Tribo Skate Edição 202

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skateboarding militant // por guto jimenez*

A

história das pistas de skate no Rio de Janeiro tem uma característica bastante peculiar: a cada período de anos, surgem diversos locais pra se dar um rolê ao redor da cidade. Como se fossem vinhos raros e finos, as pistas de skate cariocas demoram pra aparecer no cenário, mas sempre o fazem com destaque. Também como os vinhos, há diversos sabores e tipos de pistas pra agradar a todos os gostos. Isso vem desde o final dos anos 70, quando as pioneiras pistas de Nova Iguaçu, Jacarepaguá e Campo Grande foram construídas. Havia também o bowl do condomínio Barramares (já demolido), que junto com as outras forjou uma geração vencedora de skatistas de vert cariocas. Alguns nomes legendários do skate brazuca, como Marcelo Neiva e Jorge Luiz de Souza “Tatu”, surgiram nessa época e influenciaram toda uma geração de skatistas e competidores, tanto locais quanto ao redor do Brasil. Os anos 80 não foram tão pródigos assim em termos de construção de novas pistas, fruto talvez da decadência econômica que levou a cidade a decretar falência em suas contas públicas. Mesmo assim, rampas de madeira pipocaram pela cidade: na pracinha da Urca, numa pracinha escondida no Jardim Botânico, num quintal de casa em Bangu e a melhor delas ficou por um bom tempo servindo aos skatistas no Estádio de Remo da Lagoa, veja você... Uma marca de refrigerantes construiu uma rampa de madeira que primeiro ficou no estacionamento do shopping Rio Sul e depois ficou por um bom período na área do Circo Voador. Em 1991, surgiu a ASR (Associação de Skate do Rio), que conquistou duas joias pro cenário local e nacional: os bowls do Arpoador e do Rio Sul – esse último considerado pela Thrasher como “a pista de skate mais perfeita já construída pelo homem”. Minis pipocaram ao redor da cidade: no quadrado da Urca, na Lauro Müller, no Méier, em Sulacap... Nessa época, rolavam circuitos que fizeram despontar nomes como Alessandro Ramos, Léo Lopes, Felipe Vilhena e Pedro Slivak, entre outros. A cada quatro anos, pistas apareceram sempre em anos de eleições e as melhores foram o banks da Lagoa e a pista versátil da Praia do Cocotá. Alguns anos de ostracismo em termos de surgimento de pistas fizeram com que os cenários carioca e fluminense se destacassem por revelar talentos inegáveis que, por força da falta de competições e estrutura locais, tiveram de morar noutros lugares pra terem direito ao seu lugar ao sol. Caras como o já citado Alessandro Ramos, mais Allan Mesquita, Marcello Gouvêa e Emanoel Enxaqueca, literalmente “quebravam tudo” nas com-

René JunioR

Rio de Janeiro: Skate maneiro

O Parque Madureira representa uma nova era pro skate do Rio. Ed Scander, fs carving.

petições amadoras e foram morar noutras cidades em busca do reconhecimento e das oportunidades que o cenário local já não os concedia. Hoje em dia, uma nova página na história das pistas de skate no Rio de Janeiro está sendo escrita e tem o potencial de transformar a história do skate na Cidade Maravilhosa. A pista de skate Jorge Luiz de Souza “Tatu” não é somente a grande atração do Parque Madureira: é simplesmente a melhor pista de skate já construída na cidade. O projeto de Sylvio Azevedo e Bruno Mello, que contou com o auxílio luxuoso de Fernando Frewka e Geth Noble na sua construção, abre uma nova perspectiva pro cenário de skate no Rio. Fruto de uma parceria entre a USR (União Skate Rio) e a Prefeitura, é o primeiro de uma série de projetos que já reformou o Banks da Lagoa e construiu uma área de street onde era uma quadra de tênis abandonada. E não vai ficar só nisso: o próprio Parque Madureira receberá outra pista em breve. A cidade ainda terá o Parque Radical da Lagoa, e até a área do estádio João Havelange – o “Engenhão” – terá nada menos do que duas pistas acessíveis a skatistas de várias modalidades. Junte a isso as ladeiras no alto da cidade, como as Paineiras, a Vista Chinesa e o Sumaré, encravadas em plena Mata Atlântica; o provável reconhecimento da Praça XV como local de prática do skate, numa área onde streeteiros de todos os lugares se reúnem pra aperfeiçoar suas manobras; e a eminente reforma do bowl do Rio Sul... O resultado é um só: o Rio voltará em breve a ter o seu lugar de destaque no cenário nacional. É só aguardar, ver e vir pra cidade dar seu rolê nesses inúmeros picos que temos por aqui. Afinal de contas, quem é daqui já sabe: Rio de Janeiro = skate maneiro!

APOIO CULTURAL * Guto Jimenez está no planeta desde 1962, sobre o skate desde 1975.

98 | TRIBO SKATE agosto/2012


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