Documentรกrio
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O que está acontecendo? Os “acalipes” (eucaliptos) tomaram toda a floresta e a fauna. Toda espécie de bichos e pássaros procura abrigo no pantanal do rio de “pedras negras”, ou Itaúnas, como último reduto [...] Que diz o povo nos seus cantares do Reis-de-Bois? (FONSECA, 1985 apud TEIXEIRA, 1986, P.7).
“O povo vai morrer de fome Ou comer erva daninha Porque raiz de acalipe Não dá para fazer farinha” (Pedro de Aurora, cantador popular)
FOTOS
Leonardo Merçon TEXTOS DAS ÁREAS DO PARQUE
Oberdan José Pereira Luís Fernando Tavares de Menezes CAPA
Filhote de jacaré-de-papo-amarelo (Caiman latirostris)
1a. Edição, Outubro de 2011
Vitória, ES · Brasil
Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema) / Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Seama)
Sumário
Apresentação, 5 O Parque Estadual de Itaúnas, 6 Introdução, 9 Dunas, 12 Praia e Restinga, 22 Alagados, 80 Rio Itaúnas, 94 Caminhos de Itaúnas, 112 Últimos Refúgios em Itaúnas, 122 História de fotógrafo, 138
Apresentação
Integrar a cultura local à conservação dos recursos naturais protegidos pelo Parque Estadual de Itaúnas é um desafio de todos e o projeto Últimos Refúgios vem contribuir com esse propósito. Ao completar 20 anos de existência o Parque passou e passa por diversos processos de degradação e pressão ocasionada pelo histórico de ocupação das terras contidas naquela região. A fragmentação e o alto grau de isolamento das florestas naturais remanescentes no extremo norte capixaba são responsáveis pelo estado avançado de ameaça encontrado nas áreas naturais protegidas existentes nas proximidades do Parque Estadual de Itaúnas.
Conservar a natureza respeitando as culturas e mantendo vivas as tradições locais é, sem dúvida, um grande desafio deste novo século. O resgate histórico/ambiental e o registro dessas informações de forma escrita e audiovisual apresenta para a sociedade capixaba motivo para que cada um faça sua parte, pensando especialmente nas futuras gerações que aqui se instalarão. A todos que tiverem a oportunidade de conhecer este belo e importante trabalho Últimos Refúgios, desejo que aproveitem o momento para refletir sobre suas condutas e postura diante da responsabilidade com essa importante provocação aclamada pela sociedade.
Os impactos negativos nos ambientes naturais protegidos por essa Unidade de Conservação é resultado de um desenvolvimento mal planejado, decorrente de décadas. Os trabalhos desenvolvidos pelo Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos, através do Parque Estadual de Itaúnas vem contribuindo com a conservação de amostras importantes dos recursos naturais, culturais e cênicos que sobrevivem a esses surtos evolutivos.
M.Sc. André Luiz Campos Tebaldi Coordenador de Áreas Protegidas do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema)
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O Parque Estadual de Itaúnas
Mata atlântica de tabuleiro, alagados, rios, estuários, manguezais, dunas, restinga e praia são os ecossistemas observados em uma área de 3.481ha, localizada no entorno do distrito de Itaúnas, em Conceição da Barra, norte do Espírito Santo. Com uma vasta biodiversidade esta é a área que compõe o Parque Estadual de Itaúnas (PEI). O Parque é uma Unidade de Conservação de Proteção Integral, reconhecida pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) – Lei Federal n°. 9985, de 18 de julho de 2000. Criado por meio do Decreto Estadual n°. 4.967-E, de 08 de novembro de 1991, para proteger a maior região de alagados do estado, as paisagens naturais e um dos mais importantes sítios de reprodução de tartarugas marinhas da região, o Parque teve seu nome escolhido em função do principal rio que percorre a Unidade, o rio Itaúnas. O PEI, declarado pela UNESCO, em 1992, como Patrimônio da Humanidade, integrando a Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, é gerido pelo Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos – IEMA; autarquia vinculada à Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos – SEAMA do estado do Espírito Santo. Segundo seu Decreto de criação, 10
o Parque tem por finalidade “resguardar os atributos excepcionais da natureza, na região, a proteção integral da flora, da fauna, do solo, dos rios, das áreas de alagados e alagáveis, das dunas e dos demais recursos naturais, bem como a sua utilização para objetivos educacionais, recreativos e científicos”. No entorno do PEI há outras áreas de grande importância para a conservação, entre as quais o Corredor Marinho do rio Doce, que abrange a área marinha adjacente ao PEI, e a Área de Proteção Ambiental – APA de Conceição da Barra, também gerida pelo IEMA. Além desta APA, reconhecida pelo SNUC como Unidade de Conservação de Uso Sustentável, localizam-se no entorno do PEI as seguintes Unidades: Floresta Nacional do Rio Preto, Reserva Biológica de Córrego Grande, Reserva Particular do Patrimônio Natural - RPPN Sayonara, em Conceição da Barra/ ES, e APA Municipal Costa Dourada, em Mucuri/ BA. Contudo, não só por áreas protegidas e paisagens naturais é caracterizado o entorno do Parque; caracteriza-se também por diversas atividades econômicas: plantios de eucalipto e cana-de-açúcar; irrigação, turismo e outros. Há ainda a presença das comunidades tradicionais, que mantém suas origens e cultura, valorizando a região por seus aspectos ambientais e socioeconômico-culturais.
Aline Nunes Garcia Gerente de Recursos Naturais do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema)
IMAGENS CEDIDAS PELO IEMA
Introdução
Este livro é mais um projeto da série Últimos Refúgios, iniciado em 2006. O livro e documentário são partes de uma iniciativa de conscientização ambiental, com o objetivo de gerar registros de nossas área de preservação, que, encontra-se em constante processo de degradação. Foi selecionada como opção temática para este trabalho, o Parque Estadual de Itaúnas, no extremo Norte do Espírito Santo, por ser rica em belezas naturais. Muito conhecida pelos capixabas por suas dunas, pelo Rio Itaúnas e pela charmosa vila, e também, é claro, pelo festival nacional de forró que atraí milhares de turista para região. Durante anos, como turista, tive muito contato com o local, percebendo que o Parque tem conseguido algumas melhorias. Resultado dos esforços imprimido por seus funcionários, dedicados àquilo que protegem, apesar de todas as adversidades, arriscando-se diariamente no combate a ações de degradação ambiental. Durante o processo de captação das imagens, nos deparamos com a problemática muito comum em praticamente todos os parques brasileiros, que se
estende desde as complicações da relação do parque com a população local até o isolamento da área verde, causada por áreas cultivadas. Encontramos um ambiente bastante agredido, dificultando o desenvolvimento dos processos fotográfico e videográfico. Porém, é importante ressaltar que ainda há muito o que se preservar em Itaúnas. Um projeto de campo, voltado para a conscientização ambiental é feito seguindo uma metodologia de ação, aprendizado e aplicação do que foi aprendido, superando dificuldades com idéias, experimentações e alcançando os resultados desejados. Assim, os problemas encontrados são facilmente solucionados quando um trabalho do qual se tem orgulho é finalizado e bem empreendido.
mais uma ferramenta de educação ambiental, além de um registro imagético para gerações futuras. O que também gera a possibilidade de ter sua visibilidade turística aumentada, colaborando com a população local para uma coexistência sustentável. Acreditamos que um trabalho desenvolvido com o objetivo de conscientizar seja benéfico para a sociedade criando um vínculo do Parque com as pessoas, ensinando a respeitar e preservar.
Leonardo Merçon Fotógrafo e idealizador do projeto Últimos Refúgios
Sendo assim, pretendemos fazer com que os visitantes e interessados vejam as faces, belezas e detalhes presentes no ecossistema protegido pelo Parque. Muitas vezes essas riquezas são inacessíveis, ou raramente encontradas durante as visitas monitoradas pelas trilhas. Mostrar isso é uma forma de sensibilizar o público para a importância da preservação. Com este material, o Parque de Itaúnas agora tem 13
Dunas
Ao longe podemos avistar a montanha de areias brancas, mas ao chegar perto parecem pequenas ondas que estão a correr em sentido contrário ao mar. Mais a frente, este branco dá lugar ao verde da vegetação, às vezes rasteira, lembrando minúsculas árvores enfileiradas a brotar do fundo do areal. Em outros trechos, o caule alongado e estirado sobre a areia apresenta ao longo de seu corpo o colorido de grandes flores brancas, algumas vezes o lilás é que predomina, contrastando com o verde intenso de suas folhas. Mais adiante podem ser vistos arbustos retorcidos pelo vento, parecendo fugir em direção contrária ao mar que está logo ali perto. Há muito tempo atrás toda esta região era uma grande planície, tudo bem reto, quase ao nível do mar, não havia o verde. Mas lentamente este começou a aparecer, provavelmente com alguns tipos de plantas capazes de suportar o extremo calor da areia, principalmente no final e início do ano. Com o passar do tempo estas foram substituídas em determinados locais por outras maiores, até surgirem aquelas que formam grandes árvores, principalmente nas porções das dunas mais protegidas pelo vento. Em torno desta paisagem aparece o homem, que por necessidade e ainda sem informação científica, se utiliza das árvores para suas construções, 16
queimando a madeira para produzir calor nos fogões ou ainda em fornos para produzir farinha utilizada na alimentação de sua família. Em virtude destas necessidades ocorre o desastre ambiental. Por não ter parte do solo coberto por plantas, a areia começa a se movimentar, cobrindo lentamente ruas e casas desta vila que havia sido construída bem próxima ao mar. A alternativa encontrada foi construir uma nova vila, mais afastada, após o rio Itaúnas. Bem mais tarde, com novas destruições da vegetação que voltava a cobrir a areia, esta passou a se movimentar intensamente mais uma vez, deixando descoberta algumas construções da antiga vila. Mas ao perguntar "é possível conservar as dunas?", alguém irá informar que tudo é possível, desde que a vegetação sobre esta areia não seja mais alterada e, ainda, que o homem possa interferir auxiliando a recolocar espécies de plantas que vivem neste ambiente. Outra ajuda importante é fornecida pelos animais, principalmente as aves, que ao comerem frutos podem deixar, eventualmente, as sementes nestas áreas, quando por ali estiverem à procura de outros alimentos, abrigo e mesmo de construir seus ninhos. Também o vento pode transportar frutos
e sementes que parecem possuir asas ou longos pelos, permitindo flutuação por um grande espaço. Ao chegar ao solo podem encontrar abrigo entre a folhagem e com as chuvas mantendo sua umidade, podem ter a possibilidade de germinação. Assim, uma nova planta irá ocupar aqueles espaços abertos, mantendo em harmonia a areia, plantas e animais.
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Pinheirinho-da-praia (Remirea maritima) â–ś
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BatuĂra de Coleira (Charadrius collaris)
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João-de-barro (Furnarius rufus) ▶
Praia e Restinga
Atravessamos as dunas e o que pode ser visto? O Oceano Atlântico com todo seu azul em contraste com um céu ainda mais azul. Mas ainda temos que caminhar pelas trilhas para alcançar aquelas ondas que insistem em não parar de bater na praia. E que praia! Longa, esguia, curvando aqui e acolá, com sua borda de areia e aquelas plantas rasteiras. Algumas vezes, nesta travessia, vamos encontrar o terreno muito molhado, talvez até com água cobrindo um pouco o solo. Mas é assim: alguns trechos muito secos, outros muito úmidos. As plantas que aparecem nos terrenos úmidos são nitidamente diferentes, como também são os animais que percorrem o Parque. Alguns preferindo os lugares abertos, enquanto outros encontram proteção e alimento por entre ramos dos arbustos e árvores. Todos vivendo de acordo com o ambiente, desde que o homem não interfira nesta organização. Sentados na praia podemos avistar as dunas. Agora parecem ainda mais altas, com grandes manchas sem vegetação ou, se lá estão não são percebidas ao longe. Mas também ocorrem grandes espaços realmente cobertos por vegetação, onde se destacam algumas plantas que parecem ter crescido muito mais que outras. O sabiá-da-praia, que se distingue de outros 26
pelo seu peito branco, pode ser encontrado nestas áreas abertas, sempre à procura de pequenos seres sobre a areia, que serão usados como seu alimento ou levados para os filhotes que darão continuidade ao ciclo deste grupo animal na região. Olhando para o topo das dunas é inconfundível a palmeira que chamamos de "guriri". Seus frutos, de um amarelo intenso quando maduros, e sabor adocicado, logo serão procurados por animais, principalmente o cachorro-do-mato, que depositarão as sementes junto com suas fezes, possibilitando agora sua germinação, aumentado o número de indivíduos desta espécie. O guriri é muito importante na Restinga, porque facilita que outras espécies de plantas germinem por entre suas folhas, quando depositadas no chão, por formarem sombra, fornecerem nutrientes ao solo quando em decomposição e manter a umidade no seu entorno. Desta maneira você poderá apreciar moitas de vegetação quase sempre com o guriri, organizadas de maneira muito especial, um jardim que somente a natureza é capaz de proporcionar.
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◀ Sabiá-da-praia (Mimus sp.)
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Tartaruga-cabeรงuda (Caretta caretta) 35
Anu-preto (Crotophaga ani) 36
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Floresta
Retornando da praia passamos por uma vegetação rasteira, que logo é substituída por outra bem fechada, quase impenetrável devido ao seu aglomeramento e à presença de plantas espinhosas como os gravatás (bromélias) e os cactus. Chegando ao topo das dunas se avista ao longe uma mancha contínua de vegetação, com destaque para algumas árvores que despontam na paisagem. É a floresta de Restinga. Geralmente, nesta o caminhar é mais fácil. As árvores apresentam boa distância uma das outras, permitindo percorrer o bosque sem se arranhar nas plantas espinhosas. Nesta floresta você tem que estar muito atento se pretende encontrar uma árvore igual a outra, da mesma espécie. Esta é a chamada diversidade, que é alta em relação aos outros tipos de vegetação, em Itaúnas. As maiores árvores alcançam quase 20 metros de altura, como o pau-pombo e a boleira. No tronco destas árvores crescem várias espécies de plantas, em sua maioria do grupo das orquídeas e bromélias, que não necessitam estar presas ao solo para obter alimentos, mas também não se utilizam das árvores para prejudicá-las. Suas raízes são capazes de capturar a água que escorre pelo tronco, repleta de nutrientes obtidos da superfície da casca. 38
Em alguns lugares desta floresta também aparecem os cipós, que muitas vezes até se confundem com árvores, tal sua espessura. Quase nunca vemos suas folhas e flores. Presos ao solo crescem se prendendo com estruturas em forma de ganchos, se enrolam nos troncos ou escoram nos ramos e, desta maneira, atingem a copa das árvores, expondo suas folhas ao sol, permitindo a produção de seu alimento. É no alto, nas copas, o lugar onde as flores dos cipós desabrocham para completar seu ciclo de vida, ao serem fecundadas formando seus frutos e sementes. Mas também podemos encontrar árvores crescendo sobre outras árvores, as denominadas mata-pau, que você facilmente irá reconhecer por apresentarem suas raízes envolvendo um caule, algumas vezes de tal maneira que estrangula a planta sobre a qual está crescendo. Neste ambiente os maiores animais encontram abrigo, alimento e são capazes de reproduzir, mas aqueles de pequeno porte também estarão por entre as folhagens e ramagens, assim como uma grande diversidade de insetos. A presença de todos os grupos de animais tem grande importância para a sobrevivência da floresta, por serem estes os principais responsáveis pelos processos envolvendo
a reprodução das plantas. A retirada de plantas e animais deste e de outros ambientes tem como consequência a diminuição de qualidade ambiental que, por sua vez, leva à sua degeneração.
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Ouriรงo-Cacheiro (Sphigurus villosus)
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Jandรกia (Aratinga aurea)
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Gambรก (Didelphis aurita) โ ถ
Chironius fuscus 50
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â—€ Palmito margoso (Bactris sp.)
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Chironius fuscus
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Corrupião (Icterus jamacaii) ao lado de casa construída pelo João-de-Barro
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Bacurau (Hydropsalis albicollis) 61
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Perereca-musgo (Itapotihyla langsdorffii) â–ś
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Perereca-musgo (Itapotihyla langsdorffii) â–ś
Corrupi達o (Icterus jamacaii)
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Periquito-Tuim (Forpus xanthopterygius)
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Sagui-da-cara-branca (Callithix geoffroyi) 72
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Jo達o-Barbudo (Malacoptila striata)
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Preguiรงa-comum (Bradypus variegatus) 81
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Alagados
A grande planície está coberta por água. É período de chuva, como um espelho a lâmina d'água reflete o céu, as nuvens e o colorido dos pássaros que num vai e vem percorrem estas áreas. Em áreas de maior depressão do terreno a água permanece por quase todo o ano, ou então, nem secam. Nestas, as imensas flores das ninféias com seu colorido branco ou lilás formam, juntamente com suas folhas arredondadas e deitadas sobre a superfície da água, um espetáculo todo especial. Em determinados momentos do dia, principalmente pela manhã, ficamos a imaginar que aves são capazes de caminhar sobre as águas. São as aves pernaltas, à procura de alimentos que sempre encontram em grande quantidade. São insetos dos mais variados, que por sua vez vêm comer a folha ou participar do processo de reprodução da planta, e alguns acabam devorados pelas aves. É assim na natureza, onde, sem intervenção do homem, não faltarão insetos, não faltarão aves e plantas que servem de base para este início de vida. Mas em vários pontos desses alagados a vegetação é maior, com hastes eretas terminando em folhas majestosas. Contrastando com a luz do sol se pode ver toda a rede de nervuras que transporta 84
as substâncias necessárias para a sobrevivência das plantas. Sua flor protegida por estrutura branca, lembrando outra planta conhecida como lírio-da-paz, muito utilizada por floricultores, imprime ao ambiente uma beleza incomparável. Nestas águas calmas, outros animais de grande porte também vêm à procura de alimentos, deixando à mostra apenas a cabeça que parece deslizar sobre as águas. Algumas das espécies de diminutas plantas que vivem agrupadas, mas não fixadas ao solo dos alagados marginais, são facilmente deslocadas por estes animais, terminando por ser empurradas pelo vento em direção ao rio, sendo aí transportadas em direção ao mar, quando então seu ciclo de vida termina, por não suportarem água salgada. Tempos depois passam as chuvas, quase cessam. O que antes se encontrava coberto por água, deixa lugar para uma outra vegetação, que rebrota vigorosamente de um terreno quase lodoso. E os animais? Vão à busca de ambientes semelhantes em outras áreas. Novos grupos então surgem, não mais tão dependentes da água. No próximo ciclo de chuvas tudo recomeça, mantendo assim a biodiversidade ao longo dos anos.
Nymphea ampla 85
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Lontra (Lontra longicaudis) 88
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IrerĂŞ (Dendrocygna viduata)
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Jaรงanรฃ (Jacana jacana)
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Garรงa-azul (Egretta caerulea) 96
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Rio Itaúnas
Quase como uma barreira impedindo o acesso à parte terrestre do Parque está o Rio Itaúnas. Atravessando lentamente a unidade de conservação, antes de alcançar a ponte ele faz uma curva, quase meia volta, como se não quisesse chegar ao mar. A partir daí segue ainda calmamente, agora em linha menos sinuosa, já recebendo as primeiras influências da água salgada, que se pode perceber pela presença dos caranguejos. Navegando nestas águas encontramos uma floresta dentro da água, formando pequena ilha com árvores que não crescem muito, mas capazes de sustentar bromélias, cactos e orquídeas, uma visão única nesta área. Em outros momentos desta viagem poderemos encontram outras ilhas, mas agora estranhamente descendo o rio. Algumas vezes os aglomerados apresentam espécies de plantas que não passam de um metro de altura, em sua maior parte aguapés com cachos de flores lilás, imponentemente eretas. Outras vezes, arvoretas também se fazem presentes nestes agrupamentos. Em algum momento vamos nos deparar com uma barreira de outras plantas, as aningas, impedindo completamente o acesso às margens do rio. De perto é possível ver a organização de sua flor, com 98
uma estrutura em forma de concha, muito branca por fora. Em alguns horários do dia, ao tocá-la sentiremos que a flor está mais quente que o resto da planta. Esse calor auxilia na liberação de um cheiro que atrai animais, dando início assim a processo reprodutivo das aningas. Em outros lugares as margens apresentam amontoados de pedras escuras, quase negras. Foram formadas há muito tempo, e são constituídas por areia e matéria orgânica que lhes conferem esta cor. Provavelmente os indígenas denominaram a região de Itaúnas por causa destas pedras: em tupi, ita significa pedra, e una significa preta. Em continuidade, rio abaixo, o navegador encontrará uma margem sem vegetação, formando barrancos altos, que em sua porção mais baixa apresenta um sedimento escuro, sobre o qual está depositado areia. Neste trecho se tem uma parte da história da origem da área: um mangue, que foi naturalmente aterrado pelas areias das dunas, onde agora cresce vegetação do ecossistema denominado Restinga. A presença de algumas espécies de plantas, com sua base formando algo parecido com escoramentos, incrustrados com conchas de diferentes tipos
e aratús que sobem até quase o topo das árvores, caracterizam o Manguezal, indicando também que nossa viagem pelo rio chega ao fim. Você já estará ouvindo o quebrar das ondas na praia.
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Aguapé (Eichhornia crassipes)
◀ Nymphea ampla
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Jaรงanรฃ (Jacana jacana)
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Garรงa-Azul (Egretta caerulea) 106
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Orelha-de-onça (Salvinia biloba) / Nymphea ampla ◀ Jacaré-de-papo-amarelo (Caiman latirostris)
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â—€ Socozinho (Butorides striata)
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R達-manteiga (Leptodactylus latrans) 114
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Caminhos de Itaúnas
O Projeto Últimos Refúgios foi desenvolvido e guiado pelo sentimento de que novas ações devem ser tomadas para fomentar a preservação ambiental. Compreendemos que a sociedade deve somar esforços para participar de um processo complexo, desempenhado quase que unicamente pelo Poder Público. A proposta inicial deste projeto era contribuir para a conservação de Itaúnas, divulgando unicamente suas belezas naturais remanescentes, através da fotografia e da realização de um documentário. Porém, a percepção da equipe sobre o que deveria ser um trabalho de preservação ambiental mudou durante o processo de produção. Passamos a compreender que trabalhar em prol do meio ambiente implica em lidar intensamente com inúmeras variáveis de ordem sócio-econômica e cultural. Em Itaúnas, vivenciamos a delicada relação de sobrevivência entre a Vila e o Parque. Diante desse cenário, nos propusemos a conhecer mais a fundo a história da comunidade, o ponto de vista dos moradores, do Poder Público e o que significa preservacionismo.
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Em nossas empreitadas, procurando pelas causas e causadores da degradação ambiental, passamos a questionar a enorme pressão que é feita sobre uma pequena comunidade, supostamente responsável por colocar em risco o ecossistema que lá existe. Olhando para trás, percebemos o rastro que deixamos. Vimos em nós mesmos os responsáveis pelos problemas. Nossas estradas, pontes, carros, prédios, aterros e indústrias causam danos que também merecem ser questionados e não somente o cotidiano dos moradores de Itaúnas. Nosso desenvolvimento urbano e econômico aumenta a pressão nas áreas de conservação e rege seu futuro. Através desse contexto de transformação de ideias e conceitos, desenvolvemos nosso trabalho de fotografia e pesquisa documental em vídeo. Surpreendemo-nos com a natureza de Itaúnas, com o empenho dos moradores e dos funcionários do Instituto Estadual de Meio Ambiente (Iema), em preservar o Parque, numa demonstração de união, solidariedade e apreço pela vida do homem e da natureza.
Yuri Salvador Diretor do documentário Últimos Refúgios: Itaúnas
FOTOS YURI SALVADOR
A relação histórica dos moradores com os recursos ambientais e culturais de Itaúnas incentivou o Conselho Estadual de Cultura, através da Resolução 08/86, a promover o tombamento das dunas, alagados e restinga. Devido a forte característica cultural mantida por gerações, foi promovido posteriormente o reconhecimento como patrimônio paisagístico e cultural, toda Vila de Itaúnas. M.Sc. André Luiz Campos Tebaldi
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Últimos Refúgios em Itaúnas
O início dos trabalhos em Itaúnas aconteceu em 11 de abril de 2009, com o objetivo de capturar imagens retratando as paisagens, fauna e flora do Parque Estadual de Itaúnas. A documentação em vídeo e o registro fotográfico foram realizados pelos fotógrafos e designers gráficos Leonardo Merçon e Yuri Salvador, assessorados por amigos e colaboradores. O trabalho foi realizado por dias e noites nos vários ambientes que compõem o Parque. Contamos com o apoio logístico dos funcionários do parque para diversas incursões rio acima e contamos com guias locais que nos mostraram muitos lugares incessíveis para turistas habituais. Esta ajuda tornou possível registrar as imagens de um ambiente cada vez mais restrito às áreas de unidades de conservação. O Parque de Itaúnas possui uma área de 3.481 hectares onde coexiste uma grande biodiversidade de espécies, espalhadas pelos biomas da região: mata atlântica, manguezal, restinga, alagados, tabuleiro, rio, dunas e 25 quilômetros de praias, o que transforma a área de preservação do parque em manancial de enorme riqueza para a manutenção da vida. Nossa passagem por esta bela região resultou em experiências únicas, aventuras memoráveis e novos 126
amigos. Exploramos Itaúnas como nunca havíamos feito antes, percebendo que o Parque não é somente um local turístico onde todos sempre gostamos de ir, mas também é um refúgio para espécies de valor inestimável para o ecossistema brasileiro, que está em constante declínio devido às ações inconseqüentes do homem. Presenciamos cenas chocantes de maus-tratos com os seres vivos, mas ao mesmo tempo percebemos esforços pessoais surpreendentes para defender aquele pequeno santuário tão agredido. Fico perplexo com algumas coisas que vejo nesses trabalhos envolvendo natureza. E, incrédulo, questiono-me sobre até quando as pessoas vão dar mais valor ao dinheiro e necessidades supérfluas do que a outros seres vivos e ao seu próprio planeta! Não somos hipócritas para falar que não fazemos parte da grande engrenagem da sociedade humana, mas tentamos fazer ao menos um pouco para frear a descida ladeira abaixo, rumo à inevitável encruzilhada que nos aguarda.
Leonardo Merçon Fotógrafo e idealizador do projeto Últimos Refúgios
FOTO FRANCISCO NETO
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Produzir as fotografias foi parte de um processo em que tínhamos metas e objetivos planejados. A equipe trabalhou de forma sincronizada, descobrindo áreas de belezas e problemas diferenciados.
Á esquerda, nosso amigo e colaborador, o fotógrafo Francisco Neto. Acima, Leonardo Merçon, idealizador e coordenador do projeto e, á direita, o cinegrafista Yuri Salvador. 128
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FOTO FELIPE PREST
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Uma das coisas mais gratificantes deste trabalho foram as pessoas que conhecemos pelo caminho. Pessoas simples, acolhedoras e com muita disposição para ajudar, que compartilharam conosco a vontade de proteger este belo lugar.
Na página da esquerda, o ex-caçador e atual colaborador como especialista prático em natureza, Toninho Mateiro. À direita, Marcinho, também ex-caçador e atual vigilante do Parque de Itaúnas. 132
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Os documentaristas registraram os caminhos de nossa equipe através da bela natureza de Itaúnas. Também foram responsáveis por realizar entrevistas para o documentário, no trabalho de entender as relações sócio-ambientais entre a Vila e o Parque.
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FOTO HUEMERSON LEAL
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Acima, Damião, um dos atuais vigilantes do Parque de Itaúnas, importantes colaboradores para a execução do projeto.
O Parque realizou diversas ações de sensibilização em que a equipe do projeto Últimos Refúgios esteve presente. À esquerda, soltura de filhotes de tartarugas marinhas realizadas pelo colaborador Leonardo Schuch (CTA/TAMAR) e, à direita, o final das atividades de recreação e pintura facial realizados pelo Parque. 137
Como contrapartida social, voltamos á vila de Itaúnas e apresentamos o trabalho para as crianças da Escola Municipal Benônio Falcão de Gouveia e Escola do assentamento Paulo Vinha, há alguns quilômetros da vila principal. Apresentamos o trabalho para mais de seis turmas, abrangendo mais de duzentas crianças que nos recepcionaram de forma impressionante. Após a exibição de imagens da natureza local, houve uma oficina de desenho em que nos surpreenderam com verdadeiras obras de arte. 138
FOTO HUEMERSON LEAL
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História de fotógrafo
Pensei em uma frase durante os dias em que estive em Itaúnas: “Como indivíduos somos fantásticos, como sociedade, inconsequentemente irracionais!” Reflexões como esta me vêm em pequenas experiências, quando estou longe da bolha da normalidade, e poderiam passar totalmente despercebidas. Voltando para casa, ao final do projeto em Itaúnas, eu estava no meio do nada, em uma estrada cercada por uma plantação de eucalipto. Tinha que esperar o guincho para rebocar o carro, que quebrou logo no início da viagem. Sentei à beira da estrada, em cima do cantil de água e fiquei em silencio, contemplando a vegetação ao redor. Tudo parecia deserto e sem vida. Passados 20 minutos, inesperadamente, a vida começou a se mostrar em todas as direções, parece que os habitantes daquele lugar haviam se escondido de mim. Animais, como pássaros, esquilos e insetos. Fiquei olhando fascinado com aquilo tudo. Um universo de vida que, mesmo sendo um fotógrafo de natureza, raramente parei para observar, com um ponto de vista contemplativo, por tanto tempo. 142
Então foquei em uma moita perto de mim. Eu lá sentado olhando pra ela por mais de uma hora, percebendo todos os micro-detalhes. Em certo momento, vi em uma folha uma pequena aranha saltadeira, daquelas cabeçudas, com os olhos grandes. Algum tempo depois, vi uma outra aranhazinha, da mesma espécie, se aproximando, vindo da direção oposta. Quando as duas perceberam a presença uma da outra, começaram a se enfrentar, disputando a pequena folha. A moita parecia imensa em relação às duas. Fiquei lá, observando isso por uns 5 minutos, até que uma das aranhazinhas foi subjugada e fugiu com um grande salto. Parei, olhei ao redor, refleti e pensei: “Com uma floresta gigante dessas (mesmo sendo de eucaliptos) ao redor, essas aranhazinhas estúpidas ficam lutando por uma moita minúscula!” Refleti novamente e pensei: “Nós, seres humanos, não agirmos muito diferente disso. Não somos menos estúpidos do que aquelas pequenas que ferozmente disputavam um espaço tão pequeno!” Em um universo com possibilidades infinitas, ficamos lutando e desperdiçando nossos já escassos
recursos para dominar este minúsculo pedacinho de rocha. Se somássemos tudo o que é gasto em guerras e coisas inúteis e investíssemos no bem comum, conseguiríamos manter nosso planeta e ainda conquistaríamos fronteiras inimagináveis. Não estaríamos fazendo esta besteira tremenda com o lugar em que vivemos. Poderíamos descobrir recursos infinitos! Está na hora de começar a inventar novas formas de viver, ao invés de novas formas de matar e destruir!
Leonardo Merçon Fotógrafo e idealizador do projeto Últimos Refúgios
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Dedicatória
Em primeiro lugar, gostaria de dizer que tenho uma admiração enorme por esse grande homem, meu pai. Meu pai foi uma das pessoas mais bondosas, honestas e simples que já conheci em todos os 5 continentes pelos quais já passei. Apesar de inúmeras influências negativas em minha vida, minhas ações sempre foram guiadas pela bondade, graças aos fortes princípios passados por minha família. Meu pai, mesmo apesar de sua grave doença, a agressiva esquizofrenia que foi engatilhada durante o regime militar do Brasil, entre os anos de 1964 e 1985, quando sofreu as conseqüências da luta por nossa atual "liberdade". Fez com que o amor que sentia por nossa família fosse mais forte, dando-lhe forças para nunca deixar, na medida do possível, que aqueles problemas nos atingissem. Ele, que nunca levantou a voz, nunca levantou a mão, mesmo quando eu e meu irmão, crianças agitadas que éramos, estávamos quase destruindo a casa.
Meu herói, José Merçon Rocha
Professor de Física e Álgebra em Universidades do Rio e do Espírito Santo, considerado "gênio" por alguns, surpreendeu-me muitas vezes. Como quando fui a uma reunião em um escritório de patentes, onde o dono reconheceu meu sobrenome e disse que meu pai era a pessoa mais inteligente
que havia conhecido, um inventor dos tempos modernos. Segundo essa pessoa, meu pai foi um dos inventores do data-show, porém, por confiar nas pessoas, roubaram-lhe o projeto. História para deixar qualquer filme como Uma mente brilhante no chinelo... Ele lia histórias todas as noites da minha infância, antes de dormir, estimulando minha imaginação e fazendo meus sonhos crescerem exponencialmente! Foi a primeira pessoa que vi fazendo uma ação realmente boa, sem esperar nada em troca. Eu tinha uns 6 anos de idade e estávamos comendo um sanduíche. Um mendigo pediu dinheiro, meu pai perguntou para que ele queria o dinheiro. O mendigo respondeu que estava com fome, então, meu pai comprou-lhe um sanduíche. Os problemas da sociedade, para uma criança de 6 anos, não fazem muito sentido, mas naquela hora tive orgulho de ter um pai tão sábio e bondoso. Ele tinha paciência infinita para tentar me ensinar as matérias da escola que não faziam sentido nenhum para mim; para mostrar porque eu deveria aprender aquelas coisas em que não via utilidade nenhuma! Assim como levava meu irmão e eu, várias vezes
por semana, para a praia, após a escola, só para vermos e ajudarmos os pescadores puxando redes no mar. Em minha opinião, foi um dos motivos a despertar em mim a paixão pela natureza. As conversas sobre assuntos importantes e outros sem sentido foram sempre marcantes. Desde a existência de extraterrestres até o sentido da vida. Lembro-me também das inúmeras histórias fantásticas que me contava sobre seu passado na zona rural. Suas aventuras num lugar onde tinha contato direto com a natureza; andava a cavalo, pescava, aprontava travessuras.
Não sei ao certo se sinto tristeza porque ele se foi ou alívio por ele ter parado de sofrer, mas uma coisa é certa: sou infinitamente agradecido por ele ter feito parte da minha vida e ter sido arquiteto de grande parte de quem eu sou hoje! Muito melhor que qualquer super-herói! Obrigado por tudo e fique em paz meu querido pai! Este livro é dedicado á você!
Leonardo Merçon Após meu pai ter presenteado meu imaginário com todas estas experiências fantásticas, era de uma tristeza imensa ver aquele homem, que ia para a praia comigo em dias de chuva jogar futebol (apesar de eu ser perna-de-pau), sucumbindo a um primeiro AVC e, após três anos de luta, a uma doença tão avassaladora como o câncer. E apesar de tudo, todas as vezes em que eu perguntava como estava, ele sempre dizia que estava bem. E eu perguntava em seguida: "Bem, bem ou bem, mal?". E ele sempre respondia com uma convicção fascinante: "Bem, bem!"...
Projeto Últimos Refúgios
Últimos Refúgios, Parque Estadual de Itaúnas
Coordenação Geral
Coordenação Geral
Textos sobre as áreas do parque
apoio de Campo (Guias)
Leonardo Merçon Yuri Salvador
Leonardo Merçon
Oberdan José Pereira Luis Fernando Tavares de Menezes
Marcio Silva (Marcinho) Cosme Guimarães (Coe) Damião dos Santos Gilcimar Santana (Gil) Angelo Camilo (Caboclinho) Tarciley São José Valdir Alves (Mestre Didi) Messias Timbohyba (Cicica) Leonardo Schuch
Fotografias
Leonardo Merçon Yuri Salvador
copy-desk
Lorena Louzada Assistente De Produção
Fotografias Making of
identificação de espécies
Felipe Merçon Joarley Rodrigues
Francisco Neto Marcos Accioly
Davi Tavares Rodrigo Lemes Martins Savana Nunes
Concepção Editorial
Assistentes de Campo
Felipe Gomes Leonardo Merçon Wérllen Castro
Felipe Merçon Francisco Neto Ilka Westermeyer Marcos Accioly
Produção Executiva
assistentes de produção
Dirlene Reis Ilka Westermeyer
Sandra Medeiros
Agradecimentos Patrocínio
Prefeitura Municipal de Vitória Lei Rubem Braga de Incentivo a Cultura Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos Apoio
Especialista prático em Natureza
Toninho Mateiro Produção executiva
Leonardo Merçon Lorena Louzada Yuri Salvador
Viação Grande Vitória Banestes Restaurante Giramundo Restaurante Dona Terezinha Restaurante Dona Pedrolina Bar e Restaurante Beira Rio
Beatriz Campos Edson Valpassos Maria da Glória Abaurre Maria Otávia Crepaldi Rafael de Rezende E a todos os moradores de Itáunas, aos funcionários da Gerência de Recursos Naturais/Iema, principalmente do Parque Estadual de Itaúnas, e a todos que tornaram possível a realização deste projeto.
Colaboradores Projeto Editorial
Felipe Gomes Leonardo Merçon Wérllen Castro Projeto Gráfico
Felipe Gomes Wérllen Castro
André Tebaldi Frederico Pereira Savana Nunes Gustavo Braga Aline Nunes Garcia Joarley Rodrigues Evandro Fonseca Adriano Monteiro
O texto deste livro foi composto com a família tipográfica Scala Sans. O papel utilizado no miolo é o Offset 180g/m2 da Cia. Suzano. Esta publicação foi impressa na primavera de 2011 pela Adescryn Gráfica Editora Ltda. Tiragem: 1000 exemplares
Governo do Estado do Espírito Santo
Renato Casagrande · Governador Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos – SEAMA
Paulo Ruy Valim Carnelli · Secretário Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos – IEMA
Aladim Fernando Cerqueira · Diretor Presidente Gerência de Recursos Naturais – GRN
Aline Nunes Garcia · Gerente Coordenação de Áreas Protegidas – CAP
Andre Luiz Campos Tebaldi · Coordenador Parque Estadual de Itaúnas – PEI
Frederico Pereira Pinto · Gestor
Dados internacionais de catalogação de publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Merçon, Leonardo Merçon (orgs); Últimos Refúgios: Parque Estadual de Itaúnas / Fotografias de Leonardo Merçon; Textos de Oberdan Pereira e Luís Fernando Tavares. Cariacica, ES: SEAMA/IEMA, 2011.
184p., color, 30x24cm 1.Unidade de conservação - Fotografia. 2.Parque Estadual de Itaúnas - Fotografia. 3.Parque estadual Espírito Santo (Estado). 4.Parque Estadual de Itaúnas. 5.Restinga - Espírito Santo. 6.Itaúnas. I. Título. CDU 630.27
“Só protegemos o que sabemos que existe!” Leonardo Merçon
Como continuidade do trabalho de sensibilização ambiental realizado pela equipe do projeto Últimos Refúgios em conjunto com colaboradores espalhados nos mais diversos cantos, este livro apresenta os registros fotográficos e documentais realizados no Parque Estadual de Itaúnas, ao norte do Espírito Santo. O projeto é uma forma de dar visibilidade aos recantos de natureza selvagem que conseguem resistir frente ao constante processo de degradação, acelerado pela idéia de progresso em que nossa sociedade ainda se baseia.
ultimosrefugios.com.br
VENDA PROIBIDA
Esta edição corresponde ao segundo livro da série e traz também uma pesquisa sócio-ambiental na comunidade da região, desnudando a relação entre o ecossistema e os moradores do entorno. A pesquisa é apresentada através de um documentário em vídeo, com DVD anexo ao livro.