CENTENÁRIO
Longa viagem através de Machado Exposição em três andares do Palácio Austregésilo de Athayde reúne o máximo do escritor: fotos, objetos, cartas, etc., etc. POR CLAUDIA SOUZA
Como um dos eventos mais destacados do centenário de morte de Machado de Assis, a Academia Brasileira de Letras abriu para o público, no dia 27 de junho, na Avenida Presidente Wilson, 203, no Centro do Rio, a exposição Machado vive!, que reúne material inédito do escritor, entre fotografias, objetos, manuscritos, cartas e publicações. O Presidente da ABL, Cícero Sandroni, informou que essa é a maior exposição já organizada sobre o patrono da Academia, superando até a exposição nacional do centenário de seu nascimento, em 1939. — Embora seja a guardiã do mais importante espólio de Machado de Assis, a Academia recorreu a um semnúmero de instituições e coleções particulares para mostrar ao público — ao longo de três andares do Palácio Austre-
gésilo de Athayde — centenas de peças variadas conduzindo o visitante a uma inesquecível viagem pela vida, pela obra, pela época, pela ambiência do escritor. Com a curadoria do poeta Alexei Bueno, a mostra apresenta, além de vasta iconografia de Machado, sua bibliografia completamente digitalizada, objetos pessoais — como o pincenê, a caneta-tinteiro, a famosa escrivaninha, estantes, livros e cartas de trabalho e pessoais — e ainda fotos e pertences da esposa Carolina: — Polígrafo consumado, Machado de Assis foi dos maiores romancistas do País, grande poeta, contista quase insuperável, crítico sagaz, admirável cronista, para não falar de suas incursões teatrais — ressalta o curador, que incluiu na exibição imagens do Rio de Janeiro, grande paixão do homenageado. — Carioca até a medula, sua obra, pode-se dizer, é até mais da então Corte
A vida, a época, a obra 1805 — Casam-se, no Rio de Janeiro, Francisco José de Assis e Inácia Maria Rosa, avós paternos de Machado de Assis. 1806 — Nasce, no Rio de Janeiro, o pai de Machado de Assis, Francisco José de Assis. É batizado na Igreja de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito, então sé da cidade. 1809 — Casam-se, em Ponta Delgada, Ilha de São Miguel dos Açores, José e Ana Rosa Machado da Câmara, avós maternos do escritor. 1812 — Nasce, em Ponta Delgada, Maria Machado da Câmara, mãe do escritor. 1815 — José e Ana Rosa embarcam para o Brasil, com a filha e um irmão, no movimento de imigração açoriana incentivado por Dom João VI. 1821 — Nasce Maria Inês da Silva, que viria a ser madrasta do escritor. 1838 — Casam-se, no Rio de Janeiro, os pais de Machado de Assis, ele pintor e dourador, ela agregada da chácara da rica portuguesa Dona Maria José de Mendonça Barroso. O matrimônio é celebrado na capela da chácara, no Morro do Livramento. 1839 — Em 21 de junho, nasce, no Rio de Janeiro, Joaquim Maria Machado de Assis, filho legítimo de Francisco José de Assis e Maria Leopoldina Machado de Assis (ela adotou o nome Leopoldina no Brasil, provavelmente em homenagem à mãe de Dom Pedro II). No mesmo ano, nascem Casimiro de Abreu e Floriano Peixoto. 1840 — Dom Pedro II completa a maioridade. 1841 — Nasce a irmã de Machado, Maria. 1845 — Morrem, durante uma epidemia de
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Jornal da ABI 330 Junho de 2008
varíola, a irmã, de quatro anos de idade, e a madrinha do escritor, Dona Maria José de Mendonça Barroso. Na Inglaterra, é aprovada a Lei Aberdeen, declarando piratas os navios negreiros brasileiros.
ou Capital Federal do que exatamente brasileira. Ela é quase toda passada na cidade onde ele nasceu e da qual praticamente nunca se afastou em seus 69 anos de existência. Bueno considera que Machado, que carregava personalidade tímida, interiorizada e pessimista, permanece vivo e contraditório cem anos após sua morte: — Paradoxalmente, a individualidade ímpar de Machado de Assis não se afinava com boa parte do que passa por ser o caráter típico do Brasil e dos brasileiros. Num país e numa cidade célebres pelas belezas naturais, a paisagem tem uma importância muito relativa em sua obra. Num povo geralmente conhecido pela extroversão e a alegria fácil, foi pessoalmente um tímido e literariamente
1860 — Machado entra como redator para o Diário do Rio de Janeiro, onde permanece até 1867. Deste ano até 1875, escreveu para A Semana Ilustrada, do alemão Henrique Fleuiss. Morre Casimiro de Abreu. 1861 — Publica a comédia Desencantos e a sátira Queda que as mulheres têm para os tolos. Morre Manuel Antônio de Almeida. Nasce Cruz e Sousa.
1847 — Nasce Castro Alves. 1849 — Morre, tuberculosa, Maria Leopoldina, mãe de Machado. Nasce Rui Barbosa. 1850 — É assinada a Lei Eusébio de Queirós, proibindo o tráfico de escravos para o Brasil. 1854 — Francisco José, pai de Machado de Assis, casa-se com Maria Inês da Silva. Acredita-se que no mesmo ano o jovem Machado foi trabalhar na tipografia de Paula Brito, na atual Praça Tiradentes. Em 3 de outubro, publicou na Marmota Fluminense o que, até o momento, consta como seu primeiro poema, o soneto À Ilmª Srª D.P.J.A. Começa a Guerra da Criméia. 1855 — Machado continua a colaborar regularmente com poemas na Marmota Fluminense, de Paula Brito. Nasce Artur Azevedo. 1856 — É admitido como aprendiz de tipógrafo na Tipografia Nacional, exercendo o ofício até 1858. Baudelaire publica Les fleurs du mal. 1858 — Segue como revisor de provas de Paula Brito. De 11 de abril até 26 de junho do ano seguinte, escreve em O Paraíba, de Petrópolis. Auxilia o escritor francês Charles de Ribeyrolles na tradução de O Brasil pitoresco. Também colabora com o Correio Mercantil, do qual fora revisor. Chega ao Rio o poeta português Faustino Xavier de Novais, irmão de Carolina, futura esposa de Machado. 1859 — Passa a escrever regularmente na revista O Espelho, fazendo crítica teatral, entre outros textos. Casimiro de Abreu publica As primaveras.
1862 — Colabora com a revista O Futuro, de Faustino Xavier de Novais, e o Jornal das Famílias. É admitido, a 31 de dezembro, como sócio do Conservatório Dramático Brasileiro, onde exerce a função de censor teatral. 1863 — Publica o Teatro de Machado de Assis, volume que se compõe de duas comédias, O protocolo e O caminho da porta. Nasce Raul Pompéia. 1864 — Morre Francisco José, pai do escritor, que viaja até Barra do Piraí e publica seu primeiro livro de versos, “Crisálidas”. Inicia-se a Guerra do Paraguai. Morre Gonçalves Dias. 1866 — Com a morte, no Porto, da mãe de Faustino Xavier de Novais, sua irmã Carolina embarca para o Brasil. Machado lança a comédia Os deuses de casaca. Também publica, no Diário do Rio de Janeiro, sua tradução do romance Os trabalhadores do mar, de Victor Hugo, que sai em três volumes no mesmo ano. Visitando Faustino Xavier de Novais, que enlouquecera, conhece Carolina. Nasce Euclides da Cunha. 1867 — Além de ser agraciado por D. Pedro II com a Ordem da Rosa, no grau de Cavaleiro, é nomeado, a 8 de abril, ajudante do Diretor do Diário Oficial, cargo que exercido até 1874. Morre Baudelaire. 1868 — Em fevereiro, em correspondência aberta com José de Alencar, apresenta o jovem poeta baiano Antônio de Castro Alves. 1869 — A 16 de agosto, morre Faustino Xavier
A Academia Brasileira de Letras promove a maior exposição já organizada sobre Machado de Assis.
de Novais. A 12 de novembro, Machado casase com Carolina Augusta Xavier de Novais, na capela da casa do Conde de São Mamede, no Cosme Velho. 1870 — A 23 de abril, começa a publicar no Jornal da Tarde uma tradução, logo interrompida, do romance Olivier Twist, de Dickens. Lança seu segundo volume de versos, Falenas, e Contos fluminenses. Castro Alves publica Espumas flutuantes. Termina a Guerra do Paraguai. 1871 — É assinada a Lei do Ventre Livre, em 28 de setembro. Publica seu primeiro romance, Ressurreição, e integra a comissão do Dicionário Marítimo Brasileiro. Morre Castro Alves. 1873 — Publica o livro de contos Histórias da meia-noite e a tradução de Higiene para uso dos mestres-escolas, do Dr. Gallard. É nomeado, a 31 de dezembro, Primeiro-oficial da Secretaria de Agricultura, Comércio e Obras Públicas. 1874 — De 26 de setembro a 3 de novembro, publica, em O Globo, o romance A mão e a luva, editado no mesmo ano. 1875 — É fundada a Gazeta de Notícias, em que Machado de Assis muito colaborará. Publica seu terceiro volume de versos, Americanas. 1876 — A partir de julho, e até abril do ano seguinte, escreve em todos os números da revista Ilustração Brasileira. De 6 de agosto a 11 de setembro, publica no Globo o romance Helena, editado no mesmo ano. em 7 de dezembro, é promovido a Chefe de Seção da Secretaria de Agricultura. 1877 — Morre seu grande amigo José de Alencar. 1878 — De 1º de janeiro a 2 de março, publica, em O Cruzeiro, o romance Iaiá Garcia, editado no mesmo ano. Sua