Tribuna do Norte - 21/04/2013

Page 60

2

tn família

Natal - Rio Grande do Norte Domingo, 21 de abril de 2013

« PAULO COELHO » O conto

O

iogue Raman era um verdadeiro mestre na arte do arco e flecha. Certa manhã, ele convidou seu discípulo mais querido para assistir a uma demonstração do seu talento. O discípulo já vira aquilo mais de cem vezes, mas mesmo assim, obedeceu ao mestre. Foram para o bosque ao lado do mosteiro. Ao chegarem diante de um belo carvalho, Raman pegou uma das flores que trazia no colar, e colocou-a num dos ramos da árvore. Em seguida, abriu o alforje e retirou três objetos: um magnífico arco de madeira preciosa, uma flecha e um lenço branco, todo bordado em lilás. O iogue então se posicionou a uma distância de cem passos da árvore, de frente para o alvo, e pediu ao discípulo que o vendasse com o lenço.

O discípulo fez o que o mestre ordenara. “Quantas vezes você já me viu praticar o nobre e antigo esporte do arco e flecha?” – perguntou. “Todos os dias”, respondeu o discípulo. “E sempre o vi acertar na rosa, a uma distância de trezentos passos”. Com os olhos cobertos pelo lenço, o iogue Raman firmou os pés na terra, distendeu o arco com toda a sua energia – apontando na direção da rosa colocada num dos ramos do carvalho – e disparou. A flecha cortou o ar, provocando um silvo agudo, mas sem atingir a árvore, errando o alvo por uma distância constrangedora. “Acertei?“ disse Raman, retirando o lenço que cobria os olhos. “O senhor errou, e por uma grande margem”, respondeu o discípulo. “Achei

que ia me mostrar o poder do pensamento, e sua capacidade de fazer mágicas”. “Eu lhe dei a lição mais importante sobre o poder do pensamento”, respondeu Raman. “Quando desejar uma coisa concentre-se apenas nela: ninguém jamais será capaz de atingir um alvo que não consegue ver”. Chega ao final, hoje, série de artigos tendo como temas “O Conto”, “O fato” e “A reflexão”. Leia e reflita sobre um mestre de arco e flecha, um jornalista francês e um sociólogo ateu, e sobre uma palavra que resume muita coisa na vida

O fato O jornalista francês Frédéric Lenoir pergunta ao sociólogo ateu Jacques Ellul, se é possível viver numa sociedade onde se consiga ignorar por completo a ideia de religião. - Nós podemos dizer: “Se Deus não existe, então não há porque se preocupar com religião”. Entretanto, resta o problema do se. Ninguém garante que Deus existe, mas também não afirma a sua inexistência. A escolha espiritual passa a ser uma aposta. Eu não creio, o abade Pierre crê. Qual seria o propósito desta discussão, já que ambos procuramos ajudar na criação de um mundo melhor?

A reflexão De Robin Sharma (em “O monge que vendeu sua Ferrari”): Existe uma simples palavra que sintetiza todo o sentido da vida. Ela é a Paixão. Devemos carregá-la escrita na testa, a cada minuto do dia, porque é o fogo sagrado da Paixão o combustível mais potente dos nossos sonhos. A sociedade se empenha em minimizar o sentido dessa palavra, mas nós devemos lutar para mantêla viva. Se quisermos ter uma vida miserável, devemos renunciar às coisas pelas quais somos apaixonados, e passar a trabalhar por obrigação. Eu não estou me referindo à paixão romântica – embora isso também seja importante para uma existência inspirada – e sim em permitir que o entusiasmo penetre em tudo o que fizermos. Quando isto acontece, não pensamos em passado ou futuro: pensamos no que se passa conosco naquele momento.

MÉDICO E PROFESSOR DA UFRN - BOUCINHAS_JC@HOTMAIL.COM

(PSICODERMATOLOGISTA) RITAURSULA@IG.COM.BR

« JORGE BOUCINHAS »

« RITA DE C.M. MEDEIROS HOMET MIR »

O laser de CO² já foi superado

O

bviamente todas e quaisquer obras humanas, com o tempo, tendem a ser superadas, pois tal é uma lei básica da existência e chega-se a ter efeitos superiores com procedimentos cada vez mais modernos. Os resultados do emprego do Laser de CO2 Fracionado em Estética, por melhores que sejam quanto ao rejuvenescimento facial e ao corporal, não poderiam ser exceção. Ora, uma das áreas que mais tem progredido nesse campo da Estética tem sido o do emprego de agentes químicos que promovam o combate às rugas, à flacidez, às asperezas da cútis, tudo com o fito de dar aspecto rejuvenescido à mesma. Uma área fundamental é a aplicação clínica dos produtos com ação experimental e clinicamente confirmada, o que constitui a chamada Cosmecêutica Clínica. A cada dia novos ativos (substâncias químicas de ação efetiva e bem comprovada) são oferecidos ao grande público, estando o campo a ter um progresso meteórico só superado pela explosão da Informática. A acne já foi posta de joelhos com o uso da isotretinoína, as rugas acovardaram-se antes os Peelings profundos mais modernos, um novo mundo abre-se aos interessando em ficar mais belos e aparentar mais novos. Um grande problema, porém, é enfrentado pelos modernos Cosmecêuticos. A pele humana foi projetada, por razões de proteção, para funcionar como uma barreira interposta entre o meio interno do organismo e o ambiente, pelo que resiste naturalmente a ser penetrada com facilidade. Para dirimir tal dificuldade dispõe-se, já, de vasta gama, de recursos, alguns usados pelas indústrias e outros aplicáveis no local de trabalho. Dentre os primeiros há uma série ampla de aditivos químicos que incrementam a penetração dos fármacos e outra de preparações de partículas especiais que servem de veículos a medicamentos, driblando-se assim a barreira cutânea. Dos segundos, inicialmente pode ser citada a Fonoforese. Ela está intimamente ligada ao uso dos Aparelhos de Ultrassom Terapêutico (UST) e pode ser descrita como a facilitação da transferência de substâncias através da pele por meio das ondas sonoras produzidas por eles, que penetram pelas glândulas sebáceas, folículos pilosos e ductos sudoríparos. As mais diversas substâncias podem ser utilizadas nesse trata-

Chiquinha Gonzaga e pulsão de vida

mento, em forma de cremes ou géis, podendo os princípios ativos serem até mesmo incorporados ao gel de acoplamento do UST. Os resultados são fabulosos, pois a penetração maior possibilita uma ação mais efetiva daquilo de que o organismo necessita. Um segundo e grande auxiliar para o sucesso dos tratamentos é a Micropuntura com Rolete, existindo um já bem conhecido, o Dermaroller. Tão efetivo é, que muitos chegam a considerar os resultados de seu emprego, quando feito por mãos hábeis e com aplicação de fármacos adequados e de superior qualidade, como um substituto ideal para o uso dos famosos Lasers quando nos períodos mais quentes e ensolarados do ano, nos quais muitos cuidados precisam ser tomados, e a irradiação Laser fica prejudicada. Nessas ocasiões a Rodopuntura torna-se quase uma super-heroína da beleza! Os rolinhos, com centenas de estimuladores que promovem a renovação celular, trata de acne, rugas e flacidez através da realização de micro-estimulações. E suas funções não param por aí. Como induz a regeneração, é também indicado para rugas fixas e linhas de expressão, estrias e cicatrizes. A pele, ao entrar em processo de regeneração, aumenta a produção de colágeno e de elastina, substâncias que lhe dão sustentação e aumentam a tonicidade e a turgidez. Aliandose a tudo isso o aumento da penetração de substâncias benéficas, que beleza! Ademais, embora possa, a priori, parecer um processo agressivo, não é doloroso, pois sempre se faz sob efeito de anestésico tópico. Na clínica diária pode (e deve!) ser associado a tratamentos como a Radiofreqüência e o uso de aparelhos de Infravermelho Longo. Apesar de ainda não dicionarizada a forma de chamar a nova técnica, tem-se-lhe aplicado o ápodo de Fonorodopeeling, nome feio, algo complicado e que pouco diz. Pode-se, agora, responder à pergunta-título dizendo que a aplicação do Laser de CO2 Fracionado de forma alguma está superada, e até acrescente-se que provavelmente tão cedo não o será apenas pelo emprego de procedimentos isolados. Não obstante, a associação de recursos novos abre as portas a que se tenha um recurso econômico para obter resultados bem similares (e veja-se que o Laser é muitíssimo bom) com a combinação de técnicas de ação sinérgica. Felizes estes tempos que correm, prenhes de recursos maravilhosos!

H

oje faço a minha homenagem à grande mulher, figura humana, compositora que esteve adiante da sua época por sua inteligência, sensibilidade e humanidade. Recorro ao Larousse Cultural para sintetizar a sua vida: Chiquinha Gonzaga, nome artístico de Francisca Edwiges Neves, compositora e pianista popular brasileira (Rio de Janeiro, 1847- id.1935).Aos o 11 anos de idade já escrevia sua primeira composição, Canção dos Pastores. Após dois casamentos malogrados, tornou-se professora de piano e conseguiu participar de conjuntos orquestrais que animavam as festas da época. Em 1877, lançou sua primeira composição de sucesso, a polca Atraente. Musicou um libreto de Artur Azevedo, Viagem ao Parnaso, recusado pelos diretores teatrais pelo fato de ter sido composto por uma mulher. Lutando contra os preconceitos, conseguiu finalmente em 1885 musicar uma opereta de costumes, A Corte na Roça, da qual ficaria famoso o cateretê Menina Faceira. A relação de suas obras é vasta, incluindo 87 partituras de peças teatrais e cerca de 2mil composições. Participou da campanha abolicionista, dedicando a renda da venda de suas músicas a associações em prol da abolição da escravatura; também lutou pela implantação da República. Em 1899, procurada por uma comissão do cordão Rosa de Ouro, escreveu Ô Abre Alas. Em 1911 compôs a modinha Lua Branca, conquistando novos triunfos em 1915, com Sertaneja, peça de Viriato Correia por ela musicada. Seu último trabalho teatral (música para Maria, peça de Viriato Correia ) data de 1933. Como médica, o que me impressiona foi a sua Pulsão de Vida. Tentarei explicar brevemente este termo tão usado na Psicanálise.Utilizarei o conceito de Rubens Marcelo Volich: “Ao formular o conceito de Pulsão, Freud destaca seu caráter energético, vinculado às excitações do organismo. Verdadeira força-motriz do comportamento humano, a pulsão distingue-se do instinto por sua natureza e por sua plasticidade quanto aos seus modos de expressão e objetos de satisfação. Os instintos manifestam-se e buscam satisfação essencialmente por intermédio de mecanismos automáticos da fisiologia e do comportamento, determinados principalmente por fatores biológicos e hereditários. A inanição, por exemplo, provoca um rebaixamento dos níveis de glicemia no sangue e o desconforto desse estado só cessará diante da ingestão de alimentos. Por sua vez, a pulsão é passível de manifestação por meio de seus representantes psíquicos, suportando uma maior gama de objetos e mo-

dalidades de satisfação. Tomando o mesmo exemplo,sabemos que, por um certo tempo, tanto o bebê como o adulto são capazes de suportar o desconforto da fome mediante a lembrança, de caráter alucinatório, de uma experiência anterior de satisfação.” Volto a recorrer ao Larousse Cultural para definir Eros e Tânatos. Eros , entre os gregos, era a divindade do Amor. Deus criador, nascido do caos primitivo, torna-se, a partir do séc.VI a.C., o Deus da paixão amorosa, cujo aspecto é o de uma criança que fere os corações com suas flechas.Na teoria freudiana, Eros é o conjunto de pulsões de vida, conjunto das tendências sexuais e dos desejos delas resultantes. O Eros individual fornece muitas vezes a explicação dos sonhos. Tânatos, na mitologia grega, era a personificação da morte e o filho de Nix (Noite). Vivia no Hades, com seu filho Hipnos (sono). É geralmente representado como um vulto vestido de negro ou como um espírito alado. Na psicanálise, é sinonimo de pulsão de morte. Utilizei estas definições para explicar o porquê da minha admiração por essa força vital de Chiquinha Gonzaga. Na vida é como se estivéssemos entre uma extremidade ou outra de um elástico. Hora há notícias, momentos maravilhosos, como se só Eros nos dominasse. Queremos desfrutar de todos os acontecimentos prazerosos. Hora parece que o mundo está girando ao contrário, parece até que Tânatos nos acena. A história de nosso personagem tinha quase tudo para que se sentisse como quem partiu ou morreu. Seu pai, um tirano obcecado pelas aparências de uma corte prestes a ruir. Sua mãe, filha de escravos, submeteu-se aos maltratos psicológicos de seu marido-dono. A filha era querida por esse psicopata desde que não se desviasse um milímetro do destino desenhado por ele. Bem que a pobre da Chiquinha tentou obedecê-lo, casando-se com outro dominador violento. Uma vida terrorífica. Ela não obedeceu à uma frase doentia de seu pai: “Chiquinha está morta”. Ele a matou somente em suas palavras e comportamento enfermo. Chiquinha tinha uma pulsão de vida fortíssima. Alguns usariam o termo sublimação. Pois se ela “sublimou” seu sofrimento com sua música, sua luta pelos direitos da mulher, seu trabalho pelos grandes anseios da nossa pátria na época: a luta contra a escravidão e a instauração da República, ela sublimou divinamente e com uma dignidade própria das grandes almas. Até o próximo artigo se o Bom Deus assim O permitir. Feliz domingo a todos.

« LIBERTAS » Longevidade A longevidade com saúde constitui um desejo da maioria das pessoas. O acúmulo de experiências gera uma sabedoria existencial que só os idosos possuem. Olhar para trás e reconhecer com humor as ilusões da juventude. Olhar para frente e decidir aproveitar o momento presente em toda a sua plenitude. Perceber os enganos e ressignificar as relações. Compreender as mudanças e aceitar a diversidade das gerações. Chorar suas perdas e lembrar com saudade o que foi bom. Aprender com as dores e enxergar os verdadeiros valores. Dar significado à vida e contemplar a beleza dela. Não ter pressa e se deliciar com não fazer nada. Aproveitar a companhia das pessoas queridas e valorizar cada encontro. Dissolver as mágoas e as culpas, dando lugar à compaixão. Trocar a competição pela generosidade, sentindo a alegria da doação. Entender a pequenez do orgulho

e se sentir mais humano no reconhecimento das falhas. Olhar para dentro de si e ter coragem de encarar sua sombra. Reparar o que for possível e se pacificar com os fantasmas. Maravilhar-se com os netos, percebendo a continuidade da vida. Aceitar os limites e desenvolver a humildade. Compartilhar as aflições e não ter vergonha de sentir medo. Fazer contato com a vida pela respiração consciente. Estar inteiro no aqui e agora. Quem sabe, poder sorrir para a morte e aceitá-la com a paz de quem viveu, intensamente, com amor à própria vida. Grace Wanderley de Barros Correia – grace@libertas.com.br

Avaliação Um jovem questionava o valor dos ensinamentos do mestre. O mestre, sem se perturbar, retirou do dedo um anel dizendo: “Por favor, leve este anel até o mercado e veja se

“Chorar suas perdas e lembrar com saudade o que foi bom. Aprender com as dores e enxergar os verdadeiros valores. Dar significado à vida e contemplar a beleza dela. Não ter pressa e se deliciar com não fazer nada. Aproveitar a companhia das pessoas queridas e valorizar cada encontro”

consegue uma peça de ouro por ele”. O jovem foi de barraca em barraca e o máximo que conseguiu foi uma peça de prata pelo anel. Voltou ao mestre e relatou o acontecido. O mestre então lhe disse: “Agora vá até um joalheiro e pergunte quanto ele pagaria”. O jovem assim o fez. O joalheiro olhou o anel cuidadosamente e ofereceu mil moedas de ouro. Surpreso, voltou até o mestre e relatou o acontecido. O mestre então lhe disse: “A sua noção de valor em relação aos conhecimentos que transmito é tão grande quanto a noção de valor dos mascates a respeito de joias. Quem se propõe a avaliar joias, deve primeiro tornar-se um joalheiro”. História Sufi.

Quero saber Sou casada, não trabalho, mas tenho um cartão de crédito em conjunto com meu marido. Nos últimos quatro meses tenho estourado o cartão e isto tem causado confusão no

Esta coluna é de responsabilidade da Libertas Comunidade www.libertas.com.br - libertas@libertas.com.br

meu casamento. Percebo que quando estou chateada ou com raiva dele, me dá muita vontade de comprar. Como explicar isto? Joana

Resposta Prezada Joana, Você mesma fez uma relação entre seus sentimentos e a vontade de comprar. Não torne o consumo um meio de descarregar sua raiva ou o preenchimento de faltas. O uso do cartão sem controle pode gerar problemas financeiros e ao relacionamento. Crie um ambiente em que você possa dialogar com seu marido, para resolver as dificuldades, sem vingança indireta. Avalie antes de comprar, se precisa e se pode. Busque um consumo consciente. Atenciosamente, Grace Wanderley de Barros Correia - Psicóloga - CRP 02/0279


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.