Tribuna do Norte - 27/08/2013

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EXIBIÇÕES

América Latina no cinema é tema de mostra na UFRN. PÁGINA 3

LITERATURA

HOJE NA TV

Chega ao Brasil o livro 'O Clube do Livro do Fim da Vida', uma história real sobre o poder da leitura e a celebração da vida. PÁGINA 4

Museu Internacional do Perfume é destaque em documentário da série Mundo Museu, no +Globosat. PÁGINA 2

COLETIVO ESPANTALHO ESTREIA O CURTA “A VIUVEZ DA CARPIDEIRA” EM FESTIVAL PORTUGUÊS. PÁGINA 4

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Circuito Literário homenageia centenário de Vinícius de Moraes.

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Natal • Rio Grande do Norte • Terça-feira • 27 de agosto de 2013 FOTO: VLADIMIR ALEXANDRE

Fragmentos de uma

vida real

YUNO SILVA repórter

J

acy era uma senhora distinta, bem relacionada e influente, que testemunhou passagens históricas a partir de um ponto de vista privilegiado e passou boa parte de sua vida próxima a pessoas importantes. Jacy morava em Natal e morreu em 2010, aos 89 anos. Sua vida foi literalmente parar no lixo, descartada sem nenhum pudor como um caderno usado, até ser resgatada pelo ator e diretor Henrique Fontes. Obra do acaso, coincidência, sorte ou destino, independente da palavra que se queira usar para explicar o acontecido, o fato é que Henrique tropeçou na frasqueira onde Jacy guardava os fragmentos mais relevantes de sua história em um lixão na Av. Prudente de Morais. Desse encontro fugaz para os palcos foram três anos, de muita pesquisa e investigação, que embasaram a dramaturgia do espetáculo “Jacy”, que o grupo Carmin estreia este sábado (31) na Casa da Ribeira. Com esta montagem, o grupo mergulha pela primeira vez no chamado teatro documental, um terreno movediço onde a fronteira que separa a ficção da realidade é sutil e, no caso, poética e histórica. Também aborda questões sociais como a velhice e a falta uma parcela cada vez maior da população. O espetácu-

Será dia 31 a estreia de ‘Jacy’, espetáculo do grupo Carmin, baseado em uma história real e tocante. Nascida do acaso, a partir de uma valise encontrada no lixo, a peça segue a linha do teatro documental e coletivo e tem à frente Henrique Fontes, Quitéria Kelly e Pedro Fiúza, com as colaborações de Pablo Capistrano e Iracema Macedo

ì

lo, contemplado pelo Prêmio Funarte Myriam Muniz 2012, será reapresentado no domingo (1º de setembro), sempre às 20h.

O QUE

História “jogada fora” Dentro da frasqueira, muitas fotografias, documentos, listas de aniversários, cartas e anotações que serviram como ponto de partida para reconstruir a trajetória de vida da personagem. Por sinal, o contato de taxistas que prestavam serviço a Jacy foram cruciais no processo de criação. A construção de “Jacy” foi compartilhada entre Henrique Fontes e a atriz Quitéria Kelly, núcleo principal do Grupo Carmin, e contou com a presença dos filósofos Pablo Capistrano e Iracema Macedo – ele também escritor e ela poetisa –, ambos estreantes no campo da dramaturgia. O vídeo-maker Pedro Fiuza também estreia no teatro como o terceiro elemento em cena. Henrique assina a direção, a cenografia é de Mathieu Duvignaud, iluminação de Ronald o Costa e trilha sonora original de Luiz Gadelha e Simona Talma. “O espetáculo ganhou forma a partir da investigação feita em torno dos vestígios encontrados na frasqueira, que revelaram fatos curiosos e a ligação direta da personagem com a história de Natal”, disse Henrique Fontes. O diretor contou que a maleta chamou atenção em meio “as coisas de casa e os móveis” joga-

A atriz Quitéria Kelly incorpora a personagem real Jacy, numa história que trata de velhice e memórias sob costura histórica

dos no lixo: “Na hora não me dei conta do conteúdo. Testei as fechaduras e levei pra casa pensando em usar como elemento de cena em algum espetáculo. Só quando cheguei em casa e abri a frasqueira com calma que percebi o tesouro que havia ali dentro”, lembrou. “Depois que ficamos sabendo que a frasqueira foi descartada pela empregada que fazia a limpeza, sem o consentimento da pessoa que cuidava de Jacy”. Como o grupo Carmin já pesquisava sobre a velhice e cogitava tratar do assunto em algum projeto futuro, tropeçar com essa o descarte foi um presente. “Reforçou nossa reflexão sobre a falta de políticas públicas para os idosos no Brasil, onde a população envelhece e não há espaços, projetos e ações para atender esse público”, destaca Fontes. Ele explicou que a vida de Jacy se en-

O espetáculo “Jacy” marca a primeira experiência do Grupo Carmin no universo do teatro documental. A montagem é construída a partir de fragmentos da vida da senhora Jacy, encontrados dentro de uma frasqueira jogada no lixo em 2010

trelaça com a própria história de Natal, onde “muitos elementos coincidem. Por isso a escolha de criar elos entre fatos históricos e as situação criadas a partir de fragmentos reais”.

Verdade verdadeira Henrique Fontes avisa que 80% do que estará em cena é verdade. “Mas para preservar a personagem [e evitar problemas com a família de “Jacy”] sua identidade algumas coisas são ficcionadas e diferentes do que seria a verdade verdadeira, um recurso muito usado no teatro documental”, explica Henrique. Na opinião do diretor, o público vai ao teatro para ver uma ficção, mesmo que seja baseada em fatos reais. O arremate na costura da dramaturgia foi dado por Pablo, que trouxe dados históricos, e Iracema, que entrou com seu olhar

poético e uma abordagem mais profunda sobre o universo feminino. “Pablo e Iracema romantizaram passagens da história dessa mulher que não conseguimos reconstituir, e isso permite que o público possa imaginar e completar o que está sendo contado no palco”, reforçou a atriz Quitéria Kelly. Para ela, “Jacy” vem como uma bela mensagem sobre a velhice, e de certa forma interage com a temática da exclusão também abordada em “Pobres de Marré”, primeiro espetáculo do grupo Carmin em 2007. “Levar

essa história descartada no lixo para o palco tem um pouco de denúncia”, considerou a atriz. Além de Quitéria e Henrique, um terceiro ‘ator’ marca presença no palco: o vídeo-maker Pedro Fiúza dialoga o tempo todo com o que acontece no palco através das imagens prégravadas e criadas ao vivo. “Ele cuida das projeções, da luz, do som, tem texto, então é um terceiro ator no palco, que interfere e atua conosco”, informou Quitéria.

Mistérios O ator, diretor e coautor Henrique Fontes revela aos mais curiosos que a frasqueira é aberta durante o espetáculo. “E somente no palco”, garante. Fontes conta que alguns detalhes revelados pela frasqueira permanecerão incompletos, como o conteúdo das misteriosas cartas enviadas mensalmente entre 1973 e 2000 para a mesma pessoa no Rio de Janeiro. “Ela trocava essas cartas regularmente e ninguém sabe o que é ao certo, temos nossas suspeitas, nada mais que suspeitas. O que percebemos é que era uma muito estimada, talvez a pessoa que Jacy mais amou na vida”, aposta. Serviço Estreia do espetáculo “Jacy”, dias 31 de agosto e 1º de setembro na Casa da Ribeira, sempre às 20h. Informações e reservas pelo telefone 3211-7710.

A CONSTRUÇÃO DE ‘JACY’

2010 Henrique Fontes tropeça com a frasqueira de Jacy em lixão acumulado na av. Prudente de Morais. Começam as primeiras pesquisas para montagem do espetáculo e o grupo Carmin (Henrique, Quitéria Kelly e Fiúza) convida Pablo Capistrano e Iracema Macedo para participarem.

2011 e 2012

Processo de construção da dramaturgia; são escritas algumas versões do espetáculo antes do roteiro final. A montagem é inscrita no Prêmio Funarte Myriam Muniz.

2013 A partir de abril o

espetáculo ganha reforço com a entrada de Pedro Fiúza (imagens); Simona Talma e Luiz Gadelha começam a compor a trilha sonora. Fase de concepção do cenário, iluminação e figurino.

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VÍDEO

Na TN On Line Confira a entrevista com os atores Quitéria Kelly e Henrique Fontes


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