Tribo Skate Edição 217

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AllAn MesquitA + de 100 mil Pares de tênis vendidos

qix 20 Anos escrevendo a história

Gui Zolin

Prata da casa Allan Mesquita Ano 23 • 2013 • # 217 • r$ 9,90

www.triboskate.com.br










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// índice novembro 2013 // edição 217

especiais> 38. entrevista pro: Gui Zolin SkatiSta nacional, prata da caSa 52. especial Qix 20 anos conStruindo a hiStória do Skate braSileiro 74. allan mesQuita o valor de um ídolo nacional seções>

editorial ..........................................................12 Zap .......................................................................16 caSa nova ........................................................82 hot Stuff..........................................................88 Áudio (JameS ventura) ...............................90 manobra do bem...........................................92 Skateboarding militant ...........................94 Capa: ao atingir o volume de mais de 100 mil pares de seu pro model de tênis, allan Mesquita mereceu destaque para valorizar o skatista nacional, aquele que vive e batalha pelo skate no Brasil, além de construir uma ótima imagem do país no exterior. Foto: Rossato Lima ÍndiCe: Túlio “Tocha” de Oliveira faz um caminho diferente do do allan, pois construiu uma boa reputação no exterior, com patrocínios gringos, mas sem descuidar do seu país de origem. O frontside Smith grind na barrinha vermelha é mais difícil do que parece. Repare bem no trajeto e na qualidade do chão. Foto: T.Thomas

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editorial //

NúmEros rEdoNdos Por Cesar Gyrão // Foto rossato Lima

E

m 2012 tivemos a edição especial com os 30 anos da Urgh. Nesta edição, comemoramos outro aniversário de alta expressão: os 20 da Qix. Registrar a história é papel da revista, evidenciando o que o brasileiro produz de melhor no mercado para alimentar o esporte. Algumas marcas acabam se tornando parâmetros para outras, devido ao foco direto no skate e nos skatistas, criando uma sinergia natural entre o produto (skate) e o consumidor (skatistas). Este é o caso da Qix, que ao longo de suas duas décadas, soube traduzir o que o skate necessita para ter melhores resultados. Foram tours memoráveis, equipes de peso, eventos onde todos se sentiam em casa, valorizados ao máximo; anúncios em revistas, alimentando a comunicação; criação de site e canal de vídeos na rede; tacadas de mestre como a parceria com o Chorão, do Charlie Brown Junior e os vários pro models, com seu ponto máximo agora na marca de mais de 100 mil pares de tênis vendidos do Allan Mesquita. Não é pouca coisa. Por mais que as pessoas e instituições possam eventualmente errar em suas ações, o volume de acertos determina quem vai liderar e quem vai seguir. As conexões entre tantas histórias aparecem numa edição em que o entrevistado pro, no caso o Gui Zolin, foi um dos beneficiados pelos eventos que a Qix promoveu, levando um carro como premiação e mais tarde transformando esse bem numa temporada nos Estados Unidos para andar de skate. São tantas e tantas histórias como esta que esta edição ganha novamente a alcunha de “especial”. Para ler com prazer. 20 anos da Qix, mais um número redondo para inspirar.

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Os 20 anos da Qix comemoram também mais de 100 mil pares do pro model do Allan Mesquita. Heelflip fs grab, Portão.



ANO 23 • NOvEMBRO DE 2013 • NÚMERO 217

Editores: Cesar Gyrão, Fabio “Bolota” Britto Araujo Conselho Editorial: Gyrão, Bolota, Jorge Kuge Arte: Edilson Kato Redação: Junior Lemos Colaboradores: Texto: Jerri Rossato Lima, Grazi Oliveira, Guto Jimenez, Rodrigo “K-b-ça” Lima, Sandro “Testinha” Soares, Walter Garrote Fotos: Caetano Oliveira, Daniel Nunes, Daniel Souza, Diego Sarmento, Fernando Gomes, Jerri Rossato Lima, Paulo Macedo, Pedro Macedo, Rodrigo K-b-ça, Rogerio Tilskater, T.Thomas

JB Pátria Editora Ltda Presidente: Jaime Benutte Diretor: Iberê Benutte Administrativo/Financeiro: Gabriela S. Nascimento Circulação/Comercial: Patrícia Elize Della Torre Comercial:Daniela Ribeiro (daniela@patriaeditora.com.br) Cibele Alves (cibele@patriaeditora.com.br) Fone: 55 (11) 2365-4123 www.patriaeditora.com.br www.facebook.com/PatriaEditora Empresa filiada à Associação Nacional dos Editores de Publicações - Anatec

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Deus é grande! São Paulo/SP - Brasil www.triboskate.com.br E-mail: triboskate@triboskate.com.br

A Revista Tribo Skate é uma publicação da JB Pátria Editora. As opiniões dos artigos assinados nem sempre representam as da revista. Dúvidas ou sugestões: triboskate@patriaeditora.com.br



zap // // Brasil skate Pro – CBsk

Teste de qualidade do Tatu Skate Park // TexTo e foTos Junior LemoS

Julio Detefon

Assim como foi em São Bernardo do Campo, Madureira, no Rio de Janeiro, também teve sua primeira vez em um evento de street profissional este ano. Pontuando como quarta etapa do Brasil Skate Pro 2013, o final de semana reuniu uma quantidade significativa de profissionais que representaram diferentes regiões, estilos e gerações do skate nacional. Alta concentração de monstros do skate de rua brasileiro reunidos no mesmo espaço que serviu como teste definitivo pra carimbar o selo que muitos conferem ao Tatu Skate Park: uma das melhores pista de street

Rogério Febem, flip nas alturas.

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skate do país na atualidade. Nem mesmo a ventania durante as disputas de domingo, que por pouco não transformou as pesadas tendas em pipas, tirou a atenção da festa do skateboard brasileiro no tradicional bairro carioca. E como Rio de Janeiro é sinônimo de sol, praia e água de coco, muitos dos que estiveram por lá para o evento tiraram algumas horas para aquele momento de turista, seja curtindo o mar em Ipanema, subindo o morro pra conferir a vista lá de cima ou fazendo compras no comércio popular do próprio bairro de Madureira.


// zap

Xaparral desliza o noseblunt com classe.

Marcelo Marreco, fs noseslide.

Klaus Bohms, switch flip.

Kelvin Hoefler, switch heel.

Mauricio Nava, tucknee.

Resultado 1º Kelvin Hoefler 2º Danilo do Rosário 3º Paulo Galera 4º Lucas Xaparral 5º Diego Oliveira 2013/novembro TRIBO SKATE | 17


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04 RepRoDução/Revista tRip

Felipe Gustavo Bochecha teve uma surpresa e tanto, disputando o Run & Gun do Berrics, onde 15 skatistas tiveram 24 horas para filmar uma linha de um minuto sem interrupção pela pista. O brasileiro foi o escolhido pela votação do público, levou a parada e quem entregou o troféu e os 25 mil dólares do prêmio foi ninguém menos que eric Koston que foi até sua casa para fazê-lo. • [01] O profissional de Minas Gerais Jay alves entra oficialmente na Hagil Wheels, complementando o pesado time da marca composta pelos pros Cezar Gordo, daniel Crazy, Rafael Russo, lP aladin, mais os top amadores douglas Molocope, Renato souza, alexandre Vaz e Felipe de oliveira. • E no sentido inverso, diego Bigode não faz mais parte da equipe da RCsKt, onde teve dois pro models lançados. • [02] Divulgamos aqui na edição anterior que Biano Bianchin havia saído da equipe live e que viria novidade por aí! Pois que o profissional a apresenta: ele acaba de fundar sua própria marca, chamada amais skateboards. Segundo resume Marcos et “Amais sintetiza a união entre três skatistas: Biano Bianchin, Marcos Noveline e Marcus Valente; com um único objetivo, produzir materiais diferenciados.” facebook.com/amaisskateboards • A Boulevard vem ao Brasil com a summer endless Vibe, tour com os skatistas da equipe danny Montoya, Rob Gonzalez, danny supa, Rodrigo Petersen, danilo Cerezini, Jose Pereyra, Thiago Lemos e Carlos Iqui, mais o convidado especial daniel lebron. • [03] Entre as ações de lançamento de sua video part, Guilherme trakinas passou pela Roosevelt em SP. Foi a primeira exibição de um vídeo de skate na praça, parada bem style que contou ainda com uma senhora ‘sessão premiada’ onde a galera ia levando prêmios Crail, Volcom ou drop dead na medida em que acertava as manobras na escada maior. Haja joelhos! Confira a video part no link: vimeo.com/79567110 • [04] Outro que também lançou video part, mais uma confirmação do talento que o garoto tem manobrando no skate, foi Wilton souza, vídeo que leva a assinatura da Retta skate. bit.ly/WiltonSouza • [05] sandro soares testinha e o social skate foram homenageados no trip transformadores 2013, prêmio concedido pela revista trip a iniciativas que transformam a vida das pessoas. Bob Burnquist foi quem entregou ao Testinha o troféu, lembrando que esta é a primeira homenagem que o prêmio entrega para um projeto que tem o skate como carro chefe. • A Qix International estreia novo site (qix.com.br) e reforça a equipe que trampa nos bastidores reintegrando Rodrigo Kbça e Jerri Rossato ao time. • [06] Outra ótima notícia é para os skatistas brasileiros da categoria amador: está de volta o Qix tV Contest. A disputa, que rolou em 2010 e teve alber leandro como o ganhador do carro 0 km, retorna em janeiro de 2014 e certamente vai movimentar a produção de vídeo de skate no Brasil. Que comecem as filmagens já que mais uma vez um skatista brasileiro será o feliz proprietário de um carango 0 km! • [07] Durante a uRB tradeshow a Öus apresentou sua coleção 2014 e dentro dos modelos um chamou bastante atenção: o pro model de Patrick Vidal, que materializa a profisssionalização do skatista dono de um dos pops mais estilosos do Brasa.

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John LuCero

o pai do street skate não é um faTo muiTo comum no cenário quando uma marca de SkaTe comemora 25 anoS, e maiS incomum ainda é eLa manTer-Se fieL aoS SeuS PrincíPioS. aSSim é a BLack LaBeL, que SemPre Teve a meSma aTiTude em reLação ao SkaTe deSde SemPre. não Por acaSo, eSSa é uma daS caracTeríSTicaS maiS marcanTeS de Seu dono e fundador, John Lucero, um ex-Pro doS anoS 80 que reSoLveu LevanTar aS mangaS e TraBaLhar naquiLo que eLe achava meLhor Pro cenário como um Todo. neSSa enTreviSTa excLuSiva, eLe reveLa aS SuaS moTivaçõeS e aTiTudeS em reLação ao mercado - e, finaLmenTe, eScLarece a hiSTória Por TráS do SurgimenTo do STreeT SkaTe. Por guTo Jimenez // foTos arquivo PeSSoaL/BLack LaBeL John, antes de mais nada, gostaria de lhe dar os parabéns pelos 25 anos da Black label, seus produtos e vídeos são sempre o máximo! Como você se sente atingindo uma marca tão significativa num mercado tão competitivo como o do skate? Eu não acredito que já se passaram 25 anos, o tempo voa quando você está se divertindo! sua marca sempre se caracterizou por ter alguns dos mais talentosos skatistas em sua equipe. Quais seriam os seus team riders favoritos de todos os tempos? Todos têm sido tão incríveis desde o primeiro dia, mas alguns de meus favoritos de todos os tempos são Jason Adams, Jeff Grosso, Duane Peters, Matt Hensley, Ricky Barnes, Max Evans, Adam Alfaro e o Ragdoll! o slogan da marca é um soco no estômago dos oportunistas de sempre: “never be bought, never be sold, and never forget” (“nunca seja comprado, nunca se venda e nunca se esqueça”). seria essa a sua concepção do skate como um todo? Não só em relação ao skate: viver tem a ver com ser verdadeiro consigo mesmo. Jamais seja um seguidor! Muito antes dos tributos a skatistas old school virassem uma tendência, você já os homenageava na sua antiga marca Red Cross, que depois virou a emergency. Como surgiu a ideia em sua cabeça num momento em que ninguém pensava nisso? Eu ando de skate desde meados dos anos 70. Naquela época, a gente andava nas ruas, nas piscinas e nas pistas. Aqueles pioneiros foram os mais radicais de todos os tempos e somente fazia sentido termos decks que representassem não só o skate “moderno”, mas também os skates que a gente sempre andou. os skatistas atuais talvez não conheçam a sua história significativa como antigo pro de marcas como Variflex, Madrid e schmitt stix, por exemplo. Na sua opinião, qual foi a melhor delas e por quê? Eu realmente amo todos os meus antigos patrocinadores. Eles me deram a chance de progredir e de melhorar tanto como skatista quanto como artista.

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Fs slash, Basic Pool.

Falando nisso: assim como outros skatistas relevantes dos anos 80, como Neil Blender e lance Mountain, você também era envolvido com arte na forma de desenhos e pinturas. Você ainda mexe com arte de alguma maneira? A arte é uma parte enorme de minha vida cotidiana. Eu faço a maior parte das artes pra Black Label, com a ajuda de outros artistas. Eu estou sempre pensando e trabalhando em coisas novas. Como você compararia o cenário pro atual

Slappie.

em relação ao que você viveu nos anos 80? Existem muitos pros hoje em dia! Existem tantos estilos diferentes e tanto dinheiro nos eventos... Nos anos 80, você se matava por meros US$ 150 de premiação! uma coisinha que os skatistas modernos irão adorar: você é creditado como o “pai do street skating” por ter criado a modalidade no estacionamento de um skatepark. Por favor, conte-nos a sua versão pra essa história legendária.


// zap (risos) Bem, eu fui expulso do skatepark onde eu era local por não obedecer às regras do pico, então eu ficava de bobeira no estacionamento ao lado brincando nos curbs. Eu estava tentando fazer as mesmas manobras que faria nos bowls, mas tudo o que eu tinha era a borda da calçada. Então eu e meu amigo Richard Armijo andávamos ali como se fosse num coping de uma piscina, e o resto é história... Há alguns anos, a marca lançou aquele que considero um dos melhores documentários de todos os tempos, o “Who Cares – The Duane Peters Story”. Como foi a produção de um filme homenageando um dos ícones máximos do skate em todos os tempos? Foi muito divertido fazer o filme. Duane é o meu herói de infância, eu cresci vendo-o andar de skate e o documentário é apenas uma pequena amostra da vida louca dele. Posso lhe dar uma ideia? Que tal um filme sobre o Neil Blender? A molecada não iria acreditar em como o cara era inovador e muito adiante de seu tempo... É algo possível ou iremos ficar só na vontade? Olha, isso já foi conversado algumas vezes, mas Neil é um cara muito discreto. Eu acho que ele iria preferir manter dessa forma. Cara, tem um monte de bowls inacreditáveis por todo o Brasil... Quando você vem por aqui? Eu nunca estive no Brasil, parece ser bastante divertido! Tem tantos caras detonando que parece que todo mundo anda bem por aí! Quem sabe? Muito obrigado por sua entrevista, John! Por favor, mande uma mensagem a todos os que irão ler na revista e no site. Obrigado a você por me dispor de seu tempo! Eu amo andar de skate e toda a história que existe por trás dele. Sempre se divirta e não leve o skate muito a sério. Junte seus amigos e vai mandar uns slaps no meio-fio! Vai dar grinds em algum coping! Mantenha-se no submundo e fique em cima de seu skate!

Invert, The Hub.

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qix 20 anos – A festa Por ceSar gyrão // foTos roSSaTo Lima Confesso que sabia, mas não sabia do que esperar da festa da Qix, depois de tanto tempo sem participar de uma. A comemoração seria no meio de uma semana de trabalho, no Via Marquês, uma casa enorme na Barra Funda, em São Paulo. O convite mencionava ótimas atrações, como BNegão ou a Negra Li, mas até aí, seria um evento bem produzido, mas, o que esperar de público? A galera do skate estaria presente, mesmo se tratando de uma festa fechada para convidados? Minhas dúvidas foram acalmando com o decorrer

dos fatos, da diversão, da alegria de estar vivendo um grande momento. A pista logo virou passarela e a apresentação da coleção de inverno de roupas e tênis encheu os olhos de todos. Foram ondas de peças que não terminavam, com skatistas da marca e skatistas convidados desfilando ao lado de modelos. A esta altura, parte do povo que estava na área VIP confraternizando desceu em peso, preenchendo os espaços. Enquanto isso, mais e mais gente ia chegando. Logo após o desfile, a pri-

Ramon e Gyrão.

Mauricio Nava.

Gyrão, Helga, Sleiman, Allan, Zene.

Kelvin, Ana Paula, Jéssica, Rodil.

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Negra Li em destaque.



zap // qix 20 anos – A festa

Nava, Bocão, Kbelo, Dennes, Bernardo, Allan, Zene.

Walter, Thomas, Jean, Ramon, Luiz Gustavo, Pingo, Jerri.

meira banda sobe ao palco: Fonte Natural e DJ Smokie Lion. A boa distração deu vez a uma atração diferente: um vídeo especialmente montado em homenagem aos 20 anos da marca, com calorosos depoimentos nos inúmeros telões do espaço. Sem muita pausa pra respirar das emoções, fui convidado pelo Walter para entregar ao Ramon um prêmio pela sua dedicação ao skate, em forma de um tênis dourado (como era pesado!). O clima esquentou mais ainda com a entrada de Negra Li e banda Oriente, colocando todo mundo pra dançar. As atrações continuaram com o sorteio de uma moto para os vendedores presentes e, depois, o BNegão e Seletores de Frequência, pra fechar com chave de ouro. Se no começo eu não sabia o que esperar, agora eu só consigo esperar a próxima festa que vier da Qix. Uma boa volta aos bons tempos.

BNegão.

“Os homens podem falar, mas os anjos podem voar.” Com esse verso de Chorão, Sandro Testinha falou da liberdade do skate e contou sua história de luta e independência de seu projeto, a ONG Social Skate. A partir de sua casa, no bairro de Calmon Vianna, em Poá, nosso colunista dá sequência a uma obra que iniciou há muito tempo, usando o skate como ferramenta de inclusão social. Seu trabalho foi homenageado no Prêmio Trip Transformadores deste ano, e na solenidade no Auditório do Ibirapuera, dia 13 de novembro, bateu um tremendo orgulho de ser skatista e conhecer o Testinha. Um cara que tem o dom de falar bem, de influenciar, de traduzir em palavras o que se pode fazer pelo outro sem esperar nada em troca – e por isso mesmo, contaminar mais pessoas a fazer o bem. Audiência lotada de pessoas legais, Sandro subiu ao palco e fez um verdadeiro fuzuê. Chamou sua esposa, Leila, e seus filhos para dividirem a alegria de estar ali. Falou sobre suas atividades com skate na Fundação Casa (antiga Febem), mencionou skatistas presentes (entre eles, os nomes dos editores da Tribo Skate), falou do Chorão e puxou da manga uma revista Overall, produzida pelos mesmos Paulo Lima e Carlos Califa que há 27 anos fazem a Trip, revista que propõe mudanças de atitude e uma vida melhor, com mais equilíbrio num mundo desequilibrado. Paulo, por sua vez, já havia anunciado no início da solenidade que um dos mais condecorados skatistas do mundo estava presente, o Bob Burnquist. Ele foi convidado a entregar o prêmio e também foi impecável no uso das palavras. Entre os homenageados deste ano no prêmio da revista Trip, estavam Marcelo Freixo (o professor que botou a polícia em recuperação), Paula Dib (a designer que projeta futuros), Geraldo Gomes Barbosa (o agricultor que semeia tradições), a menina Isadora Faber (a estudante que deu uma lição à escola). (Cesar Gyrão)

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RepRoDução Revista tRip

orgulho de fazer o bem

Bob entrega o prêmio ao Testinha.



zap // // Vans royal side stripe

América Latina é o foco da vez Por ceSar gyrão // foTos ThomaS Teixeira Há muito tempo o Brasil é a referência desta parte do continente, quando se fala de skate. E, com esta prerrogativa, a Vans direcionou a final de seu evento regional para São Paulo. O ginásio do Pacaembu foi o escolhido para reunir skatistas da Colômbia, Argentina, Chile, além do Brasil. Com 50 mil reais de premiação e um circuito de rampas de alto gabarito, apesar do piso altamente escorregadio, foi um evento digno de nota. Alex Carolino estava simplesmente matador, liderando a eliminatória e a semi-final, com as linhas mais completas. Isso, eu falei linhas. A “inovação” do formato foi voltar no tempo e as apresentações, em todas as fases, eram de 45 segundos cada. 15 segundos a menos que o velho 1 minuto. Foi bonito de ver. Alguns estrangeiros foram realmente surpresas, como o Juan Pablo da Colômbia (belo estilo) e o Juan Carlos, do Chile. Outros, pareciam amadores. O argentino Dario Matarollo será sempre lembrado pelas insanidades, como já demonstrou em outros eventos (o Generation, em Floripa, e o Van Doren Invitational, nos EUA). No final, Alex Carolino não conseguiu encaixar todas que queria e deixou Paulo Galera e Denis Silva passarem na sua frente. Resumindo: 18 brasileiros convidados, mais 12 skatistas latino-americanos, ótima área de street (porém um sabão), boa premiação e um formato que estava na saudade, mas que se mostrou muito interessante.

Alex Carolino, switch flip.

Paulo Galera, flip crooked.

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Denis, Galera e Alex.

Dario Matarollo, smith stall ollie in.

Resultado 1º Paulo Galera (R$ 20.250) 2º Denis Silva (R$ 10.125) 3º Alex Carolino (R$ 5.625) 4º Diego Oliveira 5º Juan Pablo Velez (Colômbia) 6º Carlos de Andrade 7º Juan Carlos Aliste (Chile) 8º Danilo do Rosário Melhor Manobra Beats by dre: Dario Mattarollo, fs smith stall.



zap // // Circuito Banco do Brasil

Batalha duríssima, show garantido Por ceSar gyrão // foTos Junior LemoS Diz a lenda que o skatista normalmente torce a favor de seus “adversários” numa competição. Não é bem assim na “vida real”, pois na superação de cada um, existe o objetivo de chegar o mais alto no pódio, mesmo que para isso você considere, aplauda de verdade a performance dos outros. Assim tem sido cada batalha da Copa Brasil de Skate, depois da sua abertura em Salvador – vencida pelo Sandro Dias. Em Curitiba, o circo pegou fogo, com Dan Cézar na cabeça. Depois de um breve descanso, duas etapas em fins de semanas seguidos entornaram o caldo! Belo Horizonte, dominada por Marcelo Bastos e Rio de Janeiro, novamente na mão do Dan Cézar. O ranking vem sendo liderado pelo Marcelo, mas Sandro e Dan estão logo ali, prontos para dar o bote! Ah, ah, que legal olhar por este prisma! Cada etapa é um verdadeiro show, que está atingindo um público cada vez maior, pois o Circuito Banco do Brasil tem se provado um evento multi disciplinar da maior envergadura. Em Curitiba, Edgard Vovô deu o maior susto ao bater de cara na última manobra de uma de suas mais energéticas voltas e quebrou os dentes. Refeito do susto, foi para as etapas seguintes fazer novas finais. Em Belo Horizonte, a posição do palco próximo ao half pipe, proporcionou a melhor festa desde as baterias de competição até o show do Red Hot Chilli Peppers. Mas foi no Rio que a brincadeira atingiu picos de euforia. Dan mandou sua melhor volta de todas, com direito a um bs 540 flip e Pedro Barros estava completamente fora de controle, com os rodeos, 540 flips, fs 540 mais altos da história do half pipe. Com tudo isso, é sempre bom lembrar que um skatista puxa o outro a fazer o seu melhor e o show está garantido. As diferenças, podem ficar nos planos pessoais.

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Italo Penarrubia estica todos seus flip indys, sejam normais ou alleyoops, com um jeito bem dele. Belo Horizonte. CoPa BRasIl de sKate CuRItIBa 1º Dan Cézar 2º Sandro Dias 3º Marcelo Bastos 4º Rony Gomes 5º Ítalo Penarrubia 6º Raul Roger

7º Edgard Vovô 8º Martin André 9º Mizael Simão 10º Felipe Foguinho Belo HoRIzoNte 1º Marcelo Bastos

2º Rony Gomes 3º Italo Penarrubia 4º Pedro Barros 5º Sandro Dias 6º Dan Cezar 7º Raul Roger 8º Carlos Niggli

9º Felipe Foguinho 10º Edgard Vovô

Dan Cezar, 540 da linha de Curitiba.

Pedro Barros, indy nosebone na casa do chapéu de BH.

RIo de JaNeIRo 1º Dan Cézar 2º Pedro Barros 3º Rony Gomes

BH.

4º Sandro Dias 5º Italo Penarrubia 6º Marcelo Bastos 7º Bob Burnquist 8º Edgard Vovô 9º Mizael Simão 10º Raul Roger



zap // // URB Trade Show

A primeira impressão é o que conta TexTo Cesar Gyrão // FoToS Junior Lemos A máxima é bem aplicada para o caso desta primeira versão da URB Trade Show. A contar por essa primeira impressão, o evento tem tudo para ser uma grande alavanca de negócios para o mercado do skate nacional. Não só para ele, mas também para os nichos street wear e sneakers. Por mais abrangentes que sejam estes conceitos, o que se viu de marcas legais na URB, foi animador. Era difícil atravessar os corredores sem parar para uma conversa sobre a outra, com muitas novidades, abraços, uma espécie de euforia por estar ali. Nos stands, a mesma mistura de felicidade com o desejo de fazer negócios, mostrar diferenciais, conquistar e compartilhar. A escolha de um hangar no Aeroporto Campo de Marte, em São Paulo, proporcionou um cenário muito interessante para expositores e visitantes. A feira ganhou ares de maior intimidade com o carrinho, através do evento “Essa Mesa é do Laurence”, em homenagem ao pro que nos deixou há um ano. Com participação de uma banca de 32 profissionais de alto nível, Diego Garcês foi o vencedor, levando a mesa e a premiação oferecida pela Kronik. Diego Oliveira e Danilo Cerezini vieram logo atrás dele na batida. – “Esta feira é um divisor de águas no mercado. A feira está mostrando que o mercado nacional tem espaço pra todo mundo, tanto pras grandes quanto pra pequenas marcas.” Renato Guidolin, São Paulo, 36 anos, Storvo (6 anos no mercado) – “A URB está sendo legal para unir a galera, mais um network do que propriamente a parte comercial. Vendemos em lojas mais de lifestyle. O formato da feira tem que ser esse mesmo, falta mais marcas virem participar.” Daniel, Jaraguá do Sul, Alamo (street wear, 5 anos) – “Para mim a feira está sendo importante principalmente pela iniciativa, porque em vários países do mundo têm este tipo de evento, de feiras focadas no segmento. Independente de volume de vendas, as marcas grandes têm que mostrar o que estão fazendo e as menores têm que ter a oportunidade de conseguir se firmar no mercado.” Ivan Ribeiro, 32 anos, 21 de skate, Converse – “É o início de uma nova era. A URB veio realmente segmentar o skate e street wear. A gente participa desde as primeiras feiras e esta tem sido bem interessante; no segundo dia a gente obteve muitos resultados positivos. O mercado varejista veio conhecer a marca, o direcionamento que estamos tomando.” Jorge Kuge, 50 anos, 38 de skate, Urgh (30 anos) – “Uma ótima oportunidade para uma marca que nem a nossa, pequena, feita por skatistas. Nossa proposta é vender um conceito antes de vender produtos, uma escolha de vida, uma marca que é voltada para o ecologicamente correto, coisas que vão dar retorno para o skate.” Vitor Sagaz, 35 anos, 26 de skate, Viva Wheels (8 anos) – “Não só pra minha marca, mas para todo o mercado é o que estava faltando. É importante para estreitar relações, conhecer os clientes.” Rafael Russo, 32 anos, 24 de skate, Liga Trucks e Hagil Wheels

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Diego Garcês, nosegrind.

Cris e Dani.



zap //

sAndro diAs eLe é um PerSonagem do SkaTe BraSiLeiro que conquiSTou reSPeiTo e admiração em Todo o mundo. aceSSíveL, cordiaL, SemPre com um SorriSo no roSTo Para aTender deSde o Pedido de um fã ao de um rePórTer de quaLquer quiLaTe de rede de Tv. enTre SeuS feiToS, SeiS TíTuLoS de camPeão mundiaL de verTicaL ProfiSSionaL, aLgunS de camPeão BraSiLeiro, PromoTor de evenToS, rePreSenTanTe do carrinho em TanTaS e TanTaS SiTuaçõeS PúBLicaS. aoS 38 anoS de idade, mineirinho conTinua encarando camPeonaToS com a meSma dedicação, fazendo frenTe aoS novoS vaLoreS que vem Surgindo, maS TamBém eSTá aBrindo novaS frenTeS de aTuação como SkaTiSTa e emPreSário. Seu SíTio em vargem, municíPio Próximo a Bragança PauLiSTa, com eSTruTura Para acoLher ProfiSSionaiS e novoS TaLenToS, eSTá em conSTrução, maS Já é uma Boa moSTra do que Sandro eSTá devoLvendo Para o eSPorTe que Lhe fez creScer. muiToS quiLômeTroS rodadoS, muiTa Bagagem adquirida em TodoS oS canToS do PLaneTa Terra. hora de cuTucar a fera com a aJuda doS LeiToreS. (Gyrão)

// Sandro diaS 38 anos, 28 anos de skate Patrôs: red Bull, Hd, Freedom Fog, Positiv, Forever skateBoards, sandro dias skatesHoP, stance santo andré, sP

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cultura, educação, etc, ou seja, o skate é mais um tudo em minha vida. Com certeza vou ensinar meu filho a andar de skate, aliás já até dou umas voltinhas com ele no colo para já ir se acostumando com o vento na cara e a sensação de liberdade, e parece que ele gosta muito, porém não vou forçá-lo a fazer nada; vou deixar as coisas acontecerem naturalmente ao gosto dele; se ele gostar de skate, melhor para mim e para ele também… Eu acho que ainda são poucas as pistas de skate no Brasil para a quantidade de skatistas que temos, acredito que irá melhorar e está melhorando. Estamos fazendo o possível para os governantes enxergarem a necessidade de lugares apropriados, que também se informem antes de fazer qualquer coisa que eles acham que possa ser uma pista, etc. Vamos ver, mas percebo que está melhorando… • Meu nome é Diego Feitosa, tenho 26 anos e quero fazer uma pergunta: Sandro, com quantos anos começou a andar de skate e com quantos pretende parar? (Diego Feitosa, Jandira/SP) – E aí Diego, tudo certo? Comecei a andar de skate com 11 anos de idade e gosto tanto e me faz tão bem, que quero ter saúde e condições físicas para andar de skate para sempre. • Hoje no Brasil, pra quem gosta de skate, você é um dos maiores exemplos. Quando você começou a andar imaginava que poderia ser uma influência tão grande no esporte? Como você se sente sabendo que é uma inspiração para quem está começando? (Sarah Evelin dos Santos, São Paulo/SP) – Ola Sarah, tudo bem? Com certeza quando eu comecei a andar de skate era tudo muito diferente, primeiro, o skate não era considerado um esporte, era como uma moda, ou onda que toda a criança ou adolescente queria um skate e por conta de ser uma coisa nova e também da falta de espaço para a prática, sofríamos muito preconceito. Não tínhamos skate nacional com qualidade, o importado era quase impossível de conseguir; não tínhamos informação, pois na época estava ainda surgindo o video cassete; o incentivo ao esporte era muito amador, ou melhor, bem iniciante; não tínhamos perspectivas de nada com o skate. Eu andava porque gostava muito, mas não tínhamos referências, aliás, tínhamos sim, os americanos como Tony Hawk, Steve Caballero, Mike Mcgill, Christian Hosoi, etc, porém eram referências muito distantes da nossa realidade. Eles eram como seres de outro mundo em cima do skate com relação à nossa realidade. Sinceramente nunca imaginava que poderia acontecer tudo isso hoje, mas graças à nossa insistência, paciência, força de vontade, disciplina, amor principalmente ao skate, as coisas foram acontecendo sem ser nada planejado e sim tudo muito automático, tudo no seu tempo certo, acredito… Hoje sou muito realizado com tudo o que conquistamos, com o reconhecimento do nosso trabalho, enfim. Fico muito feliz e satisfeito em saber que também sirvo de espelho para essa nova geração, pois acredito que por tudo que passei e tudo que ainda faço para o skate, a minha história de vida possa ser interessante para o conhecimento, formação e amadurecimento dos mais novos. Para mim é um prazer tentar ajudá-los com isso. JunioR lemos

• Style falar com você! Sandro, quais foram os primeiros halfs que andou e em que época? Quando você montou o seu primeiro? Foi com o George Rotatori? (Carlos Silveira Bertlen, São Bernardo do Campo/SP) – E aí Silveira, tudo certo? O primeiro half que eu andei foi em meados de 1986. Foi quando eu comecei a andar de skate e ficava atrás de uma loja em Santo André, que se chamava Força Local. Depois veio o half de concreto de São Bernando e assim por diante. O primeiro half que montei num galpão do meu pai foi, sim, um half do George. Era um que havia sido usado para um evento e que ele não tinha aonde guardar perto de SP e então decidimos deixar montado para a gente andar. • Fala Sandro! Tive o prazer de lhe conhecer na Tour da Freedom Fog aqui em Taubaté. Queria saber como está sendo a sua vida depois de ter inaugurado a sua loja? Você tem tido muito trabalho? Isso afeta alguma coisa na sua vida de skatista profissional? Parabéns pelo seu skate! (Talison Policarpo, Taubaté/SP) – Fala Talison, tudo certo? Antes de mais nada, obrigado! Depois que abri a minha loja, as coisas não mudaram muito, a não ser para eu ter mais um local para eu frequentar, encontrar novas pessoas, dar oportunidade a outras, etc. Tenho um sócio que fica na loja, de frente à situaçao 24/7, ou seja, diariamente. Isso está fazendo com que eu não deixe de fazer as minhas outras coisas que sempre fiz, assim como andar de skate. • Há alguns anos você negociou o half pipe com o Serginho, da Crail, que ele montou pro Mundial do Brasil. Depois disso, ele foi usado por vários anos, em praticamente todos os eventos nacionais. Quanto tempo ele durou e como foi adquirir o novo, que está sendo montado direto agora no Circuito Banco do Brasil? (Caio Nakamura, São Paulo/SP) – Fala Caio, tudo certo? O half antigo durou quase 10 anos na minha mão, isso não quer dizer que ele acabou. Na verdade eu o vendi para um pessoa do Chile e continua em muito boa condição. Comprar o half novo em parceria com a Red Bull, foi mais uma conquista, pois é um half importado e de um custo muito alto, porém é uma rampa totalmente atual em dimensões e que eleva muito o nível de skate de qualquer um. Foi um grande passo para elevar o nível dos eventos no Brasil, levando em consideração que só existe o meu half (portátil) nessas dimensões no Brasil. • Olá! Queria saber quanto o skate é importante na sua vida e se você quer ensinar seu filho a andar e se tornar um grande skatista que nem você? O que acha da quantidade de pistas no Brasil? É suficiente pro tanto de skatista que tem? (Gabriel, São Paulo/SP) – Fala Gabriel, tudo bem? Boas perguntas… Vamos lá, o skate foi uma das coisas mais fantásticas que pude experimentar na minha infância, tanto é que foi tão bom e apaixonante que ele continua sendo o meu companheiro há 28 anos e se Deus quiser ele irá me acompanhar para sempre, pois é uma coisa que me faz muito bem, além de ser a minha diversão, terapia, trabalho, amizade, família, etc. Também me deu toda essa condição de vida, de



zap //

sandro dias • O que você acha que falta para o skate feminino brasileiro ser tão reconhecido como o masculino? Acha que ainda rola um preconceito em relação a isso? (Sarah Evelin dos Santos, São Paulo/SP) – Acho que o skate feminino está caminhando bem, tendo em vista que apesar de ser um esporte super democrático para todos, acredito que o feminino passou sim por uma certa resistência ou até preconceito que fez com que a categoria demorasse um pouco mais para deslanchar; porém vejo que agora está crescendo bastante com boas representantes encabeçando e mostrando que realmente o skate é para todos. • Sandro, de onde vem tanta vontade em fazer com que o skate evolua mais e mais? Como faz para manter essa energia e ficar sempre firme e forte? (André Henrique da Silva, São Paulo) – E aí André, tudo certo? Quando a gente gosta muito e vive intensamente para alguma coisa, a gente procura fazer de tudo para que isso não acabe, ou melhor, que continue crescendo, e que desperte o interesse de novas pessoas por saber que é uma coisa que faz tão bem. Tenho orgulho de mostrar a todos o que o skate faz de tão bem em minha vida e para manter essa energia e ficar firme e forte, tento andar de skate todos os dias. • O que significa o Woodward Camp na sua vida? Foi lá que começou a treinar o 900 para cima da piscina de espuma? (Norberto Flesh, Rio de Janeiro/RJ) – Norberto, tudo tranquilo? Woodward, significa muito para o skate e para a minha vida, pois é um lugar que não tem outra coisa para se fazer a não ser andar de skate, aprender, se divertir, evoluir, etc… Foram lá, sim, os primeiros giros de 900… • Cara, você está construindo um império do skate com aquela rampa maravilhosa e o cenário animal ao fundo. Sei que ainda não está pronto e tem muito pra ser construído. Qual seu objetivo com mais essa conquista? Pretende montar um acampamento de skate aberto ou é só para seu treinamento? (Reis Silveira, Arujá/SP) – Fala, Reis? Na verdade estou criando um centro de esportes radicais que será destinado primeiramente à prática de diferentes esportes para treinamento ou “for fun”, aí vai de cada um. Também sera um local de eventos para os esportes incluídos, reuniões empresariais, acampamento de férias, etc. Meu objetivo é proporcionar um lugar bacana apropriado para os esportes com pistas de qualidade para a evolução como um todo, e quando qualquer um que chegar lá para praticar seu esporte, respire e sinta-se confortável com o que estará fazendo. • Nos anos 90, você já havia conquistado patrocínios gringos mas manteve seu vínculo com a Kranio. Isso também rolou com a Crail. Qual a importância de estar sempre ligado às marcas nacionais? (Cesar Frachetto Otoni, Santo André/SP) – Fala Cesar, beleza? Prefiro fazer parcerias com marcas nacionais primeiro porque sou brasileiro, depois porque sei que temos condições e capacidade de produzir equipamentos de alto nível e movimentar primeiro o nosso mercado sem precisar importar nada. Temos que dar crédito e valorizar as marcas nacionais, pois somente assim estaremos ajudando a desenvolver produtos de qualidade e dando emprego e mão de obra ao nosso povo. • Além de ser conhecido como o ‘Rei do 540’, que na minha opinião é um dos mais perfeitos que já vi alguém acertar, como é ser o primeiro skatista da história a acertar o 900º em uma volta de competição? Precisa de muita calma, técnica e muito sangue no ‘zóio’ pra apostar nessa manobra, né? (Thiago Magalhães Cidade, Jundiaí/SP) – Fala Thiago, tudo certo? Obrigado. Foi bem legal ter acertado o 900 pela primeira vez numa linha de campeo-

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nato e acredito que na época deu um “up” no nível técnico competitivo. Com certeza é uma manobra que já faz quase 10 anos que acertei pela primeira vez, mas que ainda me dá muito trabalho para realizá-la, pois como você disse, tem que estar com o “sangue no zóio” para acertar. • Qual a sensação de girar 900 graus? (Jaderson Felipe Weber, Santa Rosa/RS) – Jaderson, beleza? A sensação de girar um 900? Boa, muito boa, mas quando se gira e acerta é beeeemmmmmm melhor ainda… • Gostaria de saber o que te motiva a andar de skate hoje em dia depois de ter alcançado tanta coisa em cima do carrinho? (Frederico Assis, Petrópolis/RJ) – Frederico, tudo certo? Existe sim o lado competitivo que às vezes cansa um pouco, mas a motivação maior é a sensação inexplicável que ele me proporciona quando estou andando, independente se é em uma competição ou em um dia qualquer. Não sei dizer se é o desafio, a sensação de liberdade, criatividade, diversão. Sei lá, é uma coisa que só sabe quem anda. É muito louco, é muito bom! • É um imenso prazer participar da Linha Vermelha do hexa campeão mundial de skate vertical. O circuito da World Cup Skateboarding sempre foi uma referência, mas hoje em dia poucos estão valorizando como antigamente. Qual a importância da WCS no seu entender? (Ana Maria Cavalcanti, Curitiba/PR) – Olá Ana, tudo bem? Primeiro que a WCS é uma empresa privada e não uma entidade sem fins lucrativos, ou seja, sempre procurou fazer coisas que fossem primeiro de interesse da empresa; porém também já foi sim por muito tempo, muito importante até mesmo para a minha carreira, pois quando não se tinha outra opção ou outros organizadores, essa empresa com nome Copa do Mundo de Skate era contratada para organizar a parte técnica de todos os eventos que aconteciam pelo mundo até então, por isso eles criaram o ranking mundial e, sim, tinha muita força pela quantidade de eventos que tinha do decorrer dos anos. Porém de alguns anos para cá, acredito até por causa do crescimento do skate pelo mundo, surgiram novos eventos, produtores e organizadores com as cabeças mais evoluídas pensando num todo (evento, atletas, resultados) e a WCS começou a perder força por causa dessa concorrência. Hoje em dia, infelizmente perdeu muita força no cenário do skate vertical, mas mesmo eles fazendo a parte técnica de pouquíssimos eventos de vertical durante o ano, eles assim mesmo ainda fazem o ranking mundial. * Gostaria de agradecer a Tribo Skate por mais essa oportunidade de ter essa linha direta com as pessoas, agradecer aos leitores pela participação, aos meus patrocinadores Red Bull, HD, Freedom Fog, Positiv, Forever Skateboards, Stance e Sandro Dias Skateshop pela parceria, a minha família, amigos e a Deus por essa vida maravilhosa. Valeu mesmo!!! Abraços e sucesso a todos. ** A pergunta escolhida pelo Sandro para ganhar o kit com seus produtos é da Sarah Evelin dos Santos. SANDRO DIAS Instagram / Twitter: diassandro www.sandrodias.com.br

Próximo enfocado: Vitor Sagaz envie suas Perguntas Para: triboSkate@triboSkate.com.br com o tema Linha VermeLha – Vitor Sagaz coloque nome comPleto, cidade e estado Para concorrer ao Produto oferecido Pelo Profissional.


maRcelo mug

// zap

Christ air, no sĂ­tio de Vargem, onde Sandro exercita a sua capacidade de voar.

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Gui Zolin

prata da casa Embora GuilhErmE Zolin tEnha aparEcido ao lonGo dos anos Em alGumas EdiçõEs da rEvista Essa é sua sEGunda EntrEvista na tribo skatE. E nada mais justo do quE dEdicar EssE Espaço a um skatista quE complEtou 25 anos dE Estrada Em 2013. o profissional Gaúcho vivEu muitas conquistas, rEaliZou sonhos, abriu mão dE outros, passou pElo corriquEiro problEma dE uma lEsão, conhEcEu pEssoas E luGarEs inimaGinávEis, tEvE participação Em GrandEs marcas nacionais E também do ExtErior E, acima dE tudo, construiu uma família dEntro E fora do skatE. por Grazi Oliveira // fotos rOdriGO K-b-ça E dieGO SarmentO // infância Meus pais descobriram que eu gostava de skate quando me viram amassando todo o capô da caminhonete imaginando-me em cima do carrinho. Não arriscando ter o carro mais deformado, ganhei um skate aos 5 anos. Comecei a ir em campeonatos e eles faziam questão de me levar. Minha família tinha o costume de filmar os eventos e depois todo mundo ia até lá em casa só pra assistir. Meus irmãos também eram envolvidos com skate e essa era a melhor época, onde andávamos sem compromisso e nos divertíamos muito. // OlheirOS: lance mOuntain e Jeremy fOx Jeremy Fox tinha vindo para o Brasil em 2003, no Mundial, e patrocinava o Danilo Cerezini. Ele me viu andando, curtiu e me deu um shape e um truck. E só então, no ano seguinte, é que fui reencontrá-lo no campeonato de Tampa. Durante o evento, Lance e Fox me chamaram para conversar e foi assim que tudo começou. // Primeira vez nOS eStadOS unidOS (2003) Surgiu um convite para correr o campeonato de Tampa. No princípio era só para ficar a semana do evento. Eu nem tinha passagem para outros lugares, mas estava doido para ir até a Califórnia. Lembrei que tinha ganhado um carro em um campeonato da Qix em 2002. Liguei para meu pai e pedi para vender pois iria ficar pela Costa Oeste. Assim, fiquei mais 6 meses.

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// SeSSãO califOrniana Na minha passagem pela Califórnia rolaram muitas sessões com o Lance Mountain, Richard Mulder (atual proprietário do marca Heel Bruise e lenda do skate pela Chocolate) e Ray Barbee. Foi muito style! Conheci uma galera que eu nem acreditava. Lance me levou em vários picos e pistas. Era muito engraçado pois não sabia falar nada de inglês e ele foi super paciente comigo. Lembro que quando íamos em um restaurante me virava fazendo mímica e apontava para as coisas que queria. Até mesmo quando vinha a minha cota não sabia como dizer o tamanho de shape ou roda, então, tive que improvisar (risos). // american dream A parte chata era quando a galera viajava, voltando para o Brasil, e eu acabava ficando muito sozinho. Felizmente em seguida o Kurt, da The Firm, me ligava e ia até a minha casa me buscar para andar, e me lançava um álbum de fotos para escolher qual o pico que eu gostaria de ir. Já estava envolvido nas marcas como flow na Fury, Ricta e na The Firm. Outra parte boa do “american way of life” era o fácil acesso aos materiais e todo o suporte que as marcas da época me davam. // retOrnO aO Sul Rafael Cabral, Rafael Russo e o Gui da Luz estavam morando juntos próximo ao IAPI, em Porto Alegre. Eu voltei dos EUA e em


gui zolin // entrevista pro

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RodRigo K-b-รงa

fs bluntslide.

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RodRigo K-b-ça

gui zolin // entrevista pro

bs noseslide to crooked.

minha família tinha o costumE dE filmar os EvEntos E dEpois todo mundo ia até lá Em casa só pra assistir. 2013/novembro TRIBO SKATE | 41


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diego SaRmento

gui zolin // entrevista pro

na minha passaGEm pEla califórnia rolaram muitas sEssõEs com o lancE mountain, richard muldEr E ray barbEE. foi muito stylE! seguida já fui morar com eles. Aquele dia foi marcante pois rolou a première da 411 #64, que era especial do Brasil. Eu estava empolgado por ter recém chegado da gringa com a adrenalina do skate. Fiz um break rápido que rendeu uma moto que ganhei em um disputa do Qix. Foi o tempo certo para agilizar tudo para retornar a América. Em seguida, viajei para Europa para a maratona de competições. // eurOPa 2004 Comecei bem na França, permanecendo em terceiro. Já na Alemanha fiquei em sexto. Em Praga, torci o joelho. Simplesmente não tinha como andar mais e ainda tinha mais 10 dias de viagem. Ganhei um dinheiro nos campeonatos e não podia fazer nada devido à lesão. Então, o Gordo, Cida, Leandro Chico e eu resolvemos bancar de turistas. Decidimos ir para Veneza. Foi uma missão. Eu estava com um imobilizador e com muita dor no joelho. Às 3 da manhã estávamos acordados, abrimos um garrafão de 2,5 l de vinho e saímos pras ruas desertas da cidade sem rumo. Eu fiquei em cima do skate e o Cida e o Gordo iam me rebocando de muleta. Na sequência da trip fomos pra Barcelona, a galera na pegada andando no calorão e eu com o pé pra cima só curtindo. // leSãO Torci o joelho rompendo os ligamentos cruzados anterior LCA. Tive que colocar dois pinos e ainda retirar uma parte do menisco. No primeiro médico, que fui antes de operar, achei que não fosse mais andar. Sentei na maca e ele examinou meu joelho e disse, diretamente, que eu nunca mais poderia fazer esporte nenhum e que uma cirurgia custaria 12 mil reais. Não tinha dinheiro para operar! Foi nesse período que comecei a ter mais envolvimento com a Matriz Skateshop, pois até então era só patrocinado. Com a lesão o Cezar Gordo e o pai dele foram atrás de alguma solução para resolver meu problema. // matriz, a uniãO faz a fOrça É uma família! Convivência de longa data. O Gordo e o Cida vinham muito para minha cidade, Esteio, para correr os campeonatos. Viajávamos, fazíamos sessões e filmávamos juntos. Fomos evoluindo ao mesmo tempo. E a loja foi surgindo naturalmente e paralelamente a tudo que fazíamos. Sempre tive o apoio deles. Na época da lesão o próprio pai do Gordo fez uma carta contando toda a minha história como skatista e tinha me machucado em uma competição internacional. Fomos atrás de conseguir atendimento pelo SUS e até hoje estou esperando uma ligação. Ainda estaria na fila esperando 9 anos por um assistência médica.

ollie entre placas em canoas.

// cirurGia Finalmente apareceu o Dr. Marczyk, por indicação de amigos. Expliquei novamente todo meu dilema. Ele abraçou meu caso e só cobrou o anestesista e os parafusos, 2013/novembro TRIBO SKATE | 43


RodRigo K-b-ça

entrevista pro // gui zolin

bs flip to nosepick transfer.

Então, vi quE tinha todas as chancEs dE voltar ao normal. Eu tinha acabado dE convivEr com a sofrida rEcupEração do tx pós cirurGia. 44 | TRIBO SKATE novembro/2013


RodRigo K-b-รงa

bs noseblunt.

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entrevista pro // gui zolin isentando a “mão de obra”. Foi algo inacreditável. Dei sorte de estar nas mãos de um dos melhores especialistas em joelho e ombro do país. Diferente do outro médico, esse profissional me incentivou muito. Na primeira semana que eu tirei o gesso e os pontos fui no consultório. O Dr. pediu para eu pular até sua direção com um pé só, justamente com a perna que tinha recém operado. Então, vi que tinha todas as chances de voltar ao normal. Eu tinha acabado de conviver com a sofrida recuperação do TX pós cirurgia. Então, mesmo assustado com a situação, sentia um alívio em saber que meus amigos tinham passado por isso e se recuperaram bem. // recuPeraçãO Foram 4 meses de espera para operar e mais 6 meses sem andar. Nesse período já estava morando numa casa com 6 ou 7 skatistas. Ficava louco para andar mas não podia. Minha rotina de vida se resumia em fisioterapia, musculação e assistir vídeos. Morávamos perto do IAPI então ia lá ver a galera andar. Com muita fome de skate. // 1 anO de tranSfOrmaçãO Tive que deixar um sonho para trás. Mesmo sabendo da minha lesão, Lance continuou mandando os materiais. Isso me motivou muito! Fiquei feliz em ver que os caras ainda estavam acreditando em mim. Porém, com o meu retorno ao Brasil, ocasionou meu envolvimento com marcas daqui e resolvi ficar. Mas aconteceram várias mudanças que tiveram um desfecho positivo. Quando soube do fim da The Firm, fiquei muito triste pois achava a marca muito legal e que ela apostava no skate brasileiro com o Bob, Wagner Ramos e o TX no time. Eu estava tão envolvido na época que tinha iniciado filmagens para um vídeo futuro; certamente, se tivesse permanecido na marca, teria tido uma video part. Infelizmente o projeto terminou. E eu segui meu caminho no território nacional já participando com minha parte no Freeday’s Movie, reconhecido em todo o país. Passei por mais algumas mudanças, entrei na Hocks e por fim surgiu a Liga. // PrimeirOS PaSSOS da liGa Como morávamos todos juntos, sempre rolava um brainstorm no sofá de casa. O fato de conviver com seus amigos de sessão, viver e respirar 24h skate, criava em nossas cabeças muita inspiração. Foi assim que os primeiros sintomas da Liga surgiram. Como o Russo já tinha conexões com lugares para executar o projeto da marca, ele sempre ia pra fábrica fazer os primeiros experimentos. Hoje a Liga representa um sonho que virou realidade de

fomos atrás dE consEGuir atEndimEnto pElo sus E até hojE Estou EspErando uma liGação. ainda Estaria na fila EspErando 9 anos por um assistência médica. crooked, durante a biano na liga tour sp.

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diego SaRmento

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RodRigo K-b-ça

entrevista pro // gui zolin

E pra fechar com a marreta, fs tail fs flip out.

Eu sEGui mEu caminho no tErritório nacional já participando com minha partE no frEEday’s moviE, rEconhEcido Em todo o país. passEi por mais alGumas mudanças, EntrEi na hocks E por fim surGiu a liGa. 48 | TRIBO SKATE novembro/2013

uma maneira muito rápida. Não imaginávamos ter um reconhecimento imediato. E ela funciona no mesmo sistema que iniciou, envolvendo a equipe, escutando o time e dando espaço para todos darem sua sugestão. // verSatilidade nO SKate A região do Rio Grande do Sul sempre teve uma carência de mini ramp, bowl e picos com transição. Agora a gente vê isso mais facilmente, mas na minha época não existia muita opção. Então eu tentava aproveitar tudo que aparecia para andar, independente do que era. Se aparecia rampa era ótimo, ou uma borda também estava bom pra mim. Eu gosto de andar em qualquer lugar, o que importa é andar de skate. O importante é estar na sessão, pois sempre pode sair algo. Hoje em dia é difícil você achar um skatista nesse

perfil. A molecada começa a andar, aprende algumas manobras e muito antes de pensar em evoluir já está preocupada em ter patrocínios e ganhar dinheiro. Outra questão é o posicionamento do skatista: tem que saber falar, ter postura em uma tour e conseguir trocar uma ideia com lojista ou representante. Vejo que a essência do skate deu uma desandada e acredito que os skatistas profissionais são os que podem resgatar isso de volta, dando o exemplo pra nova geração. // 25 anOS de SKate Nesses 25 anos de skate aconteceram muitos reconhecimentos. Já tive model de shape, model de truck, estou me encaminhando para meu terceiro model de tênis. Na minha época os campeonatos não davam muito dinheiro mas em compensação


havia maior número de competições. Já participei e ganhei disputas importantes, como o de Manaus, que fiquei em 3º em 2003, os promovidos pela Qix e os de Tampa. Em 2004, corri o Tampa e me classifiquei em 4º nas eliminatórias, ficando uma posição na frente do Paul Rodriguez. Sinto que a vibe de eventos hoje é outra! Antes eram 200 skatistas correndo e curtindo o momento. Hoje são 5 ou 6 sempre na frente, fazendo cara feia; perderam a essência de estar ali só por andar de skate e nada mais. A melhor parte de campeonato é rever os amigos e festejar. Acho essencial ir nos campeonatos até porque quem não é visto não é lembrado. // enxerGandO O futurO Enxergo meu futuro inserido na indústria, passando toda a minha experiência de 25 anos de skate para o mercado. Eu e todos de casa estive-

mos inseridos em grandes marcas desde crianças. Vivenciamos e fizemos parte de processo de muitas delas. Consequentemente, a gente aprendeu com o tempo os detalhes dos materiais, produção, marketing e até comercial. Hoje enxergo que há muitos skatistas querendo tomar frente no mercado. Isso é bom pelo fato dos empresários saberem das reais necessidades de um skatista patrocinado e evitar a repetição do passado “sofrido” que a minha geração presenciou. // família zOlin Ser pai é uma responsabilidade muito grande. O amadurecimento acontece de uma maneira quase que instantânea. Antes meu ritmo de vida era completamente diferente; costumava viajar muito, nunca parava em casa, sem horários e obrigações. Minha filha foi o melhor acontecimento da minha vida. Com o tempo você acaba se regrando

e encaixando os melhores horários adequando à rotina. Não dá para deixar de correr atrás dos seus sonhos até porque agora você tem uma família para cuidar. O mais interessante é que ocasionalmente levo minha filha na sessão. Muitas vezes acontece do Daniel Crazy aparecer no rolê com a filha dele, ambas têm a mesma idade. Esse tipo de coisa eu nunca imaginava que um dia fosse acontecer. Tudo se torna um aprendizado.

// Guilherme nuneS zOlin 30 anos, 25 dE skatE patrôs: liGa, hocks, matriZ EstEio, rs 2013/novembro TRIBO SKATE | 49




EscrEvEndo

a história

do skate

AlgumAs históriAs são ApenAs contAdAs. outrAs, vividAs. tenho A sorte de ter AcompAnhAdo Alguns dos principAis cApítulos dA históriA do skAte brAsileiro. muitos deles forAm escritos pelA Qix Que, em seus 20 Anos de trAjetóriA, pArticipou de formA AtivA no crescimento e reconhecimento do skAte AtuAl. nAdA mAis justo Que contAr um pouco dessA históriA. umA históriA recheAdA de suor, AlegriAs, vitóriAs e muito, mAs muito trAbAlho. 52 | TRIBO SKATE novembro/2013

por RodRigo K-b-ça


Fotos Rossato Lima

especial // qix 20 anos

Equipe 2005.

Eurotour 2004.

DJ Cia.

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Fotos RodRigo K-b-ça

qix 20 anos // especial

Qix Pro Contest.

os primeiros passos A Qix sempre buscou fazer as coisas de maneira diferente. E foi assim com o seu nascimento. Antes de ser batizada, Ramon Müller, o pai da criança, já produzia os tênis da extinta Overdose. Esse foi apenas um passo, antes de começar uma marca nova de skate, para esse sujeito que adorava dizer que era “sapateiro”. A vontade de trabalhar era do Ramon, mas o nome de batismo foi dado pelo primo Joseph Koch. Nascia a Qix em 1993. Não demorou para que os primeiros patrocinados começassem a aparecer nos eventos gaúchos. Milton Moca, Regis Lanning e Murilo Marques foram os escolhidos para calçar os tênis da nova marca de Novo Hamburgo, pólo calçadista do Rio Grande do Sul e do Brasil. Em 1996, após apoiar diversos eventos locais, a Qix resolveu organizar seu próprio campeonato. O Circuito Qix de Skate começou na grande Porto Alegre, na cidade de Cachoeirinha e trazia como grande novidade a sua premiação final: uma moto para o campeão. Algo inédito, mas que hoje em dia, acontece com certa frequência. Era a primeira vez que uma marca no Brasil apostava tão alto no skate amador. O circuito, que visitou muitas cidades do Rio Grande do Sul e terminou em Tramandaí, no litoral gaúcho, mostrou o nível dos skatistas gaúchos e o empenho foi máximo até a última etapa. O patrocinado pela Qix, Elisandro Geleia, de Sapucaia do Sul, conquistou o título, levou a moto e, sem imaginar, nascia uma união duradoura. Hoje, Geleia é o responsável pelo design dos tênis da Qix e, inclusive, assina um model em homenagem a essa grande parceria. O circuito aconteceu em anos posteriores. Se transformou em uma das grandes vitrines do skate amador brasileiro e atraiu skatistas de todo o país.

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Gui Zolin, Rodolfo Gugu, Gui da Luz, Carlos Ribeiro, Danilo Cerezini, Felipe Gustavo, Carlos Iqui, Thaynan Costa e Luan de Oliveira, entre outros, foram alguns dos grandes nomes do skate brasileiro que participaram desses campeonatos e deixaram grandes manobras para a posteridade no Qix Skatepark. as equipes... uma família Uma marca de skate sem uma equipe, não é uma marca de skate. A Qix, desde o começo contou com um time. A equipe, que até então tinha expressão somente na região da grande Porto Alegre, passou a ter mais importância com a entrada de Biano Bianchin. Foi quando a coisa ficou séria. Desde então a Qix sempre manteve equipes com grandes nomes do skate profissional e amador. Nessa época, skatistas como Nilton Urina e Márcio Tarobinha representaram a marca. Algum tempo depois, o carioca Alessandro Ramos vestiu a camiseta da marca gaúcha. No começo dos anos 2000, a equipe profissional cresceu. Foi hora de cair na estrada. Meio Brasil, além do Paraguai e Argentina foram invadidos pelos skatistas da marca. Em 2004 a Qix contava com nomes de peso em seu time e foi nesse mesmo ano que, pela primeira vez, uma marca brasileira organizava uma tour de verdade no continente europeu. Guilherme Gnomo, Fabio Sleiman, Allan Mesquita, Rafael Russo, Willian Seco e Rodil Ferrugem partiram para o velho continente, preocupados somente em andar de skate. Ferrugem era o único com uma preocupação a mais: sagrar-se bicampeão mundial. Missão cumprida e tour encerrada. O documentário Give Me Your Passport, Please! mostrou como foi essa viagem.


RodRigo K-b–ça

De volta pra marca, Rodil Ferrugem encara novamente os campeonatos e as ruas. Flip.

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Caetano oLiveiRa

especial // qix 20 anos

Bruno Felipe Kbelo, no auge da produção, fs fifty.

No ano seguinte, a Qix ficou mais internacional do que nunca. Skatistas do Brasil, Argentina, Paraguai, Chile, Uruguai, França, Espanha e Suiça integravam a equipe. De certa maneira, foi uma abertura para skatistas do Mercosul ficarem um pouco mais conhecidos no Brasil. Um, em especial, Esteban Florio, acabou ficando pelo país. Uma equipe grande e cheia de skatistas talentosos, cada um com seu próprio estilo e foco. Plural, como se diz hoje em dia. Tão plural, que é a única marca de tênis no Brasil que patrocina um skatista de downhill, Sergio Yuppie. A Qix também foi celeiro de grandes talentos. Alguns começaram como amadores e chegaram a profissional. Willian Secco, Ricardo Porva e mais recentemente Mauricio Nava e Kelvin Hoefler são apenas alguns deles. Além disso, muitos skatistas foram descobertos pela Qix, como Gui da Luz e Danilo Cerezini. Outros tantos passaram pela marca, andando de skate e acabaram rumando para outras vertentes, sem perder o foco no skate. Nem é preciso pensar muito para citar Júlio Detefon como referência nesse aspecto. Distante de pensar somente em skatistas competitivos ou jovens talentos, a Qix apoiou o skatista de alma, que nunca se preocupou muito com os grandes desafios ou as melhores colocações em campeonatos. Marcos ET é a prova disso. Skatista até o talo, passou a integrar a equipe na metade dos anos 90. Sempre representou muito bem, com sua atitude de skate na veia! ET foi o primeiro skatista brasileiro com mais de 30 anos a ter um model de tênis, quando ainda nem se falava nesses tais “old school”. sair na frente e pagar para ver Pagar pra ver. Poucos são os empresários que seguem essa máxima, ainda mais em um cenário instável como o Brasil de 20 anos atrás. O skate começava a crescer novamente após todos os problemas gerados pelo plano Collor. Nessa época de vacas magras, a ideia de que alguém, totalmente fora do skate, fosse apostar no carrinho era até engraçada. O mercado começava a engatinhar. Faltava muito ainda para dizer que o skate caminharia com os seus próprios pés. Foi nesse período que nasceu a Qix. É certo que a Qix não foi a primeira marca brasileira a ter uma página na internet. Porém foi a Qix que definiu como seria o padrão das webs do final dos anos 90 até hoje. Notícias e mais notícias. Sem se preocupar com marcas ou estilos. Não seria exagero afirmar que a página da Qix era a mais acessada na época e sempre era tida como referência quando se falava em jornalismo no skate. Anos depois o foco mudou e eram os vídeos que mandavam. Em ambos casos, foram páginas sem precedentes no Brasil, movimentando colaboradores do Oiapoque ao Chuí e revelando talentos dos bastidores do skate. Como já se escreveu sobre a tal motoca que passou a ser obrigatória nos circuitos amadores, é hora de falar sobre outro veículo motorizado. Quando a necessidade de levar a equipe para diversos cantos se tornou algo do qual não se podia fugir, a compra de uma van, com todos os confortos necessários pra que os skatistas viajassem, foi uma grande saída. Mesmo nos Estados Unidos, onde o mercado é infinitamente maior que o brasileiro, não é comum que as marcas tenham sua própria “caranga”. A van da Qix, sob o comando do sempre carismático motorista Rori, viajou milhares de quilômetros para tours e demos em diversos cantos do país, além da Argentina e Paraguai. Alguns, depois disso, em crises de grandeza, compraram motorhomes, mas nenhum deles rodou tanto como a van da Qix. Porém, quando se fala em sair na frente, não há como esquecer o Qix Pro Contest. Mais que um campeonato, os QPC ficaram conhecidos como a maior festa do skate no Brasil. Em suas sete edições, acabou se tornando o

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principal e mais aguardado campeonato profissional do país, não só pela suculenta premiação, um automóvel zerinho para o campeão (e posteriormente, para o vencedor do best trick), mas também pela vibe que dominava o Qix Skatepark. O fato de todos os skatistas presentes se sentirem respeitados e bem tratados foi fundamental para que, mais uma vez, a Qix virasse referência quando o assunto era como organizar um campeonato profissional. Sem fugir muito desse tema, em 2002 é lançado o primeiro DVD de skate do Brasil, com a cobertura do Qix Skate Pro daquele ano. Em sua útima edição, em 2007, o campeonato aconteceu junto com a grande final do Qix AM Contest, que contou com seletivas em todas regiões do país. Imagina um campeonato com os melhores amadores e profissionais competindo por um carro, cada um em sua categoria. No final, Luan de Oliveira venceu no amador e Diego Oliveira no pro. E a festa seguiu noite adentro... Em 2010 foi a vez dos amadores ganharem outro evento inovador. O Qix TV Contest trouxe à tona algo que é uma máxima entre todos os skatistas: é em um vídeo que o skatista consegue mostrar seu talento. E assim foi. Na final, skate de peso e Alber Leandro, de Brasília, leva um carro pra casa. Os videomakers Mateus Amorim e Daniel Kaschel faturaram uma câmera HDV. Premiação de luxo para um evento que, novamente, ditou novos parâmetros e volta em 2014 para uma segunda edição. Como poucas, a Qix também desbravou fronteiras. Mercosul e Europa. O mundo ficou menor e só uma crise mundial pra parar essa expansão que era eminente. Na verdade, o mundo tem o tamanho que nós queremos. Barreiras são levantadas para que possamos quebrá-las. Após 20 anos, parece que muito já foi feito, mas mentes inquietas estão sempre querendo mais, buscando o diferente. É assim com a Qix. Uma marca veterana no mercado brasileiro, mas que, nem por isso, perdeu o espírito de criança, que se aventura por terrenos ainda inexplorados. Fazer mais e fazer melhor é um lema. E por que não fazer desse lema sempre uma realidade?

RodRigo K-b-ça

qix 20 anos // especial

histórias paralelas * O autor do texto Recebi mais de um convite pra escrever o texto sobre os 20 anos da Qix. Primeiro do Cesar Gyrão e depois do Ramon. A princípio não entendi por que parecia tão óbvio que essa matéria ficasse sob minha responsabilidade. Talvez tenha sido ingênuo. Quando a Qix entrou no mercado eu era apenas um jovem skatista, amador 1 (que coisa antiga!), com boas colocações em competições no Sul do Brasil. Em 96, no primeiro circuito organizado pela marca, já tinha experiência suficiente para julgar categorias inferiores e acabei exercendo essa função em todas as etapas. Um ano depois, meus pais decidiram mudar para o litoral do RS e uma ligação me livrou dessa mudança que, como todos podem imaginar, não me agradava. Liguei para a Qix e quem atendeu foi o Ramon. Quando comentei que teria que morar na praia, por ainda não ter um emprego, o convite foi imediato: “Vem trabalhar na Qix.” Não pensei duas vezes. Agarrei o trabalho com unhas e dentes e, de quebra, acabei entrando na equipe. Levantei caixa, contei tênis, cuidei da equipe e até desenvolvi logotipos. 1997 foi um ano em

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Zene Sachs, hip lien na Konig, em Floripa. Bowlriding amador de responsa.


PedRo maCedo

Mauricio Nava ignora as pedras portuguesas e a cerca verde. Wallride, Rio.

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Caetano oLiveiRa

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que acabei evoluindo muito, como pessoa e como skatista. Pela primeira vez alguém tinha me dado uma oportunidade dessas. Minha história, a partir desse momento, aconteceu junto com a Qix. Ela foi minha escola e abriu todas as portas possíveis para que meu trabalho fosse conhecido em todo o Brasil. Ramon conseguiu descobrir um talento que, talvez eu nem imaginasse que tivesse. Por isso, hoje é mais fácil entender algumas broncas que levei. Eu, sujeito inseguro e medroso, precisava, de alguma maneira, acreditar mais em mim. É bem provável que o “boss” não falasse as coisas da forma mais adequada, mas cada um tem sua maneira de fazer as coisas. Essa relação, às vezes meio conturbada, mas sempre com um sentimento de gratidão pela oportunidade e confiança que o Ramon depositou em mim, entre idas e vindas, durou até 2002. Ainda assim, a amizade perdurou e, mesmo em um período em que já morava em São Paulo, foi a Qix que me ajudou em momentos de dificuldade. Em 2012, após cinco anos em Barcelona, voltei a morar no Brasil e, eis que, do nada, recebo um e-mail do Ramon. Levei quase um ano para tomar a decisão e só no final de 2013, após 11 anos longe, voltei a fazer parte da família. Será que vale a pena? Quer saber? Vale sim. Por gratidão, por me sentir desafiado, mas, acima de tudo, por poder trabalhar com algo positivo para o skate.

PauLo maCedo

Longa história com a Qix, Fabio Sleiman, ollie into bank.

Dennes Ferreira, crooked.

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ana PauLa negRão

Kelvin Hoefler chega ao terceiro título de campeão mundial profissional calçando a marca. Fs noseslide.

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RodRigo K-b-ça

qix 20 anos // especial

Símbolo do skatista de alma, Marcos ET, fs grind grabbing the nose, na casa da Helga.

Assim fica bem mais fácil entender por que tanto o Gyrão quanto o Ramon me incumbiram dessa responsabilidade. Nossas histórias aconteceram de maneira paralela. Para o bem e para o mal. Nos momentos bons e ruins. Mais que uma obrigação, escrever essa matéria, ajudar na escolha das fotos e o que mais precisar, acabou transformando-se em algo que só me encheu de orgulho. É bom saber que o nosso trabalho e o nosso esforço fez a diferença. Que ajudamos a escrever a história do skate e a definir novos padrões. E é bom saber que, nesses 20 anos, sei que além de eu estar agradecido à Qix e ao Ramon, “eles” também se sentem felizes e orgulhosos das minhas conquistas. E não só por mim, mas por quase todo mundo que contribuiu, de forma direta ou indireta, com o legado dessa marca, muitas vezes maltratada por pessoas que se acham mais importantes que o skate. No final, o legal mesmo, é saber que histórias que foram acontecendo de maneira paralela durante um bom tempo, voltaram a se cruzar. Parabéns para todos nós. Todos que ajudaram a escrever essa história. Que costuraram tênis. Que colaram solas. Que fotografaram. Que ficam quebrando a cabeça com números ou que dirigem uma van. Parabéns a todos nós skatistas. Todos somos responsáveis e parceiros nesses 20 anos de Qix. a qix e eu por Marcos ET A primeira vez que vi um tênis da Qix, foi na minha loja, Mad Corner, em meados de 1994. Estava no local quando adentrou o skatista profissional Dalton Pig, proprietário da Tailon, e o representante Rogerinho. Logo de cara gostei do estilo do produto, porque tinha um modelo meio cano na grade. Apostei neles nas minhas vendas... Em 1995 o cenário do skateboard brasileiro estava decolando vertiginosamente, as ruas estavam sendo novamente repovoadas, como na década anterior. Costumeiramente, somos cercados por pessoas, marcas e ideias, que

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estão sempre sendo recicladas; algumas digerimos com prazer outras são excluídas e banidas ao limbo. O espírito de empreendedorismo de alguns acaba afetando a expectativa de muitos que passam a participar destas conquistas. No final deste ano vitorioso para o skate nacional, eu contava também com o apoio da loja Qix, de São Leopoldo/RS, do meu brother Biano Bianchin. Estava chegando lá... Em dezembro depois de uma tremenda festa Funny Fluxo, a convite de meu irmãozinho Nilton Urina, rumamos ao Sul. A ida foi uma maratona rodoviária, mas a chegada em Novo Hamburgo selou minha entrada definitiva para a Família Qix, simples assim... Churrasco, bom papo e muito skateboarding na veia! A primeira impressão Um sorriso, um aperto de mão e um abraço do “boss”, Ramon Müller. Seu gesto de boas vindas me fez observar o empresário que se auto-intitulava “sapateiro” e entrava no jogo pra valer. Ditar regras e padrões. E eu estaria acompanhando-o nesta jornada, ora como espectador, ora como elenco. De uma estrutura preexistente, emergia uma fábrica de calçados a pleno vapor, uma produção vigorosa e cheia de identidade. A Qix apoiava e organizava vários eventos no Sul do país, mostrando nitidamente a importância na fomentação da prática e competição, para a estruturação do skate e mercado. Model Assim como o Ramon entendeu desde o início a necessidade de uma equipe bem estruturada, ele também viu a importância de seus profissionais assinarem seus próprios tênis. Foi assim comigo, que num jogo de marketing, onde exaltava a velha escola, tive o privilégio de assinar um model aos 31 anos de idade! Nessa época não tinha esta história de old school por aqui. Foi um sucesso, tanto que em seis meses, tirei um Gol zero, só com os royalties. De lá pra cá muita coisa mudou. Hoje a linha de models assinados é bem maior, além da possibilidade de mais versões.


Rossato Lima

No trajeto entre a Praia Mole e a Barra da Lagoa, com destino ao Rio Vermelho, Sergio Yuppie representa o vĂ­nculo da marca com Floripa. Layback.

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RodRigo K-b-รงa

Vรกrias viagens na bagagem, Jhony Melhado deixou suas marcas em Barcelona. Fs Feeble.

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aRquivo PessoaL K-b-ça

especial // qix 20 anos

aRquivo qix

Fotos Rossato Lima

K-b-ça.

B-Negão.

Ponte aérea SP – RS Em meados de 1998, tive a oportunidade de defender a Qix como único profissional. Idas ao Rio Grande do Sul tornaram-se quase que semanais. Ia para divulgar meu model, conhecer picos novos e pessoas incríveis. Pouco tempo depois passei a ter a companhia do profissional carioca Alessandro Ramos. Juntos, quase nos tornamos gaúchos, bah! Churrascos e mini ramp exclusiva pra equipe também foram alguns dos muitos privilégios da época. Idas e vindas A minha identidade fundiu-se à Qix devido ao tempo de permanência, pela assinatura de modelo de tênis e minhas idas e vindas. Resumo da ópera: comecei a integrar a equipe pro no final de 1995. Saí pela primeira vez em agosto do ano seguinte. Em janeiro de 97 fui surpreendido pelo Biano com uma proposta irrecusável: contrato profissional e assinatura de tênis; nova saída logo após Qix Pro 2000. Em maio de 2004, retornei ao time e no ano seguinte desliguei-me novamente, mas desta vez, com uma diferença - a partir de 2006 passei ao flow team. Mas o enredo prossegue e no dia três de janeiro de 2013, no “Red River Paradise”, eu e Sergio Yuppie retornamos ao time. Mas uma vez um churrasco sela nosso compromisso... Qix Family 4ever! Qix Family Desde que conheci o Ramon, houve logo de cara uma afinidade natural, e uma volumosa troca de informações, muitas vezes ouvidas pelo “guru ideológico” da Qix, Joseph, que fomentava a união e espiritualidade do skateboarding. A marca conseguiu criar skatistas mais conscientes de suas obrigações, deveres e como serem devidamente recompensados... Ser patrocinado por

ela é saber que sua única preocupação é andar e representar o verdadeiro espírito da “Qix Family”, ser um skatista overall. No meu caso frequentei a casa da família por anos, sempre muito bem recepcionado pela Isabel, Dona Soni e os então guris, Rafael e Guilherme. Falar de uma marca tão especial quanto a Qix Skateboard, é uma honra. Isso mesmo: falar de vencedores sempre foi meu foco, afinal contei casos e entrevistei por anos, e o sucesso é que nos dá vontade de acordar para mais um dia! Nestes 20 anos muita coisa bacana aconteceu, histórias de conquistas, individuais e coletivas, permeiam a atuação da Qix na história do skate. O respeito que a empresa adotou para o usuário do produto, oferecendo qualidade e identidade, é o resultado de sua expansão, nestas duas décadas. Que venham mais 20, 30... 80 anos! Qix Skateboarding 4ever! um paulista na ilha por Walter Garrote O paulista, que vive na maior cidade da América do Sul, recebeu uma ligação no meio da semana. No outro lado, quem falava era o dono da empresa. Enquanto ele dirigia, no caminho entre Floripa e Novo Hamburgo, fez várias ligações, quase sempre interrompidas pelo “excelente” serviço de telefonia móvel que dispomos no país. Algumas palavras depois, veio o convite para uma conversa em Novo Hamburgo. O sonho de voltar a trabalhar com skate acendeu uma luz dentro de mim que há muito estava apagada, me fazendo sentir saudade. Já estava um pouco triste por estar tanto tempo longe de pessoas que eu gosto e que pensam como eu. Ao contrário de muitas pessoas que trabalham no skate, o meu caminho foi 2013/novembro TRIBO SKATE | 65


Fotos Rossato Lima

qix 20 anos // especial

diferente. Não fui competidor. Não estava envolvido no início das revistas. Nos campeonatos, estava nas arquibancadas, vibrando do lado de fora. Porém, o mais importante: andei muito de skate à noite, depois do trabalho, nos finais de semana e até no colégio interno, onde tudo começou de fato. Para fazer parte disso tudo, decidi montar uma revista. Chamei meu cunhado, um amigo, achamos um fotógrafo e nasceu a Skate Jam, o embrião da SKT. Já com a estrutura de uma editora, fizemos coisas muito legais. Até unimos a Tribo Skate e a Cemporcento, até então inimigas mortais, contra nós, para impedir que mais uma revista viesse “tumultuar” o mercado de skate. Ainda assim, eu tinha a convicção que daria certo. Fiz o que achava certo sem me importar com os outros e foi assim que eu fiz parte da revista até 2006, quando realizamos o SKT na Estrada e a edição de segundo aniversário. Depois de desentendimentos, saí da revista e fui convidado para trabalhar no marketing da DVS. Me formei em Marketing no Mackenzie e nunca tinha trabalhado com isso. Descobri um prazer incrível em fazer parte do skate onde tudo é, de fato, criado. O outro lado da moeda! Tours gringas, nacionais, campeonatos, material de PDV e tudo que se pode fazer. Eis que muito tempo depois, recebo a ligação do Ramon e após alguns dias me reúno com ele, Bocão e Pimenta. Depois de contar toda essa história para eles vem a pergunta: “Cite três coisas que você acha que estão erradas na Qix e o que você faria diferente?”. Era a chance de falar a coisa certa e fazer parte da Qix ou voltar pra casa e continuar sonhando. “Bom Ramon, acho que isso, aquilo e aquilo outro...” Recebi um sinal positivo, polegar pra cima... UFA!

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Há 8 meses faço parte da família. Ainda estou engatinhando, porque o paulista tem outro jeito, outra dinâmica de resolver as coisas. Sou um paulista, vivendo em uma ilha, aprendendo com um gaúcho a fazer as coisas acontecerem. Sem preconceitos, sinto que a cada dia tenho mais a aprender com alguém que, como eu, não ligou pra quem disse que as marcas devem estar na mão dos skatistas... Sempre achei a frase mais tosca do skate junto com “skate favela”. Por que? Por que tinha que ser favela? A Qix mostrou que com “favela”, a gente não seria mais do que favelados. E o tiozinho que decidiu investir no skate, mostrou para os skatistas como é que se faz. Hoje tenho orgulho de vestir essa camiseta e poder aprender. Tenho certeza que aqui poderei criar coisas que sempre sonhei... Obrigado Ramon. Parabéns Qix Skateboards! depoimentos – Em 92 eu tinha uma marca de skate. Produzíamos confecção e começamos a fazer tênis. Foi quando conheci o Ramon. Ele fabricava tênis para a minha marca mas, em seguida veio com a ideia de iniciar uma marca própria, a Qix. Foi quando fui convidado para começar este projeto, cuidando das vendas, da equipe e marketing... Além de fazer toda essa função, andava de skate e também era patrocinado. Nos anos 90 era muito difícil imaginar que uma marca de skate poderia chegar onde a Qix chegou. O mercado era muito segmentado e só nos grandes centros encontrávamos espaço para o nosso trabalho. Com o passar dos anos e, principalmente, com muito trabalho foi ficando cada vez mais claro o potencial do skate e também da Qix. (Murilo


Rossato Lima

Thiago Pingo, fs boardslide.

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– Acompanho o trabalho da Qix desde o início. Primeiro como skatista, depois como juiz em seus campeonatos e agora como uma marca concorrente. A Qix tem grande participação na história do skate brasileiro. Parabéns Qix! (Fabio Schumacher - Representante Comercial adidas Skateboarding Brasil.)

RodRigo K-b-ça

Marques – Um dos primeiros patrocinados da Qix e proprietário da Naipe Skateboards)

– Fui skatista da Qix durante três anos, mais ou menos, mas conheço a marca há uns 14 ou 15 anos. Foi muito lindo ser parte da família Qix. Competi em todas as edições do Qix Pro Contest. Mesmo quando não andava para a marca, sempre fui convidado para participar das demos. O Ramon sempre respeitou meu trabalho como skatista. Só possuo coisas boas da Qix: alegrias, amizades, risadas, churrascos, paz e puro amor pelo skate em todos esses anos. Qix até o fim! (Juan Manuel “Pitu” Lopez (Sismo e Emerica) – Skatista pro – Argentina) – Bom falar da Qix não é assim tão simples. A Qix é uma marca que acompanhou minha carreira de skate e, apesar de nunca ter sido meu patrocinador, acho que foi a marca que mais fez pelo skate em todos esses anos. A Qix fazia “a” festa do skate brasileiro no começo dos anos 2000 e, até hoje foi a única marca que deu um carro para o campeão do Circuito Brasileiro Profissional. Foi uma grande surpresa! Além disso a marca sempre apoiou e buscou fazer a diferença. Obrigado Qix por fazer parte da minha história. Obrigado Ramon e família Qix. Paz. (Daniel Vieira (Broken, Everlong) – Skatista pro – Curitiba) – Um dos grandes diferenciais da Qix foi ela ter uma fábrica e conseguir um preço competitivo. Esse preço adequado e a boa distribuição foram sem dúvida, algumas das grandes qualidades da marca. Tanto a New quanto a Qix compartilham o fato de serem marcas que sempre apostaram no Brasil e, como marcas nacionais, conseguiram resistir à invasão das marcas gringas no nosso mercado. (Abraham Aflalo – Diretor NEW) – A época que eu tinha patrocínio da Qix foi uma das melhores fases da minha vida no skate. Ali eu tinha toda estrutura necessária que um skatista precisava e sonhava: salário bom, cota boa, ajuda de custo para campeonatos, viajava bastante. Com essa estrutura consegui participar de todos circuitos, fiquei entre os três melhores amadores do Circuito Qix e tive a chance de me profissionalizar na marca. Meu primeiro carro, ganhei em um dos eventos que a marca promovia na época o “Qix Pro Contest”. Foi só alegria, uma época fantástica. Aprendi muito, lembranças muito boas. Sou muito grato por tudo que a Qix fez por mim e me proporcionou, acredito que foi primordial na minha carreira, com certeza um dos melhores patrocínios que já tive. (Ricardo Porva (Make, Nata e apoio Converse) – Skatista pro e videomaker – Cáceres/MT) – A Qix, na figura do Ramon, talvez tenha sido, até hoje, a marca que mais recebeu críticas ao longo dos anos. Mesmo tendo feito tudo como manda a cartilha: bons campeonatos, tours, time, vídeo, web e etc… A marca sofreu como poucas uma espécie de bullying corporativo liderado por haters, skatistas e empresários do mercado os quais hoje, não fosse a Qix, talvez ainda estariam no anonimato… Manter-se por 20 anos num ambiente tão hostil é, no mínimo, um ato de tenacidade e coragem e isso merece algum respeito.” (Sergio Bellinetti – Diretor Crail Trucks) – Apesar de todos os altos e baixos da economia, a marca completa 20 anos de trabalhos dedicados ao mercado de skate e pode dizer que não é à toa que está aí até hoje. Além do desenvolvimento dos produtos, a Qix também é lembrada como uma das precursoras das melhores premiações oferecidas aos amadores e profissionais em seus campeonatos. Seguiu a receita de investimento no skate e nos skatistas. Este é o segredo da longevidade de uma marca. Com a nova equipe formada, acredito que muitas coisas boas ainda estão por vir. Parabéns à equipe Qix por todos estes anos de luta! (Jorge Kuge – Skatista e empresário)

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Ramon Müller.

o sapateiro e o skate por Rodrigo K-b-ça Ramon Adolfo Müller, 58 anos, nasceu em Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul e trabalha com sapatos há muito tempo. Acabou conhecendo o skate por acaso. Nunca havia subido em um skate e não conhecia esse mundo, porém, não demorou muito para se apaixonar pelo mesmo e pelo estilo de vida dos skatistas. Conheça um pouco mais desse empresário que, mesmo em uma época que o mercado não parecia tão promissor quanto hoje, resolveu apostar no carrinho e, principalmente, nos skatistas. Como surgiu a ideia de uma marca de skate? Eu fazia sapatos, tinha uma fábrica, e fui procurado por um dos donos da Overdose, uma marca que não existe mais. Queria que fizesse os tênis da marca dele e me contou como era fazer uma marca de skate, que era fácil e não custava muito caro. Me interessei justamente por isso, pela chance de poder fazer uma marca sem um custo muito alto. Comecei a fazer sapatos aos 17 anos de idade. Naquela época, não existia esta história de marca. A gente comprava um metro e meio de tecido e mandava fazer uma calça ou uma camisa na costureira do bairro. Fiz os tênis da Overdose por cerca de meio ano. Me pagavam pouco e decidi então, começar a fazer a minha marca. Quando a Overdose me pediu para fazer os tênis deles, a primeira coisa que fiz no final de semana foi dar uma olhada no mercado. Vi que era uma coisa meio “em terra dede cego, quem tem um olho é rei”. Disse para mim mesmo: “Em um ano quero estar fazendo o melhor tênis de skate do Brasil!”. Naquele primeiro momento eu não tinha conhecimento do skate para saber que poderia crescer tanto como cresceu. Apenas me interessei na possibilidade de fazer uma marca. Depois, para onde iria, eu não tinha noção. Vi que eram produtos muito artesanais, simples e que seria fácil entrar no mercado e fazer um produto bem superior aos que tinha visto. Sabia que conseguiria entrar no mercado e apresentar um produto com mais qualidade. E consegui fazer isso. Lá em 93, você imaginava o quanto a Qix iria crescer? Não imaginava. Não dava pra visualizar esse crescimento. Até mesmo porque na época, o skate não mostrava o potencial de hoje em dia. Uns dois anos depois, tinha vergonha de dizer que acreditava que o skate iria ser maior do que o surf. Hoje eu acho que, no Brasil, se isso não é uma realidade, falta muito pouco. O skate, em número de praticantes, é muito maior, mas os consumidores do surf ainda são muitos. Poucas empresas de skate conseguem durar tanto. Existe um segredo? Trabalhar 25 horas por dia. Isso todos sabem, mas poucos aceitam essa


Fotos Rossato Lima

especial // qix 20 anos

ideia... Mas e aí? Qual a graça de trabalhar 25 horas por dia? A graça está em fazer o que você gosta, junto a pessoas que você gosta. Por isso que a Qix é um lugar onde as pessoas são amigas. Considero que não existe um ambiente “patrão-empregado”. As pessoas com quem eu trabalho começam sendo meus funcionários e terminam sendo meus amigos. Como é para uma pessoa que não é skatista, colocar o skate como prioridade em seu negócio? Me apaixonei pelo skate, pela personalidade e estilo das pessoas do skate. Me identifiquei. Sempre fui um cara, embora tímido, rebelde, contestador e que queria mudar o mundo. E isso foi o mais bonito e atraente que vi no skate. Esse espírito do skatista, essa rebeldia. Pra mim, uma forma de ser rebelde, foi trabalhando no meio do skate, com essas pessoas autênticas. Não sei se a melhor definição é rebeldia ou autenticidade ou uma mistura dos dois. Me identifiquei muito com esse mundo. Nasci e me criei em uma cidade onde as pessoas são um tanto quanto mesquinhas. Os caras ficam olhando se o seu carro é do ano ou do ano passado. O skate era uma coisa diferente. As pessoas têm um jeito diferente, roupas diferentes, tênis diferentes... A ideia de uma equipe que seja uma família sempre foi muito forte na Qix. Como surgiu esse conceito? É aquilo que falei da equipe de trabalho. A mesma coisa aconteceu

com a equipe de skatistas. Não só a equipe da Qix, mas skatistas que andavam pra outras marcas. Convivi muito com vários. Recebia na minha casa, dormiam lá. O Magrão, Ari Bason, ET, Urina. Uma galera. Era muito comum os caras se hospedarem na minha casa. Tinha um fascínio pelas histórias dos caras. Ficava até as quatro da madrugada, depois de um churrasco, bebendo uma cerveja e escutando os caras contando a história do skate e de skatistas. Tem gente que, até hoje, não conheço, mas sei a história. Achava aquilo empolgante. Muito legal. Isso foi me cativando, me envolvendo. Com isso também fui conhecendo o lado da dificuldade dos skatistas. Histórias de luta. Na época os caras tinham dificuldade de conseguir dinheiro com o patrocinador para fazer uma viagem de Curitiba para Porto Alegre. Cansei de ouvir os caras contarem que o patrocinador andava de carro importado, mas regulava uma passagem de ônibus para os skatistas irem para um campeonato. Com essas reclamações, fui entendendo melhor e criando uma visão um pouco diferente do empresário em relação ao skatista. Embora nunca tenha sido skatista, acho que soube entender os problemas e as dificuldades deles. Sempre gostei e gosto até hoje de ouvir as histórias dos caras. Gosto de ouvir os caras repetindo as mesmas histórias... A Qix fez o caminho inverso de muitas marcas, lançando primeiro os tênis e, depois, o resto da sua linha, com roupas, peças

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qix 20 anos // especial de skate e acessórios. Acha que o principal foco da marca ainda são os tênis? Sempre fui focado no tênis, pois foi o que fiz a minha vida inteira: calçados. A confecção na Qix surgiu para atender a pedidos dos consumidores. Houve uma época em que a gente recebia em torno de 500 cartas por dia. Nessas cartas, fora as que eram só para dizer que curtiam a marca e elogiar o apoio ao skate, sempre perguntavam onde encontrar ou comprar roupas da Qix. Nem existia confecção na Qix. As únicas coisas que existiam eram camisetas para os skatistas da marca usarem em eventos. As pessoas viam aquilo em um campeonato ou revista e achavam que existia confecção da Qix. De tanto as pessoas pedirem, pensei “Temos que fazer, nem que seja em caráter de marketing.”. Em pouco tempo o negócio tomou uma proporção muito grande. Em um primeiro momento fizemos isso em forma de licenciamento. Uns anos depois o licenciado, que passou a trabalhar só para a Qix, quis lançar uma marca própria e faliu. Foi quando ficamos empenhados. Agora, atendendo a essa necessidade, decidimos fazer nós mesmos a confecção. Achava que estava ficando meio entediado dos tênis e precisava de um novo desafio. Resolvi entrar nesse negócio da confecção. Antes estava na mão de terceiros, agora eu trabalho junto ao desenvolvimento, junto à produção. Atualmente temos uma fábrica de jeans em Criciúma e outra de malhas em Brusque. De todas as ações da Qix nesses 20 anos, qual você considera o maior acerto? E o maior erro? Acredito que o maior erro foi ter dispensado, de uma única vez, todos os skatistas profissionais que faziam parte da Qix no final de 2010. Os caras estavam muito acomodados, desligados. Tipo, “eu sou pro e o simples fato de eu existir, respirar já basta. Já estou sendo skatista profissional e fazendo o meu trabalho.”. Os skatistas acharam que tinham virado funcionários públicos e que o cargos eram vitalícios. Também sentia a necessidade de dar oportunidade para amadores. Não queria uma equipe fechada, com skatistas desligados e desinteressados. O maior acerto foi a organização dos campeonatos. Acho que nós dissemos para o Brasil que não tinha sentido fazer um campeonato de skate sem valorizar o skatista. As empresas gastam um monte de dinheiro em marketing, mas na hora de fazer um campeonato, ao invés dos skatistas cobrarem um cachê para competir, acontece o contrário; eles têm que pagar. Ainda assim, o retorno que eles têm em premiação, acho que, via de regra, o valor é menor que o arrecadado com inscrições. Com nossos campeonatos, conseguimos mostrar como um skatista deve ser tratado. Quais os próximos passos da Qix? Eu não estou mais interessado em ser a maior marca de skate. Antes eu queria ser a número um, a maior marca de skate do Brasil. Modéstia a parte, acho que somos a maior marca: temos um grande número de pessoas cadastradas no nosso site, faturamento, volume de pares (Nota do redator: a Qix já chegou a produzir mais de um milhão de pares de tênis ao ano). Acho que a Qix, há mais de 10 anos, é a maior marca de skate do Brasil. Já sonhei com isso, mas hoje, não faz a minha cabeça. Hoje quero ser uma marca melhor. Quero ser melhor do conseguimos ser até hoje. Quero ser melhor, mas não maior do que a gente é, nem maior do que outra marca. Antes eu tinha esse desafio, mas hoje quero ser melhor como marca, mas não como negócio.

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CamiLo neRes

Forรงa da regiรฃo Centro-Oeste, Samuel Jimmy, bs boardslide sobre os trancos.

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Passado, Presente e futuro… Era uma vEz 2004, no trajEto EntrE Santa Catarina E São Paulo. allan mESquita, fliP. foto: roSSato lima



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allan mesquita // perfil

o vAlor de uM

ídolo nacional AllAn MesquitA veM escrevendo de forMA originAl o seu noMe nA históriA do skAte brAsileiro, destAcAndo-se coMo uM dos pioneiros A representAr o brAsil nAs pistAs de concreto de todo o Mundo. Muito Antes de se tornAr coMuM fAlAr sobre bowl riders eM território nAcionAl, o skAtistA cAriocA já estAvA percorrendo o circuito de coMpetições eM bowls dA europA, AléM de conquistAr preMiAções expressivAs tAMbéM nA ModAlidAde street eM cAMpeonAtos internAcionAis, coMo uM Autêntico skAtistA overAll. AgorA que uMA novA gerAção de bowl riders brAsileiros veM se destAcAndo intensAMente e colAborAndo pArA consolidAr o skAte nAs pistAs de concreto, AllAn segue eM frente MAnobrAndo nAs coMpetições e buscAndo outrAs forMAs de expressAr seu profissionAlisMo e suA devoção pelo skAte, usAndo As produções de vídeos pArA fAzer o skAte chegAr Até os MAis diversos públicos. suA MAis recente conquistA é o recorde dA vendA de MAis de 100 Mil pAres de tênis do seu pro Model lAnçAdo pelA qix, uM fAto inédito nA históriA do MercAdo de skAte brAsileiro e uM exeMplo de que A prosperidAde de ídolos nAcionAis pode ser MAis uM grAnde Motivo de inspirAção. texto e fotos Rossato Lima // foto AberturA DanieL nunes

Sessões escaldantes na cidade de Portão, próxima a Novo Hamburgo, são constantes nos dias atuais. O frontside handplant com a perna da frente esticada ao máximo é fruto de muitos anos de skate em transições.

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os pensAMentos nAdA MAis são do que o resultAdo do ego que doMinA grAnde pArte dos seres huMAnos, seMpre preocupAdos coM o futuro, se lAMentAndo do pAssAdo e perdendo de viver A plenitude dA vidA que é o presente.

C

Rio de Janeiro, 2004. Com o parceiro de equipe, Fabiano Rodrigues.

ada vez mais, andar de skate muito bem, sempre elevando o nível e o estilo, tem se tornado apenas uma característica básica para qualquer um que queira se destacar como skatista amador ou profissional. Andar muito bem é um ponto de partida, mas não é o suficiente para um skatista se projetar e se manter na cena. Onde você foca e como você trabalha os outros aspectos da vida de skatista na sua trajetória pessoal e com os novos skatistas que andam com você? Acredito na boa conduta, disciplina e atitude. Minha vida tem como base o respeito com o próximo, cada qual tem seu potencial, basta ter uma oportunidade para explorar. Andar bem é o mínimo quando se quer chegar longe como skatista. Se realmente quer seguir carreira hoje, com o skate sendo usado pelas grande campanhas de marketing, requer mais dedicação e uma postura mais séria e responsável. Caiu o conceito de “skatista favela”, que era bonito dizer até pouco tempo. Conceito este que sempre combati; não conheço ninguém que fica tranquilo quando se tem muitas contas vencidas e principalmente família para sustentar. Sempre falo pros meus moleques que com humildade, devoção e persistência se conquista respeito e admiração. Recentemente você viu uma ótima pista ser inaugurada com seu nome em Cabo Frio e depois ser derrubada para que outra ainda maior seja construída. O que você pode falar sobre tudo isso? Vejo com grande alegria tudo isso. Lógico que no primeiro momento, logo após a demolição da pista, fiquei muito triste e indignado, mas analisando bem, está sendo ótimo pra Cabo Frio, pois o skate entrou no foco da política e da sociedade que exigiram uma pista nova e bem melhor. Em pouco tempo teremos uma das melhores pistas do mundo, com o projeto da Skate Spot, no lugar mais nobre da cidade, nas margens da praia do Forte, umas das mais lindas, com suas areias brancas e águas cristalinas. Teremos um excelente bowl, uma skate plaza de alto nível e um belo snake. O skate que até pouco tempo era discriminado, agora virou o centro das atenções e olhando sempre o lado positivo de tudo é com felicidade que vejo os fatos se desenrolarem. Quem anda com você pode notar que você usa com bastante frequência três palavras: aceitação, aprendizado e consciência. Qual o significado destas palavras na sua experiência de skatista e como você vê a relação entre sua vida pessoal e suas conquistas profissionais? Sou um estudioso da espiritualidade, busco minhas verdades e quem realmente sou; através da meditação procuro elevar a

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consciência percebendo que sou o único responsável por tudo que acontece em minha vida. Passei a ser o observador dos meus pensamentos e não mais me deixo levar por eles. Os pensamentos nada mais são do que o resultado do ego que domina grande parte dos seres humanos, sempre preocupados com o futuro, se lamentando do passado e perdendo de viver a plenitude da vida que é o presente. Ter consciência é estar presente e ser responsável por cada atitude e pensamento, com isso se constrói uma vida de virtudes, onde tropeçar paz parte, mas não se culpe por isso. Aí é que entra a prática da aceitação, pois no decorrer da vida muitos acontecimentos inesperados e ruins o surpreendem e nessa hora que tem uma grande oportunidade de evoluir, pois tenho convicção de quem me agride ou me faz mal está dominado pelo ego e pela ignorância, pois lá no fundo do coração somos seres do bem e é fácil de descobrir isso. Ao agredir alguém, por qualquer motivo, surge um sentimento rápido de prazer mas logo em seguida bate o arrependimento de ter feito o mal. O amor é um sentimento que temos que cultivar, pois é a base da harmonia entre nós, seres humanos. Quando ouço o nome Allan Mesquita ser mencionado, vejo dois segmentos de opiniões surgirem: Um segmento é o que conhece, prestigia e se sente motivado pelo seu trabalho que leva o skate para além das fronteiras do universo do skate, atingindo públicos mais amplos e dialogando com outros estilos de vida. Outro segmento ainda mantém uma visão preconceituosa ou de descaso com relação a sua trajetória de conquistas. Como você transita entre estes dois segmentos? Como as opiniões positivas ou negativas afetam suas novas escolhas? Quando se está centrado e responsável por seus atos, um sentimento de paz surge e sigo seguro no meu caminho. O medo de não ser aceito que me dominava já não existe mais; como disse, era dominado pelo ego, que me dizia que era difícil e que nada iria dar certo, mas dentro de mim observava a consciência surgir me mostrando meu verdadeiro eu. Alcançando essa sabedoria nada mais podia me atingir, porque aqui o bem domina e sei que todo sentimento de discriminação é baseado na ignorância, no sentido real da palavra, ou seja, dominado pela falta de conhecimento, sabendo disso o perdão surge como forma de compreender que precisamos uns dos outros para evoluir. É como me sinto, inatingível quando certas opiniões são baseadas na ignorância, porque sou consciência. O mercado do skate no Brasil desde sempre vem passando por situações de oscilação. As marcas, os skatistas, as revistas e os programas de tv têm que trabalhar muito e se


allan mesquita // perfil

O New-Love Bowl da Swell, em Viamão, foi contemplado nesta matéria com este indy nose bone do fundo pro raso porque está ao lado da pista histórica de 1978, no sítio da família Sefton.

adaptar para conseguir seguir em frente com um mínimo de dignidade. Como você avalia esta situação atual na qual sua parceria com uma marca de skate brasileira com 20 anos de história acabou resultando num recorde de vendas do tênis assinado com seu model? O que isso representa na sua vida? Percebo que todas as instituições estão tendo que se adaptar muito rápido ao ritmo intenso da modernidade. Com a chegada do mundo virtual, muita coisa mudou em pouco tempo, não sou tão velho assim e vi a internet e câmeras digitais surgirem, está sendo uma revolução até hoje, as mídias impressas sofreram mais, hoje é tudo virtual. Mas acredito na permanência das revistas, que estão se ajustando para oferecer um material diferenciado. Quanto ao mercado do skate no Brasil, vejo que estamos começando a caminhar com as próprias pernas. Parabenizo a Qix pelo pioneirismo e por levar tão a sério o skate. A nossa história juntos é resumida em muito trabalho. Quem não lembra das tours da Qix? Rodamos quase todo o país, visitando muitas cidades e lojas e principalmente andando de skate juntos da molecada. O resultado está sendo incrível, porque tenho certeza que a maioria dos moleques que compram o meu tênis já andou ou já esteve comigo em alguma situação. Um sentimento de que vale a pena agir, rezar, agradecer e ter fé! Atualmente ouvir falar em bowl rider é uma expressão cada vez mais comum no Brasil. A popularização do skate em pistas vem crescendo também em função de uma nova geração que elevou ao extremo o nível desta modalidade, inclusive internacionalmente. Você foi um dos pioneiros a levar o skate brasileiro para as pistas de concreto internacionais e marcar forte presença, tornando-se referência e apontando um caminho possível para bowl riders brasileiros. O que você tem a dizer sobre esta transição da fase em que skatistas de pista eram discriminados para a fase atual em que muitos novos bowls de concreto estão surgindo e ser bowl rider é tendência? Isso foi muito natural pra mim, que tive as pistas do Rio de Janeiro como escola. Era às três da tarde da mini da Urca, às cinco na mini da Lauro Muller, um pouco maior, e a noite no bowl do Rio Sul. Percebo que daí surgiu toda a base em concreto e tinha vontade de colocar pra fora no circuito mundial de bowl. Junto ao Otavio Neto, desbravamos essa modalidade mundo afora e quando voltávamos a vontade era tão grande de difundir a modalidade, por ser tão legal e dinâmica que não foi preciso fazer muita coisa para que pudéssemos assistir e participar da ascensão da modalidade. Hoje é tendência, mas nada disso foi premeditado por nós, simplesmente estávamos lá naqueles momentos fazendo o melhor que podíamos. Aprendi que no skate, o que é tendência hoje pode não ser amanhã, então viva cada momento intensamente como se fosse o último, essa é a chave da prosperidade.

conhecer novAs culturAs e pessoAs utilizAndo o skAte coMo ferrAMentA de integrAção, fAz de MiM uM ser huMAno Melhor, porque cAdA vez MAis chego A conclusão que nAdA sei. 2013/novembro TRIBO SKATE | 77


São ilimitadas as conexões entre as três partes da pista de Portão, nos pés de Allan Mesquita. Rodeo transfer, controlado e no gás.

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allan mesquita // perfil

no brAsil, pArA que o produto tenhA uMA boA AceitAção teM que ser boM, resistente e tAMbéM ter boM preço e foi isso que ofereceMos. eM nenhuM MoMento perguntei se seriA vendável, porque tinhA certezA do êxito.

Fs air numa das demos de shows do Charlie Brown Jr.

Fale um pouco sobre o que você tem feito desde o trabalho registrado no filme 360º, exibido pelo canal Off, até sua recente experiência com o Skate na Amazônia e de como as produções com vídeo fazem parte da sua vida de skatista: É um momento especial na vida, onde através desses números das vendas dos tênis pude constatar que a realização de um skatista não é simplesmente praticar e se tornar um profissional, mas também poder ter condições de viver dignamente com boa remuneração. Percebo que é importante fechar boas parcerias para realização de grande trabalhos, foi o caso do filme 360º, onde a Zeppelin Filmes, uma das maiores produtoras do país, nas imagens do Henry Saltz, se interessou pelo produto e desempenhou com maestria todas as ações necessárias para obtermos esse grande sucesso. Isso nos deixou bem entusiasmados para os próximos trabalhos, como o novo filme o “Skate na Amazônia”, uma experiência única compartilhada com os skatistas Vanderlei Arame, Diego Korn, Bruno Taioli e Eduardo Franchi e você, Rossato. Vivemos histórias incríveis que serão contadas no filme, levando também o selo da Zeppelin filmes. Conhecer novas culturas e pessoas utilizando o skate como ferramenta de integração, faz de mim um ser humano melhor, porque cada vez mais chego a conclusão que nada sei. [PeRguntas De CesaR gyRão] Campeão mundial de vert amador, no circuito da Vans nos EUA; segundo lugar de street no Munster Mastership, na Alemanha; personagem “The Flash” no filme O Magnata (inclusive fazendo downhill slide); um giro de 360 graus pelo mundo que gerou seu filme. Quais você considera os seus principais feitos como skatista? Além desses, pelos quais agradeço cada momento vivido, a real conquista foi poder motivar outras pessoas a seguir a filosofia SKATE, servindo como referência quando decidem ser skatista. Antes era muito difícil optar pela carreira de skatista profissional, pela falta de estrutura e por não possuirmos refe-

rência na época. Sou da primeira geração que realmente pode sonhar com uma carreira bem sucedida; consegui enxergar um pequeno feixe de luz no fim do túnel e passei a perseguir e viver o sonho de ser skatista profissional, praticando minha fé diária de que tudo dará certo. Hoje olho com grande alegria para meus moleques, que estão andando muito e chego a conclusão que o que importa mesmo é ajudar o próximo para que possam ter a oportunidade de explorar o melhor de si. E assim vamos manobrando, evoluindo e aprendendo uns com os outros. Você foi o primeiro brasileiro a fechar patrocínio com um time de futebol? Que época foi? Como foi essa experiência? Hoje, o Kelvin “joga” pelo Santos e o Rony pelo Corinthians. Foi no ano 2000, quando o time de futebol Vasco da Gama começou a patrocinar outros esportes, como artes marciais, bike, tênis de mesa, body board… E pensei que o skate teria uma chance. Improvisei um portfólio, com muitas revistas e recortes de jornal e através do Luis, um amigo que era sócio e nadador do clube, consegui uma reunião com o filho do Eurico Miranda, que era quem comandava essa área. Lembro, que o cara não me recebeu da primeira e nem da segunda vez; fiquei umas duas tardes inteiras e o cara passava por mim e dizia pra eu voltar no outro dia. No outro dia estava lá e no outro também, foi quando me recebeu e a primeira pergunta que me fez foi: Você é Vasco ou está Vasco? Eu disse que não era muito ligado ao futebol por ser fissurado e só pensar em skate e não tinha time, mas que agora era Vasco. E agora revelo, caro leitor, que sou flamenguista e era muito difícil vestir a camisa do Vasco, mas a desculpa que estava no mesmo patamar de um jogador profissional que joga por quem o contrata. Vejo que hoje os times estão abrindo essa oportunidade, lembro que o que mais gostava era usufruir da estrutura do clube, como bons médicos, fisioterapeutas e preparadores físicos e na época ainda via o Romário treinar; mas ele aparecia de vez em quando, tinha fama de não gostar de treinar e era verdade. [PeRguntas De RoDRigo Kbça] Quais são os fatores mais importantes na hora do skatista desenhar o próprio model de tênis? Em algum momento você se perguntou se ele seria “vendável” ou não? O fator mais importante pra obter sucesso é que o tênis tem que ter sua identidade. Optamos pelo vulcanizado de bico liso e poucas peças, por dar um toque mais casual. Com isso chegamos a um produto muito bom e principalmente com baixo custo, nas etiquetas e palmilhas agregamos o meu nome junto a minha marca, a Devotion, o qual agregou grande valor por levar junto a minha história com meus moleques. No Brasil, para que tenha uma boa aceitação tem que ser bom, resistente e também ter bom preço e foi isso que oferecemos. Em nenhum momento perguntei se seria vendável, porque tinha certeza do êxito. Cem mil pares de um mesmo modelo é um número realmente alto. Como você vê o suporte da Qix para chegar a esse número? A Qix é a única empresa que pode dar essa suporte aqui no país! Afirmo isso, não por pretensão e sim por saber reconhecer o mérito de todo o esforço que vem fazendo nesses últimos 20 anos para manter o skate em alta, com a excelência dos servidos prestados até agora. Para conquistarmos tais números temos que parabenizar toda a equipe e a empresa como um todo e principalmente o comandante do “barco” o Ramon Müller que prova ser um cara inteligente e visionário, pois a logística de produção, distribuição e arrecadação é bem complicada; por isso somos uma equipe próspera, cada qual em seu setor exercendo muito bem suas excelências. 2013/novembro TRIBO SKATE | 79




casa nova //

Jhonatan // fotos Daniel Souza Ser skatista: É mais do que só andar de skate, é um estilo de vida. Quando não está andando de skate: Olhando vídeo de skate, editando algumas imagens, me recuperando. Dificuldade em ser skatista na sua cidade: Não tenho o que reclamar, mas vejo que tem grandes talentos que ainda serão revelados. Skatista profissional que se espelha: Javier Sarmiento, Rodrigo TX, Gui da Luz, entre outros. Skate atual: Shape Guetto, rodas Naipe, trucks Independent 129, rolamentos tudo misturado. Marca fora do skate que gostaria de ter patrô: Apple. Som pra ouvir na sessão: Kamau, Moob Deep, Sabotage, Mos Def, RZO. Parceiros de rolê de skate: Uma galera, fica difícil citar nomes. Melhor viagem: Não foram muitas, mas SC é da hora. Melhor pico de rua: Todos skatáveis. Melhor pista: Pista serve para desenvolver as marretas pros picos de rua. O I.A.P.I. é bem diferenciado. Sonha alcançar com o skate: Sabedoria, amigos, felicidade sempre. Aquele salve: Só tenho a agradecer todo amigos de sessão; aqueles que me motivam todos os dias para acertar alguma manobra ou com algumas palavras pra melhorar o dia. Galera do Simplesmente respect; minha família que está sempre comigo me incentivando; galera do Coração de Maria, Brasil, salve! // Jhonatan de Souza GonçalveS 18 anos, 7 de skate esteio, Rs PatRocínio: Guetto simPles style

Bs smith.

Faça você mesmo, tente ser ‘‘diferente mas sempre original. ’’ 82 | TRIBO SKATE novembro/2013



casa nova //

High jump, Salvador.

lucas Rodney // fotos FernanDo GomeS Ser skatista: É saber que o carrinho irá continuar nos pés até eles aguentarem. Quando não está andando de skate: Pensando nele ou desenvolvendo trampos freelancer. O por que do apelido: Primeiro vídeo que vi foi o Rodney vs Daewon, daí me inspirei no skate técnico dele. Dificuldade em ser skatista na sua cidade: Carência de incentivo ao skate e a ausência de uma skateplaza. Skatista profissional em quem se espelha: Chris Haslam. Skate atual: Shape Life Extension Trapasso, trucks Tensor Magnesium Mid, rodas Spitfire 52mm e rolamentos Red Bones. Marca fora do skate que gostaria de ter patrô: Google.

Som pra ouvir na sessão: De Tim Maia até Tame Impala. Parceiros de rolê de skate: Os bons da FDN Crew, entre muitos. Melhor viagem: Fui pra Israel e curti demais. Melhor pico de rua: O anfiteatro do Jardim dos Namorados, aqui em Salvador. Melhor pista: Pista de Lauro de Freitas/BA. Sonha alcançar com o skate: Continuar conhecendo novas culturas e picos através dele. Aquele salve: Geral daqui de Salvador, os FDN, Fernando Gomes, Lucca Paranhos e família, pelo suporte. // lucaS Brito KiSlanSKy 24 anos, 10 de skate salVadoR, Ba aPoio: kaRina modulados

Viver o passado deprime, viver ‘‘o futuro anseia. Viva o agora. ’’ 84 | TRIBO SKATE novembro/2013



casa nova //

Renan espinha // fotos roGer TilSkaTer Ser skatista: É ter as melhores sensações do mundo. Quando não está andando de skate: Jogo Skate 3 com os amigos. Dificuldade em ser skatista na sua cidade: Pistas de skate não favoráveis para praticar o esporte. Skatista profissional em quem se espelha: Fabio Castilho, Glauber Marques, Rodrigo TX e Luan de Oliveira. Skate atual: Shape Wood Light, rodas Powell Peralta, trucks Silver e rolamentos Red Bones. Marca fora do skate que gostaria de ter patrô: Sony. Som pra ouvir na sessão: Wu Tang Clan, Notorious, Eazy E, Snoop, Ice Cub, Asap. Parceiros de rolê de skate: São muitos. Alguns deles: Richard Manguinha, Robson Mx, Edgar Silva e Mauricio Trololó. Melhor viagem: Brasil Skate Camp. Melhor pico de rua: Praça Roosevelt. Melhor pista: Mogi das Cruzes. Sonha alcançar com o skate: Ser skatista profissional. Aquele salve: Deus e minha família. // renan GomeS 17 anos, 9 de skate são Paulo PatRocínio: Wood liGht, BeRno skate shoP

360 flip na finada Itaquera Square.

‘‘nenhum sonho é grande demais.’’ 86 | TRIBO SKATE novembro/2013


˜

Produtos tribo skate | Verão 2014

˜

O nOvO encOntra O clássicO

cultura sObre rOdas produtostriboskate@gmail.com


hot stuff // novembro

// NaRiNa // Oakley

A sola da nova linha de calçados California Culture da Oakley foi inspirada na manopla de motocross, primeiro material comercializado pela marca, invenção do seu fundador Jim Jannard. Agora, a criação icônica reaparece no solado dos novos tênis, modelos feitos com design moderno inspirados no lifestyle californiano, ideais para os que curtem surfe, skate, esportes de ação, músicas e artes. (11) 4003 8225 / oakley.com

// Respect

Você não está mais sozinho ao rodar com seu skate pelas ruas da cidade. Chegaram as rodas Narina Série Animal, em diversos tamanho e modelos. Trata-se do relançamento de uma linha clássica dos anos 80/90 da Narina, mas com a qualidade dos tempos atuais. Garanta a sua na loja de skate mais próxima e tenha bons rolês! (11) 9 9978 3159 / facebook.com/narinaskate

Pensando especialmente no conforto, praticidade e estilo dos skatistas, a Respect traz peças tradicionais do vestuário masculino underwear, adaptado ao universo do skate. Com fabricação própria e peças exclusivas feitas com muita dedicação, de skatista para skatista, a samba canção Respect reforça ainda mais o skate como um estilo de vida. Do tamanho P ao GG. (11) 9 8992 7216 / respectskateboard@gmail.com

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// spitfiRe e kROOked

A lixa é um acessório que revela o cuidado que o skatista tem com seu skate. Por isso uma galera sempre usa o que há de melhor quando o assunto é a parte de cima do carrinho. Ótima pedida para o verão que se aproxima, a Plimax acaba de receber um lote de lixas Spirfire e Krooked com desenhos diversificados e bem styles. (11) 3251 0633 / edgar@plimax.com

// tOy MacHiNe // HaHaHa

A partir de um anúncio colado em capas de revista, o carioca Ionir Mera criou uma carteira reciclável para a nova coleção da HAHAHA, dando um acabamento cuidadoso com plástico filme, sem esquecer do velcro pra deixar tudo bem guardado. (11) 3225 4206 / hahaha.art.br

Os shapes P2 foram desenvolvidos para melhorar a vida do skatista, e também seu pop. E na Plimax já tem a nova série de shapes ‘Amigo’ da Toy Machine, com tecnologia P2 e desenhos pro model de Collin Provost, Billy Marks, Johnny Layton e Leo Romero. (11) 3251 0633 / pira@plimax.com

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áudio //

querendo ou não você se conecta com o cara ali na hora de uma manobra, de uma remada, do que seja.

James Ventura

Natural por Natureza

Fones de ouVido a postos, skate Fritando no asFalto e no caminho pra rooseVelt cruzo por ruas e Vielas que são histórias ViVas da megalópole. o olhar atento ao moVimento dos carros, o pensamento Voando na Velocidade da luz e a rima de saudosa maloca Fazendo a ponte entre tanta coisa sem sentido. assim como no meu rolê, o por Ventura é um dos discos que está no player dos exigentes skatistas brasileiros, Fato que credencia seu autor a contar um pouco de seus raps nas páginas da tribo skate. com Vocês, leandro santos conceição, mais conhecido como James Ventura. //texto e Fotos Junior Lemos

Q

ual veio primeiro na vida do James: o rap ou o skate? Quando eu era moleque andei de skate primeiro, apesar que o rap foi natural pela vizinhança. Estavam sempre bombando dentro de casa, os amigos do meu irmão que faziam rap. Mas o skate foi um bagulho que eu aprendi com os moleques do break, na real. Veio aquela febre do skate por volta de 96, quando eu fui morar na Miguel Teles, lá no Cambuci. Saí do Glicério e fui pro Cambuci, que é um do lado do outro. Aí eu conheci o carrinho! Dá um rolê até hoje? Não tô andando agora porque meu braço tá zoado. Eu gosto de dar umas remadas sim; de vez em quando pego o skate emprestado de alguém e tal. Na real eu tô sem skate já faz uns dias, mas sempre que tá com a rapa você pega um emprestado pra pelo menos dar um ollie de quebrada, né? Qual a influência que sua área tem no seu rap? Isso pra mim foi até que mágico, porque, tipo, meu irmão era parceirão dos caras do Facção Central; acho que nem era esse o nome dos caras ainda.

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Isso era no Glicério. Em 94, quando mudei pro Cambuci, onde moro hoje, é uma vila e na rua tem um escadão cabreiro. Lembro que logo depois que cheguei lá Os Gêmeos começaram a fazer um painelzão cabreiro. Sempre tinha os moleques da Style Crew com papelão na rua, dançando break; foi natural acontecer tudo isso. Quando fui pra escola, já tinha os moleques do skate que falavam dos caras do bairro: Zikkzira, do Davi, um outro cara que não lembro direito o vulgo dele. Pra mim foi prato cheio, né mano? Quando eu englobei mesmo no rap, parti pro grafite, entrei nessa onda e fiz uma cota. Nisso fui colhendo informação de rua: dei um rolê de skate ali, fiz uma cota de grafite, colei uma pá de tempo com os b-boys e o melhor é que foi natural porque foi tudo ali no bairro. E assim vão surgindo outros moleques, o Cambuci é foda! Você lançou seu primeiro disco em 2012, mas está nessa há mais tempo. Conta pra gente qual foi a caminhada para colocá-lo na rua! A primeira vez que entrei no estúdio foi em 2001. O Reinaldo, que hoje em dia é do A286, tinha um grupo na quebrada que se chamava Dignos.


// áudio aí você procura daqui, procura de lá, lê um livro, descola um tema, enriquece o vocabulário. um pouco de livro, um pouco de música e muito de rua. Ele me chamou pra fazer um rap. Mas a primeira parada minha que saiu pra rua, acho que foi em 2006, foi a coletânea Raps de Verão Volume 2; o Paulo Napoli abriu esse espaço. E o bagulho que eu acho que deu uma projeção, o barato que as pessoas que trombo na rua me falam até hoje, foi a música que fiz no disco do Contra Fluxo. Essa música foi a que, tipo, todo mundo saca, conhece e tem gente que pensa que eu era até do grupo por causa disso. O som que deu a projetada mesmo foi A Rua Vai Cobrar. O Por Ventura, que citei na pergunta anterior, foi muito bem recebido pela galera do skate; está no meu player e no de muitos por aí. O que você acha da boa aceitação dessa rapaziada, que é bastante exigente? Então, os caras são cabreiros. A rapa do skate conhece rap pra caralho! O cara se aprofunda na ideia e a maioria é fã de Hiero, né mano? Você fala: “Que louco, os caras que gostam de Hiero curtem meu som também.” Tipo, a rapa do skate tá conhecendo o bagulho e gostando - pra mim é uma honra imensa, porque o skate é um bagulho muito de rua e é individual. É coletivo, porque você faz o rolê com a rapa, mas pra você ter seu rolê é individual. E pra fortalecer seu individual, você tá dando um rolê com o disco do mano, você tá concentrado numa fita. Fico feliz pra caralho com isso, pela música estar no rolê de um mano que está manobrando o skate, uma parada individual pra caralho e querendo ou não você se conecta com o cara ali na hora de uma manobra, de uma remada, do que seja. Vejo você direto nos picos em SP. Qual o rolê que você mais curte fazer na capital? Como eu sou downtown total, saio do Cambuci, emboco pelo Glicério, subo e estou na Praça da Sé. Trombo uma rapa no Vale; dá gosto de ver o Formiguinha manobrando. Passo na Galeria, dou um giro. Encosto da Roosevelt na sequência, fumaceira; é o que tem pela região central. Dali vou me locomovendo pra goma a pé mesmo, daí já era. É da hora esse rolê centralizado! Você se apresenta Brasil afora, rima direto nas baladas e acompanha o movimento. Como vê a cena atual de rap em SP e no Brasil! Acho que venho de uma transição. Esse bagulho, essa história é profundo! Escutei os baratos mais velhos, tipo Projeto Rap Brasil, aí fui escutando a 105 FM. Fodeu: quando conheci Wu Tang Clan, já comecei a ter outra visão. A cena atual, acho que a gente está partindo pra um barato que vai ter pra todo mundo. Tipo, o tema diluiu pra caralho. Tem cara que fala da ganja, tem cara que fala da mina. Mas se você seguir os ensinamentos, o Gran Master Flash já falou: “Se eu quiser posso fazer rap do meu cadarço e já era.” E o Brasil tá passando por isso, de estar chegando rap de tudo que é jeito. Estralou nas ruas. Não tem como, também; o povo não vive sem música e o bagulho vai invadir cada vez mais! O vocabulário é uma ferramenta importante para um rapper e é resultado da vivência que a pessoa teve, da escola onde estudou. Pelo jeito a sua formação foi bem rica de influências, porque seu dicinário é vasto. Busco usar o linguajar que falam, sendo meio chulo até; procuro falar como os moleques falam na rua. É louco dar um rolê no bairro, você aprende demais. Gosto de ler, também. Ultimamente estava pirando em umas paradas de ET. Li o Exilados da Capela, o Eram os Deuses Astronautas. E na música, me aprofundei em vários estilos, daí você aprende pra caralho também. Não escuto só rap! Você pega o linguajar do sambista velhão, eles falam o português correto. Tem uns que fala corretão. Você pega as paradas do próprio Lupicínio Rodrigues, Ataulfo Alves, os caras não falam na gíria. Aí eu pegava os discos do meu pai do Bezerra da Silva, você é louco? Mais malaco que esse daí, tá pra nascer. Aí você procura daqui, procura de lá, lê um livro, descola um tema, enriquece o vocabulário. Um pouco de livro, um pouco de música e muito de rua. Quais as novidades que a gente pode esperar do James. Vou fazer uma parada com o Formiga (Marcelo Formiguinha). É uma mú-

sica que ele já tinha dado esse salve. O Formiga é monstro demais! No ano que vem, em março, tá vindo um disco que vai se chamar ‘Jah Bless Ventura e os Samplers Jamaicanos’. São meus raps em batidas jamaicanas. Já no mês seis tem um projeto meu e do Sala 70; a gente tá mexendo em um arquivo meio perigoso, até porque é o trampo de um cara que já se foi. Estamos encabençando a ideia do ‘Ídolo Negro 3’, que vai ser a parada do terceiro disco do Evaldo Braga. Eu tô escrevendo há muito tempo; desde antes de lançar tenho rima mocada, que é pro meu disco que vai se chamar ‘Natural Por Natureza’. Venho com vários sons, tem umas participações, esse é o barato mais cuidadoso que lanço. Ano que vem vou vir daquele jeito: soltar três bagulhos na rua, duas mixtapes e o disco. Isso é James Ventura 2014, fora os projetos paralelos. Tem aí os meninos da Marreta Records, a gente tá reformulando o bagulho. Antes disso, esse mês ainda sai o clipe da música ‘Fogo’ e até dezembro o da música ‘Irmãos de Tinta’. E eu ainda solto uma música nova aí, no dia do lançamento do clipe ‘Fogo’. Aquele salve final. James Ventura, Marreta Records, deixando aquele salve bem salvado mesmo, em direção àqueles de rua de verdade. Em especial aos que têm amor pelo skate, como dizem os meninos do Enquanto Isso: é bem mais do que manobra, é um estilo de vida. É isso mesmo! Skate, esporte, vida, rap, música, amor no coração, paz pra todos, força. Marreta Records no ar! Links: Facebook.com/VenturaJam Soundcloud.com/jamesventura Twitter.com/jampretoventura Instagram.com/jampretoventura Bit.ly/PorVentura (download do disco) // Leandro santos ConCeição James Ventura 29 anos Apoio: Throw Up, XXL Coletivo Marreta Records

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manobra do bem // por sandro soares “testinha”*

Mais arte!

* Sandro Soares “Testinha” é o cabeça da ONG Manobra do Bem, em Poá, SP.

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Manobra do beM

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a minha humilde opinião - a de quem acompanha e se diverte com skate há 23 anos, a primeira ligação do carrinho com a arte foi observando o próprio ato de manobrar como uma forma de transmití-la com os pés, movimentando-se através de comandos dados com nosso próprio corpo e o transformando em ação, o que na visão de um leigo só seria possível se o skate estivesse colado nos pés. Mas como explicar as manobras de giro ou mesmo as que se pega o skate com as mãos, mais comuns hoje em dia no vertical? Depois disso veio a arte nos shapes de skate. Durava pouco, pois assim que o skate era montado, sumia nas manobras de bordas e corrimãos. Fora isso, tem a fotografia e os textos publicados em revistas de skate (no meu início com skate, internet era algo impensável), que eram como poesia e quadros raros, e no meu ver são manifestações artísticas de primeira qualidade. Já em nossa “era moderna”, a cultura dos vídeos de skate se tornou algo com um cunho artístico incrível. Somente para lembrar de uma parte de vídeo que evoca a arte, vem à memória a do Eric Koston no Mouse (1996), da marca Girl, dirigida pelo talentoso Spike Jonze, interpretando Charles Chaplin com grande maestria. Gostar dessa parte era fácil, o difícil era imaginar skatistas sendo influenciados por ela e experimentando a arte através de uma interpretação. A pedagoga Leila Vieira, do Social Skate Manobra do Bem, nunca foi uma assídua apreciadora de vídeos de skate, mas soube apresentar de forma excelente, junto com o coletivo “Retina no Olho”, o universo artístico contido no nosso estilo de vida para a criançada do projeto. Ela promoveu um sarau no espaço onde acontecem as atividades do Social Skate em Calmon Viana (Poá) e propôs para a criançada que cada um produzisse uma manifestação artística. Poderia ser através da música, poesia, interpretação ou qualquer outra manifestação artística. Confesso que achei difícil a criançada participar porque eles têm pouquíssimo contato com as artes aqui no extremo leste de SP. Fiz questão de não interferir nos planos e ensaios da criançada e deixar para ver a surpresa no dia do Sarau. E eis que, na data aguardada por todos, fui surpreendido por apresentações artísticas incríveis, levando em consideração o pouco tempo e recursos que o projeto tem à disposição. Quem não tinha uma apresentação na manga, teve duas opções: Ou ver a si próprio em uma das fotos expostas no evento, todas tiradas em Poá, ou aproveitar o intervalo entre uma apresentação e outra para mostrar a clássica arte do skate em formato de manobras, em um dos obstáculos montados no Sarau. Todos estão de parabéns, porém dois jovens, chamados Wender Torres e Gabriela Domiciano, foram além de minhas expectativas pois interpretaram o famoso Chaplin. A menina ousou mais ainda pois reproduziu justamente a cena do Koston

Wender Torres e sua atuação como Charles Chaplin.

no vídeo de skate, deixando boquiabertos a todos ali presentes e que conheciam o vídeo. Algumas vezes nessa longa estrada da vida - lutando para cada vez mais o skate ser utilizado como ferramenta de inclusão social, assumo que já me peguei pensando se seria somente eu a acreditar no poder transformador do skate, além de quando alguém se torna skatista profissional e etc. Porém, desde que a palavra social foi colocada aqui com a mesma importância e peso da palavra skate - ou seja, no Social Skate com a ajuda pedagógica da Leila - e observando os resultados de tudo que vem acontecendo aqui, chego à conclusão de que uma mudança séria, porém gradual, pode acontecer na vida dessa garotada. E depois dessa ação do sarau, cada vez que eu ouvir a frase de que o skate é arte, vou dizer em pensamento: - Claro que é! E põe arte nisso.

APOIO CULTURAL



skateboarding militant // por guto jimenez*

Mais respeito com o skate em ladeiras Guto Jimenez

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ão consigo entender o motivo de continuarem a tratar as modalidades de skate em ladeiras como se fossem os “primos pobres” do skate no Brasil. A causa principal é que a indústria fez a todos acreditarem, por longos 15 anos, que “ser skatista” era ser um garoto streeteiro entre 15 e 18 anos – como se eu e os amigos de minha geração, ou as mulheres skatistas, simplesmente não existíssemos. Havia uma tolerância com o vertical por causa dos programas de tevê, tanto que todas as revistas e sites tinham aquelas “fotos obrigatórias de vert”, como se fosse um sacrifício imenso publicar imagens da modalidade mais aérea do skate. Aos que ainda estão achando que esse é o cenário atual, um aviso: já passou da hora de vocês acordarem de sua longa hibernação. Isso deveria ser considerado um crime no Brasil, o país onde se pratica o nível mais alto de downhill slide, por exemplo. É como se fosse inválida a longa história escrita por nomes como Fernandinho Batman, Paulo Coruja, Flávio Ascânio, Billy Bonanata, Zequinha Rapanelli, Juliano Lilica e Sergio Yuppie – este último, nada menos que pentacampeão mundial da modalidade e reverenciado no mundo inteiro como “O Rei do Downhill Slide”. Ou, pior ainda, como se não se gastasse material praticando a modalidade... Não há modalidade que gaste mais rodas do que essa, isso só pra citar um exemplo, e poucos são os praticantes que voltam pras suas casas com seus tênis e equipamentos de proteção intactos. No speed, temos o atual campeão mundial da modalidade pela IGSA (principal entidade mundial da modalidade), Douglas Dalua, e o cenário conta com cada vez mais praticantes em todo o país. E não pense você que custa barato montar um skate eficiente pra se botar ladeira abaixo, muito pelo contrário: os decks podem ser feitos de materiais tão distintos como o conhecido maple até mesmo monocoques idênticos aos usados em snowboards; os eixos de precisão vieram pra ficar de vez, com ajustes milimétricos que fazem a diferença nos mais variados circuitos; as rodas existem em tantos tamanhos e durezas que quase causam dor de cabeça na hora de escolher; os rolamentos são especialmente projetados pra aturarem a alta temperatura e abrasão provocados pela velocidade, e até mesmo os amortecedores são feitos de compostos especiais. Juntando esse equipamento com capacetes especiais com viseiras, luvas com casquilhos e macacões de couro, chega-se fácil ao valor de R$ 3.000 (três mil reais) só pra começar a botar pra baixo nas ladeiras. Venhamos e convenhamos, isso é muito mais do que juntar os trocados da mesada ou do salário pra se conseguir trocar de deck... Esse fato por si só já seria o suficiente pra que o speed fosse melhor divulgado por aí. A Tribo Skate tem orgulhosamente uma história de apoiar e divulgar todas as modalidades, e foram nas páginas dessa revista que os skatistas leram as aventuras dos brazucas pioneiros em competições internacionais, como o já citado Lilica e mais Alexandre Maia, Rodrigo “Maloteiro” e André “Preto”. Nas tevês?! Só nas emissoras locais, eventualmente quando há eventos da modalidade. Os programas mais conhecidos de canais por assinatura pouco focam o speed, talvez por causa do fato de quase não haver aquela molezinha de “passagens + hospedagem + alimentação” tão comuns nos circuitos de street e vert. E o slalom então?! Pelo fato de não ser tão popular, quase sempre é retratado mais como uma espécie de “ação entre amigos” ao invés do respeito que a modalidade mais antiga do skate merece. Se o Thiago “Gardenal” Bacchi, ex-campeão mundial amador, dependesse da divulgação da mídia não especializada pra viver, já teria morrido de fome há muito tempo. Ah, contornar cones parece fácil demais pra você?! Então desafio a qualquer praticante de street ou vert pegar um skate de slalom e conseguir sequer chegar perto dos

Bruno “NoBru” Ribeiro não está nem aí pra mídia - o slalom é mais importante.

slalomzeiros mais veteranos – sim, porque se botar a geração mais nova, aí seria até covardia! Nem vou comentar a respeito de ainda tratarem o freeride como “surfe de asfalto”, de tão ridículo que isso parece nos dias atuais. Há pessoas de todas as idades que estão comprando skates simplesmente pra se divertir, e não estão nem aí pros tais códigos “da hora” de manobras, roupas da moda, tênis ou picos que ainda tentam estabelecer por aí. Muitas dessas pessoas estão indo pras ladeiras, curtindo e aprendendo sem pressão, e voltando pras suas casas com sorrisos nos lábios. A isso se dá o nome de “diversão”, aquele componente básico que todo skatista conhece de cor e que deveria fazer parte do cotidiano de todos nós, independente da modalidade que se pratica ou da idade que se tenha. Por tudo isso, e por muito mais motivos que não cabem no espaço dessa coluna, é preciso dizer uma coisa: “primos pobres do skate” é o cacete! Mais respeito com o skate em ladeiras no Brasil! Bote pra baixo rápido e entenda as modalidades, ou simplesmente cale-se e vá pra casa.

APOIO CULTURAL * Guto Jimenez está no planeta desde 1962, sobre o skate desde 1975.

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// shops! Elas mantêm a chama acesa O papel das skate shops não é apenas vender produtos. É oferecer um atendimento de qualidade, que satisfaça o cliente e alimente seu desejo de andar de skate, vestir-se bem, entender e viver esta cultura. Neste cenário, a informação é mais uma alavanca para o sucesso e é justamente aí que algumas lojas se sobressaem. Elas são pontos de convergência, investem no esporte e ajudam a construir a história do skate brasileiro. > Distrito FeDeral - Brasília Freestyle Skate Shop SDS Bloco “E”, loja 8, Conic Asa Sul (61) 3322-9990 > Minas Gerais - Contagem Skateboardhouse Shop Rua Tiradentes, 2136, Bairro Industrial (31) 3361-4029 - Juiz de Fora Hardback Rua Jarbas de Lery Santos, 1685, loja 2349, Centro (32) 3241-3347 Hardback Rua Marechal Deodoro, 444, loja 127, Centro (32) 3216-0687 - Poços de Caldas Giro Livre Skateshop Rua Santa Catarina, 79 - loja 02, Centro (35) 3721-3326

> Paraná - Curitiba THC Skate Shop Pça Rui Barbosa, s/n - loja 227 (41) 9933-2865

- Joinville Grind Skate Shop Rua São Francisco, 40, Centro (47) 3026-3840

- São José dos Campos Surf Track Av. José Munia, loja 195 - Piso 1, Jardim Redentor (17) 3355-0313

- Irati Skate Shop Irati Travessa Frei Jaime, 43, Centro (42) 3423-3989

> são PaUlo - Barra Bonita Office Street Rua Prudente de Morais, 852, Centro (14) 3641-0511

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> rio GranDe Do sUl - Porto Alegre Matriz (Total) Av. Cristovão Colombo, 545/1072,1073, Floresta (51) 3018-7072

- Birigui Root Skate Company Rua Bahia, 1183, Jardim São Braz (18) 99712-7258

Matriz (Walling) Av Assis Brasil, 2611 - loja 248, Cristo Redentor (51) 3026-6083 > santa Catarina - Criciúma Backdoor Skate Surf Rua Henrique Lage, 210, Centro (48) 3437-7988

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Wollong Rua Cajaiba, 1029, Pompeia (11) 2503-7212 - Santo André Ratus Skate Shop Rua Dona Elisa Flaquer, 286, Centro (11) 4990-5163 Mantenha você também a chama do skate brasileiro acesa, leve a Tribo Skate para sua loja! Envie-nos email triboskate@triboskate.com.br

www.triboskate.com.br www. Vá passear com seu ratinho.

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*especial Do Rio skate VíDeo Capítulo I/VersíCulo I peDRo HenRique ‘nem’ é um Dos que estaRão na pRimeiRa eDição Do Do Rio, VíDeo De nosso colaboRaDoR e skatista caRioca peDRo maceDo. a pRoDução seRá lançaDa no começo De 2014 e nós acenDemos o estopim, aqui na JpG + moV, Dessa bomba que Vem poR aí. toma! Pedro Nem, feeble em Volta redoNda/rJ.

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