Tribo Skate #254

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COLUNA G U TO J IMEN E Z

SK ATE BOA RD I NG M I LI TANT

UM BRAZUCA EM MÜNSTER Essa época de meio do ano marca uma data bem expressiva

Cheguei à página das presenças internacionais confirmadas, os

na minha vida: há 30 anos, me tornei o primeiro brasileiro a

nomes de quase todos os pros de vert e freestyle estavam lá,

competir no Münster Monster Mastership, o chamado “Mundial

assim como alguns de street, vindos dos EUA, Canadá, Alemanha,

da Alemanha”. Logo no primeiro ano que o evento adquiriu um

Dinamarca, França, Inglaterra, Bélgica, Espanha, Portugal, Itália,

caráter mundial, esse brazuca aqui se infiltrou no evento que se

Suécia, Japão, Austrália... E qual o nome eu vejo no canto inferior

transformaria no maior campeonato do mundo até meados da

direito, ao lado de “Brasilien / Brazil”? Sim, o meu nome, ou “Guito

década de 90. Como tudo o que acontecia no cenário de skate

Jimenez” como eles haviam escrito. Eu gelei e pensei, “PQP! Qual

daquela época, um mínimo de planejamento e um bocado de

parte do amador esforçado que o cara não entendeu?”, fiquei

sorte se aliaram pra que a história tivesse um final feliz.

com tanta vergonha de desmentir os caras que até me inscrevi no

No início daquele longínquo 1987, eu havia lido na Thrasher que o então campeonato europeu de skate se transformaria numa

profissional. Devo ter sido o único a ter “virado pro” numa fila! A competição em si foi muito bem organizada, como era de

disputa de alcance mundial e que várias equipes dos EUA (Powell,

se esperar em qualquer coisa que tenha a ver com os alemães.

Vision, Santa Cruz) enviariam seus skatistas pra disputa. Tinha

Terminei em 14º lugar no street pro entre pouco mais de 40

um endereço da Titus Skates, uma skateshop e distribuidora

competidores, entre eles Caballero, Gonz, Lance, Rob Roskopp, Nicky Guerrero, Claus Grabke e Per Welinder, pra citar apenas alguns. Além disso, fui o criador da famosa “feirinha de Münster”:

DOIS ANOS DEPOIS, EM 1995, A MESMA MÜNSTER SERIA TESTEMUNHA DO TALENTO DE LINCOLN UEDA

pra conseguir vender o material da No Limits, que levara comigo pra tentar repassar pro Titus, fiz um cartaz no melhor estilo “homem sanduíche” do Centro do Rio e saí vendendo tudo pro público. Não só levantei a verba da firma como também ainda fiz uma grana que me permitiu ficar mais duas semanas na Europa. Sem querer, fiz história duas vezes! Dois anos depois, a mesma Münster seria testemunha do talento de Lincoln Ueda, que levou o terceiro lugar do vertical pro; em 1995, via o Digo Menezes se transformar no primeiro brazuca a ganhar um campeonato mundial de skate em todos os tempos.

de material de skate e surfe na Alemanha, e eu escrevi pra

O skate do Brasil estava sendo inscrito definitivamente na história

eles – era assim que se fazia na época, dizendo que eu era um

mundial do carrinho, numa caminhada que já nos trouxe mais de

amador esforçado que escrevia pra Yeah!, que gostaria de mais

50 campeões mundiais em várias modalidades desde então.

informações e mandei uma revista pra eles. Como eu trabalhava

Sinto muito orgulho de ser uma espécie de portador de uma

numa empresa aérea, a passagem gratuita não seria problema,

das primeiras chaves a abrir portas pra skatistas brasileiros no

bastava eu me planejar com alguma antecedência. Pouco tempo

exterior. Assim como Marcelo Neiva e Osmar Fossa em 1979, ou a

depois, recebo a resposta com um flyer e uma ficha de inscrição

delegação brazuca no Trans World Championships do Canadá em

junto da carta, a qual enviei preenchida de volta pra eu competir

86, levei o skate do Brasil a algum lugar inédito e ainda me diverti

no amador. Tava tudo certo: Alemanha, aí vou eu!

muito no caminho. Isso sim é melhor do que qualquer evento,

Poucos meses depois, lá estava eu na fila do lado externo

viagem ou memória!

do Eissporthalle de Münster pra confirmar a minha inscrição no campeonato e peguei uma programação do evento pra dar uma olhada; tinha propagandas de refrigerante e de empresa de aluguel de carros, eu pensei ironicamente “igualzinho ao Brasil”.

GUTO JIMENEZ: Carioca que está no Planeta Terra desde 1962 e sobre o skate desde 1975

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