Bertioga, público não vai ao cinema nem de graça

Em Bertioga, público não vai ao cinema nem de graça Sábado, 17 de abril de 2010 Disponível em: http://www.online.unisanta.br/2010/04-17/cultura-3.htm Vagner de Lima Bertioga não tem nenhum cinema comercial há quase três anos. A cidade é pobre em opções de lazer, cultura e entretenimento para os moradores. Poucos sabem, ou não dão atenção, mas existe um cineclube, que exibe filmes e documentários gratuitamente, às sextas e domingos. As sessões, no entanto, estão sempre vazias.

O Cineclube Buriquioca foi idealizado há pouco mais de dois anos pela professora e jornalista Daysi Camargo. “Fui atriz de teatro amador e de televisão”. Ela criou o projeto pelo amor às artes e a cultura. O nome dado ao projeto tem explicação. "É uma homenagem ao primeiro nome de Bertioga, que era chamada de Buriquioca".

Essa paixão é tamanha, que Daysi exibe seus filmes mesmo quando não aparecem tantos espectadores na Sala de Cinema da Casa da Cultura, espaço cedido pela Prefeitura Municipal da Cidade. Antes, o cineclube já teve dois endereços: no piso superior de um restaurante na orla da praia, e em um espaço cedido por um shopping.

No dia 26 de março, quatro pessoas compareceram para assistir a ‘Vlado’, filme sobre o jornalista Vladimir Herzog. Em 4 de abril, só duas pessoas assistiram à exibição de ‘Um Homem de Moral’, documentário sobre o compositor Paulo Vanzolini. Já no domingo seguinte (11 de abril), o público foi maior: dezesseis pessoas viram “Coco Antes de Channel”, filme biográfico sobre Gabrielle Coco Channel, estilista francesa e criadora de um império da indústria da moda, a Channel. Na sala de exibição, cabem, confortavelmente, cem pessoas.

O baixo público não é por falta de divulgação. Toda semana, a programação é publicada nos jornais da cidade. “As pessoas preferem ficar em casa assistindo ao Fantástico, a vir ver um bom filme”, lamenta Daysi.

A escolha dos filmes é feita por ela mesma. Daysi, às vezes, recebe doações de filmes, ou tira do próprio bolso para comprá-los. “Chego a pagar até R$ 50 pelos DVDs”. Ela acredita que a Prefeitura deveria dar maior apoio ao projeto. “A parceria que temos é só com o espaço, não tenho apoio cultural”. Os aparelhos necessários para a exibição, como o dvd player e o projetor, são da própria Daysi.

O atendente de farmácia Rafael Faro dos Santos assistiu à exibição de ‘Coco` e ficou encantado com o filme. Ele tinha ouvido falar do cineclube, mas nunca teve a curiosidade de visitar o projeto.

“Voltarei mais vezes, achei ótimo o projeto. É uma pena que a população da cidade não venha ao cineclube. Bertioga precisa de mais projetos culturais como esse. O povo aqui é muito carente de informação, de programas culturais de qualidade”.

Cineclubes- Os cineclubes são associações culturais sem fins lucrativos que tem por finalidade estimular seus membros a ver, discutir e refletir sobre cinema, e não precisam pagar direitos autorais pela exibição das obras.

Enquanto o público assiste às obras, Daysi fica na porta da Casa da Cultura, incansável, convidando

as pessoas que passam pela rua a prestigiar seu trabalho. "Estou com pressa" e "Na próxima oportunidade venho com mais tempo" são as respostas mais comuns. Antes da exibição, a professora faz uma apresentação sobre o filme.

Fora os problemas de público, o cineclube ainda é alvo de piadas e comentários preconceituosos sobre as exibições dos filmes. “Hoje vai passar Avatar”, soltou um dos guardas municipais que fazia a segurança do local.

Serviço- As apresentações do ‘Cineclube Buriquioca’ acontecem na Sala de Cinema da Casa da Cultura, que fica localizada na Rua Thomé de Souza, 130, no Centro, às sextas e domingos, à partir das 20h. A entrada é gratuita.