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‘QUANDO ESTÁ MUITO RUIM, ELES PEDEM SOCORRO À GENTE’

SUELI COSTA CRITICA O QUE CHAMA DE EXPANSÃO DA “MÚSICA RUIM” E, COM QUASE 50 ANOS DE CARREIRA, NÃO PARA DE PRODUZIR

Prestes a completar 50 anos de uma bem-sucedida carreira coalhada de sucessos, a compositora, instrumentista e cantora Sueli Costa continua inquieta como “nos tempos de Juiz de Fora (MG), quando só respirava música”. Com material inédito suficiente para mais de um disco, como descreve, a carioca criada em Minas planeja um álbum para celebrar seu meio século de envolvimento com a arte. O último, “Amor Blue” (2007), foi produzido e distribuído de forma totalmente independente, o que lhe consumiu madrugadas recebendo, pelo site, pedidos de envio de novas cópias para lojas de todo o Brasil. Os tempos são outros, e, agora, ela diz precisar aprender tudo sobre a distribuição digital. Só o que não mudou é sua disposição: “Apesar de dar desânimo a qualidade atual da nossa música, acho que, quando cansam de (ouvir) coisa ruim, acabam voltando para a gente”, ela ri.

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Há 55 anos você compôs sua primeira canção, “Balãozinho”. Há quase 50, em 1967, teve a primeira música gravada, “Por Exemplo Você”, por Nara Leão. Ou seja, começou cedo e com o pé direito, não?

Foi sorte, sim. Muita. Me sinto privilegiada, e ter começado bem me pôs para cima, me fez continuar. Segui em frente, sem me importar com o sucesso. Isso, sim, trabalhando muito, sem parar de criar.

Foram sete discos gravados, o último em 2007. Tem muita coisa inédita ainda? Planos para um novo álbum?

O novo deve sair em 2017, quando comemoro os 50 anos de carreira. Tenho inéditas suficientes para fazer um disco ou mais. Depois de ter sido gravada por (Maria) Bethânia, Nana (Caymmi), grandes cantoras, não dá vontade de regravar sucessos, não teria graça (risos). O último disco foi quando completei 40 anos de carreira. Chamei, além delas duas, a Simone, que também está entre as que mais me gravaram, e três pessoas mais novas, o Gabriel Gonzaga, filho do Gonzaguinha, a Fernanda Cunha, minha sobrinha, e o Celso Fonseca. Foi muito surpreendente a quantidade de discos que eu vendi, a repercussão foi enorme. Mas ainda tinha loja de música física, era outro momento. O processo foi todinho independente. Fiquei quase doida, mas foi um barato. Eu ficava a madrugada inteira no site, recebendo pedidos e enviando. Agora vou ter que aprender tudo sobre o meio digital (risos).

Com tantos sucessos, como avalia os ganhos com direitos autorais?

Melhoram muito quando tenho música em novela. Agora mesmo eu estava com “Medo de Amar Número 2”, em “Sete Vidas” (TV Globo). Mas o quadro geral da música brasileira anda meio estranho. O espaço para a boa música no nosso país parece que tem caído uma barbaridade. Cada um ouve o que quer, mas também precisa haver espaço para a música de qualidade.

Você crê que a nossa música, então, vive um mau momento?

Acho que aumentou demais a (produção de) música de má qualidade. A minha geração sempre buscou o acorde bonito, a superação, a letra trabalhada. Hoje você vê dois acordes e pronto. Como dizia o Tom (Jobim), ainda nem aprenderam o terceiro acorde. O bom é que, quando está muito ruim, eles pedem socorro à gente (risos). Quando ninguém aguenta mais, chamam a gente de volta. Acredito que tenha gente boa, uma possibilidade de renovação. Mas faltam oportunidades. Embora a internet possa ser uma saída.

Leia mais sobre Sueli Costa na reportagem “Elas têm voz”, a partir da página 12