Jornal Circulando - edição 526

Page 1

3

Acidentes domésticos com idosos liga alerta dos familiares

5

Crise estimula brasileiros a mudarem de profissão

6

7

Superando limites: oficinas estimulam aprendizado na Apae

Mercado pet usa diversidade de produtos para atrair consumidores

Circulando JORNAL-LABORATÓRIO

CURSO DE JORNALISMO

DEZEMBRO 2017

ANO 9 EDIÇÃO 526

FOTO: Rhaylton Heringer

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

ESPECIAL

Rua do SIR lembra crime brutal A Rua Marta Gonçalves Reis, no Conjunto SIR, guarda mais do que seu aspecto pacato, com árvores e vizinhos acolhedores. O nome remete a uma jovem vítima de um crime bárbaro, ocorrido há 18 anos. O caso, que permanece sem solução, ainda está na memória dos moradores que conviveram com o drama, mas poucos parecem dispostos a trazer a história à tona. O que dá vida mesmo à memória da jovem são as árvores, plantadas pelo pai como forma de recordação. A reportagem do CIRCULANDO remonta parte desta história, ainda carregada de traumas na comunidade.

3 Intercâmbio garante bons Livros digitais ou impresretornos para o bolso sos? Eis a questão...

Aquela sonhada viagem de férias pode parecer sinônimo de gastos, mas dá pra aliar o útil ao agradável. Se os programas de intercâmbio estiveram quase sempre em alta, o mercado que busca por pessoas bilíngues e com uma boa carga de experiências culturais também está aquecido. O resultado é que tem gente

recém-chegada de uma temporada no exterior vendo o retorno do investimento. E há boas opções para quem não tem tantos recursos disponíveis. Empresas internacionais oferecem até o intercâmbio em troca de trabalho no exterior – uma modalidade viável de conhecer outros países e ainda de aprender novos idiomas.

5 Página

Página

4

FOTO: Banco de imagens

FOTO: Jean Rossow

Que a internet mudou o comportamento das pessoas, disso ninguém tem dúvida. E o mercado editorial foi um dos que sofreram com esse impacto. Há leitores que abandonaram o hábito de folhear as páginas de papel para arrastar o dedo pelo tablet sem abrir mão da leitura. Outros ainda fazem questão de usar somente os livros im-

pressos. Dúvidas que impulsionam também os escritores e as editoras. Há quem conseguiu alcançar sucesso editorial somente após ter se rendido às novas tecnologias. Além de serem mais baratos, os e-books ajudam a impulsionar na rede algumas publicações que passariam despercebido entre os livros impressos.

8 Página

FOTO: Banco de imagens

Mountain bikers proliferam em GV

Praticar exercícios é um hábito cada vez mais em voga, mas não só de academia vive o homem. Prova disso é o que se vê em Valadares. Os grupos de praticantes de mountain bike têm se expandido, e um número cada vez maior de pessoas tem topado sair de casa para enfrentar desafios diferentes a cada trilha.

E o esporte na região mostra que os novos adeptos não têm idade específica para participar. Basta mesmo é ter uma bicicleta minimamente equipada e disposição para encarar trilhas e estradas repletas de desafios. Gostar de adrenalina é ingrediente essencial neste esporte que vem aliando saúde e diversão entre os adeptos.


2 OPINIÃO

M A I O 2016

Por André Manteufel

NEWS x FAKE NEWS

Expediente

O ano de 1994 foi sem dúvida um dos mais marcantes para todos os brasileiros: a data remete ao tetracampeonato mundial da Seleção, ao lançamento do Plano Real, à corrida presidencial vencida por FHC, à triste lembrança da morte da lenda Ayrton Senna, às perdas dos gênios da música e do humor Tom Jobim e Mussum... Mas poucos se lembram de colocar na conta daquele ano a ocorrência do que certamente foi o maior e mais grave fake news já ocorrido por essas bandas – a da Escola Base. O caso veio à tona em março – portanto, antes de todos esses acontecimentos citados acima. E essa cronologia é um ponto importante, pois pode levar à suposição de que havia naquele momento um perigoso ostracismo da mídia tradicional, capaz de alimentá-la com um desejo voraz de publicar algo que fizesse o cidadão remexer na cadeira, de inconformar-se, de protestar como fizera dois anos antes, no impeachment do ex-presidente Collor. Estamos falando de uma época em que a notícia respeitava a programação dos telejornais e dos programas de rádio, bem como o deadline das revistas e jornais. Era como se os acontecimentos tivessem hora marcada. As pautas, nesse ritmo, eram bem mais escassas do que hoje, e era necessário muitas vezes rebolar para colocar o público em órbita com um assunto específico. Não se falava ainda em virais, trend topics nem em feeds. Pior para a família Shimada, proprietária da escola, que encontrou na figura irresponsável do delegado Edélcio Lemos um porta-voz dessa sede da imprensa: vieram dele as falsas acusações públicas de que professores e diretores da instituição abusavam sexualmente dos pequenos alunos. A mídia

caiu na falácia. Passados mais de vinte anos, as notícias falsas parecem seguir em alta: de lá pra cá, segundo os propagadores de inverdades, o filho do Lula tornou-se dono da Friboi; o governo da ex-presidente Dilma visava beneficiar prostitutas através de uma bolsa-auxílio; projetos e mais projetos de lei foram criados para acabar com o 13º salário e as férias remuneradas dos trabalhadores; o presidente Michel Temer desviou recursos para financiar terroristas palestinos. Estas são só algumas das manchetes que em algum momento movimentaram as redes sociais. O problema é que as fake news não são mais apenas um erro grosseiro da mídia. Elas, literalmente, se profissionalizaram. Há gente ganhando dinheiro com informações mentirosas, às custas de desinformar os internautas e inundar as redes sociais de sofismas. Um dos epicentros da mentirada propagada na rede vem de uma cidadezinha de 45 mil habitantes chamada Veles, localizada no interior da Macedônia, onde um grupo de jovens criou mais de 140 sites de notícias falsas com o intuito de lucrar com os acessos e compartilhamentos. Os Veles boys, como passaram a ser chamados, simplesmente faturaram, especialmente durante a

campanha do candidato à presidência dos EUA Donald Trump. “É claro que ganhei dinheiro publicando notícias falsas, mas o Google ganhou mais”, resumiu um dos adolescentes, numa entrevista gravada para o documentário Fake News – baseado em fatos reais. Se os Veles boys não concentram toda a amplitude do universo de notícias falsas no mundo, como o que resultou no linchamento de uma mulher no Guarujá (SP) há 4 anos, confundida com outra acusada nas redes sociais de sequestrar crianças para fazer rituais de magia negra, ao menos aponta que este é um mercado vigoroso e, por isso mesmo, indigesto. É aí que reside o papel dos jornalistas contemporâneos. Sua função não é mais apenas o de informar, mas passa a ser também o de lutar contra a desinformação. As fake news travestidas de verdade e de alerta têm um potencial bélico ainda maior por ocorrerem em tempos de bombardeamento ininterrupto de notícias. O jornalismo, então, passa a ser antes de tudo um filtro do que é procedente e do que não é. Não se trata de um trabalho que trará resultados da noite para o dia, mas de um começo. Talvez mais do que nunca, o jornalismo mostra-se imprescindível para a sociedade.

O JORNAL LABORATÓRIO CIRCULANDO é uma publicação bimestral do Curso de Jornalismo da Faculdade de Artes e Comunicação (FAC) Fundação Percival Farquhar Presidente: Rômulo César Leite Coelho

Editores: Prof. André Manteufel - MTb MG 10.456 JP

Universidade Vale do Rio Doce Reitor: Prof. José Geraldo Lemos Prata

Jornalista Responsável: Prof. Franco Dani - MTb MG 03.319 JP

Coordenador do Curso de Jornalismo: Prof. Dileymárcio de Carvalho Gomes

Repórteres: Alunos do 4º período de Jornalismo

Projeto Gráfico e Design: Prof. Mayer Moraes Lana Sírio Prof. Elton Binda

Impressão / Tiragem: Gráfica e Editora Leste / 500 exemplares

Editoração Eletrônica: Prof.Elton Binda

Aconteceu no curso Mais uma turminha de Jornalismo se despede. Sinal de que tá chegando gente “de responsa” ao mercado. É bom abrir o olho... Mas antes da formatura, esse pessoal teve de enfrentar a temida banca de TCC. Foi gente chorando, correndo, se escondendo debaixo da cama e até fazendo promessa pra Santo Expedito – o santo das causas impossíveis – para garantir a aprovação. A reza foi braba. Alguns tentaram meios “mais criativos”: presentinhos, elogios nas redes sociais, roupas e maquiagens impecáveis... teve gente que apareceu de terno, gravata e cabelo estiloso. Nada disso deu certo. As bancas foram implacáveis! No fim, todos se salvaram.

A terceira edição do Festival de Cinema foi novamente um verdadeiro sucesso! As produções cinematográficas dos alunos de todos os períodos de Publicidade e Propaganda e de Jornalismo foram exibidas num telão ao ar livre, com direito a pipoca por conta da casa. And all the dialogues were produced in english! Até alguns egressos deram as caras na Univale para prestigiar o evento. Aquele pessoal de Hollywood já deve estar de olho em novos talentos. Congratulations, professor Carlos Lira!

Excepcional a parceria entre a Univale e a Ascanavi, a Associação dos Catadores de Materiais Recicláveis. Entre tantas iniciativas, destacamos a exposição fotográfica 3%. Não, o nome não é em homenagem a nenhuma série da Netflix, mas uma referência ao percentual de lixo reciclável aproveitado em Valadares. A mostra, feita pelos próprios alunos da Comunicação para a disciplina de Fotografia, revela exatamente esse cenário desolador. Mais consciência, gente! O coordenador dos cursos de Comunicação Social, Dileymárcio de Carvalho, fez inúmeras reuniões com o Setor de Gestão Pedagógica (Gepe) da Univale ao longo do 1º semestre. A promessa é de uma verdadeira inovação no curso já a partir do semestre que se inicia. A ideia é manter os alunos ainda mais concatenados com as exigências do mercado. Vem coisa boa por aí.

Redação

EDITORIAL

Escritório de Comunicação Rua Israel Pinheiro, 2000, Bairro Universitário - Campus Antônio Rodrigues Coelho - Bloco C6 - Governador Valadares / Minas Gerais CEP: 35.020.220 / Contato: (33) 3279-5548 circulando@univale.br


3 ESPECIAL

ESPECIAL

GABRIEL ALVES E RHAYLTON HERINGER 4 º PERÍODO

MA I O 2016

Rua no SIR homenageia adolescente vítima de crime bárbaro Jovem de 16 anos, estuprada e morta há quase duas décadas, também tem homenagens do pai espalhadas pelo mesmo bairro onde a menina cresceu Rua Marta Gonçalves Reis, Conjunto SIR. O endereço revela um lugar pacato, distante do movimento intenso de carros, e repleto de árvores nas calçadas entre uma casa e outra. Como tantas outras vias da cidade, esta não tem muitas razões para chamar a atenção de quem passa por ali, a não ser pelo próprio nome que carrega. Mais do que uma homenagem, a história é de um crime brutal e, passados 18 anos, ainda sem solução. Alguns moradores mais recentes chegam a especular: a tal Marta seria alguém que ajudou a erguer o bairro ou alguma vereadora de um passado remoto de Valadares? Para a infelicidade dos mais antigos que a conheceram, esses e outros tantos palpites estão longe da realidade que eles prefeririam nunca ter vivenciado. A história remete a fevereiro de 2000, quando Martinha, como era conhecida, havia desaparecido por cerca de quatro dias. O corpo

Justiça

Fotos: Rhaylton Heringer

O nome gravado na placa que identifica a rua tornou-se uma homenagem à vítima do assassinato que, 20 anos depois, segue sem solução

foi encontrado enrolado numa capa de sofá, num lote vago no próprio SIR, onde ela havia nascido e morava durante 16 anos. Foi uma conhecida da vítima quem viu o sinal da tragédia no céu: um bando de urubus que sobrevoavam o local chamou a atenção da moradora, que resolveu apurar de perto o que havia por ali. Durante o trabalho de remoção do corpo, o pai, Venân-

cio, reconheceu a filha no próprio lugar onde foi encontrado. O laudo pericial atestou sinais de estupro e estrangulamento, e a presença de vários hematomas pelo corpo. Hoje o lugar, que fica atrás da Paróquia de São Francisco Xavier, tem uma grande cruz cravada no solo em memória da jovem. O marco serve de lembrança para a população do SIR, den-

tre eles o aposentado Delton Antônio, que viveu de perto os dias de terror de 18 anos atrás. “Uma menina boa, bonita e muito linda. Conheci ela desde pequeninha”, recorda-se, deixando mais evidente o perfil da jovem assassinada com requintes de brutalidade. Mas o relato do idoso parece ser apenas um pequeno eco numa comunidade que prefere esquecer a tragédia.

Após o homicídio, uma sensação de pânico imediatamente tomou conta da população do bairro, sobretudo dos outros pais. Os filhos passaram a ser acompanhados de perto no trajeto entre a escola e a casa. Foram necessários alguns meses para que o clima tenso diminuísse. Exceto, é claro, pela família da vítima. Durante os meses e anos seguintes, o pai lutou em vão para encontrar o assassino da filha. A sede de justiça nunca foi saciada – até hoje o caso permanece sem solução. Traumatizada, a família mudou-se para Belo Horizonte. Um dos poucos familiares que ainda residem em Valadares é Marta Reis, tia de Martinha. Ela, porém, recusou-se a comentar qualquer coisa relacionada ao caso. “Isso é algo que a família conseguiu enterrar, passar por cima”, esquivou-se. Entre os moradores, a cruz que mantém as lembranças do crime acesas não é a única recordação. Antes de mudar-se para Belo Horizonte, o pai de Martinha também dedicou-se a plantar mudas de árvores que se estendem por toda a rua que leva o seu nome. O tempo passou, e Marta Gonçalves Reis transformou-se no símbolo de um bairro cuja população quer apenas o que todos os outros valadarenses desejam: paz.

Alerta ligado: Acidentes domésticos com idosos podem ser fatais Marcela Guerra- 4º período

A inversão nos índices de mortalidade e natalidade e o avanço da medicina têm contribuído para o aumento da população de idosos no Brasil e no mundo. Estudos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estimam que em 2025 o país terá 32 milhões de pessoas com idade acima dos 65 anos. Essa perspectiva põe em alerta os mais novos: parte dos problemas de saúde sofridos pelos idosos tem sua origem dentro da própria casa. Os números do Ministério da Saúde chegam a causar espanto: 30% dos idosos brasileiros já sofreram quedas, e, a depender do cenário atual, já se sabe que mais de dois terços deles cairão novamente nos seis meses seguintes ao primeiro tombo. Razões suficientes para chamar a atenção dos órgãos públicos de saúde, das famílias e dos profis-

sionais da área, como cuidadores, geriatras e fisioterapeutas, por exemplo. Aos 64 anos, Elcy Gomes Dutra admite já ter caído por diversas vezes, e a última levou a aposentada à internação no Hospital Regional de Governador Valadares. Ela quebrou o fêmur e precisou passar por uma cirurgia. “Acordei de madrugada para tomar um leite por causa dos medicamentos que uso. Como o interruptor da luz estava longe, caminhei no escuro, trombei no móvel e caí”, relata. Ainda no quarto do hospital, a filha Rita revela que o sofrimento é dobrado. Isso porque, além da mãe, o avô, de 88 anos, também precisou passar por uma cirurgia delicada no cérebro após um acidente doméstico. “Meu avô ficou um mês inconsciente. Para a medicina ele vegetaria, mas Deus operou um milagre”, diz, aliviada. O acidente mais co-

mum na idade senil é de fato a queda. Embora pareça sem riscos, esse tipo de contratempo pode gerar restrição da mobilidade, incapacidade funcional, prejuízos psicológicos pelo isolamento social e o medo de cair de novo. Lucimar Aparecida convive com muitas dessas circunstâncias todos os dias. Ela é enfermeira há seis anos no Lar dos Velhinhos, e trabalha minimizando os riscos em todo o tempo. “As precauções são muitas, principalmente quando eles se levantam. Procuramos deixá-los calçados adequadamente, longe de pisos escorregadios para evitarmos as quedas que trazem tantos problemas”, explica. Ainda segunda a enfermeira, a fratura do fêmur continua sendo uma das consequências mais graves quando se trata de acidentes com idosos. Para os profissionais da saúde, outro fator de risco é o es-

Foto: Banco de imagens

Um das formas de se evitar acidentes domésticos com idosos é a atenção e o cuidado dos próprios familiares.

tilo de vida sedentário, pois é o que reduz a mobilidade e o equilíbrio. A recomendação é de manter a prática de atividades físicas, aliadas à ingestão de níveis adequados de cálcio e Vitamina D, para aumentar a força muscular e a flexibilidade, além de melhorar a coordenação motora e consequentemente ajudar a prevenir quedas.

Cuidados dentro de casa Identificar os riscos de traumas faz parte das ações preventivas. Os obstáculos estão dentro das casas de diversas maneiras, e se revelam das formas mais trágicas. Entre os mais comuns estão os pisos irregulares e escorregadios, a falta de iluminação, tape-

tes soltos no chão, quinas de móveis expostas, falta de barras de apoio no banheiro, interruptores longe do alcance, móveis atrapalhando passagem, cadeiras e vasos sanitários muito baixos, escadas inclinadas sem corrimão, camas e sofás muito altos e até os animais de estimação, que podem se tornar uma pedra no caminho.


4 M A I O 2016

JÁQUIS AGUILAR E LARISSA QUEIROGA 4º PERÍODO

TURISMO

Linha de ônibus que leva ao Pico da Ibituruna aproxima cartão-postal da população Maior ‘patrimônio’ de Valadares ao lado do Rio Doce, vista paradisíaca do pico de 1.123 metros de altura ainda é desconhecida para muitos moradores; chance de conhecer o local ficou mais fácil desde 2017 O Pico da Ibituruna é considerado há muitos anos o principal cartão postal de Governador Valadares e ponto turístico obrigatório pela vista de tirar o fôlego. O lugar também carrega fama internacional quando o assunto são esportes radicais. Mas, na contramão de todos esses atrativos, há outra realidade: nem todos os valadarenses conhecem o ponto mais alto de todo o leste do Estado. Realidade que desde agosto pode mudar graças a uma linha exclusiva de ônibus da Valadarense que tem como destino o cume da Serra da Ibituruna. Moradora da cidade há 36 anos, a aposentada Nilda Mendes, de 68 anos, confessa que em todos esses anos nunca conheceu o cartão-postal. Entre uma desculpa e outra, o real pretexto: medo de altura. Com a nova linha de ônibus, porém,

o desejo de conhecer o lugar reascendeu a expectativa de superar a tensão para deparar com a mais bela vista que Valadares pode oferecer. “Dizem que a visão que se tem da cidade é linda, sobretudo à noite. Às vezes, tenho curiosidade”, confessa. Já para a estudante Nayara Gonçalves, de 21 anos, teve a oportunidade de visitar a Ibituruna em outras ocasiões, mas, pela primeira vez, teve a experiência de usar a nova linha de ônibus. Além de tornar o tortuoso trajeto mais acessível à população, ela garante que, pelo menos na subida, o ônibus não balança. A experiência foi tão positiva que ela já faz planos de repetir a aventura. “Com ônibus, fica mais fácil e acessível, e é bom para que todos possam admirar o Pico da Ibituruna e a vista da cidade.”

Foto:Larissa Queiroga

Trajeto até o Pico da Ibituruna: quem não tinha condições de chegar lá por falta de transporte já tem uma linha própria para conhecer o local

Pra quem nunca foi...

Não é por acaso que a Ibituruna destoa no horizonte de quem passa pela região. Quem chega pelas rodovias que dão acesso ao município já depara, a quilômetros

de distância, com um monte pontiagudo, mais elevado em relação à cadeia de montanhas ao lado. E não é por acaso. A Ibituruna tem 1.123 metros de altitude em relação ao nível do mar e 960 metros em relação ao Rio Doce, onde está a base da

montanha. O local lidera o ranking dos melhores lugares do mundo para a prática do voo livre, mas não exige que os visitantes tenham necessariamente que encarar o esporte pra desfrutar das maravilhas da região. Do topo,

são quase 360 graus de montanhas a perder de vista, em parte cortadas pelo Rio Doce. Dependendo da época do ano, ainda dá pra contemplar dezenas de paragliders e asas-delta coloridas cortando os céus da cidade. A subida vale a pena!

Intercâmbio transforma turismo em boas oportunidades de emprego Raíssa Miranda e Josiane Assis 4 º período

Na hora de fazer um currículo, o domínio de dois ou mais idiomas ganha um peso que pode ser decisivo na busca por um bom emprego. É por isso que muitos jovens têm procurado por escolas e intercâmbios voltados à vivência de outras culturas e idiomas. Mais do que passear no exterior, a experiência de um bilíngue pode se converter em sucesso profissional. Uma realidade que já é tendência no Brasil: os poliglotas têm ganhado cada vez mais espaço no mercado de trabalho, e o que antes era exceção agora é pré-requisito. Dominar outro idioma é uma ponte para uma boa colocação profissional. “Aprender um idioma é uma tarefa difícil, pois é preciso ter foco e dedicação para estudar todos os dias. Um dos diferenciais da escola foram os intercâmbios entre 2013 e 2014. Quando alguém faz um intercâmbio, ela não se torna uma pessoa melhor do que a outra, porém ganha uma visão mais ampla

das coisas, gerando assim uma criatividade e muitas vezes uma mudança na vida pessoal”, esclarece o professor Fernando Almeida, que aos 18 anos começou a investir nos estudos e em intercâmbios. E apesar de ainda não ser uma alternativa acessível, já existem fundações e programas governamentais que apoiam estudantes com bolsas de intercâmbios. A divulgação dessas oportunidades nem sempre chegam a todas as pessoas, mas dá para planejar um período de estudos no exterior a partir de uma boa pesquisa sobre as oportunidades existentes. Foi o que fez o estudante de Arquitetura e Urbanismo Jederson Silva (22). Ele fez intercâmbio e passou o ano de 2013 estudando em Nova York (EUA) através do extinto Programa Ciência sem Fronteiras, do Governo Federal. “O intercâmbio teve dois pontos fundamentais no aprendizado do idioma: em questão da linguagem, foi a prática diária que fez com que eu aprimorasse a fluência, pois lá o inglês

é o idioma principal de comunicação. A descoberta das novas expressões, figuras de linguagem, coisas que nem sempre são aprendidas durante o cursinho. O segundo aprendizado fundamental foi o conhecimento cultural: são costumes diferentes, outro modo de vida, e a consequência disso é o crescimento pessoal. A bagagem aumenta não só com os itens trazidos de lá, mas é a vivência de tudo aquilo”, pontua. Como resultado de oportunidades profissionais, ele conta que já substituiu durante 3 meses a professora de inglês na escola de idiomas onde ele já havia sido aluno. Serviços como tradução de textos e trabalhos acadêmicos também ajudam na renda do estudante, porém, a conquista mais comemorada por ele é ter o próprio intercâmbio no currículo. Com isso, aposta, virão mais oportunidades de estágios e processos de seleção em grandes empresas. E ele decidiu não parar: Já está estudando o francês, iniciado durante o intercâmbio nos EUA.

O objetivo é ousado: ter fluência em, pelo menos, quatro idiomas. Universal Mais do que saber outro idioma para entrar no mercado, a estudante Mariana Pinheiro, de 18 anos, depende disso para realizar o sonho de ser comissária de bordo. O primeiro passo está sendo dado: fazer um curso pré-vestibular de olho na carreira militar. “Meu objetivo é fazer o

vestibular para conseguir entrar na Aeronáutica”, explica. A primeira etapa exige conhecimentos em português, matemática, redação e inglês. “O inglês realmente é o mais importante por ser universal, mas além do inglês quero falar espanhol e o meu sonho é também dominar o russo”, avisa a jovem. Para aqueles que têm desejo de realizar um intercâmbio mas esbarram em dificuldades como dinheiro, estadia e apoio local,

existem instituições que ajudam a viabilizar a experiência e ainda dão suporte ao intercambista. Uma delas é a Aiesec, voltada para as experiências de jovens e estudantes com o intercâmbio. Uma das modalidades que o grupo oferece é direcionada a quem queira viajar e custear suas despesas com trabalho – chamado de “intercâmbio de voluntariado”. A entidade dispõe de um portal onde oferece informações: www.aiesec.org.br.


5 ECONOMIA

D E Z E M B R O 2017

JEAN ROSSOW E WARLEY VASCONCELLOS 5º PERÍODO

Mercado de livros digitais cresce mais que o de impressos Com a expansão cada vez mais intensa das redes sociais na internet, hábitos antes rotineiros vêm perdendo espaço. A necessidade de sempre estar conectado acaba por afastar os jovens de atividades que um dia já foram essenciais, como a leitura, por exemplo. Mas engana-se quem afirma que os novos jovens não lêem. A questão é que hoje a leitura em voga nas redes é completamente distante da leitura formal, indo além dos livros clássicos, teóricos ou best-sellers. Mais do que qualidade, a quantidade é o ponto mais importante dessa tendência. Na tentativa de acompanhar esse turbilhão de leituras diárias, o livro digital aparece como uma alternativa ao físico. A assistente administrativa Danielle Silva Oliveira, de 18 anos, chegou a aderir à versão eletrônica dos livros, mas admite que não conseguiu se adaptar à nova tecnologia. Segundo ela, ler com o livro físico em mãos remete a antigas experiências, como a do avô que ajudava a compreender as primeiras sílabas. “Quando me disseram que era melhor ler no tablet do que no próprio livro, me interessei quase que de imediato. No começo até foi bom, mas com o tempo fui percebendo que era muito fácil perder o foco na leitura que estava fazendo. Além disso, vieram as dores de cabeça e tonteiras que eu sofria toda

Trabalhadores mudam de carreira para contornar a crise

FOTOS: Falta crédito

Por: Vanusa Alves (4º período)

Biblioteca Municipal tem atualmente mais de 110 mil volumes

vez que tentava ler por lá”, relata. Se por um lado há quem não consiga se adaptar à leitura digital, por outro há quem tenha feito dos e-books um objeto indispensável. A estudante Nathalia Santos conheceu a leitura digital através de uma amiga que lhe apresentou os benefícios dessa nova literatura digital. Santos leva a leitura como rotina obrigatória, e o novo formato facilitou o acesso. “No começo achei estranho, pois era diferente ter o livro em outra plataforma, mas com o tempo a adapta-

ção foi bem tranquila. Dentre os principais benefícios, sem dúvida, posso apontar a diminuição dos valores na compra, a facilidade de acesso e o fácil arquivamento”, avalia.

Escritora digital

Mila atribui grande parte de seu sucesso ás plataformas digitais.

Para quem decide lançar um livro neste contexto, surge a incógnita: em qual formato publicar? E foi justamente essa a indagação que a escritora Mila Wander fez durante a criação de seu primeiro livro. Levada pelo conceito tradicional de publicação, a professora decidiu seguir o caminho do livro físico. A expectativa de sucesso não se confirmou, e Mila viu o projeto se transformar num grande prejuízo pelo baixo volume de vendas, além de problemas com a editora e dificuldades na divulgação. A escritora parou por um tempo, mas ao lançar outro título, apostou na inovação. Antes, porém, conheceu formas de divulgação independentes, pelas quais os leitores expressavam suas opiniões com facilidade. A adoção ao meio eletrônico foi um sucesso, e, em 2014, seu romance

erótico, “O Safado do 105”, conquistou mais de quatro milhões de leituras em uma das plataformas. O momento é de festejar os lucros. “Tive um retorno financeiro muito bom com a venda de e-books. Hoje publico meus livros por três editoras e alguns ainda uso a forma independente.” As novas adaptações, entretanto, não vêm afetando a circulação na Biblioteca Municipal Professor Paulo Zappi, instalada nas dependências do Centro Cultural Nelson Mandela. O acervo composto por 110 mil volumes reúne obras raras da literatura brasileira e mundial, livros técnicos, didáticos, dicionários, fotos e mapas. Segundo o representante da biblioteca, Fábio Guedes, a média de 150 visitantes e 100 empréstimos por dia se manteve mesmo com o surgimento das novas plataformas de leitura, mas a proposta vem sendo estudada de perto. “Trata-se de uma novidade que ainda não foi adotada pela biblioteca, mas com o tempo certamente também serão incorporadas obras no formato e-book”, antecipa.

O Brasil atravessa uma crise política e econômica severa. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em março, nada menos que 27,7 milhões de pessoas estavam desempregadas ou trabalhando menos do que gostariam. E o resultado disso é perceptível: com menos dinheiro circulando, outros setores acabam correndo o risco de um verdadeiro colapso. E isso, acredite, pode ser positivo para quem pensa em se reinventar. Afinal, é em meio à crise que aparecem boas oportunidades de empreender ou mudar de carreira, sempre de olho na sonhada realização profissional. O psicólogo Cleuber Brito, de 36 anos, era diretor comercial de uma emissora de rádio quando resolveu mudar de carreira. O sonho de ter seu próprio negócio serviu de estímulo. Ele abriu mão da estabilidade do salário e de uma carreira consolidada. “Disseram que eu estava sendo irresponsável, já que tinha dois filhos, família, etc. Mas fiquei em meu sonho, e, apesar da insegurança, mantive o foco no que acreditava”, conta. Hoje Cleuber é dono de uma franquia de cosméticos, escolha que, segundo ele próprio, foi a melhor que fez na vida. “Em menos de dois anos superamos o volume de 8 milhões de reais, com reconhecimento de sucesso nacional, premiações, e projeção regional. Foi a melhor escolha profissional da minha vida! Conquistei mais em menos de dois anos”, contabiliza. A jornalista Mariana Freire, de 30 anos, foi levada para outra carreira devido às circunstâncias em que o mercado se encontrava. Desempregada em 2015, ela recebeu o convite de um conhecido, dono de uma escola de idiomas, para lecionar inglês. Apesar da resistência de ir para sala de aula, acabou aceitando por falta de opção. “Trabalhar como professora era a última coisa que eu queria”, admite. Professora há dois anos, ela não se vê mais fazendo outra coisa. “Eu me apaixonei pelo meu trabalho. Cada vitória dos meus

alunos, sinto como se fosse minha. Este é um retorno que eu raramente via no jornalismo, sem contar com a chance de crescimento profissional que encontrei.” Foi o que também fez Deivid Alex ao abandonar a licenciatura em Química. O déficit dos profissionais habilitados nessa área e o gosto pela química fizeram-no apostar na formação como o caminho seguro rumo à estabilidade financeira. Mas sua vida mudou antes mesmo de concluir a graduação. Ele passou no concurso da Policia Militar, tornou-se policial e decidiu por uma mudança até então inimaginável: ingressou na faculdade de Direito, por ser mais próxima de sua área de atuação. “A mudança de área foi mais um objetivo profissional, porque o Direito é um requisito para fazer o concurso de oficial da Polícia Militar. Pretendo também fazer concursos para graduar na profissão”, projeta.

Conhecer o mercado Mudar de profissão para começar tudo do zero não é um problema, mas para a gestora de Recursos Humanos Letícia Paiva é preciso levar alguns aspectos em conta antes de tomar a difícil decisão. “O primeiro ponto que deve ser analisado quando está indeciso para trocar de campo profissional é verificar o mercado, se está em crescimento ou estagnado”, orienta. Segundo ela, um dos caminhos pode ser habituando-se ao cotidiano de outras profissões, buscando conhecer melhor as dificuldades da área pesquisada. Como esse não é um processo fácil, a gestora alerta que é preciso desejar, acreditar e estar disposto a arriscar para tentar novos caminhos. “Em alguns casos, o empreendedor já tem um plano, uma visão de oportunidade. O próximo passo é a avaliação da ideia, mas se ainda não tem essa ideia já configurada, não pode seguir em frente sem antes identificar a oportunidade que está à sua frente. Nesse momento é que se insere a criatividade, palavra de ordem nas organizações”, avisa.


6 D E Z E M B R O 2017

ANA KAROLINA SANTOS E BRUNA SOUZA 4º PERÍODO

EDUCAÇÃO

Oficinas mudam rotina de jovens excepcionais da Apae Música, esporte, tecnologia e até culinária. Essas e outras atividades, que costumam fazer parte do dia-a-dia das pessoas, se transformam num símbolo de superação na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais de Governador Valadares (Apae-GV). A instituição, que funciona no Bairro Vila Bretas, oferece oficinas que contribuem para o desenvolvimento físico e mental das crianças e jovens excepcionais. O impacto dá pra ver diretamente no desempenho de cada participante. É o que garante a assistente social da Apae Jaqueline Ribeiro, para quem as atividades são importantes para desenvolver nos internos habilidades além da simples inclusão, até mesmo no meio familiar. “Eu vejo que as oficinas são estratégicas para eles

Assim, a instituição tenta intensificar a coleta de doações. “A Apae vive basicamente de doações, desde produtos alimentícios até patrocínio das oficinas. A maior dificuldade é fazer atividades mais diversificadas com esses recursos limitados”, afirma a diretora.

FOTO: Bruna Souza

Apoio

A prática da natação é apenas uma das diversas oficinas oferecidas pela Apae em Valadares; até culinária básica é ensinada aos internos, sob o acompanhamento dos pais

vivenciarem situações de lazer. Essas oficinas são de socialização, de superação. As oficinas também são estratégias para eles aprenderem os direitos sociais, ter o lazer, ter o desenvolvimento de habilidades”, explica. A família, aliás, faz parte de uma das ações

para que a as oficinas tenham êxito. Por isso, a instituição desenvolve tratamentos paralelos, nos quais é trabalhada a autonomia do aluno. O objetivo é que cada excepcional tenha um relacionamento mais sociável com as pessoas de seu convívio. A participação dos pais vem

em forma de confiança, de modo que as crianças se sintam seguras e felizes. Por isso, ainda segundo a assistente social, há casos de pais de internos que também superaram seus traumas pessoais graças ao apoio da associação e até com a ajuda de outros pais de alunos. Hoje

têm uma vida mais feliz, e de uma forma especial: ao lado do filho. Segundo a diretora-executiva da Apae em Valadares, Edna Luciano de Araújo, por ser uma instituição filantrópica, uma das dificuldades da entidade é manter todo o trabalho, pois os recursos são limitados.

Mas o exemplo de superação não seria possível se não fosse pelos profissionais envolvidos diretamente com as crianças. Hoje a entidade tem em seu quadro profissionais da pedagogia, assistência social, além de pediatras, fisioterapeutas, psicólogos, neuropediatras e fonoaudiólogos. Tanta gente foi uma conquista no decorrer dos 43 anos de fundação da entidade em Valadares.

Professor de xadrez une diversão e conhecimento em escola de GV Hernane Ramos e Samuel Bonicontro 4 º período

A história desta reportagem envolve resgate. O psicólogo e professor Vitor Mathees Souza, de 35 anos, é daqueles profissionais que trazem algo novo para a educação em busca de melhorias para o futuro das crianças. E essa história começa com uma surpresa: Vitor foi contemplado pelo programa Mais Educação, vinculado ao Ministério da Educação e Cultura (MEC). A proposta é oferecer disciplinas diferentes das convencionais, entre elas o xadrez. A seleção permitiu a Vitor lecionar em dez turmas de escolas públicas em Valadares, onde aplicou não somente as regras do jogo, mas também usou a atividade para estimular o raciocínio rápido. A questão é que os benefícios do xadrez ainda vão além disso. É o que garante o próprio professor. Ele cita a honra, a responsabilidade, a segurança na tomada de decisões e a inteligência como resultados diretamente ligados às práticas do jogo.

Formado em Psicologia, ele não esconde a alegria de poder promover a educação de jovens através de atividades menos comuns. “Vejo muita grandeza no ofício da docência, e como sou vocacionado nesse esporte que também é uma arte, vi nesse programa a oportunidade de restaurar uma cultura enxadrista que há um tempo existia aqui, e por motivos que desconheço acabou”, diz. O professor conta que chegou a dar aulas de xadrez para as turmas primária e ginasial da Escola Municipal Vereador Hamilton Teodoro, no Bairro Jardim do Trevo, em Valadares, mas o trabalho acabou sendo interrompido. “Não desisti da ideia de restaurar a cultura enxadrista em Valadares. Estou acumulando um capital e pretendo futuramente abrir um clube de Xadrez ou uma escolinha”, revela. A diretora da escola, Dayanne Alcântara, conta que viu melhorias no comportamento dos alunos através das aulas de xadrez. “De fato o xadrez é um

jogo cuja elaboração exige do jogador uma concentração que é em si mesma frutífera do ponto de vista pedagógico. Pois além da redefinição da percepção lógica como consequência da prática cotidiana do jogo, a própria estrutura da jogabilidade trabalha também a tomada de decisões e suas respectivas consequências. Ou seja, é um esporte que trabalha de modo amistoso e divertido a responsabilidade”, analisa a diretora. “Nos intervalos, por exemplo, o professor fica disponível acompanhando as partidas, e muitos alunos que, antes do projeto, ficavam dispersados ou mexendo em seus smartphones, perceberam a beleza e a natureza fustigante do jogo, passando então a utilizar o tempo do intervalo para se divertirem no tabuleiro”, relata, orgulhosa, a diretora.

Recreios A professora Rozimar da Silva Oliveira Marinho, da Escola Hamilton Teodoro, também confirma o suces-

FOTO: Banco de imagens

Muito além do xeque-mate: alunos lidam com autocontrole e disciplina nas aulas de xadrez

so obtido graças às aulas de xadrez. “Os alunos que despertaram o interesse na prática do jogo tiveram uma melhora perceptível no quesito atenção ao resolver os exercícios, principalmente cálculos ou expressões numéricas. O xadrez é um jogo que exige muita concentração do jogador, e, nesse sentido, a prática cotidiana ajudou a otimizar a atenção deles na resolução de alguns problemas

matemáticos”, analisa. Mas o reconhecimento não vem só de quem acompanhou o professor Vitor. Aluna do 9º ano do ensino fundamental, Luiza de Almeida Santos se surpreendeu com os efeitos do xadrez. No início achou estranho, mas com o tempo pegou gosto e hoje deseja que a atividade se torne disciplina escolar. “Quando comecei a ter aulas de xadrez, jamais passou pela

minha cabeça que seria essa experiência incrível. Inicialmente achava confuso, depois percebi a lógica e os princípios fundamentais e a coisa fluiu. Aqui na escola todo mundo joga e os recreios passaram a ser mais interessantes. Espero que algum dia esse projeto ganhe a devida dimensão que ele merece e que torne não apenas um jogo, mas uma disciplina escolar”, conclui a aluna.


7 COMPORTAMENTO

D E Z E M B R O 2017

MARCELA GUERRA E PRYSCILLA RODRIGUES 4º PERÍODO

Produtos e serviços variados aquecem mercado pet

Gastos com animais domésticos vão além do tradicional banho e tosa, despertando novos segmentos de mercado que vêm atraindo os consumidores

Redes sociais impulsionam vendas de lojas físicas

Foto: Banco de imagens

por Victória Laia, Felipe Ribeiro e Tiago Carvalho- 4º período de Jornalismo

Quem pensa que ‘vida de cão’ é sempre difícil, está enganado. As pessoas que não resistem à tentação de ter um animal de estimação – os famosos pets – na maioria das vezes estão dispostas a doar parte do seu tempo e da sua renda aos cuidados com os bichinhos. Mais do que isso, a verdade é que eles estão interferindo no modo de vida das pessoas e abrindo novos nichos de mercado. O reflexo está nos números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE): hoje são mais de 50 milhões de cães e 22 milhões de gatos de estimação no Brasil – em outras palavras, a cada três habitantes, um tem bicho de estimação em casa. A psicóloga Fernanda Fanti faz parte dessas pessoas. Ela admite que não alimentava a ideia de ter cachorros em casa. Mas acabou se rendendo aos encantos de Homer, um belo exemplar de golden retriever adquirido pelo marido. Com o passar do tempo o casal decidiu aumentar a ‘família’ e adotar o Bart, um labrador. De

fato a rotina do casal foi alterada. Eles se viram obrigados a mudar de casa por causa dos cães, que necessitavam de espaço. E até as viagens de férias do casal ficaram comprometidas. Agora eles precisam de dois carros, já que os animais são de grande porte. “Cada um leva um cachorro no seu carro”, explica Fernanda. A questão é que, cedo ou tarde, os animais acabam demandando outros serviços. E ofertas não faltam num mercado que tem crescido muito nos últimos anos. Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet), em 2016 o setor faturou R$ 19 bilhões no Brasil. Os gastos com alimentação representam 67,6% do faturamento total, mas há também gastos com serviços (16,4%), artigos de higiene, beleza e acessórios (8,2%) e medicamentos (7,8%) do faturamento total. Mas alguns gastos vão além dos rotineiros. Dentre os procedimentos mais solicitados na Clínica Cão e Cia, está a cirurgia de

Os pets costumam se tornar um membro da família, o que explica em parte os altos gastos com os animais

castração, a profilaxia oral e retirada de tumor mamário em cadelas. Luciana Cristina é uma das médicas veterinárias do local. Ela salienta a importância de uma boa nutrição para a saúde animal. “Uma ração de qualidade é tudo hoje em dia”, destaca. Além dos procedimentos clínicos e artigos de pet shop, a clínica oferece grande abrangência de vacinas, dando destaque para a de Leishmaniose, devido aos muitos casos em Governador Valadares. Segundo a médica veterinária Mireille Sabbah, do Mundo Pet, quem quiser ter um animal de estimação precisa estar ciente da responsabilidade na criação, da bagunça, da sujeira e das despesas também. Ela explica que não existem raças específicas de cães ou gatos que sejam mais caras de se manter, mas admite que algumas raças são mais propensas a ter problemas de saúde em relação a outras. É o que acontece com os cães da raça sharpei, que por causa da face enrugada há um favorecimento maior para a proliferação de fungos que causam dermatites. Já os de focinho achatado tendem a ter problemas respiratórios como bronquite e colapso de traqueia devido ao estreitamento da narina. É o caso do shih tzu, pug e buldogue. “Escolher bem o animal pode facilitar a vida, mas não tem como fugir dos custos com vacinas, ração, banho e orientações do veterinário”, enfatiza Mireille.

As mídias digitais estão tomando conta da sociedade, e um dos motivos é a praticidade. Muitos empresários encontraram na web uma boa oportunidade de expandir a empresa, e, assim, apostar nesse tipo de ferramenta para divulgar seus produtos da forma mais barata possível: de graça. Até dá pra pagar alguns reais pra impulsionar a publicação, o que por si só já oferece um preço acessível, mas a aposta na propaganda gratuita nas redes sociais vem ganhando a adesão de quem há pouco tempo nem sequer pensava em investir em propaganda. Foi o que fez a empresária Dayane Alvarenga, de 30 anos, que encontrou a chance de aumentar suas vendas usando o Instagram. Proprietária de uma loja de roupas, ela passou a trabalhar com a venda de produtos para todo o território brasileiro, indo além dos limites geográficos que a loja física alcançaria. A aposta em torno das vendas online, sem que o consumidor precise sair de casa, é um filão e tanto. Por isso, muitas vezes adota a estratégia de promover a rede social ao invés da mídia convencional. Mas não são só os empresários que saem ganhando. Os consumidores também vêem nas lojas virtuais a comodidade de fazer compras no conforto de sua casa, sem precisar andar de loja em loja à procura do produto desejado. A dona de casa Rosana Lima, 48 anos, tornou comum o hábito de fazer compras pela internet. A primeira compra foi há sete anos, e desde então não parou mais. Uma das muitas vantagens das compras online, segundo ela, é a diversidade dos preços e a qualidade dos produtos. “Eu procuro

pesquisar sobre a confiabilidade dos sites para depois realizar as comprar, e nunca tive problemas ou recebi produtos com defeitos”, descreve. Outra vantagem é que comprar pela web não exige tanta expertise assim em frente ao computador. A aposentada Erlite Heringer, de 55 anos, admite que tem dificuldades em manusear as novas tecnologias, mas ainda assim consegue fazer suas compras pelo computador. Com a ajuda dos filhos, fechar as compras fica mais fácil. “Eu tenho muita dificuldade de mexer em computadores, e sempre estou pedindo aos meus filhos ajuda, porque eu tenho muito medo de realizar alguma compra falsa”, confessa.

Cuidados na rede Na contramão de tantas facilidades, a internet também merece cuidados para evitar cair num golpe que faça o produto esperado se transformar numa dor de cabeça. Na própria web é fácil encontrar relatos de consumidores que

compraram um telefone celular mas que, no lugar, receberam uma pedra, por exemplo. Para não ser vítimas de crimes dessa natureza, o Procon de São Paulo, em parceria com o Sebrae, disponibiliza gratuitamente pela internet um guia de comércio eletrônico que orienta os usuários sobre que precauções tomar antes de fazer uma compra. A cartilha, de 28 páginas, descreve algumas das modalidades de comércio encontradas na rede. “A comodidade de não ter de se deslocar para um estabelecimento comercial e receber as mercadorias em casa é um grande atrativo, mas o consumidor deve procurar conhecer melhor as diversas modalidades de oferta de produtos e serviços, os cuidados que deve ter ao comprar ou contratar, bem como o que fazer se houver algum problema com a transação comercial”, alerta o documento. O guia está disponível no endereço: goo.gl/YgnpT2.

Dicas para compras pela internet* • Não compre por impulso • Identifique o fornecedor (razão social, CNPJ, formas de contato, etc.) • Busque referências através de outros compradores • Em caso de produtos e serviços, verifique a situação da empresa nos órgãos responsáveis (Anvisa, Embratur, etc.) • Compare preços e as formas de pagamento • Avalie as condições de entrega • Informe-se sobre a política de trocas e devoluções • Guarde todos os comprovantes que sirvam como comprovante da compra • Exija nota fiscal do produto * Procon-SP / Sebrae


8 D E Z E M B R O 2017

PABLO AMARAL E WARLEY SOBRINHO 4º PERÍODO

ESPORTE

Mountain Bike cresce e atrai novos praticantes em GV Misto de ciclismo com muita adrenalina vem ganhando adeptos, estimulados pelas trilhas e estradas da região Quando se pensa em esporte radical em Valadares, a maioria das pessoas talvez remeta à mesma ideia: voo livre. Mas é em solo firme que um esporte divertido e fácil de praticar vem atraindo novos usuários. O Moutain Bike ganha ares de novidade pelas trilhas do município, e mesmo sem a vista fenomenal do paraglider ou da asa-delta, tem levado atletas amadores a subir numa bi-

cicleta e rodar pela região. É o caso do jornalista André de Souza, de 43 anos. Ciclista nas horas vagas, ele define a atividade como uma modalidade do ciclismo, acrescida de um toque a mais nos desafios: desde subir e descer montanhas, passando por trajetos longos ou até pedalando em alta velocidade pelas estradas retas. Aos fins de semana, Souza troca o trabalho na

Uma das vantagens da modalidade é a possibilidade de praticá-la em grupo

emissora de TV onde trabalha pelas pedaladas nas diversas trilhas e estradas locais. Devido à correria do dia-a-dia, ele chegou a se afastar do esporte por dois anos – um longo intervalo para quem hoje não consegue sair do vício do cross country, categoria que desafia o ciclista a percorrer grandes distâncias. “O que busco é uma diversão, um conforto físico e relaxar”, diz o praticante. Mas o jornalista é só um dos valadarenses que se apaixonou pelo esporte. E não é difícil perceber pelas ruas da cidade um número cada vez maior de bikers em bicicletas apropriadas à categoria. São muitos os grupos de ciclistas que se unem para andar pelas ruas, avenidas e estradas. Os campeonatos locais também vêm contribuindo para expandir a prática em toda a região leste. Bom para a saúde física e mental, mas também para o bolso. Marcelo Mendes, gerente de uma loja de bicicletas em Governador Valadares,

FOTOS: Banco de imagens

Saúde, natureza e adrenalina: três elementos que ajudam a explicar o sucesso do mountain bike entre os valadarenses

conta que para atender à demanda seu estabelecimento trabalha com diversas marcas e preços, desde as voltadas aos iniciantes até aquelas de nível mais avançado. “Temos bicicletas com várias características, voltada a atender cada tipo de cliente. Em nosso estabelecimento os preços variam de R$ 1.690,00 a oito mil reais”, diz o gerente. Outro detalhe importante são os acessórios,

principalmente o kit de segurança. Ciclista que se preza não dispensa o uso de capacete, joelheira, cotoveleira e luvas. E para quem pedala à noite os acessórios luminosos são essenciais, como luz de led e farol traseiro. Cuidados iniciais Além de uma boa bicicleta, outros cuidados são importantes para quem pretende iniciar no espor-

te. Para o educador físico Érick Flausino, vale a pena investir num auxílio profissional qualificado antes de começar na prática. “Faça uma consulta médica, uma avaliação física para ver se seu corpo está apto a praticar tal atividade”, recomenda. Ele faz uma ressalva àqueles que decidem procurar informações através da internet e com terceiros: nem sempre o que é válido para um vale para outro.

Corrida de rua cresce em GV e ganha novos adeptos Embora seja um dos esportes mais acessíveis por sua praticidade, a corrida não dispensa a necessidade de orientação profissional Hernane Ramos e Samuel Bonicontro 4 º período

Governador Valadares é conhecida como a capital mundial do voo livre, mas com mais uma prática esportiva em alta no cotidiano da cidade: a corrida de rua. Basta andar por alguns bairros propícios ao esporte, como a Ilha dos Araújos, para notar a presença de grupos de atletas em plena atividade. Motivos não faltam. Trata-se de um esporte democrático, pois homens e mulheres de qualquer idade podem participar. O resultado é que diversos grupos amadores agora não fazem só treinos, mas também realizam eventos. O economista Renato de Oliveira, de 51 anos, é organizador de corridas de rua desde 2016. A ideia de organizar corridas na cidade surgiu pela demanda

de corredores que sempre viajavam para participar de eventos em outras localidades, já que Valadares não oferecia um calendário de corridas ao longo do ano. “Nos eventos, a gente distribui camisas, medalhas, água mineral e até frutas. Tudo isso é adquirido através da inscrição paga pelos corredores”, explica o praticante. A ação acabou fazendo com que a cidade entrasse na rota das corridas de rua, e muitos atletas de fora acabaram fazendo o caminho inverso: vindo à cidade participar dos eventos. Mas o caráter amador dos corredores precisa ser deixado de lado quando se trata de saúde. O preparador físico Alexandro de Oliveira, 42, alerta que a prática da corrida deve ser acompanhada de um profissional a fim de se exerci-

Embora seja um dos esportes mais acessíveis por sua praticidade, a corrida não dispensa a necessidade de orientação profissional

tar de maneira correta, além de evitar lesões. Por outro lado, a corrida é garantia de vários benefícios, como a longevidade, a qualidade de vida, a redução da gordura corporal e, com isso, a prevenção de doenças como diabetes, doenças do coração e dos ossos, e ainda evita o sedentarismo.

Ele também orienta que antes do início da prática esportiva é recomendável uma bateria de exames para avaliação da condição para o treinamento inicial. O ideal, segundo Oliveira, é treinar por 30 minutos, três vezes por semana. Assim, o corredor adquire condicionamento físico para uma

corrida de cinco quilômetros com três meses de treinamento em média. Um exemplo de mudança de hábitos vem de Ricardo Geraldo Costa, de 39 anos, que antes não praticava nenhuma atividade física por falta de tempo, mas viu na corrida uma alternativa a uma vida distante dos hábitos saudáveis. Há três anos começou a treinar e levar a corrida a sério. Hoje, ele fala com orgulho da melhora no condicionamento físico. Costa agora é membro da equipe do corredor Luiz Souza, segundo ele um dos incentivadores das corridas na cidade, E nos eventos faz questão de levar toda a família. Um estímulo a mais rumo ao seu objetivo: participar de uma maratona. A corredora Nicoleta Maria Abi-Ali, de 52 anos, é professora de educação infantil

e diz que toda sua energia era gasta com o cuidado das crianças. Mas, incentivada pela filha, que também corre, mostra que não há barreira de idade para decidir praticar o esporte. Ela já participou de três corridas, porém, seu objetivo inicialmente era completar a volta na Ilha. “Consegui realizar esse sonho com 20 semanas de treinamento”, contabiliza. Hoje, ela já alcança resistência suficiente para correr por 12 quilômetros – o equivalente a quase três voltas no circuito. O incentivo ao esporte é um aliado de peso à saúde e qualidade de vida. Não tem um pré-requisito específico para começar a correr. Mas, como toda atividade física, o ideal é recorrer a acompanhamento profissional. A partir daí, vem a parte mais fácil: um passo após o outro.


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.