Tribuna do Norte - 23/06/2013

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NATALIA CASTRO

G

revista da

Natal - Rio Grande do Norte Domingo, 23 de junho de 2013

abriel Braga Nunes e Sergio Guizé se conheciam somente de vista, da Praça Roosevelt - reduto underground em São Paulo -, quando viajaram para Los Angeles por conta dos preparativos para de “Saramandaia”, nova novela das 23h que estreia amanhã e será exibida de terça a sexta-feira , com 57 capítulos. Por acaso, se esbarraram na imensa cidade americana, em um loja de instrumentos musicais. E descobriram, em comum, o apreço pelas guitarras. - Nosso primeiro dia de amizade foi vendo guitarras. Ainda não tocamos juntos, mas Gabriel vive com a guitarra nas costas, e eu canto e toco na Tio Che, uma banda de punk-rock - comenta Guizé. Pode-se dizer que a paixão pela música - e a torcida pelo Corinthians - são apenas dois dos elos entre a dupla. Oriundos da cena teatral paulista, os atores compartilham, também, um currículo cheio de tipos incomuns em suas carreiras. Como os da próxima novela das 23h, Na adaptação de Ricardo Linhares para a trama de Dias Gomes, exibida originalmente em 1976, Sergio é João Gibão, um homem que nasceu com asas e sofre com sua anormalidade. Já Gabriel incorpora Aristóbulo, professor de Literatura que se transforma em lobisomem nas madrugadas de quinta para sexta-feira. - “Saramandaia” trata do tema mais atual de todos, que está nos noticiários semanalmente: a intolerância com as diferenças. A sexual, a racial, a religiosa. É uma novela extremamente atual, mesmo que não tenhamos mais a ditadura militar. Uma grande sacada do Linhares - afirma Gabriel. O ator, que na sua volta à Globo se destacou como o psicopata Léo em “Insensato coração” - de Linhares e Gilberto Braga -, foi um dos primeiros convidados do autor para participar do remake. - Sabia que o Gabriel faria bem aquele personagem cheio de formalidades que tem uma fera intensa dentro dele - ratifica Linhares. Já Sergio foi alçado pela produção devido à performance como o policial Breno na primeira

temporada da série “Sessão de terapia”, exibida no ano passado pelo GNT. - Queríamos um rosto novo e quando vimos a chamada do programa, achamos nosso João Gibão. O trabalho dele foi o próprio cartão de visitas - elogia o autor. Apesar de tipos esdrúxulos, Aristóbulo e Gibão reagem de modos distintos às suas excentricidades. Enquanto um aceita com naturalidade sua condição e se esconde por uma questão social, o outro vive amargurado com suas asas. As mesmas que o impedem de dar um passo a mais no romance com Marcina (Chandelly Braz). - Ele se coloca como uma aberração e tem medo de revelar esse defeito que, na verdade, é uma virtude: A liberdade. O grito de liberdade incomoda. E o legal da novela é levantar essas questões: por que ele não me aceita? por que eu sou diferente? - filosofa Sergio. Em comum, Gibão e seu intérprete dividem a angústia. Se o personagem sofre sozinho por ter um par de asas, o ator de 33 anos nascido em Santo André (SP) revela que os sentimentos de inquietude e tensão são inerentes ao seu processo criativo. Mesmo com anos de profissão - e muitas peças de teatro - nas costas, ele ainda encara cada personagem como “um problema a ser resolvido”. - Vira um processo esquizofrênico mesmo. Eu não sossego. Mas optei por ser ator por isso. Se fosse fácil, não teria graça. Já recusei muitos papéis porque não me motivavam. Para ficar mais focado, ele optou por morar perto do Projac e costuma se isolar em casa com o cachorro, Gustavo Micharia. Conta que passa horas absorto “no mundo das ideias”. Pintor nas horas vagas, Sergio está levando para as telas a interpretação do livro “O túnel”, do argentino Ernesto Sabato. - Acho que tem a ver com o Gibão, algo como um tipo de homem que se esconde dentro do seu próprio túnel. O que vem depois pode ser uma surpresa boa ou ruim compara ele, que, com a cabeça fervilhando, tem dormido pouco: - Eu levo o personagem para casa, e é difícil sair dele. São anos de terapia.

Fora do comum Com papéis inusitados em “Saramandaia” Gabriel Braga Nune Guizé analisam seus personagens e os caminhos da profissão LEO MARTINS

Mais escolado em se tratando de novelas, Gabriel vai por outra linha. Considera o processo de criação “bem gostoso” e acha que o personagem se desenha aos poucos, sempre na relação com os outros. Aristóbulo, por exemplo, passará por uma curva dramática “bonita” ao desapegar da tradição e aceitar os novos tempos. Também lidará com um dilema ao se apaixonar por Risoleta (Débora Bloch), cuja fama não é das melhores na cidade de Bole-bole. - O que fazer quando a paixão não é bem vista? Ou até mesmo não é aceita? - indaga ele, dizendo que escolheu fazer o papel pela vontade de interpretá-

lo: - É como namorar - compara. Da versão original, Gabriel guarda na memória a música de abertura, “Pavão misterioso”, na voz de Ednardo; e, não por acaso, o lobisomem vivido por Ary Fontoura. Segundo ele, o convite para a novela o remeteu à “primeira infância”, a sensações lúdicas que ficaram até os dias atuais. Desde que retornou à Globo, em 2011, o ator de 40 anos fez, além de “Insensato coração”, “Amor eterno amor” e “O canto da sereia”. A realização artística na TV, ele explica, justifica o afastamento do teatro. Pelo mesmo motivo, Sergio abdicou de três peças que fa-

zia em São Paulo: “Chá com limão”, “Hotel Lancaster” e “Pornô falcatrua”. Mas, avisa, tem pavor de se tornar um ator à base do piloto automático. - Não tenho nada contra a TV, mas morro de medo de fazer sempre o mesmo, de estar ali somente pelo trabalho e pelo dinheiro. Enfim, tenho dois braços e duas pernas. Prefiro fazer outra coisa a algo relacionado à arte medíocre - garante ele, que leva para a vida o lema “Prefiro viver em pé do que morrer ajoelhado”, herdado da época em que integrou o movimento punk, na juventude. Enquanto Sergio gesticula sem pa-

r f q r ( j c t t n m f p d


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