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4. Educação

ENFOQUE OCUPAÇÃO JUSTO | SÃO LEOPOLDO (RS) | OUTUBRO / NOVEMBRO DE 2019

A falta que faz uma creche Inexistência de locais especializados para cuidar de crianças segue dificultando a vida das famílias

C

om cerca de 2500 famílias, a Justo carece de creches para o cuidado de crianças. Isso dificulta a vida das mães, especialmente na retomada do trabalho. Há casos de abandono do emprego para dedicar o tempo aos filhos. “Eu trabalhei na creche Sonho de Criança, no bairro Feitoria, por um ano e dez meses. Quando soube da gravidez da Manoela, tive que sair”, relata Rosemere da Silva, 42 anos, dona de casa. A moradora conta que, além da filha Manoela, de três anos, ela tem um filho chamado Samuel, 16 anos, com retardo mental moderado. A falta de um ambiente especializado na Justo faz com que ele frequente uma escola especializada em necessidades especiais fora da Ocupação, em São Leopoldo. “Devido à deficiência, ele não sabe pegar o ônibus, então comprei uma bicicleta para que

Josiane deixa o filho caçula com a avó enquanto trabalha consiga ir até a escola”, ex p l i c a Ro s e m e r e . Situações mais comuns, como a avó assumir o cuidado dos netos também são presenciadas. “A minha mãe gosta de cuidar, enquanto eu trabalho, ela fica com eles, mas faz falta uma creche para o desenvolvimento deles”, conta Josiane Borges, 31 anos, enfermeira. Mãe de dois filhos, Estefane, sete anos, e Gustavo, um ano, ela relembra

que a filha mais velha, após ser cuidada pela avó até os três anos, frequentou a creche Estação da Criança, em São Leopoldo. A instituição de ensino tem convênio com a Prefeitura de São Leopoldo, o que facilitou o transporte diário fornecido pelo município. Estefane ficou até os seis anos, quando atingiu a idade para iniciar o ensino fundamental. Já com o Gustavo, cuidado agora pela

Cuidadora há 3 anos, Tânia toma conta de cinco crianças avó Eliane Borges, Josiane se afastou por cinco meses do trabalho e depois retornou as atividades na enfermaria do Lar dos Anjos, em Novo Hamburgo, e na Cooperativa Mundo Mais Limpo, em São Leopoldo. Uma opção para minimizar a ausência das creches é a cuidadora Tânia Regina, 40 anos, que emprega o seu tempo há mais de três anos cuidando de crianças. Atualmente ela cuida de

cinco pequenos. O recebimento de todos inicia às 7h da manhã, de segunda a sexta-feira. “Quando eu morava em Ijuí, cuidava d o s m e u s i r m ã o s . Ve i o dessa época o desejo de agora atuar como cuidadora”, recorda Tânia. É com esse trabalho que ela vive mensalmente, sem depender de outras tarefas. GUSTAVO MACHADO JÚLIA MÖLLER

As leituras de Tamily e seus sonhos Tamily Ferreira, de dez anos, recebe de seus pais, Rogerio e Priscila Ferreira, o incentivo de ler cada vez mais. Residentes desde 2014 na Ocupação Justo, a família acredita que a leitura, além de melhorar a escrita, ampliar o vocabulário e auxiliar muito na comunicação, é a melhor forma de se adquirir conhecimento. Muito necessário à Tamily, que quer ser médica, advogada e veterinária. Ela está cursando o 3º ano do Ensino Fundamental. Foi reprovada no ano passado pois, segundo a própria, é muito “aérea”. A pequena explica que até na escola se tem um tempo dedicado a leitura. “A ‘sora’ dá uma hora para todos lermos. Independentemente de o que estivermos fazendo, temos que parar. Depois do recreio, meus colegas e eu nos reunimos

e um de nós conta uma história”, comentou. A mãe, Priscila, de 24 anos, trabalha como atendente em uma lanchonete. Lembra que quando tinha a idade da filha não era muito ligada à leitura. “Eu não era muito fã e meus pais não me incentivavam como nós incentivamos a Tamily. Me lembro até hoje, eu tive uma professora que nos dizia que a leitura nos faria pessoas muito melhores, mas eu achava muito chato”, lembra a mãe, aos risos. O pai e chefe de obras, Rogério, 34 anos, completa dizendo que a leitura faz expandir a mente. “Tem uma frase do Mário Quintana que diz: Livros não mudam o mundo, quem muda são as pessoas, livros só mudam pessoas”, afirmou o pai. Apesar de incentivar a filha a buscar cada vez mais conhecimento para alcançar

Rogério e Priscila sabem que os livros serão a principal fonte de conhecimento para a filha, Tamily seus objetivos, admite não ser um leitor assíduo. Priscila comenta que é muito comum vermos até crianças ainda de colo usando celulares, seja para olhar vídeos ou para jogar, mas Tamily não é assim. “O máximo que a gente deixa é ela olhar desenho e muito

de vez em quando, não é todo dia que emprestamos o celular para ela”. Apesar de ler muitas enciclopédias e livros da escola, Tamily diz gostar mesmo é de ler os gibis da Turma da Mônica, obra de Mauricio de Sousa. Apesar de gostar de todos, a perso-

nagem favorita da pequena é a Magali. Ela não gosta muito do Cascão e do Cebolinha. “O Cascão e o Cebolinha só incomodam a Mônica, gosto da Magali porque sou comilona igual ela, só que eu prefiro doces”, comentou sorridente. Dos livros que foram lidos recentemente, o que Tamily mais gostou foi “Por que quem espera sempre alcança?”, da autora Renata Julianelli. A obra aborda o tema da paciência ao mostrar que ter calma e saber esperar são hábitos saudáveis para lidar com a correria do dia a dia e ter uma convivência agradável com as pessoas. “Ela é bastante divertida, me ensinou a ter calma e não querer as coisas todas na pressa”, finalizou a pequena leitora. MATHEUS N. VARGAS VITOR WESTHAUSER FERREIRA


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