Rudge Ramos Jornal - Edição 1.085

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Produzido pelos alunos do Curso de Jornalismo ANO 39 - Nº 1085

Dezembro de 2019

Caroline Lopes/RRJ

NÍVEL D’ÁGUA » ESPORTES Arquivo pessoal

DA BILLINGS

Calor e clima seco típicos da época afetam o volume da represa que, em novembro, chegou a 34,3%, segundo a Sabesp. Pág. 3 Bruna Aiabe/RRJ

BULLYING Em moda na região, Crossfit ajuda a emagrecer e a ganhar condicionamento físcio, mas prática exige cuidados devido aos ricos de lesões. Pág. 9

Unesco aponta que 246 milhões de crianças e jovens no Brasil e no mundo sofrem algum tipo de violência nas escolas. Pág. 6

» ESPECIAL

Mulheres motoristas falam sobre preconceitos no trânsito. Pág. 7


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MEIO AMBIENTE

RUDGE RAMOS Jornal da Cidade

Dezembro de 2019

Giovanna Cardoso/RRJ

Giovanna Cardoso PESQUISA realizada em 2018 pelo Ibope mostra que 94% da população gostaria de ter mais contato com a natureza. Em 2014, o percentual era de 84%. Segundo o estudo, nove entre dez brasileiros supõem que a natureza não está sendo protegida de forma adequada. Em 2014, a porcentagem era de 82% para essa pergunta. Os números sobem para 91% quatro anos depois. Para o ambientalista e professor da Universidade Metodista de São Paulo, Carlos Henrique Andrade, o nível de consciência das pessoas sobre o meio ambiente está aumentando, principalmente entre os jovens. “As crianças e adolescentes estão percebendo que o seu futuro está sendo ameaçado por modelos de consumo insustentável e estão fazendo de tudo para mudar esse cenário. Porém, infelizmente, os interesses econômicos de grandes corporações ainda prevalecem e resistem a essas mudanças”. Segundo dados do estudo Panorama do Consumo Consciente no Brasil realizado em 2018, pelo Instituto Akatu, Organização da Sociedade Civil (OSC) sem fins lucrativos que trabalha pela conscientização da sociedade para o consumo consciente, houve um crescimento no número de pessoas que já inserem mais de cinco práticas sustentáveis no seu dia a dia. Os intitulados “iniciantes em consumo sustentável” em 2012 eram 32%, e agora, são 38%. A arquiteta de Santo André Lorenza Feitosa (39) diz que mudou a rotina de toda a sua família para uma vida mais sustentável. “Aos poucos, fui implementando algumas coisinhas, mas agora mudei radicalmente o meu estilo de vida. Não uso descartáveis, uso bucha

Rudge Ramos JORNAL DA CIDADE editorial@metodista.br Rua do Sacramento, 230 Ed. Delta - Sala 141 Tel.: 4366-5871 - Rudge Ramos São Bernardo - CEP: 09640-000 

Produzido pelos alunos do curso de Jornalismo da Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade Metodista de São Paulo

Cresce o número de pessoas preocupadas com o meio ambiente Segundo dados do Ibope, o número de cidadãos que gostariam de ter mais contato com a natureza subiu 10% entre 2014 e 1018 vegetal, escova de bambu, troquei produtos de limpeza por vinagre e utilizo ecobags e ecocanudos”. Lorenza ressalta ainda que ela e as filhas separam todo o lixo, fazem compostagem das cascas de legumes e frutas e tomam banho com água gelada em época de calor. Segundo o ambientalista Andrade, ter uma vida sustentável faz a diferença ao longo dos anos, mas é necessário que todos estudem antes de consumir

qualquer produto, mesmo que ele seja rotulado como ecológico. “Produtos sustentáveis ajudam sim o meio ambiente porque passamos a utilizar coisas com vida útil mais longa. Por exemplo, uma ecobag dura anos nas compras e isso faz com que deixemos de gerar muito lixo nesse período”. O especialista acrescenta ainda que é muito importante pesquisar sobre tudo, ir atrás de informações para entender sobre todo ciclo de

DIRETOR - Carlos Eduardo Santi COORDENADOR DO CURSO DE JORNALISMO - Eduardo Grossi EDITORA-EXECUTIVA - Eloiza Oliveira (MTb 32.144) EDITORA DO RRJ - Camila Escudero (MTb 39.564) EDITOR DE ARTE - José Reis Filho (MTb 12.357) ASSISTENTE DE FOTOGRAFIA - Maristela Caretta (MTb 64.183) EQUIPE DE REDAÇÃO - Amanda Caires Ferreira, Andressa Schmidt, Beatriz Lopes dos Santos, Beatriz Siqueira, Caroline Ripane Assis, Giovane Roberto Rodrigues, Giovanna Vidoto, Giulia Marini, Gustavo Brito de Jesus, Letícia Rodrigues, Luiza Carvalho Lemos Branco, Matheus Gomes Dias, Miguel Cyrino Rocha, Pedro La Ferreira, Sophia Gonçalves Villanueva, Vinicius de Oliveira dos Santos, e alunos do curso de Jornalismo.

vida de um produto, desde o material que é feito, quanto de água e de energia é consumido em seu processo de produção, qual seu tempo de vida, se o produto é inteiramente reciclável e se há trabalho escravo ou infantil na sua produção. A produtora Nicole Zabukas (22), moradora do Rudge Ramos, promove rodas de conversas para explicar a importância de um mundo sustentável. “Em algum dos nossos debates,

CONSELHO SUPERIOR DE ADMINISTRAÇÃO Valdecir Barreros (presidente), Aires Ademir Leal Clavel (vice-presidente). Conselheiros titulares: Almir de Oliveira Júnior, Andrea Rodrigues da Motta Sampaio, Cassiano Kuchenbecker Rosing, Marcos Gomes Tôrres, Oscar Francisco Alves Jr., Recildo Narcizo de Oliveira, Renato Wanderley de Souza Lima. Suplentes: Eva Regina Pereira Ramão e Roberto Nogueira Gurgel. Esther Lopes (secretária) e bispa Marisa de Freitas Ferreira (assistente do Conselho Geral das Instituições Metodistas de Educação). DIRETOR GERAL - Robson Ramos de Aguiar DIRETOR DE FINANÇAS, CONTROLADORIA E GESTÃO DE PESSOAS - Ricardo Rocha Faria DIRETOR DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO, COMUNICAÇÃO E

Os canudos de metal não são descartáveis como os de plástico e podem ser levados na bolsa para qualquer lugar

nós comentamos e explicamos sobre a necessidade de reutilizarmos e reciclarmos e de usar sempre produtos biodegradáveis para a melhoria do planeta”. Juntamente com uma amiga, ela teve a ideia de montar a “Feira das Vegs”, que já está na sua 5ª edição e comercializa apenas produtos sustentáveis. ”Uma amiga de Goiânia montou uma feira na cidade dela só com expositoras mulheres e deu muito certo. Quando ela veio me visitar, sugeriu para que eu tentasse fazer uma aqui, no ABC”. A estudante Gabrieli Hendrix (19), moradora de Santo André, conta que começou a se preocupar com a natureza e meio ambiente por causa das redes sociais. Ela lembra que, quando pequena, desenvolveu alergia a zinco e não podia comer produtos com corantes e industrializados, portanto, criou o hábito de comer tudo natural. Em sua adolescência, começou a ficar muito antenada no Instagram e só seguia digitais influencers que também tinham uma vida saudável, já que esse era o seu mundo. Gabrieli ressalta que a sua vida mudou completamente após ter tomado a decisão de que iria defender e lutar em prol da ecologia. “Comecei a mudar radicalmente todos os meus hábitos e a refletir muito mais sobre o assunto. Hoje, reciclo o lixo, uso escova de bambu, minhas compras no supermercado são colocadas sempre em caixas ou ecobags, tenho alguns vasos com mudas de hortaliças e ervas, até mesmo para economizar dinheiro e embalagens e troquei todas as minhas maquiagens antigas por novas e ecológicas”.  MARKETING - Ronilson Carassini DIRETOR NACIONAL DE ENSINO SUPERIOR - Fabio Botelho Josgrilberg DIRETORA NACIONAL DE EDUCAÇÃO BÁSICA - Débora Castanha

GERENTE JURÍDICO - Rubens Gonçalves de Barros REITOR: Paulo Borges Campos Jr.; Coordenadora de Graduação e Extensão: Alessandra Maria Sabatine Zambone; Coordenadora de Pós-Graduação e Pesquisa: Adriana Barroso Azevedo; Coordenador de EAD: Marcio Oliverio. DIRETORES - Nilton Zanco (Escola de Ciências Médicas e da Saúde), Kleber Nogueira Carrilho (Escola de Comunicação, Educação e Humanidades), Carlos Eduardo Santi (Escola de Engenharias, Tecnologia e Informação), Fulvio Cristofoli (Escola de Gestão e Direito) e Paulo Roberto Garcia (Escola de Teologia).


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Caroline Lopes

COM O AUMENTO da temperatura e a falta de chuvas, o consumo da água passa a ser mais elevado do que o normal. Segundo dados apresentados pela Sabesp, a Billings chegou a atingir 34,43% em volume, no início de novembro. A queda repentina no nível da água na represa é preocupante, uma vez que ela tem capacidade para armazenar 11,21 bilhões de litros de água. A engenheira ambiental Mariana Coelho, de São Bernardo, explica como esse cenário atinge quase dois milhões de moradores do ABC. “Além das doenças respiratórias causadas pela falta de umidade, que afetam principalmente os idosos, crianças e pessoas com problemas respiratórios crônicos (rinite, asma, sinusite), existe outro fator grave, a desidratação, que pode levar até a morte. Além disso, com a baixa da represa, a concentração de matéria orgânica fica maior, aumentando os riscos de aparecimento de algas e redução do oxigênio presente na água, afetando a flora e fauna locais”. A Billings é responsável pelo abastecimento da região Metropolitana de São Paulo. A Sabesp, em nota, explicou que eles não utilizam diretamente a água da represa para abastecer o ABC. “A captação para o abastecimento é feita no Rio Grande, que é separado da Billings por uma barragem. Após esse processo, a água é tratada na Estação de Tratamento de Água (ETA) Rio Grande, onde são produzidos 5,5 mil litros de água por segundo para atender os municípios, e só então distribuída à população. Além do Rio Grande, contribui para o abastecimento dos municípios do ABC o sistema Rio Claro, na zona leste da capital”. A Sabesp ainda reforça quais são as possíveis consequências da redução do volume da represa. “Se os níveis caírem a patamares críticos, pode haver redução da produção de água e consequentemente, ocorrer falta de água para atendimento pleno. Por isso, a distribuidora ressalta que é essencial o uso racional da água pela população em qualquer período do ano”. Amanda Araújo, moradora do bairro dos Finco e professora, comenta sobre as regiões onde o volume

MEIO AMBIENTE

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CALOR e clima seco afetam a BILLINGS

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O volume da água atingiu 34,43% no início de novembro, segundo a Sabesp Fotos: Caroline Lopes/RRJ

Região com o nível da àgua baixo na represa Billings

baixo da água é notório. “Observo mais a parte da represa que fica entorno da Via Anchieta. Como o reservatório está cheio, mal dá para notar a diminuição da água. Mas se for nos locais onde tem braços da represa, como, por exemplo, na Balsa e na prainha, dá para ver as margens só com areia e bancos que nem sabíamos que estavam ali, sendo que há três meses ainda tinha

água nesses locais”. Para Rebeca Almeida, universitária e moradora do Riacho Grande, as questões climáticas possuem pontos positivos e negativos. “O calor atrai pessoas de fora e estimula o comércio da região, mas a falta de chuva atinge, por exemplo, as pessoas que pescam aqui. Dói ver a represa secando aos poucos, como foi na época da crise hídrica que

vivemos anos atrás”. Levando em consideração a poluição na represa, Rebeca ainda comenta como vê a situação. “Me sinto incomodada porque moramos em um local privilegiado, que tem fauna e flora preservada e não respeitamos isso. Nem as autoridades reconhecem a riqueza que temos aqui. Eles também têm parcela de culpa nisso, uma vez

que houve até o despejo das águas do Rio Pinheiros em um dos braços da Billings. É falta de conscientização das duas partes”. Em período de temperaturas elevadas, o consumo inconsciente de água por parte da população e a eventualidade da falta de chuvas colabora para que as represas tenham os níveis reduzidos. A engenheira ambiental Mriana ainda reforça uma medida preventiva, para que não haja complicações futuras. “Por mais que os anos passem, a medida mais eficaz ainda é a economia de água. A conscientização da população é um trabalho difícil e continuo. Mas deve ser feito. Inclusive, não é difícil presenciar na cidade casos de uso incorreto da água. É preciso entender que a água é tratada para o consumo humano e essa deve ser a prioridade”. 


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EDUCAÇÃO

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Métodos de ALFABETIZAÇÃO em debate

Fotos: Alícia Fim/RRJ

MEC pretende implementar Política Nacional de Alfabetização em 2020 Alícia Fim

COM O OBJETIVO de combater o analfabetismo e melhorar a qualidade na aprendizagem de leitura e escrita no país, a Política Nacional de Alfabetização (PNA) foi instituída pelo governo por meio de decreto (nº 9.765) em abril deste ano. E no final de outubro, durante a 1ª Conabe (Conferência Nacional de Alfabetização Baseada em Evidências), o Ministro da Educação, Abraham Weintraub, declarou que pretende implementá-la em 2020. Foram definidas oito diretrizes no decreto, que inclui a priorização da alfabetização no primeiro ano do ensino fundamental, a participação das famílias no processo e, a que causou mais polêmica, a preferência ao método fônico. Segundo o governo, esse seria o método mais eficaz de alfabetização. Mas como ele funciona? E os outros que existem? A professora e doutoranda em Educação pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP), Fabiana Cabrero, explica que “o método fônico faz parte do grupo dos métodos sintéticos, junto com o alfabético e o silábico. É a consciência silábica da partícula menor da palavra que a criança faz. Ela parte da letra, para a sílaba, para a palavra e, por fim, chega ao texto”. No método fônico, são ensinados os sons (fonemas) de cada letra separadamente, começando pelos mais simples (vogais) e depois os mais complexos (consoantes). A partir daí, a criança começa a formar as sílabas e as palavras. Há também o grupo dos métodos analíticos, que inclui o global e a palavração e sentenciação. No primeiro, os alunos têm um contato inicial com os textos, que trazem questões próximas às crianças, para depois analisar as

palavras. No segundo, as palavras são aprendidas por reconhecimento e memorização, dando foco à compreensão das frases. Para Fabiana, a PNA traz à tona um debate sobre métodos que acompanham o processo de alfabetização desde o seu início e que colocam como foco principal a forma de ensino do professor, quando na verdade “ele deve ser pensado sobre como a criança aprende e não como a gente ensina”, completa, citando a pedagoda argentina Emilia Ferreiro. Mas e o construtivismo, que aparece nas discussões como principal oposição ao método fônico? Ao contrário do que muitas pessoas pensam, ele não é um método. O construtivismo é uma abordagem teórica, tendo Emilia Ferreiro como uma das principais expoentes. Segundo a pedagoga Priscila Bernardo, o construtivismo valoriza o conhecimento prévio da criança para o processo de alfabetização, com atividades contextualizadas e que fazem parte do dia a dia. Assim, elas são estimuladas a construir conceitos e hipóteses a par-

Acima, a criança usa o nome como referência para outras escritas. Abaixo, a contação de histórias desperta o interesse das crianças pela leitura e escrita

tir da leitura e da escrita. As políticas públicas são criadas para diminuir os problemas de alfabetização enfrentados no Brasil. Uma das bases para a criação da

PNA foi a última Avaliação Nacional de Alfabetização (ANA), que foi realizada em 2016 e mostrou que 54,73% dos estudantes acima dos oito anos têm níveis insuficientes de leitura. Na prática Derivan de Souza, professora da rede estadual, em Santo André, é a favor de políticas que contemplem

a alfabetização, mas não concorda com a utilização do método fônico. “Ele é limitador, porque propõe uma aprendizagem fragmentada, memorizada, dependente e, principalmente, desvinculada de sentido. Acredito que a alfabetização deve se dar de forma contextualizada, como prática social. O projeto apresentado prevê prática oposta a isso”, explica. Professora há 20 anos na rede municipal de São Bernardo, Melissa Alves conta que sempre foi instruída a usar a proposta construtivista, mas que na prática é diferente. “A gente acaba inserindo um pouco de sílabas, de fonética e outros métodos, até intuitivamente. Existem crianças com mais dificuldade, outras com menos, então a gente acaba usando de tudo. Desde que se alfabetize, está valendo”. Pela medida do governo federal, os estados e municípios teriam a liberdade de aderir ou não ao programa. Segundo o Censo Escolar de 2018, os municípios concentram 67,8% das matrículas nos anos iniciais do ensino fundamental, período em que ocorre a alfabetização, por tanto, são decisivos para a adesão da PNA. 


EDUCAÇÃO

Intolerância

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As crianças fazem comentários ofensivos contra o meu filho” Bullying é problema recorrente e demanda atenção das escolas Fotos: Bruna Aiabe/RRJ

Relatório da Unesco de

2019 aponta que cerca de

246 milhões de crianças e adolescentes sofrem bullying no MUNDO

ajuda quanto a vítima. Na escola de Edilene, os valores são trabalhados diariamente nas aulas com os alunos, que refletem sobre as suas atitudes e sobre o respeito ao próximo. Além disso, a escola também desenvolveu um projeto chamado “Caixinha do Bullying”, no qual o aluno pode escrever se está sofrendo ou está percebendo alguém que pratica ou sofre alguma agressão. Os estudantes podem se abrir nas mensagens e a diretoria lê e toma as providências necessárias. Os professores são orientados sobre como agir da melhor forma, os alunos são convidados a conversar e a escola media conflitos e chama os familiares quando necessário. Na infância, Giovanna Muniz (19), de São Bernardo, era alvo de taxações e apelidos de mau gosto. “Eu tinha dentes tortos e por isso me chamavam de “esquilo” e “rato” na escola”, lamenta. A estudante de engenharia conta que era excluída do grupo de meninas e se sentia muito mal. “Acabou com a minha autoestima naquela época”. O bullying deixa marcas para a vida toda. Aos 30 anos, Pyter Ferreira, morador de São Bernardo, ainda lembra de como se sentia quando os colegas o discriminavam na 8ª série por conta da orientação sexual. “Eu esperava o pessoal ir embora para sair da sala porque não queria ser ainda mais zuado na saída. Parei de ir à escola por três anos por conta disso, não gostava dos nomes que me chamavam e tinha medo”.

Alícia Fim Bruna Aiabe

PRÁTICA de atos de violência, física ou psicológica, cria um quadro de agressões contínuas que intimida a vítima. As escolas brasileiras são duas vezes mais suscetíveis ao bullying do que a média geral das instituições em 48 países, segundo dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) de 2019. No mundo, 14% dos diretores de escolas do Ensino Fundamental afirmam que o bullying é um problema recorrente, enquanto no Brasil, o índice é de 28%. O relatório “Violência escolar e bullying”, feito pela Unesco, aponta que cerca de 246 milhões de crianças e adolescentes no mundo sofrem algum tipo de violência dentro das escolas. O filho de 11 anos de Patrícia Soares, de São Bernardo, é um deles. “Meu filho sofre bullying porque é gordinho. As outras crianças fazem co-

mentários ofensivos, mas eu sempre converso com ele sobre isso, o diálogo dentro de casa é muito importante”. A mãe também comenta que não é só no colégio que as ofensas estão presentes. O menino quis sair da escolinha de futebol após ser discriminado pelos colegas. Edilene Damas é proprietária e professora de uma escola particular em Santo André, que atende do Infantil ao Fudamental ll. Para ela, o ambiente escolar deve estar atento às movimentações internas e externas,

Acima, ato de violência física ou psicológica deve ser observado por educadores e pais. Abaixo, “Caixinha do Bullying” fica na cantina do colégio

tendo o papel fundamental de observar as situações e orientar os alunos. “É preciso uma reflexão constante e o apoio nas horas em que o aluno pratica ou sofre o bullying, porque ambos estão precisando de ajuda”, diz. Segundo a educadora, aquele que pratica é tão carente de

Saúde mental Adolescentes entre 12 e 15 anos que sofrem bullying têm até três vezes maior risco de cometer suicídio, de acordo com o estudo de 2019, do Reino Unido, “Bullying Victimization and Suicide Attempt Among Adolescents Aged 12–15 Years From 48 Countries”. A psicóloga de São Bernardo Julia Loyola diz que as crianças ou adolescentes que sofrem bullying podem desenvolver depressão, ansiedade, distúrbios alimentares e baixa autoestima, muitas vezes por acharem que a culpa é delas por não serem iguais aos outros e excluídas do grupo. A perseguição afeta também o desempenho escolar e desestimula os estudos. “É importante buscar ajuda para ter saúde mental e formar pessoas melhores. Os pais e a escola precisam acolher, procurar ajuda e ficar sempre atentos”, diz Julia. 


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ESPECIAL

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Os homens não aceitam quando uma MULHER alcança os limites deles” Pesquisa aponta que somente oito em cada 100 acidentes de trânsito são cometidos por motoristas do sexo feminino Caroline Ripani/RRJ

Barbara Barretta Caroline Ripani

DADOS DE 2019 do Sistema de Informações Gerenciais de Acidentes de Trânsito do Estado de São Paulo (Infosiga) mostram que as mulheres se envolvem menos que homens em acidentes graves no trânsito e somente oito em cada 100 condutores que morrem são do sexo feminino. Apesar disso, o preconceito com mulheres ao volante ainda é grande, e frases preconceituosas como “mulher no volante, perigo constante”, ou “lugar de mulher é pilotando fogão” ainda fazem parte do cotidiano de muitas motoristas. De acordo com o especialista em trânsito e professor de Centro de Formação de Condutores (CFC) Rogério Russo, a quantidade de mulheres que procura de tirar habilitação cresce cada vez mais. “Elas sabem que dirigir não é só para homens. Agora, buscam sua liberdade nesse aspecto”. Ainda segundo Russo, as mulheres demonstram grande vontade de aprender a dirigir. “Como professor de autoescola eu observo que a maioria dos homens já não tem tanta vontade de aprender direito. Eles acham que é como em um videogame”. A moradora de Diadema Marlene Silva (48) dirige há 26 anos e trabalha atualmente como caminhoneira. Ela disse que sente esse preconceito na pele. “Muitas vezes, quando paro em postos de combustível na estrada, há homens que

Não há qualquer diferença biológica que torna os homens mais aptos a dirigir do que as mulheres

falam ‘o que essa mulher está fazendo nesse caminhão e não cuidando da casa?” Na opinião de Marlene, os homens não aceitam quando uma mulher alcança os limites deles. A caminhoneira conta que seu pai demonstrou grande apoio quando ela escolheu essa profissão. No entanto, teve problemas em seu casamento. “Por ciúmes, meu marido não aceitou muito bem no começo”. Quem também vivenciou situações hostis foi M.G.R., motorista de aplicativo que não quis se identificar e começou no ramo em 2016, após perder o emprego. Para ela, o maior desafio diário ao volante é ter que lidar com o machismo vindo de outros condutores. “As ofensas muitas vezes vêm em forma de um pseudo elo-

Arquivo pessoal

A caminhoneira Marlene Silva, de Diadema, dirige há 26 anos e apelidou seu caminhão, carinhosamente, de “Penélope”

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gio como ‘nossa, você dirige tão bem que nem parece mulher”. Outros comentários, conta a motorista, são mais sutis, como dizer que está surpreso por fazer uma viagem tão agradável. Além disso, a motorista de Santo André relata uma situação marcante de intolerância. “Em uma corrida, um passageiro tentou me ‘explicar’ a forma que o aplicativo deveria ser usado. Sem contar que ele passou a viagem inteira dando lições de como eu deveria dirigir”. Inconveniência O assédio sexual também está presente no cotidiano das motoristas profissionais. A caminhoneira Marlene diz que já sofreu esse tipo de abordagem. “Certa vez, fui a uma empresa onde estavam outros caminhoneiros. Um deles começou a fazer elogios que me deixaram sem jeito. Quando fui passar por trás do caminhão, o mesmo homem tentou me beijar a força. Eu não tive outra reação a não ser dar um tapa na cara dele”. Segundo a socióloga e professora da Universidade Metodista de São Paulo Cristiane Gandolfi, muitos dos preconceitos que as mulheres sofrem têm origem na divisão sexual do trabalho. “Desde cedo, a função das mulheres era vista só como reprodutora e até hoje, muitas pessoas pensam assim”. Cristiane explica que, tradicionalmente, cabia à mulher ficar restrita ao espaço doméstico, enquanto os homens eram vistos como produtores que deviam frequentar o espaço público. “Isso contribui muito para a ideia de que a mulher não deveria dirigir”. Mas não são só as mulheres que dirigem profissionalmente que estão sujeitas a comentários ofensivos por parte de motoristas homens. Pamella Araújo (37), do bairro de Nova Petrópolis, em São Bernardo, relata que as ofensas vão desde piadas até situações mais sérias. “Eu dirijo todos os dias para ir ao trabalho e sei o quão difícil é lidar com xingamentos machistas”. Pâmela relata ainda que uma vez uma moto bateu no seu carro e, se não fosse a ajuda de um segurança na rua, ela teria sofrido agressões físicas. Apesar do susto, ela nunca pensou em parar de dirigir. “Situações como essa só me dão mais força para mostrar que nós mulheres somos capazes”.


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ESPORTES

Bruna Aiabe

LEVANTAR peso, subir em cordas e pular caixas são alguns dos exercícios do crossfit. A modalidade faz sucesso com a promessa de emagrecer e ganhar condicionamento físico. O Brasil é o segundo país que mais possui boxes para a prática dessa atividade, com cerca de 1,2 mil locais, ficando atrás apenas do criador do esporte, Estados Unidos, com aproximadamente sete mil boxes, de acordo com o ranking do CrossFit Inc. O treino é de alta intensidade, por isso é necessário ter cuidado ao realizar os exercícios. Segundo estudo divulgado pelo National Strength & Conditioning Association, 73% dos praticantes desse esporte já sofreram algum tipo de lesão e 7% precisaram de intervenção cirúrgica. A atividade possui um alto índice de lesão, mas quando comparada a outros esportes, a taxa é baixa. Com base no estudo desenvolvido no Laboratório de Psicologia do Esporte e do Exercício da Udesc, a taxa de lesões no crossfit é de 3,1 a cada 1000 horas treino, enquanto no futebol, é de 9,6 e no rugby, 26,7. Praticante do crossfit há dois anos, Vinícius Cunha, de São Bernardo, teve uma lesão no ombro. Com treinos intensos, Cunha estava sentindo dores, mas demorou para procurar ajuda médica.

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Dezembro de 2019 Arquivo pessoal

CROSSFIT:

O resultado foi uma luxação, permanecendo em torno de 20 dias afastado dos treinos. De acordo com fisioterapeuta de São Bernardo, Márcio Guimarães, as tendinopatias (patologias dos tendões) são as lesões mais frequentes entre os atletas desse esporte. Ele também destaca que os locais mais afetados são os ombros, a coluna e os joelhos. “As lesões podem ser evitadas com a avaliação de possíveis desequilíbrios musculares, postura e da biomecânica dos movimentos”. Guimarães alerta ainda que a demora em identificar e procurar tratamento, pode agravar o problema e até mesmo tornar o caso irreversível. Com o objetivo de perder peso, a universitária Juliana Biguetti trocou a academia pelo crossfit. Há cerca de dois meses, a estudante começou a treinar e diz que já perdeu 5 kg e ganhou 2 kg de massa magra. Mas, para atingir bons resultados, Juliana ressalta que é importante ter calma e seguir o tempo do seu corpo. “Eu não coloco um peso que eu sei que não vou conseguir levantar, faço por etapas. Esse esporte, assim como outros, exige descanso, o treino em excesso pode causar lesão”.

treino exige cuidado Praticantes da modalidade devem seguir as orientações do professor e sempre respeitar o limite do corpo Bruna Aiabe/RRJ

Cordas e barras de peso são um dos principais equipamentos utilizado na modalidade

SAIBA MAIS

As academias de crossfit são chamadas de box. Em 1995, o ex-ginasta Greg Glassman abriu o primeiro box nos Estados Unidos.

“Eu tive uma ruptura do tendão parcial do ombro. Treinava pesado e nunca dei muita atenção para o fortalecimento e alongamento. Fiquei oito meses parado, voltei ao crossfit recentemente, mas ainda estou fazendo fisioterapia”. Já o advogado Fernando Triboni, de São Bernardo, resolveu parar os treinos de crossfit após uma inflamação na articulação do cotovelo (epicondilite) e dores na lombar. Triboni relata que as aulas eram puxadas, por isso trocou as barras de peso e cordas

pela corrida e caminhada. Para evitar lesões, Éderson Araújo, proprietário do box Tamoko Cross, no Rudge, conta que as pessoas que estão iniciando a modalidade possuem um treino diferente para aprender as técnicas antes de executar os exercícios. “Os alunos que treinam há mais tempo, levantam a barra de peso com 20 kg, mas quem está iniciando vai levantar a barra feita de PVC que pesa 350g. O crossfit não foi feito para causar lesões, pelo contrário, tem o objetivo de

fortalecer o corpo”. Araújo acredita que a maioria das lesões do crossfit é causada porque os alunos não seguem as orientações do professor e vão além do limite do corpo. Mas há aqueles que se acidentam por desatenção, como o estudante Pedro Henrique Firmino, morador de São Bernardo. O atleta conta que como já sabia executar o movimento de pular a caixa, colocou o objeto na altura mais alta, não tomou cuidado e se machucou, batendo o dedão da mão na caixa.

Alternativa mais leve Para aqueles que querem uma atividade física dinâmica, mas não tão intensa como o crossfit, o cross training é uma opção. A modalidade é um treino funcional que se diferencia do crossfit por não utilizar equipamentos que exigem muita força, como barras de peso, corda de escalada e pneu. A proprietária do box Cross Life, do Rudge, Sheila Barbosa, afirma que a maioria dos exercícios realizados nesse treino só precisa do corpo. Os equipamentos utilizados são mais leves, como bolas e pesos de baixa carga. De acordo com Sheila, o risco de lesão no cross training é baixo. “Como não usamos aparelhos pesados, é difícil os alunos se machucarem. Já no Crossfit, se você pegar o peso de uma forma errada, pode sofrer lesão. O cross training é o meio termo entre a musculação da academia e o crossfit”. 


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Futebol americano de São Bernardo busca o 1° título Fundada em janeiro de 2018, a equipe Avangers reúne cerca de 200 atletas e já participa de campeonatos regionais Bruno Canevari

O FUTEBOL americano é um dos esportes que mais vem crescendo no Brasil nos últimos anos. Apesar de não chegar nem perto de ser a modalidade mais popular no país, esse crescimento também pode ser notado na região do ABC, que atualmente conta com três times: o São Bernardo Avengers, o ABC Corsários (de São Caetano) e o Werewolves Football (de Santo André). A equipe de São Bernardo, mesmo sendo a mais nova da região, já é considerada a melhor entre os rivais. Hoje, o elenco tem dez técnicos especializados em diferentes posições, quatro responsáveis pelo staff e cerca de 200 atletas, incluindo o time principal, de desenvolvimento (que são os atletas que têm pelo menos 16 anos e que não conhecem o esporte), uma escolinha, disponível para crianças de 8 a 14 anos) e o feminino. Mas, as meninas jogam apenas na modalidade ‘flag’, que é um estilo que tem menos contato e sem os equipamentos.

A ideia de fundar a equipe veio do atual presidente, Diego Quirino, e de seu vice, e também atleta, Guilherme Magalhães. “Vi-

mos a necessidade de uma equipe de Futebol Americano em São Bernardo, sendo que as outras cidades do ABC já tinham seus respec-

ESPORTES Fotos: Divulgação

tivos times. Marcamos uma reunião com o Secretário de Esportes de São Bernardo, apresentamos o nosso projeto e ele amou a proposta”, disse Quirino. Uma das principais dificuldades para manter um time em pé, para disputar títulos e ser competitivo, é a parte financeira. Para isso, a equipe tem dois patrocinadores: a Bap Energy e a Dakar, além de vários outros parceiros, como a KVRA e a FISK. “O nosso principal problema hoje, é o financeiro. Até porque, o futebol americano é um esporte caro, além de que temos de pagar a comissão técnica e as inscrições em campeonatos”, afirmou o vice-presidente e wide receiver (quem recebe o passe) do time, Guilherme Magalhães. Outra forma de sustento é o plano de mensalidade, que cada atleta deve pagar R$ 35. Até então, o time já participou do Torneio Pick Six em 2018, garantindo o vice-campeonato, da Liga Paulista (série B) no primeiro semestre de 2019, mas caiu na fase de grupos, ficando na quinta colocação. No momento, estão participando novamente da Pick Six, na etapa dos playoffs (mata-mata). Já a equipe de ‘flag’ feminina não participou de nenhum campeonato ainda, mas de acordo com a diretoria do Avengers, elas devem participar da primeira competição no ano que vem. “As meninas são incríveis e sempre estão recrutando novas jogadoras que estão com vontade de aprender” disse o treinador do time, Rafael Cerdá. Pensando no futuro de

Jogadores do Avengers (de amarelo) no ataque, contra o Werewolves (de roxo); na foto abaixo, os atletas se preparam para começar a jogada

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seus atletas e do clube, a diretoria já possui alguns planos para o próximo ano, como, por exemplo, a ampliação do número de atletas e melhorar a estrutura do Centro de Treinamento. Além disso, a direção tem outros objetivos também. “Temos a expectativa de que ano que vem consigamos um melhor desempenho na Liga Paulista, tentando subir de divisão e, consequentemente, conquistar um maior espaço no cenário nacional”, comentou Magalhães. Para poder entrar no time, o processo é simples. Uma das opções é contatar a equipe pelas redes sociais, Facebook ou Instagram. A outra maneira é as seletivas que eles disponibilizam, que são duas por ano, em janeiro e outra em julho. Os treinos acontecem aos sábados, do meio dia às 16h, na rua João Batista Capitâneo, 2, Alves Dias e aos domingos, do meio dia às 14h, no Baetão.

SAIBA MAIS O futebol americano é um jogo de conquista de território, sendo assim as equipes precisam usar e abusar de diferentes estratégias. E para isso, não faltam técnicos, existe um treinador para cada posição, tanto para os 11 jogadores de defesa quanto para os 11 de ataque. Cada time possui dois grupos titulares, de atacantes e de defensores. Além de todos esses técnicos, existem os coordenadores de ataque, de defesa e o geral, conhecido como ‘Head Coach’. O jogo consiste basicamente em alcançar a área do oponente, a ‘End Zone’, que é onde se marca o ’Touchdown’, que vale seis pontos. Porém, os times sempre possuem quatro chances de alcançar a primeira descida (objetivo mínimo para avançar no campo) que equivale a dez jardas. Caso não consiga atingir essa marca em três jogadas, a equipe que estiver atacando deverá chutar a bola na quarta jogada, mas dependendo da posição no campo, o time pode arriscar o ‘Field Goal’, que consiste no chute entre as duas traves localizadas na ‘End Zone’. Porém, caso o ataque esteja longe dessa área, eles devem chutar a bola, devolvendo-a para o adversário.


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Dezembro de 2019

RUDGE RAMOS Jornal da Cidade


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