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FOTOS Agência LUZ/ABr/AGÊNCIA BRASIL

um presente do céu mesmo.” As lembranças da irmã mais velha fazem parte do dia a dia dos pequenos. Nos corredores da casa da família Scot, em São Leopoldo, há quadros com os delicados traços das pinturas de Thais, que era apaixonada pela arte, área em que pretendia seguir carreira, pois queria cursar a faculdade de Design de Moda. “Na medida do possível, vamos contando sobre a Thais para os bebês. Eles já sabem que as pinturas foi ela quem fez”, destaca a mãe. Uma das atividades favoritas de Tomas é pegar um banco e sentar em frente a um porta-retrato digital, que fica na sala de estar – local onde era o antigo quarto de Thais – para observar diversas fotos que passam em sequência. No pequeno quadro, tem retratos dos baixinhos, do casal Dario e Ana e de toda a família reunida. Há, ainda, imagens que mostram momentos inesquecíveis da filha mais velha. Os cabelos escuros e lisos, os olhos expressivos e o sorriso meigo de Thais ficam eternizados. Hoje, as artes e as fotos são os únicos

objetos da casa que remetem ao passado. Um das primeiras decisões após a tragédia foi fazer uma modificação na residência para não mudar para outro endereço. As roupas e muitos pertences da adolescente foram doados para entidades carentes. “Ela era uma pessoa muito sensível e preocupada em ajudar o próximo, por isso achamos bacana fazer doações”, diz Dario.

A nova etapa

Cuidar dos pequenos Anna e Tomas não é uma tarefa tão fácil. São dois banhos, duas fraldas ao mesmo tempo, duas papinhas para preparar e duas mudas de roupas para pegar ao mesmo tempo. É tudo em dobro. Hoje, a rotina de Dario, que tem 49 anos e trabalha na unidade de ensino à distância da Unisinos, e Ana, 53, que faz parte do PPG de História da universidade, é um desafio. Enquanto os pais estão no trabalho, os gêmeos ficam em uma escola de educação infantil, dentro da própria Unisinos. A correria e os obstáculos, que são enfrentados todos os dias, valem a pena

A tragédia Os dois últimos anos de vida da Thais foram aproveitados com intensidade. Essa época causa nostalgia em Ana e Dario. Após já terem morado em Portugual e em São Paulo, o casal e a filha se mudaram para Porto Alegre com o objetivo de ficarem mais próximo uns dos outros, pois o dia a dia na cidade paulista era corrido. No Rio Grande do Sul, o tempo para ficar em casa se tornou maior. Em julho de 2007, Thais resolveu convidar a amiga Rebeca para passar as férias escolares na casa de seus avós, em São Paulo. Foi então que as duas embarcaram no voo JJ3054 da TAM sem saber que fariam parte da maior tragédia aérea do país. O Airbus que saiu da capital gaúcha não conseguiu parar na pista do Aeroporto de Congonhas e se chocou contra um depósito de cargas da própria empresa, às 18h50min do dia 7 de julho. Ao todo, 187 passageiros e 12 pessoas que estavam no solo morreram. Hoje, no local da tragédia há um muro azul com o desenho de 199 estrelas e os nomes das vítimas gravados em cima delas.

A esperança formou a Afavitam

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Muitas pessoas ficaram sem rumo após a fatalidade, que teve um conjunto de erros e coincidiu com o caos aéreo que se encontrava em um período grave no Brasil em 2007. Com o intuito de encontrar forças com a união e, ainda, evitar que mais pessoas percam entes queridos em tragédias de avião, os familiares formaram a Associação de Familiares e Amigos das Vítimas do Acidente da TAM (Afavitam), da qual Dario se tornou presidente. Cinco anos depois da tragédia, os integrantes ainda se reúnem. Entre as missões da entidade, está lutar pela defesa de todos que sofreram com a morte de pessoas próximas; representar e auxiliar os associados a obter informações pertinentes ao evento e sensibilizar a população e autoridades para que o Brasil tenha mais segurança, transparência e responsabilidade no setor aéreo, contribuindo para evitar outros acidentes.


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