Primeira Impressão 48

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criada e os espaços abertos para locação. Victor ressalta que todo esse esforço em busca de construir uma rede de colaboração entre marcas e projetos é essencial para quem empreende com a proposta de um consumo mais ético. E o maior desafio para essas novas empresas é fazer com que o mesmo ideal chegue a todos os setores da indústria e do mercado: “A realidade das marcas que surgem com esse viés é que elas estão um pouco sozinhas no sistema. A indústria ainda está se adaptando à produção em baixa escala com alto nível de qualidade. Por isso é um desafio para essas marcas criar uma cadeia produtiva eficiente. Se não há uma rede de distribuição, lojas que priorizem esse tipo de marca, confecções, malharias e estamparias que também tenham essa proposta, acaba se tornando um diálogo que se restringe apenas à sua ideia e ao consumidor final”, opina. O e-commerce da marca existe há dois anos. A estratégia inicial foi fazer-se presente nos espaços físicos, estabelecendo conexões com lojas e participando das feiras, o que resultou em muita mídia espontânea para a Humanus. “Ao mesmo tempo em que a internet permite que se atinja outros públicos, ela também é um meio muito competitivo. Pra gente, por exemplo, é complicado competir com quem vende camiseta de informação pop a R$ 15. As ferramentas de publicidade nas redes sociais também são as mesmas que a gente já conhece há décadas e seguem aquela regra de que quem investir verba mais vai aparecer mais”, conta Victor. Sobre o slow fashion como um mercado em expansão, ele acredita que as marcas que souberem apostar em uma identidade própria, trazendo outras propostas, sejam elas estéticas ou culturais, para complementar os valores éticos defendidos, serão as com maiores chances de se destacar. divulgação, elas contaram com promoções e impulsionamentos no Facebook. “É bacana criar esses espaços para as pessoas que querem fugir do fast fashion ou consumir marcas locais. Aqui a gente cria conexões e possibilita a troca de muita coisa legal que simplesmente estava sem uso para outra pessoa”, reforça Aline.

Moda e cultura

Em um cantinho simples mas muito simpático do Vila Flores, no bairro Floresta, máquinas de costura e moldes dividem espaço com computadores, araras com vários tipos de roupas expostas e um estoque organizado no capricho em quase toda a extensão de uma parede. É ali que funciona o atelier criativo e o showroom da Humanus, e de onde a equipe comanda, também, a loja virtual da marca. Na Grade Porto Alegre existem hoje dezenas de marcas autorais de moda com uma proposta sustentável

ou voltadas para uma forma de consumo mais consciente. Como explica Victor Geuer, um dos sócios, a intenção da Humanus é ir além disso. Mesmo apostando nas bandeiras da moda ética e nos valores humanistas, defendendo o uso de mão de obra local e matérias-primas como o algodão orgânico e tecidos feitos com pet reciclados, a Humanus traz em cada uma das suas peças um convite para a reflexão através da poesia e da filosofia, fazendo da moda um difusor cultural. Há sete anos no mercado, a Humanus esteve presente em diversas feiras de rua que ocorrem até hoje, em algumas delas participando das reuniões de organização, e também teve contato com os projetos de economia criativa que ganharam espaço na Capital nos últimos anos. É o caso do envolvimento com o complexo Vila Flores, endereço da marca há dois anos, que começou já quando a associação cultural foi

IMPRESSÕES DE REPÓRTER Desde pequena sempre adorei a transformação que as roupas representam. Como um pedaço de tecido pode tomar a forma da segunda pele de alguém, pele essa que escolhemos e na qual tentamos imprimir aquilo que acreditamos ser – um elo entre a imagem que temos de nós mesmos e aquela que o resto do mundo vê. Mesmo na adolescência, visitar uma loja de tecidos era muito mais emocionante do que bater perna de loja em loja. Nos últimos anos, acompanhei pela Internet o surgimento de diversas marcas locais e de outros Estados que traziam, entre outras propostas, a de remunerar de forma justa e ética todos os seus colaboradores. Pra mim, mais do que uma tag extra para servir de destaque nas buscas do Google, a moda ética se aproxima daquele lado da moda pelo qual sempre tive interesse: o da proximidade com a vizinha costureira, da felicidade de vestir algo feito com carinho e capricho, e de ter uma peça favorita que faça parte de momentos especiais através de muitos anos. Escolhi esse tema pois queria conhecer iniciativas e pessoas com essa mesma visão, de que a moda pode e deve celebrar mais expressão e pertencimento, e menos dor e exclusão. Como repórter, acredito que esses relatos provam que uma relação mais saudável com o consumo é possível, e que ela pode ser parte da construção de uma relação mais saudável com nós mesmos. P RI M E IRA I M P R E S S Ã O

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