Tribuna do Norte - 29/05/2011

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revista da tv

Domingo | 29 de maio de 2011

Tribuna do Norte • Natal • Rio Grande do Norte 3 ANIMAL PLANET/DIVULGAÇÃO

FERNANDA GODOY De Nova York

erenidade é uma palavra difícil de associar à imagem de Mike Tyson, ex-campeão mundial de boxe, lenda do esporte, conhecido pela violência dentro e fora dos ringues. Talvez por isso “Cara a cara com Mike Tyson”, do Animal Planet, que estreia no Brasil em 16 de junho, às 20h, seja fascinante. O programa em seis capítulos, que o próprio ex-lutador define como um híbrido entre reality show e documentário, mostra a sua busca pela paz consigo mesmo. Oficialmente, o foco da atração é a paixão de Tyson por pombos de corrida. Mas o tema verdadeiro é a reconstrução do ex-pugilista. Depois de chegar ao apogeu da fama e de descer ao inferno, ele perdeu uma filha, a maioria dos amigos da época em que era rico, entrou em depressão, engordou. Sua reaparição mostra um homem em busca da regeneração. Virou vegetariano, emagreceu, voltou a se exercitar — mas não a lutar. — Quando me olho no espelho vejo um cara danificado e que, aos poucos, tenta juntar os cacos e se reconstruir — declara. Vestindo camisa polo verde, calça jeans e tênis novos, Tyson entrou sorridente no salão do hotel de Nova York, onde o programa foi apresentado à mídia internacional, mas sua figura nunca perde totalmente um traço ameaçador. Quando começa a gesticular com mais velocidade, dá para pressentir o pavor de ter que enfrentá-lo. — Sou o mesmo homem. Só não faço mais as mesmas coisas, mas não mudei. Se você me apertar demais, vou morder. Mas não quero viver a mesma vida de antes — diz. O programa nasceu quando um produtor do Animal Planet descobriu que o ex-lutador havia se reaproximado dos antigos amigos de Jersey City (no estado de Nova Jersey) para treinar pombos de corrida. Tyson voltou à antiga paixão da infância pobre e marginal no Brooklyn. — Eu era gordo, usava óculos, tinha roupas horrorosas, os colegas implicavam comigo — conta ele, relatando como o bullying o afastou da escola e o aproximou de garotos que se dedicavam às corridas de pombos: — Infelizmente, nunca voltei para a escola, mas me apaixonei pelos pássaros. O primeiro murro da vida de

S

O ex-pugilista diz que aos poucos tenta se reconstruir e que quer dar bons exemplos

UMA FERA DOMADA Tyson foi desferido aos 13 anos, quando um garoto mais velho degolou um de seus pombos. Foi assim que tudo começou. O expugilista caiu na marginalidade dos conjuntos habitacionais barra-pesada e acabou preso numa instituição para menores infratores. Foi ali que conheceu o maior ídolo da história do boxe, Muhammad Ali. Durante uma visita, Ali despertou no então adolescente o desejo de ser respeitado, como ele conta no primeiro capítulo da atração. O garoto realizou seu sonho, tornando-se o mais jovem campeão dos pesos-pesados aos 20 anos. Mas nem toda a fama foi desejável: Tyson foi condenado à prisão por estupro em 1992 e escandalizou o mundo do esporte ao arrancar, com uma mordida, um pedaço de uma orelha de Evander Holyfield, em uma luta em 1997. — Eu era esse machão, pura testosterona, não admitia que brincassem comigo. Eu estava sempre

com raiva de quem fazia piadas a meu respeito, eu me levava a sério demais — lembra Tyson. Agora, ele diz ter aprendido que a vida é curta e totalmente imprevisível, que perdeu a ilusão de controlar os acontecimentos: O que a vida me der eu tenho que encarar. Se Deus quiser, terei condições de enfrentar. Se eu não suportar, estou acabado. De todos os incidentes que marcaram sua vida, o que parece ser o mais perturbador é a morte da filha Exodus, aos 4 anos, em um acidente doméstico com uma esteira ergométrica, em 2007: Pensei que minha vida acabava ali. Mas depois me dei conta de que minha vida estava recomeçando, e agora tenho que tentar dar bons exemplos e não viver da maneira como vivia no passado. Tyson voltou a se casar e teve mais dois filhos, com quem vive agora em Las Vegas. — Tenho prioridades diferentes, tenho filhos para criar. Não tive bons pais, mas vou quebrar esse ciclo, não vou ser

um pai drogado, bêbado, incapaz de proteger os filhos — avisa. O português Mário Costa, dono do ringue em Jersey City onde Tyson iniciou a carreira, é um dos que realmente o acompanharam a vida toda. Ele conta que os problemas do então boxeador com drogas foram se agravando e que os amigos antigos tentaram intervir, mas os empresários não deixavam. — Não queriam que ele parasse de lutar. Se não fosse pela ajuda dos psiquiatras e das clínicas de reabilitação, ele provavelmente teria morrido — diz Costa. Jersey City está a uma distância de Manhattan como Niterói de Ipanema, e todo o glamour desaparece no trajeto. O ringue de Mário Costa, com pintura descascada e móveis velhos, entrega a idade, mas o dono diz que Tyson não quer mudanças. — É muito bom estar com meus amigos, me sentir confortável e desinibido, saber que não tenho que me preocupar em ser julgado pelos outros — afirma o ex-lutador.

LONGE DOS RINGUES, MIKE TYSON TREINA POMBOS EM ATRAÇÃO DO ANIMAL PLANET


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