Lupa 16

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Lupa

À luz de velas

Concertos Candlelight promovem experiência sensorial em espetáculos que unem música clássica com releituras de rock e pop

Nesta edição:

Como Porto Alegre lida com a falta de vagas em creches l Histórias de torcidas organizadas para além da violência nos estádios l A rotina de um atleta profissional de esportes eletrônicos l Um olhar turístico sobre a capital dos gaúchos E ainda: Exposição narra a vida e obra de Lupicínio Rodrigues, um artista de muitas facetas l Projeto leva música e arte para jovens em situação de vulnerabilidade l Não-binários ainda enfrentam dificuldades para atualizar documentação civil

LUÍSA BELL
Porto Alegre | Julho de 2023 | Edição 16

Da “miséria informacional’ à “desordem informativa”

“De onde viemos?” e “para onde vamos?” são questionamentos que, quase com certeza, todos nós já nos fizemos um dia - ou ainda faremos. Em sua obra “Para Sair do século XX” (um livro dos anos 1970), o pensador Edgar Morin traz questionamentos e fatos que nos levam a pensar se avançamos muito em relação às gerações passadas. E para qual futuro estamos caminhando. Com uma análise crítica da situação da

comunicação da época, Morin traz as preocupações relacionadas ao avanço tecnológico e como isso pode influenciar no processo de comunicação. Ele aponta as “falhas” e as necessidades que, menos após 35 anos, seguem atuais.

Ao tratar sobre o destino do mundo, ele infere que ele depende do destino político que, por sua vez, depende do destino do mundo. Com isso, o pensador nos traz essa outra preocupação: como nós, seres políticos devemos nos comprometer com o rumo da sociedade? E como a política, sendo necessária para a vida, deve ser responsável pela

(Leia Unisinos Porto Alegre) é uma publicação experimental produzida por alunos do curso de Jornalismo. REDAÇÃO – TexTos: alunos das disciplinas de Jornal e Notícia, Jornal e Reportagem e Jornalismo Opinativo, sob orientação dos professores Micael Vier Behs, Ronaldo Henn e Taís Seibt. ARTE – ProjeTo gráfico: alunos da disciplina de Planejamento Gráfico (turma 2019/2) Carolina Pinto e Jéssica Montanha, sob orientação do professor Everton Cardoso. Diagramação: Marcelo Garcia (Agência Experimental de Comunicação - Agexcom). imPressão: Gráfica Uma.

manutenção do mundo? Ao trazer essa questão para a atualidade, penso na problemática que vimos ecoar nos últimos quatro anos no Brasil. O descaso, o desmonte na saúde, educação, dos projetos sociais, e como isto influenciou em um momento crucial para a sociedade - produzindo o medo e a falta de crença em dias melhores.

Outro ponto muito interessante que Morin aborda é como o avanço da tecnologia beneficia a comunicação, mas, ao mesmo tempo, com potencial de prejudicá-la. Através da Internet, vimos um aumento estrondoso na circulação

de informação que, por outro lado, gera muita desinformação. Na década em que escreveu esse livro, o autor diagnostica uma “miséria informacional”. Hoje enfrentamos a “desordem informativa”, No mundo contemporâneo, pouco se fala em certo e errado na comunicação. Mas através deste texto conseguimos entender que as ações e atitudes que tomamos hoje irão impactar no futuro, e que somos responsáveis por isso. Além disso, a humanidade se encaminha para um processo de comunicação cada vez mais digital, e que cabe a nós tornar este processo social e de todos.

Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos). Campus Porto Alegre: Av. Dr. Nilo Peçanha, 1600 - Boa Vista, Porto Alegre (RS) - 91330 002. Campus São Leopoldo: Av. Unisinos, 950 - Cristo Rei, São Leopoldo (RS) - 93022 750. Telefone: (51) 3591 1122. e-mail: unisinos@unisinos.br. reiTor: Sergio Eduardo Mariucci. Vice-reiTor: Artur Eugênio Jacobus. Pró-reiTor acaDêmico e De relações inTernacionais: Guilherme Trez. Pró-reiTor De aDminisTração: Luiz Felipe Jostmeier Vallandro. DireTora Da UniDaDe De graDUação: Paula Dal Bó Campagnolo. coorDenaDora Do cUrso

LUPA | Julho de 2023 2 | EDITORIAL |
De jornalismo: Débora Lapa Gadret.
KABOOMPICS/ FREEPIK
Lupa

Imigrantes LGBTQIA+ em busca de acolhimento no Brasil

Na América Latina, apenas sete países reconhecem o casamento igualitário, motivo que faz muitas pessoas deixarem sua terra natal para fugir do preconceito

Só em 2021, o Brasil recebeu mais de 150 mil imigrantes em busca de novas oportunidades. Para a comunidade LGBTQIA+, a jornada de adaptação é ainda mais complexa, pois além de barreiras como idioma e documentação, a lgbtfobia agrava ainda mais este processo. É nesta jornada que histórias como de Lufer Sattui, Laura Camacho e Cholita Florência se encontram.

Ainda no Peru, país de origem de Lufer, a artista já exercia a arte Drag Queen. Desde a infância, grandes nomes da cultura Pop fomentaram sua paixão pelas performances artísticas. Apesar do custo mais acessível para manter o trabalho no Peru, Lufer não se sentia segura. “Lá eu era xingada, saia montada e era olhada com desaprovação. Aqui as pessoas olham, é claro, mas não com o mesmo julgamento”, diz.

Há seis anos, a peruana fez do Brasil seu novo lar, mais especificamente a cidade de São Paulo, onde desembarcou em 2017 para visitar a irmã, que já morava há cerca de um ano na capital paulista. “No segundo dia eu estava totalmente apaixonada pela cidade, era uma sensação de liberdade, de que eu podia ser eu mesma sem ter medo de alguém me bater”, relembra.

Lufer é uma mulher transgênero que encontrou no Brasil o amparo necessário para realizar a transição hormonal. Com recursos do Sistema Único de Saúde (SUS), pessoas trans de todas as idades e nacionalidades podem fazer o processo de transição de forma gratuita - desde que apresentem o Registro Nacional de Estrangeiros (RNE) e o cadastro no SUS.

De acordo com a UNFPA, órgão das Nações Unidas para saúde sexual e reprodutiva, a comunidade LGTBQIA+ é uma das mais discriminadas (71%) no Peru. Apesar da escassez de estatísticas oficiais sobre a violência contra a comunidade, um estudo realizado pelo Ministério Público peruano entre 2012 e 2021 consegue dimensionar de forma aproximada a realidade desta violência: mulheres trans ocupam o segundo lugar em assassinatos, com 36,4% de casos registrados, atrás de homens gays, com 55,8% de casos.

e já passou por alguns dos estados. Hoje vive em São Paulo. Laura deixou a Venezuela em 2018, quando a crise socioeconômica se agravou. “Viajei porque precisava resguardar minha vida por vários motivos”, explica. Ela conta que fazia parte de vários movimentos de oposição ao governo.

não corresponda a seu gênero possa alterá-lo, na prática, a realidade é outra. Além disso, direitos que no Brasil já são assegurados por lei - mesmo que há pouco tempo - como o casamento homoafetivo, lá ainda são ilegais.

Escravidão moderna

Laura Camacho e Cholita Florencia compartilham vivências semelhantes de trabalhos análogos a escravidão. “Em Manaus, fui enganada. Trabalhei, mas não recebi no final o que seria meu por direito”, revela Laura. Humberto Soares, ou Cholita Florencia - seu nome artístico - , está no Brasil desde 2014, e já foi também vítima deste crime. Sem saber falar português, Cholita deixou a Bolívia em busca de novas oportunidades no Brasil.

Durante três meses, trabalhou em uma jornada de 17h diárias, recebendo menos que o salário mínimo da época. Conseguiu libertar-se quando, em uma parada gay, encontrou alguns conterrâneos na Praça da República. Um maquiador que conheceu sua história o alertou sobre a ilegalidade da situação. Foi então que surgiu a oportunidade de trabalhar em uma fábrica de perucas.

Refúgio e proteção

Por trás da estatística sobre o número de imigrantes, encontra-se outro grupo social, os refugiados LGBTQIA+. De acordo com o último relatório divulgado pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), somente em 2021, o número de solicitações de reconhecimento da condição de refugiado foi 29.107, e entre eles Venezuela, Angola e Haiti ocupam as primeiras posições. Ainda segundo dados do MJSP, entre 2000 e 2022, das 49.630 decisões de mérito para as solicitações de refúgio, 500 delas apontavam “Grupo Social” como motivo do reconhecimento.

Cholita Florência, imigrante boliviana

Quem também deixou tudo para trás foi a venezuelana Laura Camacho. A programadora e técnica em informática está em solo brasileiro há cinco anos,

Assim como Lufer, Laura chegou ao Brasil em um momento em que uma onda de conservadorismo estava prestes a eclodir. “Senti muito medo por ser uma mulher lésbica e por ver como as relações homoafetivas estavam sendo satanizadas por parte do governo”, afirma.

Na Venezuela, apesar da legislação prever que qualquer pessoa que se sinta lesada pelo próprio nome ou que este

As redes de apoio estão espalhadas pelo Brasil, e uma delas é a Rede Milbi. Localizado na capital paulista, o coletivo de mulheres imigrantes lésbicas, bissexuais e pansexuais acolheu Cholita e Laura. “É onde você se sente seguro ao saber que existem outras vidas que passam por essa transição. São muitas histórias que vemos dentro do movimento e fazem com que fiquemos unidos e sigamos lutando”, diz Laura sobre a importância desses espaços.

Um levantamento feito pela ACNUR, a agência da ONU para refugiados, mapeou redes comunitárias e de serviços para refugiados e migrantes LGBTQIA+. No Rio Grande do Sul, há pontos nas cidades de Pelotas, Caxias do Sul e, majoritariamente, em Porto Alegre. Os locais podem ser encontrados pelo site acnur.org.

LUPA | Julho de 2023 | DIVERSIDADE | 3
Por Laura Santiago
Quem chega de fora não espera. Precisa começar a trabalhar para sobreviver”
JA JPEEG A personagem Cholita Florência (foto acima) surgiu enquanto Humberto trabalhava em uma fábrica de perucas, já Lufer (foto abaixo) encontrou no Brasil a oportunidade de realizar o sonho da fama PAULO NEOBECK

Jovens criam startup voltada à culinária africana

Projeto conta com um cardápio de seis pratos típicos originários de países como África do Sul, Quênia, Angola e Zanzibar

Por Valentina Lopardo

Com o objetivo de resgatar a cultura africana em diferentes contextos, a estudante e empreendedora porto-alegrense Luiza de Oliveira, 19 anos, criou a startup IPANU. Segundo ela, as escolas estudam e recuperam a herança negra apenas em datas específicas, a exemplo do Dia da Consciência Negra. “Queria sair desse cotidiano de só lembrar das pessoas negras em novembro”, afirma. A empresa carrega a representatividade afro nas histórias das suas comidas e, até mesmo, no seu nome, já que a palavra IPANU significa “refeição” na língua oficial da Nigéria, o Yorubá.

O projeto foi vencedor do Prêmio Jovens Visionários Prudential 2022. No total, 112 empresas disputaram a premiação. O sucesso da startup partiu de uma ideia que Luiza teve no início do ano passado, ao ingressar no curso Food Makers, da Rede Calábria. Nesse curso, ela formou um grupo com outras seis meninas negras da periferia de Porto Alegre com o intuito de lançar um projeto totalmente pensado e criado por pessoas negras.

Os principais diferenciais da IPANU vão

além da pauta histórica por trás dos pratos. Para Edmundo Francisco, arquiteto e membro da Associação de Afroempreendedorismo ODABÁ, o que chamou sua atenção ao consumir os produtos da startup foi a qualidade dos pratos que compõem o cardápio.

“A IPANU se sobressai em comparação aos outros, pois as meninas fazem comidas saborosas e sabem explicar direitinho a história por trás de cada uma delas”, declara.

Após receber diversos convites para participar de palestras e eventos representando a startup, Luiza conquistou uma bolsa na PUCRS para cursar Administração. “A ideia é mostrar que meninas negras também podem formar uma empresa e ter uma noção do que é o empreendedorismo”, relata. Todas as fundadoras da startup participam da produção dos pratos típicos e um dos objetivos futuros é aprimorar a gestão administrativa da empresa.

Atualmente, a IPANU está em processo de captação de investimentos para manter e expandir sua área de atuação. Os serviços oferecidos vão desde cestas sob encomenda à catering de eventos para diversas ocasiões, resgatando aspectos da cultura africana através da culinária. Para entrar em contato, contribuir financeiramente com o projeto ou contratar algum dos serviços, basta acessar a conta da IPANU no Instagram (@ipanu. africana) ou enviar um e-mail para ipanu. cozinha.africana@gmail.com.

Não-binários podem alterar nome e gênero na certidão de nascimento

Em abril de 2022, foi publicado o Provimento nº 16/2022-CGJ/RS, que permite a alteração do nome e a inclusão do sexo não-binário na certidão de nascimento dos gaúchos diretamente nos cartórios. Na Bahia e na Paraíba foram sancionadas medidas similares. O Detran-RJ, órgão emissor da carteira de identidade no Rio de Janeiro, permitiu aos cidadãos incluir o gênero não-binárie (com grafia neutra) no documento. Em outros estados brasileiros, já acontecem mutirões para a retificação. Representante da Articulação Brasileira Não-Binárie, Duda Zanini afirma que não existem números oficiais do governo sobre os não-binários, mas cerca de 200 pessoas no Rio de Janeiro e no Distrito Federal já retificaram seus documentos desde 2021. Consultadas sobre o assunto, as associações que representam os cartó-

rios a nível estadual e nacional (Arpen-RS e Arpen-Brasil) não responderam.

Cantore, bodypiercer e digital influencer, Igor Sudano relata sua experiência ao mudar o registro civil através do primeiro mutirão voltado para não-binários da Defensoria Pública do Rio de Janeiro, feito em parceria com o Tribunal de Justiça do RJ. “Já retifiquei uma vez para masculino, quando não era possível mudar para não-binário. Então, não troquei o nome de novo, só o gênero. Me deram uma sentença que dava gratuidade na retificação da minha certidão, e, em mais ou menos uma semana, consegui a nova”, disse.

No Paraná, Unan Bonetti também participou de um mutirão, realizado em fevereiro do ano passado. O processo foi parcialmente deferido, sendo aceita apenas a alteração do nome, mas não do gênero. “O juiz negou e foi para a área recursal do MPF. Aqui, eles recusam alegando que não há opção no sistema”,

explicou. Durante a movimentação do processo, a Defensoria Pública do Paraná expediu uma orientação que incentiva, mas não obriga a retificação de gênero para não-binários nos cartórios. “Ainda tenho dúvidas sobre a minha Carteira de Identificação da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista e o passaporte. O meu tem o sexo X”, afirmou. A Defensoria Pública do RS disponibiliza uma cartilha online com a lista de documentos necessários para a retificação de registro de não-binários. Para solicitar o auxílio do Centro de Referência em Direitos Humanos, entre em contato pelo telefone 0800-644-5556, e-mail nudiversi@defensoria.rs.def.br ou através do Alô Defensoria, pelo fone 129.

(*) O texto usa linguagem neutra com base no conjunto de pronomes ê/elu/-e, respeitando a identidade das pessoas entrevistadas.

LUPA | Julho de 2023 4 | GASTRONOMIA |
IGOR SUDANO ARQUIVO PESSOAL
Cantore, bodypiercer e digital influencer, Igor Sudano mostra documentação civil retificada após trabalho realizado por mutirão voltado para não-binários Ao lado de seis meninas negras da periferia de Porto Alegre, Luiza de Oliveira idealizou startup que resgata a cultura africana através da culinária
ALDO BARRANCO

Inteligência artificial já é realidade no Rio Grande do Sul

Inovações tecnológicas desenvolvidas no estado gaúcho estão impulsionando setores públicos e privados

Arecente difusão das inteligências artificiais (IA) de fácil acesso, como o ChatGPT, amplificou a discussão ética e social que permeia as novas tecnologias. Apesar da necessidade desta reflexão, já convivemos com muitos sistemas inteligentes que têm transformado diversos setores da sociedade, e impulsionado o desenvolvimento econômico.

A expansão da Inteligência Artificial no Rio Grande do Sul é notável, tanto em termos de pesquisa quanto de aplicação prática. De acordo com um levantamento realizado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, divulgado em setembro de 2021, a região sul do Brasil detém o maior número de parques tecnológicos do país, totalizando 28, em paralelo com os 30 parques restantes que estão espalhados entre as demais regiões.

Exemplo dessa atuação é o Instituto SENAI de Inovação em Soluções Integradas em Metalmecânica (ISI SIM), situado em São Leopoldo, que atua, principalmente, em projetos de inovação e pesquisa aplicada para o aumento da produtividade da indústria brasileira. O ISI SIM, inaugurado em abril de 2017, faz parte dos 26 institutos SENAI de Inovação, e faz o papel de ponte entre o meio acadêmico e o setor industrial.

Um dos projetos que aplica inteligência artificial, desenvolvido no local, utiliza um sensor com reconhecimento de conteúdo visual para manutenção preditiva de máquinas agrícolas. Essa abordagem envolve o uso de algoritmos de aprendizado de máquina e visão computacional para analisar imagens ou vídeos e identificar padrões ou anomalias. A tecnologia monitora as condições de funcionamento do equipamento, trazendo benefícios significativos, como redução de custos e melhor planejamento de manutenção, gerando aumento da vida útil do aparelho e reduzindo o tempo de inatividade não planejado.

Padrões variados

O conceito de inteligência artificial utiliza a ciência de dados para o aprendizado de máquina. De acordo com Wilson Gavião Neto, cientista de dados sênior e líder de projetos na área de ciência de dados e inteligência artificial do ISI SIM, o grande mérito dos algoritmos atuais está na variabilidade de padrões. “Seja padrão visual, seja padrão textual, com a abun-

dância de dados que existe hoje, esses algoritmos são capazes de generalizar esse padrão, mas não que ele seja capaz de fazer um raciocínio”, relata o pesquisador. É uma funcionalidade que pode ser aplicada para resolver inúmeros problemas complexos, para qualquer setor, sendo necessário um conjunto de dados para servir como entrada, um algoritmo que define a estrutura do sistema de IA e hardware com capacidade computacional para realizar o treinamento contínuo do modelo. Quanto mais diversificado e abrangente for o conjunto de dados, melhor será o seu desempenho.

O setor público gaúcho também tem incentivado o desenvolvimento da Inte-

ligência Artificial no estado. Programas pioneiros como o Smart Cities AI Hub, lançado pela Empresa de Tecnologia da Informação e Comunicação da Prefeitura de Porto Alegre (Procempa), buscam por soluções inovadoras através da colaboração e ações integradas. O Hub Colaborativo de Inteligência Artificial para a área pública, lançado em março deste ano, já apresenta soluções para análise de pavimento. A rede neural reconhece a qualidade da via mediante foto ou câmera acoplada na placa de um veículo. A avaliação parte do resultado que varia de 0 a 1. Quanto mais perto do zero, melhor a condição do pavimento, enquanto retornos entre 0.20 e 0.70 demonstram alguma rachadura ou um pequeno buraco, e acima de 0.70 representam danos graves ao solo, como rachaduras e buracos de grandes dimensões.

Até o momento, o IA Hub da Procempa disponibiliza três modelos: o sistema inteligente para análise de pavimentos; outro denominado “O Olho Mágico”, que detecta a partir de uma foto se alguém está ou não utilizando máscara facial, e o “IA de análise de veículos”, que utiliza câmeras do cercamento eletrônico de Porto Alegre e pode identificar carros, motos, caminhões e pessoas.

Os modelos estão à disposição para uso por outros municípios, ou podem ser baixados por usuários cadastrados para colaborar com envio de dados e auxiliar no seu aprimoramento. Também é possível propor novos modelos. “A ideia do hub colaborativo é essa, a gente poder trocar experiências e projetos já em andamento para o benefício do cidadão”, informa Letícia Batistela, presidente da Procempa.

À medida que a IA começa a se integrar às jornadas de trabalho, surgem dúvidas e anseios sobre o futuro de muitas profissões. Conforme o pesquisador e cientista de dados Bruno Alano, nos próximos cinco anos, vamos testemunhar profissionais alinhados com a inteligência artificial, não substituídos por ela. “O profissional que se beneficia vai conseguir ter uma produtividade maior que o seu concorrente, que não está se digitalizando”, analisa Alano.

Com o incentivo público, o fortalecimento das parcerias entre empresas, instituições de pesquisa e universidades, e o contínuo desenvolvimento de soluções inovadoras, a IA no Rio Grande do Sul tem o potencial de impulsionar a economia local, atrair investimentos e posicionar o estado como referência nacional e internacional no campo da tecnologia.

LUPA | Julho de 2023 | TECNOLOGIA | 5
É o presente da tecnologia, nem falamos mais no futuro”
Letícia Batistela, presidente da Procempa
IMAGENS: PETRA KARENINA Mais de 360 câmeras integram o sistema inteligente de análise de veículos desenvolvido pela Procempa

Relatos de quem vive nas ruas

Pessoas em situação de rua e profissionais movidos pela solidariedade se cruzam em viadutos da capital

Embaixo de um viaduto, no centro de Porto Alegre, Clóvis Ortiz Abanel tem apenas um colchão e um travesseiro como companhia. O homem de 62 anos é natural de Rosário do Sul e foi parar nas ruas da capital por conflitos familiares. “Não sou drogado, não sou beubudo. Fui embora de casa porque tive um desentendimento com a família”, conta. “Tem sete anos que sou viúvo, já sou avô, e hoje estou aqui que nem cachorro. Tô pior que cachorro, porque cachorro verdadeiro não abandona seus filhotes e hoje meus filhos me abandonaram”.

A realidade de Clóvis é viver com doações. Seus documentos foram roubados, o que o impossibilita de frequentar albergues. A assistente social Aline Reis trabalha há um ano no espaço Acolher II, que pertence ao projeto Restaurar, onde cidadãos em situação de rua podem passar a noite, tomar banho e se alimentar. Segundo ela, documentos de identificação com foto são necessários para ingressar no espaço.

Alessandro Fagundes também passa por dificuldades parecidas. Natural de Porto Alegre, foi parar nas ruas por conta do seu vício em drogas. Ele costuma ficar na rua João Abott, bairro Petrópolis, onde recebe auxílio de moradores. Durante seis anos nessas condições, ele afirma que ainda não teve ajuda da Prefeitura e de instituições. “Morei uma vez só num albergue e não gostei. Então, eu moro na rua, tem meus amigos e minhas amigas que me ajudam”, diz. No instante da entrevista, ele se encontra em frente a um bar, sentado em uma cadeira branca de plástico, esperando para assistir o futebol de todo domingo.

Clóvis e Alessandro compartilham o mesmo sonho, sair das ruas e ter um lar. Os dois se comoveram ao falar sobre esse assunto. “Meu sonho é trabalhar num condomínio, onde eu vou cuidar do condomínio e ter onde morar. Não quero ficar morando embaixo dessa ponte aqui, pela sociedade eu sou um lixo”, diz Clovis. “Meu sonho é mudar de vida, ou acertar num jogo, ou ganhar um dinheiro, comprar um terreno por aqui”, responde Alessandro, sobre seu sonho de vida.

Acolhimento

Para os que procuram auxílio em lugares de acolhimento existem regras a serem cumpridas. “Os usuários não podem estar sob efeito de alguma substância psicoativa. Devem deixar os pertences de rua em armário com chave, tomar banho, usar roupa dispo-

Não quero ficar embaixo dessa ponte, pela sociedade eu sou um lixo”

Clóvis Abanel, pessoa em situação de rua

nibilizada pelo local, evitar situação de conflito com a equipe e demais usuários”, conta a professora e psicóloga Cláudia Ramião Francios, do Albergue Instituto Espírita Dias da Cruz.

O professor Ivaldo Gehlen, do departamento de Sociologia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UFRGS, ressalta: “Na Capital, tem um percentual muito alto de pessoas com mais de cinco anos que moram nas ruas. O governo deve realizar uma política que atende outra lógica, visando as necessidades do indivíduo transitório, como um espaço

IMAGENS:

aberto 24 horas, onde eles possam tomar banho quente e utilizar o banheiro”.

Gehlen pesquisou a população em situação de rua de Porto Alegre no estudo “Senso e Mundo”, onde buscava dados fundamentais (idade, gênero, grau de instrução, cotidiano comum de cada pessoa) para abordar a problemática, trajetória de vida pessoal e motivos pelos quais essas pessoas estão nas ruas.

“Em torno de 30% da população de rua em Porto Alegre é chamada transitória, que são aquelas que vêm e saem das ruas. Se eles estão nos albergues e a gente vai entrevistar, entra na contabilidade de pessoas em situação de rua”, explica. “Eles estão há mais ou menos um ano e meio nessa condição, a maioria desses se dispõe a sair das ruas. Depois de cinco anos, a saída de rua é muito difícil, é uma minoria que sai, eles aceitam melhorar o seu cotidiano, mas não morar num internato”.

A assistente Mariana Moura, que trabalha na Associação Cultural e Beneficente Ilhê Mulher, ao ser questionada sobre quais os motivos que levam as pessoas a dormirem nas ruas, em vez de procurar ajuda em algum instituto, afirma: “O estado deve garantir

os direitos sociais, e não faz. Os espaços de acolhimento não respeitam os vínculos comunitários e sociais, não respeitam algumas formas de trabalho da população em situação de rua e não acolhem animais de estimação”.

Poder público

A Prefeitura de Porto Alegre, por meio do órgão gestor da Política de Assistência Social (Fasc), é responsável pela oferta de serviços, programas e benefícios de pessoas em situação de vulnerabilidade e risco social. Durante a pandemia, mais famílias e indivíduos passaram a viver nas ruas, somando 1075. Em 2022, foram contabilizadas 2500 pessoas em situação de rua e cerca de 1600 em algum tipo de acolhimento institucional.

Segundo a Fasc, a “Operação Inverno” tem como intuito proporcionar mais lugares para abrigar pessoas em situação de rua nos dias mais frios, entre 1º de junho e 30 de setembro de 2023. No total, são disponibilizadas 1.047 vagas na rede municipal de proteção social em abrigos, albergues e pousadas na capital, um aumento de 227 vagas, comparado ao ano de 2022.

LUPA | Julho de 2023 6 | VULNERABILIDADE |
BÁRBARA BÜHLER
Alessandro (foto à esquerda) sonha em mudar de vida. Clóvis (foto à direita) deseja trabalhar em um condomínio

Déficit de vagas na educação infantil na capital aumenta 10,5%

Mesmo com investimento 30% maior que em 2022, mais de 6 mil crianças estão fora da rede pública de ensino de Porto Alegre em 2023

Oano de 2023 segue causando dor de cabeça em quem procura vagas nas creches municipais de Porto Alegre. Atualmente, 6.390 crianças de zero a cinco anos estão na fila de espera das instituições. O problema já é recorrente na capital, e vem piorando a cada início de período letivo, com cada vez mais mães não tendo onde deixar seus filhos nos primeiros anos da vida escolar.

O acesso às creches e pré-escolas é direito assegurado na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) e, segundo a doutora em educação infantil e professora da UFRGS Simone Albuquerque, a discussão sobre o tema não é de competência somente dos órgãos de educação ou das mães. “Quando uma sociedade como a nossa não garante uma oferta educacional na sua primeira etapa de vida, as consequências serão sentidas lá na frente em todas as áreas”, afirma.

Em janeiro de 2022, o número de crianças sem vagas era de 5.779, 10,5% menor em comparação com janeiro deste ano. Apesar do déficit, o investimento orçado pela Prefeitura da capital para 2023, cerca de R$ 296,5 milhões, é 30% maior que o total investido no ano anterior, que fechou em R$ 226 milhões. Ainda assim, o montante não será suficiente para suprir a demanda.

Segundo a Secretaria Municipal de Educação, de 2021 até agora já foram abertas 3 mil vagas, mas o impacto da pandemia na renda das famílias fez com que a procura pelo ensino público aumentasse significativamente. Ainda de acordo com a pasta, seriam necessários de R$ 70 milhões a R$ 84 milhões a mais para zerar o déficit. O diagnóstico feito pela Smed é de que os recursos próprios são insuficientes, considerando o custo anual de R$ 14 mil por aluno. Ao todo, Porto Alegre tem, no momento, capacidade de atender 28.128 crianças.

Mães na espera

Com a oferta de novas vagas ficando para 2024, por meio da construção de novas escolas e abertura de novas oportunidades oriundas de parcerias público-privadas, casos como o de Clarice Manci, 32 anos, são cada vez mais comuns. Mãe do Caio, de três anos, a moradora da Vila Elizabeth, localizada na zona norte de Porto Alegre, está há

um ano e meio esperando uma vaga para o filho na rede municipal. Segundo ela, já preencheu todos os formulários possíveis informando a necessidade da vaga, mas não obteve retorno.

Clarice trabalha como atendente em um supermercado, o que dificulta os horários de cuidado do filho, além de estar preocupada com a aprendizagem do menino: “Ficamos sem saber o que fazer. Às vezes preciso deixar ele com a vó ou até com a minha vizinha. Queria que ele pudesse estar aprendendo algo nesse tempo, sei que isso vai atra-

palhar ele depois”. Clarice contou que frequentou a educação infantil e sabe da importância deste processo.

As diretoras das EMEIs foram procuradas para sanar dúvidas sobre o processo de administração das vagas, mas há uma orientação por parte da Smed para que não falem à imprensa sem autorização, o que não foi obtido pela reportagem.

Promessas de soluções

Em março deste ano, buscando novas vagas, a Prefeitura de Porto Alegre lançou um edital para o credenciamento público de escolas privadas de educação infantil. O governo tem em Belo Horizonte a sua inspiração, onde uma PPP entre prefeitura e empresas de gestão comercial vem funcionando muito bem.

Na capital mineira, a empresa parceira fica responsável pela construção e manutenção da estrutura física, enquanto a prefeitura direciona os profissionais de educação e nutrição. Dados divulgados em janeiro deste ano mostram que todas as crianças de zero a cinco anos cadastradas na rede municipal de BH foram atendidas, totalizando cerca de 80 mil efetivas. Em 2013, a capital mineira possuía 17 mil crianças de zero a seis anos sem vagas no ensino público.

A construção de novas escolas é outra saída para suprir a demanda. A retomada das obras das unidades Clara Nunes, no bairro Lajeado; Moradas da Hípica, na Hípica; Colinas da Baltazar e Raul Cauduro, ambas no Rubem Berta; e Jardim Leopoldina II, no bairro homônimo, só são possíveis devido ao acordo de cooperação técnica firmado com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), no valor de R$ 32,3 milhões. Segundo a Smed, a parceria irá oferecer 1.272 novas vagas, o que representa quase 20% do atual déficit. Ainda de acordo com o governo, o prazo de entrega das obras pertence ao cronograma da Unesco, não do município.

A secretária de Educação de Porto Alegre, Sônia Rosa, contou à Zero Hora que negocia com o Governo do Estado para utilizar espaços em escolas estaduais, a fim de implementar creches e pré-escolas nestes ambientes. Apesar das várias alternativas, as soluções para o déficit de vagas na educação infantil da capital gaúcha não devem se confirmar para este ano letivo. Enquanto isso, casos como o de Clarice e Caio continuarão a acontecer.

LUPA | Julho de 2023 | CRECHES | 7
Um ano e meio que estou tentando colocar meu filho na creche e não consigo”
Clarice Manci, mãe
PAUL DIACONU / PIXABAY

Exposição no Farol Santander homenageia Lupicínio Rodrigues

Espaço que conta a história do músico nascido em Porto Alegre está em cartaz até o dia 23 de julho

“Lupi: pode entrar que a casa é tua”, assim é chamada a exposição do cantor e compositor Lupicínio Rodrigues (1914-1974), que reúne 150 fotos e 70 objetos pessoais que resgatam a história do artista. No espaço, o público conhece as várias facetas de Lupicínio, um boêmio, soldado, carnavalesco e cantor apaixonado que relata suas dores e amores através da música.

A exposição recupera um acervo de roupas, objetos de higiene, bilhetes e documentos do compositor. Traz o semblante e a voz inigualável de Lupicínio na forma de holograma e apresenta o aparelho de rádio através do qual ele acompanhava os jogos do time do coração. Gremista nato, Lupicínio é compositor do hino tricolor, tendo inclusive um busto na Esplanada da Arena.

Emocionado diante um aparelho de rádio exposto, o aposentado da cidade de Paraí, no interior do Rio Grande do Sul, Dirceu Lene, 70 anos, recorda que ouvir Lupicínio Rodri -

gues representava seu melhor momento de distração na juventude. “O rádio de pilha era minha companhia. À época, eu nem imaginava como

era o Lupicínio, pois a gente só ouvia as músicas e não tinha como ver o seu semblante”, relembra.

O arquiteto Fernando da Costa

Franco, 58 anos, se mudou de Erechim para Porto Alegre aos 4 anos e sua família optou por residir na Ilhota, bairro onde o cantor nasceu e compôs, em 1937, uma música em homenagem ao lugar. Gremista, Fernando revela que Lupicínio fez parte da sua trajetória, “mas nunca tinha parado para estudar a sua história”. Com curadoria de Carlos Gerbase, a exposição narra, de forma cronológica, a vida e obra de Lupicínio, desde o nascimento, passando pela juventude e resgatando a história da família que veio escravizada da África. Recupera, também, a experiência do compositor como soldado, o seu envolvimento com a namorada que conheceu ao servir em Santa Maria e que o impulsionou a investir na música, assim como sua paixão por samba e carnaval. Com materiais inéditos, o acervo da exposição inclui músicas com a voz do cantor e também reproduções de clássicos de Lupicínio nas vozes de artistas como Elza Soares, Gilberto Gil e Caetano Veloso. A exposição está localizada no Farol Santander e ficará aberta ao púbico até o dia 23 de julho. A classificação é livre. O ingresso custa 17 reais e também oferece acesso à exposição permanente do Farol que restaga a história da cidade de Porto Alegre.

Gibiteca oportuniza acesso público e gratuito ao universo dos quadrinhos

A cada semestre a Gibiteca BPE, localizada no primeiro piso da Biblioteca Pública do Estado do Rio Grande do Sul, realiza uma feira gráfica, chamada de Gibizeira. A última edição ocorreu nos dias 6 e 7 de maio e contou com oficinas práticas e painéis que trataram do mundo dos gibis. Um desses painéis, focado no tema jornalismo em quadrinhos, contou com a presença do quadrinista Pablito Aguiar.

Autor do gibi “Almoço: uma conversa com Eliane Brum”, lançado em 2022, Pablito destaca a importância de uma gibiteca como forma de democratizar o acesso ao mundo dos gibis. “Quem não tem dinheiro para comprar um quadrinho, que ultimamente anda bem caro, pode ir na gibiteca que vai achar o material que procura”, disse o quadrinista. Além do gibi que narra o encontro de Pablito com a jornalista Eliane Brum enquanto

ela prepara um feijão, ele tem outro trabalho exposto para leitura na gibiteca, intitulado “Alvorada em Quadrinhos”.

Cristiano Vach, 50 anos, é frequentador da gibiteca e, desde a juventude, consome o universo de quadrinhos, especialmente “Conan, o Bárbaro”. No local, teve a oportunidade de acessar uma edição do seu herói favorito veiculada em 1985. O exemplar, segundo ele, é raro e dificilmente poderia ser encontrado em outro lugar. Segundo o curador do espaço, Guilherme Smee, a Gibiteca BPE oportuniza um ambiente de leitura gratuita, pública e de livre acesso. “Os quadrinhos auxiliam não só na alfabetização e interpretação do texto, mas também educam as pessoas na leitura e interpretação das

imagens e das narrativas”, pontua.

A Gibiteca BPE foi inaugurada no dia 5 de novembro de 2021. A iniciativa foi proposta por Guilherme, que desejava doar parte da sua coleção de 2 mil quadrinhos. Além do acervo de Guilherme, a Fundação

a doação de 800 mangás. A partir de então, outros colecionadores se interessaram pelo projeto e começaram a doar parte de suas coleções.

Os gibis que integram o acervo da Gibiteca BPE podem ser consultados no local. Contudo, a partir da catalogação do acervo, que deverá levar entre 4 e 5 meses, os materiais estarão disponíveis também para retiradas. Atualmente, apenas os quadrinhos duplicados estão disponíveis para este fim. Gibis com muitos exemplares são doados para outras instituições.

A Gibiteca BPE funciona de segunda a sexta, das 10h às 18h, e nos sábados, das 10h às 12h. As doações de quadrinhos podem ser realizadas no setor de empréstimo, localizado no subsolo da biblioteca.

LUPA | Julho de 2023 8 | CULTURA |
Japão também contribuiu com NICOLY OWICKI Exposição resgata a vida e obra de Lupicínio Rodrigues, artista apaixonado por samba e carnaval que relatou suas dores e amores através da música Gibiteca BPE reúne coleção de obras raras que, após catalogadas, também estarão disponíveis para retiradas GIORDANO MARTINI

Memória da capital preservada no coração da Cidade Baixa

Desde 1979, o Solar Lopo Gonçalves, na rua João Alfredo, abriga o Museu Joaquim Felizardo, com o propósito de manter viva a história de Porto Alegre

Quem passa pela rua João Alfredo, na Cidade Baixa, conhecida pelos seus bares, talvez nem imagine que o número 528 abriga o Museu de Porto Alegre Joaquim Felizardo. Localizado no antigo Solar Lopo Gonçalves, que também é um patrimônio histórico tombado, o museu possui um imenso acervo arqueológico, fotográfico e tridimensional da capital.

Construído entre 1845 e 1855, inicialmente foi uma espécie de casa de veraneio da família de Lopo Gonçalves, já que ficava em uma localidade fora do limite urbano da cidade. Com o passar do tempo, tornou-se a casa oficial da família e assim permaneceu até os anos 1940, quando foi vendida para Albano Volkmer, um empresário alemão que fundou uma fábrica de velas no local.

Em 1966, o solar passou para o controle do Serviço de Assistência e Serviço Social dos Economiários, que pretendia construir um condomínio para os empregados do setor. “A casa já era um dos poucos remanescentes de um estilo arquitetônico conhecido como de transição, marcado pela passagem do colonial para o neoclássico, então, em 1976, começou um movimento para a sua preservação”, conta a museóloga da instituição, Luciana Brito. “A nossa missão é preservar e comunicar a história da cidade, contar a história de Porto Alegre e do seu povo”, descreve.

Nossa missão é preservar e comunicar a história da cidade”

Quando o Museu começa, em 1979, ele passa a reunir objetos da elite da época. Com o tempo, segundo Luciana, a instituição vai incorporando peças afro-brasileiras, indígenas e pré-coloniais. “Afinal de contas, a história de Porto Alegre começa muito antes dos açorianos”, destaca a museóloga. “Inclusive, o museu fica na Cidade Baixa, teritórrio negro por tradição”, lembra.

Manutenção

A maior parte das cerca de 300 mil peças do museu compõem o acervo arqueológico. “Objetos encontrados em 91 sítios arqueológicos de Porto Alegre estão aqui, pois somos uma das poucas instituições aptas pelo Iphan para acolher esses

objetos”, explica Luciana. Há peças de cerâmica indígena, principalmente Guarani, e itens de acervo afro-brasileiro. A coleção tridimensional possui cerca de 1.300 objetos dos séculos 19 e 20, entre louças, documentos e vestuários. E o acervo fotográfico reúne em torno de 10 mil imagens, fotos e postais. Mas a preservação dessa memória é um desafio. O museu não possui climatização, apenas conta com desumidificadores. Por ser um prédio tombado, não é possível instalar ar-condicionados nas paredes, por exemplo. A única solução seria um sistema de refrigeração central, que demandaria alto investimento.

A atual diretora do Joaquim Felizardo, Elizabeth Corbetta, que assumiu a gestão em 2022, conta que encontrou o museu em condições precárias.

“No período em que o museu ficou sem vigilância foram roubadas as grades do fosso que cerca a casa, além de outros furtos que aconteceram em 2021”, conta.

“Era muito arriscado voltar a receber visitas, principalmente, de escolas e de crianças.

Não tínhamos câmeras de vigilância funcionando, não tínhamos Wi-Fi, era uma série de coisas que precisava e foi feito”.

Conforme a Lei 13.280/22 - Lei de Diretrizes Orçamentárias do Município de Porto Alegre para 2023, a Secretaria de Cultura

e Economia Criativa possui um orçamento previsto de R$ 35,6 milhões. Entretanto, não está previsto nenhum repasse especial para investimento ou manutenção do Museu Joaquim Felizardo e apenas R$ 11 mil estão na rubrica “memória da cidade”.

Visibilidade do acervo

Algumas iniciativas buscam tornar o acervo do museu cada vez mais conhecido. Até o começo de 2023, conforme Luciana Brito, a instituição tinha um setor educativo muito atuante, mas que está parado em função da saída das servidoras que tocavam os projetos. “O único projeto que conseguimos continuar por enquanto é o Caixas de Memória, caixas temáticas montadas com objetos do acervo do museu que são utilizadas pelas professoras para o preparo de aulas espe-

Museu guarda mais de 300 mil objetos arqueológicos, que são motivo de orgulho para a museóloga Luciana Brito

ciais”, conta. O Museu também é conhecido pelos seus recursos de acessibilidade, que compreendem plataforma elevatória, banheiro acessível, audiodescrição das exposições e a maquete tátil do Museu. “Desde a pandemia, quando começamos a utilizar mais as redes sociais para compartilhar as peças do nosso acervo, todas as nossas postagens de fotografias, imagens de objetos e etc., possuem audiodescrição também”, completa Luciana.

Segundo Elizabeth, para cumprir a sua função social, o Museu tem que ser um espaço habitado pelas pessoas: “Acervos guardados são depósitos. Para fazer sentido, as pessoas têm que conhecer o que temos aqui”.

Para ela, eventos como a Noite dos Museus são essenciais. Na edição deste ano, houve fila na porta de entrada durante a noite toda. A mostra Patrimônio Imaterial: As Lendas Urbanas de Porto Alegre foi a que mais chamou atenção de Mariah da Fonseca: “A maioria das lendas eu já conhecia, mas não sabia que eram baseadas em crimes reais e muito menos que se tratavam de acontecimentos que se passaram em Porto Alegre”. Além disso, a visitante disse que nunca tinha visto esse tipo de exposição em outro museu. Embora já tivesse passado pela frente da casa, essa foi a primeira vez que ela entrou para conhecer a memória guardada na instituição.

LUPA | Julho de 2023 | HISTÓRIA | 9
Por Eduarda Ferreira
Luciana Brito, museóloga
IMAGENS: EDUARDA FERREIRA

Porto Alegre: um destino a ser explorado por todos

Capital gaúcha se reinventou nos últimos anos para atrair interesse de turistas que chegam ao estado

Porto Alegre é ponto de partida para muitas viagens, mas os turistas que chegam à capital gaúcha pouco ficam na cidade. Segundo estatísticas de 2022 dos Centros de Atenção ao Turista do Rio Grande do Sul, apenas 32% têm Porto Alegre como destino final. A Serra Gaúcha lidera recebendo 47,5% dos turistas.

A revitalização da Orla do Guaíba, com um novo complexo gastronômico e de lazer, incluindo a maior pista de skate da América Latina, o 4º Distrito com foco em uma vida noturna mais animada e diversos novos empreendimentos gastronômicos lançados em outros pontos de interesse, como o Refúgio do Lago, no Parque da Redenção, são bons exemplos de que a capital pode ser um destino atraente.

Ao adentrar a cidade, os visitantes são recebidos por um muro colorido e cheio de vida: o Muro da Mauá, uma iniciativa da atual gestão municipal que explora em telas conteúdos artísticos e institucionais de empresas co-adotantes. São 750 metros de extensão, que ficam entre o pórtico de entrada do Cais do Porto e o Cais Embarcadero, na beira do Guaíba.

“Sou apaixonada por Porto Alegre. Acho lindas as áreas verdes em meio aos prédios, o centro histórico também é muito bonito”, comenta Michele Bueno, de 42 anos, enquanto compra água de coco em uma barraca na Orla

para a filha Maria Clara Bueno, de 11 anos. “Eu amo passear na Orla e ver a alegria das pessoas e dos animais, interagir com todos e aproveitar a natureza. A diversidade de pessoas também chama muito a atenção aqui, acho

Museus com entrada franca são atrativos preferidos de Eloá, que prestigia exposição sobre Elis Regina na Casa de Cultura Mário Quintana

isso bem legal”, conclui a moradora de Nova Santa Rita, que costuma passear pela capital aos finais de semana.

Quando questionada sobre as mudanças que observou na cidade nos últimos anos, com os investimentos

em revitalização, Michele conta que o policiamento e a limpeza dos atrativos turísticos melhorou significativamente.

O fluxo de turistas também melhorou: houve aumento de 53,12% em agosto de 2022, em relação ao mesmo

LUPA | Julho de 2023 10 | TURISMO |
IMAGENS: ANDY MIRITZ

período de 2021, segundo o Sindicato de Hotéis de Porto Alegre.

Diversas facetas

Com prédios históricos, arte e cultura, paisagens naturais, turismo reli-

lindas

inovação. Em 2023, o evento levou 22 mil pessoas ao Cais Mauá.

O Centro Histórico é onde os principais atrativos turísticos se encontram, como o Mercado Público, a Praça da Alfândega, a famosa Rua da Praia, a Usina do Gasômetro, a Orla do Guaíba e os museus Santander Cultural, Museu de Artes do Rio Grande do Sul (Margs) e a Casa de Cultura Mário Quintana. Além de prédios históricos, como o Palácio Piratini e a Igreja Nossa Senhora das Dores.

“Porto Alegre chama a atenção porque tem diversos museus em que a gente consegue conhecer mais da história da cidade, do país e de figuras importantes, lugares recheados de conhecimento, muitos com entrada franca”, elogia Eloá, uma simpática senhorinha de 82 anos, que perambula atenta pelo acervo da cantora Elis Regina, preservado na Casa de Cultura Mário Quintana.

Futebol e arte

A capital gaúcha sedia uma das maiores rivalidades do futebol brasileiro, o Gre-Nal: clássico entre Grêmio e Internacional. As duas grandes paixões centenárias acumulam, juntas, mais de 170 mil sócios. Os dois estádios, Arena do Grêmio e Beira-Rio, oferecem visitas guiadas.

Já os bairros Floresta e São Geraldo,no 4º Distrito, têm um roteiro para quem gosta de arte: o Distrito Criativo de Porto Alegre, que surgiu em 2013, conta com quase 90 participantes, entre artistas e seus ateliês, galerias de arte, antiquários, lojas de decoração, arquitetos, designers, escolas de música, arte e dança. Na mesma região, fica o polo cervejeiro da cidade que tem a maior concentração de cervejarias por território do Brasil, com mais de 40 fábricas.

Zona rural

Pode parecer estranho falar sobre ruralidade na capital, mas quase 30% do território de Porto Alegre é ocupado pela zona rural. São 11 bairros, com propriedades que fazem parte dos Caminhos Rurais e oferecem atividades como passeio a cavalo, piqueniques com produtos orgânicos em uma bela paisagem e a possibilidade de coletar frutos direto do pé.

gioso e até mesmo trilhas para os mais aventureiros, Porto Alegre é uma cidade multifacetada. A capital está ainda entre as 10 cidades brasileiras que mais recebem eventos internacionais, segundo a International Congress & Convention

Association (ICAA) 2022. São eventos científicos, corporativos, feiras, shows e congressos de diversas áreas. Um dos mais conhecidos é o South Summit Brazil, que reúne startups, investidores e entusiastas de tecnologia e

Quem deseja conhecer mais essa parte da cidade tem direito ao Passaporte Turista Cidadão. O “documento” foi elaborado pela prefeitura em parceria com a Emater. O turista recebe um carimbo a cada propriedade que visita e, ao chegar no quinto atrativo, recebe um desconto de 10% em ingressos ou produtos. Para retirar, basta acessar o site caminhosrurais.com.br.

LUPA | Julho de 2023 | 11
Acho
as áreas verdes em meio aos prédios”
Michele Bueno, turista
Michele valoriza passeios ao ar livre na Orla do Guaíba, ao lado da filha Maria Clara Região do Centro Histórico concentra cartões postais conhecidos da cidade, como a Igreja das Dores

Orquestra Theatro São Pedro promove projeto social para jovens

Iniciativa oferece aulas de música sem custos para crianças e adolescentes entre 9 e 20 anos em situação de vulnerabilidade

Coordenado pelo maestro Evandro Matté e pela musicista Keliezy Severo, a Orquestra Jovem Theatro São Pedro (OJTSP) desenvolve o potencial musical de 120 crianças e jovens através de aulas gratuitas no Multipalco Eva Sopher, em Porto Alegre. A iniciativa, promovida pela Orquestra Theatro São Pedro (OTSP), existe desde 2021 e conta com o apoio do Instituto Providência.

“O objetivo é atender jovens e crianças em vulnerabilidade de comunidades e bairros periféricos. Temos uma parceria com o Instituto Providência, que realiza uma triagem de todas as crianças que se apresentam”, relata Keliezy.

Segundo a coordenadora, a música incentiva jovens de comunidades periféricas da capital a se desenvolverem através da arte. “A importância de terem o papel de líderes e mostrar que eles

podem incentivar outras crianças faz parte disse. A música, num contexto de extrema violência, resgata um olhar de valorização desses jovens, que passam a se sentir capazes e a fazer algo realmente importante”, afirma.

Participante do projeto, Mariana Alves, 18 anos, destaca que a música

mudou a sua vida e a fez descobrir novos talentos. “Sempre fui muito apaixonada por música erudita e sempre tive vontade de tocar violino. A música para mim é uma forma de escape. Muitas vezes eu tocava para me distrair, mas na verdade era um estudo. Arte cura, arte é tudo”, sentencia. Erick Klippel, 18 anos, relata que conquistou uma vaga no curso de Licenciatura em Música na Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS) através

do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Ele destaca que a dedicação à música tem o poder de levar as pessoas a lugares inimagináveis. “Eu não conhecia o Theatro São Pedro e agora estou na faculdade de música graças ao projeto e ao incentivo da professora Keliezy. Essa será minha profissão”, conta. Atualmente, a OJTSP atende crianças e adolescentes desde a iniciação musical à orquestra. Todas as aulas ocorrem nas dependências do Multipalco, inaugurado em 2009. O espaço conta com salas de música e dança, múltiplos teatros, instrumentos musicais e restaurante.

“A maioria dos alunos que estão aqui vieram de um projeto na Lomba do Pinheiro, mas faltavam salas e instrumentos. Poder estar no São Pedro é uma evolução gigantesca”, comemora Jony Junior, aluno mais antigo da orquestra. As inscrições para novos alunos são abertas periodicamente no site oficial da OTSP. Para mais informações sobre as aulas é possível enviar um e-mail para orquestra@orquestratsp.com.br ou visitar pessoalmente os ensaios que acontecem nas segundas e sextas-feiras, das 11h às 17h. O Multipalco fica localizado na Praça Mal. Deodoro s/n,Centro Histórico, em Porto Alegre.

NEABI oferece cursos de culinária e informática a quilombolas

O Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas (NEABI), vinculado à Universidade do Vale do Rio do Sinos (Unisinos), realiza semanalmente, no campus de Porto Alegre, o projeto “Saberes e Fazeres”. A iniciativa oferece aulas de gastronomia para as comunidades do Quilombo da Família Silva e Quilombo Kédi. O NEABI também contribui para a inclusão digital afrodescendente e indígena através de capacitações envolvendo recursos de informática básica.

A ideia dos projetos surgiu a partir de demandas identificadas nas próprias comunidades, que sinalizaram interesse em oficinas de cozinha e informática. A escolha pelo Quilombo da Família Silva e pelo Quilombro Kédi se deu em função da proximidade dessas comunidades com a Unisinos, localizada na Avenida Nilo Peçanha, 1600, na capital.

Segundo Cristiano Silveira, educador social do NEABI, os quilombolas que integram os projetos enfrentam dificul-

dades burocráticas básicas. Pelo fato de viverem em situação de vulnerabilidade social, muitos não possuem os documentos solicitados para formalizar a inscrição nas capacitações. Contudo, na avaliação do coordenador do NEABI, professor Jorge Teixeira, o grande desafio é manter os projetos atrativos aos participantes, considerando que não existe lista de presença ou obrigatoriedade de participação. A abrangência dos temas abordados também é importante, já que os participantes vão desde crianças até idosos.

Ana Paula da Silva, 37 anos, participa da iniciativa de inclusão digital, intitulada IDAFROI, junto com seus quatro filhos e enxerga no projeto uma oportunidade de aprender a utilizar o computador de forma gratuita, pois ela não teria recursos para pagar um curso de informática. Ana também destaca o acolhimento que a iniciativa promove. “A gente se sente importante e respeitada

Gisele, Jorge, Cristiano e Adriani são responsáveis pela parte administrativa, coordenação, educação e assistência social, respectivamente, do NEABI

como quilombola ao ter essa oportunidade oferecida pela Unisinos”, ressalta.

Os dois projetos são destinados a negros, indígenas e brancos empobrecidos. Para participar do IDAFROI é preciso comparecer ao campus da Unisinos Porto Alegre, na avenida Nilo Peçanha, nas

quintas-feiras, às 19 horas. As aulas têm, em média, uma hora de duração. Para fazer parte do projeto “Saberes e Fazeres” é necessário buscar o Laboratório de Gastronomia da universidade, também no mesmo dia e horário. O laboratório está situado na avenida Luiz Manoel Gonzaga, nº 744. A duração das aulas é de, em média, três horas.

LUPA | Julho de 2023 12 | INCLUSÃO |
Por Bárbara de Oliveira Projeto social promovido pela Orquestra Theatro São Pedro oportuniza jovens da periferia de Porto Alegre a estudarem música gratuitamente TOBIAS ARAÚJO LUÍSA BELL

Concertos Candlelight iluminam pontos culturais de Porto Alegre

Sensação mundial, espetáculos de orquestra à luz de velas chegaram a locais como Casa da Ospa, Farol Santander e Espaço Multiverso no Cais Embarcadero

Em cartaz na capital gaúcha desde março, os concertos Candlelight são iluminados por cerca de 2,5 mil a 3 mil velas de LED (que não esquentam), que dão o tom intimista ao público que vai chegando ao teatro antes da performance começar. Aqueles que chegam mais cedo aproveitam o momento para tirarem selfies com o cenário de fundo, já que minutos antes do espetáculo todas as luzes são apagadas e não são mais permitidos fotos e vídeos até o bis.

A proposta, que consiste em apresentações de orquestras à luz de velas e tem como objetivo democratizar o acesso à música clássica, possui um catálogo variado. Além do repertório erudito, que vai de Vivaldi a Chopin, os organizadores também buscam trazer uma roupagem clássica à música contemporânea. A ideia é da produtora Fever, que já organizava shows de música clássica, para tornar esse gênero mais acessível e atingir um novo público. “Agora, nossa lista de programas inclui uma grande variedade de temas e gêneros além do clássico, como jazz, pop, trilhas sonoras de filmes e balé, e tributos aos melhores sucessos de artistas contemporâneos como Queen, Coldplay e Taylor Swift”, aponta Natália Corintho, associate producer dos concertos Candlelight no Brasil.

No Teatro Bourbon Country, a reportagem acompanhou um dos concertos queridinhos do público, o “Tributo ao Coldplay”, homenagem à carreira de sucesso da banda britânica. Ao som de “Viva la Vida”, o Sexteto Monte Cristo, formado por Geovane Marquetti e Marina Lopes (violinistas), Rafael Costa (violoncelista), Rafael Figueiredo (contrabaixista), Bernardo Scarton (violonista) e Douglas Gutjahr (baterista), tocou por uma hora iluminado pelas velas de LED. Das mais antigas e emocionantes “Yellow” e “Fix You” até o mais recente hit da banda “My Universe”, feat com o famoso grupo de k-pop BTS, o grupo de musicistas embalou a noite de casais que assistiam ao concerto agarradinhos, e também de famílias e grupos de amigos.

Experiência sensorial

Nos bastidores da produção, a violinista Marina Lopes, de 27 anos, contou que o convite para tocar no concerto

se deu por indicação da Monte Cristo, empresa responsável pela curadoria musical. Para ela, o principal diferencial é a iluminação: “A iluminação muda tudo, porque até pra gente mesmo, traz um clima legal na hora de tocar. Mas tem também essa questão de trazer pra música instrumental essas músicas que a gente já conhece de tanto ouvir, fora poder apresentar um pouco do universo erudito para as pessoas com os concertos de clássicos”.

Marina Lopes, violinista

Apesar de ser uma quarta-feira à noite, o público compareceu em peso.

“Foi ótimo, diria que é uma experiência diferente e única! A música com as velas cria um ambiente mágico que te conduz às estrelas”, comenta Débora Chaves. A médica de 40 anos ainda contou que escolheu especificamente o tributo a Coldplay porque gosta das músicas e é fã da banda. O aposentado Leonardo Pedroso, de 68 anos, que acompanhava o concerto pela primeira vez, também se comoveu. “É bem emocionante. O repertório é excelente, mas poderia ter mais algumas músicas”, ressaltou.

Rota internacional

O Concerto Candlelight é uma ideia original da empresa de eventos espanhola Fever Up, que começou em 2019,

com sessões em Nova York, Madrid e Paris. O projeto já passou por mais de 100 cidades pelo mundo e atraiu mais de 3 milhões de espectadores. No Brasil, aterrissou primeiro nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, em 2020. Desde então, o projeto vem se expandido para outros lugares como Belo Horizonte e Porto Alegre.

“Porto Alegre foi escolhida por seus setores de artes, cultura e entretenimento em desenvolvimento”, afirma Natália. “Com os concertos Candlelight, buscamos democratizar o acesso à música clássica e, ao mesmo tempo, descobrir espaços únicos que fazem parte do patrimônio cultural das cidades, dando visibilidade a artistas locais talentosos, e tudo isso em uma atmosfera única”, descreve.

Sobre como é feita a escolha dos lugares que irão sediar os concertos, Natália diz que há preferência por locais que carregam uma história, também consideram elementos logísticos e técnicos, como localização acessível, acústica e iluminação do ambiente. Pontos culturais famosos da capital, como a Casa da Ospa, o Espaço Multiverso no Cais Embarcadero, e o Farol Santander estão na programação.

Os Concertos Candlelight ocorrem normalmente de segunda a sexta, sendo uma ótima opção de programa diferente para se fazer, após um dia de trabalho. Para saber mais sobre os próximos concertos na capital, acesse o feverup.com.

LUPA | Julho de 2023 | MÚSICA | 13
Por Luísa Bell
A iluminação muda tudo, porque traz um clima legal na hora de tocar”
IMAGENS: LUÍSA BELL

Marginalização trava crescimento do carnaval

Realizado em região periférica e com pouca estrutura, o evento não atrai turistas e afasta os moradores de Porto Alegre das manifestações culturais

Há quase 20 anos, os desfiles das escolas de samba de Porto Alegre são realizados no Complexo Cultural do Porto Seco, na Zona Norte da capital. Outros espaços, no entanto, situados principalmente entre as regiões do Centro e da Cidade Baixa, já foram palco das celebrações carnavalescas. O processo de periferização do evento e a promessa de valorização da região conduziram o carnaval para perto da fronteira com o município de Alvorada, que agrupado ao baixo investimento público gera, até hoje, o descontentamento das entidades e o afastamento dos turistas. Superando diferentes gestões municipais, a pista de desfiles do Porto

Seco, implantada com a finalidade de ser um polo de desenvolvimento econômico e social para a localidade, visando a profissionalização do carnaval como um “evento de ano inteiro”, não recebe obras desde a sua inauguração, em 2004. O espaço permanece com as arquibancadas e camarotes provisórios e há relatos recorrentes de insegurança. “Segue sendo uma maquete”, afirma o coordenador de Cultura da Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs), jornalista Vinicius Brito.

“O Complexo Cultural do Porto Seco agudizou o processo de apagamento e sombreamento do carnaval de Porto Alegre”, reflete Brito, complementando que ocorreu um “movimento de tirar do coração da cidade esse som negro e diaspórico para levar aos limites, onde ninguém vê”.

Em concordância, o presidente da Copacabana, última campeã da Série Prata do carnaval porto-alegrense, Antônio Ricardo Silveira, o Chula, afirma que a cidade foi expandindo

e “mandando os negros para as regiões periféricas”. Ele exalta, contudo, que apesar das circunstâncias adversas, as agremiações não fecham as suas portas ao longo do ano e seguem realizando eventos culturais como forma de sobrevivência.

Muitos dos compositores gaúchos estão inseridos também nos carnavais do Rio de Janeiro e de São Paulo, considerados os maiores do país, fato que ressalta o elevado nível artístico de Porto Alegre. É evidente, porém, a pouca atratividade para os investidores da região. No último carnaval, apenas órgãos públicos patrocinaram o evento.

Secretário-adjunto de Cultura de Porto Alegre, Clóvis André Silva da Silva afirma que os investidores “precisam ver a cultura como um negócio para garantir visibilidade e oportunidade”. Na mesma linha, Brito diz que o carnaval carioca é “onde o Moinhos de Vento (bairro nobre de Porto Alegre) vai”, salientando o sucesso comercial e o glamour das celebrações no Rio, em contraste ao evento sediado na capital gaúcha.

O Complexo Cultural do Porto Seco agudizou o processo de apagamento e sombreamento do carnaval de Porto Alegre”

Vinicius Brito, jornalista

LUPA | Julho de 2023 14 | PORTO ALEGRE |
ALEX ROCHA / PMPA
Sede do carnaval na capital, o Complexo Cultural do Porto Seco não passa por grandes reformas desde a sua inauguração, há quase 20 anos

Sentimentos na forma de pessoas: como seriam?

GreNal em que o vencedor somou mais de 3 pontos

E se os sentimentos, na realidade, fossem pessoas? E incorporariam o seu nome à sua personalidade?

Há muito tempo, por volta de 1960, existia uma menina chamada Tristeza. Ela morava no bairro Cristo Rei na cidade de São Leopoldo, no Rio Grande do Sul. Em um belo dia, saiu de casa e no caminho para a escola conheceu um menino que seria um dos novos alunos do Instituto Eros. Conversa vai e conversa vem, até chegarem à escola, o assunto continua e de repente o sinal toca, na hora do tchau. Tristeza se lembra que não perguntou o nome do garoto.

– Ei guri, esqueci de te perguntar algo.

– Sim, o que foi?

– Qual o seu nome?

– Momento.

Momento se mudou para escola para conviver mais com sua melhor amiga de infância, Felicidade, que era irmã do Pessimismo. Só o que ninguém sabia, é que o menino sempre foi completamente apaixonado pela Felicidade.

Ao conversar com seu melhor amigo, Tempo, Momento começou a reparar que o que sentia pela melhor

“Vaidade... Definitivamente, meu pecado favorito”, é o que diz o Diabo, quando interpretado por Al Pacino, logo após o personagem de Keanu Reeves começar a acreditar na ideia de que ele é um advogado invencível no filme O Advogado do Diabo . Teoricamente, faz sentido que o Diabo tenha uma predileção pela vaidade, pois ela pode envenenar até mesmo os feitos mais potencialmente benéficos.

A vaidade pode ser facilmente confundida com autoconfiança, especialmente quando é acompanhada de charme, tornando-se muito difícil de diagnosticar, tanto para a pessoa que a encarna quanto para aqueles que a testemunham. Como resultado, pode minar equipes de trabalho, grupos sociais e partidos políticos.

Em um mundo cada vez mais tecnológico, em que a imagem parece valer mais que palavras, a vaidade humana tem tomado conta das pessoas de maneira avassaladora. É como se estivéssemos presos em um espelho, onde a busca incessante pela aparência perfeita nos afasta da verdadeira essência da vida.

Observando o cotidiano, é impossí-

amiga, era algo muito maior do que apenas carinho. Ele estava a cada dia passando a entender que era completamente apaixonado pela Felicidade. Tempo o ajudou a criar mais coragem para revelar seus sentimentos para sua grande paixão, até porque era apavorante contar tudo e ter a chance de perder a amizade de alguém tão importante.

Porém, quando o tão esperado dia de se declarar chega, algo inesperado acontece. O Momento, então toma toda a coragem existente no seu corpo e decide falar tudo o que realmente sente.

– Feli, você sabe o grande carinho que eu sinto por você, né?

– Eu também tenho muito carinho por você, na realidade mais do que carinho.

O Momento fica totalmente estático e sem saber o que falar, puxa o ar bem fundo, respira e pensa “MEU DEUS! Será possível ela sentir, durante todo esse tempo, o mesmo que eu?”. Quando ele vai falar algo, acontece que o dois falam ao mesmo tempo:

– EU TE AMO!

Felicidade e o amigo, decidem então deixar de serem apenas bons amigos e começarem a namorar. Mal sabem eles que o que está por vir não será nada fácil, devido ao passado dos pais.

Estar em um GreNal é sempre emocionante. Começa com a chegada ao estádio que irá sediar o clássico. No caso do confronto 439, foi possível sentir a atmosfera tricolor antes mesmo de subir a esplanada. Assim como é possível perceber a quantidade de segurança instalada ao redor da Arena, que como o Beira-Rio, já foi alvo de infelizes episódios de violência entre torcedores. Mas vamos falar de coisa boa. Apesar do recente encontro dos times da capital no Gauchão, há mais de um ano o GreNal não acontecia no Campeonato Brasileiro. Assim como em qualquer outro clássico, o público compareceu em peso.

Eu? Estava trabalhando. E por isso, pude observar as mais diferentes atmosferas apresentadas em um dia de rivalidade aflorada. Entrei na zona mista e presenciei a chegada dos jogadores de ambos os times. O Grêmio despontou de cabeça erguida, deveras confiante por estar em casa. O ingresso do Internacional é percebido de longe. A segurança avança, a torcida adversária vaia e os jornalistas se debatem para descobrir o futuro do comandante

Mano Menezes. Depois disso, hora de subir até a esplanada.

Assisti ao jogo subindo mais alguns andares da Arena. Fui até às cabines de narração, localizadas na ala oeste. Uma imensidão azul já aparece mais que o verde do gramado. Aeronaves sobrevoam o estádio. Jogadores fazem o aquecimento. Hino. Minuto de silêncio. Árbitro apita. O jogo começa. O primeiro gol foi do artilheiro Suárez Depois de uma roubada de bola de Kannemann, o uruguaio ajeita a perna direita e faz o gol. Aos 31 minutos do primeiro tempo a arquibancada delira novamente, gol de Villasanti. Placar marcava 2 a 0 para o dono da casa.

O final foi eletrizante, entre uma saída e outra eu visitava a sala da Gaúcha. Pedro Ernesto na narração entona a vitória gremista e deixa ainda mais em dúvida o futuro do comando colorado. E lá vem mais, gol do time da casa. 3 a 0 para o tricolor. Aos 19 minutos do segundo tempo, o jogador Bitelo participa de um contra-ataque, avança e finaliza com um belíssimo chute. E ao final do segundo tempo, aos 41 minutos, Johnny descontou para o Internacional.

O lugar da mulher nas quatro linhas do campo

vel não se deparar com os exemplos mais gritantes dessa vaidade desmedida. As redes sociais se transformaram em verdadeiros palcos para exibições narcisistas. Nelas, as pessoas disputam a atenção alheia através de filtros, poses ensaiadas e frases de efeito. Nada de desenvolvimento pessoal, nem da construção de relações verdadeiras.

A vaidade, por si só, não seria algo negativo se as pessoas realmente investissem em seus cuidados pessoais de forma sincera e agradável. No entanto, em nosso século, ela está interligada à uma obsessão capaz de afetar negativamente a saúde mental e emocional de muitos.

Seria muito harmônico se a aprovação que as pessoas buscam fosse por meio de investimentos em educação, em proteção aos animais de rua, em cultura, enfim, tópicos que sejam benéficos para uma comunidade, e não para futilidades. O tempo e os recursos investidos em tratamentos estéticos muitas vezes superam negócios. Não permitamos que a vaidade nos torne escravos de uma imagem ilusória. Que as pessoas cultivem a humildade e a sabedoria, valorizando a essência que nos define.

O futebol, tradicionalmente dominado pelos homens, tem sido um terreno fértil para a evolução e conquistas das mulheres ao longo dos anos. Apesar das barreiras e desigualdades enfrentadas, elas têm lutado incansavelmente para serem reconhecidas e valorizadas no esporte. Mas afinal, qual o lugar da mulher nas quatro linhas do campo?

No final do século XIX, as mulheres tentaram jogar futebol, desafiando as normas sociais e enfrentando a resistência. O jogo era visto como impróprio para o “sexo frágil”, e muitas vezes elas enfrentavam descriminação e até mesmo proibições. No entanto, algumas pioneiras abriram caminho para que outras pudessem seguir. No Brasil, oficialmente, a primeira partida de futebol feminino ocorreu em 1921, entre jogadoras dos bairros Tremembé e Cantareira, na Zona Norte de São Paulo.

Nas últimas décadas, houve um aumento significativo no apoio ao futebol feminino. Grandes competições, como a Copa do Mundo Feminina e os Jogos Olímpicos, ele ganhou destaque e alcançou uma audiência global.

Apesar desta evolução, a visibilidade e a diferença salarial entre atletas de futebol masculino e feminino são notáveis. Isso porque, historicamente, o futebol masculino tem gerado muito mais receita do que o feminino. As principais ligas masculinas, como a Premier League e La Liga, e torneios como a Copa do Mundo Masculina têm audiências e patrocínios muito maiores. Além disso, o futebol masculino tem um longo histórico de exposição e cobertura midiática em comparação ao futebol feminino.

Mesmo com estes desafios, a participação das mulheres no futebol tem um impacto positivo no empoderamento feminino, servindo como inspiração para outras meninas e mulheres. Ao ver jogadoras talentosas, treinadoras bem-sucedidas e líderes influentes, as jovens se sentem encorajadas a perseguir seus sonhos e acreditar que também podem ter sucesso no esporte. Tal inclusão é fundamental para promover a igualdade de gênero no esporte, envolvendo e necessitando da criação de oportunidades equitativas. E a jogadora Marta Vieira da Silva segue sendo a grande referência, do Brasil para o mundo.

LUPA | Julho de 2023 | OPINIÃO | 15
O império nefasto da vaidade
Abdur Por Júlia Möller da Silveira Por Rafaella Schardosim

Café no Centro Histórico concilia arte e boa culinária

Localizado nos jardins da Catedral Metropolitana de Porto Alegre, espaço está aberto de quinta a sábado

OCentro Histórico carrega boa parte da memória de Porto Alegre. Nos jardins da Catedral Metropolitana, um espaço voltado à gastronomia local tem conquistado adeptos, conciliando arte e boa culinária.

O local onde atualmente funciona o Café da Catedral era uma rua sem saída que levava a uma estátua do ex-governador Leonel Brizola e conduzia os cardeais até os jardins do palácio. Em 2023, o espaço se transformou após uma reforma custeada pela arquidiocese, que decidiu investir no turismo e transformar o espaço em um café.

Hoje, os jardins da Catedral podem ser apreciados por todos os públicos, especialmente por amantes de história, arquitetura e arte. O Café da Catedral é comandado por Letícia Huff e pelo padre Rogério Prigol, e desde abril, recebe clientes de quinta a sábado.

Letícia era cerimonialista de casamentos e se aproximou da Catedral devido aos eventos que produzia no local. Foi assim que a empreendedora percebeu que aquele era um espaço pouco explorado e acessado,

até então, somente pelo clero.

Os sócios explicam que a ideia de inaugurar a cafeteria surgiu após a restauração do espaço. O desejo da arquidiocese, liderada pelo padre Rogério, é que mais pessoas possam conhecer o valor histórico da Catedral Metropolitana.

A reforma investiu na climatização do ambiente, em sua área interna, e no paisagismo para melhorar a experiência

de estar em um ambiente histórico. Além disso, o espaço prevê uma ampliação com exposições de arte na sala João Paulo II, que deverá receber objetos, quadros e imagens que contam a história da Igreja Católica na capital. Por ser um patrimônio cultural da cidade, o prédio passou por um processo de legislação para o uso da cafeteria. Nas redes sociais, a novidade tem

Jogadoras enfrentam desafios para conciliar estudos e futebol

A rotina de treinos e a frequência de viagens são obstáculos enfrentados por jogadoras de base que estão em fase escolar. O futebol demanda investimento de tempo e comprometimento, além de envolver uma sequência de jogos e deslocamentos, tornando desafiador equilibrar a carga horária acadêmica e o foco nos treinamentos. “Não tem como conciliar. Eu só passo de ano porque sou jogadora”, revela Kathrylin Basilio, 15 anos, volante do Internacional sub-17. Como o esporte envolve competições regionais, nacionais e, até mesmo, internacionais, as atletas precisam viajar com regularidade. Esses deslocamentos, contudo, podem ocorrer no meio da semana, resultando em ausências na escola e perda de exames. “Você

abre mão de muita coisa, inclusive de se dedicar aos estudos porque sempre está viajando”, afirma Agatha Basílio, 19 anos, ex-goleira do Internacional sub-18.

A exaustão das atletas afeta o rendimento acadêmico e, inclusive, a performance dentro de campo, deixando as jogadoras com dificuldades de concentração nos estudos, treinos e jogos. “Eu estudo esquema tático nos treinos e em casa e durmo nas aulas da escola porque estou sempre cansada”, relata Kathrylin.

Para sanar essas dificuldades, os clubes de futebol buscam estratégias para adaptar o horário dos treinos ao contraturno escolar. Ainda assim, Agatha admite que já pediu a ajuda da irmã para realizar trabalhos escolares. Ela ainda enaltece o papel da família, que considera fundamental na busca por suas conquistas, seja dentro ou fora de campo.

chamado a atenção com reviews que exploram o potencial histórico e cultural do Centro Histórico. Além disso, o padre Rogério está todos os dias no café recepcionando os visitantes e os guiando pelos ambientes.

A Catedral Metropolitana de Porto Alegre fica localizada na rua Duque de Caxias, nº 1047, sendo acessada pela rua Dom Sebastião.

LUPA | Julho de 2023 16 | LAZER |
Por Giovani Baltezan PCH.VECTOR / FREEPIK
LUÍS
Jardins da Catedral estão abertos para visitação dos clientes da cafeteria
HENRIQUE LEITE

Cruzeiro e São Paulo: centenários do RS disputam a Terceirona

Dois

Após serem rebaixados para a terceira divisão do futebol gaúcho, Cruzeiro e São Paulo lutam por recursos financeiros para o segundo semestre de 2023. Além da situação dos clubes não ser positiva, o impacto tem ramificações, com a ausência de atividades das torcidas organizadas e a baixa presença de público nos comércios ao redor dos estádios. Prestes a disputar a competição pela primeira vez, os tradicionais clubes do Rio Grande do Sul apostam nas categorias de base como pilar da retomada à elite para dar sobrevida a quem vive da paixão pelos clubes do interior.

Luto no Cruzeiro

Rumo à quinta temporada na nova casa, em Cachoeirinha, o Esporte Clube Cruzeiro, fundado em 1913, resiste às dificuldades impostas pela região em que se encontra e pela falta de investimentos das empresas locais. Localizada no Distrito Industrial da cidade da Região Metropolitana de Porto Alegre, a Arena Cruzeiro já celebrou um título cruzeirista ainda no ano de inauguração, quando o clube conquistou o Gauchão Juvenil, batendo times como Ypiranga, Brasil e o Internacional.

Entretanto, a aposta nas categorias de base não rendeu resultado ao time profissional. Com um começo de ano ruim em 2020, na Divisão de Acesso, o futebol do Cruzeiro foi interrompido devido à pandemia da Covid-19. Em agosto, a competição foi oficialmente cancelada e o departamento profissional do clube só voltou a funcionar no ano seguinte.

Mesmo com as dificuldades financeiras, o Cruzeiro se manteve de pé e deu início à remontada do clube, que teve ainda de lidar com a morte do então presidente Dirceu de Castro, em decorrência do coronavírus. Desde então, Gerson Finkler é quem comanda o estrelado: “Sempre estamos preparados e nunca estamos preparados, quando soube que o Dirceu estava com Covid, não me preocupei, pois o Dr. Lempek (médido do Cruzeiro) já havia tido e passou, e, como o Dirceu tinha uma saúde muito boa, achei que não seria problema”, conta Finkler. “Encarei o fato como mais uma oportunidade de atravessar um grande obstáculo do que um problema, claro, não foi fácil, o clube tinha

muitas dificuldades financeiras e pouca possibilidade de resolvê-las”.

Investimento na base

Em 2022, com um time basicamente formado por jogadores da base e com uma comissão técnica que estreava no futebol profissional, o Cruzeiro acabou sendo rebaixado para a terceira divisão gaúcha. “A Série B do Campeonato Gaúcho é diferente das demais séries, pois é um campeonato curto e por adesão, não se sabe quem irá participar efetivamente”, explica o mandatário cruzeirense. “Este ano, a FGF está mais

ciente e cobrando a necessidade de os clubes terem locais próprios para os jogos, devidamente liberados pela Brigada Militar e pelo Corpo de Bombeiros. Ainda assim, teremos times fortes para a disputa com mais de dois candidatos a subirem, espero que um destes possa ser o Cruzeiro”, completa.

Mesmo com o momento não sendo favorável, em 2023 o Cruzeiro retornou com a categoria sub-20, como forma de garimpar jogadores com qualidade. “Tivemos problemas de venda de jogos por parte de jogadores, tornando o campeonato bastante difícil, assim, como os resultados dos quatro primeiros jogos foram pontos fora da curva, não foi possível uma avaliação mais ajustada, mas serviu como experiência para o controle da manipulação de resultados”, observa Finkler.

Desde o meio de junho de 2022 sem futebol profissional em campo, o Cruzeiro não deixa de ter o apoio da torcida. A Império Azul, organizada cruzeirista, segue apoiando na base. “Apoiar o clube de uma forma geral deve ser a missão de uma torcida organizada, e a Império é importante para o time, fazemos a diferença na arquibancada”, relata Patrick Brum, líder da torcida. “Claro que nem sempre estamos contentes com o resultado dentro de campo, mas o amor incondicional e a junção pelo mesmo ideal nos dá a disposição para apoiar”, conclui.

Jovens no São Paulo

O Leão do Parque, em Rio Grande, seguiu o mesmo roteiro do Cruzeiro. Após a queda para a Divisão de Acesso, em 2019, o São Paulo, fundado em 1908, não conseguiu montar um time competitivo e padeceu na segunda prateleira do futebol gaúcho ano passado, resultando no descenso para a terceirona de 2023. Ao contrário do clube de Cachoeirinha, o rio-grandino não teve sucesso nem nas categorias de base nos últimos anos. Para o segundo semestre, o São Paulo, que acumula uma dívida de mais de R$ 7 milhões, vai tentar se reestruturar para voltar à Divisão de Acesso. “Se formos campeões, é um título que ninguém quer ganhar, mas é um título, e vai entrar para a história”, destaca o presidente Paulo Costa. “Montamos um time sub-20 com garotos com potencial e, com esse time, esperamos buscar o acesso”, finaliza.

Sobre a Terceirona

O Gauchão Série B, nome oficial dado pela Federação Gaúcha de Futebol à Terceirona, tem início previsto para 15 de setembro. Além de São Paulo e Cruzeiro, a competição ainda deve contar com outros clubes tradicionais do futebol gaúcho, como o Rio Grande e o Farroupilha. Dois clubes sobem para a Divisão de Acesso.

LUPA | Julho de 2023 | FUTEBOL | 17
clubes tradicionais no cenário esportivo gaúcho enfrentam dificuldades financeiras para buscar recuperação
Por Nícolas Córdova
Encarei mais como uma oportunidade de atravessar um grande obstáculo do que um problema”
Gerson Finkler, presidente do Cruzeiro
Em 2022, o Cruzeiro teve a pior campanha do Gauchão Série A2 e teve decretado o rebaixamento para a Terceirona Gaúcha JULIANO STZ

Relações entre mídia e futebol nas diferentes gerações

Evolução na maneira de acompanhar o esporte permite aos fãs uma maior imersão desde a transmissão ao vivo dos jogos até a interação nas redes sociais

Futebol, esporte amado e acompanhado por milhões de pessoas em todo o mundo. Ao longo das gerações, a maneira como as pessoas acompanham o futebol mudou significativamente, impulsionada pelos avanços tecnológicos e pela evolução dos meios de comunicação. Do rádio às transmissões de TV, da internet aos dispositivos móveis e agora com a ascensão da realidade virtual, cada geração experimentou uma maneira única de vivenciar o esporte mais popular do mundo.

No início do século XX, o rádio era o principal meio de comunicação utilizado para acompanhar eventos esportivos, incluindo o futebol. Os torcedores sintonizavam em transmissões radiofônicas para ouvir os jogos ao vivo. As narrações vívidas dos locutores de rádio tornavam-se a única conexão entre o jogo e os torcedores, que imaginavam os lances e vibravam com os gols através das ondas sonoras.

“As primeiras transmissões de partidas de futebol pela BBC eram feitas como um bingo. Hoje, muitos ainda pensam que o futebol pelo áudio é a melhor forma de fruição desse esporte”, observa Márcio Telles, doutor em comunicação e informação com pesquisa sobre esse tema. Além disso, o esporte e as mídias mudam em colaboração, como por exemplo as cores dos cartões e os números nas camisas dos jogadores, que foram adaptados para facilitar as transmissões pela televisão.

A transmissão dos jogos ao vivo pela TV passou a permitir acompanhar as partidas no conforto de casa ou em bares com amigos. Isso proporcionou uma experiência visual mais imersiva, onde os torcedores podiam ver os jogadores em ação, os lances polêmicos e os gols em tempo real. A televisão também trouxe análises pós-jogo, programas esportivos e destaques em videotape, ampliando o alcance do futebol e criando uma cultura de discussão e debate entre os fãs. “A televisão interfere no modo de torcer, porque mostra a realidade dos jogos de maneira instantânea e assim tira um pouco da magia de ver futebol nos estádios”, opina o aposentado Carlos Alberto.

Com a popularização da internet e dos dispositivos móveis, o acesso à informação e ao futebol tornou-se ainda mais imediato e global. Os fãs passaram a acompanhar as partidas por meio de

sites esportivos, aplicativos e redes sociais. Além de assistir aos jogos ao vivo via streaming, os torcedores também podem acessar estatísticas em tempo real, análises táticas e interagir com outros fãs ao redor do mundo falando sobre o jogo. A internet trouxe uma maior globalização do futebol, permitindo que as pessoas acompanhem ligas e equipes de diferentes países, expandindo assim seus horizontes futebolísticos. “Acho que esta evolução veio facilitar o acesso de mais pessoas aos assuntos sobre futebol e o consequente aumento de torcedores ou simpatizantes de times a nível mundial”, relata o contador Sérgio Vieira, torcedor do Internacional, a respeito da evolução de consumir futebol desde o rádio até a TV e redes sociais.

Vivência no estádio

A tecnologia continua a avançar e a experiência de acompanhar o futebol também evolui dia após dia. A realidade virtual está emergindo como uma nova forma de vivenciar os jogos. Na Copa de 2022, no Catar, um aplicativo de celular com geolocalização permitia a torcedores que estavam nos estádios escanear jogadores em campo e ver, na tela, informações sobre cada atleta, além de conferir

placar, mapa de calor e outros dados, conforme noticiado pelo portal UOL. Essas mudanças refletem não apenas os avanços tecnológicos, mas também a necessidade humana de se conectar e se envolver com algo tão apaixonante como o esporte. Através da mídia, o futebol transcende fronteiras, culturas e línguas, unindo torcedores de diferentes partes do mundo em torno de uma paixão comum. Mas o estádio ainda é o palco principal. Carlos relata que seu filho, Carlos Alberto Filho, nascido em setembro de 1983, já na Copa de 1986 demonstrava interesse pelo esporte, e assim ele

Facilita o acesso de mais pessoas e o aumento de torcedores a nível mundial”

começou a levá-lo a jogos do Grêmio no estádio Olímpico ainda criança. Ao longo dos anos, pai e filho curtiram grandes momentos juntos com o Grêmio.

Isso mostra que certos elementos fundamentais do futebol permanecem os mesmos. A emoção de ver um gol, a tensão durante uma disputa de pênaltis e a alegria de celebrar uma vitória com outros torcedores são experiências que transcendem qualquer meio de comunicação. Sérgio, por exemplo, não considera a possibilidade de imaginar não só o futebol, mas os esportes em geral sem o rádio. Para ele, além da facilidade de ouvir em qualquer lugar, essa mídia continuará a ser o maior meio de comunicação para os torcedores. Mesmo com inovações, proporcionando experiências ainda mais imersivas e interativas, o amor e a paixão pelo futebol permaneceram inabaláveis ao longo da história, e devem continuar. “Fazer futurologia sempre é ruim, mas há tendências, como mais youtubers nas transmissões”, analisa Telles. “As formas tradicionais de ser fã, como ir aos jogos ou assistir pela TV ainda são importantes, mas os jovens estão encontrando maneiras diferentes de interagir com o esporte”, conclui o pesquisador.

LUPA | Julho de 2023 18 | TORCIDA |
ARQUIVO PESSOAL
Carlos Alberto Filho acompanha os jogos na Arena ao lado do pai, Carlos Alberto, sempre com fone de ouvido ligado na transmissão, pelo celular

Grupos criados para torcer convivem com casos de violência

Associadas a brigas em estádios nos últimos anos, torcidas organizadas marcaram história com cânticos, cartazes e lutas políticas em outros tempos

Historicamente, torcidas organizadas são grupos de pessoas que se reúnem para torcer pelo mesmo time.

Hoje, são estruturadas hierarquicamente, com presidente, vice e diretores, comercializam produtos para bancar viagens ou cobram mensalidades de associados e, principalmente, recebem auxílio dos clubes, na forma de ingressos e outras vantagens. Mas cenas recentes de violência nos estádios ofuscam o brilho de outras épocas quando se fala nesse assunto.

No Brasil, existe uma discussão acerca de qual foi a pioneira. No prefácio do livro La Doce, de Gustavo Gabia, o jornalista Mauro Cezar Pereira afirma que o movimento surgiu com a TUSP - Torcida Uniformizada do São Paulo , fundada em 1939, por Manoel Raymundo Paes de Almeida. Já o canal de notícias CNN, em reportagem de abril de 2023, marca o começo de tudo com a Charanga do Flamengo, fundada em 1942, por Jaime de Carvalho.

Ao se tratar do Rio Grande do Sul, uma figura marcante apareceu em 1940. Segundo o jornalista Cláudio Brito, em entrevista ao canal do YouTube Vozes do Gigante, Vicente Rao foi o criador do Departamento de Cooperação e Propaganda no Internacional. Ele foi responsável por introduzir bandeiras, charangas, serpentinas, buzinas e foguetes nas arquibancadas do Estádio Eucaliptos, antiga casa do Internacional de Porto Alegre, sendo considerada a primeira torcida organizada do estado.

Vicente Rao ainda participou da fundação da Camisa 12, em 1969, a mais antiga ainda em atividade no Sul do Brasil. Em sua homenagem, colorados decidiram criar os Discípulos de Rao. Anderson Valença, um dos fundadores, conta que eles não se consideram uma torcida organizada, e sim um coletivo de colorados, que tem como intuito deixar a memória de Rao viva e distribuir alimentos a pessoas em situação de vulnerabilidade.

Em dezembro de 2016, quando o Grêmio criou uma campanha chamada Comunidade Tri para distribuir tintas nas cores azul, preta e branca aos moradores da Vila Farrapos, no entorno da Arena, para pintar suas casas com as cores do clube, os Discípulos de Rao se uniram: “Nos revoltamos com a cam-

panha e decidimos criar um grupo de moradores colorados para realizar ações sociais, para efetivamente ajudar as pessoas carentes do bairro”, relata.

Espaço de expressão

Ao falar do Grêmio, não se pode deixar de citar a Coligay, fundada em 10 de abril de 1977, por Volmar Santos, primeira torcida organizada exclusivamente gay no Brasil. “A Coligay era uma torcida muito diferenciada, foi pioneira em implementar o apoio incondicional, fora todo o simbolismo de ser uma torcida homossexual em plena época de ditadura militar e que lutou contra o preconceito”, analisa o jornalista Léo Gerchmann, autor do livro Co-

ligay, tricolor e de todas as cores.

Em 2014, surgiu outra torcida gremista que luta contra o preconceito, a Tribuna 77. “Naquele ano (1977) o Grêmio quebrou uma hegemonia do Internacional no Campeonato Gaúcho, também foi o ano de fundação da Coligay, e diversas ações progressistas ocorreram através da gestão do antigo Presidente Hélio Dourado”, conta Roger Canal, um dos fundadores. A torcida se formou no Estádio Olímpico, com um grupo de amigos que hoje se reúne na Superior Norte da Arena do Grêmio. “É uma torcida antifascista e tem como objetivo lutar pela redemocratização dos espaços de futebol e o combate a todos os tipos

Na época de 80, 90 não existia a violência de hoje”

Sérgio Trein, ex-integrante de torcida organizada

de preconceito”, define Canal.

A Geral do Grêmio, a mais conhecida organizada do Tricolor, surgiu em 2001, inaugurando o estilo “Barra Brava” no Brasil. Inspirado nos torcedores da Argentina e Uruguai, tem o mesmo intuito histórico de suas antecessoras: apoiar o time. Porém, a violência tem sido um fator marcante, levando a diversas interdições do setor no estádio gremista ou perda de mando de campo para o time.

Tensão nos estádios

Até 1990, a violência nos estádios era notícia vinda da Europa, onde os hooligans protagonizavam cenas sangrentas, como a morte de 39 pessoas durante uma partida entre Liverpool e Juventus, em 1985. Segundo Francisco Valle, jornalista do portal de notícias R7, a primeira e mais marcante briga generalizada entre torcidas no Brasil foi em 20 de agosto de 1995, entre Mancha Verde, do Palmeiras, e Independente Tricolor, do São Paulo.

Os times jogavam pela final da Copa São Paulo de futebol Júnior, no estádio Pacaembu, que estava em reformas. Após o apito final, as torcidas protagonizaram uma verdadeira batalha campal, que deixou 102 feridos e causou a morte de um torcedor.

“Hoje em dia não podemos imaginar torcidas organizadas de clubes rivais se reunindo em um jantar para trocar informações, ou nos jogos emprestando cordas para amarrar as bandeiras no estádio. Na época de 80, 90 era assim, não existia a violência de atualmente, a gozação sempre existiu, mas a gente se respeitava”, conta Sérgio Trein, que participou da Torcida Inter Grande do Sul.

A rivalidade entre torcidas de clubes adversários e até mesmo de um mesmo time se acirrou nos últimos anos. Segundo uma pesquisa coordenada por Mauricio Murad, doutor em sociologia do esporte, entre 2009 e 2019, ao menos 157 mortes foram registradas envolvendo brigas de torcidas. O desafio é combater esses atos para que bandeiras, bandas e buzinas toquem mais alto, como foi em épocas passadas.

LUPA | Julho de 2023 | ARQUIBANCADA | 19
RICARDO DUARTE SC INTERNACIONAL LUCAS UEBEL / GRÊMIO FBPA

JOGOS DIGITAIS |

Por dentro do mundo dos esportes eletrônicos, times e jogadores superam críticas e encontram um futuro promissor para o segmento

Rotina rigorosa, horário definido para acordar, treinos intensivos de 10 a 12 horas por dia e acompanhamento psicológico e fisioterapêutico. Não estamos nos referindo a um jogador de futebol, mas a um atleta de esportes eletrônicos. Apesar do crescimento dos times profissionais, ainda existem muitas críticas direcionadas aos games on-line e suas competições, os e-sports. Até a ministra do Esporte, Ana Moser, disse em entrevista ao UOL no início do ano que essa é uma indústria de entretenimento.

Para Guilherme “Yankz” Moura, jogador profissional de Valorant do time Stellae Gaming, essas críticas não são novas. O gaúcho de 20 anos que está morando em São Paulo relata que os jogadores profissionais não simplesmente ligam o computador e jogam. “Para quem assiste, tudo pode ser entretenimento, inclusive o futebol. Mas para aqueles que veem isso como uma profissão, é algo sério”, afirma.

Os pro players, como são chamados os atletas de games, precisam abrir mão de muitas coisas. Yankz faz um paralelo entre os esportes eletrônicos e o futebol na questão de conciliar a vida pessoal com a profissional.

Cenário competitivo

Assim como há os campos de futebol e as piscinas esportivas, existem também locais especializados em receber competições de jogos eletrônicos que têm um papel fundamental para que os jogadores tenham acesso a mais oportunidades de carreira. Essas arenas contam com estrutura totalmente dedicada às competições, com computadores de última geração, para que seja possível rodar diversos jogos diferentes de maneira fácil.

Fernando Murad, head de e-sports na MP3 Arena, a maior arena do segmento no Rio Grande do Sul, conta que esses locais são um grande ponto de concentração para jogadores serem reconhecidos. “O Rio Grande do Sul ainda não é um polo de e-sports como Rio de Janeiro ou São Paulo, mas possui muito potencial”, consideraconsedera. “Nosso estado já revelou pro players para o mundo, com a estrutura e apoio de patrocinadores nas arenas gamers será visível o aumento no consumo de jogos, de profissionais do segmento e até revelação de novos talentos”, ressalta.

Quando descobertos por times profissionais, os players assinam contratos e começam a representar uma organização em campeonatos competitivos. “Os jogadores passam a ser atletas de forma literal, fecham contra-

é esporte E-sport

tos que garantem salário e benefícios. Contratos de maior prestígio costumam ter multas rescisórias altíssimas, caso os pro players sejam comprados por outras organizações”, explica.

As organizações também investem em instalações próprias, como gaming houses ou gaming offices, para atender a todas as necessidades dos atletas, desde o descanso até a preparação para os campeonatos. Esses espaços funcionam como centros de treinamento, onde os jogadores e a equipe se reúnem para testar e discutir estratégias.

De acordo com Anderson Zaniratti, proprietário do time Izanagi eSports, de League of Legends, a seleção dos jogadores não é um processo simples. Envolve avaliações de desempenho e das habilidades psicológicas e comunicativas em equipe. “Os e-sports são divididos por semestre, os chamados splits, no final de cada, nós abrimos tryouts, que são jogos entre os candidatos às vagas no time, divulgadas nas nossas redes sociais”, diz Zaniratti. Segundo ele, os jogadores são avaliados por um psicólogo e um coach que analisam o desempenho mental e comunicativo individualmente e em equipe. “Além disso, existem line-ups de diferentes níveis de experiência, como a Academy, para jogadores iniciantes, e a oficial, para os mais experientes no jogo”, completa.

Perspectiva de carreira

As arenas de jogos eletrônicos desempenham a função de colocar os jogadores em evidência para oportunidades profissionais

Para conseguir essas oportunidades é preciso persistência. Yankz conta que para se manter em evidência, diversos players talentosos jogam de forma voluntária para um dia serem notados e fecharem contratos. “Não temos o privilégio como nos esportes convencionais que geralmente oferecem mais estabilidade para quem treina desde novo”, observa. “No caso do Valorant, existem, atualmente, apenas nove times no Brasil que possuem uma game house, ou seja, tem muitos pro players que estão aí, treinando o mesmo tempo que eu, se abdicando das mesmas coisas que eu, mas não recebendo nada em troca”, destaca o atleta. Para Yankz, o cenário já evoluiu muito. “O número de patrocinadores a times de e-sports e de público interessado só aumenta”, observa. O ex-jogador de futebol Ronaldo Fenômeno, por exemplo, foi um dos primeiros grandes nomes a investir nos esportes eletrônicos com seu apoio a CNB, equipe de LoL, em 2017.

Guilherme “Yankz”

Moura, jogador de Valorant

Ainda sobre as críticas, o jogador destaca que é essencial cuidar do psicológico para desempenhar um bom papel tanto dentro quanto fora do jogo. “O acompanhamento psicológico é fundamental, como em qualquer esporte, pois precisamos de lógica e tranquilidade para executarmos nossas estratégias. Equilibrar a mente é o segredo para alcançar a vitória em todas as telas da vida”, finaliza.

LUPA | Julho de 2023 20 |
Para quem assiste, tudo pode ser entretenimento, inclusive o futebol”
EDUARDA CIDADE STELLAE VICTOR

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Grupos criados para torcer convivem com casos de violência

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