Suplemento Emigrante 2ª parte | Diário de Coimbra

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24 | Doçaria

Especial Emigrante

Pecado da gula espreita na doçaria do Centro Há quem diga que provar os doces portugueses, sobretudo os conventuais, com receitas seculares, “é uma experiência divina”. Sendo assim, o Centro do país é o céu, com iguarias que vão do muito doce ao agreste, num reflexo harmonioso das próprias paisagens e culturas

A doce sedução dos Ovos Moles de Aveiro

ainda os sabores inigualáveis da Regueifa Doce, das Raivas, das Cavacas ou do Folar de Vale de Ílhavo.

Terras duras, doces agrestes

de extrema leveza.Estando na região, impõe-se um salto à Beira mais interior, para os lados da Guarda, para saborear Arrozdoce de Cesto; Castanhas de Chocolate ou de Rum, Creme Caseiro e Leite-Creme, Papas de Milho ou Pudim de Pão. Enfim, para comer e repetir.

Esquecidos, Minutos, Fascias, Xurrilhos, Bolo Finto, Pão Leve ou Pão-de-Ló. Uma variedade imensa, mas de difícil escolha.

Da “Barriga de Freira” ao Pastel de Tentúgal

Arte e engenho criaram doces de Castelo Branco

jadas, que, feitos à base de gemas e de amêndoa moída, eram tradicionalmente oferecidos pelos monges a hóspedes e pessoas que visitavam o mosteiro. Muitos outros mereceriam referência. Um dos incontornáveis é o Pastel de Tentúgal, de massa folhada e recheio de ovos, com um gosto refiando, surgido no Convento de Nossa Senhora do Carmo de Tentúgal (encerrado em 1898).

Ovos Moles em barricas e hóstias

Beiras (Alta e Baixa) Quem visita a região de Aveiro comete um grande “pecado” se ignorar a doçaria tradicional. Os famosos Ovos Moles são obrigatórios. A sua confecção, iniciada por freiras de diferentes conventos - dominicanas, franciscanas e carmelitas - prima por inúmeros detalhes e segredos passados de geração em geração. Conta a história que as religiosas utilizavam a clara do ovo para engomar as roupas e depressa deram destino às gemas, na confecção de doces. Com extinção de conventos e ordens religiosas, foram as educandas das freiras que mantiveram vivas as receitas. A apresentação também é singular: são vendidos em barricas de madeira pintadas com barcos moliceiros e outros motivos da Ria de Aveiro, em tacinhas de cerâmica ou ainda em hóstias (massa especial de farinha de trigo), representando elementos marinhos. A existência de doceiras experientes na região levou ao surgimento de novos produtos, que ombreiam com os Ovos Moles. O Pão-de-ló de Ovar é um deles, distinguindo-se pela textura cremosa e por ser feito em formas de barro forradas com papel. Castanhas de Ovos, Pastéis de Águeda, Broinhas de Ovos Moles, Beijinhos de Sever do Vouga, das Bateiras do Vouga, Barquinhas do Vouga e Amores de Sever são outras iguarias regionais, que incluem

Arroz-Doce é obrigatório

Tentúgal com pastéis famosos

No interior do país, por exemplo para os lados de Viseu, o ambiente agreste, com condições geográficas difíceis, solos xistosos e graníticos, pinhais, com Invernos chuvosos e frios e Verões quentes e secos, reflectiu-se na gastronomia e, naturalmente, na doçaria. Sujeitos à sazonalidade, os beirões desenvolveram preciosos segredos sobre a arte da conjugação perfeita de alimentos, por vezes muito básicos, na confecção de pratos de grande valor nutricional e de sabor inigualável, à base de cereais, leguminosas, hortícolas, frutos, azeite e leite, em detrimento das carnes e do bacalhau. Face à escassez de certos alimentos, desenvolveu-se uma doçaria austera e de raíz popular, pouco abundante em ovos, amêndoas ou açúcar, onde as Filhós, as Papas de Milho, o LeiteCreme e o Arroz-Doce são as expressão maior. Exceptuam-se, no entanto, alguns doces na Beira Alta, no caso conventuais, “herdeiros” da tradição doceira do Convento de Ferreira de Aves, caso dos Doces de Ovos de Viseu ou as Castanhas de Ovos de Viseu. Famosos são também os Pastéis de Feijão de Mangualde, ou os Pastéis de Vouzela, com um recheio de ovos envolvido por uma massa finíssima

Quem visitar Coimbra vai conhecer as “Barrigas de Freira”, doce com imensas variantes, baseado em ovos e açúcar. Conventual, são famosas as criadas a partir de segredos culinários das freiras do Mosteiro de Santa Maria de Celas. Mas também irá conhecer as arrufadas, mais comuns na Páscoa. Actualmente surgem em forma redonda, mas já tiveram o feitio de uma ferradura, e são normalmente enfeitadas com açúcar. Não sendo um doce conventual, foi muito comum a sua confecção em conventos, nomeadamente no de Sant’Ana e de Santa Clara-aVelha (a lampreia de ovos é também atribuída às clarrissas de Santa Clara). Pastéis de Santa Clara, Manjar Branco, Queijadas de Coimbra e Talhadas de Príncipe, são outros doces que a cidade guarda, com a oferta a ir crescendo, por exemplo com a recente criação do Bolo e Mimos de Santo António.Pelo distrito, há também muita e variada doçaria, tão ou mais famosa do que a da cidade. Por exemplo o Bolo da Páscoa, receita tradicional de Mira, de preparação rápida, com uma textura marcadamente suave e fofa. Ou os Pastéis do Lorvão, conventuais, criados no Mosteiro de Lorvão, Penacova, com uma textura idêntica à das quei-

Tijelada é típica na região Centro Ainda no Centro, mas mais para sul, a região de Castelo Branco revela uma gastronomia de identidade vincada que aproveita, e bem, os produtos que a terra dá. De entre a grande diversidade de pratos típicos regionais, as sobremesas tradicionais resultaram do engenho popular na conciliação de ingredientes. De forma fantástica, diga-se, como bem sabe quem já provou a Tigelada Beirã, cozida em forno de lenha, ou as Papas de Carolo, feitas à base de milho moído, quase tão populares como o Arroz- Doce e também enfeitadas com canela em pó. Se o corpo ainda aguentar, é de provar os Cartuchos de Amêndoa de Cernache do Bonjardim, confeccionados à base de doce de ovos envolvido numa película de massa de amêndoa. Se houver, porque são mais habituais no Natal, doçuras fritas como os Nógados, as Pantufas e as Filhoses, não são de desprezar. Depois, há ainda bolinhos regionais de eleição, caso dos Borrachões, Biscoitos de Azeite, Biscoitos de Leite, Broas de Mel,

Sardinhas doces de Trancoso Lâminas, Grades, Bolo de São Vicente, Argolinhas do Loreto, Taroucos de Salzedas, Ais, Esquecidos, Cavacas de Santa Clara, Bicas, Bolo Paraíso, Bolo São Francisco, Sardinhas Doces de Trancoso.

Beira Litoral

Lampreia de Ovos Pasteis do Lorvão, Nabada de Semide, Morcelas de Arouca, Arrufadas de Coimbra, Nógado de Semide, Lampreia de Ovos, Melícias, Trouxas de Ovos Moles, Manjar Branco, Barrigas de Freira, Pastéis de Tentúgal, Fatias do Freixo, Tijelada.


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