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A PRIMEIRA DOUTORADA
ATRIBUIÇÃO DO GRAU DE DOUTORAMENTO
IMPOSIÇÃO DAS INSÍGNIAS DOUTORAIS
Apesar da presença das mulheres no ensino da U.Porto remontar à criação da Universidade e até às suas antecessoras – Rita Morais Sarmento formou-se, em 1894, na Academia Politécnica –, a participação feminina só começou a ganhar dimensão a partir de finais da primeira metade do século XX. É preciso, por isso, avançar algumas décadas para localizar o primeiro doutoramento de uma mulher na U.Porto, no caso, Leopoldina Ferreira Paulo. Estávamos em Novembro de 1944 quando a primeira doutora da U.Porto apresentou as suas provas de doutoramento em Ciências Biológicas, na Faculdade de Ciências. A tese versava “Alguns caracteres morfológicos da mão nos portugueses”. Por ser o primeiro, o doutoramento de Leopoldina Ferreira Paulo teve grande projecção na imprensa. Em 21 de Novembro de 1944, o “Jornal de Notícias” escreveu: “Na Universidade do Porto vai doutorar-se em Ciências uma senhora, facto inédito da vida académica da nossa terra”. Mais tarde, a 23, “O Comércio do Porto” também salienta o facto pelo seu ineditismo: “Pela primeira vez na história da Universidade do Porto uma senhora está a prestar provas de doutoramento na Faculdade de Ciências”. Leopoldina Ferreira Paulo voltaria a ser notícia em Junho de 1945, por altura da imposição das insígnias doutorais em sessão solene pública. Nesse momento, contou com a companhia de Judite dos Santos Pereira que, a 25 Janeiro desse mesmo ano, apresentou as provas de doutoramento em Geologia, também na Faculdade de Ciências. Se foi lento o acesso das mulheres ao ensino, também foi demorada a sua aceitação entre o corpo docente e não docente. No Porto, foi só depois da criação da Universidade que a primeira mulher, Leonor Amélia da Silva, ascendeu à docência, na categoria de 1.ª assistente da Faculdade de Medicina, em 1912. No caso do pessoal não docente, a primeira funcionária foi Laura Rosa de Castro, contratada pela Faculdade de Ciências em 31 de Maio de 1919.
Quando a U.Porto foi criada, em Março de 1911, integrou no seu corpo docente vários professores doutorados pelas instituições que a antecederam e pela Universidade de Coimbra. Contudo, foi preciso esperar seis anos para que a U.Porto atribuísse, pela primeira vez, o grau de doutoramento. O distinguido foi Rodrigo Sarmento de Beires que, a 20 de Junho de 1917, apresentou provas de doutoramento em Ciências Matemáticas pela Faculdade de Ciências. Natural de Lisboa, Rodrigo Sarmento de Beires (1895-1974) foi professor catedrático da Faculdade de Ciências. Com uma carreira de docente sempre ligada à U.Porto, esteve ainda à frente do Centro de Estudos Matemáticos do Porto, tendo substituído Ruy Luís Gomes no cargo. Faleceu em Junho de 1974. Tido como o grau por excelência do percurso académico, o doutoramento está ligado, por tradição, àqueles que anseiam prosseguir a carreira de docente. No caso da U.Porto, a primeira legislação relativa à obtenção do grau remonta ao decreto de 12 de Maio de 1911, que estabelece o plano geral de estudos da Faculdades de Ciências. Nele se determina que “os bacharéis que pretenderem o grau de Doutor são obrigados, na secção de Ciências Matemáticas, à apresentação de uma tese original, impressa, sobre assunto da sua escolha”. Nas secções de Ciências Físico-Químicas e Histórico-Naturais exigia-se ainda “um ano de tirocínio prático, provado num laboratório nacional ou estrangeiro”. Em ambos os casos, a tese era defendida e discutida perante um júri de três membros. Desde o doutoramento de Rodrigo Sarmento de Beires, milhares de estudantes/ professores obtiveram o grau pela maior universidade portuguesa. Na Faculdade de Medicina, os primeiros doutorados surgem logo em 1918.
Ainda que a U.Porto já tivesse professores doutorados desde a sua criação, em 1911, e que outros académicos ali tivessem prestado provas de doutoramento desde então, foi preciso esperar mais de 18 anos para assistir à primeira cerimónia pública de imposição das insígnias doutorais a docentes da Universidade. Os distinguidos a 21 de Julho de 1929 foram Fernão Couceiro da Costa (Faculdade de Ciências/Matemática), Manuel Joaquim Ferreira (Faculdade de Medicina) e Armando de Vasconcelos Larose Rocha (Faculdade de Farmácia). Incorporando um costume até então restrito à Universidade de Coimbra, esta sessão inédita “interessou, tanto os meios académicos, como o público”, segundo relato de “O Comércio do Porto”. Foi, por isso, um Salão Nobre do Edifício Histórico da Universidade “repleto de curiosos” aquele que deu as boas-vindas aos três doutorandos. A estes juntaram-se o então reitor da U.Porto, Alexandre Sousa Pinto, o reitor honorário, Gomes Teixeira, os professores Gonçalo Sampaio, Tomás Dias, Alberto de Aguiar e Aníbal Cunha (directores, respectivamente, das faculdades de Ciências, Engenharia, Medicina e Farmácia). Depois do elogio dos “padrinhos” dos doutorandos, seguiu-se o momento alto da cerimónia: a imposição das insígnias. Tal como em Coimbra, estas incluíam o capelo (chapéu), a borla (pequena capa) e o anel. Ainda que a cerimónia pública de imposição das insígnias doutorais não tenha criado no Porto uma tradição idêntica à de Coimbra, outros professores da Universidade foram alvo desta distinção ao longo do tempo. Destes destaca-se o filósofo Agostinho da Silva, investido, em 31 de Julho de 1930, com o grau de Doutor em Filologia Clássica pela Faculdade de Letras. Quinze anos depois, a 16 de Junho de 1945, repetiu-se a cerimónia para sete novos doutores.