VIDAS
Loureiro, um senhor comentarista Rádio esportivo perde Loureiro Júnior, referência profissional de uma geração de craques.
Na galeria dos radialistas esportivos que marcaram época entre as décadas de 1960 e 1980, Carlos de Loureiro Júnior ocupa lugar de destaque por ter contribuído com seu reconhecido talento como comentarista para o sucesso das equipes em que atuou. O radialista faleceu aos 76 anos, no dia 5 de fevereiro, em São Paulo, em decorrência de um tumor maligno. Em mais de 40 anos de carreira, Loureiro Júnior, como era conhecido, passou pelas maiores emissoras de rádio do País. Em 1963, deixou as salas de aula em Jacareí (SP), sua cidade natal, onde lecionou Português por dez anos, para trabalhar como narrador esportivo contratado pela Rádio Panamericana, em São Paulo. Um ano depois, trocou a função pela de comentarista, após um episódio que gostava de contar aos amigos. “Num jogo entre Juventus e Portuguesa, no Pacaembu, com pouquíssimo público, ao narrar um gol no final do jogo ele desafinou feio e alguns torcedores nas arquibancadas que ouviam a narração pelo rádio começaram a chamá-lo de galo garnizé”, relembra Roberto Carmona, repórter das Rádios Transamérica e Record. A desafinada, porém, foi mero acidente de percurso. Em 1967, ganhou projeção na Rádio Gazeta (AM 890) na “equipe disparada”, ao lado de Pedro Luís, Darcy Reis e Luciano do Valle. Nos anos 1970, trabalhou na Rádio Bandeirantes (AM 840) e, posteriormente, na Rádio Globo AM 1100 de São Paulo e Globo AM 1220 do Rio de Janeiro.
“Em 1977, tive o prazer de contratar Loureiro Júnior para a equipe de Osmar Santos na Rádio Globo. Profissional e pessoa de grande valor, Loureiro era dono de um português impecável. Lá no céu, ele tem lugar garantido no escrete dos grandes nomes do rádio esportivo brasileiro”, diz Jair Brito, jornalista de rádio e tv que gerenciava a rádio na época. Na fase de maior sucesso da consagrada equipe comandada por Osmar Santos na Rádio Globo faziam parte Loureiro Júnior e Carlos Aymard, comentaristas, Fausto Silva, Roberto Carmona e Henrique Guilherme, repórteres de campo, além dos também narradores Osvaldo Maciel, Oscar Ulisses e Odinei Edson, estes dois últimos, seus irmãos. Juarez Soares também participou da equipe, como apresentador de um programa que falava de futebol e variedades. O narrador Osvaldo Maciel, que o levaria anos depois para a Rádio Record AM 1000, relembra bons momentos ao lado do colega Loureiro. “Além da fluência e capacidade de improvisar, ele era bem humorado e brincalhão. Na cobertura do jogo Itália e França, na Copa de 1978 na Argentina – uma das oito que Loureiro cobriu –, fazia um frio de três graus abaixo de zero. Ele sugeriu que déssemos “um tapa no beiço”. Levou uma garrafa de conhaque para a cabine e fomos tomando até o final do jogo.” Henrique Guilherme, atualmente comentarista da Rádio Transamérica FM, de São Paulo, ressalta que Loureiro Júnior era um comentarista excepcional. “Transferia conhecimento pela forma precisa de falar, tiradas inteligentes e li-
ADILSON GOMES
P OR S ERGIO L UCCAS
Loureiro Júnior ao lado de Milton Neves durante a entrega do Prêmio FordAceesp que aconteceu em 2010 no jantar de final de ano da Associação dos Cronistas Esportivos do Estado de São Paulo.
nha de pensamento muito clara. Não foi à toa que ficou conhecido como “um senhor comentarista”. Além de conhecer tudo sobre futebol, era nosso consultor para qualquer dúvida de português.” Em seu blog, Jota Jr., narrador do canal Sportv, também lembrou o amigo. “Ele foi um dos mais qualificados comunicadores do rádio brasileiro. Marcou fortemente sua vida no rádio pela clareza de suas colocações, português correto, respeito ao ouvinte, profundo conhecimento do futebol. Minhas homenagens ao querido amigo. Mantivemos sempre uma respeitável amizade e admiração mútua irretocável. O rádio esportivo tem muito a agradecer.” Como bem registrou Antonio Edson Marques, narrador esportivo das rádios
Transamérica FM e Record AM, em seu site Rancho do Tonicão, Loureiro era do tempo em que no intervalo do jogo o narrador, após a bola parar, chamava os repórteres que depois lhe devolviam o comando. Então, ele chamava o plantão com os resultados de momento, e na volta o comentarista era o astro. “Loureiro Júnior vivia o clima do jogo, observava atentamente de sua cabine o posicionamento dos times e de lá passava aos ouvintes, com todo seu conhecimento e carisma, o que o torcedor, com o radinho colado no ouvido, esperava e queria ouvir. Saber como estava o jogo, como foi o gol, se seu time estava bem ou não. O comentarista era uma voz de imensa credibilidade, era dele a palavra final.”
Orlando Batista, o mais laureado Ele foi um dos ases da narração esportiva no Rio, ao lado de Jorge Cury, Valdir Amaral, Doalcei Bueno, Oduvaldo Cozzi. “O mais laureado locutor esportivo do Brasil”. A vinheta que fez parte do dia-a-dia das rádios no País marcou a história de um grande personagem do jornalismo esportivo brasileiro: o narrador de 14 Copas, Orlando Batista. Considerado um dos “monstros sagrados” do rádio, tinha mais de 60 anos de carreira, tendo passado pelas principais emissoras do Brasil. Nascido na cidade de Tijucas, Santa Catarina, Orlando começou sua história com apenas 16 anos, como cantor e apresentador de um programa infantil na Rádio Tupi. Foi na Rádio Mauá, porém, que se destacou e se formou como radialista e locutor, comandando um dos programas de esporte de maior sucesso na época, a Turma do Bate-Papo. Teve destaque, entre as décadas de 1950 e 1970, ao lado de nomes consagrados como Jorge Cury,
Valdir Amaral, Doalcei Bueno e Oduvaldo Cozzi. “Eu conhecia o Orlando há mais de 15 anos. Ele era um guerreiro. Um chefe exigente, que cobrava bastante, mas ao mesmo tempo ensinava muito. Estava sempre correndo atrás de melhorias para a rádio e para o programa. Era um cara muito inteligente e que sabia montar e liderar uma equipe como ninguém”, conta Walter Sales, colega radialista que cobria as partidas para a Turma do Bate-Papo. Orlando era conhecido pela forma única como narrava os jogos, com imparcialidade, palavreado fácil e entonação mais branda. Sua relação com o Vasco – quando a aposta das rádios cariocas caía sobre o Flamengo – marcou seu importante papel na cobertura dos bastidores do futebol brasileiro. “Ele teve uma visão maior. Percebeu que poderia se ‘calçar’ no Vasco e correu
atrás dessa oportunidade. Enquanto as outras emissoras disputavam o Flamengo, nós fazíamos uma cobertura completa do dia-a-dia no Vasco”, lembra Walter. A relação com o clube carioca era tão próxima que muitos não sabiam qual era o verdadeiro time do radialista. Enquanto alguns colegas dizem que nunca revelou seu time do coração, outros afirmam que Orlando era, na verdade, tricolor. “O time dele era Fluminense, sim, mas a proximidade com o Vasco acabava ofuscando esse fato. Ele era muito profissional e imparcial quando o assunto era futebol e cobertura dos times. O Orlando fez uma escola dentro dele. Tinha um jeito de lidar com o trabalho e narrar com improviso que poucos tinham”, conta o radialista Carlos Borges, que trabalhou com Orlando na Rádio Continental, em 1977.
Tendo narrado 14 Copas do Mundo, a última em 2002 – quando o Brasil foi pentacampeão –, Orlando ainda esteve à frente de programas como Campo do 13, na TV Record, e Dois na Bola, na TV Brasil. “Eu sou fã do Orlando. Ele tinha um jeito diferente – imparcial, mas assertivo – de narrar e lidar com o mundo dos esportes. Era uma pessoa que ensinava, cobrava bastante e tinha uma personalidade forte, mas sempre educado”, lembra o locutor Jorge Nunes, que trabalhou com Orlando na Rádio Mauá e atualmente integra a equipe da Tupi. O locutor faleceu no final de janeiro e recebeu homenagens de várias personalidades do rádio e do futebol brasileiro, entre elas o Presidente do Vasco, Roberto Dinamite, que se referiu a ele como “locutor esportivo e grande amigo”. JORNAL DA ABI 375 • FEVEREIRO DE 2012
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