Revista União da Ilha 2013

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Escrever sobre a União da Ilha para mim, Tarcio Santos (foto), é fácil, e ao mesmo tempo difícil. Fácil, pois para isso, é só recorrer aos livros e aos fatos que vivi a partir de 1968, quando passei a freqüentar a escola. Difícil, pois pelo amor que tenho por ela, será preciso que recorra às palavras mais bonitas que conheço, para expressar meu sentimento e ainda assim, com certeza, vou ficar com a sensação de que falta alguma coisa. A realidade é que a União da Ilha entrou na minha vida a partir de 1968, quando prestava serviço militar na Base Aérea do Galeão, e num dos fins de semana em que estávamos detidos, um amigo me convidou para dar uma fugida por trás da base, pois queria que eu conhecesse a escola de samba da Ilha do Governador, pois até ali as minhas andanças eram pelo Bafo da Onça e Unidos de São Carlos. Fui e gostei do que vi e ouvi. Gostei da bateria, dos sambas e da forma descontraída e amistosa como as pessoas se divertiam. Senti, de verdade, uma grande vontade de voltar para outros ensaios, só que estava em cima do carnaval e provavelmente só voltaria nos ensaios do ano seguinte. A curiosidade me levou no domingo de carnaval, a ir até a Praça Onze, palco dos desfiles do Grupo Três. O enredo era “A revolução dos alfaiates”. Dentro das possibilidades da escola até que não foi um mau desfile. O importante era que o elo estava formado. Fui à Praça Onze, levado pela curiosidade de ver o desfile daquela escola que conhecera dias antes do carnaval. Nos anos seguintes, fora do Rio não pude acompanhar a escola. Veio 1974 e com “Lendas e festas das yabas”, de Mário Barcelos, a União da ilha foi a campeã do Grupo B cantando o samba de Aroldo Melodia e Leôncio da Silva, o que lhe valeu a tão esperada subida para a elite do carnaval.

Em 1975, a União da Ilha sentiu, pela primeira vez, o gostinho de desfilar no Grupo UM. O desfile foi na Avenida Antonio Carlos, e o enredo “Nos confins de Vila Monte”, de Mario Barcelos, valeu um nono lugar que lhe garantiu a permanência no grupo. Além disso, o samba da escola, de autoria de Cezão, foi considerado o mais bonito daquele ano.


Estava dado o primeiro passo rumo ao que todos os insulanos sonhavam: brigar de igual para igual com as grandes do carnaval. Os desfiles de 1975 e 1976 serviram para que a escola tomasse gosto por desfilar na elite, sem o receio de que poderia ser rebaixada como poderia se supôr. Com a experiência adquirida era chegada a hora do grande salto, e ficar nos primeiros lugares. Não vi o desfile oficial de 1977, pois já como jornalista estava na cobertura do carnaval da Avenida Rio Branco, mas pelo rádio vibrei com os comentários dos companheiros que elogiavam a todo instante a leveza do desfile e o belo samba composto por Aurinho da Ilha, Ione, Waldir da Vala e Ademar Vinhais. O enredo “Domingo”, da carnavalesca Maria Augusta Rodrigues, caiu como uma luva para um desfile que entrou para a história. Lamentei não ter visto o desfile oficial, mas no desfile das campeãs lá estava eu vendo a querida tricolor mostrar, mais uma vez, o que para muitos se tornou o “jeito Ilha de desfilar”. Agora sim, já na manhã de domingo, o povo cantou junto com o grande Aroldo Melodia: “Vem amor Vem à janela ver o sol nascer Na sutileza do amanhecer Um lindo dia se anuncia Veja o despertar da natureza Olha amor quanta beleza O domingo é de alegria No Rio colorido pelo Sol As morenas na praia Que gingam no samba E no meu futebol” E como que por encanto os primeiros raios de sol surgiram no horizonte, como que a aplaudir o belo desfile da União da Ilha do Governador. Aquele desfile nos valeu o primeiro vice-campeonato. Os anos que se seguiram confirmaram a ascensão da escola: quarto lugar, em 1978; quinto lugar em 1979 e outro vice-campeonato com o enredo “Bom, bonito e barato”, de autoria de Adalberto Sampaio.


O samba, de autoria de Robertinho, Edinho Capeta e Jorge Ferreira é mais um dos antológicos da escola. Um novo tempo começou para a escola em 1981, com a compra do terreno da Estrada do Galeão, 322, onde veio a ser erguida a nova quadra, sonho antigo de todos que desejavam a grandeza da União da Ilha. Considerada uma das maiores do Rio a quadra da União da Ilha virou, a partir de 1982, presença obrigatória de sambistas de todos os pontos da cidade. Grandes finais de samba enredo aconteceram na nova quadra com lotação que superou todas as expectativas. Foi assim em 1984, 1985, 1988 e 1989. Não faltava mais nada: o tão sonhado título era uma questão de tempo. E pelo menos em duas oportunidades o grito de CAMPEÃO faltou pouco para sair da garganta dos insulanos. “Festa profana”, de Ney Ayan, em 1989 nos valeu um terceiro lugar que bem poderia ser o primeiro, se houvesse um pouco mais de boa vontade por parte dos julgadores. O samba de Jorge Brito, Bujão e Franco foi o ponto alto de um desfile que teve o show da bateria de Mestre Paulão, com os ritmistas fazendo uma apresentação impecável passando por cima de problemas acontecidos antes do desfile. Alegorias, mestre-sala e porta bandeira o samba e a dedicação dos componentes são coisas que não podem ser esquecidas num desfile que marcou época. O sonho quase se tornou realidade em 1994. Para o desfile daquele ano a União da Ilha se preparou mostrando ao seu componente que com a dedicação de cada um a escola poderia deixar a Marques de Sapucaí comemorando o primeiro grande título de sua história. A diretoria da escola, liderada pelo presidente Peixinho, trouxe nomes consagrados para garantir nota máxima em seus quesitos. De saída trouxe de volta, o intérprete Quinho, que em 1993 havia sido campeão pelo Acadêmicos do Salgueiro. Para garantir a nota 10 no quesito mestre-sala e porta-bandeira foram contratados Baby e Paulo Roberto. Com eles veio também o carnavalesco Chico Spinoza, campeão com a Estácio de Sá em 1992, que apresentou o enredo “Abracadabra o despertar dos mágicos”. No desfile tudo funcionou com a precisão de um relógio suíço, e na arquibancada o público respondeu de ponta a ponta ao belo desfile cantando o samba de Almir da Ilha e Franco.


Mas ponto alto do desfile foi, mais uma vez, a bateria liderada por Mestre Paulão com uma exibição digna da tradição da escola. A ousadia marcou a apresentação: em anos anteriores a paradinha levava o público ao delírio, mas naquele desfile a novidade foi o “paradão”, quando os ritmistas deixavam de tocar seus instrumentos para marcar o samba na baqueta para retomar em seguida. A cada vez que se repetia o público ia ao delírio e da arquibancada ouvia-se o grito de “É CAMPEÃ!”. Essa ousadia foi seguida nos anos seguintes por outras baterias. Veio a apuração e mais uma vez o grito ficou na garganta. De qualquer forma chegamos perto. Num determinado momento da apuração a escola ficou em segundo lugar, mas ao final algumas notas mal digeridas acabaram por deixar a tricolor com um quarto lugar. De qualquer forma ficou a consciência do dever cumprido.

Na virada do século aconteceu o que nenhum componente da União da Ilha poderia imaginar. Em 2001 a escola foi rebaixada para o Grupo de Acesso, talvez como um recuo estratégico para um retorno que até poderia demorar, mas que viria graças a força e a grandeza de uma escola que representa uma comunidade de quase 300 mil habitantes. Em algumas oportunidades essa volta se fez por merecer, mas aqueles que decidem o destino do carnaval assim não entenderam e dessa forma nossa escola continuou acreditando que esse momento aconteceria. Tínhamos todos que acreditar. E essa volta aconteceu. Foi em 2010, a volta de quem nunca deveria ter saído do lugar que sempre foi seu. Voltou em alto estilo mostrando “Dom Quixote de La Mancha, o cavaleiro dos sonhos impossíveis”. Como Dom Quixote, a União da Ilha tornou o sonho possível. Voltou, ficou e há de ficar sempre na busca pelo topo mais alto das conquistas. Essa é a União da ilha que conheci a exatos 45 anos por quem me apaixonei e com quem vivo uma intensa relação de amor. Tão intensa, que cada vez que sou solicitado a fazer algo, como este comentário, fico sempre com a sensação de que algo está faltando, tal o desejo de sempre fazer o melhor por minha escola.


Neste ano de 2013 a União da ilha chega aos seus 60 anos de existência. Apesar da idade, cada vez mais jovem, graças a força de seus componentes e uma vida que é rica em personagens que construíram sua história, seus sambas e seus desfiles. Com uma das quadras mais confortáveis e modernas da cidade a União da Ilha está sempre pronta para receber seus componentes e também apta a promover grandes shows da musica popular brasileira. E é com essa força que o Gremio Recreativo Escola de Samba União da Ilha do Governador se prepara para mais um desfile, e com certeza na busca pelo tão sonhado titulo de campeã do carnaval carioca. Por tudo isso, nós tricolores temos muito orgulho de fazer parte da história dos 60 anos da nossa escola.


Corria o carnaval de 1953 e três amigos, Maurício Gazelle, Orphilo Bastos e Joaquim Lara de Oliveira, tiveram a ideia de fundar uma escola de samba que congregasse os amigos que jogavam bola, no time do União, no bairro da Cacuia, Ilha do Governador. A ideia inicial era disputar os concorridos prêmios do carnaval insulano, que contava com escolas como a Unidos da Freguesia, Império da Ligação, Paraíso Imperial e Unidos da Cova da Onça. Nenhuma destas agremiações disputavam o carnaval no centro da cidade. Afinal, eram escolas simples e pobres, com cerca de 100 componentes e estrutura primária. Desfilar “na cidade”, acarretaria gastos que nenhuma destas podia arcar.

Uma assembleia, realizada no dia 7 de março de 1953 e composta por 59 fundadores, deu origem ao “G.R.E.S. União”. Maurício Gazelle foi eleito o primeiro presidente. A nova escola, que se reunia no armazém de Maurício para planejar os desfiles, teve um início de carreira avassalador. Em 1954, em sua estreia, conquista o título com o enredo ‘Força Aérea Brasileira’, em homenagem à força armada que ocupa grande parte do bairro com seus quartéis. As vitórias sucederam-se. Até 1959, conquistaria todos os títulos dos carnavais da Ilha, obtendo o hexacampeonato. Com tamanho êxito, o passo natural seria a inscrição na Associação das Escolas de Samba, o que ocorreria em 1959, visando o carnaval seguinte. Assim, em 1960, estreia no Terceiro Grupo, na Praça Onze, agora já batizada como “União da Ilha do Governador”.


O tradicional brasão da União da Ilha do Governador merece ser lembrado de forma detalhada, no ano em que nossa agremiação irá comemorar no dia 7 de março de 2013, os seus 60 anos de fundação. De forma exclusiva, a revista oficial da União da Ilha teve acesso a desenhos e documentos históricos, cedidos por Edson Machado (criador do brasão oficial e ex-carnavalesco da agremiação). A partir de agora, você (leitor) poderá conferir detalhe por detalhe das curiosidades desta seção.


A criação do brasão da União da Ilha do Governador surgiu quase no final de 1969, por intermédio de Edson Machado (carnavalesco da escola na época) e contou com a colaboração de Paulo Barbudo. A partir de uma detalhada pesquisa, Edson tirou como base para fazer o brasão da escola , o escudo do time de futebol: União Futebol Clube (que era baseado no escudo polonês) . Dentro do escudo nas cores em azul e vermelho, foi inserido uma lira (representando a música) e um cavalo-marinho (relacionado ao mar), sendo estes, os verdadeiros símbolos da agremiação. Uma faixa diagonal na cor branca, escrito: “União”, serviu para dividir as cores azul e vermelho do brasão. Abaixo, duas tiras (extraídas da representação da região administrativa da Ilha), com a seguinte descrição: “Ilha do Governador” e os louros da consagração. A União da Ilha é a única escola cujo brasão foi elaborado pensando-se nas regras da heráldica; ou seja, todos os elementos têm seu significado.


As cores da bandeira da União da Ilha do Governador foram herdadas também do escudo do extinto time do bairro: União Futebol Clube. O azul simbolizando o céu, o vermelho demonstrando o sangue e a garra e, o branco, representando a paz.


No aniversário de 60 anos de fundação da escola, que será comemorado no dia 7 de março deste ano, relembraremos trechos de sambas inesquecíveis, de alguns “poetinhas da Ilha”, do passado e do presente, que deixaram suas composições marcadas na história de nossa agremiação. Esta seção é dedicada à Elias Januário, primeiro compositor da história da União da Ilha.


Autores: Mundinho e Paulinho Enredo: “O sonho de um sambista” - Ano: 1970 (segundo lugar - grupo B) “Aí é que eu fui acreditar Que aquele sambista da noite era eu Vermelho, azul e branco Representam nossa glória Mas o sonho do sambista é ver o seu nome aclamado na vitória”... Autores: Aroldo Melodia e Leôncio da Silva - Enredo: “Lendas e festas das Yabás” - Ano: 1974 (primeiro lugar - grupo A) “Oiá Oiá Oiá eu Oiá matamba (bis) De cacurucaia zinguê”... Autor: Cezão - Enredo: “Nos confins de Vila Monte” - Ano: 1975 (nono lugar- grupo especial) “Sob o Sol escaldante Gemia o Nordeste de dor Nos confins de Vila Monte Uma triste estória se passou O beato rezadeiro Arrastava a multidão E a fúria do cangaço Assolava o sertão”... Autores: Aurinho da Ilha, Ione do Nascimento, Ademar Vinhais, Waldir da Vala - Enredo: “Domingo” - Ano: 1977 (terceiro lugar - grupo especial) “Vem amor Vem a janela ver o sol nascer Na sutileza do amanhecer Um lindo dia de alegria Veja o despertar da natureza Olha amor quanta beleza O Domingo é de alegria”... Autor: João Sérgio - Enredo: “O Amanhã” - Ano: 1978 (quarto lugar - grupo especial) “Como será o amanhã Responda quem puder O que irá me acontecer O meu destino será como Deus quiser”...

Autor: Robertinho Devagar, Jorge Ferreira e Edinho Capeta - Enredo: “Bom, Bonito e Barato” Ano: 1980 (segundo lugar - grupo especial) “Muito bom O meu bonito é barato Da simpatia, o retrato Do povo no carnaval”... Autores: Didi e Mestrinho - Enredo: “É hoje” - Ano: 1982 (quinto lugar - grupo especial) “É hoje o dia da alegria e a tristeza Nem pode pensar em chegar Diga espelho meu Se há na avenida Alguém mais feliz que eu”...

mundos conhecidos e desconhecidos’” - Ano: 2009 (primeiro lugar - grupo de acesso A) “É nessa que eu vou embarcar É preciso sonhar... Chegou a Ilha! De azul, vermelho e branco (bis) Pintei meu Carnaval! No meu Rio, eu sou cartão postal!”... Autores: Arlindo Neto, Barbosão, Gabriel Fraga, Grassano, Gugu das Candongas, Ito Melodia, João Bosco, Léo da Ilha, Márcio André Filho e Marquinhus do Banjo - Enredo: “Dom Quixote de La Mancha, o Cavaleiro dos Sonhos Impossíveis” Ano: 2010 (décimo segundo lugar - grupo especial)

“A Ilha vem cantar Autores: Franco, J. Brito e Bujão Enredo: “Festa Profana” - Ano: 1989 Mais um sonho impossível… Sonhar Quem é que não tem uma louca ilu(terceiro lugar - grupo especial) são E um Quixote no seu coração” “Eu vou tomar um porre De felicidade Vou sacudir, eu vou zuar Toda cidade”... Autores: Franco e Almir da Ilha - Enredo: “Abracadabra • O Despertar dos Mágicos” - Ano: 1994 (quarto lugar - grupo especial) “Amor! A noite brilha! A magia encanta a cidade Amor! Que maravilha! A Ilha dando um banho de felicidade”... Autores: Márcio André, Djalma Falcão, Almir da Ilha e Dito - Enredo: “A União faz a força com muita energia” - Ano: 2001 (décimo terceiro lugar - grupo especial) “Abre a porta e deixa o sol entrar Quero amanhecer no teu olhar Eu trago alegria, força e calor Hoje o astro rei eu sou”... Autores: Gugu das Candongas, Léo da Ilha, Marcinho, Rafael Bronze e Sardinha - Enredo: “Viajar é preciso: viagens extraordinárias através de



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Comunidade, A palavra que impera esse ano é de otimismo. Vejo em todos os segmentos e dentro de cada coração insulano, a confiança dos grandes campeões, autoestima elevada e orgulho de nosso tradicional pavilhão. Agradeço a dedicação e o trabalho de equipe de todos os funcionários e diretoria, que com muito suor, conseguiram vencer etapas semanais e seguiram fielmente nosso planejamento para o carnaval 2013. Quando nossa querida União da Ilha do Governador começar o seu desfile deste ano, sentiremos muito orgulho e um sabor especial, ao saber que estaremos bem próximos de celebrar nossos 60 anos de fundação, no dia 7 de março. Seis décadas onde fizemos o riso chorar e o choro sorrir, contribuindo junto com todas as escola co-irmãs, a construir a história do carnaval carioca. Parabenizo a nossa comunidade por toda sua raça, canto e empenho nos ensaios técnicos. E posso afirmar com todas as letras, que se comunidade fosse um quesito, também tenho certeza, de que nossa escola obteria nota 10, bem como o bônus de 0,1 concedido pelos jurados a melhor escola. Aposto num excelente carnaval em busca da noite das campeãs. E que a quarta-feira, não seja de cinzas e, sim, de alegria. Um abraço, Ney Filardi Presidente da GRES União da Ilha do Governador


Presidente: Ney Filardi Vice-presidente: Djalma Falcão Coordenação e Desenvolvimento do Projeto: Alexandre Figueiredo, Cesar Nogueira e Gustavo Siqueira Edição de Arte e Projeto Gráfico: Alexandre Figueiredo Redator e Revisor: Cesar Nogueira Jornalistas convidados: Fabíola Ortiz e Tarcio Santos Fotos: Fernando Azevedo, Cesar Nogueira, Marcelo Farias, Ricardo Almeida, Alexandre Vidal e arquivo GRES União da Ilha do Governador Colaboraram nesta edição: Alex de Souza Almir da Ilha Anete Siqueira Assessoria de Imprensa (Cedae) José Carlos de Souza Liesa Lú Motta Luiz Bruno Maria do Carmo Coelho Neise Amargoso Paulo Barbudo Sergio Fabri Ubiraci Moraes Vicente Dattoli Wagner Victer Walter Cerqueira Agradecimento especial: ao jornalista Aydano André Motta (jornalista) e Gustavo Siqueira (diretor de marketing da GRES União da Ilha do Governador) Quadra: Estrada do Galeão, 322, Cacuia Rio de Janeiro - RJ - CEP: 21.931-000 Tel: (21)3396-8169 Barracão: Rua Rivadávia Corrêa, 60 - Cidade do Samba - Barracão 2 - Gâmboa Rio de Janeiro - RJ - CEP: 20.220-290 Tel 2253-6447

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17. Carnaval 2012 18. Ficha Técnica 24. Poster 26. Quadra e Barracão 28. Carnavalesco 30. Fantasias 32. Enredo 36. Samba Enredo 38. Ilha Virtual 39. Entrevistas 52. Família Vinicius 59. Declaração de amor 60. Depoimentos 62. Relicário 66. Charge Aroldo Melodia


Oitava colocada em 2012, a União da Ilha do Governador ousou; misturou chá com cachaça e levou para avenida, o enredo “De Londres ao Rio: Era uma vez uma... Ilha”, assinado pelo carnavalesco Alex de Souza. A comissão de frente “Deus Salve a Ilha”, coreografada pelo competente Sergio Lobato, levou o “Estandarte de Ouro” (tradicional prêmio do jornal O Globo), para a agremiação insulana. A comissão fez demostrações com uma carruagem representando um cortejo inglês e teve a ilustre presença da carnavalesca Maria Augusta, caracterizada como Rainha Elizabeth e do gari Renato Sorriso.

Os atores Eriberto Leão e Letícia Spiller, representaram o “Chapeleiro Louco” e “Alice” (no País das Maravilhas). Já o ex-capitão da seleção de vôlei e medalhista olímpico, Carlão, encerrou o desfile da agremiação segurando a bandeira do Brasil.

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Em setembro de 2012, o presidente da União da Ilha, Ney Filardi, cumpriu mais uma promessa de sua gestão, e inaugurou o sistema de ar condicionado central na quadra. Além disso, o local, que possui sistemas de acústica e iluminação totalmente modernizados, banheiros e bares novos, estacionamento ampliado e espaços adaptados para cadeirantes, foi palco de grandes shows: Alcione, Celebrare, Dudu Nobre, Naldo, Bom Gosto, Revelação, Alexandre Pires, Elymar Santos, Sorriso Maroto, entre outros. E para coroar esse grande ano, o jornal O DIA testou as quadras de todas as agremiações do grupo especial e elegeu a da União da Ilha como a grande vencedora, Nossa agremiação foi julgada em sete quesitos (som, clima, acesso, bebida, limpeza, segurança e preço), e terminou com 66 pontos (que segue abaixo).

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Assistente de dir. de carnaval e coordenador de fantasias: Alexandre Cunha Compras: Claudinho Guerreiro Espuma: Chiquinho e Marco Monte Placas: André (Rato) Arames: Júnior Ateliê reprodução de alas: Bernard, Davi, Luís, Rogério Pacheco, Seu Augusto, Sônia, Tânia e Yves Ateliê reprodução de composição de carro: Anderson, Claudinho, João Vitor e Rogério Pacheco Ateliê de confecção da comissão de frente: Humberto Silva (cenotécnico), Marilda (figurinista) e Ronald Teixeira (cenógrafo) Ferreiro chefe de equipe: Antônio Carlos Ferreira (“Tuninho 70”) Escultor chefe de equipe: José Teixeira e Rodrigo Bonan Eletricista chefe de equipe: Paulinho da Luz

Laminação de fibra de vidro: Claudinho Vime: Carlinhos Espuma: Chiquinho da espuma e Marco Monte Almoxarifado: Moisés Gerador: Omar Espelhos e acrílico: Vilmar Efeitos especiais de fumaça: André Fuentes Hidráulico: Batista Decoração: Anderson, André Cristal, Bernard, Luiz, Seu Augusto e Yves Movimentos: Adson e equipe Carpinteiro chefe de equipe: José Batista Jorge (Castelinho) Pintor chefe de equipe: Cássio Mecânico chefe de equipe: Miquéia e Seu João Coreógrafo(a) de alegorias: Andréa de Cássia (carros 2 e 3), Handerson Big (carros 4 e 6) e Rita de Cássia (carros 5 e 7) Transporte: José Reis

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Tempo passa rápido... Terceiro carnaval na Ilha do Governador... Bem, eu agradeço a confiança do presidente Ney Filardi e de sua diretoria. Eu imaginava um dia fazer a Ilha e consegui, agora terminando mais um carnaval. Parece mentira, como passa tão rápido, e foram anos intensos, cheios de dificuldades e de muito trabalho. O primeiro ano era pra me renovar, casa nova, estilo novo, tudo novo. Desenvolvi um carnaval pensado há uns anos e que era uma proposta bem diferente do que eu já havia feito. Materiais e formas para vestir os componentes de bichos e plantas, porque Darwin estava na história e me dava àquela sensação que só na Ilha eu poderia fazer aquilo.

Apesar dos problemas enfrentados a escola brilhou e conquistou pela segunda vez, desde 1977, seu estandarte de ouro de melhor escola e meu segundo de melhor enredo. Ano seguinte era Londres... Eu amo a cultura inglesa, era quase uma sequência do ano anterior. Eu devaneava entre cavaleiros e astros pop e tinha as olimpíadas como pretexto, de lá e a daqui. Foi uma oportunidade bacana de explorar coisas que só o carnaval me permitiria e acho que pusemos um carnaval muito bonito também. Para o desfile de 2013 da azul, vermelho e branco, trouxe o “Vininha”, Vinícius Poetinha à tona, por seu talento, sua vida e obra. Que ele nos mande bênçãos pra que possamos estar no G6 das campeãs. A Ilha merece!!! Por Alex de Souza Carnavalesco


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Quis dar ao componente da Ilha mais leveza, sem perder o efeito que fez do quesito o mais bem avaliado em 2012. Importante conseguir ser claro na proposta, passando bem o significado adequado ao enredo e conseguir impactar nas formas e nas cores. Algo que me inspirou especialmente esse ano, foi o grafismo, por ser um homem das letras, de ter publicado diversos livros, eu pensei no papel e na tinta, nas artes gráficas, no contraste das cores para definir a linha mestra das fantasias. Palavras, gravuras e até borrões de tinta estão presentes nos figurinos de 2013. A abertura se remete aos anos 20 do século passado quando faço uma alusão á infância e á Ilha da época. Brinco com trajes de banhistas e com pescadores em barquinhos de papel com trechos de ILHA DO GOVERNADOR, o poema. Setor intermediário entre o abre-alas e o segundo carro mostra o surgimento do poeta e do homem politizado. O segundo setor trás personagens da peça ORFEU DA CONCEIÇÃO, mantendo o grafismo aliado ao período arcaico grego como inspiração. Em seguida as premiações pelo filme ORFEU NEGRO e o inicio da BOSSA NOVA. O louvor aos orixás na obra de Vinícius e Baden Powell para o LP AFROSAMBAS é representado por alas que estilizam os trajes das entidades com formas geométricas da arte africana. Os setores relacionados à Ipanema e aos poemas infantis, têm um colorido, leveza e humor que trazem de volta o espírito insulano que tanto sucesso fez em décadas passadas. O último setor é boêmio e nostálgico, tem as cores da noite e da paixão. Por Alex de Souza (carnavalesco)

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Súmula A proposta do enredo é revelar a importância que Vinicius de Moraes, em seus múltiplos talentos, tem na cultura brasileira. Em um país sem memória como o nosso, é relevante manter vivo o culto às verdadeiras celebridades nacionais, principalmente numa época midiática de tão raso conteúdo como esta. A União da Ilha do Governador dedica ao público em geral e principalmente às novas gerações um pouco de quem foi esse ser plural: Escritor, jornalista, diplomata, dramaturgo, crítico e roteirista de cinema, compositor e antes de tudo um Poeta. O desfile começa pela Ilha do Governador dos anos 20 do século passado, de onde ele guardava ótimas lembranças de sua infância. A Poesia sempre presente em sua vida é o fio condutor da história. Sua formação religiosa e suas indagações; os primeiros livros; e a descoberta de um Brasil desconhecido, que a partir de então, muda suas posições ideológicas, encerram o primeiro setor. Na sequência, como autor de teatro, tem em seu maior sucesso, a fusão do mito grego com a realidade da favela, resultando em seu famoso Orfeu da Conceição. Orfeu vira filme: Orfeu negro, uma adaptação da peça, ganha premiações internacionais. Área pela qual sempre foi apaixonado – o cinema.

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Os Afrossambas com Baden Powell. Os festivais da Canção. A temporada baiana e a parceria com Toquinho. Como bom carioca, soube cantar o jeitinho das meninas que passam a caminho do mar. E tem na música símbolo da beleza da mulher brasileira, um sucesso sem igual, dentro e fora do Brasil. O poeta que dedica aos filhos poemas que se tornam canções infantis. O amante das mulheres e da noite. Amigo de seus amigos, que foram tantos: da turma da literatura, dos parceiros musicais e os de toda uma vida. Que alcança postumamente o maior cargo da diplomacia, mas que para nós que o admiramos ele sempre foi o embaixador da paixão. Que reflete sobre a vida e a morte; e se despede como showman que foi, em uma grande celebração. Pedimos benção e saravá!!! Por Alex de Souza Carnavalesco

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A escolha do tema O que me levou a propor esse enredo ao presidente Ney Filardi, foi o gosto que tenho por biografias de pessoas importantes para a cultura e a história do Brasil. Vinícius me proporcionaria material suficiente para traduzir em imagens o tom poético, necessário pra encantar. Além do extraordinário artista, que por si só justifica uma homenagem e de 2013 ser o ano de seu centenário, Vinícius deixou uma série de registros afetuosos, de sua infância a respeito de nossa Ilha do Governador. Nesse ano em que a União da Ilha comemora seus 60 anos de fundação, a agremiação devolve ao poeta o carinho por ele deixado em seus versos e através de sua obra, faz analogias entre sua obra e alguns momentos marcantes de nossa agremiação. Homenagens em vias de mão dupla.

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A parceria formada pelos compositores Ginho, Junior, Vinicius do Cavaco, Eduardo Conti, Professor Hugo e Jair Turra (in memorian) foi a grande vencedora na disputa final de samba-enredo 2013, da União da Ilha do Governador. Os poetas terão sua obra cantada na Marquês de Sapucaí, no domingo de carnaval (dia 10 de fevereiro), com o enredo: “Vinícius, no plural. Paixão, poesia e Carnaval”, assinado pelo carnavalesco Alex de Souza. O evento contou com a presença da diretoria da Liesa e outras personalidades do mundo do samba.

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A internet e as redes sociais conquistam cada vez mais espaço. Junto com a televisão, os jornais e as revistas, apostam na interatividade para ganhar a atenção do público. É dessa forma, que a União da Ilha do Governador vêm obtendo grandes conquistas ao longo desses quatro anos. Criado pelo webdesigner Alexandre Figueiredo, o site oficial da escola (www.gresuniaodailha. com.br) triplicou o número de acessos diários, com suas atualizações diárias de notícias e galeria de fotos. Para comemorar os 60 anos de fundação da escola, no dia 7 de março de 2013, um novo site será lançado, com novo layout, interatividade e outras novidades. Quando o assunto é rede social, a Fanpage oficial no Facebook (ver a página inicial na foto) vem batendo recordes: estamos a caminho das 10 mil “curtidas”, de acordo com o relatório interno, feito no final do ano passado. Entre as fanpages oficiais e não oficiais das escolas de samba do grupo especial, a União da Ilha está posicionada entre as três mais curtidas no ranking e tem tudo para alcançar patamares ainda maiores. O desafio está lançado!


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Enquanto Carlos Drummond de Andrade se refugiava na ilha imaginária de Robinson Crusoé, Vinícius de Moraes se refugiava na Ilha do Governador. Foi lá onde o poeta, na sua infância, adquiriu a força libertária que permeou toda a sua vida e obra. A Ilha do Governador, no Rio de Janeiro, era uma “espécie de ilha da fantasia materializada”, é com estas palavras que o poeta Geraldo Carneiro define a importância da Ilha nos tempos de criança de Vinícius. No Carnaval de 2013, a União da Ilha homenageia o centenário de Vinícius de Moraes com o enredo “Vinícius no Plural. Paixão, Poesia e Carnaval”, de Alex de Souza. Se estivesse vivo, o poeta completaria 100 anos no dia 19 de outubro. A Ilha do Governador era sinônimo de liberdade, afirma Geraldo. Todos que o conheceram foram tocados por seu “espírito libertário” que veio de sua infância. Em entrevista exclusiva com o poeta Geraldo Carneiro que, apesar da diferença de idade, teve a oportunidade de conhecer e tornar-se amigo de um dos mais célebres poetas da literatura brasileira. Vinícius é um dos “orixás da poesia brasileira”, afirma Carneiro. Sua vida era carnavalesca, Vinícius vivia em permanente “estado de Carnaval”, relembra o poeta amigo que na época quando o conheceu era um jovem de 20 anos. “Era impressionante a disponibilidade existencial daquele homem. Vinícius era um sujeito despojado, simples, inteiramente descompromissado com o lado material da vida”. Além de uma vasta obra, Vinícius de Moraes deixou um importante legado para a sua geração e para as gerações posteriores, salienta Carneiro: um legado existencial de liberdade. Uma pessoa com tanta liberdade era capaz de ter um pé no sistema convivendo com as grandes figuras de seu tempo e, ao mesmo tempo, um pé na boemia “absolutamente radical e desenfreada”. Leia a seguir na íntegra a entrevista com o poeta Geraldo Carneiro. (por Fabíola Ortiz)

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União da Ilha: Geraldo, o que acha da iniciativa da escola de samba de homenagear os 100 anos de Vinícius de Moraes? Geraldo Carneiro: É uma ideia tão adequada porque Vinícius foi criado na Ilha do Governador, era o seu jardim de infância. Não haveria escola melhor para homenageá-lo. Ele nasceu na casa do avô na Rua Lopes Quintas, naquele tempo o bairro ainda se chamava Gávea, e depois se mudou para a casa dos outros avós na Rua Voluntários da Pátria, em Botafogo, que era uma rua careta. Já o pai morava na Ilha do Governador aonde Vinícius passava suas férias. Para ele, a Ilha do Governador era sinônimo de liberdade, de fazer arte, pular nos muros proibidos, ficar de olho nas meninas, aprender a nadar, a pescar, as atividades mais lúdicas e prazerosas. Enquanto Carlos Drummond de Andrade se refugiava na ilha imaginaria de Robinson Crusoé, Vinícius se refugiava na ilha propriamente dita. Não tinha metáfora na ilha dele. Foi lá aonde ele adquiriu essa força libertária que a gente conhece de Vinícius hoje. Grande parte desse espírito libertário se deve à infância na Ilha do Governador, uma espécie de ilha da fantasia materializada. A praia de Cocotá 80 anos atrás, deveria ser um lugar paradisíaco.

Geraldo Carneiro: Temos 40 anos de diferença de idade, todos nós que o conhecemos, de alguma maneira, fomos tocados por esse espírito libertário que ele tinha. Eu o conheci levado pelo Paulo Jobim, filho de Tom Jobim. Em 1970 não havia ainda sistema de discagem de telefone à distância e o filho Paulo foi levar notícias do Tom que estava morando nos Estados Unidos a Vinícius. Nós o conhecemos na Avenida Ataulfo de Paiva, no Leblon, e ele estava morando provisoriamente num apartamento. Tinha se separado do sexto casamento com a Cristina Gurjão e estava num apartamento de quarto e sala. Na sala, ele estava no sofá, como se estivesse no Palácio de Buckingham com um bermudão, num verão daqueles senegalescos do Rio de Janeiro, lá morava Vinícius de Moraes e onde recebia as pessoas. Era impressionante a disponibilidade existencial daquele homem. Ele era um sujeito despojado, simples, inteiramente descompromissado com o lado material da vida. Em 1972, já o conhecia mais de perto. Eu namorava a Vera Hime, lembro que fomos visitá-lo e percebi um clima suspeito entre a minha namorada e o Vinícius. Eles haviam sido namorados 10 anos antes. Fiquei me sentindo enciumado e meio corno retrospectivo. Eu era muito jovem, tinha 20 anos, a Vera 35 e Vinícius 60.

União da Ilha: Como foi a sua história com Vinícius? Como o conheceu e em que fase União da Ilha: Qual foi a sua primeira imda vida do poeta? pressão de Vinícius?

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Geraldo Carneiro: Não gostei da primeira impressão, tinha ficado meio enciumado e chateado. Mas fomos ficando amigos, nos encontrando em várias festas com conversa fiada e ele me ensinando truques. Ele gostava de conversar com jovens. Falava muito sobre amor. Quando passava uma mulher bonita ele falava: “Olha que mulher bonita” e dizia com a maior sinceridade. “Fulano... a sua mulherzinha é tão bonitinha”. União da Ilha: O que foi que te despertou na amizade com Vinícius? Geraldo Carneiro: Eu tinha uma grande admiração pelo poeta das canções, pelos seus livros. Quando o conheci, ele já tinha 57 anos. E aos 60 anos, ele falou uma coisa muito engraçada para os amigos: “Neguinho, estou entrando na prorrogação”. O tempo extra do futebol, já passou da hora. Ele não tinha aptidão física, não tinha bebido nem fumado pouco, tinha feito todas as besteiras que conspiram contra a longevidade e, quando fez 60, tomou um susto. Ele era um ser humano disponível para o afeto de maneira até meio patológica. União da Ilha: Como você define Vinícius de Moraes? Geraldo Carneiro: Eu o definiria de uma maneira até piegas, como um ser feito só de amor. Ele tinha essa capacidade de se abismar e se fundir com outro. Era um ser humano movido pelo amor. Um ser que tinha uma permeabilidade total. Vinícius se fundia com a vida e a vida

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se fundia com Vinícius de maneira absoluta sem nenhuma restrição. Ele amava viver, completamente desprovido de preconceitos. Cada vez o compreendo mais e almejo isso. Uma das grandes qualidades da vida é adquirir a capacidade de ser livre independente do que o outro vá pensar. Vinícius assimilava a cultura dos outros. Uma vez ele se casou com uma grã fina e aceitava qualquer roupa que botassem nele. Ele sempre foi meio hippie com qualquer roupa, mas por fora variava conforme o desejo da amada. Eu nunca o encontrei na depressão. Já o encontrei inclusive doente, no final de carreira quando estava com hidrocefalia e, nem nesse momento, ele estava deprimido. Era muito alimentado pela presença do outro que despertava nele a vitalidade. União da Ilha: Que lembranças você tem do amigo? Geraldo Carneiro: Tivemos uma vez um incidente desagradabilíssimo. Ele resolveu gravar uma música que eu tinha feito com 18 anos. Ouviu uma canção minha e do compositor Eduardo Souto Neto, ficou encantado e quis gravar, mas disse que queria mudar um verso no final. Eu disse que não, falei de maneira gentil, mas não quis. “No mesmo dia de sempre / A mesma hora marcada / Do mesmo lado da rua / O cheiro da madrugada / Eu vi a lua vazia / Uma vitrine apagada / Do outro lado da rua / Sentada sobre a calçada/ Os bares quie-


tos da vida / Essa cidade cansada / E esse encontro perdido / Essa tristeza danada / Retomo o rumo de casa / Com um sorriso nos olhos / Você não sabe de tudo / Você não sabe de nada”. Ele tirou o verso “Com um sorriso nos olhos” e colocou “Com a alma reconfortada”. A canção se chamava “Choro de Nada” que depois foi gravada por Tom Jobim e Miúcha. Em 1975, fui para a Itália trabalhar com o compositor argentino Astor Piazzolla em Roma. Eles gravaram na minha ausência e mudaram o verso. Eu não vi que ele queria, na verdade, era tornar-se parceiro através do verso. União da Ilha: Vinícius teve várias facetas, além de poeta, compositor, também escrevia peças de teatro, foi crítico de cinema e ainda atuou como diplomata.... Geraldo Carneiro: Quando o conheci em 1970, ele já era o compositor de “Garota de Ipanema” (1962), um profissional de si mesmo. Mas a duras penas, ele próprio produziu Orfeu da Conceição no Theatro municipal, ficou dois anos guardando dinheiro. Ele lutou, trabalhou loucamente, escreveu cinco mil artigos de jornal e toda espécie de crônicas e críticas. União da Ilha: As mulheres sempre foram uma inspiração para o poeta? Geraldo Carneiro: Sempre, acho que para qualquer poeta. A mulher é uma fonte de inspiração inesgotável. Ele também tinha idolatria pelo álcool, o whisky.

União da Ilha: Muitos associam a figura de Vinícius à Bossa Nova... Geraldo Carneiro: Ele se casou muito bem com o espírito da Bossa Nova. Ele já tinha umas canções anteriores neo românticas e depois fez canções pós- Bossa Nova, Afrosamba, canções de amor com Carlos lira, com Francis Hime e Edu lobo. Ele foi múltiplo na sua criação. União da Ilha: Qual o legado hoje de Vinícius de Moraes? Geraldo Carneiro: Vinícius deixou um legado de poesia extraordinário, uma poesia de altíssima qualidade um dos cinco maiores poetas da nossa literatura, das canções, talvez tenha sido o primeiro poeta que tenha se dedicado às canções de maneira constante e radical. Além de um legado existencial muito interessante de liberdade. Uma pessoa com tanta liberdade, tanta capacidade de manter um pé no sistema convivendo amavelmente com as grandes figuras de seu tempo e, ao mesmo tempo, na margem, na boemia absolutamente radical e desenfreada. Uma mistura impossível e ele conseguiu conciliar pólos dentro da sociedade brasileira.


Ele nasceu sob o signo de Libra e dizem que é o signo da dualidade e ele conseguiu compor dualidades extraordinárias. Vinícius foi muito importante para a sua geração e até para as gerações posteriores. Ficaram estupefatos com a liberdade que Vinícius instaurou na sua vida. Ele era diplomata e acabou sendo exonerado por conta desse exercício permanente da liberdade. Vinícius virou quase uma entidade cuja presença é muito agradável. São Vinícius de Moraes é um santo completamente porra louca, que saiu da vida de pecador para mais pecador ainda. Ele teve uma formação jesuítica cristã e depois saiu para um panteísmo e politeísmo delicioso. União da Ilha: Que tipo de influências ele teve em sua obra? Geraldo Carneiro: Vinícius era filho de Manuel Bandeira, um poeta lírico. Ele ficava furioso quando alguém dizia que Bandeira era um poeta menor. Bandeira nunca teve uma poesia intelectual ou metalingüística, era sempre um poeta dos afetos, do cotidiano, da verdade existencial. Vinícius era apaixonado por Manuel Bandeira. União da Ilha: Vinícius recebeu o apelido de ‘poetinha’... Geraldo Carneiro: Ele, na verdade, era um poetão. Vinícius era poetinha do cotidiano, satisfeito em registrar flagrantes

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do cotidiano. Ele foi um dos orixás da poesia brasileira. A linhagem lírica da poesia brasileira começa a ganhar densidade com Tomás Antônio Gonzaga, no século 18, depois chega a explosão no século 19 com Castro Alves. Não me lembro de um poeta maior do que Vinícius na poesia lírica. União da Ilha: Como era Vinícius na sua religiosidade? Como foi o contato dele com o Candomblé? Geraldo Carneiro: Ele era filho de Oxalá. O contato dele com o Candomblé foi através da baiana Gesse Gessy (a sétima esposa) e da Maria Bethânia que eram amigas e iam à Mãe Menininha do Gantois. Eu sei que ele tinha muito medo de avião e a Mãe Menininha o cobriu de guias e também deu a ele um pó do candomblé, pó de pemba, e disse a ele que sempre que fosse embarcar em uma avião que jogasse em uma planta. Vinicius foi fazer isso no aeroporto de Orly em Paris, na década de 70. Ele foi preso pela polícia que achou que estava fazendo tráfico de cocaína. Naquela época, ele não era mais diplomata. União da Ilha: Para você, Carnaval e Vinícius de Moraes dá samba? Geraldo Carneiro: É uma troca espetacular entre a União da Ilha e a história de Vinícius. Ele vivia em estado de Carnaval. A vida dele era carnavalesca, era um próprio Carnaval.


“Minha convivência com Vinicius era uma festa diária. A criação musical vinha na esteira da nossa alegria”. Em tom de memórias, o músico e compositor Toquinho relembra com carinho os tempos de parceria e amizade com o poeta Vinicius de Moraes que, em 2013, completaria cem anos.

O então jovem músico lembra das inúmeras conversas informais que tinha com o amigo poeta. “Vina, vê esse tema, o que você acha?”, e propunha uma canção. “Eu tinha o que Vinícius queria: uma pessoa com disponibilidade para ficar trabalhando com ele e uma linguagem nova”.

“O homem de maior sabedoria de vida que talvez tenha conhecido”, exalta Toquinho, aos 66 anos de idade, ao voltar no tempo e fazer um mergulho nas lembranças de onze anos em que o poeta e o músico viveram e trabalharam juntos.

As canções “brotavam naturalmente”, destaca, fruto de uma amizade que extrapolara a relação profissional. “Colocávamos a vida na frente da arte”.

“Nasceu uma amizade muito forte em torno da música e do prazer de viver”, conta. Nessa parceria de amor à arte e à vida, foram 120 canções, 25 discos e mais de mil espetáculos. De uma simples proposta de trabalho que surgiu após Vinicius encantar-se com o som do violão de Toquinho, um jovem de apenas 23 anos, para realizar shows em Buenos Aires no ano de 1970, nasceu uma parceria e amizade que duraria uma década até o fim de sua vida. “Ele gostava de ficar em casa, tomar uísque, pegar a máquina de escrever, colocar-se à mesa e ficar saboreando aquela letrinha dele”. O lance de Vinicius, conta Toquinho, era curtir o instante musical, “aquela coisinha de fazer música” e ver a música nascer.

Certa vez Drummond definiu a figura de Vinícius como: “O único Poeta que viveu como poeta”. Vinícius de Moraes tinha o dom de viver na poesia. “Nunca soube viver sem poesia. Ser poeta é uma coisa, mas viver como poeta é dilacerante”. E vaidoso como era, adorava o palco. “Gostava de ser o centro das atenções, mas sabia levar um show com classe, esbanjando charme e bom humor. Vinícius tinha essa coragem de ser simples”. Simplicidade Minha convivência com Vinícius era uma festa diária. A criação musical vinha na esteira da nossa alegria, da nossa amizade, da nossa curtição com a própria música e com a vida. Vinícius era extremamente musical. Com um ouvido interno muito aguçado, era um grande músico, com as harmonias todas na cabeça, apesar de não saber fazê-las nem no piano, nem no violão.

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Ele já salvou várias melodias. Às vezes, enquanto eu treinava no violão, improvisando frases, de repente ele falava: “Tem uma música aí que você acabou de passar por ela”. Aí eu voltava, recuperava a frase e saía uma melodia. Era gostoso chegar para ele: “Vina, vê esse tema, o que você acha?”

charme e bom humor. Aprendi muito com ele a ser comandante de espetáculos e também adoro o palco e as energias que ele proporciona. Sabedoria de poeta Apesar da diferença de idade (mais de 30 anos), jamais enxerguei Vinícius como um pai de postura paternal e protetora. Mesmo porque ele não agia assim nem com os próprios filhos. O lado pai de Vinícius era um aspecto natural seu. A feição de pai surgia por sua grande sabedoria de vida, por saber mais do que a maioria das pessoas.

Ele gostava de ficar em casa, tomar uísque, pegar a máquina de escrever, colocar-se à mesa e ficar saboreando aquela letrinha dele. Ficava ouvindo a fita no gravador: “Toco, toca mais um pouquinho isso aqui”. Aí, eu tocava, fazíamos às vezes dois ou três sambas ao mesmo tempo. Era Talvez o homem de maior sabedoria de vida tudo normal. que eu tenha conhecido. O que me impressionava é que, ao mesmo tempo, quando se via Gosto de ficar em casa tocando violão. E ele gos- diante de uma pessoa muito simples, chegava a tava disso também. Não era nenhum sacrifício se emocionar até os olhos se encherem de lágrifazer o que a gente fazia. Eu ficava acordado mas. Diante de um pescador, por exemplo, ele até de manhã, e ele também. Porque o lance do me falava, emocionado: “Não sei absolutamenVinicius era curtir aquela coisinha de fazer músi- te nada da vida perto de uma pessoa assim”. ca, a vidinha de ver a música nascer. Ficar fecha- Eram essas situações que o tornavam perplexo do em casa, dois, três, quatro dias analisando os e eu sentia que, emocionalmente, ele perdia o detalhes da canção. Depois a gente cantava, e pé, tornava-se uma criatura frágil, com toda a vinha outra, e outro tema, e outra canção, e ou- sabedoria de poeta. tro dia... e a vida seguia, normal e harmoniosa em meio a uma natural simplicidade que se re- Vinícius carregava o tempo inteiro o jovem disfletia na música. posto e disponível, que arriscava nas coisas, que chegava tarde para acordar cedo; que se punha Há muita diferença entre o fácil e o simples. como um Buda, sentado na capota do carro do Para se atingir o simples, é necessário não se (letrista italiano) Sergio Bardotti, em Firenze, na ter vergonha de andar de braço dado com o Itália, dando voltas pela mesma praça, depois de lugar-comum, como dizia o grande Villa Lobos. algumas garrafas de vinho no jantar; que ficava E o Vinicius tinha essa coragem de ser simples. bebendo até mais tarde sem problemas de ressaca no dia seguinte. Muito mais resistente do Eu aprendi com ele a enxergar isso. É a melodia que eu nesse aspecto, ele era uma pessoa muito sem arestas, que entra pelos ouvidos de uma for- mais atirada e solta. ma natural, como andar, sem esforço para gostar. Por outro lado, Vinicius adorava o palco. Vaidoso Na nossa relação, eu era o fio-terra, quem se preque era, gostava de ser o centro das atenções, ocupava aqui embaixo conduzindo as coisas. E mas sabia levar um show com classe, esbanjando ele, o cosmonauta, o voador, que partia mesmo!

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Por mais controvertido que pareça, foi ele quem me ensinou a ser profissional, a respeitar horários, pessoas e valores. Colocava isso em primeiro plano de sua vida, sem dúvida, talvez pelos longos anos (como diplomata) no Itamaraty. Na hora do disco, na hora do show, ele era super-profissional, muito mais do que eu. Isso reflete as contradições desse grande poeta, que se debatia entre livrar-se das amarras da vida e seguir as ordens dessa coisa ilógica que é a própria vida.

inteiro e ele se debatia com ela, sempre suscetível ao enfoque poético das pessoas e das coisas. Para ele, tudo era natural. Vinícius me passou todas essas variáveis humanas.

Quantas vezes fiz parte dessa poesia, desde ter de erguer as calças dele, que, de um tanto largas, caíram-lhe em plena Avenida São Luiz, em São Paulo, e ele não usava cuecas. Tinha ficado nu da cintura para baixo em pleno centro de São Paulo depois de uma das muitas noitadas que fizemos. Eu procurava apreender sua flexibilidade huma- Não dando a mínima, achando-se a verdadeira na. “O cotidiano é a ferrugem da vida”, ele di- poesia concreta daquele burburinho urbano. zia. Essa ferrugem o agredia demais, a ponto de, diante do espelho, começar a fazer a barba de Até ter de enfrentá-lo zangadíssimo numa maum lado do rosto e, depois de dois dias, iniciar nhã. Certa vez acordei, desci para o café, e Vinipelo outro lado. E no dia seguinte, fazer de baixo cius já estava à mesa, fumando, sem levantar os para cima e, no outro dia, de cima para baixo. olhos do jornal. Dei bom-dia, tentei conversar, e Tudo para ludibriar essa ferrugem do dia-a-dia. ele não respondia: “Aconteceu alguma coisa, Vinicius?”, perguntei. Ele olhou-me furioso: “Olha Ao mesmo tempo que odiava esse lado massa- aqui, Toco, se um dia você ousar alguma coisa crante da vida, procurava harmonizar-se com com minha mulher, eu não te mato, porque é tudo isso. Dizia que a bebida o ajudava a en- pouco. Sabe o que eu faço? Te amarro numa cacontrar essa harmonia. Em cada gesto, em cada deira, prendo tuas mãos abertas na mesa, vou passo nos sentidos mais variados, buscava essa martelando dedo por dedo. Para você, esse casharmonia com a periferia dele. Curtia aquelas tigo será pior que a morte. Toma cuidado, pois coisinhas, comer a comidinha preferida, beber farei isso!”. E ele falava ruminando a fúria em um vinhozinho bom, rever os amigos, ocupar a cada palavra. É que durante a noite, sonhara comesma poltrona da sala, o lugar dele, sentar-se migo tentando namorar a Gesse Gessy (sua séà cabeceira da mesa, o patriarca. tima esposa), e vivia aquilo com tanto realismo, sentindo-se traído, como se tudo fosse verdade, Ele era tão coerente, que vivia todas essas contra- pela força da fantasia. Esse era o Vinicius. dições porque não existe coisa mais contraditória que a vida. Em tudo, pois, ele confirmava o que O encontro um dia Drummond disse dele: “O único Poeta Eu estava na Itália, onde passei um longo períque viveu como poeta”. odo em 1969, quando Sergio Bardotti me chamou para participar da gravação de um disco Vinícius nunca soube viver sem poesia, e viveu em homenagem a Vinícius de Moraes. Fiz o solo como poeta. Ser poeta é uma coisa. Mas viver de violão de algumas músicas. O disco ganhou como poeta é dilacerante, arrebenta o homem prêmios e quando Vinícius ouviu, gostou muito por dentro. A poesia o acompanhava o tempo do meu desempenho no violão.

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Em maio de 1970, convidou-me para trabalhar com ele numa série de shows em Buenos Aires, na boate La Fusa, com a participação também da cantora Maria Creuza. Quando me telefonou, eu estava dormindo e minha mãe atendeu. Ao acordar, tinha um recado para ligar para o Vinícius de Moraes. Eu não acreditava, pensava que fosse brincadeira de amigos. Liguei e era ele mesmo! Claro que topei na hora!

mesmo ano, havia outra leva de músicas e gravamos o segundo disco.

O amigo Vinicius No início, pensei que fosse participar daquela temporada em Buenos Aires e mais nada. Mas a partir daí, houve uma identificação muito grande, nós gostávamos das mesmas coisas, nasceu uma amizade muito forte em torno da música e do prazer de viver.

Nesse embalo, compusemos mais de cem canções, gravamos cerca de vinte e cinco discos e fizemos mais de mil shows, sempre amparados por uma amizade carinhosa e muito intensa.

As canções brotavam naturalmente em meio a uma amizade que extrapolou a relação profissional e garantiu uma intensa parceria durante mais de dez anos. Porque colocávamos a vida na frente da arte. A curtição da vida vinha sempre antes, daí surgiam as canções que falam de coisas que o público gosta de cantar, uma poesia A temporada foi um sucesso, gravamos um dis- simples embalada por uma melodia bem estruco do show que é sucesso até hoje. Eu já o ad- turada, gostosa de se ouvir. mirava, claro, como poeta e ele já me apreciava como violonista. A partir desse trabalho passa- Nós íamos com tudo, sem medo de nada. Fomos mos a nos conhecer melhor. os pioneiros das trilhas sonoras de novelas, inauguramos os Circuitos Universitários cantando Naquela altura, eu tinha o que o Vinícius que- para estudantes das capitais e de cidades do inria: uma pessoa que tivesse disponibilidade para terior, viajando por caminhos de todos os tipos, ficar trabalhando com ele e uma linguagem comendo em restaurantes de beira de estrada, nova. Eu era totalmente disponível e motivado dormindo em hotéis precários, enfrentando a ficar do lado dele. Não deu outra, as canções tudo feito menestréis apaixonados pela vida. E começaram a surgir uma atrás da outra. Vinícius cada vez mais jovem e disposto.

Logo que voltamos ao Brasil, fizemos três shows no Teatro Castro Alves, em Salvador, cantando Bossa Nova, samba tradicional, numa época em que predominava o Tropicalismo, o rock, as guitarras, e foi um sucesso incrível! Nesses shows, apresentamos nossa primeira canção: “Como dizia o poeta”. Ficamos animados com aquilo, passei um período na Bahia, na casa de Vinícius e produzimos material para o primeiro disco, em 1971. No

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Tropeços Segundo ele, nossa relação era como um casamento sem sexo. O resto tinha tudo, inclusive brigas, claro. Briga feia, mesmo, houve numa ocasião em que o jornalista Tarso de Castro criou um programa piloto de entrevistas e o primeiro entrevistado desse piloto seria Vinícius. Tarso me chamou para participar junto com outros amigos de Vinicius. Coincidiu que, nesse dia, eu não pude ir e o programa piloto saiu muito ruim. Mais tarde, me encontrou pela madrugada num restaurante e começou a me agredir despejando em mim todos os problemas acumulados duran-


te o dia. Eu retruquei, me levantei e fui embora do poema. Vinícius ficou ouvindo um tempão para não brigar com ele na frente de todos. e não falava nada. Ficava ouvindo no gravador, quieto, fumando, meio indeciso, tentando não Fui para casa, bravo, e fui dormir, pois tínhamos se convencer. E o pessoal já começava a cantar uma gravação para o programa “Fantástico” no na casa. Aí, ele me chamou e disse que não ia dia seguinte, às duas da tarde, com o (diretor de dar mais para o Caymmi. Foi nessa que ganhei o televisão) Nilton Travesso. Acordei em torno do poeta. Deu no que deu: um dos maiores sucesmeio-dia, com sono ainda, e Vinicius já estava sos da música brasileira. sentado à mesa da sala. Passei por ele sem olhar, peguei meu violão fui embora para o “Fantás- Outra canção especial, provocadora de fortes tico”. Chegando na Globo, Nilton estranhou ao emoções é “O filho que eu quero ter”. Estávame ver sozinho. Às duas em ponto chegou Vi- mos no Recife. Um dia, antes de sair para a praia, nícius de táxi. Cantamos, fizemos tudo sem fa- comentei com Vinícius que tinha vontade de ter lar um com o outro. Quando acabamos, botei um filho. E deixei com ele um tema melódico o violão na caixa, troquei de roupa e, já lá em- no gravador. Quando voltei da praia encontrei baixo, no corredor, para ir embora, Vinícius me Vinícius aos prantos, com a música pronta. Ele chamou. Me virei: “Que é que há Vinícius? Vai havia feito uma letra fantástica, emocionante! querer conversar agora? Aqui não dá!”. Então falou me desarmando: “Que é que você tem, Mais recentemente aconteceu um fato inusitaporra? Ih, menino, parece que você brigou com do com outra canção. Na década de 1970, fizeseu pai...”. E ria, ria sem parar. mos uma música, cuja letra se perdeu. Durante anos procurei me lembrar da letra e não conseTinha dado a volta, da volta, da volta por cima, gui. Em 2010, num evento social, em São Paume deixando com cara de bobo. Saímos juntos e lo, aproximou-se de mim uma mulher com um não tocamos mais no assunto. papel amarelado desbotado pelo tempo dizendo que era um presente para mim. Nele estava Parceria musical escrita a letra de “Romeu e Julieta”, canção que É difícil ressaltar as músicas preferidas de uma gravei com Paulo Ricardo e no mais recente CD, obra construída sempre com entusiasmo e pra- “Quem Viver, Verá”, com Anna Setton. zer. Todas as canções têm sua história e marcam por várias circunstâncias emocionais. Homenagem Vinicius merece todas as homenagens possíveis. Eu destacaria “Tarde em Itapoan”, por ter sido a Ser enredo de uma Escola de Samba como a música que consolidou minha parceria com Viní- União da Ilha do Governador, pela importância cius de Moraes. Era um poema já pronto que ele do Carnaval na cultura brasileira, é tudo que alia dar para Dorival Caymmi musicar. Eu estava guém pode desejar. morando na Bahia, na casa dele, “roubei” o papel da máquina de escrever e vim para São Pau- Ah, certamente ele estaria firme, forte e feliz lo para alguns compromissos. Voltei para Salva- em algum carro alegórico sentadinho atrás de dor depois de três dias com a música pronta. Fiz uma mesinha com um baldinho de gelo e um uma melodia perfeita, sem mexer numa sílaba copo inspirador de poesias...

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É melhor ser alegre que ser triste e fazer da vida uma grande brincadeira. Este foi o lema de Vinicius de Moraes que viveu profundamente, amou, sofreu e se doou. O célebre poeta do cotidiano e dos amores e desamores completaria, em 2013, cem anos no dia 19 de outubro. Na sua simplicidade e liberdade, Vinicius era autêntico, honesto com seus sentimentos, seu talento e sua história. “Eram das coisas mais simples e universais que Vinicius sabia falar tão bem. Ele trouxe a renovação, a brincadeira e um outro jeito de olhar o sofrimento, o prazer, o amor e a alegria. E isso tudo de uma forma muito brasileira, ligado às raízes do samba e às matrizes da nossa cultura”, explica a neta Julia de Moraes, 37 anos. Filha de Pedro de Moraes, 70, que tinha apenas cinco quando seu avô morreu aos 67 anos em 1980, ressaltou do orgulho da família ao receber a notícia da homenagem no Carnaval de 2013 da União da Ilha ao centenário do avô no enredo “Vinicius, no Plural, Paixão, Poesia e Carnaval”, de Alex de Souza.

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um livre fazer, sem muita convenção, sem Poeta do mundo O poeta se doou para o mundo e, uma terno e gravata”, conta Pedro de Moraes, pessoa de visão, projetou através de sua único filho homem de Vinicius. obra, o respeito humano entre as pessoas. O encontro com a paixão ficou bem marcado nos versos do po“Existe uma sincronia ema “O Mergulhador”, grande entre a obra dele de 1968, que versa sobre e o fato de uma escola de a descoberta da mulher: samba como a União da mulher, como te expanIlha, bastante represendes! / Que imensa és tu! tativa do Carnaval e da maior que o mar, maior cultura brasileira. A obra de Vinicius está relacionada ao povo brasi- que a infância!. leiro. Toda a nossa família compreendeu a importância da homenagem para popula- “Vinicius era muito apaixonado pelas murizar, difundir, divulgar e promover a me- lheres e pelo Brasil como na poesia ‘Pátria Minha’”, salienta Pedro. mória e a obra de Vinicius”. Ao falar do seu redor, das coisas que conhecia e das amizades que fazia, Vinicius de Moraes era um sujeito contemporâneo “pé no chão” e apresentava, em sua obra, um entendimento mais amplo do mundo. A descoberta da paixão O poeta viveu parte de sua adolescência na enseada de Cocotá, na Ilha do Governador, entre 1922 e 1929, dos nove aos 16 anos de idade. Foi lá onde Vinicius conheceu o amor e descobriu a paixão. “A Ilha do Governador foi para Vinicius um lugar onde ele realmente se iniciou na paixão. Ele descobriu a mulher na Ilha do Governador. Viveu paixões arrebatadoras. A vida era uma coisa livre, um livre pensar,

As temporadas de verão e finais de semana em que o menino Vinicius passava na casa em Cocotá eram momentos de estripulias, de descobertas, de histórias e inventos como a casa mal assombrada, relembra a irmã Laetitia, de 97 anos. A Ilha do Governador era uma Copacabana onde tomava-se banho de mar, pescava-se siri e a ligação com o resto da cidade só era feita através das barcas. “Na infância, tivemos um período que moramos juntos. Quando minha mãe ficou doente, o médico recomendou banho de mar, era o tratamento da época. Meu pai alugou uma casa em Cocotá e bastava atravessar a rua que podíamos tomar

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banho de mar”, recorda Tia Leta, como é um livro na mão. Viramos leitores invetecarinhosamente chamada. rados. Eu fuçava os papeis dele para ver o que escrevia. Achava Vinicius um gêA poesia nio. Com meus 12 anos mexia nos papeis Filho do poeta e violinista Clodoaldo Pe- dele”, lembra Laetitia. reira da Silva Moraes e da pianista Lídia Cruz, Vinicius de Moraes nasceu em 1913 Casamentos e amores no bairro da Gávea, na zona sul do Rio Vinicius se casou nove vezes e teve cinco de Janeiro. Ele foi o segundo de quatro filhos. Com cada uma viveu intensamente filhos, Lygia (1911), Laetitia (1916) e Helius e se apaixonou profundamente. A primei(1918). Aos sete anos, o menino Vinicius já ra esposa foi a paulista Beatriz Azevedo tinha escrito seu primeiro poema. de Mello, a Tati, com quem se casou por procuração, pois Vinicius estudava na In“Com 8 anos, ele já fazia poesia brincan- glaterra. Tati foi a única esposa com quem do com as pessoas da casa, com a minha o poeta se casou no papel. Com ela, Vinitia, eram ainda versinhos de pé quebra- cius teve Pedro e Suzana. Foram 11 anos do. Meu pai recitava poesia e, desde pe- de casamento até 1950. quenos, nõs aprendemos a levar sempre Na década de 40, Vinicius ingressou na carreira diplomática e, em 1946, assumiu como vice-cônsul em Los Angeles. Desta época, Pedro de Moraes guarda muitas lembranças do pai diplomata e poeta. “Viajávamos muito, fizemos uma viagem de ponta a ponta nos Estados Unidos e passamos por New Orleans para ouvir jazz. Ele separou de minha mãe quando eu tinha 8 anos”, conta Pedro. Como fotógrafo militante de esquerda, Pedro nunca deixou de registrar os momentos célebres em que o pai Vinicius recebia em sua casa amigos da elite do samba, das artes, da música e da literatura brasileira.

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Pedro fotografou momentos de intimidade na sua juventude acompanhando as andanças do pai pela boemia carioca e encontros com Pixinguinha, Baden Powell, Tom Jobim, Moacir Santos, Cartola, Ismael Silva, Nelson Xavier, Maria Bethânia, Caetano Veloso e Gal Costa. “Na época da Bossa Nova, as pessoas vinham para casa, tocavam, bebiam, era muito legal. Quando meu pai chegava de viagem, eu grudava nele para matar a saudade. Eu já fotografava. Acho que ele sabia que eu ia registrar a vida dele”, relata. Vinicius que ocupava um cargo diplomático em Montevidéu pediu autorização para regressar ao Rio de Janeiro por razões de amor, “pois o tempo do amor é que é irrecuperável”, disse Vinicius certa vez.

Pedro viveu momentos de carinho com os amigos do pai. Era tratado como sobrinho por Tom Jobim. “Era uma época de muita efervescência, novas ideias. Eu adorava o Tom, ele era meu tio. Era uma relação familiar. Eu achava isso muito bacana”. A quinta esposa foi Nelita Abreu Rocha, em 1963, quando Vinicius já tinha 50 anos Antes mesmo de terminar o casamento e a jovem, apenas 18. Foram seis anos até com Tati, Vinicius manteve um relaciona- conhecer Christina Gurjão, em 1969, com mento com uma funcionária do Itamara- quem teve Maria Gurjão. Em seguida, a ty, Regina Pederneiras, entre 1945 e 1947. baiana Gesse Gessy com 31 anos tomou o O terceiro casamento foi com Lila Bôscoli, coração do poeta e o apresentou ao munbisneta da compositora Chiquinha Gonza- do das crendices, orixás, mandingas e do ga com quem teve duas filhas, Georgiana Candomblé. Com Gesse, Vinicius se mue Luciana. dou para Itapuã, em Salvador. Depois ficou atraído pela amiga de adolescência Maria Lúcia Proença, que se reencontraram 18 anos depois numa festa. Foi por ela que, no final da década de 50,

Sua oitava mulher foi a poetisa argentina Marta Ibañez, de apenas 22 anos, uma relação que atravessava Punta del Este e Rio de Janeiro até 1976, quando conheceu a estu-

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dante de letras Gilda de Queirós Mattoso, Perguntado sobre o que Vinicius de Mocom então 23 anos, atual viúva do poeta. raes pensaria se estivesse vivo ao receber esta homenagem da União da Ilha no CarSua obra sobreviverá naval carioca, Helius de Moraes, seu irmão Apesar de diplomata, Vinicius nunca dei- caçula, de 94 anos, garante que o poeta xou de lado sua veia artística. “A poesia estaria muito satisfeito. era principal para ele. Vinicius cantou muito o amor e a amizade. Era muito ami- “Fico muito honrado por celebrarem meu go dos amigos dele, não tinha restrições. irmão. Sempre o tive como um grande poSempre foi sincero e tinha um coração ge- eta. A poesia estava dentro dele, Vinicius neroso”, conta Leta. via sempre a vida pelo lado poético. Acho que estaria muito satisfeito com essa hoPara a irmã Laetitia, a obra de Vinicius menagem”, disse. não envelhece. “Fico espantada que pessoas que o conheceram através da sua Os tempos da Ilha do Governador reprepoesia se encantam por ele. Enquanto as sentaram um momento lúdico de liberdapessoas tiverem amor e amizade, a obra de na vida dos irmãos Moraes. “Vinicius dele sobreviverá”. era o mais velho e o chefe. Brincando, ele já fazia poesia. Quando criança fez um cinema de sombras, na época que o cinema estava começando. Era uma mente inventiva incrível. Tínhamos uma sociedade secreta no porão da casa velha em Botafogo, foram muitas as aventuras”, relembra. Como irmão caçula, Helius tinha um carinho grande pelo irmão Vinicius que contava suas confidências de amores e namoradas. “Era doido pelo meu irmão, tinha uma admiração por ele, achava que ele era o tal”, brinca Helius. Mito Vinicius Eliana, de 63, também sobrinha de Vinicius e irmã de Marcus, lembra da sua primeira bicicleta. “Foi ele quem me deu.

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Também ganhei um diário do meu tio. Ele agradecia ao papai Helius por ter colocado mais uma mulher no mundo. É uma responsabilidade ter Vinicius na família”, conta emocionada. Para ela, Vinicius de Moraes já virou um mito e deve ser preservado. “Vinicius e Carnaval tem tudo a ver, o calor humano, o estar com os amigos, a boemia, o povo, a alegria, a cor. Hoje há um respeito pelo mito Vinicius de Moraes”, afirma Eliana, que iniciou-se no mundo do samba tendo desfilado pela primeira vez na União da Ilha, no célebre ano de 1982, quando a escola sagrou-se com o famoso samba- da década de 70, quando eu morava na -enredo “É Hoje” com os versos que se França”. eternizaram na história do carnaval do Rio. Estar numa família de artistas é uma responsaEra sempre uma “delícia” bilidade e um desafio de os encontros com o avô manter viva a memória e Vinicius quando a neta a obra de Vinicius, admiMariana, irmã de Julia de te Mariana. Moraes e filha de Pedro, vivia na França, durante os anos de ditadura militar. “Vinicius tinha qualidades como ser humano como o cultivo da amizade. Seria Após ter sido exonerado do cargo de di- bom se estivesse vivo. Ele não abria mão plomata, Vinicius passou a dedicar-se in- de seus amigos. Viveu profundamente. A teiramente à música. poesia dá uma delicadeza da vida e do lidar com o outro. A obra dos poetas é mui“Meu avô morreu quando eu tinha 11 to importante e alimenta a nossa vida”, anos. Ele era uma figura libertária para defende Mariana. um cargo público durante o período militar. Era um avô carinhoso e foi a pessoa da minha família que eu mais vi no final

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“Em dezembro de 2000, comecei a fazer uma oração, para que Deus colocasse um anjo na minha vida. Dois meses depois, na terça-feira de carnaval (em 2001), assistindo o desfile das escolas de samba de Guaratinguetá, em São Paulo, me deparei com uma pessoa que encheu meus olhos, tão iluminada, que a sua roupa toda branca chegava a brilhar. A partir daquele momento, coloquei na minha cabeça, que aquele homem iria fazer parte da minha vida. Depois do desfile esperei por ele no final da avenida e o chamei: “Você é o Ito Melodia, amigo da minha tia? Muito prazer, sou a Maria do Carmo! Prontamente ele me respondeu: “Sou eu mesmo! Não acredito que você é a sobrinha da Jacira, a Maria do Carmo, que ela tanto me falava. Tenho certeza que ela ficaria muito feliz em presenciar esse encontro, mas infelizmente ela não está mais entre nós”. Nesse mesmo dia, fomos para a casa de um amigo dele, onde passamos três dias juntos. Para mim, foi o tempo suficiente para conhecê-lo melhor e sentir que tudo daria certo. E três meses depois já estávamos morando juntos. Tudo que passei até agora, com o “meu Ito” foi de puro amor. E não me arrependo de nada! Ao contrário, se tivesse que fazer tudo de novo, eu faria! Afinal de contas, para se alcançar a felicidade plena não medimos esforços e não existem limites. No dia 11 de fevereiro deste ano (um dia após o desfile da querida e amada União da Ilha), completaremos 12 anos dessa bela história de amor. Ito, Você sempre será o meu grande amigo, companheiro, confidente e meu eterno amor. Saiba que estarei do seu lado pelo resto da minha vida. Obrigado pela filha que você me deu, a Maria Alice, e pela alegria de viver ao seu lado. Te amo eternamente”. Maria do Carmo www.gresuniaodailha.com.br | 59


O carnaval, possivelmente, é a manifestação popular fluminense mais conhecida no Brasil e no exterior. Faz parte da nossa cultura, da imagem do Rio e da característica do nosso povo alegre. A Ilha do Governador, local onde resido desde os cinco anos de idade, talvez seja abençoada nessa manifestação, pois possui, reconhecidamente, a escola mais simpática do Rio de Janeiro, autora dos enredos mais cantados das últimas três décadas, que é a União da Ilha do Governador. A União da Ilha, que frequento desde os meus 16 anos de idade, quando os ensaios ainda eram no Esporte Clube do Cocotá, realmente se tornou uma referência da alegria nesta manifestação cultural. Esta escola da Ilha que tive o prazer de frequentar desde a minha juventude e que se tornou um dos principais pontos de referência da população insulana, ganhou muita vida recentemente com a ação do prefeito Eduardo Paes de reformar a quadra e transformá-la na quadra mais bela, mais agradável e a melhor entre as Escolas de Samba no Rio de Janeiro, do Brasil e, quem sabe, do mundo, conforme avaliação recente feita por um jornal de grande circulação do estado. A Ilha de figuras históricas, como o autor e intérprete Aroldo Melodia, uma lenda no samba, promoveu sambas antológicos que vão do ‘Nos Confins de Vila Monte’, passando por ‘O Amanhã’, ‘Domingo’ e outros que caíram na tradição do nosso “porre de felicidade” nesta festa de Baco do nosso povo que é o carnaval. Estou muito feliz como morador e torcedor desta Escola, e alguém que a frequenta desde cedo seus ensaios e, inclusive, onde já fui autor de enredo, de estar acompanhando o atual momento da União da Ilha, atualmente também presidida por Ney Filardi e por Djalma. Isso também acontece no momento em que o Rio de Janeiro, não só o município, mas todo o estado, retoma a sua autoestima, recebe novos investimentos, marcando também a renovação e a retomada da Ilha do Governador, como sendo um bairro agradável para morar e viver. Não só como cidadão, mas como atual administrador da CEDAE, fico feliz que a nossa ação no samba, hoje muito conhecida pelos aguadeiros que trabalham na Marquês de Sapucaí durante os desfiles, seja totalmente convergente com este espírito que a União da Ilha passa de levar a alegria para todos. Sem dúvidas, se um dia Deus pensou em criar uma Escola de Samba, certamente foi a União da Ilha que além de tudo e desta preferência divina é tricolor também como o meu Flu do coração. Não temos em nossa União da Ilha a tradição das grandes Escolas, mas temos o brilho que todas elas sonham em ter. Engº Wagner Granja Victer

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Quando a União da Ilha iniciar seu desfile (a Escola é a quarta a desfilar na primeira noite de apresentações do Grupo Especial), muito mais do que exaltar o grande poeta Vinícius de Moraes com seu enredo “Vinícius no plural – paixão, poesia e Carnaval”, a tricolor irá mostrar ao grande público, presente ao Sambódromo e que estiver à frente da televisão, que ali está uma Escola de Samba prestes a completar 60 anos de bons serviços prestados à maior manifestação popular do planeta. Sim, porque no dia 7 de março seguinte a União da Ilha chegará a 60 anos de fundação. Seis décadas de participação efetiva na transformação desta grande festa popular que é o desfile das Escolas de Samba do Rio de Janeiro, de uma Escola que tem muito o que contar. Uma marca extraordinária, superada por poucas escolas do Grupo Especial. Uma data para se festejar com muito orgulho. E nada melhor do que um grande desfile para marcar estes festejos. A paixão de todos os insulanos será cantada na Passarela do Samba através de um personagem imortal de nossa literatura que, também, era insulano. Um insulano que gostava de Carnaval, de cinema, de poesia, de belas mulheres, de crianças, da boêmia... Um personagem perfeito para a União da Ilha cantar neste desfile que está intimamente ligado ao seu aniversário de 60 anos. Que os versos e canções do Poetinha Vinícius embalem os primeiros cantos de comemoração e conduzam a União da Ilha a um grande desfile. Bom Carnaval a todos! Jorge Castanheira Presidente da Liesa

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Legendas Destaque 01* - Placa recebida por Aurinho da Ilha em 2002 Destaque 02 e 03* - Fotos de Aurinho da Ilha na quadra da escola no final da década de 90 Destaque 04* - Estandarte de ouro (melhor samba-enredo “Domingo” (1977) Destaque 05 e 06 - Fotos pessoais de Almir da Ilha com grandes compositores, em carnavais passados da agremiação (década de 80 e 90) Destaque 07 - Camisa usada por Almir da Ilha no desfile da União da Ilha (ala de compositores de 1991) Destaque 08 - Chapéus usados pelo compositor Almir da Ilha nos carnavais da União da Ilha, na década de 80

*Objetos e fotos cedidos por José Carlos Machado, irmão de Aurinho da Ilha



Legendas Destaque 01 - Fotos da primeira ata de fundação da União da Ilha do Governador (cedidas pelo atual presidente do conselho deliberativo, Luiz Bruno) Destaque 02* - Foto de Aroldo Melodia e seu filho Cleber durante desfile da União da Ilha, na década de 90 Destaque 03* - Foto histórica de Aroldo Melodia e Jamelão na quadra da escola Destaque 04* - Troféu concedido a Aroldo Melodia, como melhor intérprete em 1987 Destaque 05 - Foto de arquivo pessoal de Luiz Bruno, em desfile da União da Ilha, na década de 80 Destaque 06 - Chapéu (década de 80) e terno (década de 90), usados pelo atual presidente de honra da União da Ilha, Paulo Amargoso, em desfiles da escola Destaque 07 - Chapéu usado pelo atual presidente da velha-guarda, Walter Cerqueira, em desfile da União da Ilha, na década de 90 Destaque 08 - Foto da fantasia usada pela baiana Anete Siqueira, no carnaval da União da Ilha de 1995 (18 anos depois, Anete posou em nossa quadra com a mesma fantasia) Destaque 09 - Troféu de campeão do Grupo de Acesso A, carnaval de 2009. Destaque 10 - Estandarte de ouro (melhor escola - “O Mistério da vida” (2011) *Agradecimento a Ubiraci de Abreu Moraes (última esposa de Aroldo Melodia) pelas fotos e objetos cedidos




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