Piora a qualidade

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ANO XXV NÚMERO 286 OUTUBRO 2019

a

Piora qualidade

23ª Pesquisa CNT de Rodovias identifica agravamento das condições de todas as características avaliadas; quantidade de pontos críticos aumenta 75,6%



O brasileiro trabalha, produz e se encontra. Cuida da família, administra a rotina, cumpre seus compromissos. E quer chegar longe. Por isso, faz do presente a batalha diária para alcançar o que deseja. Quando tudo isso acontece, uma coisa é certa: tem o movimento do transporte. O transporte move a indústria, o agronegócio, o comércio. O transporte move o futuro. O transporte move a vida.


REPORTAGEM DE CAPA

­­­­T R A N S P O R T E A T U A L

Em sua 23ª edição, a Pesquisa CNT de Rodovias avaliou mais de 108 mil quilômetros em todo o Brasil e constatou: o país precisa direcionar recursos para a infraestrutura se quiser evitar desperdícios e aumentar a segurança.

ANO XXV | NÚMERO 286 | OUTUBRO 2019

PÁGINA 18

ENTREVISTA • É preciso pensar o futuro, diz o especialista em inovação Gil Giardelli página

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MERCADO

Fenatran 2019 mostra que o setor de pesados está aquecido página

28 FERROVIÁRIO

Green bonds poderão ser alternativa para financiar novos projetos página 36

EDIÇÃO INFORMATIVA DA CNT CONSELHO EDITORIAL Bruno Batista João Victor Mendes Myriam Caetano Nicole Goulart Valter Souza edição

Gustavo T. Falleiros - MTB 3792/DF Livia Cerezoli - MTB 42700/SP Natália Pianegonda - MTB 14695/RS diagramação

FALE COM A REDAÇÃO (61) 3315-7000 SAUS, Quadra 1 - Bloco J - entradas 10 e 20 Edifício Clésio Andrade • 10º andar CEP: 70070-010 • Brasília (DF) esta revista pode ser acessada via internet:

www.cnt.org.br | www.sestsenat.org.br atualização de endereço: atualizacao@cnt.org.br

Gueldon Brito Publicação da CNT (Confederação Nacional do Transporte), registrada no Cartório do

revisão

Filipe Linhares

1º Ofício de Registro Civil das Pessoas Jurídicas do Distrito Federal sob o número 053.

RODOVIÁRIO

Comércio eletrônico cresce e aumenta faturamento no transporte

Tiragem: 60 mil exemplares

Os conceitos emitidos nos artigos assinados não refletem necessariamente a opinião da CNT Transporte Atual

página

40


AQUAVIÁRIO

Seminário internacional discute entraves do modal hidroviário página

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AÉREO

O movimento do transporte você segue

aqui

Preço do QAV continua sendo uma questão para a aviação civil página

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facebook

INFRAESTRUTURA

SEST SENAT

CNT defende investir em infraestrutura para fortalecer PIB do país

Fortaleza (CE) conquista quarto título na Copa de Futebol 7 Society

página

54

GESTÃO

Encontro de lideranças fortalece estratégia de atuação do SEST SENAT página

página

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Novas unidades no Rio Grande do Norte e no Espirito Santo página

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Editorial

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Mais Transporte

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Tema do mês

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CIT

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Alexandre Garcia

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agenciacnt instagram

agenciacnt

68 youtube

ITL

Duke

twitter

EXPANSÃO

64

Seções

cntbrasil

Case de capacitação de gestores é destaque na 17ª Santos Export página

transportecnt

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www.cnt.org.br


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CNT TRANSPORTE ATUAL

Duke

OUTUBRO 2019


CNT TRANSPORTE ATUAL

OUTUBRO 2019

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“O Brasil não crescerá a taxas desejáveis sem infraestrutura de transporte, e a única solução, no curto prazo, são as rodovias”

VANDER COSTA

EDITORIAL

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Sem infraestrutura, não há desenvolvimento

ublicamos, em outubro, a 23ª edição da Pesquisa CNT de Rodovias. Os resultados não são bons e confirmaram o que vinha sendo percebido pelos transportadores: as nossas rodovias estão se deteriorando; o nosso patrimônio, construído com os recursos dos contribuintes, está indo pelo ralo, ou melhor, pelas valas das estradas. O Estado brasileiro não tem recursos para manter ou investir em novas rodovias, indispensáveis ao crescimento sustentável do país. Mas o Brasil não crescerá a taxas desejáveis sem infraestrutura de transporte; e a única solução, no curto prazo, são as rodovias – afinal, no caso de uma ferrovia, por exemplo, ao menos uma década de obras é necessária até que, por ela, circule a primeira composição carregada. O trabalho mostra piora em todas as variáveis pesquisadas pela Confederação, reflexo da falta de verbas para o Ministério da Infraestrutura. E o futuro não inspira otimismo, já que o orçamento projetado para o ano que vem indica que teremos ainda menos recursos. Assim, se não houver rápida evolução nas concessões, veremos mais uma vez a deterioração da nossa infraestrutura. Este momento exige da CNT muita atenção e trabalho a fim de que possamos contribuir para a formulação de novos editais que garantam segurança jurídica e que assegurem a atração do capital privado. É essencial evitar que se repitam erros cometidos em licitações passadas: falhas que fizeram com que nossa pesquisa detectasse piora até mesmo em algumas rodovias concedidas. Em outras palavras, em alguns casos estamos pagando pedágio para trafegarmos em situações precárias. Destacamos que a análise aprofundada dos dados da pesquisa demonstra que o agravamento

das condições em trechos concedidos ocorreu naquelas leiloadas no governo da ex-presidente Dilma Rousseff. Por isso, é relevante uma atuação que contribua para novas concessões sólidas e sustentáveis. A CNT defende a concessão sem outorgas, pois elas impactam o valor do pedágio, o que aumenta custo do transporte – e, consequentemente, o Custo Brasil. Tudo isso vai contra a política liberalizante adotada pelo presidente Jair Bolsonaro. Alternativamente, se o modelo vier com outorgas, sustentamos que os valores sejam obrigatoriamente destinados a investimentos em infraestrutura. Outro ponto importante é a cobrança de tarifas para todos os usuários, por meio de rodovias fechadas, com cobrança por quilometragem percorrida, inclusive em grandes centros urbanos. Isso porque a política atual afasta as praças de pedágio dos grandes centros, fazendo com que poucos paguem pelo uso de muitos. A mudança do modelo ainda fará com que mais rodovias sejam economicamente viáveis, acelerando as concessões e a melhoria da infraestrutura, promovendo o crescimento econômico. Já os editais, quando possível, devem ter trechos fracionados para permitir a empresas regionais e de médio porte a possibilidade de competirem e executarem obras com segurança e eficiência. A Pesquisa CNT de Rodovias está disponível, também, em formato digital. É possível explorar dados detalhados e específicos por regiões, estados ou rodovias. Os principais destaques são apresentados na reportagem de capa desta edição. A revista ainda traz reportagens sobre todos os modais. Vale a pena dedicar um tempo a ela. Boa leitura!


ENTREVISTA

GIL GIARDELLI ESTUDIOSO DE INOVAÇÃO E ECONOMIA DIGITAL

Inovação no dia a dia

corporativo por

T

RENATA RAMALHO

ema recorrente no mundo corporativo, a inovação foi, por muito tempo, condicionada a altos investimentos financeiros, especialmente na área da tecnologia. Ledo engano. Felizmente, as transformações do mundo contemporâneo e a velocidade frenética em que elas acontecem impuseram o amadurecimento de ideias, atitudes e estratégias, subsídios para estudos que revelaram serem as pessoas os principais motores da inovação. Professor convidado de universidades como Stanford University, Imperial College London e MIT, Gil Giardelli já

FOTOS / ARQUIVO SISTEMA CNT

percorreu uma longa estrada estudando a cultura digital no Brasil e no mundo afora. Com 20 anos de experiência em inovação e economia digital, ele tem propriedade para afirmar de forma categórica: “Os modelos de gestão, de liderança e de qualidade do passado já não cabem mais neste século 21. É preciso se reinventar, e o primeiro passo é entender que as empresas inovadoras são, em média, 30% mais lucrativas”. Propagador de conceitos e atividades ligadas à sociedade em rede, à colaboração humana e à economia criativa, o educador difunde ideias inovadoras e o empreendedoris-

mo social. Foi o que ele fez, em Brasília, como palestrante do 2º Encontro Nacional de Lideranças do SEST SENAT, realizado em outubro (leia a matéria nas páginas 64 a 67). Nesta entrevista, Gil Giardelli traça um panorama geral sobre o mundo corporativo no Brasil e ainda dá dicas sobre como as empresas podem iniciar práticas inovadoras em seu dia a dia. Uma delas é inserir, na agenda da corporação, o debate de novas ideias (e estar aberto a elas), envolvendo toda a cadeia produtiva. Outra é deixar de lado o imediatismo, que, segundo ele, “não traz a gestão da prosperidade”.


As transformações no mundo contemporâneo impõem mudanças de conduta e já são tratadas por especialistas como a quarta revolução industrial. A sociedade em rede, uma característica do mundo globalizado, impôs alterações de comportamento tanto no viés social quanto econômico. Em que medida isso afeta o mundo dos negócios? Quase tudo o que vemos hoje, no mundo dos negócios, foram conceitos criados a partir da Segunda Guerra Mundial, mais especificamente em Bretton Woods (sistema de gerenciamento econômico mundial, que, em 1944, estabeleceu regras para as relações comerciais e financeiras entre os países mais industrializados do mundo). Dito isso, todos os modelos de gestão, de liderança e de qualidade já não cabem mais neste século 21, fazendo com que a sociedade, hoje completamente diferente da do passado, tenha que se reinventar. Sempre houve mudança, mas

“É preciso entender que as empresas inovadoras são, em média, 30% mais lucrativas. não na velocidade atualmente vista. Tanta mudança acontecendo simultaneamente acabou trazendo uma nova forma de trabalhar, de criar empresas e de se relacionar. De modo geral, as empresas já entenderam que, para serem sustentáveis, eficientes e competitivas, é preciso apostar na inovação constante. Mas, entre compreender a importância e, de fato, inovar, há um grande caminho. Como vencer esse desafio? Em primeiro lugar, é preciso entender que as empresas inovadoras são, em média, 30% mais lucrativas. Estamos vivendo em um mundo em que a inovação precisa ser constante, e não estar fechada a um único grupo dentro

das empresas. Deve envolver toda a cadeia produtiva. A inovação vem do debate das ideias. Em empresas inovadoras, ela alcança desde o presidente até os colaboradores que estão na linha de frente. E não importa o tamanho da empresa, se é gigante ou se é formada por apenas uma pessoa. A questão é que estamos vivendo o “ai, meu Deus. Isso é para ontem”. Pensar só no presente impede a gestão da inovação. É preciso pensar no futuro. Do que os empresários precisam para apostar na inovação? A princípio, deve-se ter o pensamento de médio e longo prazos. Hoje, o que prevalece é o pensamento do imediatismo, que não traz a gestão da pros-

peridade. A inovação é um processo que você tem que fazer todo o dia, que vem da sua agenda. Durante muito tempo, acreditou-se que, para inovar, era preciso investir somente em tecnologia, em máquina e em equipamentos. Mas ficou claro que esse não é o grande ponto. E qual é o grande ponto? O mais complexo é a mudança da cultura. Hoje, a maioria das empresas vive a cultura de não incentivar a inovação — ou as pessoas acreditam que já sabem sobre inovação, ou que ela é um bicho de sete cabeças. E, muitas vezes, a inovação está em um pequeno detalhe, uma pequena mudança. Então, a mudança de cultura é a coisa mais importante. Inovar é caro? Como os pequenos negócios podem acompanhar essa transformação? Para as grandes empresas, é mais difícil inovar do que para as pequenas, mas existem ferramentas gratuitas


que podem ajudar. Para as empresas pequenas, use essas ferramentas de pensamento coletivo. Por exemplo, convide uma pessoa de sua confiança para te ajudar a pensar em um novo processo. As pessoas estão dispostas a ajudar. Se a inovação é cara? Sim, porque ela custa a coisa mais cara para o ser humano; o tempo das pessoas. Ou seja, as empresas precisam investir tempo e ter resiliência. Há quem diga que o Brasil é um país criativo, mas não inovador. Concorda com essa afirmação? Concordo em parte. Somos um dos países mais criativos, e temos profissionais no mundo inteiro em cargos que exigem criatividade. Se olharmos as indústrias, sempre elas têm algo inovador. Então, estamos fazendo muita coisa inovadora, sim. Mas o que falta é criarmos um ecossistema de inovação (fatores que estimulam a interação e a cooperação; parques tecnológicos; incubadoras e associações são exemplos desses ecossistemas). O que falta é confiança na academia e na

iniciativa privada e a iniciativa privada confiar na academia. Faltam políticas públicas bem-feitas. Os empresários, os educadores e os estudantes já estão inovando. Até o governo está inovando. Mas é preciso criar um projeto de nação inovadora. E qual seria esse projeto? Essa é a grande pergunta. Há muitas oportunidades no Brasil, país continental que pode ter várias áreas de inovação funcionando. Temos a Amazônia, que está na fronteira da biogenética. Temos o turismo, que pode ser muito explorado, e áreas da tecnologia da informação. Está na hora de mostrarmos o nosso valor. Como educador, acredita que a cultura da inovação precisa fazer parte da educação básica das crianças? Já está comprovado que a máquina mais inteligente do mundo e da sociedade é o cérebro das crianças. Quanto mais se estimular, mais cedo elas estarão perceptíveis à criatividade, à inovação e a todo este novo mundo que está se

“É preciso criar um projeto de nação inovadora”

abrindo para nós. Toda a educação que tivemos, com aula cronometrada e espaço concreto em que todos têm que olhar para um único educador, já não existe mais. É preciso dar mais liberdade para que as crianças pintem mais, andem mais descalças, criem mundos diferentes e entendam a importância da miscigenação do Brasil. E elas precisam entender isso desde cedo. No ambiente corporativo, como estimular, de forma prática, a criatividade dos líderes e dos demais profissionais? A diretoria da sua empresa é composta apenas por pessoas do mesmo sexo e que pensam o mundo da mesma maneira? Nas gerências, é permitido que trabalhem pessoas que enxerguem o mundo de forma diferente? Há um equilíbrio entre jovens de cabelos brancos (profissionais mais maduros) e jovens de 25 a 35 anos? Se todos os gerentes e diretores são do mesmo sexo e pensam o mundo de forma muito parecida, será muito difícil fazer inovação. Esse é um ponto que merece reflexão. É importante entender que os valores devem ser os mesmos, mas enxergar o mundo de forma diferente é importante para uma empresa ser inovadora.

Então, significa estar aberto a novos perfis e pensamentos? Exatamente. Com a ética no centro de tudo isso. É não mais colocar as pessoas dentro de uma caixinha. É ter profissionais diferentes, pensando juntos e respeitando as diferenças. Um caso prático: empresas que demitiram seus profissionais mais experientes para colocar apenas jovens, achando que a inovação é feita apenas por profissionais jovens. Isso é um grande erro, porque a inovação acontece no encontro de gerações. É importante se mover rápido, mas com sabedoria. Você é um difusor de conceitos e atividades relacionadas à inovação digital, à colaboração humana e à economia criativa. Poderia explicar cada uma dessas linhas de atuação e como elas devem ser encaradas pelas empresas neste mundo em constante transformação? A inovação digital já evoluiu. A gente vive em um mundo fisital, que uniu o físico e o digital, uma vida dentro da outra. As barreiras digitais já não cabem mais. Hoje, não importa qual o seu serviço. Na área de transporte, pode existir um belíssimo caminhão, com excelente manutenção, mas, se não houver um bom aplicativo para acompanhar a logística, o cliente não


vai ficar satisfeito. Sobre a colaboração humana, parafraseando um estudo de alta gestão que vem lá de fora, “nenhum de nós é tão inteligente quanto todos nós juntos”. Durante muito tempo, acreditou-se que as soluções viriam de indivíduos como o professor Pardal, que ficava solitário em seu laboratório. E, hoje, nós entendemos que existe a inovação dos comuns, feita por meio da observação das pessoas que vivem naquela empresa, naquela comunidade, naquela cidade. Chegamos à situação em que o mundo precisa ser bom para todos. Se não for bom para todos, não será bom para ninguém. A economia criativa ganhou muita força desde o final da Terceira Revolução Industrial, que precisava de muita força física e indústria pesada. Antes, a economia pedia músculos, agora pede cérebro. É a inovação dos comuns. As indústrias continuarão a existir, mas elas vão precisar de cientistas de dados. Em tempos de inteligência artificial, precisamos do melhor das máquinas, cujo poder é libertar as pessoas de empregos chatos e repetitivos. Como esses conceitos podem ser aplicados no setor de transporte? As empresas de transporte estão pensando em outros

tipos de modais, por exemplo? Muitos anos atrás, uma empresa da indústria automobilística prospectou que, no futuro, haveria locais em que as pessoas, em vez de usarem somente carros, também usariam patinetes. Quando isso foi dito, acharam que era uma grande piada. Mas, hoje, vemos que essa empresa estava certa. Nenhum tipo de modal vai acabar, mas já está muito claro que serão usados outros tipos de transporte para além de caminhões. Então, é possível vislumbrar uma nova era e criar novos formatos e novos meios de transporte. No futuro, poderá

ser possível trabalhar, também, com drones e trens rápidos. Enfim, é uma área onde tudo vai estar integrado. É possível definir um passo a passo para que as empresas tenham uma gestão inovadora? Não gosto de passo a passo, nem de receita pronta, porque cada um tem uma forma de fazer. Mas uma dica é: pare para fazer uma reunião sobre inovação uma vez por semana ou quinzenalmente. Entre de cabeça aberta para receber novas ideias de coisas que as pessoas viram e podem

acrescentar ao negócio da empresa. Esse deve ser um debate divertido, com biscoitos e café. Ali, todo mundo deve estar aberto e não ter medo de ver o novo, não colocar o novo debaixo do tapete. Na maioria dos casos, a reunião costuma ser caótica na primeira semana. Na segunda, normalmente, as pessoas faltam. Depois, vem o caos criativo e aí a agenda vai se organizando. O problema é que as empresas não conseguem encontrar uma hora para debater. Então, este é o primeiro ponto: planejar a reunião da inovação. l


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CNT TRANSPORTE ATUAL

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MAIS TRANSPORTE CNT divulga vencedores do 26º Prêmio de Jornalismo O 26º Prêmio CNT de Jornalismo já tem os vencedores de 2019. Na 26ª edição, o Grande Prêmio é do jornalista Guilherme Ramalho de Melo, da GloboNews, com a série de reportagens “GloboNews em Movimento”. O trabalho aborda o futuro do transporte e a mobilidade sustentável, com foco em soluções para tornar as cidades mais inclusivas e sustentáveis. Essa premiação máxima, no valor de R$ 60 mil, é oferecida à reportagem que recebe a melhor nota geral do corpo de jurados. Os vencedores das outras categorias recebem R$ 35 mil cada um. São eles: Cid Martins, da Rádio Gaúcha, com a reportagem “Maio Amarelo - Quatro em cada dez crianças vítimas de acidentes de trânsito em Porto Alegre foram atropeladas” (categoria Rádio); Renato Ferezim, da TV Globo, “Descaminhos do Brasil” (categoria Televisão); Guilherme Paranaíba, do Estado de Minas, “Para onde vamos - Mobilidade x Modernidade” (categoria Impresso); Saulo Araújo da Silva, do Portal Metrópoles, “Carrosfortes, homens indefesos” (categoria Internet); Igo Estrela Caseiro, do Portal Metrópoles, “Carros-fortes, homens indefesos” (categoria Fotografia); Leonardo Cavalcanti, do Correio Braziliense, “O esquecido caminho das águas” (categoria Meio Ambiente e Transporte). O Prêmio CNT de Jornalismo valoriza matérias e fotografias que contribuem

para o desenvolvimento do setor de transporte de cargas e de passageiros. Neste ano, 272 trabalhos foram inscritos. Na avaliação, são considerados aspectos como relevância para o setor de transporte, para o transportador e para a sociedade; qualidade editorial; criatividade/originalidade; e atualidade dos temas.

Neste ano, o corpo de jurados foi formado por André Luiz Costa, diretor-geral de Mídias Digitais do Grupo Bandeirantes; Alexandre Calais, editor de economia do jornal O Estado de São Paulo; Eduardo Costa, jornalista apresentador da Rádio Itatiaia e da TV Record; Lilian Tahan, diretora-executiva do Portal Metrópoles; e Amir Mattar Valente, professor titular da Universidade Federal de Santa Catarina e coordenador-geral do Labtrans (Laboratório de Transporte e Logística) da universidade. De acordo com o presidente da CNT, Vander Costa, “o prêmio, ao longo dos seus 26 anos, tem estimulado o crescimento do setor de transporte e valorizado o bom jornalismo”. A entrega da premiação será no dia 4 de dezembro, durante cerimônia que será realizada em Brasília (DF).


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Produtividade portuária

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DIVULGAÇÃO | CODEBA

A Codeba (Companhia Docas do Estado da Bahia) implantou, em fase-piloto, uma medida operacional para aumentar a produtividade portuária. Embarcações podem antecipar a descarga de granéis sólidos minerais no Porto de Aratu, mediante o cumprimento de uma série de requisitos. É necessário, por exemplo, informar a autoridade portuária 15 dias antes da chegada da embarcação; comprometer-se a produzir 6 mil toneladas por dia; descarregar até 50% do volume total do navio e comprovar que o próximo porto a atracar é um porto nacional. Após 180 dias de testes, a Codeba avaliará as operações para decidir se a medida se tornará permanente. Mas a expectativa é positiva, e as projeções indicam um aumento da produção e impactos positivos na cadeia logística, como redução de despesas para importadores, do custo de frete e do tempo de espera para atracação.

Seguro por minutos

As seguradoras brasileiras já podem oferecer apólices com prazos customizados para as necessidades de cada cliente. Isso porque a Susep (Superintendência de Seguros Privados) publicou um normativo que derruba a obrigatoriedade da vigência anual. Dessa forma, passa a ser possível contratar seguros por meses, dias, horas ou minutos e, até mesmo, intermitentes. Nesse último caso, o seguro leva em conta critérios de interrupção e recomeço da validade da apólice, bem como a inclusão ou a exclusão de riscos.


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MAIS TRANSPORTE DIVULGAÇÃO | BUGATTI

Quase 500 km por hora

O dia 2 de setembro de 2019 vai entrar para a história como a primeira vez que um veículo de rua se aproximou dos 500 km/h. A façanha coube a um Bugatti Chiron e aconteceu na pista de testes da Volkswagen, na Alemanha. Para alcançar a velocidade, o carro teve um aumento de 25 centímetros em seu comprimento, o que trouxe efeito aerodinâmico e reduziu a pressão do ar. No ponto de maior velocidade, o Chiron alcançou 490,48 km/h. O recorde antigo pertencia ao hiperesportivo Agera RS, que, em 2017, havia atingido 457,49 km/h. DIVULGAÇÃO | MELHORES DESTINOS

Primeiro voo

A Azul realizou o primeiro voo do mundo com passageiros no Embraer E195-E2, o maior avião comercial já fabricado no Brasil. A aeronave faz parte da segunda geração dos jatos comerciais da Embraer. A rota escolhida foi entre o aeroporto de Viracopos, em Campinas (SP), e Brasília (DF). O modelo tem capacidade para até 146 passageiros. A Azul, no entanto, utiliza o avião com dez assentos a menos de sua capacidade máxima por conta das primeiras fileiras, que tem mais espaço.

DIVULGAÇÃO | PORSHE

Primeiro elétrico da Porsche

A Porsche apresentou seu primeiro carro elétrico: o Taycan. Com mais de 600 cavalos de potência, a máquina vai de 0 a 100 km/h em apenas 3,5 segundos. A velocidade máxima passa dos 250 km/h, e a autonomia pode ultrapassar os 500 km. Para carregar as baterias, o sistema do Taycan alcança 80% em cerca de 15 minutos.


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Fim de taxa adicional para voos internacionais

O governo federal quer extinguir a taxa adicional na tarifa de embarque de voos internacionais, no valor de US$ 18 (cerca de R$ 72). Essa é parte de uma série de medidas que busca fomentar o turismo no Brasil e incentivar voos internacionais por companhias de baixo custo (low cost). Criada por meio de portaria em 1997 e transformada em lei em 1999, a taxa adicional tinha o intuito de ajudar a amortizar a dívida mobiliária brasileira. Hoje, a sua arrecadação é repassada diretamente ao FNAC (Fundo Nacional de Aviação Civil).

ARQUIVO SISTEMA CNT

ARQUIVO SISTEMA CNT

“Where’s the baby?”

As principais montadoras do mercado norte-americano acordaram em equipar quase todos os seus veículos vendidos nos Estados Unidos, a partir de 2025, com sistemas para lembrar os motoristas de que há passageiros no banco de trás. Trata-se de um esforço para evitar a morte de crianças pequenas esquecidas nos bancos traseiros de carros quentes. As montadoras que assumiram esse compromisso foram a General Motors, a Ford, a Volkswagen, a Toyota, a Hyundai e a Honda.

DIVULGAÇÃO | TRAVEL WEEKLY

O voo comercial mais longo da história

Dezenove horas de voo sem escalas de Singapura a Nova York. Esse é o trajeto aéreo mais longo feito por um avião de passageiros. Em outubro, o primeiro voo da aeronave operada pela Qantas Airways (um Boeing 787-9 Dreamliner) percorreu pouco mais de 16 mil quilômetros e 15 fusos horários em, aproximadamente, 20 horas. A companhia australiana promoveu o voo com uma campanha que dizia: “Cobaias humanas provarão um voo de 20 horas”. O voo é o primeiro dos três trajetos experimentais do Projeto Amanhecer da Qantas, que contarão com um máximo de 40 tripulantes.


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MAIS TRANSPORTE DIVULGAÇÃO | AIRWAY

Maior bimotor do mundo

A Boeing realizou testes com o seu novo modelo, o 777-9, o maior bimotor do mundo. As operações foram feitas para a movimentação das pontas de asas, que, ao se dobrarem, reduzem a envergadura da aeronave para que ela possa operar nos aeroportos ao redor do mundo. O gigante possui uma fuselagem com 77 metros de comprimento e envergadura de 71,7 m. Com as pontas das asas dobradas, a envergadura reduz para 64,8 m.

Primeiro ‘GPS’ da navegação espacial

A Nasa ativou um relógio atômico que funcionará como um GPS espacial, que guiará futuros astronautas em suas viagens a outros planetas e naves autônomas no espaço profundo. O DSAC, sigla em inglês para Relógio Atômico do Espaço Profundo, foi colocado em órbita terrestre em junho e ativado em agosto. A Nasa realizará testes com o relógio durante um ano. O objetivo é enviar informações para as missões espaciais de maneira autônoma, mais rápida e eficaz. O Relógio Atômico foi colocado a bordo de um satélite e lançado ao espaço em um foguete SpaceX Falcon.

DIVULGAÇÃO | NASA



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CAPA

Situação crítica nas rodovias 23ª edição da Pesquisa CNT mostra queda na qualidade do estado geral, do pavimento, da sinalização e da geometria da via; pontos críticos aumentam 75,6%

Sena Madureira/AC - BR-364

por

CYNTHIA CASTRO e DIEGO GOMES


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FOTOS / ARQUIVO SISTEMA CNT


A

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qualidade das rodovias brasileiras piorou no último ano. É o que mostra a 23ª edição da Pesquisa CNT de Rodovias, divulgada pela Confederação Nacional do Transporte e pelo SEST SENAT em outubro. O estudo constata piora nas condições das características observadas. O estado geral apresenta problemas em 59% da extensão dos trechos avaliados. Em 2018, o percentual foi de 57%. Também está pior a situação do pavimento (52,4% apresentam problemas), da sinalização (48,1%) e da geometria da via (76,3%). No ano passado, a avaliação foi de 50,9%, 44,7% e 75,7% com problemas, respectivamente. O número de pontos críticos identificados ao longo dos 108.863 quilômetros pesquisa-

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dos aumentou 75,6%. Passou de 454 em 2018 para 797 em 2019. São considerados pontos críticos: quedas de barreira, pontes caídas, erosões na pista, trechos com buracos grandes. Essas situações atípicas ocorrem ao longo da via e podem trazer graves riscos à segurança dos usuários, além de custos adicionais de operação. Na pesquisa da CNT, são avaliadas as condições de toda a malha federal pavimentada e dos principais trechos estaduais também pavimentados. Nesta edição de 2019, foram percorridas as cinco regiões do Brasil, durante 30 dias (de 20 de maio a 18 de junho), por 24 equipes de pesquisadores. De acordo com o presidente da CNT, Vander Costa, as condições das rodovias impactam

Rio Branco/AC - BR-364

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BRASIL 10 FATOS REVELADOS PELA

PESQUISA CNT DE RODOVIAS 2019


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diretamente os custos do transporte. Ele lembra que, neste ano, somente as inadequações do pavimento resultaram em uma elevação média de 28,5% no custo operacional do transporte. Pavimentos deficientes reduzem a segurança viária e aumentam a necessidade de manutenção dos veículos, além do consumo de combustível, lubrificantes, pneus e freios. Para se ter uma ideia, a Confederação estima que, em 2019, o Brasil desperdiçará mais de 900 bilhões de litros de diesel, cerca de R$ 3,3 bilhões. Pavimentos inadequados levam a um desperdício de combustível em torno de 5%, pois aumentam as frenagens e reacelerações desnecessárias. Quando a rodovia tem condições ruins, também há maior

Estado geral

59,0%

(64.198 km) da malha rodoviária pavimentada apresenta algum tipo de problema, sendo considerada regular, ruim ou péssima

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emissões de poluentes. Para 2019, deve haver um adicional de 2,46 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) emitidas no Brasil. Acidentes O Brasil também desperdiça muitos recursos em consequência dos acidentes. Além da perda de vidas e de pessoas com sequelas, há um gasto de quase R$ 10 bilhões anuais com os acidentes registrados nas rodovias federais policiadas. O cálculo inclui os prejuízos com veículos, cargas, despesas médico-hospitalares. Também considera a perda de produção das pessoas que morrem nas rodovias, parte delas ainda muito jovem. Em 2018, foram 69.206 registros, com 5.269 mortes e 76.525 feridos.

Pavimento Apresenta problemas em

52,4%

(57.080 km) da extensão avaliada. Em 0,9%, (961 km) o pavimento está totalmente destruído


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Para oferecer mais segurança às rodovias e evitar impactos sociais e econômicos, o presidente da CNT destaca a importância do investimento em infraestrutura. Somente assim será possível manter e expandir a malha rodoviária brasileira, garantindo a qualidade do tráfego de veículos. “É urgente a necessidade de ampliar os recursos para as rodovias brasileiras e melhorar a aplicação do orçamento disponível”, afirma. Segundo Vander Costa, “a priorização do setor nas políticas públicas e a maior eficiência na gestão são imprescindíveis para reduzir os problemas nas rodovias e aumentar a segurança no transporte”. Com mais essa edição da pesquisa, a Confederação e

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o SEST SENAT colocam à disposição dos transportadores, do governo e da sociedade um diagnóstico completo das rodovias brasileiras. “Esperamos contribuir positivamente para a consolidação da agenda de infraestrutura de transporte, que vem sendo encarada como estratégica pelo novo governo”, afirma Vander Costa. Além de abordar a situação das rodovias sob gestão pública e sob gestão concedida, o estudo também realiza o levantamento das infraestruturas de apoio, como trechos com postos de abastecimento, borracharias, concessionárias e oficinas mecânicas, restaurantes e lanchonetes disponíveis ao longo das rodovias.

Sinalização

48,1%

(52.417 km) da extensão é considerada regular, ruim ou péssima. As faixas laterais são inexistentes em 11,5% (12.495 km)

Morros/MA - MAT-402/BR-402

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Geometria da via

76,3%

(83.031 km) da extensão é deficitária. Nos trechos com curvas perigosas, em 41,7% (11.925 km), não há acostamento, nem defensa


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RESULTADOS PODEM SER CONSULTADOS EM PAINEL DINÂMICO Neste ano, uma novidade na divulgação da Pesquisa CNT de Rodovias é a disponibilização do Painel CNT de Consultas Dinâmicas no site da Confederação. Na ferramenta, é possível verificar os resultados nacionais e por Unidade da Federação, dados de investimentos, acidentes e meio ambiente, entre outros. Por meio do Painel, os usuários podem consultar, de forma interativa, os resultados detalhados do estudo. Assim, a Confederação amplia o acesso às informações sobre a Pesquisa, compartilhando a maior base de dados de avaliação da qualidade de rodovias no país.

Acesse o Painel da Pesquisa CNT de Rodovias 2019

Pontos críticos

Custo operacional

São (130 erosões na pista, 26 quedas de barreira, 2 pontes caídas e 639 trechos com buracos grandes)

As condições do pavimento geram um aumento de

797

28,5%

custo operacional do transporte


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Investimentos necessários Para recuperar as rodovias, com ações emergenciais, de manutenção e de reconstrução, são necessários

38,60 bilhões

R$

MELHORES LIGAÇÕES RODOVIÁRIAS PASSAM POR SÃO PAULO Todas as dez melhores ligações rodoviárias do país passam por São Paulo e são constituídas de rodovias concessionadas. Vale lembrar que ligação rodoviária é uma extensão formada por uma ou mais rodovias (federais ou estaduais) pavimentadas, com grande importância socioeconômica e volume significativo de veículos de cargas e/ou de passageiros, que interligam territórios de uma ou mais Unidades da Federação. A pesquisa da CNT faz o ranking de 109 ligações. A pior avaliada é a ligação Natividade (TO) – Barreiras (BA), que inclui as rodovias BA-460, BR-242, TO-040 e TO-280. Essa ligação também foi a mais problemática em 2018.

Investimentos em 2019

Custo dos acidentes

Do total de recursos autorizados pelo governo federal para infraestrutura rodoviária no Brasil (R$ 6,20 bilhões), foram investidos

R$

4,78 bilhões

R$

até setembro (77,1%)

O prejuízo gerado pelos acidentes foi de

9,73 bilhões

em 2018. No mesmo período, o governo investiu R$ 7,48 bilhões com obras de infraestrutura rodoviária


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PESQUISA DA CNT É APRESENTADA NO SENADO A Pesquisa CNT de Rodovias 2019 foi apresentada no Senado Federal, durante reunião da Comissão de Infraestrutura. Alguns senadores presentes se comprometeram a unir esforços para pleitear a ampliação dos recursos para as rodovias brasileiras. A reunião foi presidida pelo senador Wellington Fagundes, que, no mesmo dia, defendeu mais investimentos durante seu pronunciamento no plenário. “Queremos apoiar o Ministério da Infraestrutura para que possa haver mais recursos para as rodovias. Sabemos que a qualidade da infraestrutura de transporte é fundamental para o país”, disse Fagundes. Conforme a CNT, somente para obras de reconstrução e restauração, são necessários R$ 38,60 bilhões. Outros R$ 15,83 bilhões precisam ser destinados para a manutenção. O senador Wellington Fagundes acredita que ainda é possível ampliar os recursos para este ano e para 2020. Representando a CNT, participaram da reunião no Senado o diretor-executivo,

Bruno Batista; o diretor de relações institucionais, Valter de Souza; e o coordenador de estatística e pesquisa, Jefferson Cristiano. Bruno Batista explicou que, além de os recursos serem insuficientes, grande parte do que está autorizado não é aplicado. Durante a reunião, a pesquisa da CNT foi elogiada no Senado tanto pelos parlamentares quanto por representantes do governo. Segundo o diretor-geral do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), general Antônio dos Santos Filho, “os dados da CNT estão muito próximos da avaliação periódica feita pelo Dnit”.

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O superintendente de exploração de infraestrutura rodoviária da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres), Marcelo Alcides, afirmou que a “Pesquisa CNT de Rodovias direciona o trabalho de fiscalização”. E o secretário nacional de transportes terrestres, Marcello da Costa, do Ministério da Infraestrutura, também abriu sua fala no Congresso Nacional dizendo que “enaltece a relevância e a qualidade do estudo da CNT”. Segundo ele, a Pesquisa CNT de Rodovias sempre foi e sempre será balizadora do planejamento de políticas públicas. l MARCOS BORGES | SISTEMA CNT

Leia aqui entrevista com o Senador Wellington Fagundes

Meio ambiente Em 2019, estima-se que haverá um consumo adicional desnecessário

931,8 milhões

de litros de diesel de devido à má qualidade do pavimento. Esse desperdício custará R$ 3,30 bilhões aos transportadores


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UNIDADES DA FEDERAÇÃO

CONFIRA O PERCENTUAL DA EXTENSÃO COM ALGUM TIPO DE PROBLEMA NO ESTADO GERAL DAS RODOVIAS AVALIADAS

Região Norte Acre

99,3%

Amapá

92,9%

Rondônia

65,8%

Pará

Amazonas

100,0% 80,3%

Roraima

Tocantins

38,6%

72,4%

Região Nordeste Alagoas

13,6%

Bahia

57,5%

Paraíba

47,8%

Ceará

71,7%

Pernambuco

46,3%

Rio Grande do Norte

65,6%

Maranhão

70,7%

Piauí

60,1% Sergipe

57,0%


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Caracol/MS - BR-267

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Região Sudeste Espírito Santo

52,9%

Minas Gerais

Rio de Janeiro

70,6%

30,4%

Rio Grande do Sul

Santa Catarina

São Paulo

18,2%

Região Sul Paraná

56,1%

59,4%

63,7%

Região Centro-Oeste Distrito Federal

44,8%

Goiás

70,6%

Mato Grosso

68,1%

Mato Grosso do Sul

52,2%


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MERCADO/TECNOLOGIA

FOTOS / GUSTAVO FALLEIROS | SISTEMA CNT


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Hora de fazer negócios A Fenatran, principal feira da América Latina voltada para o transporte rodoviário de cargas, mostra que o setor retomou o dinamismo e deseja protagonizar o desenvolvimento do país por

GUSTAVO T. FALLEIROS de São Paulo (SP)

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O

transporte rodoviário de cargas mostrou sua força na 22ª Fenatran (Salão Internacional do Transporte Rodoviário de Carga). Entre os dias 14 e 18 de outubro, o salão internacional movimentou toda a cadeia produtiva do setor, com a participação de montadoras, empresas de rastreamento de frotas, fabricantes de pneus, seguradoras, fornecedores de todo tipo de suprimentos, representantes de entidades, engenheiros, motoristas etc. Em resumo, o evento realizou a sua vocação de ser um ambiente de negócios e, ao mesmo tempo, uma vitrine para lançamentos e inovações tecnológicas.

A FENATRAN EM NÚMEROS

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Além dos estandes dos expositores, a feira se desdobrou em uma série de experiências, incluindo palestras, test drives, visitas técnicas e coletivas de imprensa. Foram debatidos temas como tecnologia embarcada, conectividade, automação, telemetria, veículos autônomos, sustentabilidade e mecanismos de propulsão. O número de visitantes dispostos a fechar negócios confirmou o que a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) havia detectado dias antes: a crise ficou para trás (veja arte). “O crescimento de vendas em nosso setor neste ano demonstra que não há exces-

so de caminhões no mercado. O que existe é falta de PIB para ser transportado”, apontou o presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes, na cerimônia de abertura. Segundo ele, é chegada a hora de a economia deslanchar. “Nós acreditamos que as reformas estruturantes propostas pelo governo e implementadas pelo Parlamento são o caminho certo para que voltemos a nos desenvolver de forma consistente, mas as suas implementações precisam ser mais rápidas”, ponderou. Nesse mesmo sentido, foi a fala do presidente da CNT (Confederação Nacional do

Transporte), Vander Costa. “A transformação necessária para a infraestrutura já foi compreendida pelo governo e virá pela abertura do mercado, com as privatizações. Isso já é realidade. Foram privatizados portos e aeroportos, além de rodovias. O que falta para destravar novos investimentos é a definição do marco regulatório. É importante termos um marco regulatório que traga eficiência, que atraia capital privado”, argumentou. O vice-presidente da NTC&Logística (Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística), Urubatan Helou, aproveitou a presença de políticos e autoridades para

A feira gerou cerca de

R$ 8,5 bilhões em oportunidades de negócios

Mais de

62 mil pessoas visitaram o salão


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propor um ambicioso plano de renovação da frota de caminhões no país. “Nós temos hoje, no Brasil, uma das frotas mais envelhecidas do mundo, com uma idade média de mais de 20 anos, segundo dados da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres). Isso significa que há veículos circulando no mais absoluto processo de autofagia, ou seja, ‘comendo’ os seus para-choques, os seus freios e os itens de segurança. E o que é pior: trazendo um impacto muito forte para o meio ambiente”, descreveu Urubatan Helou. As projeções da indústria para um fechamento vitorioso

em 2019 só não são melhores devido ao que vem sendo chamado de “efeito Argentina”. Principal comprador de automóveis e caminhões brasileiros, o país vizinho continua em recessão. Isso explica a queda de 33,2% nas exportações, impactando diretamente a nossa produção, que avançará somente 2,1% em relação ao ano passado. De qualquer forma, o ambiente de negócios mostra-se vigoroso como há muito tempo não ocorria. Recentemente, as montadoras Honda e MWM anunciaram o encerramento das atividades na Argentina e a transferência da produção para o Brasil.

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“OS CAMINHÕES LHES DÃO AS BOAS-VINDAS” Comparado a 2018, os emplacamentos, até setembro deste ano, aumentaram mais de 40%. Se vocês estão precisando ouvir boas notícias sobre economia e números que indicam crescimento, estão no lugar certo. Os caminhões lhes dão as boas-vindas. Ao visitarem os estandes das nossas empresas, vocês terão contato com os mais sofisticados veículos que a indústria brasileira produz. São produtos globais, alinhados com o que há de mais moderno, tanto em termos de propulsão, com energia sustentável, limpa e renovável, como em avançados sistemas de conectividade, automação e segurança. O nosso caminhoneiro dirige um veículo ergonômico e confortável. E os nossos fretistas usufruem de eficiência e baixos custos operacionais. Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), durante a cerimônia de abertura da Fenatran

Neste ano,

450 marcas expuseram seus lançamentos, o que representa um

aumento de 29% em relação à edição anterior, em 2017

O salão ocupou 90 mil m2 da São Paulo Expo

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O ESTADO DA ARTE EM TECNOLOGIA EMBARCADA As boas novas não se resumem às vendas. Na Fenatran 2019, as marcas internacionais não mediram esforços para introduzir produtos de última geração no país. Todas vieram com lançamentos quentes e que praticamente liquidam a usual defasagem entre o mercado brasileiro e o europeu. Outro ponto a se destacar é que foi dada ênfase em tecnologias de pronta aplicação, sem tanto espaço para veículos-conceito. Nesse sentido, foi um salão bastante pragmático. “Aquilo que a gente imaginava que demoraria anos para chegar já é realidade”, confirma Ana Carolina Ferreira Jarrouge, empresária da Transportadora Ajofer e coordenadora nacional da ComJovem (Comissão de Jovens Empresários e Executivos da NTC&Logística). Ana Carolina fala com a autoridade de quem esteve, em 2018, no IAA, o famoso salão de veículos comerciais de Hannover, considerado o maior do mundo. “Um exemplo disso é a Mercedes-Benz, com produtos que substituem o retrovisor por câmeras laterais. Isso está aqui, à venda na Fenatran”, comemora. “As montadoras e o pessoal da tecnologia vieram com tudo”, continua a empresária. “É lógico que poderemos ter algumas questões de legislação e infraestrutura, mas sentimos que há um respaldo

positivo do governo nesse sentido. Os modelos de caminhão chegam ‘tropicalizados’, ajustados para as condições das nossas estradas, dos nossos motoristas. O simples fato de essas tecnologias estarem à nossa disposição é muito bom e vai dar um salto de qualidade para as empresas – principalmente com foco em segurança viária”, resume. A sustentabilidade continua sendo uma questão para a indústria, que propôs um leque variado de alternativas ao diesel, para além dos veículos híbridos e 100% elétricos. Foram apresentados motores à base de combustíveis alternativos, como GNV, LNG e biometano. A promessa é que os veículos movidos a gás natural tenham excelentes autonomia e desempenho, com custo menor e redução drástica de poluentes. Essa aposta também leva em consideração a relativa abundância desses recursos no país, em contraste com a ainda limitada rede de recarregamento disponível para os elétricos. Essas e outras inovações estão prontas para ganhar as ruas. Prova disso é o pioneirismo da Ambev, que se antecipou e renovou a frota com caminhões 100% elétricos (da Volkswagen) e modelos a gás (da Scania) antes mesmo da abertura da Fenatran. Para as montadoras, não há melhor cartão de visita.

PROJEÇÕES POSITIVAS A indústria automobilística brasileira espera fechar o ano com

2,8 milhões de veículos vendidos, um crescimento de 9,1% sobre 2018

No setor

de pesados, o crescimento de vendas será na faixa de 35%,

ultrapassando a marca de 100 mil unidades comercializadas, número que não era alcançado desde 2014 (FONTE: ANFAVEA – ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS FABRICANTES DE VEÍCULOS AUTOMOTORES)


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SISTEMA CNT NA FEIRA O estande da CNT, do SEST SENAT e do ITL na Fenatran atraiu muitos visitantes, interessados em testar o simulador híbrido de direção. O equipamento proporciona uma noção exata de como é dirigir um caminhão ou uma carreta em diversas configurações e condições de visibilidade e pavimento, além de situações adversas de tráfego intenso e perigoso. Instrutores do SEST SENAT estavam lá para dar instruções e mostrar as possibilidades de treinamento. Uma presença ilustre foi a da cantora Sula Miranda, que ficou impressionada com o realismo da simulação. “Foi uma experiência maravilhosa”, elogiou. O Sistema CNT também marcou presença no circuito de eventos da Fenatran, realizados fora do pavilhão da São Paulo Expo. Um deles foi o Encontro Internacional do Transporte de Cargas, pro-

movido pela NTC&Logística, com participantes do México, do Uruguai, da Argentina, do Chile e dos Estados Unidos. No painel “Investimento em Infraestrutura e em Tecnologia nos Países Latino-Americanos e o seu Impacto sobre o Transporte e Logística”, a coordenadora de Economia da CNT, Priscila Santiago, apresentou a experiência da Confederação como formuladora de pesquisas e estudos que traçam um diagnóstico da infraestrutura brasileira.

Já no painel “O Motorista: a Imagem da Empresa perante a Sociedade”, a assessora de Desenvolvimento Profissional do SEST SENAT, Katiane Batista, mostrou como o serviço tem auxiliado esses profissionais de maneira integral,

tanto em capacitação quanto em atendimentos de saúde. “Apenas no primeiro semestre deste ano, as nossas unidades operacionais promoveram 2,7 milhões de atendimentos na área de educação profissional”, ressaltou Katiane.

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CONFIRA ALGUNS DOS PRINCIPAIS LANÇAMENTOS DA FENATRAN 2019 DIVULGAÇÃO | VOLKSWAGEM

MAN

A fabricante, dona da marca Volkswagen Caminhões & Ônibus, apresentou, entre outros produtos, a linha de caminhões e-Delivery 100% elétricos de 14 toneladas. Trata-se de um veículo de vocação urbana, apropriado para o serviço de entregas. A recarga demora de 1h a 2h30, e a autonomia varia de 100 km a 150 km. O veículo atende à lei dos VUCs (Veículos Urbanos de Carga).

DAF

A marca holandesa deu destaque às linhas XF e CF, ambas de caminhões pesados. O XF105 é considerado o topo de linha, com capacidade de 74 toneladas e três opções de cabine. Ele vem equipado com motor Paccar MX de 13 litros em versões de 410 cv a 510 cv. Já o CF85 é o modelo de entrada. Além deles, a DAF se coloca como uma opção no mercado de caminhões off-road para operações severas, especialmente no transporte de cana de açúcar e madeira.

GUSTAVO FALLEIROS | SISTEMA CNT

Volvo

A sueca lançou, no Brasil, uma série especial do seu FH. O modelo é inspirado no primeiro caminhão produzido pela marca no país, em 1980. A edição comemorativa está destinada a se tornar item de colecionador, pois foram fabricados apenas 40 exemplares. De retrô, não tem nada: vem equipada com os itens mais avançados da marca, além da tecnologia de aceleração inteligente, que deixou o FH até 10% mais econômico. Mas o campeão de selfies na Fenatran foi mesmo o Iron Knight, o caminhão mais rápido do mundo. Trata-se de um exemplar único, com motor de 2.400 cavalos e torque de 6.000 Nm. Ele acelera de 0 km/h a 100 km/h em 4,6 segundos e alcança 286 km/h de velocidade máxima.

DIVULGAÇÃO | DAF

Iveco

DIVULGAÇÃO | IVECO

A marca elegeu como principal lançamento deste ano a nova família Tector. A gama de opções cobre desde o segmento leve (9 toneladas de Peso Total Bruto) até o semipesado (31 toneladas). São veículos em igualdade de sofisticação com os utilizados na Europa e que buscam um diferencial no conforto interno.


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DIVULGAÇÃO | MERCEDES

Mercedes-Benz

O destaque da marca alemã foi o novo Actros, que vem ganhando apelidos como “o caminhão inteligente”. É o primeiro caminhão sem retrovisor da América Latina: os espelhos foram substituídos pelo sistema MirroCam, câmeras digitais externas que alimentam duas telas no interior da cabina. Também se destacam o assistente de ponto cego, o programa eletrônico de estabilidade, o assistente ativo de frenagem e um interessante assistente de fadiga, cujo algoritmo alerta para a condução fora dos padrões. Outra exclusividade é o piloto automático preditivo, que não apenas monitora a aceleração e a frenagem mas também “antecipa” o trajeto e troca as marchas de forma a otimizar a economia de combustível. DIVULGAÇÃO | SCANIA

Peugeot/ Citroën

O grande destaque foi o renovado Boxer Minibus, trunfo da marca no segmento utilitário leve (VUL). Com capacidade para transportar 16 pessoas, o veículo pode ser customizado de muitas formas e foi mostrado na versão transporte escolar, ambulância, base móvel para polícia etc.

DIVULGAÇÃO | PEUGEOT

Scania

A empresa quer investir cada vez mais em veículos ecologicamente corretos, e a principal aposta é em caminhões movidos a gás natural. Durante a feira, os suecos abriram a lista de compras no Brasil para modelos equipados com os motores V8 OC16, com possibilidade de rodar com GNV e LNG, além de biometano. A marca também revelou a parceria com a Ambev, que já está usando veículos movidos 100% a gás natural liquefeito (GNL) e que emitem 15% a menos de CO2 na comparação com os similares a diesel.

DIVULGAÇÃO | FTP

FPT

A fabricante suíça trouxe ao país motores a gás muito avançados, como o FPT Cursor 13 Gás Natural, bastante difundido na Europa. Considerado o mais potente propulsor de sua categoria, oferece potência máxima de 460 cv (338 kW) a 1.900 rpm e torque máximo de 2.000 Nm a 1.100 rpm. Desenvolvido para aplicações de longa distância, seu nível de emissão de CO2 é até 9% mais baixo do que o equivalente a diesel e pode chegar a quase zero se funcionar com biometano.


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FERROVIÁRIO

Em busca

do selo

verde

Acordo entre o Ministério da Infraestrutura e a Climate Bonds Initiative irá possibilitar o primeiro green bond governamental já realizado no mundo; três novas ferrovias devem participar da iniciativa por

CARLOS TEIXEIRA


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ARQUIVO SISTEMA CNT


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E

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m um mundo em que a agenda global sobre o clima é a espinha dorsal de acordos e contratações internacionais, o tema da sustentabilidade também se torna vital na atração de investimentos para destravar gargalos logísticos. É aí que os títulos verdes, ou green bonds, representam uma oportunidade. Parecidos com títulos de dívida comuns, eles têm como diferencial serem utilizados somente para financiar investimentos considerados sustentáveis – como infraestrutura de energia limpa e renovável, transporte verde e projetos capazes de reduzir emissões e

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consumo de recursos naturais. Para se ter uma ideia da dimensão desse segmento, o mercado global de títulos verdes alcançou a marca de US$ 167 bilhões em 2018 e, potencialmente, chegará a US$ 250 bilhões em 2019. Os dados são da CBI (Climate Bonds Initiative), organização internacional sem fins lucrativos, focada em investidores, que trabalha na mobilização do mercado de títulos para soluções que contribuem para mitigar os efeitos das mudanças climáticas. Atento a essa oportunidade, o Ministério da Infraestrutura firmou acordo com a CBI para permitir que ferrovias que serão

FERROGRÃO

Com 933 km, liga a região produtora de grãos do Centro-Oeste ao estado do Pará, desembocando no Porto de Miritituba. Visa consolidar o novo corredor ferroviário de exportação do Brasil pelo Arco Norte.

Situação atual do projeto

A ANTT publicou o relatório final da audiência pública. A EPL (Empresa de Planejamento e Logística) está concluindo a análise dos estudos para encaminhamento ao TCU.

concedidas à iniciativa privada sejam certificadas pela entidade e recebam o selo verde para, então, poderem emitir green bonds e acessar esse capital. Entre os aspectos analisados para obter a certificação, estão: impacto na biodiversidade local, materiais utilizados, relacionamento com comunidades, redução das emissões de gases de efeito estufa, capacidade e geração de energia renovável e reassentamento populacional. A estimativa é que, até o começo de 2020, seja finalizada a avaliação dos projetos da Ferrogrão, da Fiol (Ferrovia de Integração Oeste-Leste) e da Fico (Ferrovia de Integração

do Centro-Oeste). Juntos, eles somam investimentos de, aproximadamente, R$ 16 bilhões. As ferrovias foram selecionadas para a implementação da iniciativa, pois o modal tem uma operação com menos impactos ambientais em relação a outros, como rodoviário e aéreo. Mas a intenção da pasta é ampliar o projeto para portos, aeroportos e rodovias. O consultor sênior da SITAWI – Oscip (Organização Social de Interesse Público) que atua como verificadora para emissão de títulos verdes –, Fernando Malta, destaca que, em diferentes lugares do mundo, o setor ferroviário já trabalha com

FICO (FERROVIA DE INTEGRAÇÃO DO CENTRO-OESTE)

Do Litoral Norte Fluminense a Boqueirão da Esperança (AC), na fronteira Brasil-Peru, possui cerca de 4.400 km. Visa trazer opções econômicas para cargas de longas distâncias e uma alternativa logística para o escoamento da produção agrícola e de mineração para os sistemas portuários do Norte e do Nordeste.

Situação atual do projeto

O primeiro trecho da FICO, entre Campinorte (GO) e Água Boa (MT), com 383 quilômetros, deverá ser colocado como contrapartida pelo valor de outorga na prorrogação antecipada da EFVM (Estrada de Ferro Vitória a Minas).


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green bonds. “Emissões de títulos verdes no setor de ferrovias brasileiro serão muito bem-vindas. Será possível fazer uma pré-certificação dos projetos para que, uma vez concedidos à iniciativa privada via leilão, eles tenham características de elegibilidade para emissão de green bonds”. Para o emissor do título verde, existe o benefício de mostrar ao mercado que a empresa possui uma estratégia ambiental. Outra vantagem é a variedade do capital disponível, pois o emissor dos títulos passa a acessar investidores que têm interesse nesses papéis, os quais têm taxas de financiamen-

to mais atrativas quando comparadas aos papéis tradicionais. O diretor-executivo da ANTF (Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários), Fernando Paes, destaca que qualquer novo formato de financiamento é interessante em um mercado tão necessitado de capital, como o ferroviário. “O setor ferroviário de cargas é, sem dúvidas, um grande candidato aos green bonds, não só porque o modal já emite uma quantidade expressivamente menor de poluentes mas também porque tem investido continuamente na melhoria e na redução do consumo de diesel, resultando em composições a cada ano mais eficientes”. l

FIOL (FERROVIA DE INTEGRAÇÃO OESTE-LESTE)

Com 1.527 km entre Ilhéus (BA) e Figueirópolis (TO), é um importante corredor de escoamento de minério do sul do estado da Bahia (Caetité e Tanhaçu) e de grãos do oeste baiano.

Situação atual do projeto

Aguarda a publicação do relatório final da audiência pública pela ANTT para posterior envio ao TCU.

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AÇÕES SUSTENTÁVEIS Em dez anos, as associadas da ANTF elevaram a eficiência energética em 30%, por meio da compra de material rodante mais moderno e com tecnologias mais avançadas que reduziram o consumo de combustível. Esse é o caso, por exemplo, da Rumo, cuja operação está alinhada com alguns dos GBP (Green Bond Principles), diretrizes gerais de emissão elaboradas por um grupo de instituições financeiras. Entre eles, estão eficiência energética e processos de economia circular (quando o rejeito de uma operação é utilizado em outra). Em três anos, a empresa diminuiu em 15% o consumo de combustível, resultado atrelado à renovação da frota, à otimização das locomotivas e à modernização da via permanente. No caso de emissões específicas, a empresa obteve melhora ainda mais expressiva com a redução de 24%. “Fazemos um acompanhamento integral de todas as operações com o intuito de otimizar os índices e promover uma relação harmoniosa entre a ferrovia e o meio ambiente”, explica Renata Ramalho, gerente-executiva de Meio Ambiente da Rumo. E reforça a vantagem do modal especialmente para grandes distâncias. Segundo ela, os índices do IPCC (Painel Intergovernamental para a Mudança de Clima, na sigla em inglês) mostram que o trem emite até 5,8 vezes menos poluentes que os caminhões.

COMO FUNCIONARÁ?

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Os projetos das concessões ferroviárias serão analisados pela CBI.

3

Investidores poderão adquirir os títulos verdes; os recursos serão utilizados para investimento na infraestrutura ferroviária.

Se cumprirem todos os requisitos, receberão o selo verde e poderão emitir green bonds, títulos verdes.

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RODOVIÁRIO

E-commerce aquece setor de transporte Crescimento do comércio eletrônico aumenta faturamento de empresas que buscam inovar para agilizar a entrega por

LUIZ RENATO ORPHÃO


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P

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olêmica e internet são duas coisas que quase sempre estão juntas. Quando o assunto é a primeira venda da história do e-commerce, isso não poderia ser diferente. Pizza ou o álbum “Ten Summoner’s Tales”, do Sting? Apesar de a Pizza Hut garantir que foi dela a primeira venda online — uma pizza de pepperoni com queijo extra —, os especialistas afirmam que foi da empresa Net Market, em agosto de 1994: uma transferência de dinheiro online para comprar o álbum do cantor inglês Sting. De lá para cá, o e-commerce cresce a cada ano, no mundo inteiro. E no Brasil, não tem sido diferente. A estimativa da ABComm (Associação Brasileira de Comércio Eletrônico) é que o setor deve atingir um volume de vendas de R$ 79,9 bilhões em 2019. Os números do primei-

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ro trimestre são animadores: faturamento de R$ 17 bilhões no período. O valor representa um crescimento de 16% em relação ao primeiro trimestre do ano anterior. E a expectativa é de mais crescimento. O segundo semestre é o mais esperado pelo setor. As datas comemorativas como Black Friday e Natal devem impulsionar os números ainda mais nos próximos meses. Dados da associação mostram que, apenas nos primeiros três meses deste ano, mais de 66 milhões de brasileiros efetuaram compras online, o que significa nada menos que 63 milhões de pacotes transportados. E como todos eles chegaram aos seus destinos? É aí que entra o trabalho das transportadoras que atuam na entrega de cargas expressas e fracionadas, que também têm registrado altas expressivas.

“Esperamos crescer em 2019 por volta de 40%, se comparado a 2018, quando faturamos R$ 570 milhões. Esse crescimento está amparado pela captação de novos clientes e pela ampliação da parceria com os atuais”, afirma o presidente da Jadlog, Bruno Tortorello. Há 13 anos no mercado, a empresa transportou, no ano passado, 18 milhões de encomendas; e as entregas do e-commerce representaram crescimento de 50% dentro das movimentações da transportadora. Atualmente, esse segmento de negócio já cor-

responde a mais da metade do trabalho da empresa. A frota terrestre dedicada é formada por mais de 240 caminhões e carretas e 2.500 utilitários. Devido ao aumento da demanda, a empresa pretende investir cerca de R$ 20 milhões. Os recursos estão sendo destinados para automação do Centro de Distribuição, em TI, renovação de frota e em novos serviços. Para suas operações, a Jadlog também utiliza a aviação comercial e cargueira do país. De acordo com a ABComm, em 2017, a Região Sudeste foi

INOVAÇÃO Outro problema comum nas entregas de comércio eletrônico que faz com que as empresas busquem alternativas é a falta de alguém que possa receber a encomenda. Para solucionar esse entrave, a Jadlog está investindo na opção de pick-up, modalidade na qual o cliente escolhe retirar sua encomenda em um estabelecimento comercial cadastrado pela transportadora. O serviço foi lançado no segundo trimestre de 2018, com 1.500 mil pontos parceiros, a partir dos estados de São Paulo e do Rio de Janeiro. Agora, pouco mais de um ano depois, já são 3.000 em 25 estados e no Distrito Federal. A ideia é que, em 2020, o serviço chegue a 8.000 pontos distribuídos pelo país, cada um deles a dez minutos a pé de 90% do mercado consumidor, segundo a empresa. A modalidade já é sucesso na Europa. Em muitos países, o pick-up representa mais de 25% das entregas do e-commerce.


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CENÁRIO POSITIVO

responsável por quase 70% das compras realizadas na internet. Os prazos cada vez mais curtos para as entregas e as restrições aos caminhões nos grandes centros urbanos têm causado impacto na atividade dos transportadores. Em 2018, a CNT realizou o estudo Logística Urbana: Restrições aos Caminhões?, que analisa sete regiões metropolitanas e indica que a falta de planejamento, a grande diversidade de restrições ao trânsito de caminhões, a ausência ou precariedade da sinalização e de fiscalização, entre outros problemas, aumentam o custo operacional e reduzem a qualidade do serviço. Para fugir desse problema, a Jadlog utiliza caminhões e carretas apenas nas grandes distâncias rodoviárias. Dentro das cidades, a transportadora pulveriza a sua operação com vans e utilitários dos franquea-

dos, que realizam as entregas aos consumidores finais. Na TransFolha, uma empresa do Grupo Folha, que edita o jornal Folha de S.Paulo, as principais dificuldades estão ligadas à otimização das rotas, a flutuações de demanda e às alterações climáticas e de trânsito. André Bueno, supervisor comercial da transportadora, comenta que as restrições à circulação de caminhões nos grandes centros urbanos impactam diretamente os prazos e custos da operação. “Para realizarmos uma entrega no centro de São Paulo, por exemplo, precisamos avançar com veículos de apoio; e as entregas, em sua maioria, são realizadas por um profissional que caminha pela região. Buscamos horários alternativos e veículos de pequeno porte para transitar nas principais vias das cidades,

Para Mauricio Salvador, presidente da ABComm, as vendas online são um motor de desenvolvimento econômico. “Atualmente, o país conta com 87 mil lojas virtuais, que geram 320 mil empregos diretos e quase meio milhão de empregos indiretos. Além disso, 30% das vendas do setor vêm de pequenas e médias empresas, o que só comprova sua relevância”, afirma. Segundo ele, o otimismo observado pelos empresários do setor com os rumos da economia somado à elevação da confiança do consumidor são algumas das razões para isso. “Percebemos uma retomada expressiva das vendas online já no último trimestre do ano passado, especialmente durante a Black Friday e nas vendas de Natal. Livre dos eventos observados em 2018, vemos com bons olhos o desempenho para este ano”, complementa. o que faz onerar o risco e o custo”, afirma. A empresa surgiu há mais de 30 anos, inicialmente para distribuir o jornal pelo país. Com o crescimento do segmento do e-commerce, a empresa ampliou a sua atuação. Atualmente, a TransFolha processa mais de 1 milhão de pedidos por mês e atende, diretamente, a mais de 1.800 municípios no Brasil. Em período de Black Friday, a demanda chega a crescer cerca de 40%; e a empresa já se prepara meses antes para

evitar qualquer gargalo. “No início do segundo semestre, iniciamos os planejamentos de demanda para darmos início às ações de aumento de capacidade. Acréscimo de prazos de entrega são considerados nesses períodos, e diversas ações de contingência são criadas para se evitar ao máximo que problemas do dia a dia façam a operação ter algum gargalo na alta demanda”, explica Bueno. Apesar de não revelar os números, a transportadora confirma que os o setor está aquecido. l


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AQUAVIÁRIO

Para desenvolver

o modal hidroviário Evento em Brasília debate os caminhos para ampliar a utilização da navegação interior no Brasil por

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uais são os caminhos para o desenvolvimento do transporte hidroviário em um país onde a matriz de transporte se mostra desigual e a falta de infraestrutura é um entrave para o crescimento econômico? Esse foi o tema central do 11º Seminário Internacional de Transporte e Desenvolvimento Hidroviário, que foi realizado pela Sobena (Sociedade Brasileira de Engenharia Naval), entre os dias 22 e 23 de outubro, em Brasília. Dados do estudo Aspectos Gerais da Navegação Interior no Brasil, divulgado em outubro pela CNT (Confederação Nacional do Transporte) e destacado no seminário, mostram que o país utiliza somente 19,5 mil quilômetros dos 63 mil quilômetros de vias comercialmente navegáveis do país. O desperdício está associado a barreiras de infraestrutura, de operação, institucionais e burocráticas, além da baixa atenção dada ao segmento por políticas públicas ao longo dos anos. Durante o evento, o vice-presidente de Transporte Aquaviário de Cargas e de Passageiros da CNT e presidente da Fenavega (Federação Nacional das Empresas de Navegação),

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Raimundo Holanda, pontuou que faltam investimentos e uma política de Estado voltada para a navegação. “Hoje, mais de 60% do transporte de cargas no país são feitos pelo modal rodoviário; e apenas 5%, pelo modal hidroviário. Um comboio com quatro barcaças equivale a 172 carretas. No Rio Madeira (AM), já navegamos com 20 barcaças e já fizemos teste com 50 mil toneladas transportadas, o que equivale a duas mil carretas. Precisamos de mais de R$ 166 bilhões de investimentos e tivemos apenas R$ 173 milhões alocados em 2018. O governo deve olhar para a navegação brasileira”, resumiu. “Não aproveitamos todo o nosso potencial hidroviário. Se pensarmos que uma barcaça pode substituir dezenas de caminhões, é incalculável o valor que estamos perdendo”, disse o presidente da Sobena, Luis de Mattos. Ele lembrou que, no Brasil, não existem hidrovias, em razão da ausência de infraestrutura necessária para essa caracterização. Além disso, afirmou que as vias naturalmente navegáveis têm diminuído. Informações mais recentes da Antaq (Agência Nacional de Transportes Aquaviários) apontam que a extensão de vias interiores utilizadas para

navegação no Brasil caiu 11,7% entre 2013 e 2016. A necessidade de integração também foi destacada. Conforme o representante da Eclac (Comissão Econômica das Nações Unidas para a América Latina e o Caribe, na sigla em inglês), Fábio Weikert Bicalho, planejar e alavancar o hidroviário requer uma abordagem sistêmica do transporte. “Para desenvolver o modal, é preciso ter uma logística fluvial eficiente, segura e com uma visão voltada para a multimodalidade”, salientou. O secretário nacional de Portos e Transportes Hidroviários do Ministério da Infraestrutura, Diego Piloni, reconhece o problema e defende que, em razão da crise fiscal no Brasil, é necessário atrair o setor privado para viabilizar investimentos que gerem melhorias. “Não faz sentido termos infraestrutura nos portos se não podemos utilizar nossas vias navegáveis. Temos um problema, e não podemos mais varrê-lo para debaixo do tapete. Precisamos potencializar a parceria com o setor privado devido à situação fiscal do país”, disse.

Acesse o estudo completo

Para a diretora de Infraestrutura Aquaviária do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), Karoline Brasileiro Quirino Lemos, o êxito na atração de investidores privados depende de o Brasil “ter vias com condições de segurança e confiabilidade”, fatores sem os quais, segundo ela, “acabamos afugentando investidores”. Ela enumera, ainda, a necessidade de “um diagnóstico técnico do quadro hidroviário brasileiro que vise promover a gestão, a manutenção e a operação das eclusas, além de contratos eficientes de operações e manutenção”. Gargalos Segundo Karoline Brasileiro, o Dnit prepara mudanças no Rio Madeira (PA), gargalo antigo do sistema hidroviário brasileiro. “Diminuiremos a seção transversal e aumentaremos a velocidade do rio, reduzindo as taxas de assoreamento nos


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pontos críticos e o volume a ser dragado”, esclareceu. Além do Madeira, outro gargalo do setor é o Pedral do Lourenço, localizado no rio Tocantins, no sudeste do Pará. Trata-se de uma formação rochosa que, nos meses de estiagem, afeta a navegação no trecho. Por isso, necessita de derrocagem (escavação das pedras) e dragagem (retirada de material do fundo do rio). Coordenador de Obras Aquaviárias do Dnit, André Cardoso Bernardes defendeu

a necessidade da intervenção, que está na pauta do órgão. “Hoje, temos pouco tempo disponível para a navegação na hidrovia. Nosso projeto procura aumentar esse tempo de navegação. Entre os benefícios, estão uma maior eficiência nos corredores de transporte; o fomento ao setor naval; e a disponibilidade para a navegação, que passará de 18% em 65 dias, entre os meses de março e maio, para 96% em 350 dias ao ano, na hidrovia TocantinsAraguaia”.

ENCONTRO DEBATE FUTURO DO SETOR PORTUÁRIO PRIVADO Quais são as mudanças que mudarão a vida em sociedade e como as empresas e os negócios se adaptarão às novas tecnologias? Essas e outras perguntas foram respondidas na sexta edição do Encontro ATP (Associação de Terminais Portuários Privados), que teve como tema “Inovação: como as transformações mundiais impactam os modelos de negócios”. O evento ocorreu em outubro, no Clube Naval de Brasília. Para o diretor-presidente da ATP, Murillo Barbosa, o segmento portuário já tem protagonizado transformações. “Precisamos

As obras, contudo, ainda não têm data certa para começar. O Dnit apresentou o estudo e o relatório de impacto ambiental (EIA-RIMA) ao Ibama e aos municípios afetados pela obra e, também, já realizou audiências públicas. A expectativa do órgão é obter a Licença Prévia, na qual deve ser apontada a viabilidade do empreendimento, no primeiro semestre de 2020; e, no segundo semestre, a Licença de Instalação. Com isso, as obras poderão iniciar em 2021.

falar sobre a inovação e despertar essa mudança. Podemos formar tendências em um mundo em constante mutação. Hoje trabalhamos como uma revolução, que são os nossos TUPs (Terminais de Uso Privado), que transformaram o modelo de negócios no segmento, do público para o privado. Nos dias atuais, não podemos pensar no setor portuário brasileiro sem falarmos dos terminais privados. Elevamos a balança comercial e temos grandes empreendimentos logísticos, onde, antes, não se viam investimentos.” A ATP (Associação de Terminais Portuários Privados), atualmente, representa 29 empresas e 56 TUPs (Terminais de Uso Privado) do país. As associadas da ATP, juntas, movimentam 60% da carga portuária brasileira. Conforme o diretor-executivo da CNT (Confederação Nacional do Transporte), Bruno Batista, um dos palestrantes do evento, o setor transportador deve estar

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O Dnit também está gestando o programa Proeclusas, em que pretende padronizar a forma de atuação em relação a todas essas estruturas presentes no país. Serão realizadas visitas técnicas aos locais, com o objetivo de identificar e diagnosticar as condições de manutenção e operação das eclusas. O programa contará com o apoio de engenheiros do exército dos Estados Unidos, especialistas nessas obras de engenharia. A primeira eclusa visitada foi a de Tucuruí, localizada no rio Tocantins (PA). l

preparado para as transformações. “O setor tem que começar a pensar diferente. As novas tecnologias impactarão muito o transporte, mas não sabemos aonde isso nos levará. A única certeza que temos é que mudarão a forma de produção, as técnicas e os materiais, e precisamos estar preparados.” Entre os desafios que o setor portuário brasileiro enfrenta, estão a falta de uma logística de transporte integrada, com destinos conectados a áreas de produção e polos industriais; dragagens de manutenção dos canais de navegação em portos marítimos e fluviais; melhor regulação e melhores contratos de adesão. Outra demanda diz respeito à maior segurança jurídica e à desburocratização do setor, com simplificação de procedimentos, harmonização de competências e uma atuação voltada para dar celeridade à tomada de decisões.


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AÉREO

Combustível que “freia” a aviação

O alto custo do QAV continua a ser um fator limitante para a operação das aéreas no Brasil. O equilíbrio do preço tem sido buscado por meio da redução das alíquotas do ICMS por

GUSTAVO T. FALLEIROS


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m 2002, o país deu um passo importante rumo à economia de mercado quando adotou o regime de liberdade de preços em toda a cadeia de produção, distribuição e revenda de combustíveis e derivados do petróleo. Ficava para trás a velha prática do tabelamento de preços, com valores máximos e mínimos ditados pelo governo. Benigna em si, a medida produziu um efeito colateral inesperado para a aviação civil brasileira. Como se sabe, as aeronaves são movidas a QAV (querosene de aviação), derivado do petróleo obtido a partir de destilação atmosférica. À época, a Petrobras (única fornecedora da matéria-prima no país) adotou a fórmula de preços que vigora até hoje. Ela leva em conta a cotação internacional do litro de querosene, o frete do transporte marítimo e os custos de internalização (tarifas portuárias, seguro, eventuais perdas etc.). O preço é “dolarizado” e, portanto, varia segundo a depreciação ou a valorização do real frente à moeda estrangeira. Até aí, nada de extraordinário: a Petrobras apenas aplicou ao

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produto o tratamento usual de commodity, indispensável para negociar no mercado internacional, seguindo a lógica da oferta e da demanda. Porém, a realidade que sustentava essa base de cálculo se alterou. De importador contumaz de QAV, o Brasil acabou se tornando um produtor quase autossuficiente – produz 92% do que consome. Contra essa distorção, a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear) atua desde 2012. O combustível é, na maior parte do mundo, o principal item de custo de uma companhia aérea. Calcula-se que até um terço do preço de um voo corresponda somente ao insumo. No Brasil, porém, o valor é fortemente pressionado por fatores exógenos à operação: a já citada metodologia da Petrobras e a incidência do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) nos estados. A artificialidade da precificação fica ilustrada com este exemplo trazido pelo consultor técnico da Abear, William Alencar: “Vamos considerar que o combustível que abastece Guarulhos vem de São José dos Campos (Refinaria Henrique

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NOVA CHANCE PARA OS “QUERODUTOS”? Animada com a redução do ICMS sobre o querosene de aviação em São Paulo, a concessionária do aeroporto de Viracopos (Campinas) já anunciou a retomada de um antigo projeto de “queroduto”. A ideia é buscar uma ligação com a Replan, a maior refinaria da Petrobras do Brasil. O abastecimento será feito por hidrantes já instalados nas pistas. Lage – Revap). Os menos de 100 km que separam esses lugares são vencidos via ‘queroduto’. Não é trem, não é caminhão. É uma linha de tubo que sai diretamente no aeroporto. Mesmo assim, devido à lógica da paridade internacional, a Petrobras atua como se o querosene entregue ao distribuidor tivesse saído de uma refinaria

em Houston (Texas), no Golfo do México, e transladado para Guarulhos via frete”. Atualmente, oito estados contam com instalações para produção de QAV: São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia, Paraná, Rio Grande do Sul, Rio Grande do Norte e Amazonas. A Petrobras fornece o produto para os distribuidores, que

vendem para as companhias. Sabe-se que o reajuste da estatal sobre o litro de querosene é repassado mensalmente, o que garante certa previsibilidade. A evolução dos preços é divulgada pela ANP (Agência Nacional do Petróleo). Segundo o órgão, em setembro passado, o litro valia R$ 2,202, em média (veja o gráfico). O último “pico” foi observado em outubro de 2018, quando o combustível foi comercializado a R$ 2,65/l. Esses são os valores “puros”, sem incidência do ICMS. Para William Alencar, a manutenção de tal metodologia de precificação se justifica apenas pelo “monopólio de fato” da Petrobras sobre a produção de derivados de petróleo.

“A Petrobras fabrica 90% do insumo e se vale dessa posição monopolista para adotar o modelo de paridade internacional”, examina. Embora, tecnicamente, não seja um monopólio, pois não há qualquer vedação à concorrência, a palavra é usada para ressaltar a falta de competidores nesse mercado. O tema voltou à tona no Alta Airline Leaders Forum, evento realizado pela Associação Latino-Americana de Transporte Aéreo (Alta) entre os dias 27 e 29 de outubro, em Brasília. Durante sua participação no painel “O custo de voar no Brasil”, o secretário-executivo do Ministério da Infraestrutura,

ONERAÇÃO AO LONGO DA CADEIA PRODUTIVA Preço em Houston Platts USGC

Frete Houston - Brasil

Armazenamento

Terminais e dutos

Porto mais taxas alfandegárias

Adicional ao Frete para Renovação da Marinha Mercante (AFRMM) DL 2.404/1987

Seguro

Margem prêmio

Preço de saída na refinaria

Cerca de 3/4 do QAV abastecido no Brasil são de produção própria, mas seu preço foi calculado como se tivesse sido produzido a 7.817 km, em Houston (EUA). A distância real média foi de 62 km.


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TIPOS DE QAV

EVOLUÇÃO DO PREÇO DO LITRO DO QAV* Preço médio de saída na refinaria (R$)

QAV-1

R$ 3,00 R$ 2,80

É o querosene de aviação usado pela aviação civil.

2,650

R$ 2,60 R$ 2,40

QAV-5

R$ 2,20 2,202

R$ 2,00 R$ 1,80 R$ 1,60 R$ 1,40 R$ 1,20

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1,308

jan /1 ab 3 r/1 3 jul /13 ou t/1 jan 3 /1 ab 4 r/1 4 jul /14 ou t/1 jan 4 /1 ab 5 r/1 5 jul /15 ou t/1 jan 5 /1 ab 6 r/1 6 jul /16 ou t/1 jan 6 /1 ab 7 r/1 7 jul /17 ou t/1 jan 7 /1 ab 8 r/1 8 jul /18 ou t/1 jan 8 /1 ab 9 r/1 9 jul /19

R$ 1,00

É de uso restrito da aviação militar. A diferença é a presença de compostos leves, mais instáveis, que exigem condições especiais de manuseio e estocagem. (FONTE: PETROBRAS)

*PREÇO COBRADO PELAS REFINARIAS, SEM INCIDÊNCIA DO ICMS. FONTE: ANP. ELABORAÇÃO: ABEAR.

PONTO DE VISTA DAS EMPRESAS

O combustível de aviação é um dos principais insumos da indústria de transporte aéreo global. No Brasil, dadas as políticas de preços praticadas, custos logísticos e impostos, ele pode chegar a 40% dos custos. Além disso, por ser uma indústria globalizada, muitos insumos e custos das empresas aéreas são dolarizados, trazendo uma dificuldade adicional para as empresas brasileiras, que têm que lidar com câmbio alto e volátil e altos impostos para remessa de pagamentos em dólares ao exterior. A Azul investe pesadamente na renovação da sua frota, trazendo aeronaves de última geração, mais econômicas e sustentáveis, com significativa redução no consumo de combustível e nas emissões de carbono. Também busca ampliar o uso de energia elétrica em solo, com unidades de ar condicionado portáteis ou nos portões de embarque, geradores auxiliares e políticas que reduzam o uso de combustível pelas aeronaves nos aeroportos. Além disso, temos trabalhado em acordos com a maioria dos estados brasileiros no sentido de servir cidades, ampliar voos e criar novas rotas de interesse público, em contrapartida à redução do ICMS sobre o combustível. Marcelo Bento Ribeiro, diretor de relações institucionais da Azul. A Latam Airlines Brasil informa que a precificação do setor aéreo é dinâmica em todo o mundo e que têm sido preponderantes os fortes efeitos do câmbio e do preço do petróleo, uma vez que o combustível de aviação representa cerca de 40% dos custos da companhia e que 60% dos custos totais são calculados em dólar. A Latam observa com atenção os movimentos de demanda, que seguem dentro do previsto. A companhia tem investido em mercados sustentáveis e, nesse sentido, a redução do ICMS sobre o combustível de aviação em diversos estados brasileiros tem representado uma medida fundamental para destravar o crescimento, permitindo à Latam criar novos voos no país. Nota divulgada pela assessoria da Latam.

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Marcelo Sampaio, expôs o posicionamento do governo. “A questão do querosene de aviação é um desafio para o Brasil. Quando se fala em QAV, a gente se refere ao custo do transporte, ao custo de distribuição, à importação da Petrobras e a onde esse QAV fica armazenado,

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que é dentro dos nossos portos. A gente tem feito um esforço, junto ao Ministério de Minas e Energia e ao Ministério da Economia, para quebrar esse monopólio da Petrobras, trazendo concorrência”, enfatizou. Sampaio disse ainda que, neste ano, o Ministério

UM TRIBUTO NO LUGAR ERRADO O alto preço do QAV praticado no Brasil tem, porém, outra explicação, que não se relaciona nem com a cadeia produtiva, nem com fatores de mercado. Trata-se do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), que incide sobre os abastecimentos com QAV para voos domésticos. As alíquotas variam de estado para estado e, até recentemente, chegavam a 25%. Novamente, a Abear se opõe contra o que considera uma grave distorção. “O ponto do ICMS é que não há similaridade com nenhuma outra parte do mundo. Taxar dessa forma é mesmo uma jabuticaba”, aponta o consultor técnico da Abear, William Alencar. Ele pede que a gente imagine a seguinte situação: “Os voos com rotas de São Paulo a Salvador e São Paulo a Buenos Aires têm distâncias similares. Eles carregarão a mesma quantidade de combustível, mas o que vai para Salvador pagará, da largada, 25% a mais sobre o preço do combustível. Se você considera que o combustível é 32% do custo total da operação, já tem um impacto significativo no preço da tarifa. Isso ajuda a explicar por que, às vezes, é mais barato viajar para fora do país”.

da Infraestrutura passou a ter assento no CNPE (Conselho Nacional de Política Energética), foro adequado para encaminhar a demanda. “Essa é uma agenda que nós vamos traçar, firmemente, durante o ano de 2020. Sabemos o quanto isso repre-

A disparidade do preço do QAV, a depender da alíquota de ICMS praticada pelo estado, tem um efeito deletério bastante conhecido: o chamado tankering. Funciona assim: a empresa aérea tenta abastecer sempre na praça mais barata, considerando rotas, escalas, duração de voo etc. Essa prática desafia o consenso atual de que as aeronaves deveriam voar mais “leves”, somente com o combustível necessário para o trecho. “De fato, o tankering é altamente ineficiente para o sistema. Afinal de contas, você está abastecendo com o intuito de carregar mais combustível. E a última consequência disso é uma maior emissão de CO2”, destaca William Alencar. Sem conseguir abrir negociações com a Petrobras, as companhias preferiram buscar os governos estaduais para expor o problema. Após muitas tratativas, uma vitória expressiva sobreveio em julho deste ano: por meio da lei n.º 17.093/2019, o governo de São Paulo reduziu de 25% para 12% a alíquota de ICMS sobre as operações com querosene de aviação destinadas a empresas de transporte aéreo regular de passageiros ou de carga. A contrapartida oferecida pela Abear foi ampliar o serviço, assumindo o compromisso de criar 490 novas partidas

senta no custo da aviação civil no Brasil. Se quisermos crescer, precisamos cortar esses custos”, garantiu. A reportagem solicitou à Petrobras um posicionamento oficial sobre o assunto, mas não obteve resposta até o fechamento desta edição. l

semanais, sendo 416 nacionais para 21 estados e 38 destinos, além de 74 regionais atendendo a seis novas localidades dentro do estado. Essa meta já foi superada e, atualmente, já são 648 novas partidas semanais anunciadas, das quais, 491 já estão em operação em 32 aeroportos de 16 estados. O sucesso paulista despertou uma verdadeira corrida em outros estados, com interlocução das secretariais de Turismo e de Desenvolvimento Econômico locais. Trata-se de uma movimentação delicada, pois implica uma queda de arrecadação no já combalido orçamento das unidades da federação. Sem perder tempo, o Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz) agiu para moderar a situação e, ainda em julho, autorizou as alterações como uma modalidade de benefício fiscal. No desenho proposto pelo Confaz, a carga tributárica sobre QVA fica assim: alíquota de 3% para as operações realizadas nos Estados da região Norte; 7% para as operações realizadas nos Estados das regiões Centro-Oeste, Nordeste, Sul, Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Distrito Federal; e 10% para as operações realizadas no Estado de São Paulo. As novas porcentagens começaram a valer no mês de setembro.


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INFRAESTRUTURA

Para ser

grande CNT participa de seminário do Ministério da Infraestrutura para debater os caminhos que podem permitir ao Brasil ser mais competitivo no cenário mundial por

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ão é novidade que a competitividade de um país tem relação direta com a qualidade da sua infraestrutura de transporte. No entanto, em um ambiente econômico com baixo poder de investimento, apostar em infraestrutura para aumentar a competitividade da economia se torna um grande desafio. A melhoria da qualidade e da oferta de rodovias, ferrovias, portos, aeroportos e hidrovias gera impacto positivo para empresas, para a população e para o país na ampliação de investimentos, na redução de custos operacionais e na geração de novos empregos. Números do Mckinsey Institute mostram que o aumento do investimento em um ponto percentual do PIB (Produto Interno Bruto) de um país pode gerar 1,3 milhão de empregos. Os números também mostram que, para cada dólar investido, 20 centavos serão ganhos em competitividade. Além disso, o incremento no investimento em infraestrutura na próxima década do atual patamar de 3,5% para 3,8%

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pode adicionar cerca de 0,6% no PIB global. Os caminhos para alcançar esse desenvolvimento de estratégias capazes de colocar o Brasil em uma posição de destaque no cenário mundial foram debatidos durante o 1º Seminário de Competitividade do Setor de Infraestrutura, realizado pelo Ministério da Infraestrutura, em outubro, em Brasília (DF). O presidente da CNT (Confederação Nacional do Transporte), Vander Costa, defendeu, na abertura do seminário, que investir em infraestrutura é a melhor forma de sustentar o crescimento do PIB do país. “O Brasil ainda tem muitos desafios para fazer avançar o ciclo de crescimento. Modernizar o sistema de transporte poderá colocar o Brasil em igualdade com os grandes países”. Ele também ressaltou a necessidade de promover um equilíbrio da matriz de transportes e da atração de capital privado para viabilizar melhorias e expansão nos sistemas. “É necessário atrair investimentos privados.

Apoiamos a participação da iniciativa privada em empreendimentos de infraestrutura de transporte. O nosso objetivo é promover o crescimento econômico do Brasil”, salientou. De acordo com o Plano CNT de Transporte e Logística, o país precisa de R$ 1,7 trilhão em investimentos mínimos, distribuídos em 2.663 obras essenciais. No entanto, os valores que têm sido aplicados no setor estão bem abaixo desse patamar. No ano passado, os investimentos públicos em infraestrutura (rodovias, portos, aeroportos, energia, entre outros) somaram R$ 27,8 bilhões — o menor patamar em dez anos —, segundo dados da Secretaria do Tesouro Nacional. Para 2020, o cenário é ainda mais preocupante. O orçamento previsto do governo federal para investimento em infraestrutura de transporte será o menor em 16 anos. Estão estimados R$ 5,29 bilhões no PLOA (Projeto de Lei Orçamentária Anual) do próximo ano para investimentos pelo Ministério da Infraestrutura em todas as

modalidades de transporte. O valor está 31,1% abaixo do autorizado para 2019 (R$ 7,68 bilhões). Impacto No GCI (Global Competitiveness Index), ranking do Fórum Econômico Mundial, que avalia a competitividade de 141 países, o Brasil subiu uma posição, saindo da 72ª, em 2018, para a 71ª colocação na lista de 2019. Singapura ocupa o primeiro lugar; os Estados Unidos, o segundo; e Hong Kong, o terceiro. Os últimos lugares ficaram com a República Democrática do Congo, o Yemen e Chade. Em infraestrutura, o Brasil passou para o 78º lugar, avançando três pontos em relação a 2018. O GCI é um índice que afere a competitividade de economias e o desempenho dos mercados. Para Carlos Arruda, gerente-executivo do Núcleo de Inovação e Empreendedorismo da Fundação Dom Cabral, “o desafio de ser competitivo está aumentando. Estamos em uma posição intermediária. O avanço foi de uma posição somente.


AMBIENTE SEGURO

Um salto maior requer esforço integrado”. O ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, destacou, em sua fala durante o seminário, que a melhoria de posições no ranking de competitividade é um dos pilares do trabalho do governo. “Estamos encarando isso em todas as dimensões e, principalmente, na infraestrutura. Por isso, hoje, temos o maior programa de concessão do mundo.” O ministro destacou o Plano Nacional de Logística, que irá redistribuir a matriz do transporte brasileiro. “Iremos identificar quais os gargalos e a necessidade de investimentos. Alguns serão executados pela iniciativa privada; e outros, pelo poder público.” Segundo o ministro, para melhorar os índices na área de infraestrutura, o governo aposta em várias frentes, em diferentes modais. No rodoviário, trabalha com programas como o de concessões, empreendimentos e manutenção. No ferroviário, o trabalho é para renovar concessões, modernizar o sistema e realizar novos empre-

endimentos ferroviários. Na aviação, o foco é na concessão da infraestrutura, para garantir melhores níveis de serviço e a atração de novas companhias aéreas, além da abertura do capital estrangeiro e de 14 acordos de céus abertos. No setor aquaviário, as ações visam à desestatização de terminais, ao desenvolvimento da navegação doméstica e ao aprimoramento do marco regulatório do setor. Para o diretor-executivo da CNT, Bruno Batista, o ranking é um balizamento das melhorias que precisam ser realizadas. “Nos dois últimos anos, é possível ver que o Brasil está andando de lado. Os números mostram que temos muito a fazer. Para melhorar, é preciso saber qual caminho seguir e traçar uma meta para ser atingida. Precisamos expandir a participação da iniciativa privada, fortalecendo o mercado de capitais e melhorando o investimento público”. Batista ainda citou que “é preciso atualizar o modelo de concessões e realizar novos leilões de aeroportos e terminais portuários”. l

Um dos temas também debatidos durante o seminário foi a construção de um ambiente favorável ao investimento em infraestrutura. Nesse cenário, entram assuntos como contratos sólidos, segurança jurídica, regras claras e transparência. Na avaliação do managing partner, da Partners for Growth, Carlos Braga, as iniciativas atuais estão sendo bem recebidas pelo mercado, mas é preciso ter pressa para formar um ambiente propício para negócios. “Você tem a certeza em contratos bem-feito em um ambiente seguro juridicamente. Segurança jurídica é o ponto da virada.” Entre os desafios atuais do país para criar um ambiente propício para investimentos, estão a falta de confiança dos investidores na capacidade dos patrocinadores e desenvolvedores dos projetos e a superestimação da receita potencial do crescimento devido a incentivos distorcidos entre os patrocinadores dos pro-

jetos. Outra questão que afasta os investimentos, de acordo com Renato Sucupira, presidente da DB Capital, é a falta de um marco regulatório. “No Brasil, existe uma deficiência muito grande na questão de um marco regulatório. É preciso ter regras claras e de longo prazo, além da garantia das obrigações do setor público com o setor privado.” A integração modal e a oferta de serviços logísticos são mais um entrave. Segundo André Meloni, presidente da Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais), é preciso melhorar a conexão entre os modais de transporte. “Hoje, temos muitos grãos e muitos portos, mas faltam ferrovias e rodovias em boas condições que possam chegar até essas infraestruturas.”


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SEST SENAT

Domínio cearense Em Contagem (MG), Fortaleza (CE) conquista o quarto título da Copa SEST SENAT de Futebol 7 Society; campeonato é o maior da categoria no Brasil; em 2019, foram mais de 10 mil jogadores e 766 times, todos formados por trabalhadores do transporte por

DIEGO GOMES de Contagem (MG)


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esporte tem o condão de criar e eternizar ídolos e equipes lendárias, que marcaram época e foram dominantes nas suas respectivas categorias. Quem não conhece os gênios Roger Federer, Usain Bolt, Michael Phelps, Pelé ou nunca ouviu falar do Dream Team do basquete masculino dos Estados Unidos que disputou a Olimpíada de Barcelona (1992) ou da seleção brasileira que conquistou a Copa do Mundo de 1970? Guardadas as necessárias proporções, começa a pintar, na Copa SEST SENAT de Futebol

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7 Society, uma espécie de domínio cearense. Na edição de 2019 de um dos maiores torneios de futebol amador do Brasil, o time de Fortaleza (CE) – composto por trabalhadores do transporte da empresa Organização Guimarães – conquistou o tricampeonato do torneio. Com mais esse título, a capital do Ceará soma, agora, quatro conquistas em oito edições do campeonato. Na derradeira fase da competição, realizada na unidade do SEST SENAT de Contagem, em Minas Gerais, nos dias 19 e 20 de outubro, os cearenses mediram forças com o

time da casa – o de Contagem/ MG (Transportes Apoteose) –, o de Ponta Grossa/PR (Viação Campos Gerais) e o de Boa Vista/RR (Asatur Turismo). Na grande final, Fortaleza saiu atrás do placar, no primeiro tempo, contra Ponta Grossa/PR (Viação Campos Gerais). Mas buscou o resultado, virou o jogo e comandou as ações no segundo tempo, assegurando o placar de 7 a 4 e o caneco de campeão. Os cearenses ainda tiveram o goleiro menos vazado da competição, Paulo Gato, que tomou apenas oito gols. O artilheiro da Copa foi o camisa 9 do Ponta Grossa, Leonardo Américo

Correia Matias Jr., com 18 tentos anotados. Conhecido pela sugestiva alcunha de Pelezinho, Leonardo, que é cobrador, conta que a Copa vem contribuindo para realizar muitos dos seus sonhos, entre os quais, o de dar continuidade à vida no futebol. Ele jogou por diversos times do Brasil e até da Alemanha, mas uma lesão colocou um ponto final à sua carreira. “Sou muito grato ao respaldo que temos da nossa empresa e do apoio que o SEST SENAT oferece a nós, trabalhadores. Participar da Copa é a certeza de ter muitos momentos de lazer, descontração e união, o que nos permite

DIFERENÇAS ENTRE O FUTEBOL e o FUTEBOL 7 SOCIETY O Futebol Society, também chamado de Futebol 7, é um esporte de origem brasileira e tem algumas diferenças em relação ao futebol tradicional de campo. Conheça algumas características da modalidade: Enquanto as equipes de futebol possuem 11 jogadores, as de futebol society entram em campo com sete jogadores em cada time. A substituição de jogadores é livre, e o jogo não é paralisado. Normalmente, é praticado em campo de grama sintética. O campo de futebol society é menor: tem de 40 m x 20 m a 60 m x 40 m, enquanto que o de futebol costuma apresentar de 45 m x 90 m a 90 m x 120 m. Outra diferença importante é o tempo de jogo. No futebol society, são 50 minutos de partida, divididos em dois tempos de 25 minutos, com intervalo de dez minutos. A bola deve pesar entre 420 g e 450 g, e a circunferência deve ter de 66 cm a 69 cm. A equipe que cometer cinco infrações técnicas por período sofre, a partir da sexta falta, o shoot out. Aqui, a bola deve ser colocada em qualquer lugar da linha de shoot out, e o goleiro adversário não pode sair do gol até o apito do juiz. O jogador tem até cinco segundos para chutar a bola ao gol, podendo movimentá-la livremente em qualquer direção dentro do limite de tempo.


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conciliar a jornada de trabalho com a rotina de treinos.” Uma das estrelas do time do Fortaleza, o também cobrador Márcio Pinto costuma se referir à sua equipe, nas redes sociais, como #familiavitoria, para destacar o sentimento de união que tomou conta de todos. “A gente se tornou uma família. Esse companheirismo que a gente adquire nos treinos, nas viagens, nos jogos, no carinho que um tem pelo outro a gente acaba passando para os nossos passageiros, os nossos clientes.” Para ele, o título é o reconhecimento de um trabalho sólido, que vem sendo estru-

turado há bastante tempo. “O apoio da empresa tem um papel fundamental nesse processo. E o SEST SENAT é o nosso grande parceiro, com uma estrutura linda que é disponibilizada, com fisioterapeuta, nutricionista, psicólogo e dentista.” Na disputa do terceiro lugar, os times de Boa Vista/RR (Asatur Turismo) e Contagem/ MG (Transportes Apoteose) protagonizaram uma disputa acirrada. Na reta final, porém, os roraimenses se impuseram e garantiram a vitória por 7 a 4. Sob um sol escaldante, o final de semana das finais da Copa em Contagem (MG) ainda

contou com as ilustres presenças de ídolos históricos dos principais clubes mineiros de futebol. Prestigiaram o evento Dadá Maravilha, ex-centroavante que marcou época no Atlético Mineiro; Jair Bala, ex-meia do América-MG; e Dirceu Lopes, que atuou por mais de uma década no Cruzeiro, entre os anos de 1960 e 1970. Todos os convidados se impressionaram com a estrutura montada na unidade do SEST SENAT de Contagem e com a grandiosidade do torneio. Qualidade de vida Neste ano, a Copa SEST SENAT contou com 10.883 jogadores

inscritos e 766 times formados por trabalhadores do setor de transporte. Ao todo, foram realizados 1.812 jogos – desde fevereiro – e, com as inscrições das equipes, foram arrecadados 28.560 kg de alimentos para doação a instituições sociais. Em oito anos, são mais de 10 mil jogos, 63 mil jogadores e 4.500 times – todos formados exclusivamente por trabalhadores do transporte. O presidente da CNT e dos Conselhos Nacionais do SEST e do SENAT, Vander Costa, explica que esses números superlativos são a demonstração concreta de que o trabalho desenvolvi-


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do pelo SEST SENAT chega a quem deve chegar. A Copa está diretamente relacionada com o propósito do SEST SENAT de transformar vidas. “A prática de atividade física é fundamental para proporcionar bem-estar. Por isso, o SEST SENAT incentiva a prática de diversas modalidades esportivas. E o futebol, como paixão nacional, tem lugar de destaque.” A diretora-executiva nacional do SEST SENAT, Nicole Goulart, explica que os benefícios trazidos pela prática de esportes são incontáveis na vida de uma pessoa. “Além de mais saúde, disposição, felicidade e bem-estar, uma rotina regular de exercícios físicos também pode ajudar, de forma significativa, o desen-

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volvimento na carreira.” Nicole Goulart ressalta, ainda, a importância do torneio na elevação do engajamento e da produtividade dos trabalhadores nas empresas de transporte e na redução de doenças ocupacionais. Na visão do presidente do Conselho Regional do SEST SENAT de Minas Gerais e da Fetram (Federação das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado de Minas Gerais), Rubens Lessa, um profissional que se dedica a uma modalidade esportiva pode aumentar progressivamente sua produtividade e seus resultados no trabalho. “Foi uma honra receber, aqui no nosso estado, um evento tão grandioso e importante como é a Copa.”

“A cada vez que as empresas participam, cria-se um espírito de equipe. E isso vai passando uma competitividade sadia para as demais empresas. Isso tudo tem o amparo do SEST SENAT.” Essa é a avaliação do presidente do Conselho Regional do SEST SENAT do Paraná e da Fetranspar (Federação das Empresas de Transporte de Cargas do Estado do Paraná), coronel Sérgio Malucelli, que esteve em Contagem para prestigiar as finais do torneio e dar apoio ao time de Ponta Grossa. “Esse projeto desenvolve a autoestima das empresas. E você acaba transferindo para o seu dia a dia os ensinamentos do esporte – respeito, dignidade, caráter, fair play. Esses 11

mil rapazes que participaram vão levar para dentro das suas empresas esses valores.” Ponta Grossa, aliás, será sede das semifinais e da final da Copa SEST SENAT em 2020. Isso porque o regulamento estabelece que o campeão de um ano recebe os jogos no ano seguinte, e Fortaleza já sediou as partidas em 2017. Apoio dentro de casa Para que um evento com a premissa da Copa SEST SENAT dê certo e alcance os atuais números, é fundamental a parceria sustentável com os empresários do setor de transporte. Os trabalhadores buscam, na gestão, o respaldo necessário para se engajar em um projeto

GALERIA DE CAMPEÕES DA COPA SEST SENAT 2012 Governador Valadares/MG 2013 Fortaleza/CE 2014 Fortaleza/CE 2015 Simões Filho/BA 2016 Fortaleza/CE 2017 Pelotas/RS 2018 Pelotas/RS 2019 Fortaleza/CE


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dessa natureza, seja na parte logística da preparação, seja até mesmo no apoio moral. Sob essa ótica, o diretor da Asatur Turismo, Renildo Lima, celebra o resultado histórico conquistado pela sua equipe neste ano e afirma ser o principal apoiador do time. “Eu participei de todos os jogos e fases. Não perdi um sequer. É uma oportunidade de ouro para eles. Para se ter uma ideia, existem empregados que nunca haviam andado de avião ou se hospedado em um hotel antes da Copa.” Lima frisa que a equipe é formada por trabalhadores

que também são atletas e, por isso, têm um diferencial no aspecto físico. “Eles adoecem menos, têm mais produtividade e são mais felizes. Estão sempre imaginando como será o próximo jogo. Nesse sentido, temos obtido um melhor rendimento dos empregados”, diz. “Para nós – como empresários –, é importante proporcionar esse tipo de experiência aos trabalhadores, até mesmo por uma questão de humanidade. É muito importante estarmos próximo a eles. Isso não repercute somente nos 15 jogadores. Nós temos 450

colaboradores, e todos acabam tendo a energia deles também, o que impacta diretamente a produtividade e a eficiência da empresa.” Diretor da Transporte Apoteose, de Contagem (MG), Luciano Miranda fala com alegria da performance da equipe da sua empresa, que, nos últimos quatro anos, chegou três vezes entre os quatro melhores da Copa SEST SENAT. Apesar de ainda não ter faturado o troféu mais cobiçado, Miranda conta que, ao final, o que sobressai é a união dos jogadores. “Como a equipe é

muito unida, os colegas se envolvem bastante também. A empresa inteira participa do projeto. Todo mundo gosta e participa.” O diretor revela, ainda, que, desde que seus trabalhadores passaram a integrar o projeto da Copa, a produtividade da empresa está em alta. “Os jogadores são muito dedicados. Todo mundo trabalha em prol do time. Por isso, eu aconselho a todos os meus colegas empresários a incentivarem seus empregados a praticar esporte.” l


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GESTÃO

Capacitação de líderes SEST SENAT realiza segundo Encontro Nacional de Lideranças; evento de 2019 teve como foco principal o novo Planejamento Estratégico da instituição, que vale até 2023

por

RENATA RAMALHO


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o atual cenário brasileiro, em que as perspectivas econômicas dão o tom da busca por soluções oportunas e consentâneas no enfrentamento aos desafios impostos, o SEST SENAT ressalta uma das suas principais características: a resiliência. Capaz de transformar as adversidades em uma das suas maiores forças, a instituição prima por sua atuação para ser cada vez mais produtiva, inovadora e eficiente. Tudo isso em prol da solidez e da competitividade do setor de transporte, que tem sido impactado diretamente pelas transformações típicas do mundo globalizado. Estar atento e preparado para atender às demandas

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das empresas transportadoras exige alta performance das equipes e, principalmente, dos gestores. Por isso, o SEST SENAT realiza frequentemente programas de aperfeiçoamento da capacidade dos seus líderes para que esses analisem o mercado e o contexto em que a instituição está inserida e sejam capazes de prospectar necessidades, dificuldades e problemas e propor soluções compatíveis com a atual realidade brasileira. Foi o que aconteceu na segunda edição do Encontro Nacional de Lideranças, que, em outubro, reuniu, em Brasília (DF), mais de 700 líderes do SEST SENAT de todo o país. A espinha dorsal das atividades realizadas no encontro foram os objetivos que

compõem o Planejamento Estratégico da instituição para o período de 2019-2023. Nesse cenário, merecem destaque as ações que têm como foco central a elevação do nível de satisfação das empresas de transporte com os serviços; o aumento do número de atendimentos prestados; a atuação pela qualificação da empregabilidade no setor; a adequação do portfólio de produtos e serviços de acordo com as necessidades das transportadoras; a incorporação da inovação nas

estratégias institucionais; e a atuação cada vez mais focada no bem-estar e na melhoria da qualidade de vida do trabalhador, o que impacta diretamente o resultado das empresas. “Sabemos que trabalhadores saudáveis e preparados produzem mais e melhor. E o SEST SENAT tem um compromisso com o desenvolvimento do transporte brasileiro. Nossa missão é transformar a realidade dos trabalhadores do setor e contribuir para elevar a competitividade das empresas. Por


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isso, acreditamos que preparar bem as nossas equipes é parte fundamental desse processo”, afirma o presidente da CNT e dos Conselhos Nacionais do SEST e do SENAT, Vander Costa. Durante os quatro dias de encontro, os gestores da instituição puderam trocar experiências e discutir as melhores práticas para desenvolver os melhores projetos a fim de capacitar e preparar os trabalhadores do transporte. Planejamento e equilíbrio financeiro, cultura analítica e prioridade às necessidades das empresas do transporte, parcerias estratégicas e atuação integrada foram alguns dos temas abordados. Uma das palestras realizadas teve como foco a metodologia ágil. Esse conceito surgiu na indústria de software e tem

revolucionado a gestão de projetos, permitindo mais rapidez, flexibilidade e eficiência. A metodologia ágil consiste na divisão de projetos em entregas menores e mais rápidas, o que garante melhoria contínua, alinhamento da equipe e economia de tempo, recursos e esforços. Os desafios enfrentados pelas lideranças foram outro assunto em destaque. Ser multitarefa e eficiente, resolver várias demandas ao mesmo tempo, lidar com o excesso de informações típico deste mundo acelerado e ainda dar resultados positivos não são responsabilidades simples. Thomas Brieu, especialista em inovação e desenvolvimento e uma das maiores referências do Brasil em escutatória, ministrou pales-

tra sobre o assunto. Segundo ele, ao valorizar a escuta de qualidade no ambiente corporativo, as empresas colhem benefícios, que vão desde o ganho em até 40% do tempo em reuniões e mais clareza de pontos de vista (o que influencia, por exemplo, na tomada de decisões) até o engajamento dos empregados, gerando maior comprometimento e, portanto, mais resultados. O evento também contou com a participação do pesquisador e professor de inovação Gil Giardelli, que falou sobre as transformações atuais da sociedade e como as organizações

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devem se adequar a elas. Leia a entrevista na página 8. “O nosso propósito é transformar vidas. Para isso, nossas ações estão pautadas na ética, na transparência, na inovação, na eficiência, no respeito e na sustentabilidade dos sistemas de transporte brasileiro”, aponta a diretora-executiva nacional do SEST SENAT, Nicole Goulart. Ela ressalta ainda que “o objetivo da nossa instituição é único: elevar cada vez mais o nível de qualidade dos serviços a fim de superar as expectativas das empresas de transporte. Trabalhamos para ser cada mais produtivos e fazer mais com menos” l


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EXPANSÃO

Mais duas

novas unidades inauguradas Rio Grande do Norte e Espírito Santo ganham novas unidades do SEST SENAT; cada estrutura tem capacidade para realizar 53 mil atendimentos ao ano por

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plano de expansão e melhoria da infraestrutura do SEST SENAT continua por todo o país. Mais duas novas unidades foram inauguradas: em João Câmara, no Rio Grande do Norte; e em Serra, no Espírito Santo. As duas novas estruturas estão localizadas às margens de rodovias federais com grande fluxo de veículos, o que facilita o acesso dos transportadores.

LIVIA CEREZOLI e NATÁLIA PIANEGONDA

As novas unidades contam com sala de treinamento em um simulador de direção de caminhão, carreta e ônibus, com capacidade para 15 alunos; três salas de aula, com capacidade para 24 alunos cada uma; e uma sala de treinamento de EaD, com capacidade para 18 alunos. Na área da saúde, dispõem de quatro clínicas odontológicas, uma de fisioterapia, uma de nutrição e uma de psicologia. Cada uma das estruturas tem

capacidade para realizar 53 mil atendimentos ao ano nas áreas de qualificação profissional e assistência à saúde e cerca de 1.900 m2 de área construída. “A missão do SEST SENAT é transformar a realidade dos trabalhadores do transporte brasileiro e dos seus dependentes e contribuir para elevar a competitividade dos transportadores. Temos um compromisso com o desenvolvimento do transporte do Brasil, e permitir que cada


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vez mais trabalhadores tenham acesso aos nossos serviços nos faz cumprir a nossa missão. Estamos chegando a cidades onde não estávamos, como é o caso de João Câmara. Em outros locais, como em Serra, estamos ampliando a nossa estrutura porque a anterior já não atendia mais às demandas regionais”, afirma o presidente da CNT e dos Conselhos Nacionais do SEST e do SENAT, Vander Costa. O presidente destaca ainda que os atendimentos são gratuitos para os trabalhadores do setor, profissionais autônomos e seus dependentes, pois os serviços são viabilizados pela contribuição compulsória das empresas transportadoras e dos profissionais autônomos, que é “revertida em melhorias para a vida do trabalhador do trans-

porte”. E completa: “O ganho do empresário nesse cenário é ter mão de obra de qualidade, com profissionais capacitados, que geram mais produtividade às empresas”. Sustentabilidade O SEST SENAT tem um compromisso com a sustentabilidade, por isso as novas unidades operacionais foram projetadas de modo a aplicar soluções de economia de recursos. Entre os destaques, está a implantação do sistema de placas fotovoltaicas para captação de energia solar. A instituição também está investindo em um sistema de reúso de águas pluviais para lavagem e jardinagem. Ainda estão previstos a utilização de iluminação led para aumentar

A inauguração das unidades integra o plano de expansão do SEST SENAT em todo o Brasil. Desde 2017, além dessas, outras 17 unidades já foram inauguradas: Porto Ferreira (SP), Paragominas (PA), Duque de Caxias (RJ), Limeira (SP), Mossoró (RN), Picos (PI), Carazinho (RS), Teotônio Vilela (AL), Serra Talhada (PE), Lages (SC), Sobral (CE), Itumbiara (GO), Guarujá (SP), Maringá (PR), Vilhena (RO), Ourinhos (SP) e Votuporanga (SP). A previsão é que, até dezembro, outras oito unidades entrem em funcionamento. Criado em 1993, o SEST SENAT já realizou mais de 135 milhões de atendimentos em todo o país. A instituição é referência em desenvolvimento profissional e na prestação de assistência à saúde dos trabalhadores do transporte e dos seus familiares. Os atendimentos são 100% gratuitos para profissionais do transporte contribuintes e seus dependentes.

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a eficiência energética; sistemas para coleta seletiva de lixo; pavimentação com blocos de concreto intertravados, no lugar do asfalto, para permitir a infiltração da água da chuva; e uso de tecnologia e materiais de domínio local, com estruturas convencionais de execução simples e de menor custo. Vale lembrar que todas as edificações também foram projetadas para atender às normas de acessibilidade para pessoas com deficiência e quaisquer dificuldades de mobilidade. As cerimônias de inauguração também contaram com as presenças da diretora-executiva nacional do SEST SENAT, Nicole Goulart, de empresários e representantes do setor de transporte e de outros setores da economia de ambos os estados.

Para conhecer mais sobre os serviços, acesse www.sestsenat.org.br

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JOÃO CÂMARA/RN

SEST SENAT João Câmara/RN Avenida Antônio Severiano, 2.250 (BR-406 – Km 102)

O Rio Grande do Norte agora passa a contar com três unidades operacionais do SEST SENAT: João Câmara, Natal e Mossoró. Localizada na BR-406, uma das mais movimentadas do estado, a estrutura vai oferecer atendimentos aos trabalhadores que atuam no transporte de petróleo e equipamentos de usinas eólicas, que movimentam a economia local. Para Eudo Laranjeiras, presidente do Conselho Regional Nordeste II e presidente da Fetronor (Federação das Empresas de Transporte de Passageiros do Nordeste), a nova casa do transporte abre as suas portas para continuar a missão de servir e transformar o setor de transporte com a seriedade do trabalho que já é desenvolvido há mais de duas décadas. “Com essa nova unidade, o SEST SENAT abre as

portas para o futuro do transporte e trilha novos caminhos para o desenvolvimento da região.” Presente na cerimônia, o prefeito de João Câmara, Manoel dos Santos Bernardo, ressaltou a importância da chegada do SEST SENAT à cidade. “Esse empreendimento vai contribuir para o desenvolvimento da nossa cidade. Investir em capacitação profissional é uma das coisas de que mais precisamos para garantir melhores empregos e melhores condições para a nossa população.” A unidade de João Câmara recebe o nome de Francisco Cabral de Oliveira, um dos pioneiros no setor de transporte de passageiros do Rio Grande do Norte. No início da carreira, em 1950, ele foi motorista de caminhão e cruzava as rodovias do país. Em 1957, fundou a Expresso Cabral. À frente da empresa, contribuiu para o desenvolvimento do transporte de passageiros no estado. Francisco faleceu em 2017.


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SERRA/ES Maior, mais moderna e mais eficiente, a nova unidade de Serra vai permitir a ampliação dos atendimentos a trabalhadores do transporte, aos seus dependentes e à comunidade que já eram oferecidos na cidade desde 2016. O município, localizado na região metropolitana de Vitória, é o maior do estado, com mais de 500 mil habitantes, e um dos principais polos de negócios do Espírito Santo. “A relevância de Serra para o setor transportador está comprovada nos números, já que a cidade responde pelo segundo maior PIB do estado, e as atividades da cadeia logística e do transporte são fundamentais para o seu desenvolvimento”, ressaltou o presidente do CRES (Conselho Regional do Espírito Santo) e presidente da Fetransportes (Federação das Empresas de Transportes do Estado do Espírito Santo), Jerson Picoli. A nova unidade está localizada junto à ES-010 e próximo à BR-101 – um

dos principais eixos rodoviários do Brasil, que dá acesso a importantes portos do Sudeste e do Nordeste do país – e está localizada em uma região de grande concentração de empresas de transporte e de centros de distribuição. O prefeito de Serra, Audifax Barcelos, durante a cerimônia, agradeceu ao SEST SENAT pela nova estrutura inaugurada na cidade e fez uma menção especial ao setor de transporte, que gera mais de 200 mil empregos e traz produtividade ao município. A unidade leva o nome de Floriano Rangel Mendonça, fundador da empresa Mendonça Gimenez & Cia. – que, depois, se transformaria no Grupo Planeta – e do Setpes (Sindicato das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Espírito Santo), integrando sua diretoria até o seu falecimento. Além de Serra, o SEST SENAT está presente, no Espírito Santo, também em Cariacica, Cachoeiro de Itapemirim, Colatina e São Mateus. l

SEST SENAT Serra/ES Rua Francisco Souza dos Santos, n.º 1.025 (Rodovia ES-010, Km 2), Jardim Limoeiro

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Desenvolvimento da alta gestão Painel realizado durante a 17ª edição da Santos Export discute projetos voltados à capacitação de gestores do transporte

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LUIZ RENATO ORPHÃO


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ITL (Instituto de Transporte e Logística) esteve presente na 17ª edição da Santos Export — Fórum Nacional para Expansão do Setor Logístico Portuário — para apresentar os resultados conquistados em seis anos de atuação e os benefícios proporcionados ao setor de transporte. Realizado no início de outubro, em Brasília, o evento contou com a participação de autoridades federais e de dirigentes de entidades públicas e privadas de todos os setores ligados aos portos, à logística e à economia para debater questões como gestão, licitação, investimentos e eficiência dos portos. O painel dedicado à gestão e à inovação no setor de transporte discutiu os principais projetos que estão sendo realizados pelo ITL para melho-

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rar e transformar a gestão das empresas de transporte, com foco principalmente nas inovações e transformações pelas quais passam a sociedade e as organizações. O painel foi guiado pelo vice-presidente da CNT, Flávio Benatti. Contabilizando as turmas que estão em andamento, cerca de 1.900 gestores de mais de 630 empresas de todos os modais do transporte foram ou estão sendo capacitados pelo Programa Avançado de Capacitação do Transporte, promovido pelo SEST SENAT e coordenado pelo ITL. O programa oferece três cursos totalmente gratuitos para gestores das empresas contribuintes do SEST SENAT: Especialização em Gestão de Negócios, ministrada pela FDC (Fundação Dom Cabral); Certificação Internacional em

BRASIL EXPORT 2020 Durante o evento, foi anunciado que, a partir de 2020, a Santos Export mudará o formato e passará a se chamar Brasil Export. O novo modelo do projeto permitirá a discussão em fóruns regionais ao longo do ano e, em outubro de 2020, será realizada a edição da Brasil Export, em Brasília, seguida de uma missão técnica internacional em novembro. De acordo com o novo calendário, em abril, será realizado o Fórum Norte Export; em maio, o Santos Export; em junho, o Nordeste Export; em agosto, o Sul Export; e, em setembro, o Centro-Oeste Export.

Gestão de Sistemas Ferroviários e Metroferroviários, ministrada pela Deutsche Bahn (DB) Rail Academy; Certificação Internacional Aviation Management, ministrada pela ERAU (Embry-Riddle Aeronautical University). O ITL e o SEST SENAT trabalham agora no lançamento de um novo curso. A Especialização Internacional em Gestão Portuária, Transporte Aquaviário e Multimodal será ministrada pela Finatec (Fundação de Empreendimentos

Científicos e Tecnológicos), da UnB (Universidade de Brasília), em parceria com a Liège Université, e deve ter sua primeira turma em 2020. “A revolução tecnológica anuncia um futuro quase inimaginável a todos os setores da economia. No setor de transporte, o desafio é utilizar todas essas transformações para oferecer melhores alternativas em mobilidade de pessoas e cargas. Atentos a esse novo cenário, iniciamos, há alguns anos, uma estratégia de moder-


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nização, com foco, principalmente, no aprimoramento do capital humano. Acreditamos que a atuação de profissionais de alta performance e a geração de conhecimento pavimentam o caminho necessário para aumentarmos a competitividade das empresas transportadoras e do país”, afirmou o

SAIBA MAIS SOBRE OS CURSOS

diretor-executivo do ITL, João Victor Mendes. Um dos indicadores que demonstram a efetividade da qualificação oferecida pelo Instituto é o índice de aproveitamento dos projetos aplicativos (trabalhos de conclusão de curso dos alunos) pelas empresas do setor. Levantamento da

FDC mostra que os 66% dos trabalhos apresentados na Especialização em Gestão de Negócios estão sendo implementados pelas empresas e melhorando a gestão em diversas áreas. Durante o painel, a gerente-executiva de Programas de Especialização e Abertos Nacionais da FDC (Fundação Dom Cabral), Silene Magalhães, classifica a iniciativa do SEST SENAT e do ITL como fundamental para a qualificação e o desenvolvimento da alta gestão no setor de transporte. “Estamos unindo a competência de grandes instituições em prol do desenvolvimento de uma competência moderna e dinâmica dos gestores do setor de transporte. Isso, ampliado, certamente, mudará o rumo do transporte no Brasil nos próximos anos”. Para ela, a grande procura pela pós-graduação em Gestão de Negócios é resultado da percepção do mercado quanto à qualidade do curso. Hoje, a concorrência já ultrapassa os cinco alunos por vaga em cada turma. O diretor-executivo da Embry-Riddle para a América do Sul e Central, Fábio Campos, destacou a oferta da certificação internacional para os ges-

As informações sobre abertura de novas turmas e critérios de seleção do Programa Avançado de Capacitação do Transporte podem ser acessadas no site do ITL.

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tores do setor aéreo como algo bastante inovador. “Para uma universidade americana como a Embry, com 93 anos de história, foi algo muito surpreendente quando viemos para o Brasil conhecer o trabalho do ITL. Você não tem isso em nenhum lugar do mundo”, destacou ele. Na visão de Campos, as empresas não teriam condições de fazer isso isoladamente na proporção que está sendo feito. “Ter esse tipo de atuação institucional em prol do conhecimento é, sem dúvida alguma, muito importante para aumentar a competitividade do transporte aéreo brasileiro.” Voltada aos gestores do setor ferroviário, a certificação ministrada pela Deutsche Bahn International tem garantido uma visão global e ampla do transporte sobre trilhos que é realizado no mundo, além do compartilhamento de experiências, acredita o diretor de negócios da DB Internacional no Brasil, Gustavo Gardini. “Estamos investindo e trazendo conhecimento das melhores práticas internacionais no segmento. Estamos integrando os alunos, garantindo uma visão multimodal, eficiente e de boas práticas”, afirma ele. l

Acesse o o site do ITL


TRANSFORMAR VIDAS, ESSA É A NOSSA MISSÃO. O SEST SENAT tem a missão de transformar a realidade do transporte brasileiro e contribuir para elevar a competitividade dos transportadores por meio da educação profissional, da promoção da saúde e da melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores do setor. Acesse o site www.sestsenat.org.br e encontre a Unidade mais próxima a você!

Sérgio Reis

Amigo do trabalhador do transporte


Josenildo de Souza Motorista autônomo

Eu vim só para fazer um atendimento odontológico, mas um profissional fala com o outro, de outra especialidade, daí a gente acaba cuidando de tudo.

0800 728 2891

www.sestsenat.org.br

/SestSenatBrasil


TEMA DO MÊS

Os 40 anos do etanol no Brasil

Etanol: entre o passado e o futuro EVANDRO GUSSI

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EVANDRO GUSSI Presidente e CEO da Unica (União da Indústria da Cana de Açúcar). Foi, enquanto deputado federal, autor da Lei “Renovabio”.

o Brasil, o ano de 1979 ficará para sempre marcado pela adesão das indústrias automobilísticas ao Pró-álcool, iniciativa que revolucionou o mercado de carros e combustíveis brasileiros. Se hoje temos cerca de 45% de participação do etanol na frota de veículos leves e a possibilidade de abastecermos com etanol hidratado, isso é graças às ações tomadas em 1979. O Pró-álcool foi criado com o objetivo de diminuir a dependência brasileira do petróleo estrangeiro. Na época, importávamos cerca de 80% dos combustíveis fósseis que consumíamos, e tensões geopolíticas nas áreas produtoras fizeram o preço internacional da commodity disparar. A política foi lançada em 1975, mas foi em 1979 que a indústria automobilística aderiu ao programa, com o lançamento de carros movidos exclusivamente a álcool. O setor produtivo da cana de açúcar, que, na época, se dedicava quase que exclusivamente à produção de açúcar, respondeu com vigor ao programa. Em menos de dez anos, a produção de etanol cresceu 200%. Nos anos 1990, mesmo com a desregulamentação promovida pelo

governo, a produção avançou 40% até atingir um novo ponto de inflexão, com o advento do veículo flex fuel, já no século 20. De lá para cá, crescemos quase 100% em menos de dez anos, atingindo o recorde de produção de 33 bilhões de litros de etanol na safra 2018/2019, em uma área de cultivo inferior a 1% do território nacional. Nos últimos 20 anos, o uso do etanol hidratado pelo Brasil possibilitou a substituição do consumo de gasolina em mais de 100 bilhões de litros, evitando a importação de combustível fóssil, o que teria custado US$ 50 bilhões. Hoje, 78% dos veículos e 34% das motos que rodam no país têm a capacidade de usar somente o biocombustível. Bom para o bolso do brasileiro, que paga menos para abastecer, e para o meio ambiente. O etanol reduz em, aproximadamente, 90% a emissão de gases causadores do efeito estufa e de óxido de enxofre quando comparado à gasolina. Praticamente zera a emissão de partículas inaláveis, poluente muito agressivo para a saúde, bem como a de hidrocarbonetos tóxicos. Desde o lançamento da tecnologia flex, o uso do etanol evitou a emissão de 535 milhões de toneladas de

CO2eq na atmosfera. Para atingir a mesma redução de emissões, seria necessário plantar 4 bilhões de árvores. Isso foi possível também porque revolucionamos a forma como produzimos, ganhando sustentabilidade. Eliminamos a queima da cana, mecanizamos 98% da colheita, preservamos mais de 6.850 nascentes de água nas áreas de lavoura, recuperamos e preservamos 210.719 hectares de matas ciliares e plantamos cerca de 38 milhões de mudas de espécies nativas. A partir de 2020, essa história ganhará um novo capítulo, com a entrada em vigor da Política Nacional de Biocombustíveis, o RenovaBio, que vai reduzir em 11% a intensidade de CO2 da matriz de transportes até 2029, por meio do aumento da participação dos biocombustíveis: uma resposta efetiva e prática às mudanças climáticas. O etanol solucionou nossos problemas no passado e continuará a ser uma resposta aos desafios do futuro.


Pro-álcool: um marco para a engenharia nacional HENRY JOSEPH JUNIOR

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dia 19 de setembro de 1979 é uma data que nunca deve ser esquecida por nós da indústria automobilística brasileira. Nesse dia, foi assinado um documento que mudou para sempre a frota brasileira de veículos: o protocolo de plena adesão ao Programa Nacional do Álcool, o Pró-álcool. Na fase anterior a essa, entre 1975 e 1979, os veículos passavam por modificações feitas pelos consumidores para se tornarem movidos a etanol, mas os resultados não eram muito satisfatórios. A imagem inicial do uso de etanol hidratado puro como combustível não era muito positiva junto aos consumidores. De um lado, tínhamos veículos malconvertidos, com desempenho ruim e com componentes inadequados ao contato com o etanol. De outro, tínhamos um combustível com qualidade muito irregular e bastante agressivo aos componentes do motor. O resultado eram veículos com alto consumo; péssima dirigibilidade; com dificuldades gritantes de partida, especialmente a frio; que emitiam um forte cheiro de álcool; e que necessitavam de reparos cons-

tantes no sistema de alimentação, devido à corrosão causada e aos depósitos formados. Em 1979, foi, então, assinado pelo governo e pela Anfavea o protocolo com o objetivo de estimular os fabricantes a produzirem veículos de série já preparados para rodar com etanol, sem haver necessidade de conversões posteriores de motores. O protocolo foi assinado por todas as associadas da entidade, e a imagem ruim que o veículo a álcool passava para os clientes mudou quando produtos com tecnologia agregada e garantia de fábrica foram entregues à sociedade. Mais de 5 milhões de unidades foram comercializadas entre 1979 e 1993. Porém, nos anos seguintes, o interesse do consumidor diminuiu. Em 1996, somente 40,7 mil unidades foram vendidas, uma enorme queda comparando-se aos quase 700 mil veículos comercializados em 1986. A diminuição do preço internacional do petróleo reduziu o valor da gasolina nos postos de abastecimento; e o aumento do preço internacional do açúcar levou o agronegócio a preferir

produzir açúcar para exportação, e não para combustível. Esses fatores somados levaram à falta de etanol para os veículos e, consequentemente, ao desinteresse dos consumidores. Esse momento foi crucial para a engenharia nacional, que foi induzida a encontrar uma nova solução economicamente viável. A partir disso, em março de 2003, surge o veículo flex, que possibilita o uso de etanol ou gasolina em qualquer proporção. Foi um marco histórico ter um veículo habilitado para os dois combustíveis. De lá para cá, quase 35 milhões de veículos leves foram comercializados com a tecnologia. É impensável imaginar o país hoje sem veículos flex. Enquanto o mundo discute alternativas para o combustível fóssil e de redução das emissões de CO2, o Brasil possui uma solução sustentável, limpa, renovável e economicamente viável para esse problema, há quase 20 anos, que permitiu o desenvolvimento de novas tecnologias, como o híbrido flex. É verdade que teremos veículos elétricos no Brasil, mas não podemos esquecer do grande potencial de biocombustíveis que possuímos.

HENRY JOSEPH JUNIOR Diretor técnico da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) e integra o Conselho Diretor da AEA (Associação Brasileira de Engenharia Automotiva)


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DR. MARCELO AUGUSTO DE FELIPPES Inovação PROF. radical e incremental nos transportes PROF. MARCELO AUGUSTO DE FELIPPES

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ra verão de 1938, nos Estados Unidos, e um empresário imaginou que poderia transportar perecíveis por longo percurso. A carga seria composta por frangos. Buscando ideias em sucatas e baseando-se nas experiências vivenciadas, Joe Numero conheceu Frederick Jones, e ambos criaram a real possibilidade do “Farm to Fork” (da fazenda ao garfo). Os dois lançaram a Thermo King e começaram a era do transporte com refrigeração moderna, permitindo que vários tipos de alimentos fossem transportados por vários dias, e não apenas por algumas horas, como era o sistema de transporte de cargas. Das unidades Thermo King de refrigeração em caminhões e carretas, Fred criou a Thermo King para trens, barcos e navios. Durante a Segunda Guerra Mundial, o Departamento de Defesa dos Estados Unidos usou as unidades de refrigeração para distribuir alimentos e plasmas sanguíneos para as tropas no campo. Fred modificou seu projeto e, logo, tinha desenvolvido um protótipo que permitiria que aviões despachassem unidades por paraquedas para as tropas em zona de espera atrás das linhas inimigas: uma contribuição gigantesca para a humanidade e também uma demonstração exemplar de inovação disruptiva e incremental nos transportes. A inovação pode se dar em produtos, serviços, hábitos, processos ou modelos de negócios e pode ser normalmente de dois tipos: disruptiva ou incremental. A inovação disruptiva ou radical é um tipo de criação que atinge e altera a base das coisas e ocorreu quando os transportes passaram a conseguir manter os produtos perecíveis em condições de consumo por um longo tempo de percurso. A inovação incremental é aquela que agrega valor para necessidades mais imediatas dos consumidores, melhorando processos, tecnologias ou experiências, tendo ocorrido, no caso

da Thermo King, na evolução para utilização em trens, navios, aviões, contêineres, entre outros. O que nos falta hoje para inovar nos transportes? O vício pela tecnologia, cada dia mais exagerada em razão do uso de smartphones, fez com que 4 bilhões de pessoas tenham um aparelho e que o acionem mais de 200 vezes por dia, desacostumando a geração Millenials da velha busca de insights nas “sucatas”, de onde inovações disruptivas e incrementais possam evoluir a função e os meios de transporte. Inovação não é só tecnologia mas também muito mais do que isso. A Thermo King é apenas um exemplo. O mundo atual dos transportes está ávido por mais, muito mais.

ARQUIVO CIT


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OUTUBRO 2019

La innovación radical e incremental en el Transporte PROF. MARCELO AUGUSTO DE FELIPPES

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ra el verano de 1938, Estados Unidos, y un hombre de negocios imaginó que podía transportar productos perecederos por un largo trayecto. La carga serían pollos. Buscando ideas de chatarra y basándose en experiencias pasadas, Joe Numero conoció a Frederick Jones y ambos crearon la posibilidad real de “Farm to Fork”. Los dos lanzaron Thermo King y comenzaron la era del transporte refrigerado moderno, permitiendo el transporte de varios tipos de alimentos durante varios días y no solo por unas pocas horas, al igual que el sistema de transporte de carga. De las unidades de refrigeración de camiones y remolques Thermo King, Fred creó Thermo King para trenes, barcos y navíos.

Durante la Segunda Guerra Mundial, el Departamento de Defensa de los EE. UU. utilizó unidades de refrigeración para distribuir alimentos y plasmas de sangre a las tropas en el campo. Fred modificó su diseño y pronto desarrolló un prototipo que eventualmente permitiría a los aviones lanzar unidades en paracaídas a las tropas a las tropas en la zona de espera detrás de las líneas enemigas; una gran contribución a la humanidad y una demostración ejemplar de innovación disruptiva e incremental en el transporte. La innovación puede provenir de productos, servicios, hábitos, procesos o modelos de negocio y, por lo general, puede ser de dos tipos: disruptivos o incrementales. La innovación disruptiva o radical es un tipo de creación que alcanza y cambia la base de las cosas, y ocurrió cuando el transporte pudo mantener los productos perecederos en un estado de consumo durante mucho tiempo. La innovación incremental es aquella que agrega valor a las necesidades más inmediatas de los consumidores, mejorando procesos, tecnologías o experiencias, habiendo ocurrido, en el caso de Thermo King, la evolución para su uso en trenes, barcos, aviones, contenedores, entre otros. ¿Qué necesitamos hoy para innovar en el transporte? La adicción a la tecnología, cada vez más exagerada por los teléfonos inteligentes, ha provocado que 4 mil millones de personas tengan un dispositivo y lo accionen más de 200 veces al día, desacostumbrando a la generación del milenio de la antigua búsqueda de ideas “chatarra”, donde las innovaciones disruptivas e incrementales puedan evolucionar en la función y los medios de transporte. La innovación no es solo tecnología, sino mucho más que eso. Thermo king es solo un ejemplo ... el mundo actual del transporte está ansioso por más ... mucho más. CONTEÚDO DE RESPONSABILIDADE DA CIT (CÂMARA INTERAMERICANA DE TRANSPORTES)

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ALEXANDRE GARCIA

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Águas ociosas

isitei minha terra natal, Cachoeira do Sul (RS), há poucos dias e, nostálgico, fui rever os terminais fluviais da minha infância, no rio Jacuí, por onde embarcava, em viagem noturna, para Porto Alegre. No fim da rua principal, a Sete de Setembro, já não havia a maxambomba, que trabalhava o dia inteiro subindo e descendo a barranca com trolleys sobre trilhos, descarregando gasolina em tonéis e cimento em sacos, e embarcando nos lanchões, que chamávamos de gasolina, os produtos da terra. No fim da rua onde nasci, tampouco havia sinal de movimento fluvial para os engenhos de arroz e os grandes silos que, agora, serão usados por uma cervejaria. No rio, dois amigos meus saíam para pescar, e um pretendente a bombeiro treinava mergulhos. De vapor, viajei também de Porto Alegre a Taquari, subindo o rio Taquari. Os dois rios têm terminais que consumiram dinheiro; uma barragem com eclusa usada apenas como ponte; no Taquari, uma barragem que aumentou a navegabilidade, mas quase inútil. Hoje, em Cachoeira, chega de caminhão o aço que alimenta a indústria de componentes de colheitadeiras do mundo inteiro. Na minha cidade, há um retrato do Brasil que não aproveita a estrada pronta para navegar e transportar sem onerar o bolso e a natureza. Recentemente, a CNT publicou um levantamento sobre a situação das hidrovias. Temos 63 mil quilômetros dessas estradas aquáticas e usamos apenas 30% disso — a maior parte na Amazônia. Só 5% da carga é transportada de barco — quase

tudo a granel. O estudo mostra que foram anos de entraves na infraestrutura, falhas de gestão, falta de atenção do poder público. E, sem dúvida, houve falta de estratégia — a mesma que deixou para trás as vias férreas. E existe ainda a burocracia: leis, decretos, resoluções e normas que, como em tudo, formam um emaranhado maior que os igarapés da Amazônia. Nos tempos em que a navegação plantava cidades nas margens dos rios, não precisava de nada disso, e o Brasil crescia livre para o interior. Isso está ligado à mania de amarrar toda atividade às licenças do Estado, para que esse possa, sob o pretexto de “regulamentar”, arrecadar para sustentar-se e manter dependentes para permanecer poderoso e concedente. A atual política de liberar as atividades e os empreendedores, se vencer o lobby da burocracia, vai criar uma nova cultura para a economia. E é preciso gritar bem forte: “Ei, Estado, não atrapalhe!”. Só de não atrapalhar, isso já ajuda. Até para desassorear, dragar, abrir canais, às vezes, é só deixar que os interessados o façam. Composições gigantescas já transportam pelos trilhos contêineres de Santos (SP) a Rondonópolis (MT). Em breve, será de Santos (SP) a Anápolis (GO). Aeroportos estão sendo privatizados. E quando os terminais aquaviários começarão a funcionar por este Brasil afora? Ou quantos, enfim, serão reativados? Por quanto tempo nossos grandes rios permanecerão ociosos depois de terem participado, como bandeirantes, da conquista do território? Sonho com a chegada do tempo em que não ficaremos às margens dos rios, mas, sim, navegando neles.


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