Lupa 9

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Lupa.9 edição

União Moradores se reúnem para revitalizar escadaria abandonada do Centro Histórico

Parcerias União entre bares de futebol e moradores trouxe melhorias para a região

Dragbar Cidade Baixa recebe a Workroom, o primeiro bar com temática drag do Estado

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junho.2017

CLÓVIS DARIANO

Espaços de convivência Segundo Silvio Soares Macedo e Fábio Robba, autores do livro Praças Públicas, podemos definir praças de uma maneira ampla, como qualquer espaço público urbano, livre de edificações que propicie convivência e/ou recreação para os seus usuários. Esses espaços, existente há milênios, utilizado por civilizações de distintas maneiras, nunca deixaram de exercer a sua mais importante função: a de integração e sociabilidade. Porto Alegre têm 625 praças públicas, e só no Centro Histórico são 25.

Pracinha em um dia atípico

Comer, cantar e socializar g Praça Marquesa

de Sévigné torna-se ponto de encontro para jovens

E

m um local privilegiado da cidade, a Praça Marquesa de Sévigné fica na confluência das ruas Coronel Genuíno, Cel. Fernando Machado e Gen. Lima e Silva, no Centro Histórico da capital. A praça vem chamando a atenção de pessoas que passam por ela, especialmente a noite. O motivo? A ocupação de jovens e adultos utilizando o espaço para fazer rap, encontrar amigos ou que vão para comer cheese vegano. Por muitos anos a “pracinha”, como é chamada pelos usuários, ficou sem nome, sendo batizada em 1996 como Praça Marquesa de Sévigné. O nome é uma homenagem à Marie de Rabutin-Chantal, Marquesa de Sévigné, uma escritora de destaque na França e, indiretamente, ao Colégio Sévigné, localizado nos fundos da praça.

O nome “Praça do Triângulo” nunca foi oficializado, arbitrariamente em 1949 foi nomeada em uma planta da cidade.

Olhar dos moradores

O fotógrafo Clóvis Dariano tem um estúdio fotográfico em frente à praça. Desde 1968 é um observador do que acontece por lá. Morou até 1983 no prédio chamado Eleutério Araújo e hoje tem seu estúdio no mesmo local. Segundo Dariano, na década de 1970 a praça era um reduto de malfeitores, pois haviam assaltantes e ladrões de automóveis. Para ele, o movimento na praça trouxe mais segurança para a rua e consegue conviver tranquilamente com a gurizada que frequenta a praça. É uma convivência pacífica, afirma Dariano. Por ser um local onde há um grande movimento de pessoas o cartunista Uberti, que mora em frente ao largo desde 1980, publicou um livro com o título “Graça na Praça”. De sua janela observou o cotidiano e retratou com doses de humor

os acontecimentos da pracinha através de cartuns. A prefeitura acrescentou em torno de dois metros de calçamento ao redor da praça. Ele e seu amigo Dariano concordam que um ponto negativo desde a última reforma no local em 2012 foi a modificação da calçada. Para eles descaracterizou o conjunto arquitetônico da praça.

Um ambiente que acolhe

Diversos grupos ocupam o espaço, e um deles é o das pessoas que vão à praça para comer os cheeses veganos. Proprietária do MM Lanches há sete anos, Selene Telles Bueno, relata que o local era muito perigoso, pois era um ponto de tráfico. As pessoas tinham medo de frequentar e serem assaltadas. Segundo Selene “era uma praça suja e acabada, ninguém usava. Essa praça era inativa. A partir das oito da noite todo mundo se recolhia, era perigoso chegar aqui porque era escuro. Era largada, hoje ela tem vida. ” Quando começou a vender

cheese vegetariano e vegano, há mais ou menos quatro anos atrás, aumentou o movimento na praça. Segundo ela, os frequentadores costumam cuidar da limpeza do local. Quando acontece de ficar lixo pelo chão a proprietária que também é moradora do entorno costuma recolher a sujeira. Recentemente um usuário da praça, dono de uma floricultura, doou mudas de flores para criarem um jardim coletivo e Selene ficou responsável pela conservação das plantas. Para o Psicólogo social Pedro Lunaris, vegano e frequentador da lancheria, a ocupação das praças públicas são a força do encontro, da possibilidade de se encontrar com as pessoas que moram na região, e, portanto, fortalecer laços comunitários. É muito nítido que a falta desses laços é um dos fatores de existir tanta depressão, ansiedade e falta de sentido na vida. Acredita que espaços ocupados significa segurança. A praça tornou-se palco de um grupo de rap chamado SentidoÓ6. Encontram-se no local

faz um ano para fazer freestyle, caracterizando-se, portanto, pelo improviso do rapper. Vindos de diversos bairros da capital e até mesmo de cidades da região metropolitana os integrantes dizem que o ambiente cria esses grupos, já que existem os que vão ao local só para comer o cheese, fazem um som, conversar e encontrar amigos Os integrantes do grupo contam que passaram pela pracinha e sentiram-se escolhidos por ela, não sabem dizer exatamente porque frequentam o local. Lá eles se sentem acolhidos por pessoas estranhas. O rapper Marcelo Nenê comenta: - “ A gente termina de tocar violão e quando tu menos espera a praça inteira bateu palmas pra ti e tu sente um afeto tão grande...”. A ocupação da Praça Marquesa de Sévigné é só mais uma entre tantas que já acontecem pela capital. Percebe-se que a população está tomando consciência de que estes lugares estão na cidade para serem usados. Texto Tainara Mauê


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