grisalhos, muito sábia e preocupada com seus alunos.

VALDEVINO não conheceu o seu pai, mora com a sua mãe em dois cômodos de uma casa no bairro CAMPÃO BONITO, zona Sul, periferia da Grande São Paulo-SP. Sua mãe, conhecida como “NENECA”, nascida em “Salvador-Ba”, negra, hoje com 22 anos de idade, trabalha como diarista. Depois de várias tenta vas de encontrar o seu príncipe encantado, hoje muito desiludida se contenta em trabalhar o máximo que pode para suprir as necessidades do seu pequeno lar, longe daqueles parentes e amigos que um dia lhe causaram grande sofrimento e humilhação pelo que consideraram um deslize imperdoável de sua parte.

No natal do úl mo ano VALDEVINO ganhou de sua mãe aquilo que dia e noite ele tanto sonhava, um lindo computador, na caixa. VALDEVINO, não lembra de ter sen do felicidade maior do que a que sen u naquele dia. Saiu correndo pelo 18 Cópia de prova: Não otimizada para impressão de alta qualidade ou distribuição digital


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quintal, tropicando, caindo e levantando, aos gritos:

- OBRIGADO SENHOR, OBRIGADO . . . OBRIGADO . . .

Sim, esqueci de dizer, ele e sua mãe são religiosos. Os vizinhos do chamado quintal (habitação cole va) saíram nas portas e janelas para ver o que estava acontecendo e, após constatar que era VALDEVINO num descontrolado estado de euforia comentaram entre si:

- Esse “FERRUGEM” está cada vez mais doido . . .

Outros:

- É um “xarope” . . . Essa “crentaiada é uma chateação”. . . Deve ter cheirado . . . Esse moleque é muito esquisito . . . É o filho da crente, “mãe solteira” . . .

A fofoqueira que não queria queimar o arroz no fogo, sem sair para fora, resmungava:

- Só podia ser . . .

E por aí . . . Não preciso dizer que VALDEVINO e sua mãe eram muito discriminados pelas pessoas próximas, na escola, no trabalho, pela opção religiosa, pela cor, enfim, pela sociedade. 20 Cópia de prova: Não otimizada para impressão de alta qualidade ou distribuição digital


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Essa realidade acabou interferindo na formação de VALDEVINO que evitava estar com pessoas, quando não estava na escola ou na igreja, passava boa parte do seu tempo dentro de casa com alguns brinquedos, alguns gibis que sua mãe trazia, vendo televisão e quando conseguia alguns trocados corria para uma “lan house” próxima da sua casa. Dias depois daquele natal, um dos filhos do patrão de NENECA, foi até a casa dela para montar o computador e aproveitou para dar algumas explicações para VALDEVINO a respeito do seu funcionamento. Em pouco tempo VALDEVINO passou a se sen r “plugado com o mundo”, ninguém para dizer: “Que menino esquisito, ele não tem pai, parece que está enferrujado, é um moleirão, não aguenta um tapa”. Bastava teclar e de repente podia adicionar amigos que escolhia nos sites de relacionamento, também teclando conseguia informações a respeito de qualquer coisa, podia se aprofundar em vários conhecimentos que os “saberes” humanos haviam trazidos a luz.

A mãe de VALDEVINO juntamente com ele saiu de sua terra natal quando VALDEVINO acabara de completar quatro anos. Na verdade, com o nascimento de VALDEVINO, NENECA se viu obrigada a sair para o mundo a fim de buscar o seu 22 Cópia de prova: Não otimizada para impressão de alta qualidade ou distribuição digital


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sustento, o da criança e, de quebra trazer alguns trocados para casa para ajudar na manutenção de uma grande família, algo ainda ocorrente com muitas meninas pros lados em que morava. Com catorze anos de idade, na Capital (Salvador-Ba), o que encontrou foram os cafetões e cafe nas, lembranças que ainda hoje a deprimem. Aos dezesseis anos de idade, depois de muita insistência, NENECA conseguiu convencer um dos assíduos frequentadores da casa onde trabalhava (um caminhoneiro) a traze-la juntamente com seu filho para São Paulo. O cara falava dos riscos que correria se fosse pego com uma menor de idade e seu filho, e mais:

- Onde você vai ficar em São Paulo ???

NENECA não tubiou, falou de vários parentes e amigos que nha espalhados na grande cidade, bastava que a deixasse na rodoviária Tietê, ou proximidades de uma.

Um dia e meio de viagem depois do embarque numa daquelas rodovias, NENECA e VALDEVINO desembarcaram daquele bi-caminhão carregado de coco, próximo do mercado municipal, “coração da grande cidade”. Se despediram do caminhoneiro e passaram a andar pela cidade sem des no. Cerca de uma hora depois, já era noite, passava das vinte horas, 24 Cópia de prova: Não otimizada para impressão de alta qualidade ou distribuição digital


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seguindo em direção à rodoviária do Tietê, na verdade seguindo as placas, encontraram debaixo de um viaduto um grupo de sem tetos. Foram se aproximando daqueles e um deles visivelmente embriagado foi dizendo:

- Aqui não tem lugar pra mais ninguém, pode sair andando!

Mês de agosto em São Paulo, as noites costumam ser ligeiramente frias, ou se preferir muito mais frias que as noites na Bahia. Aquela pequena fogueira era um atra vo para NENECA que resolveu insis r com aquele homem:

- Escuta amigo, pelo o que estou vendo, eu e o meu filho não temos roupas ou cobertas adequadas para passarmos a noite, estamos chegando da Bahia e o pouco dinheiro que tenho não vai dar para pagar um hotel. Por favor nos deixe ficar até amanhã.

Um outro também “bêbado” retrucou:

- Você tem três reais para inteirar, vamos comprar uma garrafa de pinga!

NENECA mexeu a sua pequena bolsa e entregou ao homem a quan a que lhe pediu. Bem, aquela noite estava 26 Cópia de prova: Não otimizada para impressão de alta qualidade ou distribuição digital


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resolvido, passariam com aqueles que a acolheram e outros que iam chegando e tomado os seus lugares “ca vos”. Como previra, aquela noite fez frio, pouco conversaram com aqueles moradores de rua, que na verdade pareciam conversar sozinhos, com seus cachorros, com o vento, vez ou outra verbalizavam palavras soltas que não nham conexão com nada que NENECA e VALDEVINO conheciam. NENECA estava com medo. Medo dos carros e caminhões barulhentos que passavam velozmente por eles, medo de alguém ou da polícia que viessem furiosos para expulsa-los daquele local, medo que aquele viaduto desabasse, medo de serem engolidos pela cidade que conhecia de nome, de histórias que lembrava e outras que não queria lembrar. O pobre VALDEVINO então, não estava entendendo nada, primeiro no começo daquela viagem achou que a sua mãe estava finalmente apresentando o seu pai, afinal quase todas as crianças tem um, e a minha mãe, dizia ele para si mesmo, parecia tão afeiçoada a ele, parecia que se conheciam a tanto tempo, ele era um cara legal, parava de tempos em tempos naqueles postos de gasolina e trazia doces, diversos salgadinhos, sorvetes, marmitex, um monte de coisas que nunca imaginou que exis am, a sua barriga ainda estava “forrada” daquelas coisas todas. As vezes ele via a sua mãe 28 Cópia de prova: Não otimizada para impressão de alta qualidade ou distribuição digital


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olhando para aquele homem ao volante, parecia que o admirava tanto – VALDEVINO também ficava impressionado com aquele homem – como conseguia? Um caminhão tão grande e tão pesado? Puxa! Foi diver do, ele cantava junto com os ar stas do rádio, foi muito bom.

Mas para VALDEVINO ficara uma dúvida que o fizera pensar: “Por que quando chegamos ele foi apressando eu e minha mãe para descermos do caminhão? Ele dizia que não poderia ser visto fazendo aquelas coisas, não entendi o que ele poderia estar fazendo de errado, sei que nem deu a mão para nós, bateu nas minhas costas e disse: “Vê se não me complica menina, . . . desce, desce, desce” fechou a porta e acelerou, não entendi nada”.

Olhando para o firmamento naquela noite, NENECA decidiu que já era tempo de dar um novo rumo para a sua vida e que aquela profissão que exerceu, pra camente até o momento que desceu do caminhão, não seria a vida que queria para ela e seu filho. Um tanto vacilante, mas determinada, assim que VALDEVINO dormiu, já de madrugada, numa “fissura” que não conseguia se conter, resolveu fumar a úl ma pedra de crack que ainda restara, e nas primeiras horas do novo dia, caminhou até a conhecida rodoviária do Tietê. Correram 30 Cópia de prova: Não otimizada para impressão de alta qualidade ou distribuição digital


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em direção aos sanitários, sentaram por um bom tempo num daqueles bancos espalhados no local, assis ram algumas coisas naquelas TVs e ficaram apreciando toda a movimentação, os prédios enormes ao derredor, as pessoas apressadas, muitos ônibus chegando de vários locais e par ndo para des nos certos. Sem ter para onde ir, acabaram ficando. Vez ou outra, quando a fome apertava, NENECA da forma mais econômica que podia, pedia alguma coisa para comerem, o dinheiro estava acabando . . .

Já estavam dormindo, quando, por volta das dez horas da noite, dois seguranças se aproximaram:

- Escuta moça, você está sendo monitorada há umas doze horas dentro do prédio da rodoviária, você sabe que isto não é permi do. Em que podemos ajuda-la?

Como NENECA sem ação estava demorando para responder, VALDEVINO resolveu tomar a frente e disse:

- O moço do caminhão falou pra gente descer de pressa porque ele não queria complicação e acabamos ficando na rua.

Os seguranças simplesmente pediram para que os dois os acompanhassem, sob os protestos de NENECA: 32 Cópia de prova: Não otimizada para impressão de alta qualidade ou distribuição digital


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- Esse menino é pequeno, ele não sabe o que está dizendo, por favor nos deixem ir embora, eu só estava esperando a minha a . . .

Levaram os dois até uma cabine da polícia militar, que de pronto providenciaram para que os dois fossem conduzidos até a Delegacia de Polícia local. A autoridade policial chamou os representantes do conselho tutelar, fizeram os procedimentos iniciais com uma bateria de perguntas, tendo NENECA se negado a responder a respeito do local de onde vieram, como vieram, o que estavam fazendo na cidade, se nham ou não parentes em São Paulo e o tempo todo NENECA adver a o pequeno VALDEVINO:

- Filho, vê se não fala nada, eles vão nos complicar!

Os conselheiros tutelares fizeram os encaminhamentos, a garota para um local de jovens e adolescentes e o pobre VALDEVINO para um local de crianças.

Quase dois anos depois, até que a mãe de VALDEVINO completasse dezoito anos, ficaram separados. Durante todo esse tempo, NENECA preferiu manter-se em silêncio quanto ao seu local de nascimento, como chegaram aqui, o que fazia antes de vir para São Paulo. Dentro do internato conheceu 34 Cópia de prova: Não otimizada para impressão de alta qualidade ou distribuição digital


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pessoas que se interessaram pelo seu problema e a garan a de que seria empregada assim que saísse daquele local. NENECA nha muitos mo vos para deixar o seu passado no seu devido lugar, sua mãe era uma genitora totalmente indiferente e ausente. Aos nove anos de idade NENECA fora estuprada pelo seu padrasto, que seguiu violentando a pequena NENECA até a idade de uns doze anos, quando ela foi trabalhar na padaria do Sr. Manoel, um velho viúvo, com quase sessenta anos, por quem se apaixonou. Deste relacionamento nasceu VALDEVINO. Manoel morreu num assalto a mão armada em seu estabelecimento, quando tentou conter um dos assaltantes, isso aconteceu na frente da pequena NENECA, que na época estava grávida de oito meses.

Os procedimentos burocrá cos seguiam no compasso que seguem os procedimentos legais, a passos lentos, sem pressa, até que a solução que é mediada pelo tempo aconteça e daí para frente o Estado lava as mãos. Pouparei o leitor de trazer passo a passo quais são os procedimentos legais que cabem nesta história do VALDEVINO e NENECA para voltarmos dois anos depois onde realmente interessa.

NENECA esperou até o dia 21 de setembro quando completou dezoito anos de idade para informar ao pastor 36 Cópia de prova: Não otimizada para impressão de alta qualidade ou distribuição digital


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RAMIRES e sua esposa ADÉLIA (voluntários que prestavam assistência no local ) que o que procuravam poderia ser encontrado no cartório de registro civil de Salvador pelo nome de ADELAIDE GONÇALVES DA SILVA – Nasc.: 21/09/1.990 – assim, teriam os dados necessários para providenciar os documentos que queriam, ou se preferissem, na Delegacia de Salvador, as autoridades poderiam também ajuda-los, visto que ela contava com várias passagens por mo vos diversos. Não preciso dizer que NENECA, tendo vivido e convivido com todo o po de pessoas, conhecia muita coisa a respeito de leis, tendo por esta razão se comportado como fez. Na cabeça de NENECA, a sua história nas ruas deixaram um saldo nega vo que ela acreditava que não conseguiria saldar. NENECA, que vera experiências anteriores de dormir nas ruas não se esquece daquela noite, que com roupas inadequadas ao frio da capital, no seu primeiro dia em São Paulo, teve que fazê-lo na companhia de VALDEVINO que também sen u muito frio. Naquele dia, quando passava por cima do viaduto que dá acesso à Rodoviária resolveu jogar um saco plás co contendo seus documentos pessoais, o cachimbo de crack, um san nho com a oração de Santa Madalena, um pequeno caderno contendo várias anotações de dívidas, endereços e telefones de 38 Cópia de prova: Não otimizada para impressão de alta qualidade ou distribuição digital


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conhecidos e algumas frases soltas que escrevia quando estava muito deprimida, olhou para baixo enquanto o rio se encarregava de levar as coisas que poderiam iden fica-la e pensou: “Eu quero uma vida nova com o meu pequeno!! A vida não pode ser isso que estamos vivendo . . . Não acredito que seja!! ”.

NENECA, falando consigo mesma repe a insistentemente e sem parar essas palavras. A essa altura, o casal que vinha acompanhando

NENECA

e

VALDEVINO

entendiam

perfeitamente o porquê de NENECA não conseguir confiar nas pessoas. De certa forma aquele local (internato) e também o recolhimento de VALDEVINO, foram as ‘melhores’ coisas que poderiam ter acontecido diante de tudo que ela havia passado desde a tenra idade. Os primeiros dias no internato foram horríveis, se sen a só, seu corpo sen a falta de álcool, crack, longe do seu filho, num lugar que dividia com estranhos com quem não queria conversar, um cheiro horrível de desinfetante barato misturado com urina e suor. Sem se alimentar nos primeiros dias, NENECA foi levada para a enfermaria, tendo o médico diagnos cado que NENECA estava debilitada, com começo de pneumonia e síndrome de abs nência de drogas. Medicada, ficou dois dias se alimentando na base de soros 40 Cópia de prova: Não otimizada para impressão de alta qualidade ou distribuição digital


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fisiológicos e outros medicamentos para amenizar a “fissura”, que causava um transtorno que nunca sen ra. Suava muito, o corpo todo tremulo, nada resolvia, queria sair correndo mas já não

nha forças, sua cabeça rodava com pensamentos

acelerados e desconexos, temia que algo de muito ruim estava para acontecer e seria logo, que a morte estava sorrindo, lhe chamando para um local que não sabia o que poderia encontrar. Aos gritos de pavor incon do, ela só conseguia lembrar do seu filho:

- VALDEVINO, . . . VALDEVINO, . . . meu filho! ! ! . . . me ajude! ! ! . . . Eu não quero morrer! ! ! Por favor . . . Por favor . . .

A dor das pessoas, por mais que queiramos, não conseguiremos jamais traduzir com palavras, principalmente quando esta ‘dor’ vem acompanhada do medo do desconhecido, da depressão consequente de perdas irreparáveis, da solidão provocada, alheia a sua vontade, do total desamparo e abandono, quando não temos ‘ferramentas’ para reagir.

NENECA, ainda levaria alguns meses para se desintoxicar e como sabem, o desconforto, a depressão, a ansiedade, as reações fisiológicas que ocorrem nestes casos, reclamam 42 Cópia de prova: Não otimizada para impressão de alta qualidade ou distribuição digital


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atendimentos médico de tempos em tempos. NENECA ainda estava se convalescendo quando conheceu o casal de pastores que se aproximaram dela e a cumprimentaram com uma saudação:

- A paz do senhor irmã.

NENECA não disse nada, aliás, ela sequer saberia o que responder, mesmo que quisesse. Segunda quinzena de outubro, sol da tarde de uma quinta feira perfumada com bastante verde e flores desabrochando no jardim daquele local estranho. Grupos de meninas em cantos diferentes do pá o falando das suas coisas, as vezes rindo, muitas vezes gritando umas com as outras, andando em círculos e até ignorando a presença de NENECA. O casal pediu licença e sentaram-se um de cada lado daquela menina perguntando inicialmente o seu nome, seguiram perguntando se ela nha alguma religião, de onde era, NENECA desconfiada respondeu com outra pergunta:

- Quem são vocês?

Não contente com a resposta retrucou:

- Afinal, que apito vocês tocam?

O pastor com muita calma lhe disse: 44 Cópia de prova: Não otimizada para impressão de alta qualidade ou distribuição digital


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- Pensando bem, realmente não importa saber quem é você, estou certo que o importante é saber que estamos na frente de uma filha de Deus. Para ser mais claro, não importa sequer saber o que você fez ou tem feito, o importante, repito, é ter certeza que estamos na frente de uma das filhas do criador, que é nossa irmã em Cristo o ‘salvador’. . . Amém irmã, . . . amém.

NENECA, fazendo cara de poucos amigos respondeu:

- O criador de vocês é um grandessíssimo “filho da puta” é isso que ele é ! ! !

E saiu correndo para dentro das dependências do prédio. Uma inspetora, vendo a cena correu na direção de NENECA e aos gritos passou a repreende-la, momento em que a pastora também correu naquela direção dizendo que não havia necessidade de con nuar com aquela reprimenda ou qualquer outra coisa e que aquele mal-entendido se resolveria sozinho sem maiores problemas. Pediu encarecidamente para a funcionária que esquecesse o episódio. NENECA foi para o quarto, sem entender muito bem o que havia acontecido. Afinal, ela realmente ofendeu aquele homem e talvez quem mais pudesse ter ouvido, e se depender do casal, não sofrerá 46 Cópia de prova: Não otimizada para impressão de alta qualidade ou distribuição digital


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nenhuma punição pelo seu feito? Aquilo não era exatamente o que experimentou durante toda a sua vida, não que quisesse pagar alguma coisa pelo seu ato, afinal de contas, achava que pagava e muito por coisas que não dependiam dela em nada. Ora, simplesmente pelo fato de exis r?

- Quem que inventou essa “pa faria toda” que se apresente!!! Eu quero saber por que as coisas são de um jeito para uns e de outro jeito completamente diferente para outros!!!

Dizia ela para si mesma. . .

- Por que alguém pode jogar fora determinadas coisas que muitos não têm?? E, ainda, por que os despossuídos tem que passar fome?? Os privilegiados que seguem negando migalhas, por acaso sabem como é duro ouvir o “estomago roncar”?? . . . Mesmo que ouçam esse maldito barulho aqui ou ali, eles não têm a menor ideia do que é a sua carne se devorando para manter acesa aquela chama “apagada” da sua vida que espera tão somente ser saciada . . . Qual é o sen do da vida??

Com estas perturbações todas e com os sintomas que sen a na fase crí ca da abs nência seria muito exigir de um ser 48 Cópia de prova: Não otimizada para impressão de alta qualidade ou distribuição digital


humano um comportamento mais sociável. Parece que quando aprendemos através da “dor”, o refle r, o pensar a respeito das causas que nos afetam e que nos fazem sofrer, as respostas, simplesmente ‘acontecem’ sem que tenhamos de nos dedicar a qualquer po de reflexão mais profunda ou a qualquer modo de pensar mais elaborado. A “dor” por si só se encarrega de trazer para as entranhas do entendimento a resposta necessária para que o ser que padece possa intervir com ações pontuais de forma pragmá ca, não importando em que po de “lógica” esta resposta vai se estribar ou se escorar.

Os dias que sucederam aqueles primeiros, cerca de uns quinze a vinte dias, pareciam ser mais amenos, um tanto enfadonhos por certo, mas suportáveis, essa coisa de dependência sica e psicológica de algum po de droga que altera os estados psicológicos ou os humores dos indivíduos, quando u lizados na pré-adolescência ou na adolescência propriamente dita, parece que impregnam a estrutura cerebral destes seres de tal forma, que eles mesmo diante da execrável condição de vida que se submetem, con nuam a buscar nas drogas, a ferramenta necessária para o seu deleite, parece ser esta a única forma de “alteração de consciência“ capaz de lhes trazer alguma sensação de prazer. Sem qualquer escrúpulo, 49 Cópia de prova: Não otimizada para impressão de alta qualidade ou distribuição digital


num determinado estágio, passam a viver em função de adquirir a tal droga de qualquer jeito, não importa o preço que tenham que pagar antes ou depois, os dados que mostram (menos de dois dígitos) o índice de pessoas que se recuperam depois de experimentarem por um certo tempo determinados pos de drogas são assustadores. A arquitetura cerebral destes indivíduos não obedece a uma lógica conhecida e, portanto, nenhum po de inves da contra a sua “vontade” poderá dar certo. As conhecidas formas de ação que conseguem resultados prá cos consideráveis estão sempre relacionadas com a “vontade incondicional“ do paciente de se reestruturar mentalmente, subs tuindo a mencionada “ferramenta” por uma outra num primeiro momento, reavaliando e também subs tuindo paula namente todos aqueles credos e valores que alicerçavam a sua vida anterior por outros que tenham como suporte este novo instrumento. Certamente não é uma coisa conhecida do grande público e nem é tão pouco uma a vidade que atraia a grande maioria das pessoas. Para ser mais claro, diria que a a vidade de auxílio aos dependentes de drogas, é uma coisa restrita aos familiares (quando interessados), aos profissionais ligados a saúde mental e também aos religiosos que costumam inves r no “resgate de 50 Cópia de prova: Não otimizada para impressão de alta qualidade ou distribuição digital


almas”.

Parece que NENECA encontrou no seu novo ‘lar’ as condições mínimas necessárias para que pudesse rever a sua vida. Nos dois anos que passou naquele internato se dedicou ao estudo e leitura das chamadas escrituras sagradas. Durante este tempo, recebia com entusiasmo o casal de pastores com os quais fazia as suas orações e também estudos, por intermédio dos referidos pastores também se comunicava com seu filho, inicialmente através de fitas. Posteriormente obteve autorização para visita-lo pessoalmente, em outras palavras, NENECA se reconstruiu como uma nova pessoa. Se esta, não é a melhor condição que um ser humano pode ter, pelo menos é a condição socialmente aceita e, portanto, foi a forma que NENECA adotou para que pudesse ter uma vida “normal”.

Aceitar os “ensinamentos” exige sacri cios de todo po, NENECA na sua ânsia de solucionar os seus problemas, aceitou os propósitos da sua nova religião sem qualquer ques onamento, isto significou ter um novo

po de

comportamento, uma nova forma de se ves r, estar vigilante e diligente na condução de sua vida, dedicar-se aos trabalhos voluntários na igreja, contribuir com o dizimo, pregar a “palavra” sempre que ver uma oportunidade, agradecer ao 51 Cópia de prova: Não otimizada para impressão de alta qualidade ou distribuição digital


criador por tudo que receber, no caso de dificuldade saber contornar sem blasfemar, orar, orar, orar e orar . . . Tudo isso fazia questão de passar para o VALDEVINO que vivia confuso com relação a “salvação”, imaginem, dizia ele para si mesmo, que quase todas as pessoas que conhece irão para o inferno. No tal quintal, habitação cole va, ninguém seguia os “mandamentos”, uns bebiam até cair, outros consumiam drogas, come am adultério, outros roubavam, na esquina de baixo diziam que era uma “boca”, onde vendiam drogas, a polícia estava sempre por lá, vira e mexe alguém é morto a ros ou facadas. Desde pequenas as crianças agridem fisicamente umas as outras, soltam balões, aparecem com carros roubados, bicicletas, motos, um monte de coisas que vendem para os moradores, até o caminhão de alimentos encostara certo dia e começaram a distribuir macarrão, salgadinhos, bolos, pães de forma, um monte de coisas . . . NENECA não quis e também não deixou que VALDEVINO pegasse nada! Não nha jeito estavam todos condenados.

Como sabem, VALDEVIDO é albino, não pode ficar exposto ao sol, conhecia o pequeno campo de futebol há uns duzentos metros da sua casa, pois quando saía com sua mãe para ir à algum lugar passavam em frente, contudo, vivia 52 Cópia de prova: Não otimizada para impressão de alta qualidade ou distribuição digital


sempre em locais cobertos. No acesso (porta) da sua casa havia uma proteção com telhas que avançavam para fora e isso permi a a VALDEVINO ficar sentado e apreciar o movimento daquela comunidade, quando não estava na porta, abria a janela que também lhe permi a ter a mesma visão.

Com o passar do tempo conheceu um garoto um pouco mais velho que em decorrência da “poliomielite” u lizava uma cadeira de rodas para se locomover, em pouco tempo se tornaram amigos. Um outro amigo que fizera era o “JOÃO Banha”, era um garoto na época com dez anos, foi violentamente agredido pelos seus colegas e expulso da roda de amigos depois de ter, segundo eles, “amarelado” numa tenta va de roubo contra um “ play boy “ que de tempos em tempos aparecia na comunidade. Conta o JOÃO Banha, que o tal play boy aparecia umas duas vezes por semana naquela comunidade para buscar drogas na boca, o cara estava sempre bem trajado e normalmente aparecia com uma ‘bike nervosa’ segundo o JOÃO. O “Banha” e mais dois outros amigos resolveram assaltar o estranho, inicialmente imaginaram que seria melhor antes que ele comprasse o “bagulho”, afinal de contas o cara estaria com dinheiro, walkman, tênis, a bike, capacete, jaleco, relógio, mas depois concluíram que os caras 53 Cópia de prova: Não otimizada para impressão de alta qualidade ou distribuição digital


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da “boca” poderiam ficar furiosos por atrapalharem o comércio e assim resolveram que iriam assalta-lo no topo do morro, na saída da “favela”. No dia marcado, o “banha”, assim que o “play boy” em baixa velocidade es vesse passando num determinado ponto, deveria se jogar em cima dele e derrubalo, seria o momento em que os outros dois se aproximariam e concluiriam o roubo propriamente dito. Mas no momento que o “Banha” se preparava para dar o “bote”, ele ouviu um barulho de helicóptero, imaginou coisas, e não realizou o que haviam combinado. Os seus parceiros que estavam logo a frente, tentaram derrubar o estranho que cambaleando conseguiu driblar os outros dois, empreendendo fuga. A uns cem metros na frente, olhou para trás e viu que acabara de se safar de uma tenta va de roubo, o “Banha” apanhou muito neste dia, ficou desacordado por mais de hora, quando com muito custo conseguiu chegar no “barraco” onde morava. No entanto, o patrão (dono da boca) o aguardava, lhe disse um monte de coisas e o ameaçou de morte se aquilo voltasse a acontecer esbofeteando-o por três vezes na frente de uma plateia de mais de dez pessoas, além dos dois outros parceiros que a tudo assis am com um certo ar de sa sfação.

Bem, o roubo não foi consumado e o tal “play boy” não 55 Cópia de prova: Não otimizada para impressão de alta qualidade ou distribuição digital


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foi mais visto na comunidade, o que aparecia por lá eram os carrões, motos de todo po, mas o pessoal entendia que lá não era lugar para fazer qualquer coisa. A curta, porém, trágica história de crimes do “Banha” e o que sabia a respeito, rendia longas conversas.

AGNALDO (o garoto cadeirante), nha três irmãos, os três de alguma forma estavam envolvidos no crime. Um deles maior de dezoito anos estava preso, e dentre os dois outros menores havia o garoto que era um dos “aviões” da boca, e a menina, desde os treze anos de idade amante do tal “patrão”. Do irmão mais velho, AGNALDO sabe que era um assaltante conhecido, envolvido em vários casos de roubo a grandes estabelecimentos, sequestros de gente famosa, que não por acaso lhe renderam muitas no cias de jornais. Era o mais famoso da comunidade, desde muito cedo foi “adotado” pelos “bam-bam-bans” do crime. Atualmente AGNALDO não tem no cias do irmão, comentam que entrou para uma facção, falam que ele é um “Torre”, na hierarquia ele é conhecido pelo apelido de “Marrom”.

Já o “Banha”, nha dois irmãos, o mais velho ele nunca soube sequer o paradeiro, o mesmo, assim que nasceu foi adotado por um casal de “bacanas” que nunca quis contato 58 Cópia de prova: Não otimizada para impressão de alta qualidade ou distribuição digital


com a sua família, o outro, maior de dezoito anos, trabalha numa boate famosa no centro de São Paulo, diz o “Banha” que ele é um grande “transformista”, já apareceu em programas de televisão e tudo o mais, ul mamente não tem aparecido na comunidade.

AGNALDO mora com os pais e os dois irmãos, o “Banha” mora com a mãe, separada, que também trabalha em algum lugar que ele não sabe informar. VALDEVINO estuda de manhã na mesma sala que AGNALDO, o “Banha” deixou de estudar há algum tempo, não gosta de estudar, na verdade sonhava poder arrumar alguma coisa para fazer na “boca”, mas com tudo isso que aconteceu, certamente não acha que terá alguma chance. A vida para eles acontece como um mero suceder de dias, uns iguais aos outros, exceto quando acontece um fato novo na “favela”, geralmente quando matam alguém, as pessoas comentando como foi, por que aconteceu tal coisa, dependendo, vem gente da televisão falar com os parentes, mostrar os conhecidos que foram ví mas. Também quando a polícia fecha um cerco e apreendem coisas, drogas, os próprios caras que estão envolvidos e aí novamente a televisão, de resto são os festejos de natal, final de ano e campeonato de futebol que rendem conversas e conversas e até presentes. 59 Cópia de prova: Não otimizada para impressão de alta qualidade ou distribuição digital


Durante intermináveis úl mos quase cinco anos a vida de VALDEVINO se resumiu em levantar pela manhã de segunda a sexta feiras, quando a sua mãe o deixa na escola, de volta da escola, comer alguma coisa, ficar de frente a televisão durante horas e rar algum tempo para conversar com os amigos. A vida durante o tempo que ficou no internato (dois anos) e esse tempo que vem passando de forma igual e repe

va parecia

interminável, sen a muita pena de sua mãe que devia trabalhar como ninguém, acordava por volta das 5:30hs e ia dormir por volta de meia noite quando terminava os seus afazeres em casa, invariavelmente muito cansada.

Mal se iniciara aquele ano e o VALDEVINO acaba ficando em casa o dia todo, os professores haviam entrado em greve e os portões da sua escola estavam fechados, acima dos portões uma faixa enorme escrita “ ESTAMOS EM GREVE “, VALDEVINO não entendia muito bem porque eles (professores) não estavam dando aulas, os dois amigos de VALDEVINO passaram a encontra-lo com mais frequência, agora, também pela manhã, as conversas incluíam a tal “greve”:

- Até quando?? Por que?? Quem que é culpado?? Por que o tal governo não paga o que os professores estão pedindo?? E se os professores não voltarem?? 60 Cópia de prova: Não otimizada para impressão de alta qualidade ou distribuição digital


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A comunidade parecia agora estar com mais gente, garotos e garotas brincando naquelas vielas, indo e vido de lugares diferente para outros lugares, foi quando VALDEVINO teve uma ideia:

- A minha mãe poderia fazer aquelas cocadas em quan dade e eu as venderia aqui mesmo, veja só quantas pessoas nas ruas . . .

Quando Neneca chegou em casa, VALDEVINO ansioso lhe contou a ideia que vera:

- Mãeeeeeee ! ! ! Podemos ganhar muito dinheiro ! ! !

NENECA, a princípio disse ao seu filho que ele era muito “pequeno” para pensar em trabalho, mas não teve jeito, quase não dormiu naquela noite pensando no que VALDEVINO lhe dissera. No dia seguinte, antes de se despedir de seu filho lhe perguntou:

- VALDEVINO, você tem certeza que queres vender doces de tabuleiro?

No que VALDEVINO lhe respondeu quase que instantaneamente:

- Mãe, adoraria . . . vamos ganhar muito dinheiro . . . 62 Cópia de prova: Não otimizada para impressão de alta qualidade ou distribuição digital


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NENECA sai para trabalhar e VALDEVINO fica imaginando como vai ser. O dia transcorreu normalmente, VALDEVINO contou a novidade para os seus dois amigos que chegaram logo depois que a sua mãe saiu:

- Gente, minha mãe aceitou montar um tabuleiro aqui na nossa porta, ela sabe fazer cocadas de todo o po, com gosto de frutas, branca, queimada, nós vamos ganhar dinheiro!!

O “Banha” foi logo perguntando:

– Tá, de quem vai ser o dinheiro??

– Da minha mãe!! Ela é que vai fazer as cocadas!!

- Tudo bem, mas é você que vai vender!!

- Ah, isso não importa, eu vou ficar contente em poder ajuda-la. . .

Naquela noite NENECA voltou para casa com um enorme tabuleiro e um saco plás co contendo uns cinco sacos feitos de linha de algodão (brancos), enquanto abria os sacos para lavalos e alveja-os, comentou com VALDEVINO que conversou com o Sr. Nakata, dono de um pequeno mercado próximo do local onde trabalhava e ele acabou fazendo o tabuleiro e lhe conseguira aqueles sacos brancos para reves r. Na verdade, 64 Cópia de prova: Não otimizada para impressão de alta qualidade ou distribuição digital


NENECA estava preocupada com os úl mos acontecimentos. O casal de pastores que a acolheu durante esse tempo, estava passando por uma situação financeira di cil, pois o seu patrão havia sido despedido do emprego. NENECA, em virtude deste fato, passou a trabalhar também para os pastores, mas agora como diarista. Trabalhava na casa do casal dois dias da semana e nos demais dias trabalhava para outras famílias por indicação destes. Trabalhava bem mais agora, e o que ganhava mal dava para honrar os seus compromissos. Neste sen do, quando VALDEVINO trouxe a sua ideia, NENECA, até por falta de opção, acabou aceitando sem hesitar. Aquela noite, era uma quinta – feira, NENECA comentou com VALDEVINO que os sacos agora alvejados estariam secos no dia seguinte, já no sábado ela iria iniciar o trabalho de confeccionar os doces e que poderiam fazer um teste (vender) no domingo. Discu ram e providenciaram um suporte para o tal “tabuleiro” e, no sábado, altas horas da noite, quem passava nas proximidades já podia sen r o cheiro agradável do coco queimado e de outros aromas próprios da confecção dos tais doces.

VALDEVINO, como ajudante mirim fazia o que podia, mas não se esquecia de raspar as panelas, comer aqueles doces que “quebravam”. NENECA, gostava de frequentar os cultos da sua 65 Cópia de prova: Não otimizada para impressão de alta qualidade ou distribuição digital


igreja pela manhã e decidiu que levaria o tabuleiro e os doces para serem vendidos aos “irmãos” de sua igreja. Pela manhã, no domingo, NENECA, VALDEVINO e o “Banha”, carregando os apetrechos e os doces, foram até a igreja e depois de obter a autorização do pastor, montaram o “tabuleiro” já quase na saída do prédio.

Após o culto, dado que o pastor explicou aos presentes que havia autorizado a “irmã Neneca” a u lizar aquele pequeno espaço para a venda de seus doces, os irmãos, na fé, resolveram que deveriam colaborar com NENECA e em poucos minutos foram vendidos todos aqueles doces. NENECA não se con nha de alegria e VALDEVINO nunca havia visto tanto dinheiro daquele jeito. Quando o pastor saiu na porta, contente pelo resultado e também comentando que a sua mulher havia gostado do doce, disse que na verdade estava curioso para experimentar. NENECA prometeu que lhe traria quantas unidades ele quisesse já na segunda-feira, tendo o pastor lhe dito que poderia vender os seus doces naquele local os dias que achasse conveniente. NENECA entendeu que tudo o que estava acontecendo era uma “benção”, para ela não nha outra explicação. Em pouco tempo, NENECA conseguiu equilibrar as suas finanças domés cas com a nova a vidade e o seu trabalho 66 Cópia de prova: Não otimizada para impressão de alta qualidade ou distribuição digital


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de diarista mesmo sendo esta úl ma um tanto instável. Com a volta as aulas, VALDEVINO passou a trabalhar meio período, montava o seu tabuleiro na porta da sua residência e lá ficava até o anoitecer vendendo as tais cocadas. Às terças, quintas e domingos ele e sua mãe montavam o tabuleiro de doces para serem vendidos depois do culto. O “Banha” uma vez ou outra acompanhava o seu amigo e sua mãe até a igreja e, não raro, ele e o AGNALDO faziam companhia para o VALDEVINO nas tardes de segunda a sábado.

Passaram-se os dias e no final daquele ano as pessoas já estavam apreensivas com os festejos natalinos e final de ano, mês de dezembro, férias escolares, presentes vindos de desconhecidos e conhecidos, a comunidade parece mais alegre, com sons de músicas com sinos, vez ou outra diferentes Papais Noel trazendo brinquedos, roupas e sapatos usados (muitos em bom estado), doces, entre outras coisas. No centro comunitário costumam fazer festa, com palhaços, grupos musicais, pipocas, cachorros-quente, refrigerantes, é um mês muito aguardado, principalmente pelas crianças que não escondem a felicidade que sentem. É possível que em virtude do ganho extra das pessoas nesta época (13ª. Salário) até os comércios da comunidade acabam ganhando mais, as a vidades de NENECA 68 Cópia de prova: Não otimizada para impressão de alta qualidade ou distribuição digital


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neste mês, não obstante, aumentou significa vamente. O “marrom” irmão mais velho de AGNALDO, juntamente com milhares de outros “presidiários” conseguiram o bene cio de poder passar o natal com a família (saidinha).

VALDEVINO contava com treze anos, fazia a 7º série no ensino fundamental do colégio local “E.E. CLOTILDE PEÇANHA” quando apresentou o seu trabalho de artes na data alusiva ao dia do índio (19 de abril) para uma grande plateia do seu colégio. Na verdade, o seu trabalho foi um dos três selecionados para serem apresentados nesse evento. Os dois outros eram peças teatrais de duas outras classes de outros turnos. VALDEVINO apresentou na ocasião um RAP in tulado “POR QUE A CABEÇA DA GENTE NÃO PARA DE PENSAR”Acanhado, pensando em desis r, quase que empurrado, subiu no palco acompanhado do (DJ JOÃO Banha) e do VOCALISTA AGNALDO.

C A B E Ç A ///////

I

Por que a cabeça? ? ?

Por que a cabeça? ? ? 70 Cópia de prova: Não otimizada para impressão de alta qualidade ou distribuição digital


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Pensa, pensa, sem parar

Por que a cabeça? ? ?

Por que a cabeça? ? ?

Não para de pensar.

II

Não sei com que rima

Busquei ser poeta

Isso foi quando fui e

Não consegui voltar . . .

III

Caí num abismo

Meu corpo fez festa

Não sei o que presta

Quero me levantar

IV - bis

Eu sou desse jeito

Procuro respostas 72 Cópia de prova: Não otimizada para impressão de alta qualidade ou distribuição digital


Mas sempre as apostas

Me fazem pensar.

V

Se tenho direitos

Mesmo com esse meu jeito

O que é que procuro?

Eu sei lá, . . . eu sei lá, . . .

VI -bis

Quem sabe um dia

Encontre a sorte

E meu verso inteiro

Venham declamar

VII

Quem sabe daí . . .

Um cara de porte

Abrace a morte

Que vem me espreitar. 73 Cópia de prova: Não otimizada para impressão de alta qualidade ou distribuição digital


VIII -bis

Eu faço um trato

Eu dou meu “retrato”

Você me adota e

Eu vou até lá . . .

IX

Não conheço o lugar

Mas isso não importa

Se é essa a porta

Que eu vou encontrar . . .

O tempo todo dizia para os colegas que não deveria se apresentar, bastavam os dois, o JOÃO Banha e o AGNALDO, ele iria atrapalhar, não nha pinta de ar sta, ele não nasceu para isso. Em frações de segundos se via diante do espelho com aquela cara que não se agradava, cheia de pintas, cabelos vermelhos espetados, nem com reza conseguia penteá-los, magro, mesmo com a sua melhor roupa não conseguia ver nada que lhe agradasse: 74 Cópia de prova: Não otimizada para impressão de alta qualidade ou distribuição digital


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- Imaginem todos vão rir de mim!! (Dizia ele aos parceiros).

Agnaldo retrucava:

- E eu de cadeira de rodas ? ? ?

No que VALDEVINO respondeu que havia visto o MANO BROWN dos Racionais no VideoTube se apresentando de cadeira de rodas e sem problemas. Banha, também disse que ele não gostava do que via no espelho, mas:

- ÉH NÓIS MANO . . . vamo que vamo!!

Precipitando a entrada. O apresentador, um radialista da rádio comunitária local, (Zumbi-FM) bastante conhecido na comunidade, iniciou a apresentação do grupo:

- Atenção rapaziada é nóis!!! É chegado o momento de apresentar o grupo vencedor no quesito musical, ganhou o RP, . . . atenção ganhou o RP . . . quem adivinhar ganha um doce . . . será que foi a turma da noite?? . . .

A plateia: “NÃOOOOOOOOO” . . .

- Foi algum grupo da tardeeeeeeeee?? . . .

A platéia “NÃOOOOOOO” . . . 76 Cópia de prova: Não otimizada para impressão de alta qualidade ou distribuição digital


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-

Então

foi

um

grupo

da

turma

da

manhãaaaaaaaaaaaaaaaaa???

E o público quase que ao delírio “CABEÇA, CABEÇA, CABEÇA . . .” alternado e misturando gritos com “ GALEGO, GALEGO, GALEGO . . .”, “BANHA, BANHA, BANHA . . .”, “CURIÓ, CURIÓ, CURIÓ . . .”

- Agora com vocês o grupo vencedor “PEGADAS MCs”

A plateia foi ao delírio. . . VALDEVINO (Galego), a par r daí não lembra de mais nada, o que sabe é o que vê nas gravações em vídeos que fizeram e lhe deram uma cópia, vídeo que também foi postado na internet. Realmente nada que imaginou ser, aconteceu: caminhoneiro, cabeleireiro famoso, pastor, professor, o “bam, bam, bam” em informá ca, mas sim um aspirante a compositor, já famoso no seu pedaço.

Em nome dos VALDEVINOS desse país con nente, de cor branca, preta, parda, vermelha, amarela, e por todas as NENECAS imigrantes, na vas, altas, baixas, gordas, magras, alfabe zadas ou não, religiosas ou não, quero dedicar esse pequeno trabalho mandando um “SALVE” para os irmãos que com seus talentos sem igual, conseguiram de verdade trazer VISIBILIDADE para um grupo de milhões de pessoas que viviam 78 Cópia de prova: Não otimizada para impressão de alta qualidade ou distribuição digital


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a margem da sociedade, simplesmente por não terem um representante com a sua iden dade e suas digitais. Ao cantor ZECA PAGODINHO que não sabia o que era caviar, ao grupo de rap RACIONAIS Mc’s que procuram a fórmula mágica da paz, às Escolas Públicas “CLOTILDES PEÇANHAS” que sabem qual é o verdadeiro papel da educação, aos atletas olímpicos que vindos das mais diversas comunidades, emprestam suas medalhas e o seu pres gio para que os nossos irmãos consigam sonhar um mundo melhor, aos escritores, poetas, ar stas plás cos que “forjados” na luta desigual da sobrevivência, fazem dos seus talentos impares, uma razão para a existência inclusive daqueles que dão causa.

ÉH NÓIS MANO, SEMPRE . . .

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