cativeiro elas se ‘lavaram’ apenas uma única vez. Certo dia, Rosanna percebeu pelas conversas ao celular, que um dos capangas que cuidava do cativeiro havia tido uma briga com a mulher.
Exemplo de fé, de superação e da alegria de viver. De peito aberto, Rosanna Batagin fala pela primeira vez de seu sequestro e do trauma em cativeiro.
questro quarto era imundo e muito quente. Não havia camas e, sim, pedaços de espuma com muito cabelo grudado. “Era terrível e muito nojento, mas era onde a gente dormia”, conta. “E as necessidades fisiológicas eram feitas numa lata de cloro de piscina. O cheiro era insuportável”, complementa. Devota de Nossa Senhora Aparecida, Rosanna orava dia e noite. Em todo esse período elas nunca olharam diretamente para o rosto de nenhum sequestrador. Eram obrigadas a olharem sempre para baixo, para o chão. “Só via os sapatos. Os membros da quadrilha usavam tênis e chinelos e muitas vezes pareciam drogados. O chefão era diferente. Usava sapato de couro alemão e estava sempre perfumado. Um detalhe interessante é que todos tinham pés pequenos, pés de adolescente”. No segundo cativeiro, havia um banheiro e um quarto. Durante o dia elas ficavam trancadas no banheiro e à noite iam pro quarto. Em 25 dias de
Não pensou duas vezes, retirou uma das medalhinhas de Nossa Senhora Aparecida, que sempre carrega consigo, e ofereceu ao rapaz. “Ele pegou a medalhinha e
nunca mais o vi por lá”. O filho André, que acompanhava de perto a movimentação de policiais em sua casa e ouvia toda a conversa através das escutas telefônicas encontrava refúgio no quarto da mãe, onde sentia a presença de Nossa Senhora. “A sensação era muito grande e me dava força”. Depois de concluídas as negociações, as duas seriam deixadas num porta-malas de um carro, mas o sequestradores mudaram a tática. Abandonaram Rosanna e Sonia amarradas num matagal. Elas foram avistadas por um helicóptero do Deic (Departamento de Investigações sobre Crime Organizado). “O *Dr. Godofredo Bittencourt foi meu grande salvador. Ele pulou de três metros de altura e tentava rasgar a fita adesiva que amarrava pernas, braços e bocas no dente, para nos libertar. Essa imagem, ainda hoje, é muito nítida na minha memória”.
História de superação
Dez anos depois, alguns dos sequestradores morreram, outros foram presos e alguns ainda podem estar livres. Rosanna demorou a superar o trauma e enfrentar lugares públicos e cheios. “Só não deixei de ir à Festa do Peão de Americana que adoro e me sinto segura”. Hoje fala de peito aberto sobre e sua aura trasborda uma luminosidade sem tamanho de bondade. “Superei aquele trauma, não perdi minha humildade nem a vontade de viver cada segundo dessa vida maravilhosa. Sempre tive muita fé, mas ela se renovou, triplicou... Isso é o mínimo de minha parte, afinal, nasci de novo”. Adepta de batas de seda e louca por bolsas de todos os tipos, a fã de carteirinha do Rei Roberto Carlos, que não resiste a uma lasanha ou a um cochinillo, famoso prato espanhol, não perdeu o hábito de andar com as medalhinhas de Nossa Senhora escondidas sob a roupa. E definitivamente abandonou as joias. “Só fiz uma promessa, a de estar sempre com quem amo e ser feliz!”
* Dr. Godofredo Bittencourt Filho era diretor do Deic na época
17