Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira

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50 m nos indivíduos decrépitos, quando então o tronco parece mais fino. O estipe sustenta, no ápice, um capitel de cerca de 20 folhas grandes, flabelado-palmadas com aproximadamente 100 segmentos, pêndulos nas extremidades; pecíolo até 4 m de comprimento, com uma volumosa bainha. Palmeira dióica ou polígamodióica, isto é, há indivíduos com flores masculinas e indivíduos com flores femininas e hermafroditas. Inflorescência axilar, masculinas e femininas semelhantes, volumosas, de 2,5 a 3 metros de comprimento, pedúnculo cerca de 1 metro, com brácteas tubulares, raque 2 metros de comprimento com numerosos ramos providos de bractéolas tubulares de onde partem pequenos eixos de 1 a 6 cm onde estão inseridas as flores. O fruto é uma drupa oblongo-elipsóidea ou globosa, de 5 a 7 cm de comprimento, epicarpo formado de escamas rombóides, córneas, de cor castanho-avermelhada e lustrosas; mesocarpo (parte comestível) representado por uma camada espessa de massa amarelada ou alaranjada; endocarpo esponjoso, semente muito dura com endosperma homogêneo. Ao lado do açaí, o miriti é uma das palmeiras mais típicas da região amazônica, de onde, sem dúvida, é nativa. (...). Sua distribuição geográfica abrange toda a Amazônia e norte da América do Sul e estende-se ao nordeste e centro-sul do Brasil, aí numa forma agora considerada apenas uma variedade ecológica, antes conhecida pelo nome de Mauritia vinifera, que os modernos autores, estudiosos da família das palmeiras, consideram apenas um sinônimo de M. flexuosa. Quanto ao habitat, o buriti parece preferir os alagados, igapós, beira de rios e igarapés,

onde freqüentemente é encontrado em grandes concentrações, com parte do tronco imerso na água por longos períodos, sem que isso lhes cause danos. É portanto provável que a água concorra para maior dispersão dos frutos e daí as extensas populações ou buritizais nas ilhas do estuário e baixo Tocantins. Na terra firme vegeta nas áreas descampadas, em pequenos grupos, ou dispersos. Em todos os seus aspectos o buriti parece ser extraordinário, seja em populações, seja no porte ou na frutificação. O número de cachos frutíferos por indivíduos varia de 5 a 8. Observou-se um buritizeiro cultivado no Horto Botânico do Museu Goeldi produzindo 8 cachos de uma só vez. Contou-se, em um dos cachos, 728 frutos, o que dá uma estimativa de 5700 frutos naquele exemplar. Inúmeros produtos úteis do burizeiro são aproveitados pelas populações ribeirinhas, na sua alimentração ou em outras necessidades diárias: bebida natural ou fermentada, óleo e doces dos frutos, fécula e um líquido potável e açúcar do estipe, sabão caseiro, material para casas, etc. Do mesocarpo prepara-se o vinho de buriti , e, para isso, os frutos são previamente amolecidos em água morna, o que poderá ser feito, também, abafando-os em folhas durante 3 a 43 dias, dando-se melhor resultado em termos de sabor, segundo algumas pessoas. É que esse amolecimento nada mais é do que um meio de acelerar o amadurecimento dos frutos, vistos os mesmos caírem da planta ainda não bem sazonados. O preparo e consumo do vinho é algo semelhante ao do açaí. Da polpa preparase, também, o tradicional doce de buriti ,

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