O Deus Vivo e Verdadeiro - O Mistério da Trindade - Luis Ladaria

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INTRODUÇÃO AO TRATADO

ria34.53Falar de um Deus em três pessoas seria politeísmo; não se trata portan­ to de três pessoas, mas de uma pessoa tríplice, enquanto rnnrmum ens, swttma intelligentia, sumrnum bonum15. E claro com esses pressupostos que Jesus não pode ser Deus, em sentido estrito, senão "homem divino”, o ideal sublime de virtude inato em nossa razão. Com efeito, "na manifestação do Deushomem não é o que se apresenta aos sentidos ou pode ser conhecido por experiência, senão o modelo existente em nossa razão o que constitui pro­ priamente o objeto da fé santificante”36.73Parece por conseguinte que a própria figura histórica de Jesus é considerada, em últim o termo, irrelevante. N ão é nosso intento desenvolver agora a filosofia k a n tia n a da reli­ gião, mas somente aduzir um exemplo significativo para ver com o a teo­ logia trinitária é a prim eira a desaparecer quando se trata de buscar um deus e uma religião válidos para todos e submetidos às leis da razão erigidas em norm a suprema. Certam ente a Igreja combateu esse racionalismo, mas a necessidade da luta leva às vezes ao terreno do adversário. A preocupação apologética obriga a m anter-se em um terreno de noções comuns, e assim a peculiaridade do Deus cristão fica relegada a um segundo momento, uma vez que se mostrou que a revelação de D eus é possível; os conteúdos dessa revelação, e em concreto as características do Deus que se dá a co­ nhecer na encarnação, não aparecem no prim eiro plano desse confronto57. Uma determinada concepção da relação entre a natureza e a graça pode ter ajudado essa visão das coisas. A natureza, e com ela o conceito de Deus que pela razão se pode alcançar, teria um sentido em si mesma; a revelação sobrenatural vem acrescentar novos conteúdos a um horizonte que per se 34. Ibid., 145ss. 35. Cf. A. M ILANO, La 11111112 dei teologi e dei filosofi, in A. PAVAN; A. M ILANO (ed.), Persona e personalismi, N ápoles, 1987, 120. 36. KANT, op. cit-, 139. E em Der Streit der Fakultäten, in Gesammelte Werke, VH, 39: “A situação é exatamente a mesma (como a da Trindade) para a doutrina da encarnação de uma pessoa da divindade. Pois se esse Deus-homem não se apresentou como a idéia da humanidade que desde a eternidade se encontra em Deus em sua completa perfeição moral e a ele grata... senão como a divindade que habita corporalmente em um homem real e que nele atua como uma segunda natureza, então esse m istério não tem nenhuma relevância para nós, porque não podemos pretender de nós mesmos que devamos agir igual a um Deus, e portanto não pode ser para nós um exemplo”. 37. Cf. R. LATOURELLE, Teologia de la Revelaáán, Salamanca, 1969,242ss. Segun­ do ele, os tratados sobre a revelação dos começos do século XX “passam rapidam ente a tratar do problema da possibilidade da revelação, sem dar-se conta de que não se trata de uma revelação qualquer, mas de uma revelação específica, que nos chega pelas vias da his­ tória e da encarnação”. O. G ONZÁLEZ D E CARDEDAL, La entraria dei cristianismo, Salamanca, 1997,71: “Os teólogos, querendo refutar essa imagem de Deus, ficaram presos a ela, por aceitar os pressupostos do debate”. 31


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