Revista Interagir Nº 106

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ISSN 1809-5771

Centro Universitário Christus - Ano XV – abr/mai/jun 2019 Nº 106

Libras & Saúde:

minimizando as barreiras da comunicação


especial

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3 Articulação ensino e serviço para a formação de profissionais de saúde em libras história de sucesso

5 Em busca de oportunidade de crescimento destaque

6 O Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT) como catalisador da inovação na Unichristus unichristus

8 II Semana da Nutrição Unichristus - "NutriUnichristus" 12 Laboratório Escola de Análises Clínicas: um diferencial no aprendizado dos alunos do Curso 14 15 17 18 20 23 25 29

de Biomedicina da Unichristus Beer lovers - Tour cervejeiro na Cervejaria Ambev Visitando e lendo o Museu da Fotografia: uma inserção... em pela perspectiva de imagens fotográficas Curso de Ciências Contábeis premeia o melhor Trabalho de Conclusão de Curso Júri simulado dos calouros de Direito enfrenta case literário de Machado de Assis Mercado de Ações: riscos, mitos e verdades Nas tendências de vanguarda, o Curso de Direito traz especialistas em metodologias ativas para capacitação docente de alto nível "Na cidade, faço tudo de bicicleta" e "Gostaria de levar a cordialidade brasileira para casa" Experiências de dois estudantes de intercâmbio que passaram um tempo na Unichristus Aula Magna do Curso de Direito: "desacordos morais razoáveis"

artigos

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Propriedades terapêuticas do uso regular do kefir na promoção e manutenção da saúde A discussão em torno da obrigatoriedade do voto no Brasil a partir de uma perspectiva multidisciplinar: um relato de experiência Drogas e mapas afetivos: espaço de ressignificação Procurar, Encontrar e Partilhar Percepção dos estudantes de Farmácia sobre as práticas integrativas e complementares ao longo do curso Letramento(s) Como ser um bom professor e a superação do definhamento intelectual na universidade: um breve comentário sobre as técnicas de Feynman e Aristóteles para a aquisição e disseminação do conhecimento

18 Ano XV – abr/mai/jun 2019 Nº 106 ISSN 1809-5771 Distribuição gratuita e dirigida Reitor: José Lima de Carvalho Rocha Núcleo de Comunicação e Marketing do Centro Universitário Christus/Unichristus: Av. Dom Luís, 911 – Fortaleza-CE CEP 60.160-230 – Tel.: (85) 3457-5300 E-mail: revistainteragir01@unichristus.edu.br Editor: Estevão Lima de Carvalho Rocha Coordenação Editorial: Nicole de Albuquerque Vasconcelos Soares Conselho Editorial: Estevão Lima de Carvalho Rocha, Rogério Frota Leitão, Fayga Bedê, Nicole de Albuquerque Vasconcelos Soares, Francisco Sérgio Souza de Araujo Revisão: Ellen Lacerda Carvalho Bezerra, Francisco Sérgio Souza de Araujo, Heitor Nogueira da Silva, Maria Gleiciane Araújo Coelho, Maria Tatiana Silva de Sousa, Silvana Rodrigues de Oliveira, Helena Cláudia Barbosa, Idália Cavalcanti Parente. Diagramação: Juscelino Guilherme Coordenação de Design: Jon Barros Impressão: Gráfica LCR – Tel.: (85) 3105.7900 Fax: (85) 3272.6069 Tiragem: 2.500 exemplares Revista de valorização e promoção da produção científica e cultural do Centro Universitário Christus/Unichristus. Os conceitos emitidos em artigos assinados são de exclusiva responsabilidade dos autores.


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especial

Articulação ensino e serviço para a formação de profissionais de saúde em libras Introdução

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Língua Brasileira de Sinais (Libras) é reconhecida como meio legal de comunicação e expressão, por meio da Lei 10.436/02, e regulamentada pelo Decreto 5.626, de 22 de dezembro de 2005, que trata do direito à educação bilíngue e à garantia do direito à saúde das pessoas surdas ou com deficiência (BRASIL, 2005). A língua, a linguagem e a comunicação são responsáveis pelas interações sociais e pelo desenvolvimento das relações interpessoais. As políticas públicas em saúde voltadas para esse público e os equipamentos sociais são poucos acessíveis para atender às demandas de pessoas com deficiência (RAMOS, 2017), em especial, as pessoas surdas. Na saúde, a maneira principal de criar vínculo é a comunicação entre o profissional e o

usuário/familiares. Para que essa comunicação ocorra de forma satisfatória, atendendo às necessidades do paciente, é necessário adotar estratégias para facilitar a comunicação, minimizando as barreiras (CHICON et al. 2013). Vale ressaltar que a pessoa surda deve ter acesso aos serviços de saúde de forma integral para o mesmo se torne de fato universal para todas as populações e comunidades, inclusive as minoritárias. Hoje em dia, o surdo não recebe atendimento hospitalar ou de saúde primária de maneira adequada e satisfatória, com grandes índices de frustrações e falta de resolutividade (SOUZA et al., 2017). Diante dessa situação, da experiência e da necessidade demandada pelo Hospital de referência em pediatria em nível terciário do estado do Ceará ao Centro Universitário Christus (Unichristus), durante as vivências práti-

ŹFigura 1: Abertura do Curso de Libras no Hospital Infantil Albert Sabin, Fortaleza, Ceará, 2018.

Rebeca Farias Jordão Egressa do Curso de Enfermagem Unichristus

Maria Maísa Farias Jordão Docente do Curso de Enfermagem Unichristus

Maria Rosivy de Oliveira Enfermeira da Educação Permanente do Hospital Infantil Albert Sabin

Deborah Pedrosa Moreira Docente do Curso de Enfermagem Unichristus

Eugênio Santana Franco PhD em Enfermagem

cas dos alunos no semestre, esse pleito foi apresentado para análise mediante a articulação entre ensino e serviço existente. Essa solicitação ampliou os espaços de diálogo, visto que gerou envolvimento dos profissionais com o olhar na formação diferenciada e de qualidade. Portanto, esse relato traz como objetivo a experiência do Curso de Libras para a equipe multiprofissional do hospital pediátrico de referência do estado do Ceará, localizado no munícipio de Fortaleza – CE. A Coordenação de Enfermagem da Unichristus articulou uma parceria com o Hospital Infantil Albert Sabin – HIAS – para promover o Curso Libras para profissionais de saúde com o objetivo de qualificar 40 profissionais do serviço, com carga horária de 40h, realizado no período de setembro a novembro de 2018. O curso foi conduzido por professores da instituição de ensino que lecionam sobre o tema e articulado com as necessidades


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oriundas da coordenação de Educação Permanente do hospital. Participaram desse curso profissionais e residentes do HIAS: enfermeiro, técnico de enfermagem, psicólogo, nutricionista, terapeuta ocupacional, fisioterapeuta, cirurgião-dentista, assistente social, recepcionista, auxiliar administrativo e técnico em informática, que representaram os setores de nutrição, banco de leite, estomaterapia, farmácia, almoxarifado, epidemiologia, serviço social, centro de imagem, residência, coordenação de enfermagem, educação permanente, terapia ocupacional, blocos hospitalares, emergência, serviço geral, ouvidoria, psicologia e ambulatório. O Curso de Libras foi um importante instrumento de mudança na realidade social que o surdo está inserido atualmente. A acessibilidade nos espaços de saúde deve ser amplamente discutida em todas as suas variáveis, e esse curso de extensão estimulou todos os profissionais que lidam diariamente com pacientes a contribuir para o desenvolvimento de uma sociedade mais justa e inclusiva, demonstrando respeito pelo cidadão surdo enquanto usuário do serviço de saúde. Os alunos foram participativos, e houve interação efetiva nas atividades práticas, como na aula de literatura surda em que foram divididos em dois grupos e cada um apresentou uma narrativa infantil em Libras. Eles escolheram uma história já existente e adaptaram com características próprias da cultura surda. Outro momento foi na aula de corpo humano, saúde e coletividade,

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ŹFigura 2: Peça em Libras sobre uma história infantil, Fortaleza, Ceará, 2018.

na qual os alunos simularam um atendimento ao paciente surdo e seus familiares. Como trabalho final de curso, confeccionaram um vídeo com o uso da língua de sinais, de forma individual, respondendo à seguinte pergunta: “Qual a importância da Língua de Sinais para a sua profissão? ”. A análise dos vídeos demonstrou que, depois das atividades, os profissionais tiveram uma visão diferenciada, pois agora sabem da importância da língua e da necessidade em estudar sobre o tema, e, nesse contexto, irão conseguir prestar uma assistência de qualidade, inserindo o surdo e sua família dentro do fluxo hospitalar. Esse diagnóstico apresenta uma perspectiva de trabalho e de desenvolvimento profissional que se apresenta como desafiador nas evidências de Souza et al. (2017) em que o principal obstáculo enfrentado pela comunidade surda no acesso à saúde está relacionado à barreira linguística, em decorrência de diversos impedimentos, como falta de treinamento dos profissionais de saúde, dificuldades financeiras para contratar intérpretes e ausência de adaptações para pacientes surdos.

ŹFigura 3: Peça em Libras sobre uma história infantil, Fortaleza, Ceará, 2018.

Dessa forma, o curso possibilitou inclusão na comunicação entre profissionais, pacientes e familiares e ofertou aos profissionais de saúde o conhecimento e a vivência sobre a língua e suas particularidades, para que o surdo seja reconhecido enquanto sujeito, com sua cultura própria, contribuindo para uma maior interação em situações assistenciais, garantindo, assim, a integralidade do cuidado.

Referências BRASIL. Decreto n. 5.626 - Regulamenta a Lei no 10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras, e o art. 18 da Lei no 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Brasília, 2005. CHICON, José Francisco; SOARES, Jane Alves. Compreendendo os Conceitos de Integração e Inclusão. Cadernos de pesquisa em educação PPGE, Espírito Santo, v. 2, n. 0, p. 11-36, 2013. RAMOS, Tâmara Silva; ALMEIDA, Maria Antonieta Pereira Tigre. A importância do ensino de LIBRAS: relevância para os profissionais de saúde. Id on line Rev. Psic., v. 10, n. 33, 2017. SOUZA, Maria Fernanda Neves Silveira de et al . Principais dificuldades e obstáculos enfrentados pela comunidade surda no acesso à saúde: uma revisão integrativa de literatura. Rev. CEFAC, São Paulo , v. 19, n. 3, p. 395-405, jun. 2017.


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história de sucesso

Em busca de oportunidade de crescimento

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esde muito cedo, nasceu em mim uma paixão pela área da saúde, mas, por vários momentos, a possibilidade de engajar-me nesse meio não passava de um sonho distante, que eu seguia acreditando, pois, para Deus, tudo era possível, e, um dia, eu o tornaria realidade. Não demorou muito, pois, em 2011, tive a honra de trabalhar nesta renomada instituição de ensino, o Centro Universitário Christus, sede Parque Ecológico, oportunidade profissional que foi um divisor de águas em minha vida. Logo, despertou em mim uma paixão pelo Curso Superior das Técnicas Radiológicas, a Radiologia. Então, iniciei uma nova fase da minha vida ao adentrar o mundo acadêmico. Tudo foi acontecendo e fluindo de forma serena. Desde o início, soube que não seria fácil, como realmente não foi, pois trabalhar, ser esposa, ser mãe de dois filhos pequenos e gerenciar uma casa não é tarefa fácil. Foram quatro anos repletos de muita dedicação e desafios enfrentados em prol de um futuro promissor, bem como de aprendizagens e muita superação.

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e-mail: <betelima30@hotmail.com>.

A cada novo semestre, cursado com muita dificuldade e cansaço extremo, o que me encantava e revigorava minhas forças era a arte de ensinar dos professores, isso me motivava a continuar acreditando sempre em minha capacidade de aprender. Conclui o Curso de Radiologia em 2016 e fui convidada a participar do Enade, pois possuía um índice de rendimento acadêmico considerável, o que me proporcionou bastante alegria e um forte sentimento de realização. Além disso, fui aprovada na seleção de Pós-Graduação em Saúde Pública pela UECE, e as aulas se iniciaram em maio de 2017. Diante de tamanha jornada, compreendi que “Não é sobre chegar no topo do mundo e saber que venceu, é sobre escalar e sentir que o caminho te fortaleceu...” (VILELA, 2016). Hoje mais forte, capacitada e otimista para o futuro, busco sempre oportunidade de crescimento no mercado de trabalho, meu foco agora é cursar um mestrado e ingressar na área acadêmica.

ŹElizabete Lima de Almeida1 (Graduada em Radiologia pelo Centro Universitário Christus)

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destaque

O Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT) como catalisador da inovação na Unichristus

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riado em 2017 no campus Parque Ecológico, o Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT) da Unichristus vem atuando em diferentes aspectos institucionais, sempre prezando pela garantia da proteção intelectual dos produtos, frutos de pesquisas realizadas por alunos, professores e colaboradores. O NIT é vinculado à Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa e possui autonomia para atender às demandas de cursos de graduação e pós-graduação. Atuam em sua coordenação os professores Régis Barroso Silva e Tomaz Lima de Carvalho Rocha, as-sessorados por uma equipe de docentes de diferentes áreas que constituem o Conselho Superior. O seu objetivo primordial é a implementação da Política de Proteção Intelectual da Unichristus, documento aprovado pela Resolução CONSU Nº. 42/2017, que fornece os parâ-metros, as regras e as diretrizes que devem ser observados com relação à criação e à expres-são da atividade inventiva de suporte tangível ou intangível em seus aspectos científicos, tecnológicos, artísticos e literários. Dentro das diferentes frentes de atuação, destacam-se duas principais: (i) as patentes e os registros de programas de computador e (ii) os eventos de promoção na área da inovação.

ŹGráfico que demonstra a distribuição dos programas de computador registrados pela Unichristus, entre funcionalidades para Web, dispositivos iOS e Android.

Com relação às patentes e aos registros de programas de computador, o NIT vem tra-balhando com maior proximidade no atendimento às demandas dos cursos de mestrado profissional. Entre os números, chama a atenção a quantidade de apli-

cativos já desenvolvidos e registrados junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). No total, são 29 registros entre aplicativos para smartphones nas plataformas iOS e Android, além de fer-ramentas para a Web, todos eles voltados para a área da saúde (treinamento de habilidades e/ou ensino na área médica). No tocante às patentes, todo o processo que envolve a busca de anterioridades, redação da documentação (incluindo desenhos), peticionamento e acompanhamento do pedido é assessorado pelo NIT. Atualmente, a Unichristus trabalha em quatro pedidos de patente; três deles encontram-se em fase de redação, enquanto um deles já foi peticionado no final de 2017.

ŹProfessor Dr. Luiz Moura abrindo a apresentação sobre o aplicativo desenvolvido por aluno do mestrado da Unichristus.


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ŹEquipe de avaliadores reunida com representantes das startups participantes da Rodada Inovação em Saúde na FIEC. A Unichristus foi representada pelo Prof. Régis Barroso Silva.

Já em relação ao aspecto dos eventos de promoção na área da inovação, a Unichris-tus vem participando ativamente de diferentes grupos de discussão, dos quais se destacam o Projeto Masterplan da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC), a Câmara Setorial de Inovação em Saúde da Agência de Desenvolvimento do Ceará (ADECE), a Rede de Núcleos de Inovação Tecnológica do Ceará (Redenit-CE) e o Projeto da Plataforma

Ceará 2050 do Governo do Estado do Ceará. Vale destacar que, entre essas articulações da área de inovação, o NIT partici-pou recentemente da Rodada de Inovação em Saúde promovida pela FIEC com o objetivo de reunir empresários, pesquisadores e startups, ocasião na qual foi apresentado um aplicativo desenvolvido pelo aluno do Mestrado Profissional em Ensino em Saúde (MEPES), Ricardo Sá Barreto, em conjunto

ŹProfessor Henry Suzuki, facilitador da Oficina de Redação de Patentes, ministrada em parceria com diferentes instituições do Ceará, como Unichristus, IFCE, UNIFOR, UNILAB, UECE e UFCA.

com o seu orientador, Prof. Dr. Luiz Moura. Outro evento relevante para a área foi a Oficina Redação de Patentes proferida pelo Prof. Henry Suzuki. Na ocasião, profissionais, pesquisadores, alunos e inventores de diferentes instituições do ecossistema de inovação no Ceará se reuniram com o objetivo de capacitação. Os participantes deram os primeiros passos na redação de patentes, incluindo a realização de buscas, a identificação e a leitura de documentos relacionados, definição do escopo da invenção, decisão sobre formas de proteção, elaboração de quadros reivindicató-rios e relatórios descritivos. O Núcleo de Inovação Tecnológica está aberto às solicitações da comunidade acadêmica da Unichristus para atendimento às demandas relacionadas à Proteção Intelectual e ao apoio aos eventos na área da inovação tecnológica em todas as áreas e os níveis de conhecimento. Os contatos podem ser feitos diretamente pelo e-mail nit01@unichristus.edu. br ou presencialmente, no campus Parque Ecológico, no 3º andar.


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II Semana da Nutrição Unichristus “NutriUnichristus”

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II Semana da Nutrição Unichristus foi realizada no período de 19 a 22 de novembro de 2018, com o propósito de estimular a participação do corpo discente em eventos científicos, facilitando o amadurecimento do senso crítico, questionador e contextualizado com as temáticas mais atuais da Ciência da Nutrição, proporcionando um momento de aprofundamento e discussão entre os alunos, os professores e os palestrantes, com oportunidade

de os discentes participarem de oficinas, minicursos, apresentação de trabalhos científicos em formato pôster, oral e exposição de maquetes de unidades de alimentação em nutrição produzidos por eles próprios. A “NutriUnichristus 2018” trouxe uma proposta integradora e inovadora, abordando temáticas dos mais variados e atuais conhecimentos associados à prática profissional, embasando o público presente com evidências científicas


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e experiência prática dos palestrantes e dos professores envolvidos na programação científica. A cerimônia de abertura aconteceu no Auditório do Térreo, com a composição da mesa diretora, composta pela Coordenadora Geral do Curso de Nutrição, Professora Juliana Magalhães da Cunha Rêgo; pela Coordenadora Adjunta do Curso de Nutrição, Professora Sânia Nara Costa da Rocha; pelo Presidente do Sindicato dos Nutricionistas do Estado do Ceará, Nutricionista Abelardo Barbosa Moreira Lima Neto; pelo Delegado do Conselho Regional dos Nutricionistas, regional do Ceará, Nutricionista Sérgio Fonteles; e pela Professora Doutora Carla Soraya Costa, que ministrou a Palestra de Abertura. Antes da palestra de abertura, houve um momento de descontração, com uma programação cultural surpresa que contou com a participação do humorista Ciro Santos, que abordou casos na nutrição com uma pitada de humor. A programação científica da primeira noite foi composta por três palestras, sendo a conferência de abertura intitulada “Selênio: sua importância na saúde da mulher”, que foi proferida pela Professora Doutora Carla Soraya Costa Maia. A Conferência Magna da noite foi proferida pelo Prof. Valden Capistrano, nutricionista de referência nacional em Nutrição Esportiva Funcional, sobre a “Tríade da Mulher Atleta”, e o encerramento da primeira noite foi com a nutricionista e especialista em atendimento ao público materno infantil, Ticiane Aragão, com a temática “Nutrição e Fertilidade: o papel dos nutrientes e fitoterápicos”, encerrando a primeira noite em que abordou vários aspectos da saúde da mulher. O segundo dia da NutriUnichristus 2018 concentrou palestras na temática de Nutrição Clínica e as Doenças Crônicas, iniciando com a Professora Doutora Richele Janaína de Araújo Machado, nutricionista, mestre e doutora em Bioquímica, ministrando a conferência “Padronização do cuidado nutricional na prática clínica do nutricionista”. Após a explanação, houve um momento de debate entre o público presente. Com a proposta de interação entre alunos e incentivo à cultura, à música e às artes, os alunos Wadson Marques (2º semestre), Luan Freitas (3º semestre) e Victor Barroso (2º semestre) apresentaram-se no “Caça Talentos”, um evento musical, envolvendo todos os presentes, animando-os e emocionando-os com as músicas instrumentais tocadas com sax, percussão e violão.

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Para encerrar o segundo dia de palestras, foi composta a “Mesa-Redonda: Atualidades em Doenças Crônicas”, com a Nutricionista, Mestre em Nutrição e Saúde e Doutora em Biotecnologia, Professora Marília Porto Oliveira Nunes, apresentando a palestra sobre o “Manejo nutricional no paciente oncológico”. Também participaram da mesa o Professor Pós-Doutor em Farmacologia, Gdayllon Cavalcante Meneses, explanando sobre “Obesidade e lesão renal: biomarcadores na prática clínica” e a Professora Mestre em Nutrição e Saú-

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de e Especialista em Diabetes, Alane Nogueira Bezerra, esclarecendo os aspectos atuais da “Terapia nutricional no paciente diabético”. O terceiro dia começou mais cedo, com a realização, durante o período da tarde, do minicurso “Excel para o Nutricionista”, totalmente prático no laboratório de informática, ministrado pela Professora Doutora Richele Machado, com o objetivo de capacitar os alunos nos cálculos dietéticos e nutricionais dos planejamentos dietéticos que auxiliarão na prática profissional. No turno da noite, aconteceu o último dia de palestras, em dois momentos distintos, com uma mesa redonda sobre “Nutrição Comportamental”, com a participação das nutricionistas: Professora Doutora Daianne Cristina Rocha, mestre e doutora em Saúde Coletiva,

palestrando sobre “Nutrição Comportamental no Tratamento da Obesidade”, e Professora Especialista em Transtornos Alimentares, Myrian Fragoso Vieira, sobre o “Impacto das mídias sociais na insatisfação corporal e comer transtornado”. O público presente contribuiu para um debate bastante participativo, entre as palestrantes e a coordenação. Após um breve intervalo, a segunda mesa-redonda da noite, com a temática “Alimentos Seguros”, foi composta com a Professora Doutora Milena Bomfim, abordando a “Segurança Alimentar na prática”, e o Professor Especialista Adoniran Lopes Filho, com a palestra “Efeitos da Radiação em Alimentos”. O último dia de NutriUnichristus 2018 foi encerrado com a oficina “Uma pitada de sabor: abordagem teórico-prática sobre a utilização de especiarias e ervas aromáticas”, realizada no Núcleo de Práticas Gastronômicas (NPG), sob o


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comando da Professora Richele Machado, com a proposta de os alunos conhecerem os diversos tipos de especiarias e ervas aromáticas com alegação à saúde e às propriedades funcionais, os fatores que interferem e potencializam a disponibilidade dos compostos bioativos presentes, bem como planejarem preparações e formas de inserir esses compostos no plano alimentar. Durante o evento, houve uma programação de apresentação de trabalhos científicos, em formato pôster, oral e exposição de maquetes (Tabela). Os trabalhos científicos, apresentados em formato banner e orais, foram inscritos por meio de edital específico para a NutriUnichristus 2018 e realizados pelos alunos do curso, como produto de projetos de pesquisa, grupos de estudo, desenvolvidos nas disciplinas ou mesmo relatos de casos, enquanto as maquetes foram desenvolvidas pelos alunos do 4º semestre, da disciplina de Serviços de Alimentação e Nutrição, sob orientação da Professora Ana Patrícia Moura, em parceria com o Professor Carlos Eduardo Fontenelle, do Curso de Arquitetura. Essa parceria foi possível por meio de aulas integradas, com os dois professores e as turmas de Nutrição e Arquitetura juntas, no laboratório de informática no Campus Dom Luís, para que fosse possível a construção da planta baixa e a elaboração das maquetes de Unidades de Alimentação e Nutrição. As apresentações em formato pôster e as maquetes foram expostas do lado externo do Auditório do Térreo, no Campus

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Parque Ecológico, enquanto as apresentações orais aconteceram no auditório. Todas passaram por uma comissão e banca avaliadora, composta por professores das diversas áreas, sem ter relação direta com o trabalho avaliado, para evitar conflito de interesse no momento da avaliação. Ao final do evento, foram premiados com menção honrosa os melhores trabalhos nas três categorias. Os melhores trabalhos foram: Modalidade Títulos dos melhores trabalhos

Autores

Oral

RELAÇÃO DA OBESIDADE COM ALTERAÇÕES DA MICROBIOTA INTESTINAL E TRANSTORNOS DE HUMOR

Ruan Siqueira de Aquino Correia, Victor Barroso Bezerra, José Eduardo Honório Ribeiro Júnior, Juliana Magalhães da Cunha Rêgo

Pôster

ADEQUAÇÃO DA INFORMA- Carlos Antônio Fortunato da ÇÃO DE ALERGÊNICOS EM Silva Junior, Juliana MagaRÓTULOS DE INDUSTRIA- lhães da Cunha Rêgo LIZADOS DE ACORDO COM A RESOLUÇÃO RDC 26/2015

Maquete

NUTRILÂNDIA: A CRIAÇÃO DE UM PROJETO FÍSICO-FUNCIONAL DO SERVIÇO DE ALIMENTAÇÃO DE UMA ESCOLA DE SISTEMA INTEGRAL

Catherine de Lima Araújo, Graziene Queiroz Oliveira, Carla Braga Campelo de Oliveira, Igor de Oliveira dos Santos, Antônio Wilson de Pinho Neto, Ítalo Fernandes Barbosa, Diego dos Santos, Carlos Eduardo Costa e Silva Fontenelle, Ana Patrícia Oliveira Moura Lima

A realização da II Semana da Nutrição contribuiu para as Políticas de Ensino, Pesquisa e Extensão da Instituição, ampliando e atualizando os alunos em temas teórico-práticos nas diversas áreas de atuação, a partir da valorização dos princípios éticos e morais na conduta nutricional, por meio de discussão de temas emergentes e atuais na realidade do contexto do profissional Nutricionista atualmente. Além de incentivar as produções científicas de docentes e discentes, esee evento se baseou nas orientações das Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de Nutrição, no que diz respeito à formação generalista e ampla de profissionais capazes de intervir na vida das pessoas, mantendo-os sempre atualizados no exercício da profissão de Nutricionista. Autoras: Profas. Juliana Magalhães da Cunha Rêgo e Sânia Nara Costa da Rocha Coordenadoras do Curso de Nutrição


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Laboratório Escola de Análises Clínicas: um diferencial no aprendizado dos alunos do Curso de Biomedicina da Unichristus

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Laboratório Escola de Análises Clínicas (LEAC) do Centro Universitário Christus (Unichristus) iniciou seu funcionamento no ano de 2016, com a finalidade de promover uma maior integração com a comunidade cearense, além de atender a uma das diretrizes do curso que é a integração do ensino, pesquisa e extensão. O LEAC funciona como unidade de apoio aos serviços de saúde ofertados pela Clínica Escola de Saúde (CES), Clínica Escola de Atenção Primária (CEAP) e Clínica Escola de Odontologia (CEO), prestando serviço à comunidade de forma gratuita e contínua, auxiliando, assim, o diagnóstico de doenças e o acompanhamento desses pacientes que buscam atendimento de saúde. O LEAC é uma das opções de campo de estágio para os alunos concludentes do Curso de Biomedicina, proporcionando aplicação prática dos conhecimentos adquiridos durante o processo de formação, além de permitir aos alunos uma importante interação com os pacientes que são atendidos pelas clínicas de saúde da IES. Dessa maneira, os acadêmicos desempenham atividades que permeiam desde a coleta e

o processamento das amostras biológicas até a liberação de exames sob a supervisão de um corpo clínico laboratorial de especialistas nas áreas nas quais são ofertados os exames. As atividades realizadas exigem que os acadêmicos coloquem, em prática, a junção de vários conteúdos, além de favorecer o desenvolvimento prático e científico do dia a dia do profissional biomédico analista clínico, realizando exames laboratoriais e interpretando os resultados por meio da análise de cada caso. Entre as atividades desenvolvidas, está o ensino, que conta com o corpo clínico do LEAC composto por docentes, a pesquisa por meio do desenvolvimento de projetos de extensão, além da realização dos exames laboratoriais de bioquímica, hematologia, microbiologia, parasitologia, uroanálise e citologia ginecológica. A bioquímica é o setor do laboratório que tem como objetivo medir e representar, quimicamente, as variações normais e patológicas que ocorrem nos seres vivos sendo as principais dosagens: glicose, colesterol total e frações, triglicérides, ácido úrico, ureia, creatinina e testes de função hepática entre outros exames que são essenciais para medicina preventiva e o acompanhamento e/ou diagnóstico de doenças, como diabetes, dislipidemias, disfunções hepáticas e renais. No LEAC, há o Setor de Citologia Ginecológica, em que é realizado o exame de citologia cervicovaginal, também conhecido como

Profª Dra. Andressa Hellen de Morais Batista (Docente do Curso de Biomedicina)

Proº Dr. Antônio José de Jesus Evangelista (Docente do Curso de Biomedicina)

Profª Dra. Vládia Celia Moreira Borella (Docente do LEAC)

Profª Msc. Nayara Santos de Oliveira (Docente do Curso de Biomedicina)

Profª Msc. Renata Mirian Nunes Eleutério (Docente do Curso de Biomedicina) Luiz Gustavo Almeida de Carvalho (Biomédico do LEAC)

Ana Audrey Botelho Corrêa Silva Vera Cruz (Biomédica do LEAC)

exame preventivo, que trata de um método de rastreamento do câncer do colo do útero, desenvolvido em 1940 pelo patologista grego George Nicolas Papanicolaou. Esse exame tem como objetivo avaliar as células que são coletadas das regiões de endocérvice, ectocérvice, junção escamocolunar e fundo de saco vaginal. Dessa maneira, é possível identificar alterações celulares em amostras de pacientes que têm lesões pré-cancerosas, que podem evoluir para o câncer do colo uterino. Ademais, esse exame é capaz de identificar infecções e inflamações, além de detectar alguns microrganismos específicos por sua morfologia característica. Pode ser realizado por todas as mulheres, mesmo que não tenham vida sexual ativa, a partir de 18 anos e antes, se a paciente já tiver relação sexual (INCA, 2006). O Setor de Uroanálise, responsável pela análise de amostras de urina, é divido em três partes: exame físico para avaliação da cor e do aspecto da urina; químico que, por meio de tiras reativas, avalia a


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presença de elementos, como sangue, proteínas, bilirrubina, urobilinogênio, cetonas, glicose, densidade, nitrito e esterase leucocitária; e a sedimentoscopia que analisa cristais, cilindros, células e microrganismos que podem estar presentes no sedimento urinário. O Setor de Parasitologia realiza o exame parasitológico de fezes (EPF), utilizando o método de sedimentação espontânea para identificar a presença de parasitas e de protozoários diferentes que podem causar doença ao homem, auxiliando, assim, no tratamento das parasitoses. O Setor de Hematologia do LEAC tem como principal foco a análise dos elementos celulares do sangue, para apoiar a investigação de doenças que envolvem o tecido hematopoético. O hemograma é o exame mais solicitado na hematologia geral, com a finalidade de contribuir para o diagnóstico e a classificação das anemias. O Setor de Hematologia conta com linha de

automação, para a rotina de hemograma, com rigorosos critérios de controle de qualidade, acompanhado de revisão de lâmina. No laboratório, também é possível realizar avaliação de distúrbios de hemostasia por meio do coagulograma. Os testes de coagulação são requisitados, principalmente, para procedimentos pré-operatórios e monitoramento do uso de anticoagulantes orais. Na rotina laboratorial, os alunos aprendem os princípios para confecção e coloração de lâminas de hematologia e como detectar as principais alterações encontradas na análise microscópica. No Setor de Microbiologia, são realizados os seguintes exames laboratoriais: urinocultura, que visa a identificar os principais microrganismos causadores de infecção urinária; exame direto e cultura para fungos a partir de diversas amostras biológicas, com o intuito de auxiliar o diagnóstico de micoses, que são doenças causadas por fungos, e ba-

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ciloscopia, que é um exame que dá suporte ao diagnóstico e ao monitoramento da tuberculose. Além dos exames realizados, o LEAC produz todos os meios de cultura utilizados em aulas práticas dos seguintes cursos: Biomedicina, Enfermagem, Fisioterapia, Gastronomia, Medicina, Nutrição, Odontologia e Radiologia. Portanto, o LEAC-Unichristus tem como compromisso principal colaborar com a promoção da saúde e do bem-estar do paciente, preconizando o atendimento humanizado em análises clínicas, além da busca contínua pela excelência da qualidade dos resultados liberados.


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Beer lovers - Tour cervejeiro na Cervejaria Ambev

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s alunos do Curso de Gastronomia da Unichristus, 4º semestre, realizaram, no dia 22 de fevereiro de 2019, uma visita técnica à Ambev, em Aquiraz/CE, com o intuito de conhecer as etapas de produção e de envase, bem como as formas de harmonizar a bebida com alimentos. A Ambev surgiu em 1999, a partir da união entre Antarctica e Brahma, nascendo a primeira multinacional brasileira, presente em 19 países, destacando-se 32 cervejarias e duas maltarias no Brasil, atuando na produção de cervejas, refrigerantes, sucos, energéticos, isotônicos, água e chás (AMBEV, 2019). No dia 21 de dezembro de 2018, a Cervejaria Ambev Aquiraz abriu as suas portas para visitas guiadas para que o público apreciador de cervejas pudesse acompanhar passo a passo a criação, a elaboração e a degustação (LEAL, 2018). Atualmente, 11 cervejarias oferecem aos consumidores e/ou estudantes a oportunidade de acompanhar de perto toda a história e o maravilhoso mundo da produção da cerveja (BEER LOVERS, 2019). A visita guiada teve início com a exibição de um vídeo institucional

com o histórico da cerveja, as curiosidades sobre a Ambev e as normas de segurança adotadas na condução da visita. Logo após, dirigirmo-nos até a sala de operações e constatamos a dimensão da inovação tecnológica na indústria cervejeira com uso racional de energia e a redução de custos com efluentes, limpeza e mão de obra. Em seguida, acompanhamos o processo de brassagem, quando a água e o malte são misturados, em que tivemos a oportunidade de experimentar essa mistura. O sabor desse composto lembra água com amido. Na sequência, fomos até a casa das máquinas, onde pudemos acompanhar os processos de fermentação, de maturação e de filtração da cerveja, bem como observarmos os imensos tonéis de cerveja lá existentes. Logo em seguida, tivemos uma pausa para degustarmos chope e conversamos sobre as curiosidades, os mitos e as verdades sobre a cerveja. Acompanhamos, também, o envase das cervejas e o mecanismo de higienização/separação das garrafas retornáveis. Nesse processo, as garrafas passam por dois sensores de raios X que detectam possíveis avarias. Quando detectadas, são rapidamente descartadas, não oferecendo nenhum risco de contaminação para os consumidores. O detalhe nessa etapa fica por conta da automatização, pois todo o processo é realizado por máquinas. Durante o trajeto, é possível tirar fotos e fazer filmagens, com exceção de algumas áreas previamente mencionadas pelo guia. Na última etapa da visita, os discentes tiveram a oportunidade de

Rodrigo Nunes Rodrigues (Aluno do Curso CST em Gastronomia)

Jéfferson Malveira Cavalcante (Docente do Curso CST em Gastronomia

apreciar quatro rótulos e harmonizar com petiscos clássicos (Tabela 1), aprendendo a degustar a bebida com combinações alimentícias. Após a aula de harmonização, conferimos, na lojinha, inúmeros itens relacionados com cervejas (camisetas, copos, chaveiros etc.) que podem ser adquiridos ao final da visita. Tabela 1. Harmonização de cerveja com petiscos na visita técnica. CERVEJA PETISCO Sem álcool Amendoim Puro Malte Salame Trigo com mel Queijo emental Forte escura Chocolate ao leite

Por fim, as evidências da visita técnica retratam o compromisso com a qualidade e a preocupação constante no fornecimento de um produto seguro. Além disso, ficou evidente a importância de se conhecerem as boas práticas, as normas de segurança e as formas de se harmonizar a bebida com alimentos.

Referências AMBEV. Cervejaria Ambev. Disponível em: <https://www.ambev.com. br/>. Acesso em: 11 mar. 2019. BEER LOVERS. Visite as cervejarias Ambev. Disponível em: <https://www. ambev.com.br/beer-lovers/>. Acesso em: 11 mar. 2019. LEAL, J. Cervejaria Ambev estreia tour cervejeiro gratuito no Ceará. Blog Layout. Publicado em: 20 dez. 2018. Disponível em: <https://goo.gl/ ztG1rH>. Acesso em: 11 mar. 2019.


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Visitando e lendo o Museu da Fotografia: uma inserção... em pela perspectiva de imagens fotográficas1

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a disciplina Análise e Produção Textual, alocada no 1º semestre do curso de Administração, os estudantes recém-ingressos são expostos a atividades que têm por objetivo maior estimular suas competências em leitura e em escrita por meio de associação de conhecimentos prévios a conhecimentos de mundo e de seu momento contemporâneo. 1 No intuito de contribuir com tal demanda, no dia 15 do mês de março desse 2019, os estudantes que no momento encontram-se matriculados na disciplina participaram de uma “visita guiada” ao Museu da Fotografia, em Fortaleza2. Lá, conduzidos pelos guias Emanuel, Adrieli e Victória, viram, se informaram e analisaram imagens fotográficas abrigadas em duas exposições permanentes e em uma temporária – Orixás. A partir da visita, tendo por base cada fotografia analisada, confirmou-se a ideia de que todo 1 Matéria realizada pelo professor Sérgio Araujo, com depoimentos dos estudantes supracitados. 2 O Museu da Fotografia Fortaleza é administrado pelo Instituto Paula e Silvio Frota, tendo por intuito divulgar obras fotográficas do mundo inteiro para a apreciação do público. Além disso, viabiliza e incentiva “a percepção, produção, profissionalização e evolução do olhar por meio de cursos e eventos diversos”. Fonte: <https://museudafotografia.com.br/institucional/> Acesso em 28/03/2019.

autor de texto (admitimos ser a fotografia um texto não verbal) tem uma intenção comunicativa ao fazê-lo; assim, entendeu-se que cada foto exposta, no momento exato do registro do objeto fotografado, foi realizada por motivação do fotógrafo. Com essa compreensão, pode-se vislumbrar com maior

propriedade o que de fato queriam os fotógrafos ao retratarem o que retrataram. A seguir, apresentam-se depoimentos de estudantes que se fizeram presentes à visita. Ao final, exibimos algumas fotografias dos estudantes no intante da visita ao Museu.

Catarina Elissa da Silva Pereira O Fato de a visita ao Museu da Fotografia ser guiada tornou a experiência provida de mais conhecimento e aprendizados, em um ambiente aconchegante, o interior organizado e com uma decoração simples. [...] a exposição de obras com a perspectiva mais urbanizada das cidades ao redor do mundo, técnicas comuns atualmente, mas que antes eram revolucionárias para fotografias antigas. Obras com ideias incríveis que ganham o olhar de apreciação dos visitantes, tendo anos de história carregados em uma imagem. [...] a exposição “Orixás”, de Pierre Verger, que mostra a cultura africana, originadora da cultura afro-brasileira. A exposição permite, ainda, autonomia dos visitantes em busca, pela curiosidade, de fatos e histórias por trás de cada fotografia, por meio da utilização de um aplicativo para a obtenção de mais informações.

Stefany Mesquista A. Ferreira Achei o ambiente incrível, ótima estrutura, várias fotografias, máquinas de diferentes décadas, venda de alguns objetos que se relacionam o Museu e com a fotografia. Das várias fotos em exposição, me impressionou uma que, ao se apertar um interruptor, luzes são acesas para mostrar uma imagem da noite do Rio de Janeiro, destacando-se a Baía de Guanabara e o Pão de Açucar. Também me chamou a atenção uma sequência de fotos, feitas do alto, registrando a existência de índios não civilizados na Amazônia brasileira. Na primeira, poucos são vistos, porque escondidos sob as árvores; na sequência dela, outras fotos vão mostrando mais e mais indígenas. [...] O Museu, então, torna-se rico, mostrando pessoas de diversas idades, lugares, estilos de vida.


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Karly Barroso da Trindade A visita ao Museu da Fotografia, realizada no dia 15/03 com as turmas do 1º e 3º semestres do curso de Administração teve como principal objetivo ampliar o campo da interpretação de texto através de imagens. O Museu tem ambiente bastante intimista e simples, além de funcionários atenciosos – destaco aqui o guia Emanuel, que praticamente nos conduziu em todos os momentos da visita – os quais não apenas nos apresentaram as imagens, mas também criaram um diálogo conosco, a fim de que conseguíssemos refletir um pouco sobre as fotografias e enxergar além da superficialidade. Muitas fotos chamaram minha atenção. A primeira delas foi uma fotomontagem de um automóvel futurista dentro de um cemitério e com a visão de uma cidade cheia de prédios. Nós, alunos visitantes, pudemos concluir que aquela obra encaminhava a uma reflexão a partir do ditado “Da vida não se leva nada”. Na exposição viu-se também uma foto da Baia de Guanabara, no Rio de Janeiro, que de início nos foi apresentada com as luzes da própria obra apagadas, mas que logo em seguida foram acesas. Aquela obra, então, além de linda, era especial por mostrar aspectos da Cidade Maravilhosa, em específico a Baia de Guanabara, o Pão de Açucar e o Cristo Redentor. Um detalhe curioso sobre essa foto é o fato de ela ter sido realizada por meio de uma técnica a qual consistiu em deixar a câmera preparada para ser acionada após determinado tempo, dentro do qual se capturou a imagem dessa parte da cidade, enquanto uma aeronave “cortava” seu céu.

Edson Patrício Barbosa Filho A visita ocorreu tendo por motivação principal uma análise e avaliação dos alunos quanto às peças expostas, no sentido de ampliar-lhes a capacidade leitora. Ulteriormente, os mesmos estudantes fariam uma exposição com fotografias realizadas por eles mesmos, tendo por tema geral “Um olhar sobre a cidade de Fortaleza”. Com a visita, a turma pôde conhecer melhor e mais de perto inúmeras obras de artistas renomados que foram e continuam servindo de base para outros artistas da fotografia no mundo inteiro. Foi possível também observar outras culturas, pensamentos, ideias, assim como fases que a sociedade também vivenciou. Enfim, registros de fatos que, sem dúvida, são muito importantes até na criação da personalidade de cada um. Sendo assim, acredito que com esta visita consegui enxergar o mundo das artes de uma maneira diferente e dinâmica, na qual, quando adentramos, conseguimos ter uma noção mais ampla de toda cultura e diversidades que nos rodeiam, tornando-nos pessoas de visão mais crítica quanto aos fatos que sempre nos envolvem.


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Curso de Ciências Contábeis premeia o melhor Trabalho de Conclusão de Curso

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om o objetivo de sempre aproximar a academia do mercado e agregar valor para a vida profissional dos seus alunos, o Curso de Ciências Contábeis da Unichristus promove suas pesquisas que envolvem projetos de iniciação científica, grupos de estudos, monitoria e Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) voltados tanto para a realidade empresarial quanto acadêmica. Como resultado de muita dedicação e competência, o TCC da aluna Fernanda Luana Pereira de Mesquita, sob orientação da professora Mestra Lorena Costa de Oliveira Mello, foi contemplado como o 3º melhor trabalho acadêmico do Brasil na 8ª Edição do Prêmio Transparência Universitário 2018 promovido pelo Instituto dos Auditores Independentes do Brasil que reconhece as melhores pesquisas nas áreas de Contabilidade e Auditoria Independente no Brasil. O trabalho se intitulava como o “Impacto do Novo Relatório dos Auditores Independentes nos honorários dos auditores do Brasil”, que teve como objetivo analisar o impacto da adoção do novo relatório de auditoria tendo como variável dependente os Honorários de Auditoria e as variáveis independentes: tamanho da empresa, tipo de relatório de auditoria e setor econômico.

A professora orientadora, Lorena Costa, relatou os fatores críticos que levaram a pesquisa à conquista do prêmio: “O primeiro fator foi a temática escolhida, que tem como característica o ineditismo, a relevância para a academia e que o mercado compreende como uma questão crítica voltada para os acionistas, os auditores e todos aqueles que se interessam pelo tema. Além disso, outros pontos foram a quantidade de empresas utilizadas na pesquisa, que foi de 100 empresas, a estatística utilizada para compreender o impacto do Novo Relatório dos Auditores Independentes nos honorários dos auditores do Brasil e, por fim, a dedicação e o comprometimento da aluna em todas as etapas da pesquisa”. Para a aluna Fernanda Luana, a experiência do TCC aconteceu dessa forma: “No início, eu ficava achando que não era capaz ,mas, depois dessa pesquisa, pude perceber que estou preparada para enfrentar os desafios do mercado de trabalho, pois, com dedicação e esforço, é possível conseguir o que eu almejar com mais autoconfiança”. O resultado da pesquisa constatou que, no ano do período analisado, a adoção do novo relatório de auditoria não influenciou significativamente os honorários dos audi-

ŹAluna Fernanda Mesquita e Profa. Ma. Lorena Mello.

tores independentes no Brasil. Constatou-se, ainda, que as demais variáveis, como tamanho da empresa, tipo de firma, tipo de relatório de auditoria e setor econômico, demonstraram ter uma relação estatisticamente significante com a variável dependente, os honorários de auditorias. Por fim, a variável comitê de auditoria não apresentou relação significante com os honorários de auditoria. Dessa forma, ressalta-se que os trabalhos de pesquisa do Curso de Ciências Contábeis estão voltados para contribuir com toda a sociedade. Então, venha visitar a Biblioteca do nosso Campus do Dionísio Torres e conhecer mais dos nossos trabalhos.


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Júri simulado dos calouros de Direito enfrenta case literário de Machado de Assis

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júri simulado acabou, a luz apagou, os alunos sumiram... E agora, professora Fayga? (Parodiando o célebre poema de Drummond – “E agora, José?” –, assim começo a discorrer sobre a singular experiência do nosso primeiro júri). Aos 26 de abril, o júri simulado de “Tópicos Especiais em Direito I” foi realizado pelos calouros da Profa. Dra. Fayga Bedê, com os alunos da manhã e, à noite, com a nossa turma. O julgamento deu-se em torno dos personagens da obra “O Enfermeiro”, de Machado de Assis. A promotoria pedia justiça pela morte do senhor Coronel Felisberto, opondo-se à defesa, a qual, com unhas e dentes, lutava fervorosamente para inocentar o Sr. Procópio Valongo da acusação de homicídio doloso, por meio das teses de legítima defesa e de lesão corporal.

Tanto os promotores quanto os advogados de defesa fizeram-se valer dos argumentos lógicos e também das falácias aprendidos no decorrer da disciplina: a promotoria utilizou-se do apelo às emoções do público (argumentum ad populum) ao falar da fragilidade da vítima, de quase 60 anos, que trazia um rosário de doenças. Ateve-se aos autos e, muitas vezes, distorceu a fala da defesa (falácia do espantalho). Por seu lado, a defesa apelou à autoridade de argumentos técnicos da área da saúde, principalmente na refutação de que o coronel Felisberto morrera asfixiado. Recorreu também a fatos históricos, além de criticar a pessoa do coronel, não se valendo de argumentos concretos, mas utilizando-se de alguns diversionismos em certas falas (ignoratio elenchi). Por um lado, os ânimos acalorados da defesa; e, por outro,

uma aparente calma da promotoria. Na verdade, de parte à parte, as únicas certezas eram a ansiedade e o nervosismo à flor da pele, já que não é todo dia que a gente se investe de uma toga e precisa argumentar, concisa e coerentemente, para uma plateia enorme de jurados – que era, inclusive, integrada pela coordenadora do curso, Profa. Dra. Andreia Costa. Mas, apesar dos desafios, o júri transcorreu de forma organizada e objetiva, com seus participantes empenhados em defender as suas teses, a fim de alcançarem o tão almejado título de vitória. Após a conclusão dos debates, os alunos retiraram-se do auditório para a votação do júri. Em seguida, deu-se início à temida apuração de votos. A cada “inocente” lido em alto e bom som, mais os membros da promotoria afundavam-se em suas cadeiras, e a defesa cantava vitória certa. O silên-


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cio era ensurdecedor, e a palavra “inocente”, anunciada consecutivas vezes, rasgava o ar e deixava aflitos os corações de quem acusara Procópio veementemente. Algum alívio vinha com um “culpado”, mas estes eram escassos demais, logo perdiam a validez, sendo engolidos por mais e mais votos de “inocente” escritos naqueles pequenos, mas significativos papeis. Chegamos ao fim com uma vitória arrasadora da defesa, de 31 votos contra 6. A defesa ganhara o júri, mas os apreensivos membros da promotoria foram reconfortados pela lembrança da professora: “Às vezes, não temos sucesso de público, mas temos sucesso de crítica”. Por fim, vão-se as togas, mas fica a experiência do primeiro júri. Que esse momento nos sirva para lembrarmos de que, quando já estivermos formados, devemos ter o mesmo ânimo, a mesma astúcia e o mesmo zelo: seja ao defendermos nossos futuros clien-

tes, seja ao acusarmos um réu, seja ao julgarmos com imparcialidade e sabedoria. Que os inesquecíveis personagens de Machado, cujos interesses defendemos com tanto ardor, possam perpetuar em nossa memória o desejo de virmos a ser profissionais cada vez melhores! (E que Machado não tenha se revirado no túmulo).

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Mas, e agora, Professora Fayga, para onde? Creio que a resposta para essa pergunta ainda esteja um pouco longe, mas já estamos a construí-la. Autora: Marina Araújo da Silva – acadêmica do 1º semestre de Direito (noite)


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Mercado de Ações: riscos, mitos e verdades

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iante de possibilidades de mudanças microeconômicas voltadas para incentivar o mercado de capitais, o Curso de Ciências Ciências Contábeis da Unichristus busca manter os seus alunos sempre atualizados em relação às tendências de mercado e à evolução nos seus conhecimentos que agreguem a sua vida profissional. Nessa perspectiva, foi realizado um treinamento com o tema “Mercado de Ações”, além da riqueza de todo o conteúdo ministrado, o que mais se destacou foi o palestrante, o aluno do 4º semestre, Igor Monte Evangelista, conforme segue entrevista mostrando os highlights da temática. Entrevistador: O que motivou você a fazer Ciências Contábeis? Igor Monte: Primeiro foi a minha vontade de aprender sobre a gestão de patrimônio, do di-

nheiro, do tempo e das pessoas. Eu entrei no curso, fui evoluindo e fiz a disciplina de Matemática Financeira e [...]. Mesmo já tendo experiência em outra instituição no Curso de Matemática, foi por meio dos estudos de matemática financeira que eu percebi que era o que realmente eu queria [...].

nesse setor meio perdido, sem saber muito bem do que se tratava. Tive alguns prejuízos, o que gerou a minha vontade de aprender mais profundamente sobre o assunto e, depois dessa experiência, repassar o conhecimento adiante para que pessoas, como eu, não cometessem os mesmos erros.

Entrevistador: O que foi que despertou em você esse desejo mais profundo pela área financeira? Igor Monte: Foi uma atividade complementar ofertada pelo curso com o tema “Finanças Pessoais”, que me incentivou a seguir os estudos dessa área específica da matemática. Então, comecei a investir, desde junho de 2018, em renda fixa. A partir de um dado momento, veio a eleição de 2018, período de muita volatilidade na bolsa, isso fez que eu entrasse de vez na bolsa de valores. Inseri-me

Entrevistador: Antes de entrar na bolsa, quais eram os seus principais medos? Igor Monte: Medo comum nas pessoas. O de perder todo o meu dinheiro. Por exemplo, fazer o investimento em um dia e, no outro, perder 70 % a 80 % do que eu havia disponibilizado. Isso fez que, no início, eu me tornasse um pouco mais cauteloso. Mas não desisti, fui me aprofundando mais no assunto e vendo que a cotação das ações das empresas na bolsa, o quanto elas valiam, é em decorrência do lucro. Isso despertou para que eu iniciasse a análise das informações contábeis das empresas para que, assim, eu decidisse em que eu iria investir. Entrevistador: Quais as principais fontes de pesquisa? Igor Monte: Inicialmente, busquei os professores do meu curso para que eles me orientassem. Além disso, a disciplina de Produtos Financeiros está me auxiliando. Complementarmente, faço o uso da internet e dos sites de relação com investido-


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res das empresas e da B3-Bolsa Brasil Balcão. Entrevistador: Quando você entrou no mercado de ações, qual o percentual do seu patrimônio disponibilizado? Igor Monte: Quando eu entrei na bolsa, eu investi por volta de 10% a 15% do meu patrimônio. Hoje eu tenho por volta de 70% do meu patrimônio em renda variável. Eu consigo conviver com esse perfil de risco mais elevado, pelo meu perfil de investidor. Mas, para quem está iniciando, eu não recomendo, é bom iniciar com 5% ou 10%. Entrevistador: Quais são os principais indicadores para avaliar uma empresa no mercado de ações? Igor Monte: Retorno sobre o Investimento (ROI), Margem Líquida, Patrimônio Líquido, Receita Líquida e a Dívida Líquida. Vale destacar que, se a empresa tiver dívida líquida, pode ser um bom indicativo, pois ela pode utilizar esse recurso para financiar um parque industrial ou a compra de um

novo equipamento que vai gerar receita, principalmente na área do setor elétrico, pois ele é caracterizado por ter muitas concessões de 20 a 30 anos e utilizar essa conquista para construir uma linha de transmissão de energia ou para abrir uma hidroelétrica. Entrevistador: Por que um contador precisa saber sobre o mercado de ações? Igor Monte: Primeiro, ele precisa saber, por exemplo, se ele for trabalhar com auditoria para analisar os dados, ele precisa compreender como se encontra o mercado com informações, como a principal empresa do setor, quais áreas de atuação, quais as principais atividades fontes de geradoras de receita, qual a sua participação no mercado e os seus concorrentes. O segundo ponto é relacionado ao impacto da transparência das informações contábeis na sua governança corporativa e à sua captação de investimentos e valor para a empresa. Entrevistador: Quais são as principais habilidades e os co-

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nhecimentos para se destacar no mercado de ações? Igor Monte: Ele precisa ter um estudo aprofundado sobre análise de balanço patrimonial, Demonstração do Valor Adicionado (DVA), sabendo que todas as Demonstrações Financeiras são importantes do ponto de vista fundamentalista, ou seja, para quem estuda indicadores. Mas, para quem está voltado para a especulação, esses conhecimentos ficam mais no segundo plano. Além desses conhecimentos, o investidor precisa ter o mínimo de investimento em economia, que é outro ponto importante, pois se analisa o macroambiente em que as empresas estão inseridas. Um exemplo, que aconteceu no ano de 2018, é a empresa no setor de bebidas que teve seus resultados influenciados por causa da crise na Argentina. Entrevistador: Fale um pouco mais sobre a sua palestra. Igor Monte: Na minha palestra, o foco foi mercado de ações da teoria à prática, desde os indicadores econômicos até os setores e a análise das empresas.


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Entrevistador: Qual foi o aprendizado que essa experiência de palestrante proporcionou? Igor Monte: Foi, principalmente, a gestão do tempo, tínhamos quatro horas para apresentar todo o conteúdo em comparação à aula que o tempo é mais reduzido, mas eu consegui adaptar o tema às horas disponíveis. Inicialmente, consegui disponibilizar conhecimentos para envolver os participantes no tema. Posteriormente, apresentei os indicadores e os termos técnicos relacionados à economia, o famoso “economês” que precisavam ser compreendidos, para que os alunos pudessem analisar as empresas.

Entrevistador: Como você enxergar seu futuro profissional nessa área? Igor Monte: Estou planejando para este ano obter a certificação básica para quem trabalha no mercado financeiro e depois ir evoluindo, mas eu me vejo mais como um educador. Repassar os meus conhecimentos sobre bolsa de valores é mais importante do que vender produtos financeiros e fazer assessoria de investimentos. Eu prefiro focar na área de educação, até porque minha família é de educadores, e “está na veia o ensinar”. Nesse caso, ensinar as pessoas a investir melhor a ter conhecimento e acesso a esses estudos.

Entrevistador: Quais foram as atividades que você fez antes do dia da palestra? Igor Monte: Eu construí todo o conteúdo em slides, depois planejei o tempo para cada tema, como indicadores, riscos e análise de empresas. Além disso, ocorreu até um apagão de energia na hora do curso, mas, mesmo assim, aproximei-me mais do público e continuei com o conteúdo. Não fiquei dependendo dos slides.

Entrevistador: Quais seriam as três dicas para os alunos da Unichristus para começar no mercado de ações? Igor Monte: Primeiro muito estudo e conhecimento são extremamente importantes para saber como funciona esse mercado, pois é um mercado de risco. Segundo é necessário ter calma, pois, desde as eleições, estamos vivendo um momento de grande euforia em que os preços das ações se elevam, e

“todo mundo” acredita que sai ganhando dinheiro na bolsa, porém não é bem assim. Esse mercado é cíclico, e essa alta pode acabar e entrar no ciclo de baixa como aconteceu há uns 3 anos, o que é normal. A bolsa é positiva, mas ela sofre alguns percalços no seu caminho até o resultado ser positivo. Terceiro é necessária a perseverança de continuar na bolsa e não tomar um prejuízo e sair. É continuar e ter recorrência e aporte de investimentos a longo prazo. Mês a mês, você separa para investir uma parte na renda fixa e outra na renda variável. O aluno Igor Monte proferiu uma palestra com o tema “Mercado de Ações”, que contemplou as terminologias técnicas utilizadas na área, os riscos, os mitos, as verdades, a dinâmica de funcionamento do mercado e a realização da análise de uma companhia. Os alunos do Curso de Ciências Contábeis da Unichristus participaram ativamente desse momento de compartilhamento de conhecimentos e experiência da área de finanças.


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Nas tendências de vanguarda, o Curso de Direito traz especialistas em metodologias ativas para capacitação docente de alto nível

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inte e sete professores do Curso de Direito, ligados aos primeiros semestres ou ao Núcleo de Prática Jurídica, foram escolhidos para participar de uma capacitação mais que especial. Durante os dias 26 e 27 de março e 13 e 14 de maio de 2019, paramos (quase) todas as nossas atividades para redescobrirmos o prazer de exercer um outro papel – o de alunos. Mas, definitivamente, essa não era uma sala de aula comum. Duas professoras da FGV-SP, Marina Feferbaum e Denise Andrade – ambas, referência na área de metodologias ativas – esperavam-nos à porta, sorrindo, munidas de uma caixa de ferramentas inusitadas, que iam de blocos de Lego a games tecnológicos, com a mesma naturalidade.

Tivemos de superar desafios complexos e interdisciplinares, ora em engenharia naval (“Alguém aí ainda lembra como é que se faz um barquinho de papel?”), ora em engenharia civil (“Duvido que vocês construam uma torre de macarrões mais alta que a da minha equipe.”). Mas nada se compara aos desenhos multicoloridos que fizemos com canetinhas Hidrocor – abria-se, de novo, uma janela para a infância. A essa altura, os leitores mais céticos devem estar se perguntando o que levaria um grupo tão respeitável (e ocupado) de professores de Direito a passar horas e horas brincando como se nunca tivessem saído do ensino fundamental. Logo no início do curso, essa mesma dúvida parecia

desenhar-se no olhar espantado de alguns colegas, enquanto outros, felizes da vida, apenas se lançavam ao desconhecido. Em pouco tempo, as últimas resistências e perplexidades foram vencidas. É que, após cada atividade, havia um rico momento de debate, no qual depurávamos o sentido daquela metodologia específica, a fim de compreendermos os seus objetivos e vantagens, assim como diagnosticávamos, na prática, os desafios de implementação e os modos de superá-los. Dessa forma, estávamos “aprendendo a fazer, fazendo”, como prescrevera Jacques Delors, em seu relatório para a UNESCO sobre a educação do futuro. Ao longo desses dias de imersão, não se ouvia falar em


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zona de conforto. As equipes eram diferentes a cada rodada, e tínhamos de aprender a interagir com os colegas mais diversos, em situações desafiadoras, cujo tempo de realização era rigorosamente cronometrado. Para que tudo corresse a contento, o foco era fundamental. Cada tarefa exigia capacidade de planejamento, organização, liderança, criatividade, concentração, resiliência, improvisação e, claro, muito bom humor para rir diante dos nossos eventuais fracassos. Nesses encontros, o que estava em jogo não era o conteúdo aparente daquelas atividades, mas sim as múltiplas habilidades e competências requeridas a cada proposta. Tínhamos de completar tarefas surpreendentes em prazos exíguos, construindo redes internas de colaboração no contexto próprio de cada nova equipe formada, ao mesmo tempo que éramos desafiados por um sistema externo de competição em relação às demais equipes. Assim, aquela sala de aula, supostamente tão pueril, era um verdadeiro laboratório de simulação dos desafios profissionais que nossos alunos

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terão de enfrentar – uma metáfora da complexa engenharia social que o mercado de trabalho atual nos reserva. Não por acaso, as novas diretrizes curriculares nacionais do Ministério da Educação, voltadas ao Curso de Graduação em Direito (Resolução n. 5, de 17 de dezembro de 2018), enfatizam a promoção do modelo de ensino jurídico participativo, em face do tradicional modelo expositivo, focado apenas no conteúdo. Para a professora Mirna Siebra, Coordenadora do NPJ do Curso de Direito da Unichristus: “Uma formação docente dessa natureza é importante, pois nos dispõe a pensar no processo ensino-aprendizagem pelo olhar do discente, de modo a considerar suas necessidades, priorizando suas contribuições e realocando o estudante como protagonista desse processo.” Já para o Prof. Cristiano Moita, a capacitação “nos proporcionou uma rica e transformadora experiência acadêmica, além de inaugurar uma mudança da cultura institucional”. Para o docente, “Entender o que simbolizam esses novos métodos de ensino e

de aprendizagem fica mais fácil se fizermos o esforço de ver as coisas de outro ponto de vista: um ensino não centralizado na figura do professor, mas na do aluno. Perceber que o ensino e a aprendizagem são completamente alterados quando o aluno passa a ser sujeito ativo desse processo é o primeiro passo – e o fundamental – para compreender esse novo formato de aula”. Por sua vez, a Profa. Mariana Zonari considerou que a capacitação foi “sensacional” e nos explicou que, no intervalo de um mês e meio entre o primeiro e o último encontro, ela já começou a aplicar, na sua sala de aula, algumas das experiências aprendidas durante a formação, tendo recebido muitos feedbacks positivos. Por outro lado, Melissa Veiga não aguentou esperar por essa matéria e tratou de já ir compartilhando, em seu perfil no Instagram, um registro entusiasmado sobre as suas vivências durante a formação. Leitura prévia, protagonismo, inovação, estudo de casos, técnicas variadas de debate e uso de tecnologia foram apenas alguns dos veículos que conduziram esse processo. A lição fundamental, que levamos para casa, é o dever de tornar a nossa sala de aula uma experiência cada vez mais transformadora, significativa e gratificante. Afinal, nós merecemos aprender com alegria. Nossos agradecimentos a todos os que acreditaram nessa possibilidade subversiva! Colaboradoras: Profa. Dra. Fayga Bedê, Profa. Dra. Andréia Costa


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“Na cidade, faço tudo de bicicleta” e “Gostaria de levar a cordialidade brasileira para casa” Experiências de dois estudantes de intercâmbio que passaram um tempo na Unichristus

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lém de enviar anualmente cerca de quarenta alunos para mobilidade acadêmica em instituições parceiras em outros países, a Unichristus recebe, cada vez mais, estudantes internacionais para um período de estudos ou estágio em Fortaleza. Neste ano de 2019, serão pelo menos dez jovens que estão chegando de Portugal, da Itália, da França e da Alemanha. O coordenador do setor internacional da Unichristus, Jan Krimphove, entrevistou dois deles, que vieram no primeiro semestre, a alemã Daniela Pravdic e o francês Raphael Berthelot sobre a experiência deles no Brasil. Daniela é estudante de Medicina do terceiro ano em Aachen, na Alemanha, e passou um mês de estágio observacional no serviço de clínica médica da Santa Casa de Misericórdia. Raphael é estudante do último ano de Fisioterapia e passou todo o semestre de 2019.1 na Unichristus. Originalmente de Montpellier, na França, Raphael estuda em Porto, Portugal, por isso já dominava o português antes de vir para Fortaleza. 1. Qual foi a motivação para fazer um estágio / passar um tempo de estudos em outro país?

Daniela: Sempre achei muito legal viajar! Nos últimos anos, tive a oportunidade de conhecer vários países. Quem começa a viajar muito não pode mais parar. Além disso, creio que seja importante fazer experiências práticas profissionais fora. A pesquisa científica vive da troca global de informações. Eu tenho interesse de ver como funciona a Medicina em outros países do mundo. 2. Por que vocês queriam vir para o Brasil? Por que escolheram Fortaleza? Raphael: Sou francês, mas estudo em Portugal, na cidade do Porto. Adoro viajar, conhecer novos lugares, pessoas e culturas. Então, foi

lógico para mim fazer um intercâmbio fora. Já passei um ano na Nova Zelândia, então agora eu queria descobrir o Brasil e a América do Sul. O Brasil era um país que eu queria muito conhecer. Para nós na Europa, o Brasil se resume a “Carnaval, Samba e Futebol”. Eu queria fazer a minha própria ideia deste país e não ficar com ideias preestabelecidas. A minha primeira escolha [para o intercâmbio], na verdade, foi Blumenau. Depois de algumas pesquisas na internet, eu vi que a cidade tem 98% de descendentes de alemães. Não queria vir ao Brasil para encontrar alemães. Seria melhor encontrá-los na Alemanha. Então, mudei de destino e escolhi Fortaleza, porque queria encontrar o verdadeiro

ŹRaphael e Florent na Clínica Escola de Fisioterapia da Unichristus


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bem de mim e me fez conhecer muitas tradições brasileiras. Além disso, fiz novos amigos, com os quais passei uma boa parte do meu tempo livre.

ŹDaniela com a Familia Tomaz que a hospedou

povo brasileiro. Aqui há uma incrível mistura de indígenas, negros e descendentes de europeus. O que influenciou a minha escolha também foi ter encontrado Luigi [aluno da Unichrsitus] que fez um intercâmbio para a minha universidade [Fernando Pessoa] em Porto no ano passado. Então, ele me falou da Unichristus, da cidade e, pronto, escolhi Fortaleza. Daniela: Acho o Brasil um país fascinante. Durante o colégio,

ŹDaniela na Santa Casa de Misericórdia

já tive a oportunidade de conhecer um pouco da cultura brasileira por meio de amigos. Eu queria conhecer mais e ter uma experiência pessoal no país. Escolhi a cidade de Fortaleza por causa do acordo de cooperação que existe entre a Unichristus e a minha universidade [RWTH Aachen] na Alemanha. Assim, a preparação do intercâmbio foi bastante fácil para mim. 3. Como foi a preparação e a chegada? Onde vocês moram? Vocês se adaptaram bem? Daniela: A preparação foi realmente fácil. Enviei alguns documentos e estudei Português durante dois semestres. Falei algumas vezes com o coordenador do setor internacional da Unichristus, Jan Krimphove, que também me ajudou a achar uma família que me hospedou durante o mês de estágio. Em momento nenhum, tive a impressão de estar sozinha. Jan estava sempre lá para me ajudar quando eu precisava, e a família que me acolheu cuidou muito

Raphael: O coordenador do setor internacional me deu um apoio fundamental antes da minha chegada. Falamos, muitas vezes, no Skype. Ele também me ajudou com a burocracia. No primeiro dia, visitamos a cidade. Ele me mostrou alguns lugares bonitos. Moro no bairro Meireles, em um prédio antigo de três andares, com 12 pessoas. Somos uma república, uma comunidade. Viemos de diferentes países da América Latina e da Europa. Moro com pessoas do Peru, da Colombia, de El Salvador, do Écuador, da Italia, da Argentina e do Brasil. Eu adoro esse tipo de lugar. O clima é muito bom. Comemos juntos e fazemos muitas atividades juntos, isso sem falar nas festas. Parece aquele filme, “Albergue espanhol”, com o actor francês Romain Duris. Para me locomover na cidade, faço tudo de bicicleta. Comprei uma bicicleta no OLX e agora tenho minha liberdade para circular. Não gosto de pegar sempre o Uber. Não é meu espírito de vida. Eu gosto de andar de bicicleta tranquilamente. É a melhor maneira de conhecer uma cidade. Zero poluição, zero trânsito e zero gasto. Agora, após três meses, posso dizer que, sim, eu me sinto muito bem em Fortaleza. No início, todas as pessoas me diziam: “Cuidado! A cidade é perigosa. Alguém vai vir te assaltar”. Fiquei um pouco com medo. Contudo, agora ando tranquilamente. Na minha visão, a gente deve se apropriar da cidade. Viver com


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ŹDaniela na Arena Castelão

medo na sua cidade não é uma vida para mim. Eu vejo todas as pessoas vivendo numa prisão dentro dos seus condomínios fechados com segurança. Não saem nunca, o que é muito estranho para mim. A vida acontece do lado de fora, encontrando gente na rua. A gente deve se apropriar do lugar público e não deixar o medo, a violência se instalarem. Gosto muito de ir ao centro cultural do Dragão do Mar. Adoro os filmes alternativos que passam lá e as exposições também. 4. Quais são para vocês as diferenças mais visíveis em relação à Europa – o dia a dia na cidade e na universidade/ no hospital?

ŹRapahel e amigos no Carnaval de Olinda

Daniela: O Brasil funciona de uma maneira completamente diferente da Alemanha! As pessoas não andam de bicicleta para o trabalho e não andam na rua. Fazem qualquer viagem de carro ou de Uber. O contraste entre ricos e pobres é chocante. A desigualdade social que observamos na Europa não se compara com que eu vi no Brasil. São praticamente duas sociedades: os ricos que podem fazer tudo, uma classe média muito pequena e muitas pessoas miseráveis. Foi muito difícil para mim de ver isso. A família brasileira é uma instituição. Os estudantes vivem em casa até começam a ganhar dinheiro e quase não saem da casa dos pais. Na Alemanha, os filhos saem de casa mais cedo. Os brasileiros são muito descontraídos e abertos. Tudo mundo que toca no braço. O contato corporal entre as pessoas é muito normal. No hospital, a relação médico-paciente também é muito cordial, menos fria que na Alemanha. O médico não dá apenas um diagnóstico, mas também tenta consolar e dar esperança ao paciente. As relações entre os funcionários do hospital também são muito cordiais. Fui recebida de braços abertos na Santa Casa.

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Raphael: A maior diferença entre o Brasil e a Europa é a desigualdade social que existe aqui. Há dois extremos: muito rico e muito pobre. Isso cria violência, faz que as pessoas queiram roubar os outros. Há mais liberdade e segurança na Europa, onde você pode andar tranquilamente. Não temos condomínios fechados. A faculdade aqui é mais puxada que a de Portugal. Em Portugal, podemos usar os slides das aulas para estudar. Aqui você deve ir à biblioteca e pesquisar as informações nos livros. No início, escolhi várias cadeiras. Minha agenda estava tão cheia que eu não tinha tempo livre algum. Como as disciplinas não seriam validadas pela minha universidade em Portugal, eu desisti de realizá-las. Agora estou só fazendo estágio na clínica escola, todos os dias da semana, à tarde. No estágio, temos mais liberdade. A professora Germana tem muita confiança em mim e me deixa fazer os tratamentos com os pacientes. Infelizmente, a piscina de hidroterapia não é muito usada na reabilitação de pacientes.

ŹRapahel e Florent com Profa. Germana - se preparando para o Carnaval


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Raphael: Adorei o pré-carnaval aqui em Fortaleza, com muita festa em diferentes lugares da cidade (Rua do Gato Preto, Mercado dos Pinhões, Cidade 2000, Estoril), mas o carnaval em Olinda foi realmente incrível. Adorei esse ambiente com muita alegria e festa na rua. Além disso, achei a cidade muita bonita com a sua arquitetura colonial e a sua praia.

ŹEstudantes franceses Raphael e Florent na biblioteca da Unichristus

Os estudantes da Unichristus estudam demais. Acho que a universidade deve mudar esse parâmetro se quiser receber mais intercambistas. Deve tentar adaptar os horários para que os estudantes de intercâmbio tenham também tempo para aproveitar a cultura do país. 5. Qual foi a experiência mais surpreendente ou interessante para você aqui? Daniela: No primeiro dia do meu estágio, um dos professores foi cumprimentado por uma interna com o beijinho na testa! Na Alemanha, esse gesto seria considerado assédio e não carinho para com a pessoa. Gostaria de ter um pouco mais desse lado humano nos hospitais na Alemanha. Afinal, a medicina é feita para os seres humanos!

6. O que você gosta particularmente no Brasil? Qual parte da cultura brasileira você gostaria levar para casa? Raphael: Tenho muita admiração pelas pessoas que todos os dias vão fazer alguma coisa para ganhar dinheiro. Pessoas que estão na rua para vender caipirinha, pipoca, algodão doce ou colher latas de alumínio. Penso que há uma determinação de sobreviver e de fazer algo para ter um papel dentro da sociedade. Admiro a coragem dessas pessoas. Daniela: As praias, o mar, a música, a alegria de viver e, acima de tudo, o açaí! O estágio e o mês em Fortaleza foram muito interessantes, mas vou me lembrar, ainda mais, da viagem de ônibus por meio do Brasil que fiz antes do estágio. A viagem de Foz do Iguaçu até Fortaleza faz parte dos melhores momentos da minha vida.

7. Do que você sente mais falta e já está ansioso de rever quando voltar para sua terra? Daniela: Senti muita falta de poder sair de casa andando sem olhar para todos os lados o tempo todo. A falta de segurança é um aspecto muito importante da vida aqui. Muitas pessoas são muito cautelosas e se sentem inseguras. Felizmente, não aconteceu nada comigo, mas havia sempre essa tensão no ar. Além disso, achei um pouco limitada a oferta de atividades culturais e ao ar livre em Fortaleza. Toda a vida social acontece em restaurantes fechados ou em festas de família. Um último aspecto: comida saudável. Nada contra carne e sobremesas de açúcar puro, mas senti falta de vitaminas de vez em quando. Raphael: Andar tranquilamente na rua a qualquer horário da noite ou do dia. Sinto falta da comida também, porque aqui é sempre carne, arroz e feijão. Por fim, vi que, no Brasil, há muitos alimentos geneticamente modificados, principalmente a soja. Na França, nós combatemos essa agricultura nociva para a saúde. Eu gosto de comida saudável. Somos profissionais da saúde, sabemos os benefícios de uma comida saudável para o bem-estar.


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Aula Magna do Curso de Direito: “desacordos morais razoáveis”

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m março último, recebemos o Prof. Me. Cristiano Chaves de Farias para proferir a aula magna do Curso de Direito, a qual versou sobre “Os desacordos morais e os hard cases”. O conferencista – que é professor universitário e promotor de justiça no Estado da Bahia, além de autor na área de Direito de Família – iniciou sua apresentação, destacando a dificuldade de se enfrentar certos conflitos jurídicos particularmente sensíveis aos valores morais. Os desafios se acentuam ainda mais em sociedades multiculturais como a nossa, cujos padrões éticos estão em permanente rota de tensão entre as forças majoritárias e as contramajoritárias, advindas das minorias sociais organizadas. O autor citou uma série de situações polêmicas, como, por exemplo, o caso da manifestação pela legalização da maconha, que objetivava o seu uso como medicamento ou recreação, e que resultou na prisão de manifestantes, acusados de estarem fazendo apologia ao uso de drogas. A questão foi parar no Supremo, que terminou entendendo pela legalidade da conduta dos manifestantes, cuja atuação estaria protegida pelo direito fundamental à liberdade de expressão. Ainda discorrendo sobre hard cases, o autor citou várias decisões de cunho moral controverso, entre elas, a questão em torno do descarte de embriões não fecundados, a qual resultou na posição do STF que autorizou o uso desse material genético para fins científicos em estudos de células tronco. Ao ser entrevistado, o calouro Samuel Pontes Castelo Branco destacou que está tendo o seu primeiro

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Con c ur Repó so rter Cu ltu ral

contato na área do direito, e embora da importância e da esteja muito cedo, possui grande paiinfluência dos vaxão pelo direito penal, pretendendo lores morais no processo de seguir carreira nessa área. Por fim, interpretação do direito brasileiro. Autores vencedores do Concurdestacou a relevância da palestra pela so Repórter Cultural 2019.1: complexidade dos questionamentos Diego Matos de Souza (acadêmico que trouxe à discussão. do 1º e do 2º semestres – Noturno) Por sua vez, Clarice Maria Lara Castelo Pinho Alexandre Studart Mendes Moreira, estudan(acadêmica do 1º semestre – Diurno) te do primeiro semestre do curso de João Paulo Porto Figueredo (acaDireito, declarou, em entrevista, que dêmico do 1º semestre – Diurno) decidiu ir para a Aula Magna, pois já Caio Saraiva G. Cruz (acadêmico tinha referências sobre o palestrante, do 1º semestre – Diurno) e acrescentou: “Achei muito interessante a maneira como ele tratou sobre vários dilemas morais da sociedade contemporânea, a partir de casos politicamente relevantes.” Por seu turno, Silvana Paula Martins de Melo, professora e coordenadora de atividades complementares do Curso de Direito, ponderou: ŹDa direita para a esquerda: Prof. Cristiano “O evento foi de um valor imensuChaves e Diego Matos de Souza (aluno do 1º e rável, porque o palestrante trouxe do 2º semestre) temas muito atuais, voltados às discussões morais, temas polêmicos que estão em pauta no Supremo Tribunal Federal, temas já julgados e outros que têm pendência de julgamento. Então é muito importante, porque a gente consegue unir teoria e prática, além de trazer aspectos filosóficos, e não só jurídicos.” ŹDa esquerda para a direita: Lara Alexandre (aluna Por fim, entrevistamos o pródo 1º semestre - diurno); Prof. Me. Cristiano prio palestrante. Ao ser indagado Chaves (palestrante); João Paulo Porto e Caio Saraiva G. Cruz (alunos do 1º semestre - diurno) quanto ao objetivo de sua conferência, o ilustre autor destacou que o seu maior objetivo não era defender uma determinada posição, mas tão somente despertar nos acadêmicos de direito uma reflexão acerca ŹPúblico da Aula Magna


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artigos

Propriedades terapêuticas do uso regular do kefir na promoção e manutenção da saúde 1. Introdução

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efir é uma bebida obtida pela fermentação láctea por

diversas espécies bacterianas e algumas leveduras que utilizam a lactose como fonte energética. Os grãos de kefir contêm diversas espécies de bactérias dos gêneros

3. Metodologia Foi pesquisado nas bases de dados Scielo e Pubmed sobre o assunto, usando-se as palavras-chave “kefir”, “antiinflamatorio”, “probiótico”, tendo como limite mínimo de tempo de publicação o ano de 2003. Foram achados cerca de 60 artigos, sendo 8 selecionados com as informações de interesse.

Lactobacillus, Lactococcus, Acetobacter, e leveduras Candida e Saccharomyces (CASSANEGO et al., 2017). É um produto de fácil obtenção, uma vez que pode ser proliferado sem recursos especiais. Seu uso é milenar em regiões soviéticas, sendo um próbiótico natural por balancear a microbiota do sistema gastrointestinal, trazendo benefícios sistêmicos para quem o consome. Pelos diversos benefícios que o kefir apresenta, seu consumo está sendo difundido em diversos países, tornando-se um próbiótico popular (PRADO et al., 2015).

2. Objetivo Realizar revisão da literatura disponível sobre as propriedades benéficas do uso regular de Kefir para a saúde.

4. Resultados Quimicamente o kefir apresenta minerais, aminoácidos e vitaminas essenciais para a saúde do corpo. Por esse motivo e por ser de fácil cultivo, seu consumo tem se popularizado por todo o mundo, a fim de se alcançar uma melhor qualidade de vida. Além disso, os benefícios do consumo regular do Kefir vêm sendo estudados no meio científico há alguns anos. Estudos, então, evidenciam a presença de vitamina A, B, C, D, K, E, diversos aminoácidos e mineirais como cálcio e magnésio no produto do kefir. Essas substâncias são importantes para a manutenção da saúde, pois regulam a atividade de diferentes órgãos (OTLES; CAGINDI, 2003). Os principais produtos da fermentação do kefir no leite são ácido lático, CO2 e etanol, portanto indivíduos com intolerância à lactose po-

Victor Tabosa dos Santos Oliveira (Aluno do 5º semestre do Curso de Biomedicina)

Profa. Orient. Márcia Valéria Brandão dos Santos Martins (Docente e Coordenadora de Pesquisa e Extensão do Curso de Biomedicina)

dem consumi-lo sem sofrer de sintomas negativos, já que há ação da enzima lactase durante o processo de fermentação. Há evidências de que seu consumo regular tem importante papel adjuvante no tratamento de câncer, tuberculose, aterosclerose, doenças alérgicas, problemas gastrointestinais, doenças metabólicas e AIDS, uma vez que seu consumo modula o sistema imunológico devido à liberação dos produtos metabólicos das bactérias e leveduras comensais, produção de citocinas antinflamatórias como IL-4, IL-6 e IL-10 e agentes antioxidantes (BARBOZA et al., 2018). Esses microorganismos apresentam grande vitalidade, competem com microrganismos patogênicos por nutrientes e adesão no sistema gastrointestinal e o seu consumo regular provoca melhorias em todos os tipos de desordens intestinais, reduz flatulências e melhora a qualidade da digestão (DIAS et al., 2016). O uso de kefir demonstrou reduzir os níveis séricos de IgE e IL-13 em modelos experimentais de asma em


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camundongos, provocando a melhora dos sintomas alérgicos (LEE et al., 2007). Foram realizados estudos testando a segurança do uso do kefir em diferentes dosagens de colônias, e foi evidenciado que não há alterações hematológicas, bioquímicas ou histológicas nos órgãos, independente da dosagem. Também foi mostrado que não há translocação bacteriana nas víceras pelos microorganismos benéficos do kefir, indicando sua ausência de patogenicidade (DINIZ ROSA et al., 2014).

5. Discussão Foi realizada uma pesquisa bibliográfica sobre os benefícios do uso de kefir como próbiótico e em algumas enfermidades, sendo observado que a competitividade por nutrientes no sistema gastrointestinal por microorganismos benéficos presentes no kefir tem relevância na melhoria da saúde de quem o consome. A mudança de perfil imunológico para Th2, a liberação de citocinas anti-inflamatórias e a presença de substâncias antioxidantes oriundas dos restos metabólicos de bactérias e fungos comensais com o ser humano mostra impacto positivo na melhora de reações alérgicas e inflamatórias em todo o organismo. A ausência de patogenicidade demonstrada em doses altas de kefir também é um fator positivo e incentivante para seu uso regular. Nesse sentido, o kefir pode ser uma opção interessan-

te de próbiótico capaz de ser produzido em casa e com grandes capacidades terapêuticas.

6. Conclusão Tendo em vista os achados literários, foi possível observar que o consumo regular de kefir desempenha benefícios sistêmicos para a saúde de quem o consome, melhorando sua imunidade, digestão e diminuindo o estresse oxidativo.

Referências BARBOZA, K. R. M. et al. Gastroprotective effect of oral kefir on indomethacin-induced acute gastric lesions in mice: Impact on oxidative stress. Life Sciences, v. 209, p. 370–376, Sep. 2018. CASSANEGO, D. et al. Identification by PCR and evaluation of probiotic potential in yeast strains found in kefir samples in the city of Santa Maria, RS, Brazil. Food Science and Technology, n. AHEAD, p. 0–0, 26 Oct. 2017.

DIAS, P. A. et al. Propriedades antimicrobianas do kefir. Arquivos do Instituto Biológico, 2016. DINIZ ROSA, D. et al. Evaluación de la toxicidad subcrónica del kéfir por administración oral en ratas Wistar. Nutrición Hospitalaria, v. 29, n. 6, p. 1352–1359, 2014. Kefir: A Probiotic Dairy-Composition, Nutritional and Therapeutic Aspects. Pakistan Journal of Nutrition, v. 2, n. 2, p. 54–59, 2003. LEE, M. et al. Anti-inflammatory and anti-allergic effects of kefir in a mouse asthma model. Immunobiology, v. 212, n. 8, p. 647–654, 15 Oct. 2007. PRADO, M. R. et al. Milk kefir: composition, microbial cultures, biological activities, and related products. Frontiers in microbiology, v. 6, p. 1177, 2015. SALAZAR ALZATE, B. C.; CORTÉS RODRÍGUEZ, M.; MONTOYA CAMPUZANO, O. Identification of some kefir microorganisms and optimization of their production in sugarcane juice. Revista Facultad Nacional de Agronomía, v. 69, n. 2, p. 7935–7943, 18 Jul. 2016.


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A discussão em torno da obrigatoriedade do voto no Brasil a partir de uma perspectiva multidisciplinar: um relato de experiência

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ramita no Congresso Nacional uma Proposta de Emenda

Constitucional (PEC) que visa tornar o voto facultativo no Brasil. Atualmente, a Constituição da República dispõe que o alistamento e o voto são obrigatórios para os maiores de dezoito anos e menores de setenta anos. Nos demais casos (analfabetos, maiores de setenta anos e maiores de dezesseis e menores de dezoito anos), tanto o voto como o alistamento são facultativos. Nos termos da referida Proposta, o § 1º do artigo 14 da CR/88, caso a propositura seja aprovada, passará a vigorar com a seguinte redação: “Art. 14 [...] § 1º O voto é facultativo para os alistados e o alistamento eleitoral é: I – obrigatório para os maiores de dezoito anos; II – facultativo para os: a) analfabetos; b) maiores de setenta anos; c) maiores de dezesseis e menores de dezoito anos.”. Assim, o que pretende a PEC é acabar com a obrigatoriedade do voto, permanecendo, contudo, a obrigatoriedade quanto ao alistamento. Na justificativa da PEC em comento, o senador autor da proposta argumenta que “Há muito se discute acerca da real necessidade da manutenção da obrigatoriedade do voto” no Brasil. Entretanto, alega o parlamentar, tomando

como base os últimos pleitos elei- Profa. Dra Ana Stela Vieira Mendes Câmara (Doutora em Direito pela UFC. Docente do Curso de torais realizados no Brasil, é posDireito da Unichristus) Prof. M. Sc Yrallyps Mota Chagas sível constatar “[...] que o direito Docente do Curso de de votar já vem sendo exercido (Mestre em Direito pela UFC.Direito da Unichristus) praticamente de forma facultativa, Bárbara Liz Oliveira Vitoriano, Bernardo Lopes de Miranda e Lynara Duarte de Lima tornando letra morta sua obriga(Alunos do 3º semestre do Curso de Direito) toriedade prevista na Constituição e no Código Eleitoral”. Ainda nos termos da referida justificação da Proposta, seCientífica do Curso de Direito da gundo dados da Justiça Eleitoral, Unichristus, um projeto de pesno primeiro turno das últimas eleiquisa intitulado “O voto no Brações gerais de 2014, 27,7 milhões sil e sua relação com a efetividade de eleitores não compareceram da democracia”, coordenado pelos às urnas. Além disso, nesse mesprofessores Ana Stela Câmara e mo pleito, 6,6 milhões de eleitores Yrallyps Mota. “anularam” seu voto e 4,4 milhões A pesquisa é fruto de uma votaram em branco. Nesse sentido, experiência de interação multidistotalizando esses números, mais de ciplinar. Tudo começou quando a 38 milhões de votos foram “invaliProfa. Ana Stela assumiu uma turdados”, valor que representa quase ma de Metodologia da Pesquisa 27% de todo o eleitorado nacional, em Ciências Sociais, após algum que é de 144 milhões de eleitores. tempo sem ministrá-la. Para a doJá no segundo turno, os que não cente, trata-se de uma disciplina compareceram somaram 30 midesafiadora, pois seu conteúdo não lhões, e votos em branco e nulos é propriamente jurídico – o que, 7,1 milhões, mantendo-se a proem princípio, não desperta o inteporção de votos inválidos verifiresse dos alunos. cada no primeiro turno (BRASIL, Diante deste cenário, se2017, online)1. gundo a professora, seria neConsiderando a relevância cessário encontrar formas de deste tema, está em andamento, no envolver os alunos, ressaltando âmbito do Programa de Iniciação o caráter instrumental da disciplina. E a melhor forma que se 1 BRASIL. Proposta de Emenda à afigurou para atingir este objetiConstituição nº, de 2017. Altera a vo foi fazendo com que os alunos Constituição para instituir o voto facultativo nas eleições. Disponível em: praticassem as técnicas e conhe<http://legis.senado.leg.br/sdleg-getcimentos estudados do conteúdo ter/documento?dm=5288272&disposi programático a partir de uma tion=inline>. Acesso em 21 maio 2018. temática de fundo instigante e


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acessível a alunos de primeiro semestre. Assim, considerando as peculiaridades do delicado momento político por que tem passado o país, intuiu-se que transitar com os alunos pelo Direito Eleitoral seria uma estratégia interessante e mobilizadora. A partir desta concepção, o professor Yrallyps – que ministra a disciplina de Direito Eleitoral – foi convidado a participar deste experimento e prontamente aceitou a proposta. Para que os temas estivessem ao alcance dos alunos, realizou-se uma capacitação sobre sufrágio e voto durante as aulas de metodologia e optou-se por analisar uma questão central, atinente à obrigatoriedade do voto no Brasil. A proposta era levar os alunos a campo, para fazer uma pesquisa quantitativa, de natureza exploratória, com o objetivo de saber o que pensavam os eleitores de Fortaleza sobre a questão, para que, ao final do semestre, pudessem analisar os dados e sistematizá-los em um resumo. No sentido de incentivar a dedicação dos alunos às atividades idealizadas, deixou-se aberta a possibilidade de submeter um Projeto de Iniciação Científica para continuar a pesquisa sobre a temática, convidando a participar os alunos que tivessem melhor desempenho durante o semestre. E assim aconteceu. As atividades transcorreram bem e os alunos demonstraram interesse, de modo que se concretizou a continuidade da pesquisa no Programa de Iniciação Científica. Foram selecionados, assim, três alunos para traba-

lhar na análise dos dados de cerca de 1.000 questionários aplicados entre 2018.1 e 2018.2 com os eleitores fortalezenses, estratificados por sexo, idade, renda familiar mensal e nível de escolaridade. No conteúdo do formulário estavam perguntas sobre se o entrevistado tinha conhecimento sobre a proposta do fim da obrigatoriedade do voto, se concordava com esta ideia (e por que). Até o presente momento, a resposta de mais da metade dos questionários já foi sistematizada nos encontros semanais com os professores orientadores, que também têm servido para alimentar leituras e debates sobre a temática. Terminada essa fase inicial, o grupo se prepara agora para intensificar o processo de escrita do artigo científico e a análise dos dados coletados. Para nós, os professores e os alunos envolvidos no Projeto, este tem sido um trabalho gratificante e instigante, pois estamos tendo uma excelente oportunidade de vivenciar a pesquisa na prática, deixando-nos surpreender com a vida real para além daquilo que é mediado pelas interpretações e mundivisões de teóricos. Para a aluna Bárbara Liz Vitoriano, a participação no Projeto de Iniciação Científica, além de contribuir na sua formação acadêmica e no seu engrandecimento intelectual, está lhe proporcionando uma formação social crítica, uma vez que a política, ponto central do estudo, é parte essencial à vida em sociedade. Além disso, segundo ela, o trabalho em equipe está sendo enriquecedor, pois as reuniões ao longo do projeto tornaram-se

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espaço livre para o debate dos mais diversos assuntos. Ademais, a aplicação dos questionários em campo permitiu aos envolvidos no projeto o despertar para uma visão pluralista acerca de certos conteúdos antes restritos ao ambiente acadêmico, o que contribui para a análise da repercussão dos acontecimentos políticos e econômicos na sociedade, compreendendo, pois, o porquê da dificuldade da efetivação da democracia no atual contexto brasileiro. Outrossim, a aluna ressalta que o desenvolvimento do artigo científico está contribuindo para a formação dos alunos envolvidos, já que eles estão aprendendo a trabalhar dados científicos, de modo a desempenharem um trabalho de relevância acadêmica e social. Para o aluno Bernardo Miranda, com o projeto está sendo possível aliar o conhecimento teórico adquirido em sala de aula com a experiência prática já que, ao aplicar os questionários, os alunos passaram a refletir sobre a questão do voto no Brasil atualmente. Para ele, está sendo uma experiência enriquecedora, pois os conhecimentos adquiridos possibilitam o amadurecimento intelectual e profissional dos alunos pesquisadores e os prepara para o mercado de trabalho. Já para a aluna Lynara Duarte, a experiência de ver o desenvolvimento deste projeto e de acompanhar o tratamento dos dados coletados em campo está sendo gratificante. A aluna espera que os resultados da pesquisa possam contribuir para a compreensão do real significado de democracia e da representatividade do voto no Brasil.


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Drogas e mapas afetivos: espaço de ressignificação

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Curso de Psicologia da Unichristus busca adquirir

novos significados para a formação de futuros psicólogos. Nesse sentido, esse trabalho é um recorte do Projeto: Escola Promotora de Saúde, que faz parte do Laboratório de Psicologia do Desenvolvimento e Educação – LAPSIDE, que integra a Proposta de Responsabilidade Social da Unichristus e do Curso de Psicologia, ao propor ações socioeducativas no ambiente escolar, por considerar que a escola pode e deve ser um local de promoção à saúde.

Sendo os princípios de promoção da saúde o empoderamento e a participação social, considera-se fundamental que se resgatem a participação e o protagonismo juvenil nos processos avaliativos e decisórios, e seu poder de influenciar o meio externo com pressão suficiente para mudar conjunturas e cenários políticos. O projeto objetiva interrogar a proposta de uma “Escola Promotora de Saúde” nos processos de construções sociais, coletivas e aplicação prática na contemporaneidade; apresenta-se como uma temática extremamente atual e pertinente para se pensar a Promoção de Saúde.

Clara Luiza Gonçalves Almeida Dias e Caroline Adriane Holanda de Araújo (Alunas do 4º semestre do Curso de Psicologia) Prof. Rafael Ayres de Queiroz (Docente do Curso de Psicologia)

Buscou-se um entrelaçamento entre as ciências sociais, a educação, a saúde coletiva e a psicologia, para discutir e implementar um trabalho de prevenção e informação sobre a temática das drogas na escola. Trabalhou-se com uma população de uma importância ímpar nos processos de subjetivação contemporâneos – os adolescentes – em que emerge uma série de dificuldades que implica o laço social mais amplo, em suas mutações sociais e discursivas, e o laço familiar, com todas as dificuldades encontradas que permeiam o cotidiano escolar.

Percurso Metodológico

ŹEstudantes do Curso de Psicologia: Paulo Artur, Caroline Holanda, Lucas Teixeira, Wanessa Lima, Clara Gonçalves e professor Rafael Ayres.

Com o desenvolvimento desta pesquisa, foi adotado o método da Pesquisa-Ação, porque se considera que existe a convicção de que pesquisa e ação devem caminhar juntas, quando se pretende a transformação na prática. A utilização da pesquisa-ação crítica em uma escola estadual de ensino médio, objetiva, além de descrever ou compreender a realidade escolar e juvenil, transformá-la.


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A Pesquisa-Ação crítica deve ainda gerar um processo de reflexão-ação coletiva, considerando a voz do sujeito/estudante, sua perspectiva, seu sentido e, dessa forma, a metodologia se organiza pelas situações relevantes que emergem do processo. Como mecanismo de efetivação da Pesquisa-Ação, foi utilizado o Instrumento Gerador de Mapas Afetivos. Com esse procedimento metodológico, buscam-se acessar os sentimentos dos estudantes sobre a temática das drogas, por intermédio de desenhos, metáforas e palavras, direcionando uma compreensão do laço-social e a apresentação subjetiva e social das drogas para os estudantes secundaristas. O Instrumento Gerador dos Mapas Afetivos foi composto por desenho, significado do desenho, sentimentos e palavras-sínteses. De início, foi solicitado que os estudantes realizassem um desenho que representasse: “O que é a droga?”. Segundo Bomfim (2003), o desenho permite uma deflagração das emoções e dos sentimentos. Posteriormente, foi solicitado que os estudantes atribuíssem alguma explicação escrita sobre o significado do desenho. A atividade, que foi realizada no mês de outubro de 2018, conta com aprovação no Comitê de Ética sob o Parecer nº 2.955.695. Com duração de três dias, a oficina teve participação de 52 estudantes de uma escola pública estadual, localizada no município de Fortaleza, com 28 participantes do sexo feminino e 24 do sexo masculino. No mo-

mento em que o estudante começa a desenhar sua representação para contemplar a resposta: “O que é droga?”, o Instrumento Gerador de Mapas Afetivos passa a representá-lo, iniciando-se uma comunicação dialética entre o mundo e a história vivida do estudante com sua relação imagética por meio do desenho, conforme destaca Rey: “A expressão do sujeito estudado está em grande medida definida pelo sentido que adquire sua relação com o investigador” (REY, 1997, p. 246).

Mapas Afetivos Bomfim (2010) reconhece o desafio que é trabalhar com emoções e sentimentos. Buscando uma fundamentação epistemológica na obra de Vygotsky (2001), considera-se que os afetos humanos são parte do subtexto da linguagem. Para se compreender o pensamento de uma pessoa, faz-se necessária a compreensão das gênesis afe-

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tivo-volitiva. Destarte, buscar-se-á, com os Mapas Afetivos, alcançar os sentidos, os significados e as representações sobre as drogas que estão veladas. De acordo com Bomfim (2010, p. 131), “As metáforas podem ser formas eficazes de apreensão dos afetos, porque vão além da cognição. Seu alvo maior é a conquista da intimidade”. Fez-se, portanto, uma adaptação do método criado por Bomfim (2010). A atividade de pesquisa teve, como objetivo, promover o debate sobre a temática das drogas por meio dos Mapas Afetivos, estimulando a formação de sujeitos ativos na construção de ambientes educacionais saudáveis, além de ofertar atividades para comunidade escolar, visando à melhoria da saúde no ambiente educacional.

Desenvolvimento A Oficina de Mapas Afetivos baseia-se na interpretação


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por meio de desenhos em associação livre com a pergunta disparadora: O que é droga? O desenho é um objeto de conhecimento como outro qualquer e, portanto, subordina-se à mesma dinâmica de interação entre sujeito e objeto. O desenho pode ser visto, também, como formas de expressão, como meio de expor e demonstrar emoções, sentimentos e pensamentos, além de mostrar o desenvolvimento do indivíduo. Faz-se necessário que um instrumento de pesquisa seja um caminho de reflexão, no sentido gadameriano, em que na transcrição de uma conferência intitulada Educação é Educarse (2000), publicada na Espanha, em comemoração ao centenário de Gadamer, no qual inicia sua fala, dizendo que tentará justificar por que exatamente ele – Gadamer – acredita que o aprendizado só é possível por meio do diálogo

ŹIlustração 01 – Desenhos Cognitivos

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e, a partir disso, ele apresenta uma detalhada reflexão sobre o conceito de formação humana. Nesse sentido, pode-se pensar a utilização dos Mapas Afetivos, como uma perspectiva dialógica quádrupla, entre: 1 - sujeito estudante; 2 - estudante e ele mesmo; 3 - sujeito estudante e o grupo, por meio dos outros desenhos, no momento da socialização; 4 – sujeitos estudantes e a representação social e discursiva promovida pelos desenhos. No processo de análise dos desenhos, observa-se a relação entre os sentimentos em relação à representação/desenho feita pelos estudantes, em que se resumem os sentimentos de: dor, tristeza, angústia, medo, revolta, decepção, agonia, inconformação, pena, empatia, sofrimento, receio, solidão, incapacidade, perigo, nojo, desequilíbrio, falta de respeito, desgosto, choro, violência,

morte, separação da família, abandono, cadeia, solidariedade, compaixão. Bomfim (2010) descreve que os desenhos têm dois componentes, o cognitivo e o afetivo. Os desenhos seguem essa referência, em que pôde ser observada essa articulação, a qual induz que, no desenho cognitivo, foram descritos, por meio do desenho, os símbolos que representavam as substâncias e as pessoas em situação de uso. Nos Mapas Afetivos, observa-se uma concepção mais metafórica e abstrata. Seguem abaixo quatro diferentes desenhos, em que se percebe uma relação cognitiva sobre a substância, dando pouca ênfase à dimensão de significado e aos afetos, conforme destacado nas imagens abaixo (Ilustração 01): Seguindo os quatro diferentes desenhos, na Ilustração 02 percebe-se uma relação

ŹIlustração 02 – Desenhos Afetivos


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afetiva sobre a substância, que dá ênfase aos afetos, incluindo aspectos metafóricos e permitindo uma relação com substância por meio da afetividade. Vygotsky (1998) divide o desenvolvimento em dois níveis: o primeiro é o nível de desenvolvimento real, que é tudo aquilo que a criança consegue fazer sozinha, que pode ser relacionado com alguns dos desenhos desenvolvidos por alunos que participaram do projeto; o segundo seria o nível de desenvolvimento potencial, ou seja, o que a criança não realiza sozinha, porém com a ajuda de um adulto ou um parceiro mais capaz ela consegue realizar. Vygotsky (2001) afirma que a emoção é a reação reflexa de certos estímulos que são mediados a partir do meio sociocultural. As emoções influenciam e diversificam o comportamento; portanto, quando as palavras são ditas com sentimentos, agem sobre o indivíduo de forma diferente de quando acontece. As emoções são divididas em dois grupos, sendo um relacionado aos sentimentos positivos (satisfação, etc.) e outro relacionado aos sentimentos negativos (depressão, sofrimento, etc.). Cada cor, cheiro e sabor despertam um sentimento de prazer ou desprazer, e as emoções despertadas, relacionadas à vivência, têm caráter ativo, servindo como organizador interno das relações, estimulando-as ou inibindo-as (VYGOTSKY, 2001, p. 139).

Conclusões Ao se levantar o tapete da história, observa-se que a escola tem apresentado, ao longo do tempo, diversas significações no que diz respeito à sua função histórico-social. Considerando sua missão e organização, atualmente apresenta-se como um espaço social no qual são desenvolvidos processos de ensino/aprendizagem que articulam ações de natureza diversa, envolvendo seu território e seu entorno. Com o fortalecimento da democracia e da luta pela cidadania no país, o trabalho educativo em saúde, vivenciado na escola, tem avançado por meio da incorporação de novas concepções teóricas da educação e da saúde, assim como na diversificação de seu campo de atuação. A metodologia correspondeu a uma avaliação dialética da afetividade sobre a temática das drogas, assunto importante que deve ser trabalhado e discutido no contexto escolar, fugindo das concepções proibicionistas e restritivas. Por meio da oficina, foi percebida a criação de um espaço de articulação e compartilhamento de experiências e vivências.

Referências ALVES. Rubem. Aprendiz de mim: Um bairro que virou escola. Papirus. São Paulo, 2004. BRASIL. As Cartas da Promoção da Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2002. BRASIL. Programa Saúde na Escola. Decreto nº 6286, de 05 de dezembro de 2007. Brasília: Presidência da República, 2007.

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BRASIL. Ministério da Saúde. Escolas promotoras de saúde: experiências do Brasil / Ministério da Saúde, Organização Pan-Americana da Saúde. – Brasília: Ministério da Saúde, 2007.304 p. – (Série Promoção da Saúde; n. 6) BUSS, Paulo. Marchiori. Promoção da Saúde na infância e adolescência. Revista Brasileira de Saúde Maternal e Infantil. Recife, v. 1, n. 3, p. 279-282, set./dez. 2001. ESPINOSA. Ética. Trad. Tomaz Tadeu. 2ª Ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2008. GADAMER, Hans-Georg. La educación es educarse. Barcelona, Paidós, 2000. HADDAD, Fernando. Prefácio. In: BRASIL. Ministério da Saúde. Escolas promotoras de saúde: experiências do Brasil. Brasília: Ministério da Saúde, Organização PanAmericana da Saúde, 2006. 272p. (Série Promoção da Saúde, n. 6) HELLER, Agnes. Teoria de los sentimientos. 3. ed. Barcelona, Espanha, 1993. ROUSSEAU, Jean Jacques. Emílio ou Da educação. Tradução: Roberto Leal Ferreira. São Paulo: Martins Fontes, 2004 SILVA, Carlos Sousa. Escola Promotora de Saúde: uma visão crítica da Saúde Escolar. In: SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. Departamento Científico de Saúde Escolar. Cadernos de Escolas Promotoras de Saúde - I. 1997. p. 14-20. THIOLLENT, Michel. Pesquisa-ação nas organizações. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2009. VYGOTSKY, Lev Semyonovich Pensamento e Linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1989. VYGOTSKY, Lev Semyonovich. Psicologia pedagógica. São Paulo: Martins Fontes, 2001. ZULMIRA. Áurea Cruz Bomfim. Cidade e Afetividade. Editora UFC, Fortaleza, 2010.


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Procurar, Encontrar e Partilhar

E

m tempos de amizades frágeis e de relacionamentos

superficiais, propomos o itinerário para uma sadia espiritualidade cristã, através dos verbos procurar, encontrar e partilhar. Somos convidados a aprofundar a experiência de amizade com Deus, através de Jesus de Nazaré, nosso amigo, companheiro de clausura e de caminhada missionária, iluminados pela sabedoria do Espírito Santo que nos fortalece no percurso existencial. O texto que segue é uma reflexão escrita por quatro mãos e com dois horizontes interpretativos da experiência espiritual: a visão de uma Monja de Clausura e de um Missionário Educador. O mundo visto da clausura não é restrito e tão pouco vazio de significado; ao contrário, é denso e cheio de valor, por que encontra solidez no silêncio e na contemplação de uma vida, com o olhar fixo naquele que é o fundamento de tudo: “O Cristo, Filho de Deus” (Cf. Mt. 16, 13-23). A visão de mundo do missionário é plural e sempre pautada nas necessidades e exigências que a missão lhe apresenta, principalmente no ambiente acadêmico e complexo como é o mundo científico. As fontes usadas para tal estudo são as Sagradas Escrituras e reflexões de autores que

corroboram com o seu testemunho literário, a solidez de uma vida de amizade com Deus e em prol do bem do próximo.

1. Procurar: “Acaso vistes, vós, o amado de minha alma”? (Ct. 3,3) Nosso ponto de partida é o desejo que existe dentro do ser humano de sentir-se amado e procurar amar. “O teu Rosto, Senhor, eu busco” (Sl. 27,8). O salmista coloca na sua oração a primeira necessidade do ser humano: procurar a Deus e experimentar seu amor. “Faz-me conhecer, Senhor, os teus Caminhos, ensina-me as tuas veredas” (Sl. 25,4). A procura por Deus une todos os homens de boa vontade e todas as energias confluem para um canal chamado: Graça. Mesmo aqueles que se professam não crentes, confessam esse anseio profundo do coração: buscar algo que preencha o seu vazio interior. A mística Edith Stein diz: “Quem procura a verdade, está procurando Deus.” Não tenhamos medo de procurar Deus, Ele está ansioso e procurando nos abraçar. A sabedoria monástica afirma: “O monge não é aquele que encontrou Deus: é aquele que o busca por toda vida” (Regra de São Bento). Buscar a Deus significa pôr-se em relação com ele e permitir que tal presença interrogue a nossa humanidade. Isto significa não estarmos ja-

Ir. Beatriz Maria (Abadessa das Concepcionista de Fortaleza)

Pe. Sóstenes Luna (Doutor em Teologia)

mais satisfeitos por aquilo que alcançamos. Deus nos pergunta incessantemente: “Onde estás”? (Gn. 3,9). A busca de Deus exige humildade: a nossa verdade é revelada pela luz do Espírito Santo e nela reconhecemos que é Deus a procurar-nos primeiro. Mesmo na complexidade do estudo científico e nas dúvidas mais latentes que existe dentro de nós, Deus procura comunicar-se conosco.

2 . Encontrar: “O meu amado é todo meu e eu sou dele”. (Ct. 2,16) Uma das frases espirituais que contagia quem se encontra com os escritos do Bispo de Hipona é: “Tarde te amei, beleza tão antiga e tão nova” (Santo Agostinho). A Igreja, no canto das vésperas do tempo quaresmal e da Semana Santa, introduz o salmo 45 com dois textos da Escritura que parecem contrapostos. A primeira chave interpretativa reconhece Cristo como o mais belo entre os homens: “Tu és o mais belo dos homens, nos teus lábios se espalha a graça”. O segundo texto da Escritura nos convida a ler o mesmo salmo com uma chave interpretativa diversa, referindo-se a Isaias: “Não fazia vista, nem beleza a atrair o olhar,


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não tinha aparência que agradasse” (Is 53,2). Os textos nos provocam a um encontro com Jesus e duas formas de contemplá-lo: Um Jesus feio e disforme e um Jesus belo e gracioso, mais belo que os outros homens. Qual escolha faremos? O que estas duas imagens bíblicas de Jesus nos ensinam? Duas trombetas que soam de modo diverso, mas um mesmo Espírito soprando. A primeira diz: “Belo de rosto, mais que os filhos dos homens”; e a segunda, “Nós o vimos: Ele não tinha beleza...”. Ousamos exprimir diante do Rosto de Deus belo ou desfigurado o nosso desejo de contemplá-Lo com o grito da alma: “Do abismo profundo clamo a ti, Senhor” (Sl 130,1). Jesus, ajuda-nos! Jesus, salva-nos! Jesus, misericórdia! É a tua face que procuramos: desejamos encontrá-la nos irmãos que nos procuram, que se apresentam a nós, nas diversas circunstâncias da vida. Queremos encontrar-nos contigo no silêncio do claustro ou no barulho e agitação da cidade. Queremos encontrar-te e não ficar só contigo, mas apresentar-te a tantos quantos fazem parte de nossas vidas. “Tu és o meu Deus, desde a aurora anseio por ti”! (Sl 62,2).

3. Partilhar: “Minha partilha, Senhor, é guardar as vossas palavras.” (Salmos 118, 57) Quando vemos, degustamos e experimentamos quem é Deus, a riqueza que é Deus, co-

municamos alegria e salvação ao nosso redor. Torna-se realidade a profecia de Isaias: “O Senhor te guiará todos os dias e vai satisfazer teu apetite, até no meio do deserto”. “Ele dará a teu corpo nova vida e serás um jardim bem irrigado, mina d’agua que nunca para de correr” (Is. 58,11). Partilhar o Senhor e permanecer em tal epifania é preciso treinar olhos e coração para saborear a beleza como mistério que envolve e compromete a partilha. É um constante êxodo da tenda da comodidade (Lc 9,33b) para a nuvem itinerante (Lc 9 34b), sinal da presença de Deus na caminhada do povo que, se tivesse se instalado no deserto, não teria chegado à terra prometida e nem sobrevivido (Ex 13,21). Deixar-nos ser tocado, transformado e transfigurado pela Palavra do Pai nos ajudará a discernir os sinais da presença do seu Reino e a encontrar forças para vencer as tentações da alienação e do comodismo que impedem a expansão do bem e a propagação da paz. Somente assim seremos verdadeiramente uma “parábola” de sabedoria evangélica e um incentivo profético para o outro e para o mundo.

Conclusão Escuta-se muito que o ser humano vive cansado e amedrontado. Não seria a síndrome do cansaço e do medo um distanciamento de Deus? Um esvaziamento do ser? Encon-

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trar o sentido da vida passa por encontra-se com Deus e com o próximo. Como posso encontrar-me comigo mesmo, com o outro e com Deus se eu não paro? Se eu não medito? Se eu não faço uma auto- avalição de mim mesmo e de minha relação com os outros e com o Transcendente? Não seria a hora de procurar dentro de sua rotina e de seu corre-corre uma razão para desacelerar? A natureza está com toda a sua exuberância esperando por nós, para contemplá-la e encontrá-la na forma mais genuína de obra criada por Deus. Já observou a beleza das rosas? A singeleza de um sorriso? A multiplicidade das cores dos matizes das rendas e dos tecidos? Não se renda ao medo, não se deixe dominar pelo pessimismo e falta de fortaleza daqueles que se tornaram pessoas cinzentas e sem vida. Partilhe com o outro seu dia a dia e não deixe para amanhã aquilo que você pode partilhar hoje. A vida passa rápido e o tempo é um senhor por vezes cruel. Não deixe seu tempo perder-se com lamentos ou com ócio. Pois, sempre haverá um alguém esperando por você... procure, encontre e partilhe!

Referências Bíblia Sagrada de Jerusalém, Ed. Paulus, São Paulo, 1981. Confissões de Santo Agostinho, Ed. Paulus, São Paulo, 2002. Regra de São Bento, Ed. Subiaco, Juiz de Fora, 1980.


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Percepção dos estudantes de Farmácia sobre as práticas integrativas e complementares ao longo do curso I. Introdução

A

s Práticas Integrativas e Complementares compreendem

um grupo de práticas de atenção à saúde não alopáticas e englobam atividades como a acupuntura, naturopatia, fitoterapia, meditação, reiki, terapia floral, entre outras (GALLI et al, 2012). Apesar de terem surgido na antiguidade, foram redescobertas na atualidade pelo Ocidente, acompanhando a mudança do paradigma do modelo de atenção à saúde (FISCHBORN et al, 2017). Nas últimas décadas, ocorreu um aumento na procura das práticas integrativas como alternativas de tratamento de saúde por pacientes e também pelos profissionais de saúde que voltam sua atenção para a formação nessas práticas. Na atenção básica à saúde, nos anos 70 surgiu a proposta da Política Nacional de Medicina Natural e Práticas Complementares e, em 1978, a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomendou formalmente a utilização dos meios práticos da medicina tradicional/convencional pelos Sistemas de Saúde. Em 2006, foi aprovada a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) pela

OMS (FISCHBORN et al, 2017; GONTIJO & NUNES, 2017). Para o Ministério da Saúde (MS), a implementação das Práticas Integrativas e Complementares ampliou o serviço de saúde antes oferecido apenas no sistema privado, mas agora também oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Desta forma, trouxe novas oportunidades de serviços e saberes para o usuário e profissionais da área de saúde (AZEVEDO & PELÍCIONI, 2012). No entanto, as Práticas Integrativas e Complementares (PIC) sofrem algumas dificuldades para consolidação na sociedade e um dos aspectos dessa não consolidação é a cristalização cultural na sociedade, onde prevalece a visão biológica do ser humano; outra dificuldade é a carência de formação de profissionais de saúde na área das PIC (BARBOSA; MENEGUIM & LIMA, 2013). Apesar do sistema de educação ter passado por transformações legais e institucionais na década de 1970 e pelas mudanças no sistema de educação do ensino superior que ocorreram a partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), em 1996, e pelas Diretrizes Curriculares dos Cursos de Graduação em Saúde (DCN), que foram definidas pela Resolução Nº3 do Conselho Nacional de Educação / Câmara de Educação Superior, no ano de 2001, há dificuldade na formação de profissionais dos cur-

Ivana Gláucia Barroso da Cunha; Elisangela Christhianne Barbosa da Silva Gomes (Docentes do Curso de Farmácia da Faculdade Pernambucana de Saúde (FPS))

Flávia Patrícia Morais de Medeiros (Coordenadora do Curso de Farmácia da Faculdade Pernambucana de Saúde (FPS), Recife-PE).

sos de saúde (BARRETO, 2011 & NEVES et al, 2016). A formação humanizada de profissionais de saúde traz benefícios aos pacientes, entre eles: maior vínculo entre o profissional e o paciente; maior acolhimento com crianças e acompanhantes e familiares dos pacientes; e, ainda, maior integração entre os outros profissionais de saúde (BREHMER & RAMOS, 2014). A inclusão dos conteúdos contemplando as PIC na matriz curricular dos cursos de Farmácia em nível superior de saúde objetiva considerar o indivíduo como ser global, sem perder de vista sua singularidade, quando da explicação de seus processos de adoecimento e de saúde, corroborando para a integridade da saúde (BRASIL, 2006; BARRETO, 2011). Dentro de suas atribuições clínicas previstas nas Resoluções 585/13 e 586/13, o farmacêutico possui a prerrogativa para indicar e orientar os pacientes quanto ao uso destas práticas; sendo assim, faz-se necessária uma abordagem ativa deste tema no decorrer de sua formação.


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Diante deste contexto, buscou-se, através desta pesquisa, analisar a percepção dos estudantes do curso de Farmácia de uma faculdade especializada em saúde sobre a abordagem das práticas integrativas e complementares durante o curso e avaliar os resultados para a promoção de estratégias, com o intuito de executar, de forma sistemática, a construção de competências quanto ao tema durante a formação destes futuros farmacêuticos.

II. Materiais Didáticos O presente estudo foi avaliado e aprovado pelo Comitê de Ética da Faculdade Pernambucana de Saúde, com parecer número 1.796.151. Trata-se de estudo transversal, que foi realizado com os estudantes do segundo ao oitavo período do curso de Farmácia de uma faculdade especializada em saúde no Nordeste do Brasil, no ano de 2017. O questionário utilizado na pesquisa foi composto por 29 questões objetivas divididas em: perfil sociodemográfico (5), dados gerais da pesquisa (8) e verificação sobre conhecimento do tema (16). Foi aplicado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), por período do curso. Após consentimento, foi entregue questionário impresso. Após obtenção dos dados, foi realizada a análise descritiva de todas as variáveis do estudo.

III. Resultados Foram avaliados 54 estudantes, com idade entre 19 e 49 anos, predominando o sexo feminino. A caracterização do perfil dos estudantes entrevistados está na Tabela 1.

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Tabela 1. Distribuição percentual do perfil dos estudantes de Farmácia entrevistados (Recife – PE, Brasil, 2017). VÁRIÁVEL Gênero Feminino Masculino Faixa etária 19 a 23 24 a 28 29 a 33 34 a 38 39 a 43 44 a 49 Renda familiar média 1a3 4a7 8 a 10 maior que 10 Não informado Religião Católico Protestante Espírita Umbanda/candomblé Agnóstico Ateu Não professou nenhum tipo de religião Outros Não informou

FREQUÊNCIA N % 48

89

6

11

31

57,4

12 4 3 1 3

22,2 7,4 5,5 1,8 5,5

26

48,1

21 2 1 4

38,8 3,7 1,8 7,4

26

48,1

14 1 0 1 0 9 1 2

25,9 1,8 0 1,8 0 16,6 1,8 3,7

Entre os estudantes entrevistados, 96,3% afirmaram que em algum momento da graduação o tema sobre PIC foi abordado na faculdade. Destes estudantes, 83,3% identificaram a abordagem nos momentos de debate sobre os temas transversais (exposição), 33,3% em grupos tutorias e 27,7% durante a integração (Figura 01). Figura 01: Resultado referente ao momento na vivência do Projeto Pedagógico do Curso de Farmácia que o estudante identificou ter o contato com as Práticas Integrativas e Complementares.


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Por outro lado, ao serem questionados se conhecem a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC), 53,7% afirmam desconhecer a política e 51,8% não souberam responder se as PIC são oferecidas pelo SUS. Todos consideram importante a abordagem desta temática para sua formação profissional e 66,7% afirmaram que a faculdade deu base suficiente para entender as aplicações das PIC. Quando questionados se já conheciam as PIC antes da graduação, 70,4% afirmaram que não (Tabela 2). Tabela 2. Distribuição percentual da percepção dos estudantes de Farmácia entrevistados em relação à abordagem do tema Práticas Integrativas e Complementares (PIC) durante sua graduação (Recife – PE, Brasil, 2017). PERGUNTAS Em algum momento da sua graduação você identifica que o tema: Práticas Integrativas e Complementares (PIC), foi abordado? Você tem conhecimento da PNPIC? Estas práticas são oferecidas pelo SUS? Você acha importante a abordagem do tema Praticas Integrativas e Complementares (PIC) para a sua formação profissional? Você acha que em sua formação, a faculdade deu base suficiente para entender as aplicações das práticas elencadas na PNPIC? Você já havia ouvido falar nas Práticas Integrativas e Complementares antes da graduação?

RESPOSTAS / FREQUÊNCIA (%) SIM NÃO NÃO SEI S.R. 96,3

3,7

-

-

42,6

53,7

-

3,7

38,8

3,7

51,8

5,8

100

0

-

-

66,7

33,3

29,6

70,4

*Legenda: S.R = sem resposta; PIC = Práticas Integrativas e Complementares; PNPIC = Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares; SUS = Sistema Único de Saúde.

IV. Discurssão Os resultados desta pesquisa mostram que a graduação foi fundamental para propiciar o contato dos estudantes com as Práticas Integrativas e Complementares. Além disso, percebeu-se que através deste contato os estudantes puderam reconhecer a importância que este conhecimento representa para sua formação acadêmica. Estes resultados se opõem ao encontrado por TRIPPO et al (2017), que entrevistou 56 estudantes da saúde com o objetivo de avaliar a concepção e o conhecimento dos estudantes de saúde acerca da Política Nacional e Práticas Integrativas e Complementares e sua aplicabilidade no SUS e observou que 66,1% dos estudantes relataram que nunca foram esclarecidos sobre a existência e aplicabilidade destas práticas por profissionais de saúde e em sua formação acadêmica. Também foi possível observar que a maioria dos estudantes afirmam que antes da graduação nunca haviam ouvido falar nas PIC’s. Estes resultados corroboram com o estudo de TRIPPO et al (2017), no qual observou que 67,9% dos estudantes entrevistados também relata não ter ouvido falar da existência da


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PNPIC, como também não sabia o que eram as práticas integrativas e complementares. No estudo realizado por KÜLKAMP et al. (2007), no qual foram entrevistados 197 estudantes do curso de Medicina, a maior parte dos estudantes afirmou conhecer as práticas complementares, porém a origem deste conhecimento, na maioria dos casos, não decorreu de uma fonte acadêmica. Entre os profissionais também se observam resultados semelhantes, estudo com 177 médicos e enfermeiros mostrou que 88,7% dos participantes da pesquisa desconheciam as diretrizes nacionais para a área e todos concordaram que essas práticas deveriam ser abordadas durante a graduação (THIAGO; TESSER, 2011). FISCHBORN et al (2016), em seu trabalho, verificaram que para o fortalecimento da PNPIC é necessária uma harmonização entre o que é visto na formação pelos futuros profissionais de saúde e o que é definido como assistência e serviço pelo SUS. Além disso, este formato também promoverá e fortalecerá a integração entre o ensino e o serviço do SUS, culminando em benefícios para os usuários e familiares.

Com base nos dados, nota-se a necessidade do aprofundamento sobre o tema, uma vez que os estudantes relatam desconhecer a PNPIC e sua funcionalidade no SUS. Apesar de passados 12 anos da implementação da PNPIC, as Práticas Integrativas e Complementares ainda estão em processo de consolidação, sendo ainda pouco conhecidas, em toda sua abrangência, por boa parte da população e ainda pouco utilizadas pelos profissionais de saúde, restringindo-se muitas vezes a aplicação da fitoterapia, homeopatia e acupuntura. Vale destacar que o desconhecimento sobre as terapias complementares pode ser responsável por conceitos equivocados, o que pode vir a comprometer tanto a relação médico-paciente, quanto a relação entre o médico e os demais profissionais praticantes dessas especialidades (FONTANELLA et al. 2007; THIAGO; TESSER, 2011 e GALHARDI et al. 2013). Entretanto essa realidade vem sendo alterada nos últimos anos, em virtude da busca cada vez mais frequente de alternativas ao elevado nível de medicalização observado na população. Os resultados da pesquisa desenvolvida por THIAGO e TESSER

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(2011), com o objetivo de analisar a percepção de médicos e enfermeiros das equipes de Saúde da Família de Florianópolis sobre as PIC, sugerem que há apoio destes profissionais para a implantação das práticas. Ainda nesse contexto, FAQUETI e TESSER (2018) avaliaram as percepções de usuários sobre o uso institucional de Medicinas Alternativas e Complementares (MAC) nos centros de saúde de Florianópolis, demonstrando a importância que representam para a atenção primária à saúde. Os autores sugerem que diante da vasta aplicabilidade e efetividade das práticas integrativas e complementares, elas podem ser um tratamento alternativo inicial em parte significativa dos casos, ficando o convencional como retaguarda para uso posterior, se necessário, ou complementar ou único em outras situações. Para tal, destacam a necessidade da capacitação e aprimoramento do profissional de saúde que irá desempenhar esta função.

V. Conclusão A pesquisa demonstrou que a inclusão das PNPIC na matriz curricular dos futuros profissio-


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nais farmacêuticos é importante, também devido aos seus preceitos, dos quais se destacam o cuidado humanizado, integral e continuado do indivíduo. Além disso, trouxe como reflexão ao Núcleo Docente Estruturante do Curso de Farmácia um pensar em estratégias educativas de promoção destes saberes, visto que o aplicado atualmente mostrou fragilidades, considerando que o conhecimento por parte dos estudantes acerca da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares, sua inserção no SUS e as práticas contempladas ainda se encontram superficiais.

Referências AZEVEDO, E.; PELÍCIONI, M.A.F. Práticas Integrativas e complementares de desafios a saúde. Trab. Edu. Saúde, Rio de Janeiro, v. 9, n. 3, nov 2011/ fev 2012, p. 361-378. BARBOSA, G. C.; MENEGUIM, S.; LIMA, S. A. M. Política nacional de Humanização e formação dos profissionais de saúde: revisão integrativas. Rev. Bras. Enferm, Brasília, v. 66, n. 1, jan/fev, 2013, p. 123-7. BARRETO, A. F. Integridade e saúde: epistemológica, política e práticas de cuidado. Recife: Ed. Universitária da UFPE, 2011. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção e Saúde. Departamento de Atenção Básica. Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS. PNPIC-SUS. Brasília: MS, 2006, 92p. BREHMER, L. C. DE FRIAS.; RAMOS, F. R. S. Experiências de integração ensino-serviço no processo de formação profissionais em saúde: revisão integrativas. Rev. Eletr. Enf. [Internet], v. 16, n. 1, jan./mar, 2014, p. 228-37. Disponível em: http://

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Letramento(s)

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lá, leitor, tudo bem? Começo esse texto buscando

abertamente um diálogo com você, por entender que “dialogando a gente se entende”. Se concorda comigo, responderá, pelo menos intimamente, a minha estratégia na frase inicial do texto e, na sequência, me acompanhará aqui, buscando compreensão sobre o que está escrito. Vem comigo? Então, vamos juntos. Pergunto: você se lembra de já ter lido ou escutado uma frase dizendo “Fulano é bem letrado”, ou mesmo “Fulano é muito letrado”? Caso tenha se lembrado, creio que estará bem mais próximo de compreender rapidamente o tema desenvolvido nesse texto. Caso não tenha chegado a sua mente nenhuma situação na qual a frase tenha sido empregada, não há problema: siga meu discurso e a compreensão se fará, creio. Um indivíduo letrado, ensina-nos o Novo Dicionário Aurélio Eletrônico 2, é aquele “Versado em letras; erudito”. Simplificando, toda pessoa que “sabe muito”, relacionado esse saber ao domínio de língua(s) em seus pormenores e ao uso que dela(s) faça com adequação e facilidade. Mas não só: uma pessoa letrada, então, precisa ter seu conhecimento (re)conhecido como amplo e consistente, porquanto ser ela culta,

douta, ilustre, sabedora. O que deve fazer, então, alguém que queira ser (re)conhecido como letrado? Resposta óbvia: “letrar-se”, para saber, ter conhecimento(s). E como se “letra” uma pessoa? Possibilitando-se, por toda sua vida, desde a primeira infância, acesso a conhecimentos dos mais variados, no sentido de que a erudição vá se construindo em processo, aos poucos, mas de maneira sólida. Perceba, leitor, que conhecimento pode ser adquirido em todo e qualquer lugar por onde se ande, ocorrendo de maneira informal e de maneira formal. O lugar de prestígio onde se costuma viabilizar conhecimentos de maneira formal é a escola, espaço para o qual são conduzidas as crianças tão logo seus pais entendam ser já possível deixá-las para adquirirem muitos saberes. É na escola que boa parte das crianças entra em contato, pela primeira vez, com estudos sobre leitura e escrita, e mesmo muitos outros de inquestionável importância; meu foco aqui, porém, se limitará a essas duas ciências valiosíssimas, cuja aquisição torna-se primordial para a melhor existência na sociedade em que vivemos, posto que implacável com aqueles sem o domínio delas. Chego, então, ao letramento. Esse termo é ainda hoje muito “afeito” a academias, embora já presente nas escolas, devido a materiais didáticos de língua materna que o utilizam; entretanto, não é popular

Por: Sérgio Araujo Mestre em Literatura brasileira. Professor nos cursos de Administração, Ciências Contábeis, Engenharia Civil e Engenharia de Produção na Unichristus.

(no sentido de estar em amplo domínio público), embora esteja diretamente relacionado a processos de aquisição de leitura e de escrita em âmbito de práticas sociais. Soares (1999, p. 18) define letramento como “o resultado da ação de ensinar ou de aprender a ler e escrever: o estado ou a condição que adquire um grupo social ou um indivíduo como consequência de ter-se apropriado da escrita”.3 Essa apropriação, no entanto, implica não somente ter o conhecimento sobre ler e escrever, mas o saber fazer uso de ambos em práticas sociais, segundo nos sinaliza a mesma autora: [...] porque só recentemente passamos a enfrentar esta nova realidade social em que não basta apenas saber ler e escrever, é preciso também saber fazer uso do ler e do escrever, saber responder às exigências de leitura e de escrita que a sociedade faz continuamente – daí o recente surgimento do termo letramento [...] (SOARES. 1999, p. 20).

Indo por partes, então, leitor, na busca da mais ampla compreensão. Primeiro ponto: o resultado da ação de ensinar a ler e escrever se constrói, em nossa sociedade, como tare-


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fa de um dado professor, em uma dada escola, favorecendo o “aprender” de seus estudantes nesses dois conhecimentos específicos. Essa é a tradição – apesar de tantas mudanças já ocorridas em nosso sistema educacional. Professores ensinam e estudantes aprendem. Segundo ponto: o estudante, por decorrência de sua aprendizagem mediada pelo professor, uma vez que já saiba ler e escrever, deve desenvolver novas habilidades para pôr em prática suas capacidades em leitura e em escrita na busca de vários outros saberes. Praticar leitura e escrita, em outras palavras, em ocorrências sociais: lendo jornais, revistas, HQ, livros de literatura, livros didáticos, livros acadêmicos...; escrevendo bilhetes, cartas, fábulas, crônicas, verbetes, e-mails, mensagens eletrônicas em redes sociais... Eis, então, caro leitor, uma ideia do que seja letramento. Da maneira como aqui estamos abordando, o letramento é algo que tem início na primeira infância – nessa fase a criança pode não saber ler, mas estará exposta a situações e ambientes de letramento 4 – e, admitido como “processo”, jamais terá fim, posto que os que se letram, via de regra, nunca se afastam de situações e de ambientes onde possam se letrar mais e mais e mais... Aquele que se alfabetiza, aprende a ler e escrever e vai mais além em seu processo de aquisição de conhecimentos, fazendo uso de sua competência

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em leitura e em escrita na vivência de práticas sociais cotidianas, difere daquele que não lê nem escreve. A sociedade confere privilégios ao primeiro, tenta manter no ostracismo o segundo; nela, o letrado costuma ter melhores condições sociais, financeiras, culturais, políticas..., enquanto o iletrado, via de regra, amarga condições infinitamente inferiores. Novamente Soares (1999, p. 36 – 37) nos informa sobre o letramento: Estado ou condição: essas palavras são importantes para que se compreendam as diferenças entre analfabeto, alfabetizado e letrado; o pressuposto é que quem aprende a ler e a escrever e passa a usar a leitura e a escrita, a envolver-se em práticas de leitura e de escrita, torna-se uma pessoa diferente, adquire um outro estado, uma outra condição. Socialmente e culturalmente, a pessoa letrada já não é a mesma que era quando analfabeta ou iletrada, ela passa a ter uma outra condição social e cultural – não se trata propriamente de mudar de nível ou de classe social, cultural, mas de mudar seu lugar social, seu modo de viver na sociedade, sua inserção na cultura – sua relação com os outros, com o contexto, com os bens culturais torna-se diferente.

Veja, leitor, o exposto confirma a máxima que diz “Educação deve ser para todos”; caso contrário, aquele que não se educa, corre sérios

riscos de pagar não uma, mas várias penas. Entenda, então, o quanto pode ser valiosa uma escola, quando erigida e mantida sob fundamentos irrepreensíveis no que se refere à formação de seus educandos, os quais precisam se desenvolver para a vida e, certamente, para a vida em sociedade. Uma faculdade isolada, um centro universitário, uma universidade são também uma escola, cada uma com suas próprias características de existência. Quanto à função a ser desempenhada por cada uma, pode-se afirmar que são coincidentes, uma vez que formadores de estudantes a se transformarem em profissionais qualificados para exercerem papéis profissionais em suas áreas de interesse. Se forçarmos uma comparação entre as instituições superiores de ensino e as escolas de educação básica, claro que observaremos diferenças de nível de escolaridade naquela em que estará inserido o estudante, diferenças essas existentes, por motivos, digamos, óbvios; contudo, em todas, letramentos advirão. Igualmente em todas elas uma preocupação deve ser basilar: a formação da pessoa para a vivência em sociedade, desde os primeiros momentos escolares na infância até a graduação no ensino superior – e mais além, posto que, quem busca ampliar seus conhecimentos em níveis de pós-graduação também vivencia momentos de letramen-


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tos, entretanto, nessa etapa, mais avançados. Ratificamos: no ensino superior também existem letramentos. Generalizando, o aluno da educação básica deve letrar-se em português, matemática, ciências, história, geografia, literatura, filosofia, sociologia, entre algumas mais disciplinas a exigirem do formando práticas sociais nas respectivas áreas; já o discente, no ensino superior, deve letrar-se por meio daquelas disciplinas pertinentes ao curso de sua escolha, ampliando suas práticas sociais por meio da leitura e da escrita, cujos resultados poderão levá-lo a uma atuação profissional de sucesso pautado em suas competências. Sendo o letramento “Resultado da ação de ensinar e aprender as práticas sociais de leitura e escrita, o estado ou condição que adquire um grupo social ou um indivíduo como consequência de ter-se apropriado da escrita e de suas práticas sociais” (SOARES. 1999), pode-se deduzir que ele não ocorre apenas nos momentos iniciais da criança na escola; conforme já foi dito, o letramento, por acontecer em práticas sociais, realiza-se em todas as oportunidades de uso efetivo de leitura e de escrita, e, bem além delas, nos instantes de utilização de linguagens (orais, imagéticas, pictóricas, corporais...). Posicionando-se sobre a aquisição e desenvolvimento

da linguagem oral e a aprendizagem da escrita, Scarpa 5 (1987. 126-127 apud ROJO 6. 2002, p. 122) diz [...] Não é um processo linear. Ao contrário da ideia razoavelmente difundida de complexidade cumulativa, tão cara à escola, é um processo de construção que envolve idas e vindas, reorganizações, reestruturações não concomitantes de subsistemas, articulações entre eles (...) Em todos os casos, o sujeito está necessariamente presente, assim como o outro, o mundo e a própria linguagem, em interação e inter-relação.

Com as palavras de Scarpa reiteramos a vivência, a experienciação de letramentos nas mais diversas fases da vida (não só estudantil), pois eles ocorrem de maneira processual. Por exemplo, sobrevêm, quando um acadêmico de Direito se debruça sobre a hermenêutica de uma lei; advêm, quando estudante de contabilidade e/ou de administração se instrui acerca do Balanced Scorecard; sucedem, quando discente de engenharia desenvolve conhecimento pertinen-

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te às ferramentas existentes no software AutoCAD, a fim de realizar com maior precisão desenho técnico de sua alçada; incidem, quando um docente formado em determinada área do saber transita por outras não diretamente conexas a essa sua formação. Em obra sua, Ribeiro 7 (2016, p. 72-81) refere atividades de produção de textos escritos – seção PRODUZINDO TEXTOS SOBRE TEXTOS – a partir da leitura de gráficos e infográficos variados; tais atividades exigem que o estudante ponha em palavras sua interpretação (leitura, portanto) do que está posto nas imagens gráficas. Essa ação também implica letramento e pode ser realizada nos vários níveis de educação, evidentemente adaptadas às possibilidades de cada um deles. Dudeney, Hockly e Pegrum8 (2016, p. 17), abrindo a seção UM QUADRO DOS LETRAMENTOS DIGITAIS do livro Letramentos digitais, declaram Estamos preparando estudantes para um futuro cujos contornos


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são, na melhor das perspectivas, nebulosos. Não sabemos que novos postos de trabalho existirão. Não sabemos quais novos problemas sociais e políticos emergirão. Mesmo assim, estamos começando a desenvolver um retrato mais claro das competências necessárias para eles poderem participar de economias e sociedades pós-industriais digitalmente interconectadas. Governos, ministérios da educação, empregadores e pesquisadores, todos apelam para a promoção de habilidades próprias do século XXI, tais como criatividade e inovação, pensamento crítico e capacidade de resolução de problemas, colaboração e trabalho em equipe, autonomia e flexibilidade, aprendizagem permanente. No centro desse complexo de habilidades, está a capacidade de se envolver com as tecnologias digitais, algo que exige um domínio dos letramentos digitais necessários para usar eficientemente essas tecnologias, para localizar recursos, comunicar ideias e construir colaborações que ultrapassem os limites pes-

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soais, sociais, econômicos, políticos e culturais.

Letramento(s), então, como se pode depreender, não é tema referente apenas à época em que a criança se alfabetiza (normalmente em sua infância) e começa a interagir com processos de leitura. Ele se insere no cotidiano das pessoas naqueles momentos em que elas interagem por meio de práticas sociais com o uso de linguagens para estabelecer o adequado e suficiente processo comunicativo. Nesse instante, estamos vivenciando letramento. Onde mais, leitor? Pesquisas podem ajudar a perceber... Vamos?

Notas de fim de texto 1 Francisco Sérgio Souza de Araujo. Mestre em Literatura brasileira. Professor nos cursos de Administração, Ciências Contábeis, Engenharia Civil e Engenharia de Produção na Unichristus. 2 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário Eletrônico Aurélio versão 6.0. 4ª Edição. Atualizada e revista, conforme o Novo Acordo Ortográfico da Língua

Portuguesa de 7 de maio de 2008. São Paulo: Positivo Informática Ltda., s/d. 3 SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. 2. Edição. Belo Horizonte: Autêntica, 1999. 4 Pensando como Soares (1999, p. 24), “a criança que ainda não se alfabetizou, mas já folheia livros, finge lê-los, brinca de escrever, ouve histórias que lhe são lidas, está rodeada de material escrito e percebe seu uso e função, essa criança é ainda “analfabeta”, porque não aprendeu a ler e a escrever, mas já penetrou no mundo do letramento, já é, de certa forma, letrada.”. 5 SCARPA. E. M. (1987) Aquisição de linguagem e aquisição da escrita: continuidade ou ruptura? Estudos Linguísticos, XIV – Anais de Seminário do GEL: 118-128. Campinas: Unicamp/GEL. 6 ROJO, Roxane. Alfabetização e letramento: perspectivas linguísticas. Roxane Rojo (org.). Campinas, SP: Mercado de Letras, 1998. Coleção Letramento, Educação e Sociedade. 7 RIBEIRO, Ana Elisa. Textos multimodais: leitura e produção. São Paulo: Parábola, 2016. 8 DUDENEY, Gavin, HOCKLY, Nicky, PEGRUM, Mark. Letramentos digitais. Tradução Marcos Marcionilo. São Paulo: Parábola, 2016.


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Como ser um bom professor e a superação do definhamento intelectual na universidade: um breve comentário sobre as técnicas de Feynman e Aristóteles para a aquisição e disseminação do conhecimento

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ara ser um bom professor, considero os seguintes pontos

fundamentais: uma profunda compreensão do assunto que será ministrado e uma oratória clara associada a uma boa didática. Certamente, existem outros pontos que complementam esses dois, mas, por ora, detenhamo-nos aos que considero fundamentais. Uma profunda compreensão sobre um determinado assunto é tarefa árdua e que, muitas vezes, demanda anos de estudos e reflexões. Um passo muito importante para essa profunda compreensão é o conhecimento amplo, o geral, uma noção primeira do todo do assunto que se pretende conhecer. Porém, para que um indivíduo adquira um conhecimento amplo sobre qualquer assunto, ele deve saber ler, isto é, deve dominar as técnicas de leitura. Como aqui estamos a falar sobre aqueles que ocupam o cargo de professor universitário, as técnicas de leitura analítica e de leitura sintópica adlerianas são fundamentais para uma verdadeira aquisição do conhecimento [1,2].

Com o domínio de tais técnicas consegue-se avançar solidamente no assunto (que se pretende ministrar em uma aula) e conhecer a sua unidade e, a partir dela, identificar os componentes específicos do assunto. É com a identificação destes componentes e da relação entre eles — a nível da leitura sintópica (o nível mais avançado de leitura) — que um conhecimento profundo sobre o assunto começa a ser formado. A isso tudo, Aristóteles denominava “desenvolvimento orgânico” [3,4,5], que é a identificação da unidade do assunto, a dissecação de suas partes e a percepção de suas interrelações. A aplicação correta das técnicas analítica e sintópica de leitura gera essa tal percepção e o ver-

Mac Gayver S. Castro Mestre em Fisiopatologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP); Doutorando em Ciências Médico-Cirúrgicas pela Faculdade de Medicina da UFC e Professor dos Cursos de Nutrição e Biomedicina da Unichristus

dadeiro entendimento da interconectividade entre as partes, e isso tudo demanda um tempo significativo. É exatamente na aplicação das técnicas de leitura onde a maioria das pessoas que se propõe a entender um determinado assunto desiste e prefere ficar apenas com o conhecimento sobre os aspectos gerais, por si só limitante, pois é superficial. Se contentam com pouco, pois não conhecem e/ou não dominam as técnicas de leitura. Pior ainda, não se interessam em conhecê-las.


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Passado por esta primeira fase (estudos sobre os aspectos gerais e específicos de um assunto com aplicação das técnicas analítica e sintópica), o próximo passo é explicar a um leigo o que, de fato, foi entendido sobre o assunto estudado. Essa etapa é por demais importante, pois, possivelmente, o leigo fará perguntas triviais, bobas, banais e, com isso, você notará — pelo menos tem que ser capaz disso neste momento — os gaps existentes na sua explicação e no seu real conhecimento sobre o assunto. Detectados e analisados tais gaps, revise os aspectos gerais e os específicos do assunto e volte ao passo do desenvolvimento orgânico aristotélico para preencher os espaços que ficaram “abertos” na explicação. Eis, então, a Técnica de Richard Feynman para ministrar uma boa aula e, assim, disseminar o conhecimento sobre um determinado assunto [6,7]. A conjunção da técnica de Feynman com o desenvolvimento orgânico de Aristóteles fará, inevitavelmente, com que você melhore sua oratória e, dessa forma, consiga explicar o assunto de forma flui-

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da e precisa e, muitas vezes, utilizando exemplos simples; o que facilitará, inicialmente, o primeiro entendimento do aluno sobre o assunto. Vale ressaltar também que o melhoramento e o refinamento da oratória são fatores que estão diretamente relacionados ao hábito de leitura. Sinto a necessidade de expor tudo isso, pois tenho percebido a chegada de pessoas ao cargo de professor universitário sem o mínimo preparo necessário. Sob o meu ponto de vista, tal despreparo é o produto de três grandes constatações: (1) falta de experiência, (2) falta de um conhecimento profundo sobre o assunto que se propõe ministrar em uma aula e (3) analfabetismo funcional. Isto quer dizer que pessoas despreparadas e analfabetas funcionais estão tomando as rédeas de uma sala de aula na universidade; e considero que este é um dos grandes fatores vitais para o definhamento do ensino superior no Brasil. Enquanto essas pessoas não perceberem a importância da aquisição de conhecimentos e não a tratarem com seriedade e

de forma profunda — partindo principalmente do desenvolvimento orgânico aristotélico — as universidades brasileiras continuarão a formar analfabetos funcionais, que mais tarde voltarão à universidade como professores, completando e potencializando um ciclo vicioso de definhamento intelectual.

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