Soluções para o transporte

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EDIÇÃO INFORMATIVA DA CNT

ANO XXIII NÚMERO 269 ABRIL 2018

Soluções para o transporte Conecta, programa da CNT de impulso a startups, desenvolvido em parceria com o BMG UpTech, promove a inovação e a superação dos desafios do setor de transporte e logística no Brasil LOGÍSTICA URBANA: estudo da CNT mostra que restrições aos caminhões dificultam o abastecimento das cidades



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Transformar vidas, essa é a nossa missão.

O SEST SENAT tem como missão fazer a diferença na vida de milhares de trabalhadores do transporte. Completar 25 anos nos faz pensar no futuro e na vontade de estarmos cada vez mais próximos desses profissionais que movimentam o nosso país. Por isso, estamos em processo de modernização da infraestrutura das Unidades Operacionais, a fim de inovar as atividades e qualificar ainda mais os atendimentos. Estamos presentes em todas as regiões do Brasil, então conte com a gente onde quer que você esteja.

O SEST SENAT É SEU. USE-O!


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CNT TRANSPORTE ATUAL

ABRIL 2018

REPORTAGEM DE CAPA CNT lança o Conecta, programa de tração a startups com ideias inteligentes para promover inovação no transporte; desenvolvida em parceria com o BMG UpTech, iniciativa oferece capacitação nos EUA Página 20

­­­­T R A N S P O R T E A T U A L ANO XXIII | NÚMERO 269 | ABRIL 2018 ENTREVISTA

Martin Carnoy, professor de economia e educação da Universidade de Stanford página

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FERROVIÁRIO

Rede brasileira cresceu acima da expectativa em 2017 página

30 RODOVIÁRIO

Estudo da CNT aponta os problemas das restrições aos caminhões

Soluções para o transporte CAPA ARQUIVO CNT

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CONSELHO EDITORIAL Bruno Batista Helenise Brant João Victor Mendes Myriam Caetano Nicole Goulart Olívia Pinheiro

esta revista pode ser acessada via internet:

edição

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diagramação

atualização de endereço:

atualizacao@cnt.org.br

Débora Shimoda

Publicação da CNT (Confederação Nacional do Transporte), registrada no Cartório do

revisão

1º Ofício de Registro Civil das Pessoas Jurídicas do Distrito Federal sob o número 053.

Filipe Linhares

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AQUAVIÁRIO

EDIÇÃO INFORMATIVA DA CNT

Cynthia Castro - MTB 06303/MG Livia Cerezoli - MTB 42700/SP

página

Controvérsias sobre o transporte de cargas vivas página

40 INICIATIVA

Federações desenvolvem ações sustentáveis

Tiragem: 60 mil exemplares

Os conceitos emitidos nos artigos assinados não refletem necessariamente a opinião da CNT Transporte Atual

página

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AGÊNCIA CNT DE NOTÍCIAS: INFORMAÇÕES RELEVANTES PARA O TRANSPORTE AÉREO

Transporte de cargas enfrenta desafios, apesar de crescimento dos últimos anos página

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ECONOMIA

Setor de transporte apresenta recuperação em 2017 página

52 SEST SENAT

Polo Olímpico promove transformação social página

O setor cada vez mais conectado.

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INOVAÇÃO

Revolução tecnológica é tema de evento em São Paulo página

Acesse: www.cnt.org.br

66 TECNOLOGIA

Seções Duke

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Editorial

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Mais Transporte

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Boas Práticas

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CIT

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Tema do mês

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Alexandre Garcia

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Encontro debate soluções para a implantação de cidades inteligentes página

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Ao longo desta edição, você vai encontrar vários QR Codes como este. Para acessar o conteúdo multimídia, basta direcionar a câmera do celular ou utilizar um aplicativo próprio.

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Duke

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“Iniciamos uma estratégia de modernização com uma série de ações de aprimoramento da gestão e de estímulo à inovação no transporte” EDITORIAL

CLÉSIO ANDRADE

Caminhos para a inovação

O

acelerado desenvolvimento tecnológico que o mundo está vivendo tem levado a rápidas e profundas transformações na economia, nos negócios e nas formas de organização da sociedade contemporânea. No setor transportador, a revolução tecnológica anuncia um futuro quase inimaginável dado o ritmo exponencial das inovações que vêm sendo realizadas tanto nas máquinas quanto na gestão dos sistemas de transporte. Empresários, cientistas e futurólogos que atuam no setor garantem que esse é só o começo. Em poucos anos, as atividades de transporte e de logística estarão completamente mudadas pela automação, pela inteligência artificial, pela internet das coisas e por outras tecnologias que ainda sequer conseguimos vislumbrar. A CNT, o SEST SENAT e o ITL estão empenhados em trazer esse novo mundo para a realidade das empresas e dos trabalhadores do transporte no Brasil. Nos últimos 25 anos, o setor cresceu e se profissionalizou. Agora, é o momento de dar um novo salto, que será definido pela nossa capacidade de acompanhar as grandes mudanças em curso. Nos últimos anos, iniciamos uma estratégia de modernização que, agora, vem se concretizando em uma série de ações de aprimoramento da gestão e de estímulo à inovação no transporte. Instalamos escritórios da CNT na China e na Alemanha e fizemos a conexão das nossas instituições com empresas e entidades que estão na fronteira tecnológica, como o Vale do Silício, nos Estados Unidos. Hoje, parcerias com universidades globais, como a Singularity e a Stanford, ambas dos EUA, nos permitem participar de processos de inovação em diversas áreas de conhecimento. Essa vivência está formando

novos quadros para o setor transportador ao mesmo tempo em que nos ajuda a encontrar soluções para o desenvolvimento do transporte no Brasil. Nessa direção, temos em andamento o Conecta, programa de tração de startups que tenham projetos inovadores para o transporte, desenvolvido em parceria com o BMG UpTech. Essa é uma nova fase de modernização e fortalecimento do transporte brasileiro em busca de soluções para melhorar a prestação de serviços à sociedade. Na área de gestão, estamos investindo fortemente na formação de lideranças inovadoras, junto com a Fundação Dom Cabral, uma das principais escolas de negócios do mundo. Também trouxemos para o Brasil a maior universidade do mundo especializada em aviação, a Embry-Riddle Aeronautical University, para a formação de profissionais com foco em Gestão de Aviação, algo inédito no Brasil. Outro avanço é a primeira turma do curso de Certificação Internacional em Gestão de Sistemas Ferroviários e Metroferroviários, ministrada pela renomada Deutsche Bahn Rail Academy, líder mundial em educação na área de mobilidade de passageiros e logística. As novas tecnologias também estão ao alcance de motoristas e demais trabalhadores do transporte. Estamos expandindo a presença do SEST SENAT em todo o Brasil. Até 2019, serão 203 Unidades Operacionais. A maioria estará equipada com modernos simuladores de direção híbridos e com simuladores de operação de empilhadeiras. Esse é o movimento que estamos fazendo em todas as direções para que o setor transportador brasileiro possa estar apto para o futuro, com o objetivo de participar das transformações do transporte e oferecer ao Brasil e aos brasileiros as melhores alternativas em mobilidade de passageiros e de cargas.


“A inovação para o transporte no Brasil não é apenas uma questão tecnológica, mas, também, econômica e social” MARTIN CARNOY

ENTREVISTA

PROFESSOR DA UNIVERSIDADE DE STANFORD

É necessário ter visão clara de futuro por NATÁLIA

E

m um período de incertezas e transformações tecnológicas, torna-se desafiador saber como direcionar investimentos, em quais modelos de negócios apostar e como preparar pessoal com as competências necessárias para desempenhar novas e diversas atividades. No setor transportador, para enfrentar esse desafio e ter bases mais sólidas para a tomada de decisões, é crucial ter uma clara visão de futuro, segundo o professor de economia e educação da Universidade de Stanford, Martin Carnoy. Para ele, o transporte é fundamental para o desenvolvimento do Brasil e, por isso, com planejamento

e inovação, será decisivo para transformar a realidade social e econômica do país. Ciente disso, o setor trabalha na construção de um roadmap, em uma ação capitaneada pelo ITL (Instituto de Transporte e Logística), com apoio do Fórum de Inovação do Transporte, grupo criado pelo Sistema CNT (Confederação Nacional do Transporte) que conta com representantes de todos os modais para pensar o presente e o futuro da atividade transportadora brasileira. A formação de profissionais para desempenhar as novas funções decorrentes do desenvolvimento de tecnologias é um dos temas que requer atenção.

PIANEGONDA

Em entrevista à revista CNT Transporte Atual, Carnoy, que é pesquisador da educação no Brasil, considera que as deficiências no ensino formal geram impactos sobre o setor produtivo, como maiores dificuldades em realizar treinamentos e em contratar pessoal com a qualificação necessária. Para ele, a educação será priorizada pelo poder público se a sociedade demandar que isso efetivamente ocorra. Ele, também, destaca a importância de se preparar professores para que ensinem os alunos a aprender, a fim de que estes possam desenvolver seu potencial ao adquirirem novas competências e habilidades ao longo da vida.

O professor foi um dos palestrantes do Workshop Inovar, Capacitar, Avançar, uma iniciativa da CNT promovida pelo SEST SENAT, em março deste ano, para empresários do transporte e representantes da área de desenvolvimento profissional da instituição. Novas tecnologias prometem revolucionar cada vez mais modelos e sistemas que existem atualmente. É o caso do hyperloop (sistema de transporte de alta velocidade que corre por meio de um tubo de baixa pressão), por exemplo. Qual a sua opinião sobre as tecnologias e o impacto que podem gerar sobre o transporte?


ARQUIVO CNT

“Transformar sistemas de transporte pode criar oportunidades a milhões de pessoas”

Depende de que transporte estamos falando. No Brasil, o principal modal é o rodoviário. Quando pensamos nas tecnologias utilizadas para se construir rodovias, elas são mais ou menos lineares, pois não existem muitas novas formas que possam causar mudanças significativas. É necessário compreender esse cenário para refletir sobre os impactos que as novas tecnologias terão sobre o setor. Eu acredito que a tecnologia que mais pode impactar o setor e a que o transporte pode utilizar para se desenvolver é a informação, com coleta e análise de dados. Isso poderá ser utilizado para tornar todo o setor mais eficiente. Um exemplo

da aplicação disso ocorre no trânsito das cidades, em que esse tipo de tecnologia se faz muito necessário, e eu acredito que, seguramente, em cinco ou dez anos, chegará de forma mais consistente às grandes cidades brasileiras. Com informação, é possível melhorar o fluxo de tráfego nas zonas urbanas, controlar o trânsito, adotar sinais que operem automaticamente, planejar sistemas de transporte público mais adequados e que utilizem os dados para gerar esse movimento. Outro aspecto importante é que esse tipo de inovação demanda novos profissionais para novos tipos de trabalho. Com tudo isso é possível, por exemplo, dese-

nhar uma rede de transporte que reduza o tempo de deslocamento casa-trabalho-casa, gerando impactos sobre toda a sociedade. Ou seja, a inovação para o transporte, no Brasil, não é apenas uma questão tecnológica, mas, também, econômica e social. As novas tecnologias estão transformando radicalmente modelos de negócios, processos e métodos para se realizar atividades cotidianas. Com o transporte não é diferente. Diante de tantas mudanças, fica difícil saber como alocar investimentos, pois eles podem ficar rapidamente defasados. Como é possível enfrentar esse desafio?

Novamente, eu acredito que informação é essencial. A informação pode auxiliar a saber melhor como planejar modelos de transporte. Alguns dados afetam o desenho dos sistemas. O monitoramento e a análise de dados ajudam a antecipar tendências e a definir, de forma mais adequada, como alocar os recursos. A adoção de novas tecnologias exige um investimento maior em capital humano? Parte significativa dos investimentos deverá ocorrer em novas capacidades, em novas competências humanas. Embora a maioria das tecnologias seja de fora, o planejamento dos novos sistemas de trans-


porte deve ser feito em casa. É necessário ter pessoas que pensem nisso. Deve-se preparar executivos para a próxima geração de tecnologias e para a tomada de decisões. É preciso preparar engenheiros para projetar o sistema de transporte do século 21, treinar os técnicos que instalarão, operarão e farão a manutenção de novos sistemas e de novos equipamentos. Mas as pessoas precisam ser ensinadas a aprender. Nos estudos da economia da educação, existem alguns axiomas. Um deles é que, quanto mais abstrato o conhecimento, mais importante é a interação face a face para que ele seja ensinado. Agora, quanto mais específico for, mais importante é o contato com a tecnologia, porque é difícil ensinar as pessoas sobre como operar uma máquina sem que elas tenham contato com o equipamento. Porém, as pessoas precisam saber como aprender, porque o computador não ensina sozinho. Então, professores e instrutores ainda serão a chave. Outra questão essencial é pensar de onde os recursos físicos e humanos virão para construir a capacidade humana. Como muitas tecnologias vêm de fora, é importante saber se o treinamento das pessoas deve ser feito com equipamentos disponíveis aqui ou em outros países, o que custa caro, ou se deve ser feito por quem fornece os equipamentos.

O senhor já realizou estudos aprofundados sobre o sistema educacional brasileiro. Acredita que é um sistema eficiente? E de que forma sua configuração pode afetar o desenvolvimento do país, tendo em vista o cenário de mudanças disruptivas, que requerem competências diversas para adaptação às transformações? Deve-se ter uma certa cautela ao pensar que o sistema de educação de um país determina o que se passa na sociedade e na economia. O sistema de educação é produto da economia e do sistema social. No Brasil, aparentemente, a sociedade não considera que o sistema de educação é muito importante, e essa realidade é observada, por exemplo, na forma como não se investe muito em professores e na planta física das escolas. Além disso, a sociedade é desigual: em geral, os alunos que estão nas escolas públicas, na maioria das vezes, vêm de famílias com renda de três salários mínimos ou menos. Todas as condições de suas vidas entram nas escolas com eles, como saúde, nutrição, condições de habitação. Tudo isso é parte do problema. Então, não se trata apenas do sistema de educação, mas de um sistema social ineficiente. Como não se investe em educação, os professores não são bem formados, não têm capacidade de ensinar as crianças e, até nas escolas privadas, essas dificul-

dades são observadas. O custo de tudo isso é alto. Tudo isso faz o desenvolvimento econômico e social ser mais difícil. Também é complicado para as empresas, porque treinar um jovem que sai desse tipo de situação é muito mais difícil. A questão é: como passar dessa realidade para uma situação diferente, sabendo que não se trata apenas de educação, mas de todo o sistema social? A educação toma muito tempo para ser mudada, mas o transporte pode criar novas oportunidades e dar igualdade. Em curto prazo, intervir no transporte é mais fácil do que na educação e pode gerar efeitos enormes sobre milhões de pessoas. Projetos de transporte mudam a realidade das pessoas. Transformar sistemas de transporte pode criar oportunidades a milhões de pessoas. Gostaria de trazer essa discussão mais diretamente para o setor de transporte. Pensando nos desafios que ele terá para incorporar e se adaptar a novas tecnologias e a um mercado cada vez mais exigente, quais são as implicações e o que deve ser feito, na sua opinião? Tenho dito que é muito importante criar uma visão para o setor a fim de saber para que tipo de futuro é necessário preparar as pessoas. Até é possível mudar essa visão depois, mas é preciso que ela seja criada agora, a fim de que se possa saber o que é necessário para

“O SEST SENAT faz coisas para quem gera os empregos, então, é mais fácil saber exatamente quais são as necessidades do setor privado e, a partir daí, ter um impacto direto”

melhorar o sistema. Há quem acredite que isso deve ser pensado somente sob o aspecto tecnológico. É fato que temos a tecnologia para resolver muitos problemas e que podemos aplicá-la. Mas só isso não basta. Para pensar e planejar os próximos 20 anos, 30 anos, deve-se pensar além disso, tendo em vista a relevância do transporte para todo o desenvolvimento econômico e social do Brasil. É importante pensar na distribuição da população no território, na distribuição de serviços e


ARQUIVO SEST SENAT

blemas, acredito que criará as condições para incluir políticas mais inovadoras. O problema é que o poder público não é muito informado. Esse é o grande problema da democracia.

SEST SENAT oferece treinamentos com simuladores de direção

de renda. Por exemplo, pode-se considerar que uma forma de igualar as oportunidades é construir um sistema de transporte nas cidades que favoreça mais as comunidades de baixa renda. Um transporte sofisticado, público, inclusivo, que ajude as pessoas a chegarem ao trabalho e a acessarem serviços. Onde moram as pessoas, quais são os seus trajetos e suas viagens, quais são as barreiras que enfrentam, essas informações devem ser pensadas para planejar o futuro e decidir quais

são os sistemas de transporte e de controle que ajudarão a resolver os problemas. Dessa forma, voltamos à questão da relevância da informação para o planejamento do setor. O senhor cita a relevância de se ter uma visão de futuro para o transporte brasileiro. O setor privado não pode trabalhar completamente à parte do público. Como construir melhor uma visão conjunta entre governo e iniciativa privada se o go-

verno se mostra refratário a incorporar inovações e a compartilhar decisões? Sim. A resistência a inovações é um problema do setor público, pois ele está acostumado a fazer certas coisas de uma forma e não quer mudar. Mas podemos pensar que há muitas companhias que, também, são resistentes a inovações. Além disso, nem todas as inovações são boas. Destaco, novamente, a questão da informação: se o poder público for muito informado sobre certos pro-

Voltando à questão da educação e da formação profissional, o senhor defende que o ensino e o desenvolvimento de conhecimentos genéricos, abstratos, deve ser responsabilidade do poder público, e que o ensino do conhecimento especializado deve ocorrer no âmbito do setor privado. Qual pode ser o protagonismo do SEST SENAT, pensando na qualificação e na atuação para o futuro? Formar jovens pelo SEST SENAT, que tem parceria com empresas privadas, é melhor do que formar jovens por escolas vocacionais, que não têm relação direta com a indústria privada. Isso porque o SEST SENAT faz coisas para quem gera os empregos, então, é mais fácil saber exatamente quais são as necessidades do setor privado e ter um impacto direto. De certa forma, o SEST SENAT funciona como o investimento que pode ser feito pelas empresas privadas, individualmente, porque é algo muito específico. Ao pensar no futuro do setor, creio que o SEST SENAT pode preparar as pessoas para que aceitem mais facilmente novas tecnologias e novas ideias, além, é claro, de trabalhar a questão da segurança, que também é importante.


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AURORA/DIVULGAÇÃO

MAIS TRANSPORTE Férias no espaço

Se você pretende visitar um lugar diferente, o espaço virou uma opção. A Estação Aurora, criada pela startup de tecnologia espacial Orion Span Inc., é o primeiro hotel espacial de luxo do mundo. Durante a estadia, o viajante ficará na órbita terrestre baixa dando uma volta na Terra a cada 90 minutos, o que irá proporcionar uma média de 16 amanheceres e 24 pores do sol a cada 24 horas. Para ter direito a 12 diárias com tudo incluso, o turista terá que desembolsar US$ 9,5 milhões ou cerca de R$ 30,6 milhões. Mas corra! Para garantir o seu nome na lista de espera, é preciso desembolsar US$ 80 mil ou R$ 272 mil, e a Aurora só terá espaço para seis turistas.

Primeiro Hyperloop em escala real HYPERLOOP/DIVULGAÇÃO

A Hyperloop Transportation Technologies anunciou, em abril, a construção do primeiro sistema de transporte em cápsulas na cidade de Toulouse, na França. Com previsão de início das operações para 2019, o sistema poderá levar pessoas ou produtos em tubos de baixa pressão, que

se movimentam por levitação eletromagnética, podendo alcançar 1.200 km/h. A primeira fase do projeto prevê a construção de um sistema de 320 metros ainda em 2018; a segunda fase terá 1 km de extensão e altura de 5,8 metros e será construída em 2019.


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Inspeção veicular obrigatória suspensa O Denatran (Departamento Nacional de Trânsito) suspendeu a resolução do Contran (Conselho Nacional de Trânsito) que previa a obrigatoriedade da Inspeção Técnica Veicular para renovação do licenciamento anual dos veículos. A decisão foi publicada no Diário Oficial da União, no início de abril. A medida foi solicitada pelo setor transportador por meio de uma atuação conjunta entre a CNT (Confederação Nacional do Transporte) e a ABTC (Associação Brasileira de Logística e Transporte de Cargas). De acordo com o presidente da associação, Pedro Lopes, é importante que se rediscuta a maneira como a inspeção será feita, observando pontos relevantes, como o aumento do custo aos transportadores. “Acreditamos na importância da inspeção veicular para a prestação dos serviços de transporte, mas é preciso cuidado na definição de quais empresas estão aptas a realizá-la.” Ele destaca que a CNT e o SEST SENAT já desenvolvem, desde 2007, o Despoluir – Programa Ambiental do Transporte, que tem como base de uma de suas ações a avaliação veicular, em que são medidos os índices de partículas emitidas por caminhões e ônibus. Em dez anos, o programa já

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atendeu cerca de 43 mil transportadores e realizou mais de 2,2 milhões de avaliações veiculares. A exigência da inspeção veicular estava prevista na resolução nº 716 do Contran, publicada em novembro do ano passado, e passaria a valer a partir de 1º de julho deste ano, data-limite para os Detrans (Departamentos de Trânsito) enviarem ao

Denatran um cronograma para a realização dos procedimentos. Ainda segundo o texto da resolução agora suspensa, todas as Unidades da Federação teriam até o fim de 2019 para estarem plenamente adequadas para a realização das inspeções. Entre os motivos da suspensão, está a necessidade de se definirem os requisitos para elaboração do cronograma

pelos Detrans. “Estamos sempre atentos às demandas dos Detrans, que são nossos parceiros na fiscalização das leis de trânsito, e entendemos que esse processo precisa passar por um debate mais aprofundado para que possamos aplicá-lo da melhor maneira possível, com o mínimo de transtorno à população”, afirma o diretor do Denatran, Maurício Alves.


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MAIS TRANSPORTE Mais rigor para quem dirigir bêbado FOTOS ARQUIVO CNT

Motoristas embriagados ou drogados que causarem acidentes com vítimas no trânsito serão punidos com mais rigor. Desde o dia 19 de abril, estão valendo as alterações no CTB (Código de Trânsito Brasileiro), sancionadas em dezembro de 2017. A mudança define que condutores bêbados enquadrados por homicídio culposo (sem intenção de matar) cumpram pena de cinco a oito anos de prisão, além de terem o direito de dirigir suspenso ou

cassado. A pena anterior era de dois a quatro anos. As regras ficaram mais rígidas, porque, antes, o delegado responsável pelo flagrante podia estipular uma fiança e liberar o motorista imediatamente. Agora, apenas um juiz poderá decidir pela liberdade ou não do motorista, seja por meio de habeas corpus, pedido de liberdade provisória ou de relaxamento da prisão. Nos casos em que há lesão corporal culposa (feridos sem

intenção), a punição para o motorista passou de seis meses a dois anos para dois a cinco anos. Nesses casos, o delegado também não poderá conceder fiança. Nada muda com relação a multas e punições administrativas aos motoristas flagrados bêbados caso tenham se envolvido em acidente ou não. A punição para quem for pego no bafômetro é multa de R$ 2.934,70, além da suspensão da carteira de habilitação por um ano. E é a mesma para quem se recusa a fazer o teste.

sobre energias renováveis e mobilidade. O Energy é equipado com placas solares e não emite gases de efeito estufa ou partículas finas. Transformado a partir de um

antigo barco de corridas, é impulsionado por propulsão elétrica devido à mistura de energias renováveis e ao sistema de produção de hidrogênio sem carbono.

Manobras agressivas A nova redação da lei também transforma em crime a “exibição ou demonstração de perícia” ao volante, no mesmo artigo que fala sobre “corrida, disputa ou competição automobilística não autorizada”, os famosos “rachas”. Essas exibições e manobras envolvem: realizar “cavalo de pau”, acelerar “cantando” os pneus, empinar moto ou fazer qualquer manobra radical que crie

alguma situação de risco. Antes, essas manobras agressivas sem vítimas estavam sujeitas apenas a multa (R$ 2.934,70) e a suspensão da habilitação, mas, agora, o motorista também pode ser condenado à prisão de seis meses a três anos. Em casos com feridos graves, a pena é de três a seis anos de prisão. Se houver morte, a reclusão passa de cinco a dez anos.

Água do mar como combustível Um barco capaz de produzir hidrogênio a partir da água coletada do mar. Esse é o Energy Observer, a primeira embarcação ecologicamente autossustentável do mundo

que partiu do Porto de Marselha, na França, no fim de março. A viagem terá duração de seis anos e passará por 50 países para sensibilizar as pessoas


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Produção de caminhões avança 55% ARQUIVO CNT

A produção de caminhões cresceu 55% no primeiro trimestre de 2018 em relação ao mesmo período de 2017, segundo dados da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes e Veículos Automotores). No período, foram entregues 24,4 mil unidades contra 16 mil no ano passado. Apenas

no mês de março, as linhas de produção cresceram 28% sobre o total feito em fevereiro, ao atingirem 9.900 unidades. Em relação a março de 2017, o volume foi 67% maior. As exportações também mostraram crescimento de 25,3% na comparação anual.

Compartilhamento de voos KING AIR/DIVULGAÇÃO

Viajar na comodidade de jatinhos ou helicópteros pode estar a um clique. O aplicativo Flapper, sistema de compartilhamento de voos não comerciais, permite dividir um trecho com outras pessoas que seguem para o mesmo destino. Os voos são postados com horário sugerido de partidas, e os dois primeiros passageiros

podem fixar o horário exato de saída. O usuário ainda pode escolher a aeronave, a quantidade de assentos, o horário do voo disponível e a forma de pagamento. Com rotas que ligam São Paulo ao Rio de Janeiro e Búzios a Angra dos Reis, as viagens têm preço médio de R$ 750, nos trechos entre as capitais; e de R$ 300 e R$ 600, nas cidades do litoral.

Do Rio a Minas Um novo trem turístico deve entrar em operação no Brasil, no segundo semestre deste ano. O passeio do Trem RioMinas vai ligar as cidades de Três Rios (RJ) a Cataguases (MG) em um percurso de 120 km que passará por oito estações. As viagens do Rio-

Minas serão realizadas aos sábados, domingos e feriados. A composição, com capacidade para transportar 560 passageiros, terá um vagão gerador, dois com lanchonete/ restaurante, cinco para a classe turística e um para pessoas com deficiência.

ONG AMIGOS DO TREM/DIVULGAÇÃO


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MAIS TRANSPORTE Terminais portuários serão leiloados em julho A Antaq (Agência Nacional de Transportes Aquaviários) aprovou o edital de concessão e marcou para 27 de julho o leilão de mais três terminais portuários. Dois estão localizados no Porto de Paranaguá (PR) – um para movimentação de carga geral de origem florestal, especialmente papel e celulose, e um para veículos – e um localizado no Porto de Itaqui (MA), destinado à movimentação de carga geral de origem florestal (papel e celulose). Os três arrendamentos preveem investimentos de R$ 381,9 milhões, a serem efetivados pelos novos arrendatários durante o período de vigência dos contratos. O terminal de Paranaguá, que é destinado a cargas vegetais, ocupa uma área de 27.530 m2. O prazo do contrato é de 20 anos, prorrogável por até 70 anos. Ao longo do período do contrato, o novo

PORTO PARANAGUÁ/DIVULGAÇÃO

arrendatário deverá realizar investimentos de R$ 87 milhões no terminal. No mesmo porto, o terminal para movimentação de veículos que será leiloado tem área de 170.200 m2. O vencedor do leilão deverá investir R$ 80 milhões em equipamentos e edificações a serem utilizados nas operações de embarque e desembarque. O prazo do contrato é de 18 anos, prorrogável por até 70 anos. Já o terminal de Itaqui, que irá movimentar papel e celulose, deve receber R$ 214,8 milhões de investimentos. Entre as obras que devem ser executadas, estão um desvio ferroviário e um acesso marítimo por meio do berço 99 do porto. O contrato é de 25 anos, mas pode ser prorrogado por até 70 anos.

Pará A Antaq também abriu consulta e audiência públicas para obter contribuições para a realização dos leilões de seis terminais portuários destinados à movimentação de granéis líquidos no Pará.

Cinco deles estão localizados no Porto de Belém e um, no Porto de Vila do Conde. Os interessados podem enviar subsídios e sugestões a fim de aprimorar as minutas

do edital de licitação, do contrato de arrendamento e dos documentos técnicos referentes à licitação. Os documentos, que são objetos da Consulta Pública nº 1/2018, estão disponíveis

no portal da agência (ww.antaq.gov.br). A contribuições podem ser enviadas até as 23h59 do dia 18 de maio, exclusivamente por meio de formulário eletrônico.


Voando para e

salvar

transformar Volt.Ag

cada vez mais vidas

Foto: Arquivo ABEAR

VEJA COMO A INICIATIVA ASAS DO BEM AJUDA A TRANSFORMAR VIDAS

O sucesso de um transplante depende do tempo entre a captação de um órgão doado e a realização da cirurgia no receptor. A iniciativa Asas do Bem transporta gratuitamente órgãos e equipes médicas nos aviões das companhias associadas à ABEAR e ajuda a salvar 7 mil vidas por ano no Brasil.

abear.com.br


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BOAS PRÁTICAS NO TRANSPORTE

Motivação profissional por

U

ma equipe motivada produz mais e melhor, já que essa condição está relacionada ao nível de satisfação dos profissionais quanto à organização em que atuam. Trabalhadores motivados possuem clareza sobre o propósito de suas atividades, contribuindo para o seu desenvolvimento profissional e agregando valor à empresa. É com base nesses princípios que a TA (Transportadora Americana) – que atua nas operações de transporte rodoviário, aéreo e de armazenagem e conta com um quadro de 1.400 empregados efetivos – desenvolve programas de qualidade de vida e ações que visam manter seus colaboradores atualizados e valorizados no ambiente de trabalho.

DIEGO GOMES

Para o gerente de recursos humanos da empresa, Márcio Oliveira, o empregado deve ser tratado de maneira individual, pois cada um tem talentos, anseios e expectativas próprias perante a carreira e a vida pessoal. Um dos carros-chefes da empresa dentro dessa política é o Programa Valer, em que profissionais da área operacional são reconhecidos quando alcançam as metas estabelecidas. “A gente entende que um auxiliar de transporte pode se tornar um conferente para, depois, ser um motorista truck e, então, chegar ao cargo de motorista de carreta. Para isso, existem as metas, que são medidas periodicamente, e, a depender do resultado, pode haver um acréscimo no salário de até 2%. Por função, é

possível receber até 6% a mais de salário.” Para os condutores de carreta, a TA realiza o programa Motorista Nota 10, por meio do qual são beneficiados os profissionais que ‘andaram na linha’ e foram avaliados com nota dez durante o mês. Todos os motoristas – com, no mínimo, cinco viagens mensais de transferência – são avaliados em seis indicadores: cumprimento do tempo de trajeto; faltas injustificadas; faltas com atestados médicos; envolvimento em acidentes; multas de responsabilidade do motorista; e punições por excesso de velocidade. A partir de um sistema de pontuação, os profissionais podem ganhar até R$ 240 a mais no cartão alimentação. Quem realiza esse monitoramento e essa

avaliação é uma comissão do transporte, que se reúne para analisar os acidentes ocorridos com veículos de produção ou agregados da TA, além de desenvolver programas internos de ações corretivas e preventivas. “Por meio de incentivos, buscamos reduzir o número de acidentes, melhorar a performance e diminuir os custos com os veículos.” Segundo Oliveira, desde que foi implementada, em 2011, a iniciativa contribuiu para reduzir o número de ocorrências com colisões laterais, frontais, traseiras e tombamentos. No primeiro ano, foram 90 e, no ano passado, 57. A longevidade dos trabalhadores, também, é valorizada na organização. O Prêmio ViTA é uma homenagem aos profissio-


Transportadora Americana desenvolve programas de qualidade de vida e ações motivacionais para manter empregados atualizados e valorizados no ambiente de trabalho nais que completam cinco anos de casa. “Essa é uma maneira de expressar agradecimento pela dedicação e pelo profissionalismo, considerados essenciais para o crescimento e as conquistas da empresa.” Ainda no campo da qualidade de vida, a TA mantém uma academia à disposição dos seus empregados, a fim de estimular a prática de atividades físicas. “Contamos com equipamentos de musculação, aula de circuito e zumba. Acreditamos que a prática regular de exercícios físicos proporciona benefícios que se manifestam sob todos os aspectos do organismo, físico e mental.” Além disso, há uma biblioteca com acervo que contempla literaturas e estilos variados de modo a atender

todos os públicos. Durante o ano, algumas ações culturais também são realizadas com os filhos dos colaboradores, como concurso de redação e desenho, piquenique sustentável, brincadeiras de rua, contação de histórias. “Esse é o tipo de ação que possibilita aos filhos conhecerem o local de trabalho dos pais.”

surgem durante o ano. A empresa disponibiliza veículos para prestação de serviços a ações sociais e a instituições carentes sem cobrança de frete. A empresa e os seus colaboradores também promovem arrecadação de roupas para campanhas do agasalho e presentes que são doados a entidades ou comunidades carentes.

Transporte solidário Segundo Márcio Oliveira, outra forma de manter o engajamento das equipes é a responsabilidade social. A TA incentiva o voluntariado entre os colaboradores, envolvendo-os em campanhas sociais e culturais, assim como em ações pontuais diante de catástrofes, acidentes ou necessidades excepcionais que

Capacitação Outro elemento imprescindível ao bom clima organizacional, à luz da visão institucional da Transportadora Americana, é o investimento na gestão do conhecimento. A empresa desenvolve soluções em treinamento e desenvolvimento alinhadas às estratégias corporativas e, dessa forma, promove a consolida-

ção da sua cultura, a excelência no atendimento e o desenvolvimento contínuo. “Ao ingressar na empresa, os colaboradores recebem treinamentos para aderência à cultura da empresa, procedimentos e outras informações importantes para a execução de suas funções”, explica Márcio Oliveira. Segundo o chefe do RH da transportadora, são oferecidos, posteriormente, temas para o aprimoramento de competências e atendimento de requisitos legais. Para os líderes, é ofertado o Programa de Desenvolvimento, composto por diversas etapas, e cujos objetivos são capacitar e atualizar as ferramentas de gestão, estratégias e caminhos para a l superação de desafios.


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REPORTAGEM DE CAPA

Soluções CNT lança o Conecta, programa para atrair startups com ideias inteligentes que promovam inovação no setor de transporte; vencedoras serão capacitadas nos Estados Unidos por

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isrupção: ato de romper, de interromper o curso natural de um processo, segundo o dicionário Aurélio de língua portuguesa. No mundo empreendedor, o termo vem sendo utilizado frequentemente para definir projetos que apresentem algum tipo de ruptura com os padrões adotados no mercado tradicional e que tragam soluções competitivas frente às necessida-

EVIE GONÇALVES

des do momento. O setor de transporte enfrenta o desafio da inovação e, para isso, vem pensando em tecnologias que rompam com as barreiras do passado e que tenham os ideais do futuro como uma realidade contemporânea. Para tanto, a CNT (Confederação Nacional do Transporte) lançou, em abril, o programa Conecta – Impulso a Startups. Em parceria com o BMG UpTech, a iniciativa

visa selecionar empresas que desenvolvam soluções inteligentes para promover a inovação e a superação dos desafios do setor de transporte e logística no Brasil. “Vivemos em um momento em que a tecnologia está cada vez maior. Já estamos passando por grandes rupturas no modo de fazer o transporte. Precisamos estimular, ainda mais, o desenvolvimento de novas ideias, deixando o setor conectado

com o que vem sendo implementado em todo o mundo. O programa Conecta está alinhado a esse pensamento”, observa o presidente da entidade, Clésio Andrade. O processo total do Conecta deve durar dez meses. Na primeira fase, prevista para ser encerrada em meados de maio, as 50 startups selecionadas tiveram de apresentar distintas tecnologias voltadas a todos os modais do setor.


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conectadas A segunda fase deve ocorrer até julho. Na fase seguinte, até novembro, haverá uma triagem de 25 startups, que desenvolverão soluções de transporte. A última etapa do programa acontece em dezembro, com a seleção das cinco empresas vencedoras. Além do BMG UpTech, o Conecta também conta com o apoio da Bossa Nova Investimentos e da Nxtp.Labs. Outra parceira é a Fundação

Dom Cabral, que vai oferecer consultoria a partir da segunda etapa do processo, quando as 50 empresas selecionadas passarão por um treinamento presencial no campus da instituição, em Belo Horizonte (MG). Na fase seguinte, ocorrerão oito encontros presenciais de dois a três dias cada, também na capital mineira. O grande diferencial do programa, entretanto, será experimentado pelas cinco empresas ven-

cedoras, que vão passar por um treinamento de um mês na sede da Plug In Play, empresa localizada no Vale do Silício, nos Estados Unidos. “A Fundação Dom Cabral vai entrar com um programa de gestão para que as empresas melhorem suas formas de administrar, mostrando caminhos que elas podem percorrer no processo. Dentro desse programa, também vamos trazer startups e profissionais da

área de finanças e de contabilidade para poder ajudar. Esses momentos são muito interessantes para as empresas interagirem”, avalia o diretor da CNT para assuntos internacionais, Harley Andrade. De acordo com ele, o Conecta é um programa de tração. A intenção é trabalhar com startups que já tenham algum tipo de consolidação no mercado, além de clientes, mas que ainda não


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tenham penetração no setor. “A gente está investindo em empresas que têm um grau de maturidade maior, porque trabalhar com incubadora leva tempo e demanda muito investimento. Boa parte dessas empresas se perdem pelo caminho. Como o mundo está em uma transformação grande, a Confederação quer soluções com alguma viabilidade”, ressalta. “Podem vir, por exemplo, ideias de aplicativos que melhoram a eficácia do motorista, alguma solução para mobilidade urbana e também para o aquaviário e o aéreo. Não pretendemos limitar a criatividade das empresas”.

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O CEO do Grupo BMG, Rodolfo Santos, explica que o investimento em startups pode gerar um resultado mais eficaz para o setor. “O modelo está disseminado no mundo inteiro. São empresas que atuam no mercado de forma focada. Coisas que a gente não consegue fazer em uma empresa comum, tem alguém pensando de forma prática, simples e com muita eficácia nas startups. A nossa ideia é entrar no mundo do transporte, identificar quais são os problemas que precisam ser resolvidos e ir ao mercado para tentar resolvê-los da melhor forma possível”, explica. Ele cita como exemplo o caso da Kodak, que foi uma das

"Já estamos passando por grandes rupturas no modo de fazer o transporte e precisamos estimular, ainda mais, novas ideias" CLÉSIO ANDRADE, PRESIDENTE DA CNT

INSTITUCIONAL

Transportadores estão otimistas com iniciativa da CNT Os transportadores representantes de todos os modais comemoraram o lançamento do programa Conecta e acreditam que ele trará as inovações que o setor precisa. Para Francisco Cardoso, presidente da ABTI (Associação Brasileira de Transportadores Internacionais), a proposta da CNT vem no tempo certo. “Alguns empresários ainda não conseguiram entender o momento de transformação. A gente sempre acha que a disrupção nunca vai acontecer com a gente, que está longe,

mas temos um inimigo invisível de fora. Quem não inovar vai ficar para trás”, alerta. Cardoso explica que o modal rodoviário de cargas carece de mudanças substanciais, como a chegada de aplicativos móveis e plataformas de frete que reduzam a ociosidade dos caminhões, que varia entre 30% e 40%, segundo ele. “Com essas tecnologias, as empresas podem compartilhar seus ativos tornando produtivas tanto a jornada do motorista quanto a utilização do seu equipamento”. Para

ele, o diferencial do Conecta é executar grandes ideias dos empreendedores, dando a eles mentoria e investimentos para acelerar seus negócios. Dimas Barreira, conselheiro da NTU (Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos), acredita que existe uma grande diferença de postura entre quem age e quem quer que o mundo fique como era no passado. No setor rodoviário de passageiros, por exemplo, ele fala sobre a necessidade de soluções que flexibilizem a execução

dos serviços. “A tecnologia vai garantir manutenção com mais facilidade e também vai permitir atender demandas de maneira mais objetiva”, observa. Outra possibilidade, de acordo com ele, é a interação com os usuários por meio dos smartphones. “A tecnologia já está transformando o setor e vai modificar ainda mais a maneira que a gente oferece o serviço. Precisamos estar preparados para isso”, ressalta. De acordo com o presidente da ANPTrilhos (Associação Nacional dos Transportadores


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FOTOS ARQUIVO CNT

empresas de fotografia mais famosas do mundo por 50 anos. “A câmera digital foi criada lá dentro e, quando foi apresentada ao presidente, ele não apoiou porque estava apegado à ideia do filme. Abandonaram o projeto e alguém de fora acabou criando. A startup tem um poder de entender o que o cliente quer. A Kodak não entendeu o que o cliente dela queria. Ele não queria um pedaço de papel, mas, sim, guardar momentos inesquecíveis. Então, é isso que a gente está buscando: identificar problemas no setor de transporte e logística e trazer startups para resolver isso.” Atualmente, o Brasil conta com cerca de 4.200 startups,

de Passageiros sobre Trilhos), Joubert Flores, as soluções tecnológicas são o futuro da mobilidade urbana. Ele explica que, geralmente, os usuários de metrô têm disposição de caminhar entre 500 m e 700 m para chegar ao terminal. Mas, quando, a distância é maior que isso, eles acabam ficando desestimulados. “Os aplicativos propostos pelo Conecta podem criar maneiras de integrar dois modais, fazendo com que o passageiro ganhe desconto num táxi até a chegada no metrô, por exem-

plo. Eles podem facilitar essa integração gerando economia de tempo e de dinheiro”, argumenta. Já para o presidente da Fetramaz (Federação das Empresas de Logística, Transporte e Agenciamento de Cargas da Amazônia), Irani Bertolini, o programa é uma solução para o setor porque investir em inovação é essencial para o momento. “O transporte é feijão com arroz há 50, 100 anos. Precisamos inovar. Eu vejo a roda redonda há 60 anos, mas alguém precisa

inventar uma nova forma de fazer ela rodar”. Para ele, o setor aquaviário precisa de tecnologias que melhorem a qualidade e a maneira de operar as embarcações. Outra demanda é uma comunicação online mais efetiva. “Evoluímos muito pouco e carecemos urgentemente de transformações”, pondera. Eduardo Sanovicz, presidente da Abear (Associação Brasileira das Empresas Aéreas), ressalta que o setor aéreo tem como um dos seus pilares a inovação e

o estímulo às novas ideias. Por isso, a associação sempre atua junto a iniciativas que fomentem tais princípios, como o Fórum de Inovação da CNT. “O Conecta é uma iniciativa muito relevante, já que permitirá a entrada de novos atores no mercado e soluções inovadoras para desafios nas áreas de transporte e logística. Além de trazer benefícios para o presente, buscar ideias para a modernização do setor é de grande importância para onde queremos estar nos próximos anos.”


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CONFIRA AS ETAPAS DO PROGRAMA

Até 25 startups Duração: 4 meses (entre julho e novembro) Serão 8 encontros presenciais de 2 a 3 dias cada

Até 5 startups Fase internacional Duração: 4 meses (entre julho e novembro) Serão 8 encontros presenciais de 2 a 3 dias cada

Até 50 startups Duração: 1 mês (entre junho e julho) Apenas 1 encontro presencial Ver regulamento no site

Até 100 startups Seleção: entrevistas online� Inscrições: até o fechamento desta edição, o encerramento estava previsto para 15 de maio

Acesse

conecta.org.br


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Startups devem trazer soluções para os problemas do transporte

segundo dados da ABStartups (Associação Brasileira de Startups), mercado que começou a surgir em 2011. A maior parte das empresas (57%) é de operação, ou seja, já opera e tem um time para escalar as primeiras vendas. O setor de logística, por exemplo, ocupa apenas 2% das empresas brasileiras, sendo a maior parte dos modelos de negócios integrante das áreas financeira, de educação e de marketplace. Outro dado relevante é que grande parte das startups possui dois

anos de atuação no mercado, estão nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, e nunca recebeu investimento. “O número de investidores tem até crescido, mas ainda existe grande lacuna no mercado. Vemos investidores-anjo (pessoa física que faz investimentos com seu próprio capital em empresas nascentes com um alto potencial de crescimento) que investem até R$ 300 mil. Mas, no intervalo de R$ 400 mil a R$ 1 milhão, ainda não temos muitos

investidores”, pondera Rafael Ribeiro, diretor-executivo da ABStartups. (Confira a entrevista completa na página 28). Ele avalia o Conecta como um “programa com grandes chances de sucesso”, porque, segundo ele, os investidores observam muito quem são os parceiros dos programas. “Se o BMG e a Bossa Nova estão envolvidos, acredito que até mesmo o número de interessados em participar aumente. Muitas vezes, existem iniciativas legais que não vingam

"A gente está investindo em empresas que têm um grau de maturidade maior" HARLEY ANDRADE, DIRETOR DA CNT PARA ASSUNTOS INTERNACIONAIS


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MERCADO

CNT e BMG UpTech apresentam o Conecta para empreendedores A equipe da CNT e do BMG UpTech realizaram, em abril, um roadshow do Conecta. Um dos eventos aconteceu no Google Campus São Paulo, espaço criado pela gigante da internet para incentivar a cultura empreendedora e o ecossistema de startups no Brasil. Cerca de 30 empreendedores paulistas, que já estão de olho na oportunidade oferecida pela CNT, estiveram presentes.

Ainda em São Paulo, o Conecta foi apresentado na Growth Summit BR, evento para quem lida com os desafios de crescimento de uma startup. Os participantes do SingularityU Brasil Summit também puderam conhecer o programa no estande do SEST SENAT. O evento debateu tecnologia e inovação em São Paulo (leia mais na página 66). Em Belo Horizonte (MG),

o Conecta foi apresentado a empreendedores durante o Minas Digital Summit. O evento contou com um estande do programa da Confederação de impulso a startups e foi uma grande oportunidade para empreendedores, investidores, gestores públicos e pesquisadores debaterem e compartilharem novidades e experiências do mercado da tecnologia. (Luiz Renato Orphão)


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porque os idealizadores não envolvem os parceiros corretos”, explica. Ribeiro acredita ainda que os valores de investimentos são “de mercado” e que podem ajudar as empresas selecionadas a se manterem entre 18 e 24 meses. Ribeiro ressalta ainda que o mercado de transporte é pouco explorado, o que engrandece ainda mais a iniciativa da CNT. “O transporte público carece de inovação. Quanto mais soluções forem apresentadas, melhor para as empresas e para a sociedade. O Conecta vai ajudar as startups a crescerem no mercado, mas vai contribuir, sobretudo, com as pessoas que precisam se locomover diariamente no país”.

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Inovação O tema inovação já permeia a realidade da Confederação há tempos. Em maio do ano passado, o presidente Clésio Andrade enviou uma equipe de diretores ao Vale do Silício para pesquisar novas tecnologias no setor de transporte e saber das principais práticas disruptivas do mercado. A partir da visita, o SEST SENAT, em conjunto com a CNT e o ITL e em parceria com a Universidade de Stanford, realizou o Workshop “Inovar, Capacitar, Avançar”. A primeira edição ocorreu em julho do ano passado, em Brasília. Outras duas etapas foram realizadas em março deste ano, também na capital federal, e a próxiLUIZ RENATO ORPHAO

"Queremos entrar no mundo do transporte, identificar os problemas e ir ao mercado para tentar resolvê-los" RODOLFO SANTOS, CEO DO GRUPO BMG

ma está marcada para junho, nos Estados Unidos. Em paralelo a isso, os escritórios da CNT na China e na Alemanha também passaram a buscar soluções inovadoras desses países com possibilidade de implementação no Brasil. Harley Andrade cita como exemplo os carros elétricos. “A China possui altos índices de poluição. Por dia, morrem 3.000 pessoas em decorrência desse tipo de problema. Por causa disso, eles estão investindo pesado em carros elétricos movidos a energia solar. A Alemanha também trabalha fortemente em veículos autônomos. Parece um futuro meio distante, mas as coisas estão acontecendo”, alerta.


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ENTREVISTA

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RAFAEL RIBEIRO DIRETOR-EXECUTIVO DA ABSTARTUPS

A tecnologia define a startup Startups são empresas que resolvem um problema real da sociedade, com potencial de escala, e que têm como base a tecnologia. O conceito é de Rafael Ribeiro, diretor-executivo da ABStartups (Associação Brasileira de Startups). Ele explica que investir em startups pode representar redução de custos, otimização de processos, inovação e aumento de produtividade para as empresas que comprarem as ideias desenvolvidas por elas. Confira os principais trechos da entrevista concedida à revista CNT Transporte Atual. Como é o mercado de startups hoje no Brasil? A gente vem falando sobre startups há sete anos. É um mercado que começou em 2011 e vem passando por um processo de amadurecimento. Demoramos um pouco para colhermos os frutos, temos mui-

tos aprendizados que nasceram e morreram. Hoje já temos uma posição mais consolidada, visto que passamos a ter os nossos primeiros unicórnios. O que são unicórnios? O termo é muito falado no Vale do Silício e significa uma empresa que chegou a R$ 1 bilhão de valuation (valor que um investidor oferece pela startup). Diziam que esse processo ia demorar muito para chegar ao Brasil e que dificilmente alcançaríamos esse nível. Em 2018, a Nubank, o 99táxi e o Pagseguro viraram unicórnios. Isso mostra o quanto nosso mercado se consolidou, dá fôlego para que as empresas busquem incentivos e vem abrindo portas para que cada vez mais existam startups no mercado. Como podemos definir tecnicamente uma startup?

É uma ideia que resolve um problema real da sociedade, com potencial de escala, e que tem como base a tecnologia. Em uma startup não precisamos de grande número de funcionários. A tecnologia garante o ganho de escalonamento, permitindo que o time seja pequeno. O WhatsApp tinha 50 engenheiros quando começou. A Nama atende o governo de São Paulo e já passou de 8 milhões de atendimentos com uma equipe de apenas 20 pessoas. É a tecnologia que define a startup. É por meio dela que a empresa ganha escala. Como se dão as fases de uma startup? Primeiro, passamos pela fase de curiosidade, quando o empreendedor está ainda querendo empreender, mas não teve uma ideia consistente. Depois, temos a ideação, quando surge a ideia. Em segui-

da, vem a fase de operação, em que a empresa começa a operar com CNPJ e tem uma equipe de cinco a seis pessoas. A fase de tração chega em seguida, que é quando o time começa a realizar as primeiras vendas. Por fim, temos a fase de Skale-up, que é quando a startup possui mais de cem funcionários e assume problemas de grandes empresas. O que tem feito as startups se consolidarem no mercado atualmente? Eu acho que hoje as empresas estão mais conscientes de qual o momento correto de buscar investidores. Primeiro, elas se consolidam e, depois, correm atrás de investimento. Eu acredito que o empreendedor está mais seguro sobre esse processo. Além disso, o número de investidores tem crescido. Por que investir em startups


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“Investir em startups pode representar redução de custos, otimização de processos, inovação e aumento de produtividade”

é importante para o desenvolvimento da tecnologia nacional? É importante porque quanto mais a gente investir, mais sucesso e mais inovação teremos. A gente consegue fazer com que ideias que ficam apenas nos papéis sejam consolidadas no mercado. Muitas vezes, o investimento não é dinheiro, mas, sim, a empresa fazendo negócios. Sabemos que se trata de um mercado de

risco, mas também temos um potencial de retorno financeiro alto. Por exemplo, R$ 100 mil podem facilmente se transformar em R$ 2 milhões. Por isso, precisamos conhecer muito bem esse mercado. As orientações da Bossa Nova e da Anjos do Brasil são essenciais para os investidores. Quais são os ganhos do investimento em startups? Sabemos que investir em

startups pode representar redução de custos, otimização de processos, inovação e aumento de produtividade. Os empresários precisam ter isso em mente. Se ele precisa reduzir custo e equipe, por meio de tecnologia e novos processos, com certeza existe alguma startup que consegue resolver o problema dele. Às vezes, é melhor comprar uma solução que já está pronta e encarar a startup como parceira.

Os dados da ABStartups apontam que as empresas possuem, em média, dois anos de mercado. É muito ou pouco tempo? É muito tempo. Sabemos que esse mercado é bastante intenso. Se imaginarmos que uma startup consegue crescer de 30% a 40% ao mês, imagina em dois anos? A dificuldade das empresas é ganhar escala. Mas em dois anos ela já consegue se l posicionar no mercado.


FERROVIÁRIO

Rede em expansão Extensão da rede metroferroviária nacional cresceu em 2017 acima da expectativa; expansão impediu queda do número de passageiros, segundo balanço da ANPTrilhos por

A

rede de transporte de passageiros sobre trilhos brasileira teve um aumento de 30,2 km em 2017, chegando a 1.064,6 km. A expansão superou a expectativa projetada de 29 km. A previsão do setor é que, nos próximos cinco anos, o transporte sobre trilhos tenha um aumento de 164 km, com conclusão de projetos já con-

CARLOS TEIXEIRA

tratados e em execução. O número de passageiros transportados no ano passado atingiu 2,93 bilhões, acréscimo de 0,4% em relação ao ano anterior, quando foram transportados 2,91 bilhões. “Mesmo em um momento difícil para a economia do país e com a queda de empregos, conseguimos avançar no número de usuários, principalmente devido à

ampliação da rede e à inclusão de novas estações. Caso não houvesse o aumento das redes, teríamos uma diminuição de 1,2% na demanda de passageiros”, afirmou o presidente da ANPTrilhos (Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos), Joubert Flores, durante a divulgação do “Balanço do Setor 2017/2018”, realizada em abril,

em Brasília (DF). No ano passado, 24 estações e 2 novas linhas passaram a integrar a rede de sistemas metroferroviários, que inclui metrôs, trens metropolitanos, VLTs, monotrilho e aeromóvel. De acordo com Flores, o Metrô de Salvador foi o grande responsável por esse crescimento. Com a entrada em operação da Linha 2, mais 14,4 km passaram


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METRÔ BAHIA/DIVULGAÇÃO

a compor a rede nacional. Com a expansão em Salvador, quase 90 milhões de usuários já foram transportados desde o início da operação, em 2014. A média diária é de 298 mil. Atualmente, o sistema soteropolitano conta com 29 carros em operação e 11 à disposição ou em fase de testes que fazem a operação de Salvador e Lauro de

Freitas, segundo o diretor-presidente da CCR Metrô Bahia, Luis Valença. Ele destaca que a inauguração da estação Aeroporto deve acrescentar mais 3,5 km à Linha 2 e que, em breve, novas linhas devem ser licitadas ainda em 2018. “Essa nova realidade colocou Salvador como uma das três capitais brasileiras a ter um metrô ligando o centro

da cidade ao aeroporto. Essa conexão promete ser uma das soluções para a mobilidade urbana na capital. O novo sistema gerou mais de 8.000 empregos diretos, indiretos e terceirizados além do fato de os usuários ganharem em qualidade de vida por meio da redução do tempo de viagem, rapidez, conforto e segurança. Hoje, o metrô de Salvador já é

o terceiro maior em malha ferroviária do país, ficando atrás apenas de São Paulo e Rio de Janeiro”, ressalta Valença. A inauguração da segunda linha do VLT Carioca também acrescentou 5,8 km à rede brasileira de trilhos urbanos. Outros destaques que culminaram no crescimento acima do esperado nas linhas foram o VLT da Baixada Santista, no lito-


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SUSTENTABILIDADE

Setor busca eficiência energética Mesmo com a expansão da rede e com a entrada de novos veículos em operação, o relatório da ANPTrilhos aponta que o setor metroferroviário não aumentou o consumo de energia. Em 2017, o volume consumido permaneceu em 1,8 GWh (gigawatt-hora). A justificativa para essa estabilidade, segundo a associação, é o trabalho que vem sendo desenvolvido pelos operadores na busca por mais eficiência energética. Entre as principais ações desenvolvidas para reduzir o consumo de combustível, estão a utilização

de lâmpadas de LED; a troca de motores de corrente contínua por corrente alternada, que geram de 20% de economia da energia de tração; além da implantação de placas fotovoltaicas, que convertem a luz solar em energia elétrica. Um desses exemplos é o Metrô-DF, em Brasília, que inaugurou uma estação capaz de gerar 100% da energia para a sua manutenção. Para isso, foram instalados 578 painéis solares, com capacidade de geração de 288 mil kWh por ano. A estação Guariroba fica em Ceilândia e é a primeira

ral de São Paulo, que passou a operar com 4,7 km a mais; a Linha 5 do Metrô São Paulo, com 3 km; e o VLT de Maceió, com 2,3 km. Embora a expansão da rede tenha sido significativa em 2017, o Brasil ainda tem um longo caminho de trilhos a construir, quando comparado a outros países. Apenas o metrô de Xangai na China, o maior do mundo, possui 500 km de vias operacionais, com 289 estações em funcionamento e média diária de 6,7 milhões de passageiros transportados. Outro exemplo que também vem da China é o metrô de Pequim, o segundo maior do mundo, que possui 450 km de extensão divididos em 16

linhas. O sistema tem previsão de chegar aos 1.000 quilômetros de extensão em 2020. O presidente da ANPTrilhos, Joubert Flores, reconhece a necessidade de uma ampliação maior na rede brasileira e afirma que, para isso, é necessário investir. Porém, de acordo com ele, devido ao contexto econômico vivido atualmente pelo país, uma das soluções é a participação da iniciativa privada. “As parcerias privadas são uma forte tendência devido à falta de verbas dos governos federal e estaduais. É preciso atrair investimentos e parceiros para que o estado possa investir em outras prioridades, como saúde e educação.”

com captação de energia solar da América Latina. De acordo com o presidente do Metrô-DF, Marcelo Dourado, já foi realizada a concorrência pública para instalação do mesmo sistema na estação Samambaia Sul. “Será a segunda planta de energia solar do Metrô-DF a entrar em operação. O Metrô-DF também planeja a instalação de uma usina em seu Complexo Administrativo e Operacional, com capacidade de geração de 3,5 MW de energia elétrica”, conta ele. Dourado ainda explica

que os projetos das estações movidas a energia solar já se tornaram cases de referência para a formulação de políticas públicas nacionais de energias renováveis associadas à eletromobilidade urbana sobre trilhos. “A busca de soluções estruturantes e de longo prazo para o enfrentamento da questão energética é um desafio fundamental, em decorrência do cenário global e dos ganhos para a sociedade, além de contribuir para o alcance da sustentabilidade econômica do sistema”, finaliza ele.

METRÔ BAHIA/DIVULGAÇÃO

Metrô de Salvador teve ampliação de 14,4 km


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SUPERVIA/DIVULGAÇÃO

CRESCIMENTO DA MALHA 2013 972,5 km 2014 1.002,5 km 2015 1.002,5 km 2016 1.034,4 km 2017 1.064,6 km 2018* 1.105,9 km

Próximos 5 anos + 164 km de projetos *Expectativa

Como exemplo disso, o relatório da ANPTrilhos destaca a concessão do MetrôRio, que completou 20 anos em abril e permitiu a expansão de 50 km de linha. Segundo a ANPTrilhos, ao longo desses anos, o modelo vem evoluindo com o objetivo de desonerar o investimento governamental, aumentar a eficiência do transporte e reduzir o custo para o governo, proporcionando mais qualidade para o transporte. “Os projetos de mobilidade urbana sobre trilhos têm forte atratividade para o setor privado, sendo exemplos o Metrô de Salvador, a Linha 4 - Amarela de São Paulo e o VLT Carioca”, afirma o documento. A revista CNT Transporte

Fonte: ANPTrilhos

Atual trouxe, na edição 268, do mês de abril, uma matéria sobre esse assunto. O relatório da ANPTrilhos ainda mostra que em 2017 houve uma ampliação recorde da frota de trens. No ano passado, 719 novos carros de passageiros passaram a operar no país, gerando um aumento de 15,5%. De acordo com o presidente da associação, parte dessa frota passou a atender às novas linhas implantadas, mas a maioria está em operação em linhas já existentes, o que demostra a preocupação dos operadores em oferecer serviços mais eficientes. “As novas frotas trazem inovações para os usuários. Os novos car-

Parcerias privadas são alternativas para desenvolvimento do setor

ros possuem ar condicionado, monitores digitais para exibir informações e acessibilidade para pessoas com mobilidade reduzida ou deficiência”, explicou ele. Empregos Além de mais oferta de transporte para a população, a expansão da rede metroferroviária contribuiu com o aumento dos postos de trabalho no setor. Em 2017, segundo o balanço da ANPTrilhos, o número de empregados próprios cresceu 2% em relação a 2016, superando a marca de 32.000 postos de trabalho. Já em relação à contratação de mão de obra terceirizada, o crescimento passou

da marca de 20%, fechando o ano de 2017 com mais de 10 mil trabalhadores. Na visão de Flores, esse incremento pode ser ainda maior, com a concretização dos projetos que estão em andamento. “Novas extensões podem gerar até 60 mil novos empregos, por isso é preciso olhar com atenção a viabilidade do transporte de alta velocidade. Defendemos a instalação de trilhos em locais onde eles são necessários e, hoje, vemos isso em muitos corredores de grandes cidades. Um trem consegue levar 60 mil passageiros por hora sem contar com a questão do tempo das viagens e a dimil nuição dos acidentes”.


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RODOVIÁRIO

O caminhão é necessário Estudo da CNT analisa condições do transporte de carga em sete regiões metropolitanas; restrições dificultam o abastecimento das cidades e encarecem o preço do frete por

EVIE GONÇALVES


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TONY WINSTON AGÊNCIA BRASÍLIA/DIVULGAÇÃO

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onsiderado, muitas vezes, como um vilão nos grandes centros urbanos, o caminhão é, atualmente, a principal forma de abastecimento das cidades. É ele que garante a chegada dos produtos às prateleiras de supermercados, farmácias, shoppings, centros comerciais, de forma geral. Entretanto o veículo é frequentemente associado a problemas no trânsito e, devido a isso, sofre uma série de restrições e dificuldades de acesso, sobretudo nas áreas centrais das regiões metropolitanas. Com o intuito de analisar as limitações, consequências e possíveis alternativas para a chegada e o deslocamento de caminhões nas cidades, a CNT (Confederação Nacional do Transporte) lançou, em abril, um estudo que instiga à reflexão sobre a real necessidade de medidas que impedem a circulação desses veículos: “Logística Urbana: Restrição aos Caminhões?”. O trabalho aponta que proibir ou dificultar a passagem dos veículos não é solução para os congestionamentos. A ideia também é compartilhada por especialistas e transportadores que acreditam que esse tipo de problema só será resolvido por meio da adoção de outras ações, entre elas, o investimento e planejamento em infraestrutura e em transporte público. “É preciso compatibilizar as demandas do comércio e do


FOTOS ARQUIVO CNT

ABASTECIMENTO

Dificuldades nas entregas urbanas aumentam o frete As restrições à circulação de caminhões nas principais regiões metropolitanas do país podem representar custos adicionais de até 20% no valor do frete. Em alguns municípios, transportadores passaram a incluir, no custo do transporte, a TDE (Taxa de Dificuldade de Entrega) e a TRT (Taxa de Restrição ao Trânsito) – esta com impactos no valor do frete de até 15%. As taxas são motivadas por

diversos fatores, como recebimento precário, que acaba gerando longas filas no abastecimento; e recebimento fora do horário comercial, que obriga os motoristas a aguardarem a liberação para a entrega da carga em locais, muitas vezes, inseguros, com riscos de roubo da mercadoria. De acordo com a professora do Departamento de Engenharia de Transportes e Geotecnia da UFMG (Universi-

dade Federal de Minas Gerais), Leise Kelli de Oliveira, o custo adicional é consequência dos transtornos enfrentados nas regiões centrais. “Caminhões ficam presos nos congestionamentos e gastam mais combustível. Além disso, as condições de tráfego impactam a depreciação do veículo, e empresas arcam com encargos trabalhistas devido às restrições. Sem falar nas limitações quanto ao

tamanho dos caminhões, que fazem com que o empresário tenha que adquirir uma nova frota”, observa. Ela pondera ainda que a falta de vagas para carga e descarga faz com que os motoristas estacionem de forma irregular e levem multas, o que também gera impactos no custo do transporte. “O preço dos produtos poderia ser menor se não fossem todas essas variáveis”, acredita.

setor de serviços com a variedade e o volume crescente do consumo da população e, ainda, com a necessidade de melhorar a qualidade de vida nas cidades, reduzindo os congestionamentos e a poluição ambiental”, afirma o presidente da CNT, Clésio Andrade.

O estudo da CNT analisou as condições do transporte de carga em sete das principais regiões metropolitanas do país: São Paulo (SP), Belo Horizonte (MG), Curitiba (PR), Porto Alegre (RS), Goiânia (GO), Recife (PE) e Manaus (AM). A constatação é que,

nessas localidades, os transportadores enfrentam uma série de barreiras para a entrega das mercadorias. As restrições são um dos pontos que mais dificultam o abastecimento das cidades. Segundo o estudo, em 40% dos municípios das regiões

analisadas, os transportadores encontram impedimentos de toda sorte ao tráfego de caminhões. Metade dessas proibições se estende 24 horas por dia. A maior quantidade de restrições em período integral se dá em ruas e avenidas de Belo Horizonte


ALTURA MÁXIMA PERMITIDA

COMPRIMENTO MÁXIMO PERMITIDO

PESO MÁXIMO PERMITIDO POR EIXO

PESO BRUTO TOTAL MÁXIMO PERMITIDO

LARGURA MÁXIMA PERMITIDA

EXEMPLOS DE SINALIZAÇÃO DE RESTRIÇÕES (81%); Porto Alegre (70,6%) e Recife (60%). Além do período integral, também há restrições nos períodos diurno (24,5%) e noturno (13,3%) e nos horários de pico, aqueles associados aos deslocamentos casa-trabalho e trabalho-casa (11,9%). O levantamento da Confederação aponta que, no total, foram identificadas 143 restrições em 76 municípios das regiões avaliadas. Entre elas, destacam-se as de circulação (quando o caminhão está proibido de trafegar na via), que ocorrem em 86% das restrições analisadas; de carga e descarga (quando o caminhão só pode estacionar no local, mas está proibido de fazer carga e descarga), que ocorrem em 9,8% dos casos; e as de estacionamento (quando o caminhão não pode nem estacionar e nem fazer carga e descarga, podendo, apenas, trafegar pela via), que acontecem em 4,2% dos municípios. “Percebemos que esse excesso de restrições acrescenta ainda mais complexidade à realidade dos transportadores, o que afeta a distribuição de mercadorias para a população. É essencial que tenhamos uma padronização, sobretudo quanto aos tipos de veículos e aos horários em que eles podem trafegar em cidades próximas. Isso contribuirá para o planejamento e a gestão da operação das empresas que atuam nesses municípios”,

“É preciso compatibilizar as demandas do comércio e do setor de serviços com a necessidade de melhorar a qualidade de vida nas cidades” CLÉSIO ANDRADE, PRESIDENTE DA CNT

explica o diretor-executivo da CNT, Bruno Batista. Além das restrições, o estudo da CNT aponta outros fatores que prejudicam o abastecimento das cidades, como a carência de dados para que os transportadores façam seus planejamentos de entrega, as múltiplas regras de transporte dentro de um mesmo município, a baixa oferta de vagas de carga e descarga e a ocupação indevida dessas vagas por outros veículos, a sinalização precária ou em contradição com o normativo sobre o transporte de cargas, a fiscalização insuficiente para garantir o cumprimento das regras e a fluidez do trânsito e o aumento do número de viagens devido à imposição de uso de veículos menores. Ainda completam a lista: falta de locais adequados e seguros

PROIBIDO TRÂNSITO DE CAMINHÕES


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“Se o excesso de restrições fosse bom, não haveria tanto congestionamento” LEISE KELLI DE OLIVEIRA, PROFESSORA DA UFMG

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de parada e descanso e baixo investimento em obras de infraestrutura, principalmente em anéis viários. Para a professora do Departamento de Engenharia de Transportes e Geotecnia da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), Leise Kelli de Oliveira, é preciso realizar planejamento de médio e longo prazos nas cidades. “O grande problema está nos congestionamentos. E eles acontecem em decorrência da baixa qualidade do transporte público,

que leva as pessoas a migrarem para os automóveis. Em uma escala de problemas, o caminhão é o que menos atrapalha”, acredita. Leise avalia que, por conta da imagem de que os caminhões causam grandes transtornos ao trânsito, esse tipo de veículo acaba sendo mais penalizado do que os automóveis, com um número exagerado de restrições. “Por que não restringem o uso de carros? Porque dentro dos automóveis existem eleitores. Nos

caminhões, só tem carga. Isso tem que mudar. Se o excesso de restrições fosse bom, não haveria tantos congestionamentos”, pondera. Paulo Lustosa, presidente do Setceg (Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística do Estado de Goiás), compartilha da ideia de que os causadores dos grandes congestionamentos nas cidades não são os caminhões, mas, sim, a falta de investimento em infraestrutura e em transporte de


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VEJA COMO FUNCIONAM AS RESTRIÇÕES Períodos de proibição ao tráfego de caminhões nas regiões metropolitanas analisadas pela CNT* SÃO PAULO

BELO HORIZONTE

CURITIBA

7,4%

14,3% 4,7%

14,6%

PORTO ALEGRE

24,4%

17,6%

22,2%

11,8%

37,1%

26,8%

Horário(s) de pico

33,3%

81,0%

34,2%

GOIÂNIA

RECIFE

25,0%

25,0%

25,0%

25,0%

Período noturno *As restrições são determinadas em algumas vias das cidades, e não na totalidade delas

MANAUS

10,0%

Período integral (24h por dia) Período diurno

70,6%

Veículo estacionado em vaga reservada para caminhões

30,0%

33,3% 60,0%

massa. “Goiânia vai fazer 100 anos em 2033 e tem o mesmo sistema viário até hoje. As ruas são asfaltadas, mas não foram alargadas e projetadas para a grande demanda de veículos. Resultado: a cidade fica congestionada. Como fazemos com o abastecimento? As pessoas enxergam o caminhão como vilão, mas precisam entender que ele é necessário.” Entre as propostas da Confederação para amenizar os problemas gerados pelo excesso de restrições, estão a ampliação dos investimentos em infraestrutura, o aumento da segurança e da disponibilidade de locais de parada e descanso, a ampliação da oferta de vagas de carga e descarga, melhorias na sinalização e na

66,7%

fiscalização do trânsito e o aprimoramento das políticas públicas voltadas ao tema. Lauro Valdívia, assessor técnico da NTC&Logística (Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística), acredita que os pontos de carga e descarga são uma boa solução para desafogar o trânsito nas regiões metropolitanas, assim como a criação de centros de distribuição, com possibilidade de recebimento da carga à noite, em veículos grandes, e redistribuição, durante o dia, em veículos menores. “Mas, para isso, a gente depende do setor público. Ele define as políticas que impactam a vida dos transportadores, mas a nossa participação nesse processo ainda é muito pequel na”, acredita.


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AQUAVIÁRIO

Polêmica nas cargas vivas Exportação de animais supera R$ 1,2 bilhão em 2017; setor espera crescer mais, mas assunto tem gerado controvérsias por

CARLOS TEIXEIRA


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SECOM MARANHÃO/DIVULGAÇÃO

D

e cavalos de raça para a Holanda, frangos para a Malásia e galinhas para o Sri Lanka e Madagascar a peixes ornamentais para a República Tcheca e Hong Kong (na China), o comércio brasileiro de cargas vivas segue em pleno crescimento, mas em meio a muitas polêmicas. Números do MDIC (Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços) mostram que o país movimentou mais de R$ 1,2 bilhão em 2017, com a exportação de cargas vivas. Foram mais de 22 milhões de animais. O destaque é para a carne bovina. Somente no ano passado, foram exportados para a Turquia cerca de 200 mil bovinos. Para alguns países da Liga Árabe (Iraque, Líbano, Egito, Jordânia e Emirados Árabes Unidos), houve um aumento expressivo nos últimos dois anos, passando de R$ 273 milhões movimentados em 2015 para R$ 412 milhões em 2017. Para o presidente da Abreav (Associação dos Exportadores de Animais Vivos), Ricardo Pereira Barbosa, esse mercado deve seguir em expansão em 2018. “A exportação de gado vivo existe há mais de 20 anos no Brasil. Atualmente, o foco são os países muçulmanos. A partir de 2017, consolidamos o mercado da Turquia, que representou 50% do volume exportado pelo Brasil. Além disso, há outros grandes mercados sendo abertos.”


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Mas, paralelamente ao mercado que cresce, no último mês de janeiro, um impasse veio à tona no porto de Santos, e o transporte de 27 mil bois vivos para a Turquia ficou suspenso por 13 dias. O Nada – navio que transportaria a carga e o maior já utilizado no país para esse tipo de transporte – só saiu de Santos no dia 5 de fevereiro, após determinação da Justiça Federal, atendendo a uma decisão de urgência de um recurso da AGU (AdvocaciaGeral da União). Durante a espera do embarque, a Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) multou em R$ 450 mil o terminal Ecoporto, que opera em Santos. Em nota enviada para a revista CNT Transporte Atual, a companhia ambien-

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tal informou que a infração cometida foi realizar atividade de embarque de cargas vivas (gado) para exportação, em desacordo com o licenciamento ambiental, tendo em vista que o Ecoporto está licenciado somente para operar com contêineres. A Cetesb informa que os terminais que quiserem realizar esse tipo de transporte devem ter o licenciamento ambiental para tal atividade. O terminal portuário que não estiver licenciado deve protocolar na Cetesb uma consulta prévia sobre os procedimentos necessários. A Antaq (Agência Nacional de Transportes Aquaviários) possui uma resolução geral que disciplina a exploração portuária, mas não especificamente a movimentação desse

Exportação de bois para a Turquia tem sido frequente

BOVINOS

O caminho das fazendas aos portos Os portos brasileiros que realizaram transporte de cargas vivas desde 2010 foram os de Rio Grande e Itaqui (RS), São Sebastião e Santos (SP), Vila do Conde e Belém (PA) e os portos de Recife (PE), Rio de Janeiro (RJ), Imbituba (SC) e Porto Velho (ES), de acordo com a Antaq (Agência Nacional de Transportes Aquaviários). Para chegar ao local de embarque, as cargas vivas precisam de uma logística específica e de acompanhamento do Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento).

Os animais saem dos locais de criação e são encaminhados para um EPE (Estabelecimento de Pré-Embarque). Os EPEs são propriedades rurais aprovadas pelo Mapa. No local, os médicos veterinários do ministério efetuam a verificação dos requisitos sanitários estabelecidos pelo país importador, como o prazo de quarentena fixada, a segregação dos animais a serem exportados, a execução dos testes laboratoriais de triagem e os tratamentos e as vacina-

ções previstas no protocolo acordado. Atualmente, no Brasil, há 41 EPEs em seis estados. No local, ainda é feita a verificação pelo responsável do Mapa sobre a origem dos animais para certificação sanitária. Também é realizada a preparação dos animais para o transporte. Ao final da quarentena pré-embarque, os veterinários emitem um documento denominado Aczi (Autorização para Emissão do Certificado Zoossanitário Internacional), que libera os

animais para serem transportados até o local de embarque, portos ou aeroportos. O caminhão é lacrado pelo veterinário e segue em direção aos portos. Chegando ao porto, o caminhão é pesado e deslacrado por um veterinário do ministério, que fiscaliza a transferência dos animais do veículo para o navio. Havendo conformidade, os veterinários expedem o certificado zoossanitário internacional para a exportação dos animais.


SECOM MARANHÃO/DIVULGAÇÃO

tipo de carga. Em nota divulgada no começo do ano sobre o caso em Santos, a agência havia frisado que não há impedimento, não é necessário ter autorização especial para realizar o transporte e os demais critérios cabem aos órgãos intervenientes nos portos. Já o Ecoporto, também em nota, informa que realizou dois embarques de cargas vivas no porto de Santos, e eles seguiram as legislações e os normativos vigentes relacionados a essa modalidade de embarque. A Secretaria de Meio Ambiente de Santos também multou a Minerva Foods, dona da carga, em R$ 1,5 milhão por irregularidades no transporte. Procurada

pela reportagem, a empresa não quis se manifestar. Segundo informações da Antaq, de 2010 a 2018, a movimentação de cargas vivas nos portos brasileiros superou a marca de 1,8 milhão de toneladas. Desse total, o porto de Santos movimentou 8.129 toneladas. Em meio à polêmica, no final de março, a Câmara de Santos (SP) aprovou um projeto de lei que proíbe o transporte de cargas vivas nas áreas urbanas e de expansão urbana do município. O projeto chegou a ser sancionado pela prefeitura em abril. Mas, no dia 24 do mesmo mês, o STF (Supremo Tribunal Federal) tornou inválida a lei municipal. A prefeitura de Santos deve recorrer da decisão liminar (provisória), do ministro Edson Fachin.

O SEST SENAT investe na qualificação dos trabalhadores de todos os modais e busca atender às demandas do setor. Pensando nisso, foi criado em 2009 o curso de Transporte de Cargas Vivas. O treinamento faz parte do portfólio nacional, possui carga horária de 20 horas/aula, e as inscrições podem ser realiza-

Regras Para cumprir as regras e normas exigidas para esse tipo de transporte, o Brasil é signatário da OIE (Organização Mundial de Saúde Animal), sendo obrigado a cumprir procedimentos operacionais da organização, regulamentados pelo Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento). Em novembro de 2016, o órgão realizou uma consulta pública sobre o transporte de cargas vivas, mas ainda não publicou a portaria revisada. Sérgio Aquino, presidente da Fenop (Federação Nacional dos Operadores Portuários), destaca que o Brasil vem investindo nesse tipo de operação, e os

empresários e responsáveis pelo setor vêm debatendo junto ao Mapa avanços na legislação. “O ponto central é a obrigatoriedade do relatório de viagem, já normatizado pela OIE. Ele é um descritivo de bordo que tem que ser emitido por um técnico dentro da embarcação e contém tudo o que se passa com o animal, desde a alimentação até os cuidados médicos. Esse item não está normatizado no Brasil.” O presidente da Abreav, Ricardo Pereira, frisa que o Brasil segue à risca as normas da OIE. “Não tenho dúvidas da qualidade do atendimento aos animais. Eles são bem tratados, e o nosso percentual de animais que ficam doentes

MINISTÉRIO DA AGRICULTURA/DIVULGAÇÃO

SEST SENAT

Curso orienta sobre transporte de animais das na unidade operacional mais próxima do candidato. Entre os assuntos abordados, estão o transporte rodoviário de cargas vivas no Brasil, transporte rodoviário de gado, transporte rodoviário de aves, transporte rodoviário de outras cargas vivas e logística no transporte de cargas vivas. é muito baixo. Todos os transportados são examinados. Os estabelecimentos são monitorados e possuem certificação do Mapa”, conclui. A opinião é compartilhada por Michel Alaby, secretário-geral da Câmara Brasil Árabe. “A indústria brasileira é a maior exportadora de carne Halal (que determina que os animais sejam mortos de acordo com o ritual islâmico) no mundo. Para esse tipo de corte, os animais devem estar em perfeito estado de saúde. Caso contrário, a carne não é consumida. Para este ano, esperamos um crescimento de 10% nas exportações em relação ao ano passado l para os países árabes”.


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SUSTENTABILIDADE

Transporte sustentável por

E

m uma realidade em que a sustentabilidade deixa de ser apenas um diferencial competitivo, tornando-se indispensável para o futuro do planeta, o setor de transporte brasileiro adota a responsabilidade socioambiental como a base para a sua atuação. O Despoluir - Programa Ambiental do Transporte, desenvolvido pela CNT e pelo SEST SENAT, é um desses exemplos. Além do projeto de verificação da qualidade da fumaça emitida pelos

EVIE GONÇALVES

veículos, que já ultrapassou a marca de 2 milhões de avaliações realizadas em dez anos, o programa conta com diversas outras iniciativas realizadas pelas federações do transporte rodoviário de cargas e de passageiros para minimizar o impacto ambiental causado pela atividade transportadora. A Fetronor (Federação das Empresas de Transporte de Passageiros do Nordeste), por exemplo, instituiu um programa de verificação dos passivos ambientais das garagens de

todas as empresas associadas. O objetivo é disponibilizar um relatório a respeito de práticas adotadas, tais como tratamento de água e de lixo, lavagem dos ônibus, correta destinação de lixo e reaproveitamento do óleo diesel queimado e da sucata de pneus. “A intenção é que, a partir do mapeamento, as empresas mudem certas atitudes. Trata-se de um problema sério e temos que encará-lo”, explica o presidente da federação, Eudo Laranjeiras. Outra ação relevante foi

o recente convênio com a Secretaria de Educação para introduzir o tema sustentabilidade nas escolas da rede pública do estado do Rio Grande do Norte. Desde o ano passado, a federação apresenta algumas áreas de prevenção ambiental para jovens entre 8 e 14 anos, uma vez por mês, explicando a importância da conservação dessas regiões. No mesmo dia, realiza visitação às garagens dos ônibus das empresas e convida as crianças e os adolescentes a produzirem


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FETERGS/DIVULGAÇÃO

Federações se preocupam com passivos ambientais do setor e incentivam ações que vão desde programas para monitoramento de garagens até o reaproveitamento da água da chuva uma redação sobre o tema. Os melhores textos são premiados. “O meio ambiente é para todos, e sentimos a necessidade de ampliar nosso escopo de atuação”, comemora Laranjeiras. No total, 180 crianças e adolescentes já participaram do projeto. A Fetronor também realizou uma parceria com o IRFN (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte) e promoveu, em 2016, o I Workshop de Mobilidade Urbana e Meio Ambiente na

região. Na ocasião, recebeu da Plantis Inteligência em Sustentabilidade o selo Evento Neutro por assumir o compromisso de quantificar e compensar 100% das emissões de CO2 provenientes da realização do Workshop, por meio da compra de créditos de carbono de projetos ambientais certificados. Outra instituição atuante é a Fetergs (Federação das Empresas de Transportes Rodoviários do Estado do Rio Grande do Sul). Uma das prin-

cipais ações realizadas é o estímulo às empresas para captação da água da chuva para a lavagem dos veículos. De acordo com o presidente da federação, Pedro Antonio Teixeira, na Planalto Transportes Ltda., por exemplo, quando a medida não havia sido implementada, eram utilizados cerca de 450 litros de água nova para a limpeza de apenas um ônibus. Atualmente, a empresa utiliza apenas 60 litros de água nova por veículo, sendo o restante reaproveitado. “Houve redução brutal do

consumo depois da aquisição de um depósito de 300 mil litros d’água. Após a captação da água da chuva, a empresa faz um tratamento para que a água possa ser utilizada mais de uma vez”, explica Teixeira. Já a Viação Ouro e Prata utiliza água do sistema de ar condicionado para limpar os parabrisas dos veículos e instituiu ainda um sistema de descarga automática dos sanitários dos ônibus para evitar o grande uso de água durante a lavagem dos banheiros. De


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FETRANSPORTES/DIVULGAÇÃO

“O meio ambiente é para todos, e sentimos a necessidade de ampliar nosso escopo de atuação” EUDO LARANJEIRAS, PRESIDENTE DA FETRONOR

acordo com o presidente, outra medida que vem dando resultado em diversas empresas é a premiação para motoristas que dirigem de forma econômica. Mensalmente, os melhores condutores recebem algum tipo de prêmio para se sentirem estimulados a poluírem menos no ato da direção. Segundo Teixeira, o incentivo que a federação oferece para as empresas adotarem medidas ambientais tem gerado impacto positivo no número de adesões ao programa Despoluir. Entre 2008 e 2017, foram realizadas mais de 130 mil inspeções veiculares no Rio Grande do Sul, com avaliação de mais de 15 mil veículos e índice de aprovação

de 74,4%. “Hoje, nós temos uma parceria com a prefeitura de Porto Alegre, que nos credenciou para monitorar o nível de opacidade existente nos veículos. Isso significa que os laudos da Fetergs são aceitos pelos órgãos públicos no momento da verificação. Não é necessária uma terceira empresa envolvida no processo”, ressalta. No setor de cargas, a reutilização de água para lavagem de caminhões também é uma realidade. A Fetranspar (Federação das Empresas de Transporte de Cargas do Estado do Paraná) incentiva esse tipo de ação nas empresas que representa. De acordo com o presidente da federação, Sérgio Malucelli, a

Jaloto Transportes, de Maringá (PR), por exemplo, utiliza a água do sistema de saneamento, encaminha para um reservatório por meio de um duto, filtra o líquido utilizado e reaproveita na lavagem dos caminhões. “Além de ser uma economia para a empresa em relação ao consumo, temos um sistema que contribui diretamente com o meio ambiente. Nossa intenção é replicar o modelo para outras empresas”, ressalta ele. Rodovias A Fetransportes (Federação das Empresas de Transportes do Estado do Espírito Santo) trabalha na elaboração de um plano de segurança para

“Além de ser uma economia para a empresa, o sistema de reúso de água contribui diretamente com o meio ambiente” SÉRGIO MALUCELLI, PRESIDENTE DA FETRANSPAR


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RECONHECIMENTO

Prêmios ambientais são destaque Com o intuito de estimular práticas de gestão ambiental junto às empresas de transporte, as federações afiliadas ao Despoluir também promovem premiações anuais para os transportadores que efetuam ações sustentáveis, mitigam suas emissões veiculares e inovam na gestão ambiental. Além de fomentar a melhoria da qualidade de vida dos transportadores e da sociedade, o reconhecimento das ações aproxima as federações de seus colaboradores, contribuindo para uma relação mais eficaz e ativa. O Prêmio Fetransportes de

Qualidade do Ar (QualiAr), da Federação das Empresas de Transportes do Estado do Espírito Santo, premiou 75 empresas em 2017 nas categorias Ouro (52), Prata (20) e Bronze (3). Todas as transportadoras foram aprovadas nos testes de fumaça preta realizados pela equipe do Despoluir. “Esse tipo de iniciativa funciona como uma relação ganha-ganha, em que população e empresas são as mais beneficiadas. Com menos poluição, os veículos rodam de forma mais eficaz. Além disso, as pessoas respiram um ar com mais qualidade”, acrescenta Jerson Pícoli, presidente

da federação. Já a Fetergs (Federação das Empresas de Transportes Rodoviários do Estado do Rio Grande do Sul) aderiu ao Prêmio Gaúcho Despoluir em 2014. O número de empresas participantes passou de 126, naquele ano, para 160, em 2017. Além disso, a quantidade de veículos aferidos pelo Despoluir cresceu de 15.400 para 20.700. Um dos requisitos do Prêmio é que as empresas preencham 80% dos critérios ambientais estabelecidos pelo Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente). Entre as premiações ambientais, destacam-se ainda

o Melhor Ar - Prêmio Fetcemg de Qualidade do Ar, realizado pela Federação das Empresas de Transportes de Carga do Estado de Minas Gerais; o Prêmio Regional Excelência em Meio Ambiente, promovido pela Fetracan (Federação das Empresas de Transporte de Cargas e Logística do Nordeste); o Prêmio Fetram de Qualidade do Ar, da Federação das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado de Minas Gerais; e o Prêmio TransportAr de Responsabilidade Ambiental, promovido pela Fetronor (Federação das Empresas de Transporte de Passageiros do Nordeste).

FETRONOR/DIVULGAÇÃO

Alunos da rede pública de Natal participam de ação da Fetronor

as rodovias a ser apresentado ao governo do estado. A ideia surgiu após o acidente envolvendo duas ambulâncias, uma carreta e um ônibus de passageiros, que matou 22 pessoas e deixou mais de 20 feridos, em junho de 2017, em Guarapari, na Grande Vitória, na BR-101. Uma das linhas de ação é justamente a preservação ambiental no momento da construção das rodovias. “Ao decidirmos mudar o traçado, temos que tentar encontrar um equilíbrio para não afetar o meio ambiente. Uma proposta é a construção de elevados, que, além de melhorarem a segurança, não explica geram desmatamento”, o presidente Jerson Pícoli. l


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AÉREO

Entrega

pelo ar

Transporte de cargas aéreas no Brasil registra crescimento no mercado doméstico e internacional em 2017; companhias têm investido em tecnologias e novos serviços por

O

transporte de cargas no Brasil está literalmente começando a voar. O que antes era transportado por caminhões nas rodovias brasileiras começa, agora, a ser levado pelo ar: celulares, medicamentos, peças de computadores, vestuário, frutas

CARLOS TEIXEIRA

e até peixes. Para isso, as companhias aéreas têm utilizado a criatividade na logística e contado com a ajuda de aplicativos e robôs que auxiliam os clientes. Segundo o Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil, no primeiro trimestre deste ano foram transporta-

das 217,4 milhões de toneladas, 21,5% a mais do que no mesmo período de 2017, quando foram movimentadas 178,9 milhões de toneladas. De acordo com a Abear (Associação Brasileira das Empresas Aéreas), apesar de a carga aérea representar apenas 0,1% do total movimen-

tado no país, devido ao alto valor agregado, o volume corresponde a 12% da corrente de comércio brasileira. Uma das apostas do setor para o aumento do transporte é a diversidade e a flexibilidade para que o produto seja entregue da forma mais rápida e com


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BH AIRPORT CARGO/DIVULGAÇÃO

o menor custo. Esse é o exemplo da Azul Cargo Express que, em 2017, teve um crescimento de 49% e embarcou 28 milhões de quilos na rede doméstica e 15,5 milhões de quilos na internacional. A diretora da companhia, Izabel Reis, lembra que, atualmente, a empresa transporta uma grande diversidade de produtos, com destaque para eletroeletrônicos e remédios. “Todo produto que pode ser levado por avião a gente leva. Passamos a oferecer o método ‘porta a porta’, com a unidade de cargas transportando os produtos desde a origem até o destino final, e não apenas

entre os aeroportos. Chegamos a entregar à noite uma roupa de bailarina na Filadélfia (EUA) que pegamos em Campo Grande (MS) pela manhã. O cliente quer o seu produto o mais rápido possível.” Izabel ainda frisa que a empresa vem apostando no investimento em pequenos aeroportos e nas oportunidades de exportações de demandas regionais para o mercado exterior. “Em um país de dimensões continentais, algumas peculiaridades e sazonalidades podem gerar oportunidades. Transportamos frutas para a Europa e peixes para os Estados Unidos. No caso do peixe, o tiramos do Nordeste

e, em menos de 24 horas, já está nos EUA”, conta ela. As companhias aéreas também vêm apostando na melhoria dos serviços, trazendo inovações tecnológicas e aprimoramento da infraestrutura para levar ainda mais eficiência à operação. Eduardo Calderon, diretor da GOLLOG, serviço de transporte de carga e encomendas da GOL, destaca que a empresa foi a primeira do segmento a disponibilizar um aplicativo de celular que possibilita a realização de cotações e rastreamento de encomendas. “Criamos a tecnologia Seen Technology, um programa que

funciona em tablets conectados à internet que possibilita o envio de informações em tempo real sobre a entrega da carga. Para auxiliar no atendimento online, foi implementado recentemente o Gil, um robô que presta assistência virtual pelo site esclarecendo dúvidas sobre serviços, unidades e regras gerais para o transporte de cargas.” Calderon também explica que a empresa vem realizando investimentos em infraestrutura nos terminais de cargas em todo o território nacional, com destaque para as bases de Manaus (AM), Fortaleza (CE), Recife (PE), Salvador (BA), Confins


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FOTOS VIRACOPOS/DIVULGAÇÃO

(MG), Galeão (RJ), Curitiba (PR), e Campinas, Guarulhos e Congonhas, em São Paulo. A Latam Cargo também aposta na ampliação de investimentos e operações. Em 2018, a companhia investirá R$ 7 milhões em reformas de terminais de carga, além de expandir a capacidade cargueira nos voos comerciais. “O transporte de carga aérea segue a mesma tendência de desenvolvimento do segmento de passageiros. Temos a oportunidade de utilizar melhor os aviões que operam passageiros para também levar cargas. O Brasil é um país que precisa desse tipo de serviço pelo seu tamanho, pelas condições e pelas suas distâncias”, destaca Jerome Cadier, presidente da empresa. Além de dois aviões cargueiros, a companhia utiliza os porões de toda a frota de aviões comerciais para o traslado de cargas a diferentes regiões do Brasil. O transporte internacional de cargas da companhia também será incrementado com a criação de novas rotas, o que tornará mais fortes as operações nos hubs (centros de conexão) de Guarulhos e de Brasília e aumentará a oferta de cargas paletizadas na rota Guarulhos-Manaus-Guarulhos, a principal da companhia. Mas, apesar do crescimento apresentado em 2017, o setor ainda enfrenta algumas dificuldades, e a diversidade de produtos embarcados acaba ficando concentrada em pou-

PREMIAÇÃO

Viracopos vence prêmio internacional O Aeroporto Internacional de Viracopos, localizado em Campinas (SP), foi eleito o melhor aeroporto de carga do mundo na categoria até 400 mil toneladas movimentadas por ano. O prêmio Cargo Excellence Awards 2018 é promovido desde 2005 pela Air Cargo World, uma das prin-

cipais publicações do setor e contempla a área de transporte aéreo mundial. Concorreram ao prêmio aeroportos e companhias aéreas de todo o mundo. Em 2017, Viracopos movimentou 204,3 mil toneladas, entre exportação, importação, doméstico e courier (remessas expressas).

cos terminais. Os números da Abear mostram que 80% do tráfego de cargas no país é feito por apenas nove aeroportos e, do total movimentado, 20% está concentrado no eixo Manaus-Guarulhos. “Estamos vivendo uma retomada. No entanto, para ela ser consistente, é preciso investir em infraestrutura, que hoje é bem deficitária ainda. Temos alguns aeroportos que estão muito longe dos padrões internacionais seja para o armazenamento da carga, seja para a segurança”, afirma o presidente da Avianca, Miguel Pereira. De acordo com ele, em um país como o Brasil, com dimensões continentais, e que sofre com falta de infraestrutura terrestre, o transporte de cargas aérea é essencial para o desenvolvimento econômico. A Avianca, em 2017, transportou, no mercado doméstico brasileiro, 52 mil toneladas. A empresa opera desde 2015 uma aeronave cargueira para atender à rota Manaus-GuarulhosManaus, a fim de manter o fluxo de movimentação das cargas. Para o consultor da Abear, Maurício Emboaba, a concentração em poucos aeroportos é reflexo da centralização da economia do país em poucas regiões. “A concentração é muito forte em São Paulo e em Manaus, por causa da Zona Franca. Isso remonta a uma falta de desenvolvimento histórico e econômico do Brasil que gera grandes discrepâncias regionais”. Emboaba também destaca


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AMEAÇA Com o crescimento do transporte de cargas, cresce também a preocupação com a segurança nos aeroportos. No último dia 15 de abril, um carregamento de celulares foi roubado de um terminal de cargas do aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro. A ação foi filmada pelo circuito interno de câmeras. O prejuízo estimado é de US$ 1 milhão, aproximadamente R$ 3,4 milhões. Em março, um grupo armado invadiu a pista do aeroporto de Viracopos e roubou US$ 5 milhões (R$ 16 milhões) em espécie que estavam dentro de uma aeronave que seguiria para Frankfurt, na Alemanha.

Cargas são manuseadas em terminais aéreos

o valor do combustível aéreo, que acaba sobretaxando o frete, como entrave para a manutenção do crescimento da atividade. “O valor do combustível acaba onerando o frete. Cada estado aplica uma alíquota e acaba inibindo o mercado. No transporte de carga, a alíquota gira em torno de 18,5%. Isso traz um aumento de até 20% no frete” conclui. Terminais Nos terminais aeroportuários, já é possível sentir os impactos do crescimento do volume de cargas áreas transportadas

pelas companhias. Segundo dados da Abear, no aeroporto de Viracopos, segundo terminal de cargas mais importante do país, o valor dos itens transportados subiu 17% entre 2016 e 2017. Já o volume cresceu 11%. Um dos motivos dessa alta é a falta de aeroportos regionais que possam pulverizar o transporte aéreo, afirma o gerente comercial do terminal de cargas do aeroporto de Viracopos, Jorge Labarinhas. “O grande problema é que precisamos ter aeroportos regionais para gerarmos capilaridade, pois,

depois que a carga chega aos nossos terminais, ainda é preciso fazer a mudança do modal aéreo para o rodoviário. Se tivéssemos uma quantidade maior de hub, isso facilitaria as transferências para as demais áreas do país e tornaria o frete mais atraente e competitivo.” Labarinhas ainda frisa que a insegurança em relação ao roubo de cargas nas rodovias brasileiras contribui para o aumento da demanda aérea devido ao valor da carga e aos custos do transporte terrestre. “Além do risco, existe a neces-

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sidade de agilizar o estoque para trazer giro às empresas. Quando roubam uma carga, automaticamente se cria um concorrente no mercado paralelo. Além da perda do produto, o empresário perde espaço no mercado”, finaliza. Outro terminal de cargas que apresentou crescimento foi o do Aeroporto Internacional de Confins (MG), que em 2017 registrou alta de 19%. Apostando no aumento do setor, desde o ano passado, uma série de investimentos no terminal de cargas, que incluem a expansão em 100% na área de exportação e 40% na área de importação, tem sido realizada. Para Peter Robbe, gestor da área de logística de cargas da BH Airport Cargo, concessionária de Confins, o crescimento está diretamente relacionado ao aumento da malha aérea. “O incremento do número de destinos operados pelas companhias aéreas a partir de Confins possibilitou o aumento da capacidade de transporte de mercadorias. No nosso caso, são 46 destinos atualmente. As características principais das cargas são o alto valor agregado e o baixo volume. No caso das cargas aéreas internacionais, tivemos um crescimento em 2017 de 2% em relação a 2016, totalizando 9,4 mil toneladas de cargas transportadas, principalmente pelos setores de fármacos, biotecnologia e equipamentos médicos, além de eletrônicos, aeroespacial e l automotivo”, conclui.


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ECONOMIA

Em recuperação por

O

setor de transporte e logística brasileiro começou a apresentar sinais de recuperação entre 2017 e o início deste ano, depois de ter sido fortemente impactado pela recessão da economia nos anos de 2015 e 2016. Os indicadores que apontam para a reversão da trajetória de

NATÁLIA PIANEGONDA e CARLOS TEIXEIRA

queda são analisados na nova edição do boletim Conjuntura do Transporte – Desempenho do Setor, divulgado pela CNT (Confederação Nacional do Transporte) no início de abril. O ritmo de retomada, contudo, é lento, uma vez que os resultados do transporte estão diretamente relacionados ao desempenho de outros

setores da economia. Por isso, segundo o boletim, a projeção é que, somente em 2020, a atividade voltará a operar nos mesmos patamares de 2014. Além disso, há barreiras que dificultam o desenvolvimento do setor, como a alta dos preços dos combustíveis, a elevada carga tributária sobre a atividade transportadora e a

infraestrutura precária. Dados da PMS (Pesquisa Mensal de Serviços), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), mostram que, após ter caído 6,1% em 2015 e 7,6% em 2016, o volume de serviços prestados pelo setor de transporte, armazenagem e correio cresceu 2,3% em 2017, com o transporte ter-


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Boletim da CNT mostra crescimento de 2,3% do setor de transporte, armazenagem e correio em 2017 depois de quedas consecutivas restre tendo um crescimento de 0,9%. E o cenário também é positivo em 2018. Nos dois primeiros meses deste ano, a alta na procura pelos serviços de transporte foi de 2,2%. Com isso, houve uma desaceleração significativa no ritmo de demissões, embora o setor siga fechando vagas formais de emprego. Em

janeiro deste ano, a redução de postos de trabalho foi de 5.148. No mesmo mês de 2017, foram contabilizadas 11.961 vagas a menos para a atividade transportadora. Em todo o ano passado, foram extintas 17,5 mil vagas formais no setor. No ano anterior (2016), o corte de postos de trabalho havia chegado a

112,3 mil e, em 2015, a 68 mil. Para o presidente da NTC&Logística (Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística), José Hélio Fernandes, o crescimento da economia e a supersafra colhida no país no ano passado trouxeram ganhos para o transporte terrestre. “Houve uma retomada na economia,

e não tivemos mais um PIB (Produto Interno Bruto) negativo. Consequentemente, houve uma maior movimentação de cargas. Além disso, tivemos uma supersafra com mais de 240 milhões de toneladas, e isso também impacta positivamente o transporte terrestre, pois o caminhão sempre faz uma parte do trajeto. Para


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2018, esperamos que a economia continue se recuperando e temos boas perspectivas.” O crescimento da produção agrícola também refletiu nos resultados de volume de serviços do setor aquaviário, que teve alta expressiva em 2017 de 17,5%, de acordo com a PMS. Dados da Antaq (Agência Nacional de Transportes Aquaviários) mostram que, no ano passado, os portos públicos e os terminais de uso privado movimentaram 1,086 bilhão de toneladas, acréscimo de 8,4% em relação a 2016. Desse total, 721,7 milhões de toneladas foram movimentadas nos terminais privados (crescimento de 9,4%) e 365,1 milhões de toneladas, nos portos públicos (alta de 6,5%). O crescimento apresentado pelo setor envolve principalmente a navegação interior, como destaca o vice-presidente executivo do Syndarma (Sindicato Nacional das Empresas de Navegação Marítima), Luís Fernando Resano. “Na navegação marítima, o transporte de granéis sólidos e líquidos tem se mantido estável nos últimos anos, o que deve ser entendido como um bom resultado, pois, apesar da crise que o país passou, não houve queda nesse serviço que atende basicamente à indústria com insumos. O transporte de contêineres também teve crescimento significativo, o que se deve ao aprimoramento e à qualidade do serviço

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Crescimento da produção agrícola impactou o transporte terrestre

prestado pelas empresas de navegação, oferecendo serviço porta a porta.” Resano ainda frisa que a percepção das vantagens que o modal oferece contribuiu também para o aumento da procura pelo serviço. “O modal aquaviário oferece vantagens, como segurança, economia por distância demandada e o fato de ser menos poluente. As indicações do reconhecimento dessas vantagens são de que continuaremos crescendo”, destaca ele. Segundo o boletim Conjuntura do Transporte –

Desempenho do Setor, a alta no volume de serviços pode ser explicada ainda pela recuperação da atividade industrial, que é o setor mais demandante dos serviços de transporte em geral, em especial do transporte rodoviário de cargas, e pelo bom desempenho das exportações ao longo do ano passado. Combustíveis Com o crescimento da atividade, o consumo de combustíveis também apresentou alta (0,4%) em 2017, chegando a 136 bilhões de litros conforme dados da ANP (Agência

Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis). O consumo de diesel expandiu 0,9%; o de gasolina, 2,6%. A gasolina comum que era vendida por volta de R$ 3,00 o litro em 2014 fechou o último trimestre de 2017 com preço médio de revenda de R$ 3,99. O óleo diesel, que era negociado por cerca de R$ 2,50 o litro em 2014, finalizou o último trimestre de 2017 com preço médio de revenda de R$ 3,28 o litro. Outro fator que contribuiu para a alta dos preços segundo a CNT, foi o aumento de


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Setor aquaviário teve alta de 17,5% em 2017

INFRAESTRUTURA

Investimentos continuam insuficientes Em outro boletim divulgado em março (Conjuntura do Transporte – Investimentos), a CNT traz uma atualização dos investimentos em infraestrutura de transporte. Segundo o documento, ainda que o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), lançado em 2007, tenha estimulado os investimentos do governo federal, a retomada foi passageira, voltando a diminuir a

partir de 2012. Entre 2001 e 2017, os investimentos em infraestrutura de transporte representaram 0,5% do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro, número muito aquém da necessidade para aumentar a densidade e a qualidade dos serviços de transporte. Enquanto isso, em 2017, considerando um crescimento do PIB de 1,04% (R$ 6,51 trilhões), os investimentos em

infraestrutura de transporte corresponderam a apenas 0,16% da renda bruta nacional. Para que se possa minimizar a degradação dos ativos, retificando o baixo nível de investimentos públicos, o boletim Conjuntura do Transporte – Investimentos indica que os aportes em infraestrutura devem ser equivalentes a pelo menos 3,0% do PIB nacional.

impostos, o que representa um entrave para a recuperação do setor. “Como os transportadores em geral trabalham com margens pequenas de rentabilidade e visto que o momento atual é de recuperação da mais grave crise econômica do período recente, a pressão gerada pelo aumento dos preços dos combustíveis é muito prejudicial ao setor. A inflação dos combustíveis comprime a lucratividade das empresas e desestimula novos investimentos e novas contratações no curto prazo”, l destaca o documento.


SEST SENAT

Transformação Projeto Polo Olímpico forma atletas de alto rendimento e muda a realidade de vida de trabalhadores do transporte, dos seus dependentes e da comunidade por

DIEGO GOMES

de são vicente (sp), rio claro (sp) e cariacica (es)

O

esporte é um eficaz instrumento de união e inclusão social. Ao longo dos anos, programas sociais têm sido sistematicamente ligados à prática esportiva. Além disso, trabalha à perfeição fundamentos impres-

cindíveis à formação do cidadão, como disciplina, respeito às regras e ao próximo e habilidades interpessoais. E, ainda, proporciona aos praticantes saúde física e psicológica, bem-estar e autoconhecimento. Em 25 anos de atuação, o

SEST SENAT tem promovido a melhoria da qualidade de vida de milhões de pessoas em todo o país. E o incentivo à prática esportiva é uma constante nas ações da instituição. Exemplo disso é o projeto Polo Olímpico, que incentiva o reconhecimento

e o desenvolvimento de novos talentos do esporte. Atualmente, 20 unidades operacionais oferecem centros de excelência em modalidades olímpicas – atletismo, basquete, vôlei, ciclismo, futebol, natação, tênis de mesa e judô/taekwondo – para


social pelo esporte FOTOS MARGOS BORGES

a prática de esportes de alto rendimento. Só em 2017, foram mais de 6.500 atletas inscritos. Desses, 60% tem ligação direta com o setor de transporte. A diretora-executiva nacional do SEST SENAT, Nicole Goulart, explica que a instituição busca

desenvolver o esporte como um elemento que permita ao indivíduo a compensação para as tensões e aflições da vida cotidiana, motivando o processo de socialização, imprescindível para a elevação da autoestima. “O Polo Olímpico faz parte de um

grande programa de promoção do bem-estar, no qual também desenvolvemos outras ações de incentivo à prática de atividades físicas em todo o país”, comenta. Para conhecer a fundo esse trabalho e mostrar de que forma o SEST SENAT vem

transformando a realidade das pessoas, a reportagem da CNT Transporte Atual percorreu algumas unidades operacionais que desenvolvem o projeto e que se consolidaram como centros de excelência nas suas respectivas modalidades.


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VELOCIDADE DA SUPERAÇÃO

Veja aqui a história de Carlos Eduardo de Moraes

https://youtu.be/GB2L0QOxJDg

“O tênis de mesa e o SEST SENAT salvaram a vida do meu filho” MARILENE MORAES, MÃE DO ATLETA CADU

Nosso giro começa pela Baixada Santista, em São Paulo. Na unidade de São Vicente (SP), a modalidade de referência é a que tem a bola mais rápida do mundo e movimentos que desafiam a coordenação motora dos seres humanos: o tênis de mesa. Liderada pelo premiado mesatenista Afonso Valente, a equipe é formada por 45 atletas (36 do setor de transporte e nove da comunidade) e coleciona resultados expressivos e lições de espírito esportivo e cidadania. Por lá, conhecemos histórias de vida inspiradoras, como a do Carlos Eduardo de Moraes, 13 anos. Filho de cami-

nhoneiro aposentado, Cadu, como é conhecido, nasceu com má-formação do quadril e sem as pernas. Para ele, entrar no Polo Olímpico do SEST SENAT revolucionou sua vida e conferiu um novo propósito a ela. A mãe dele, Marilene Freire Moraes, 49 anos, explica que Cadu, antes de conhecer o tênis de mesa, foi submetido a cinco cirurgias e passava por um período difícil, apresentando quadro de depressão, a ponto de ela procurar a psicóloga da unidade de São Vicente em busca de ajuda profissional. Em uma dessas visitas, eles conheceram o professor Valente, que o

convidou para treinar. Mesmo com o alto grau de complexidade da modalidade, o menino se sentiu desafiado e passou a se dedicar. Em pouco tempo, apaixonou-se pela prática. “Eu ficava muito triste em casa, me sentia muito preso, praticamente não saía. Depois do tênis de mesa, era o dia inteiro jogando, nem queria comer”, conta Cadu, que já está disputando competições e revela ter o sonho de disputar uma paralimpíada. Ao comentar a transformação por que passou o atleta, Marilene não titubeia. “O tênis de mesa e o SEST SENAT salvaram a vida do meu filho.”


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Giovanna Grilo, filha de taxista e campeã sul-americana infanto-juvenil

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Por falar no sonho de se destacar na modalidade, o Polo de São Vicente vem lapidando a atual campeã por equipes sul-americana infanto-juvenil Giovanna Grilo, 14 anos, filha de mãe taxista, que desembarcou há pouco no Brasil com a medalha conquistada no Chile. “Quando eu vim para o SEST SENAT, tive a oportunidade de participar de campeonatos nacionais, o que me deu a chance de fazer parte da seletiva para integrar a seleção brasileira que disputaria o sul-americano”, celebra Giovanna, que ostenta um brilho no olhar e a certeza de que esse é o começo de um pródigo caminho.


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LINHA DE CHEGADA De São Vicente, partimos para Rio Claro (SP). Por lá, o SEST SENAT mantém uma equipe de elite do ciclismo brasileiro, que conta com 36 atletas ligados ao transporte e 17, à comunidade. Referência na modalidade, a equipe é respeitada em todo o país. A unidade tem uma pista de Cross Country, construída em parceria com a Federação Paulista de Mountain Bike. Nas conversas com o grupo, percebemos que o trabalho ali realizado vai além da revelação de talentos e do aprimoramento técnico: ele é decisi-

vo para modificar a realidade de muitas pessoas em estado de vulnerabilidade social. Para o taxista Elvis Esteter, 40 anos, que já foi ciclista profissional por duas décadas e está no Polo desde o primeiro dia, o projeto permite afastar jovens da criminalidade. Segundo Esteter, há casos de adolescentes cuja salvação foi estar na equipe do Polo, em função da triste realidade na qual estão inseridos. “Muitos meninos que estão aqui são provenientes de bairros mais pobres e expostos à violência. Há um caso de um atleta que hoje é o cam-

peão brasileiro de pista, mas que perdeu os pais e tinha um primo diretamente relacionado com o crime organizado. Foi isso aqui [referindo-se ao SEST SENAT] que o salvou.” O atleta considera que a instituição vem transformando a realidade de Rio Claro ao longo de mais de seis anos, graças a um trabalho sustentável e longevo. “Posso afirmar que, em termos de estrutura, não existe no Brasil algo semelhante ao que temos aqui. Isso faz uma diferença enorme. Além de toda a importância social, o Polo revela,


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“Posso afirmar que, em termos de estrutura, não existe no Brasil algo semelhante ao que temos aqui” ELVIS ESTETER, TAXISTA E CICLISTA

Veja aqui a história de João Vitor Fabri

https://youtu.be/AzQyX1FOI2Y

por ano, pelo menos um atleta com potencial para disputar as principais competições de elite do mundo”, declara. Quem pode se encaixar nesse universo é João Vitor Castro Fabri, 15 anos, filho de caminhoneiro. Ele ingressou na equipe em 2015 por influência do pai, que utilizava as instalações do SEST SENAT. Atualmente, o atleta tem despontado como uma revelação do ciclismo brasileiro. “Logo na minha primeira corrida, com 12 anos, já consegui disputar o pódio. Isso me encheu de ânimo para continuar. No mesmo ano, fui vice-campeão paulista de XCO e vice-campeão estadual de maratona. Já fui top 5 no Desafio JP Ravelli e, em 2017, conquistei o oitavo lugar geral no desafio internacional de 70 km em Brasília.” Fabri revela que, se não fosse a estrutu-

ra que tem à disposição, não teria condições de levar adiante o sonho de se tornar um dos maiores ciclistas do país. Uma das estrelas do Polo, Danilas Ferreira da Silva, 26 anos, de família de transportadores, já tem uma vida de atleta profissional consolidada, tendo passado pelos principais clubes da modalidade no país e conquistado praticamente todos os títulos nacionais possíveis e diversos internacionais. Ela chegou à seleção brasileira em 2014, mas, por questões financeiras, não pôde dar continuidade. Foi quando ela ingressou no Polo de Rio Claro e, desde então, não deixou mais a equipe. “Eu sou apaixonada pelo ciclismo. Tenho a certeza de que o trabalho sério realizado aqui renderá muitos frutos e revelará muitas estrelas para o esporte nacional.”


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BRAÇADAS VENCEDORAS Nossa visita pelas unidades que desenvolvem o projeto Polo Olímpico teve sua última parada em Cariacica (ES), que tem, na natação, um laboratório de inclusão social, qualidade de vida e de futuros campeões. Por lá, há uma escola de natação que conta com 309 alunos, sendo 111 dependentes de trabalhadores do transporte, 100 profissionais do setor e mais 98 pessoas da comunidade. Na equipe de alto rendimento, são 14. Foi justamente para romper com a rotina de uma vida sedentária e aplacar o sobrepeso que Wallace da Silva Almeida, 40 anos, motorista de ônibus há mais de uma década, começou a nadar. “O SEST SENAT fez uma diferença enorme para mim. Comecei nadando, no ano passado, com muito custo, 25 metros. A partir do incentivo dos profissionais aqui do Polo, passei a nadar 100 metros e, pouco tempo depois, já estava nadando 1 km.” A partir disso, ele foi convidado a participar de uma competição em mar aberto e, desafiando seus limites, concluiu sua primeira prova. Depois, passou a integrar a equipe de alto rendimento do Polo e, hoje – com muitos quilos a menos –, o que era só um projeto para melhorar a qualidade de vida, emprestou-lhe um novo sentido, já que, agora, ele pretende disputar campeonatos na sua categoria máster. O projeto também tem o condão de revelar talentos

“O esporte é o melhor caminho para formar cidadãos” ADAILZA PEREIRA, CAMPEÃ MÁSTER DE NATAÇÃO

Veja aqui a história de Leonardo Feltz

https://youtu.be/fkH0g6tSM0I


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para o Brasil. É o caso de Leonardo de Sousa Feltz, filho de motorista de ônibus, que, aos 18 anos, coleciona resultados expressivos e já desponta como uma revelação da natação brasileira. “Eu comecei aos 8 anos, porque eu era um pouco ‘gordinho’ e minha mãe achou que eu deveria me dedicar a uma prática esportiva. Acabei me apaixonando pela natação e, desde então, o esporte me proporcionou saúde e, principalmente, a possibilidade de sonhar”. Há três anos treinando no Polo, Feltz (o sobrenome, coincidentemente, chama atenção devido à semelhança fonética com o do fenômeno das piscinas Michael Phelps) esteve sempre entre os três primeiros lugares do Campeonato Capixaba de Águas Abertas e, no ano passado, ficou em terceiro lugar no Circuito Aqua, o maior de travessias aquáticas do Brasil. “Eu devo isso ao Polo. A melhor coisa que existe aqui nesta cidade é o SEST SENAT”, afirma ele, revelando que sonha, em um dia, tornar-se um campeão olímpico. Outro que tem se destacado no Polo de Cariacica é Derone Ferreira de Souza, 14 anos, filho de caminhoneiro. O atleta, apesar da pouca idade, já dá indícios de que tem um futuro promissor. Recentemente, ele conquistou o terceiro lugar geral na Travessia Marítima

de Marataízes (ES), na qual superou atletas profissionais adultos. “Desde muito pequeno, sempre fui apaixonado pela natação. Aqui, com os treinamentos e o incentivo do meu pai, tenho conseguido me desenvolver cada vez mais.” O SEST SENAT disponibiliza toda a estrutura técnica, logística e operacional necessária para os atletas com pretensões de se tornarem de elite e de participarem das competições. Além disso, como a instituição tem se notabilizado como um importante indutor do desenvolvimento regional, o Polo Olímpico abre espaço

para atletas das comunidades nas quais a iniciativa é desenvolvida. Exemplo de superação é o de Adailza Bissa Pereira, 56 anos, premiada nadadora máster. Considerada uma das melhores de sua categoria no Brasil, ela treina diariamente no SEST SENAT. Com centenas de medalhas, recordes e títulos, Adailza destaca que a estrutura encontrada no Polo é única no país, equiparável com os principais clubes profissionais. “O esporte é o melhor caminho para incluir pessoas e formar cidadãos. O que sou hoje eu devo ao esporte, e nossas crianças precisam muito disso.”


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CONSTRUINDO HISTÓRIAS Além das três localidades visitadas pela reportagem da CNT Transporte Atual, outras 17 Unidades Operacionais do SEST SENAT desenvolvem trabalhos igualmente transformadores junto aos trabalhadores do transporte, aos seus dependentes e às comunidades nas quais o Polo Olímpico está implantado. Os projetos também se notabilizaram por erguerem centros esportivos de excelência de natação, atletismo, futebol, vôlei, judô e taekwondo, colecionando histórias de superação de limites e de transformação de realidades locais. Acompanhe abaixo as modalidades do Polo Olímpico.

» Natação Cachoeiro de Itapemirim (ES) Colatina (ES) Boa Vista (RR) Manaus (AM) Rio Branco (AC) Recife (RE) Caruaru (PE) Montes Claros (MG) Simões Filho (BA) Goiânia (GO) » Atletismo Pelotas (RS)

» Futebol Florianópolis (SC) Patos de Minas (MG) Feira de Santana (BA) » Vôlei Criciúma (SC) Foz do Iguaçu (PR) » Judô e taekwondo Taubaté (SP)


Um dos maiores programas de startups da América Latina.

A CNT desenvolveu o Conecta, um dos Acesse o site e saiba mais sobre o programa:

maiores programas de impulso a startups da América Latina. A iniciativa selecionará e apoiará o desenvolvimento de empresas com as soluções mais inteligentes e eficazes para promover a

conecta.cnt.org.br

inovação e a superação de desafios do setor de transporte e logística do Brasil.

Inovação para o transporte brasileiro


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INOVAÇÃO

O futuro é

agora

SingularityU Brasil Summit debate transformações e revolução tecnológica; evento teve patrocínio da CNT e apoio institucional do SEST SENAT e do ITL por

EVIE GONÇALVES de são paulo (sp)


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I

nteligência artificial, robótica, futurologia, nanotecnologia, big data, disrupção, moonshot. Todos esses são termos utilizados atualmente para representar as transformações tecnológicas pelas quais o mundo vem passando. O momento é considerado por especialistas como uma revolução – até mais importante que a industrial do século 19 – e significa a chegada de uma nova era. Essa foi a ideia central do SingularityU Brasil Summit, evento realizado pela HSM Singularity, em São Paulo, no mês de abril, que contou com o patrocínio da CNT e apoio institucional do SEST SENAT e do ITL (Instituto de Transporte e Logística). Durante dois dias, palestrantes renomados de todo o mundo discorreram sobre a necessidade de quebra de paradigmas para alcançar patamares tecno-

lógicos. Peter Diamandis, fundador da Singularity University, afirmou que a mudança só acontece com ações. Para ele, “é essencial reconhecer qual é o seu propósito de transformação, ou seja, a missão que te mantém apaixonado”. Thomas Kriese, especialista no mercado de tecnologia há 20 anos, explicou que a tecnologia dobrou em escala exponencial no século 20, mesmo durante as guerras mundiais. “O primeiro computador foi criado há pouco tempo e era do tamanho de um carro. Os celulares de hoje cabem em uma mão e são muito mais potentes.” Para ele, a inovação requer persistência e doses de ousadia. A astronauta da Nasa, Yvone Cagle, pensa além. “Sabe o que é preciso para transformar o planeta? A resiliência humana.” Ela contou que o seu moonshot (quebra de barreiras, em uma

tradução livre) aconteceu quando era criança e brincava de pique-esconde. “Um dia, subi em uma árvore para me esconder, porque queria bater o recorde de quem ficava mais tempo sem ser encontrada. E consegui porque todos só me procuraram olhando para a direita e para a esquerda, mas não para cima”, contou. Depois da brincadeira, ao chegar em casa, Cagle assistiu pela televisão à notícia de que humanos haviam pisado na lua pela primeira vez. “Corri para fora e olhei para a lua. Naquele momento tive a certeza de que ali era onde eu queria estar”. Atualmente, ela é médica cientista-chefe do Programa de Nível II de Pesquisa Suborbital Comercial e Reutilizável da Nasa e trabalha no projeto de uma missão de visita a Marte, em 2025. "Vamos estudar as reações e detectar doenças antes

que elas se manifestem no corpo humano. O espaço afeta nosso fluxo sanguíneo, ossos e músculos”, explicou. “Também estudaremos meios de transporte e robótica, incluindo um exoesqueleto com sangue sintético e órgãos que se comportam como os nossos.” David Roberts, considerado um dos melhores especialistas do mundo em inovação disruptiva e tecnologias de avanço exponencial, incentivou o otimismo do público ao sugerir um cruzamento de dados entre o Índice de Felicidade Bruta do Brasil e o PIB (Produto Interno Bruto), um marcador, segundo ele, com risco de se tornar insignificante diante das inovações da economia. Roberts provocou ao questionar: “Será que o problema do Brasil não é você?”. O palestrante apontou a necessidade de investimen-


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INSTITUCIONAL

Setor de transporte está aberto às transformações Atento a todas essas transformações, o Sistema CNT tem proporcionado a capacitação de altos executivos de empresas e instituições do transporte com o objetivo de aprimorar o conhecimento sobre o que há de mais inovador na gestão de negócios, contribuindo para o fortalecimento e o aumento da competitividade da atividade transportadora brasileira. Uma dessas iniciativas é a participação em eventos como o SingularityU Brasil Summit. Para a diretora-executiva nacional do SEST SENAT, Nicole Goulart, o setor de transporte

tem dado passos importantes em relação à inovação com a oferta de cursos com a utilização de simuladores de direção, mas as possibilidades a serem exploradas são ainda enormes. “Precisamos virar a chave e encarar que necessitamos de mudanças. É importante estarmos preparados e dar um passo à frente”, destaca ela. O diretor-executivo do ITL, João Victor Mendes, também avalia que as transformações já chegaram às empresas de transporte e, agora, é preciso levar conhecimento a elas. “Nós precisamos de novos

to em transportes aéreos para solucionar os problemas do trânsito e questionou o montante gasto na construção de rodovias em um país de proporções e relevância continentais. Em um dos pontos altos da palestra, apresentou cenas documentais de homens desafiando leões e conquistando o sucesso por meio do colaborativismo. Assim, questionou o paradigma da hierarquia e ressaltou a importância da autoconfiança, da atitude, do propósito e da coragem. Roberts pincelou ainda as habilidades e ferramentas necessárias para um futuro melhor que o presente, entre elas, competências comportamentais, emocionais,

profissionais, sociais, individuais, além do investimento em dados, pesquisas e ciência. Corporações Tiago Mattos, professor de futurologia da Universidade Hebraica de Jerusalém, focou sua apresentação em transformações digitais nas corporações. “O maior erro que uma liderança comete é quando acha que a transformação digital é decisão da alta cúpula. Precisamos entender que se trata de um processo cultural. O papel da liderança é criar uma cultura forte para fazer a transformação”, observou. “A nova definição de organização é de compartilhamento, empoderamento, evolu-

milionários, não do ponto de vista do capital, mas, sim, do impacto às pessoas”, ressalta ele. Na visão da diretora institucional da CNT, Olívia Pinheiro, as empresas estão cada vez mais conscientes da necessidade de inovação e de acesso à tecnologia. “O momento é de romper barreiras. Precisamos criar novas soluções para o transporte e participar desse evento nos colocou ainda mais nos caminhos da disrupção e de um futuro promissor para o setor”, acredita.

De acordo com Bruno Batista, diretor-executivo da CNT, “o setor de transporte tem grandes desafios a superar e nada melhor do que conhecer as tendências e as características das inovações”. Ele acredita que o conjunto de dados e informações no mundo contemporâneo é muito grande e vai permitir uma nova forma de planejamento, estruturação e previsões para o futuro. “Trata-se de matéria-prima fundamental para criarmos alternativas econômicas, rápidas e fáceis para o atendimento da mobilidade da população.”

FOTOS JULIANA FARINHA/RECHEIO DIGITAL/DIVULGAÇÃO

Evento contou com palestras de especialistas em inovação


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DISRUPÇÃO

Veículos elétricos custarão menos que os convencionais

Simulador híbrido do SEST SENAT em exibição durante o evento

Os veículos elétricos serão mais baratos que os convencionais até 2035. A afirmação é do cientista da computação e futurólogo, Ramez Naam, palestrante do SingularityU Brasil Summit. Segundo ele, a indústria automotiva começa a investir, de forma maciça, em baterias de lítio, o que tem barateado o valor dos veículos. Nos últimos anos, o custo dessas baterias caiu 25 vezes. De acordo com Naam, essas baterias melhoraram a sua forma de armazenamento

INFRAESTRUTURA

“As cidades são a chave para a nossa sobrevivência” As tecnologias e inovações serão a chave para cidades mais inteligentes. O cientista político e urbanista canadense Robert Muggah destacou o poder dos dados e das estatísticas para a evolução das cidades. “Só por meio deles, é possível planejar o crescimento saudável de uma cidade. Planejar não significa criar uma estratégia e ficar presa a ela, mas avaliar seu potencial conforme o passar

do tempo e as mudanças de comportamento. As cidades são a chave para a nossa sobrevivência.” O especialista ressaltou a relevância da locomoção nesse contexto. “Transporte público é a solução não só para o tráfego, mas, também, para a saúde pública. Menos trânsito é igual a menos estresse. E uma cidade inteligente e do futuro deve ser saudável”, explicou. Muggah ressaltou ainda que,

para obterem sucesso, as cidades devem ter um plano básico de infraestrutura e manterem-se presas a ele. “Não adianta ter um plano e mudar após cinco anos. Cada prefeito tem que revisá-lo. As cidades têm que tomar as decisões mais difíceis, diminuindo a emissão de carbono e dando incentivo às construções de parques e ciclovias”, alertou. Leia mais sobre cidades inteligentes na página 70.

de energia. E foi além ao dizer que elas não serão usadas só para veículos, mas, também, na aviação. “Hoje elas duram cerca de 30 minutos. Entretanto poderão durar até 300 minutos em um futuro breve”, observou. Na visão do cientista, a autonomia é uma das características da disrupção dentro do setor transporte e vem acompanhada de uma tendência de investimento em tecnologias de baixa emissão, como energia eólica e solar. ção, abundância e ecossistema. Quando a gente prioriza legado sobre lucro, estamos bem. Não precisamos ser a melhor empresa do mundo, mas sim a melhor para o mundo”, concluiu. Segundo ele, um dos pilares do processo de transformação é não seguir tendências. “Os analfabetos do século 21 não são os que não sabem ler nem escrever. São aqueles que não sabem aprender, desaprender e reaprender”, enfatizou. E falou que a chave de sucesso para o Brasil é valorizar o capital emocional e a criatividade. “Os brasileiros talvez sejam os mais criativos do mundo. Precisamos ressignificar isso para sermos os vetores da l nossa transformação”.


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MOBILIDADE

Cidades Tecnologias e soluções para a mobilidade urbana foram discutidas durante o evento Connected Smart Cities; Encontro Regional Centro-Oeste foi realizado na sede da CNT por

CARLOS TEIXEIRA


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inteligentes V

ocê já pensou na caminhabilidade que uma cidade possui? Há alguns anos, especialistas em trânsito e mobilidade têm trabalhado para responder essa questão e oferecer alternativas que contribuam para

melhorar esse índice nos grandes centros urbanos. Hoje, já é possível ter acesso a aplicativos que indicam os melhores caminhos a seguir diante de um trânsito caótico e, até mesmo, são informadas as estações de metrô e ônibus mais próximas

do local onde estejamos. Mas, em meio a um mundo cada vez mais tecnológico e inovador, os desafios podem ser ainda maiores. Esse foi o tema central do Encontro Regional Centro-Oeste Connected Smart Cities, rea-

lizado em abril, na sede da CNT, em Brasília. O evento reuniu empresas, entidades e representantes do governo que discutiram, além da mobilidade urbana, temas como meio ambiente, governança, financiamento de


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PPPs (parcerias público-privadas) e concessões. Para definir quais são as cidades mais inteligentes do Brasil, o Connected utiliza uma classificação, criada em 2015 pela Urban Systems Brasil, com 73 indicadores de avaliação, divididos em 11 eixos temáticos: mobilidade, urbanismo, tecnologia e inovação, empreendedorismo, governança, educação, energia, meio ambiente, saúde, segurança e economia. O ranking geral nacional é liderado por São Paulo (SP), seguido pelo Rio de Janeiro (RJ) e por Curitiba (PR). Brasília (DF) ocupa a 4ª posição e está à frente de Belo Horizonte (MG). A plataforma também elabora rankings para cada um dos eixos temáticos. Na área de mobilidade, o Connected cita que a cidade inteligente é aquela que conta com a integração de diferentes tipos de transporte, bem como privilegia e incentiva o uso do transporte coletivo. Para a elaboração do ranking, foram avaliados critérios como a proporção de ônibus e automóveis, a idade média da frota de veículos, o número de ônibus por habitantes, a existência de ciclovias, o número de voos semanais, entre outros. No resultado de 2017, a capital paulista se manteve na primeira colocação, seguida agora por Brasília, Rio de Janeiro, Curitiba e Belo Horizonte. De acordo com Willian Rigon, diretor comercial da

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CONNECTED SMART CITIES/DIVULGAÇÃO

“A mobilidade deve ser pensada e planejada de maneira integrada” JOUBERT FLORES, PRESIDENTE DA ANPTRILHOS

Urban Systems Brasil, os indicadores ajudam em questões como o crescimento das cidades, o que está sendo feito e onde é possível chegar. “Por meio do ranking, podemos mapear as cidades com maior potencial de desenvolvimento no país e, com isso, vislumbrar soluções e até antecipar alguns problemas.” Rigon ainda ressalta que indicadores como o de economia mostram a base para investimentos, e o de mobilidade exibe qual cidade pode ter um maior impacto no meio ambiente. Na visão dele, dessa forma, é possível ter uma visão estratégica do

crescimento das cidades. Paula Faria, diretora-executiva da Sator, empresa que promove o Encontro, cita que um dos grandes desafios para que as cidades sejam mais eficientes passa, principalmente, pela mudança de cultura. “Em termos gerais, o Brasil tem um plano de mobilidade voltado para carros e rodovias, por isso, investir em novas modalidades de transporte é um dos grandes desafios dos gestores públicos. Hoje, o ideal é que os planos de mobilidade promovam a melhoria da infraestrutura e a integração dos diferentes modais.” Para Joubert Flores,

presidente da ANPTrilhos (Associação Nacional de Transporte de Passageiros sobre Trilhos) e um dos palestrantes do evento, o desafio para a criação de cidades inteligentes é ter uma mobilidade que possa unir as soluções como uma proposta de Estado. “A mobilidade deve ser pensada e planejada de maneira integrada para que o cidadão também possa utilizá-la de maneira integrada, seja ela física ou tarifária. Precisamos quebrar o encanto de que certas coisas são caras e demoradas. Não temos outra maneira para fazer. Esse deve ser um pen-


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INOVAÇÕES

CNT participa de conferência em Berlim

“Mapear as cidades com maior potencial de desenvolvimento no país e, com isso, vislumbrar soluções e até antecipar alguns problemas” WILLIAN RIGON, DIRETOR COMERCIAL DA URBAN SYSTEMS BRASIL

samento de Estado, e não de governo, pois trará um benefício social, e não setorial, menor e de curto prazo.” De acordo com o secretário de Desenvolvimento Científico, Econômico, Tecnológico e de Inovação da Prefeitura de Guarulhos (SP), Rodrigo Barros, para se falar de mobilidade em cidades inteligentes, em primeiro lugar, é preciso enxergar o contexto de que passamos pelo momento de maior urbanização no mundo e que, em poucos anos, teremos 75% da população global vivendo nos centros urbanos. “Isso é algo muito mais desafiador do que falarmos de apenas um modal,

O escritório da CNT na Alemanha participou, em Berlim, da conferência “Cidades Inteligentes – Projetos Inovadores na Ásia e em Berlim”, no final de abril. No evento, foram apresentadas as diferenças e similaridades entre os conceitos empregados na Ásia e na Alemanha. Os participantes debateram o futuro do progresso tecnológico, as oportunidades econômicas e a digitalização em diversos setores. De acordo com o diretor do escritório da CNT na Alemanha, Thiago Ramos, em

todo o mundo, especialistas discutem as diferentes ideias sobre o futuro das cidades e as inumeráveis facetas que elas apresentam. “Os riscos e desafios dos crescimentos urbanos são questões que trazem preocupação para diversos países. Apesar de não existir uma definição oficial do que sejam ´cidades inteligentes´, as descrições mais atuais sempre se voltam à digitalização e ao emprego em massa de sensores, bem como à construção de espaços urbanos planejados”, afirma o diretor do escritório.

ou de uma nova pista. O debate maior é que a cidade inteligente, sustentável e humana é compacta e integrada. E, para isso, a integração dos modais é muito importante. Quando tratamos a respeito de investimentos maiores, não podemos deixar de falar dos sistemas de transporte de massa para que a pessoa possa rodar pela cidade inteira.” E para que essas soluções sejam transformadas em realidade, é necessária a participação da iniciativa privada, na visão dos especialistas presentes no Encontro Regional Centro-Oeste Connected Smart Cities. De acordo com

o secretário de Estado de Economia, Desenvolvimento, Inovação, Ciência e Tecnologia do governo de Brasília, Marcelo Borges Chubaci, para avançar, é preciso que haja uma maior segurança jurídica nos contratos. “Quando comparamos as cidades brasileiras com as de outros países, o desafio fica ainda maior. Precisamos evoluir no arcabouço legal a fim de que os gestores públicos, órgãos de controle e tribunais tenham segurança jurídica com o objetivo de olharem para novos dispositivos que estão sendo criados para as cidades l mais inteligentes”.


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CIT faz reconhecimento às Forças Armadas CMD AERONÁUTICA/DIVULGAÇÃO

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aulo Vicente Caleffi foi recebido em audiência, em 17 de abril passado, pelo comandante do Exército (General de Exército Eduardo Dias da Costa Villas Bôas) e também pelo comandante da Aeronáutica (Tenente-Brigadeiro do Ar Nivaldo Luiz Rossato), nos seus respectivos gabinetes, em Brasília-DF, para realizar o ato de solenidade, em nome dos 18 países que compõem a Câmara Interamericana de Transportes (CIT), quando condecorou cada comandante com a medalha de Ordem do Mérito Interamericano dos Transportes (OMITrans), no Grau Embaixador, o mais elevado da Câmara, pelas suas valorosas contribuições ao desenvolvimento do setor de transporte brasileiro. O ato no Comando do Exército antecedeu ao 19 de abril, considerado o dia do Exército Brasileiro, como aquele

em que simbolicamente foram constituídas as raízes da Força na Batalha de Guararapes (1648). Desde os primórdios da Grécia antiga até os dias atuais, a atuação militar ainda se faz imprescindível, seja no transporte de suprimentos, seja no apoio logístico às comunidades mais isoladas, principalmente em regiões como da Amazônia, uma vasta e importante área do país. No Comando da Aeronáutica, houve grande ênfase no Programa Dimensão 22, que recebe este nome por corresponder a uma área de 22 milhões de km2, um cenário tridimensional da Força Aérea Brasileira - FAB, que controla, defende e integra o Brasil, com ênfase, nesta última, ao transporte e a logística. A CIT, mediante a outorga da medalha OMITrans, reconhece o pioneirismo das Forças Armadas na expansão logística da mobilidade aérea e terrestre.


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CIT hace reconocimiento a las Fuerzas Armadas GAB CMTEX/DIVULGAÇÃO

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aulo Vicente Caleffi fue recibido en audiencia, el pasado 17 de abril, por el comandante del Ejército (General de Ejército Eduardo Dias da Costa Villas Bôas) y también por el comandante de la Aeronáutica (Teniente-Brigadier del Aire Nivaldo Luiz Rossato), en sus respectivos gabinetes, en Brasilia-DF, para realizar el acto de solemnidad, en nombre de los 18 países que componen a la Cámara Interamericana de Transportes (CIT), cuando condecoró a cada comandante con la medalla del Orden del Mérito Interamericano de los Transportes (OMITrans), en Grado Embajador, el más elevado de la Cámara , por sus valerosas contribuciones al desarrollo del sector de transporte brasileño. El acto en el Comando del Ejército antecedió al 19 de abril, considerado el día del Ejército Brasileño, como aquel en que simbó-

licamente fueron constituidas las raíces de la Fuerza en la Batalla de Guararapes (1648). Desde el inicio de la antigua Grecia hasta los días actuales, la actuación militar aún es imprescindible, sea en el transporte de suministros, sea en el apoyo logístico a las comunidades más aisladas, principalmente en regiones como la Amazonia, una extensa e importante área del país. En el Comando de la Aeronáutica, se dio gran énfasis al Programa “Dimensão 22”, el cual recibe este nombre por corresponder a un área de 22 millones de Km2 , un escenario tridimensional de la Fuerza Aérea Brasileña – FAB, la cual controla, defiende e integra a Brasil, con énfasis, en esta última, al transporte y logística. La CIT, mediante la otorga de la medalla OMITrans, reconoce el pionerismo de las Fuerzas Armadas en la expansión logística de la movilidad aérea y terrestre.

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CENIPA recebe alunos do MBA GETRAM

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Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA) recebeu, no dia 20 de abril passado, alunos e ex-alunos do MBA em Logística, Transporte e Mobilidade (GETRAM), o qual é coordenado pela Universidade Católica de Brasília (UCB) em parceria com a Câmara Interamericana de Transportes (CIT), com a finalidade de apresentar detalhadamente estudos de caso de acidentes aéreos no território brasileiro, bem como o processo técnico de investigação, alinhando a teoria do curso à prática da vida real. Na ocasião, o chefe do CENIPA, o Brigadeiro do Ar Frederico Alberto Marcondes Felipe, realizou a abertura, recepcionando os alunos para uma explanação sobre o desenvolvimento das atividades. O CENIPA é uma Organização do

Comando da Aeronáutica e tem por finalidade planejar, gerenciar, controlar e executar as atividades relacionadas com a prevenção e investigação de acidentes aeronáuticos. Para realizar a sua missão, o Centro desenvolve anualmente atividades educacionais, operacionais e regulamentares. A turma do GETRAM-CIT pôde conhecer a infraestrutura tecnológica, pela qual o Brasil é reconhecido e é referência internacional, bem como os desafios enfrentados pelos profissionais. A depender da complexidade do acidente, a investigação pode durar vários meses. Cabe destacar que há um laboratório de destroços, local onde acidentes e incidentes foram reconstruídos de forma fidedigna à ocorrência real, para promover o aprendizado técnico especializado.


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ACS CENIPA/DIVULGAÇÃO

CENIPA recibe alumnos del MBA GETRAM

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l Centro de Investigación y Prevención de Accidente Aeronáuticos (CENIPA) recibió, el pasado 20 de abril, alumnos y exalumnos del MBA en Logística, Transporte y Movilidad (GETRAM), el cual es coordinado por la Universidad Católica de Brasilia (UCB) en acuerdo con la Cámara Interamericana de Transportes (CIT), con la finalidad de presentar detalladamente estudios de caso de accidentes aéreos en el territorio brasileño, así como el proceso técnico de investigación, asociando la teoría del curso a la práctica de la vida real. En la oportunidad, el jefe del CENIPA, el Brigadier del Aire Frederico Alberto Marcondes Felipe, realizó la apertura, recibiendo a los alumnos para una explicación acerca del desarrollo de las actividades. El CENIPA es una Organización del Comando de la Aeronáutica

y tiene la finalidad de planificar, gerenciar, controlar y ejecutar las actividades relacionadas a la prevención e investigación de accidentes aeronáuticos. Para llevar a cabo su misión, el Centro desarrolla anualmente actividades educativas, operativas y reglamentarias. El grupo del GETRAM-CIT pudo conocer la infraestructura tecnológica, por la cual Brasil es reconocido y es referencia internacional, así como los retos enfrentados por los profesionales. A depender de la complejidad del accidente, la investigación puede llevar varios meses. Es importante destacar que hay un laboratorio de destrozos, local dónde los accidentes e incidentes se han reconstruidos de forma fidedigna a la ocurrencia real, para la promoción del aprendizaje técnico especializado.

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TEMA DO MÊS

Os desafios da implementação dos veículos autônomos

Brasil está longe dos autônomos, mas é preciso acompanhar a tecnologia EDSON ORIKASSA

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EDSON ORIKASSA Presidente da AEA (Associação Brasileira de Engenharia Automotiva)

odemos assegurar que, nos últimos 30 anos, o Brasil – enquanto polo produtivo de autoveículos e no seu mercado interno – deu importantes passos em pesquisa e desenvolvimento nas áreas de emissões e segurança veiculares, além de promover marcos regulatórios capazes de reduzir o consumo de energia (combustíveis fósseis ou não). Avançou muito na qualidade dos próprios combustíveis. Passados pouco mais de 60 anos, no entanto, é lícito afirmar que a indústria automobilística brasileira ainda é jovem, dentro do contexto de que quase a totalidade dos fabricantes é originária de outros países. Diante dessa constatação, há até pouco tempo, quase todo o ciclo do produto – dos primeiros desenhos ao concept car e ao carro de rua – era desenvolvido pelas matrizes. As etapas mais significativas da engenharia automotiva nacional foram o desenvolvimento dos autoveículos com motores a álcool e, depois, já nos anos 2000, os bio-

combustíveis, cuja tecnologia é completamente dominada por brasileiros. Embora a tecnologia seja secular, apenas há menos de dez anos, o Brasil começou a debater sobre os veículos elétricos. E, nessa esteira, sobre os veículos híbridos, esses mais factíveis porque independem de complexa infraestrutura de eletropostos, por exemplo. Mas, em ambos os casos, o Brasil ainda engatinha, diferentemente de alguns países da Europa, do Norte e do Ocidente europeu, parte dos Estados Unidos (sobretudo na Califórnia), Japão e, mais recentemente, na China. Trata-se de uma análise muito simplista, em poucas palavras, mas que reflete a realidade brasileira, ao lado de outros fatores, como a relação de habitantes por veículo, hoje, no patamar de 5,5 por 1 – longe dos índices do primeiro mundo–; e as vantagens competitivas e ambientais do flex fuel, em que os bicombustíveis são até menos poluidores do que o próprio veículo elétrico, dependendo da fonte energética. Portanto, o Brasil ainda vai trilhar por

caminhos dos motores a combustão interna. Também já temos estudos sobre a célula de combustível em terras tupiniquins, e com muito orgulho. E ainda sobre os veículos autônomos, por exemplo, com a iniciativa dos mestres automotivos em algumas universidades brasileiras. Mas, reconhecemos que estamos muito distantes das realidades da Suécia, Noruega, Alemanha, França, Japão, entre tantos outros países que possuem protótipos em ambientes fechados ou mesmo em áreas restritas de cidades inteligentes. No Brasil, o grande desafio em relação aos veículos autônomos é a falta de infraestrutura de ruas, rodovias e de tecnologia da informação, por meio da qual os veículos “conversam” entre si e “atendem” aos parâmetros digitais das cidades inteligentes. Com certeza, estamos muito longe dos autônomos, mas, se quisermos nos manter como polo produtivo de automóveis, temos que ao menos acompanhar e desenvolver conhecimentos sobre esses veículos do futuro.


Veículos autônomos: qual o futuro deles? MARCELO AUGUSTO LEAL ALVES

A

respeito do futuro dos veículos autônomos, duas notícias recentes nos indicam que há ainda um longo caminho a percorrer. Em março deste ano, nos Estados Unidos, uma pedestre foi atropelada e morta por um carro autônomo em testes. Evidentemente, os veículos autônomos ainda necessitam de maturação. A expectativa de um tráfego sem mortes é utópica, uma vez que máquinas falham e certamente veremos ainda muitos óbitos, principalmente neste período de desenvolvimento. O acidente pode ter sido originado no sistema de visão. Tal como um motorista, o veículo autônomo precisa “ver” os arredores. Mas como garantir que os sensores sejam capazes de detectar todo e qualquer tipo de obstáculo em todas as possíveis condições de iluminação? Não há como garantir sensores 100% eficazes sempre. Outra possibilidade de problema está no software que interpreta os sinais dos sensores e comanda os mecanismos do veículo de modo que não ocorra um acidente. Sua implantação é feita principalmente por “machine learning”, um tipo de inteligência artificial: o software

é capaz de aprender a reconhecer padrões (por exemplo, sinais de trânsito) e situações-limite e a tomar as ações devidas para evitar colisões. Trata-se de um sistema computacional complexo, que ainda está em desenvolvimento. Sabe-se que esse tipo de algoritmo é eficaz em detectar padrões dentro do domínio de aprendizado, mas não é tão eficaz quando a situação presente não se enquadra exatamente no conjunto das situações vistas. A outra notícia é o escândalo de uso de dados pessoais por uma rede social. Ora, que impacto isso pode ter no tema “veículos autônomos”? Esses são “computadores sobre rodas”, que estarão conectados em rede, trocando dados entre si e armazenando-os no seu interior. Entre outras informações, os dados contêm todos os hábitos de circulação do usuário: destinos, horários, trajetos. Informações, a princípio, privadas, que podem ser usadas de modo errado contra o usuário ou que ele não gostaria de compartilhar. Não existe segurança total para computadores que estejam em rede e trocando informações. O veículo autônomo pode receber dados espúrios ou

vírus que comprometam o funcionamento e a segurança. Um computador único que controle as minúcias do comportamento de todos os veículos não parece viável. Entretanto um cenário perfeitamente possível é a frota ou parte dela receber um comando externo para, por exemplo, não trafegar acima de certa velocidade ou em determinada via. Apesar dos riscos e desafios, é pouco provável que o desenvolvimento dos autônomos seja abortado. As perspectivas de melhora na segurança são reais. As máquinas não têm os maus hábitos dos humanos e fazem apenas o que lhes foi programado. Nos veículos de hoje, é possível contar com automação que aumenta a segurança. Uma redução efetiva do número de mortos e feridos no tráfego, a tal ponto de esses casos se tornarem raros – como são os acidentes aéreos –, fará com que o público aceite que “não há pessoas guiando o carro”. Entretanto devemos olhar com cuidado toda e qualquer tecnologia nova. Os efeitos dependem das intenções daqueles que a usam e controlam. É nesse ponto que reside o futuro dos carros autônomos e seus efeitos sobre todos nós.

MARCELO AUGUSTO LEAL ALVES Professor doutor do Centro de Engenharia Automotiva da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo


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ALEXANDRE GARCIA

Ou vai ou racha

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renderam um ex-presidente e pré-candidato à presidência da República; trocaram o ministro da Fazenda; grandes empresários foram presos, mas a economia continua se recuperando do caos recente, o câmbio continuou estável e a bolsa de valores permanece em valorização. Parece que esses são bons sinais de que os agentes econômicos decidiram se separar daquele Brasil antiquado dos políticos que não fazem política, mas fisiologismo. É como avançar na estrada sem olhar para o acostamento malcuidado. É conveniente avançar se desligando da paisagem feia. Mas isso não pode ser permanente, porque, cedo ou tarde, o acostamento pode ser causa de desastre – e em uma paisagem feia. O país está assim: em um vai-ou-racha obrigatório, porque, do contrário, não se recupera o emprego; do contrário, vamos todos à falência. Mas, se deixarmos a política com os fisiológicos, cedo ou tarde, a erosão do acostamento vai afetar a nossa estrada. Um amigo meu que é português me perguntou se as eleições deste ano irão purificar o país. Respondi, com constrangido realismo, que, se não mudarmos certos grupos de políticos e se os eleitores não mudarem, continuaremos iguais. Como mudar o país se não mudarem os que podem promover as mudanças? O que se vê é que a economia continua a apresentar bons resultados, juros e inflação baixos, índices do PIB promissores e até a agência de risco Moody`s melhorando a nota do país. Empresas e entidades – como a CNT – estão fazendo a sua parte, mas nossos representantes

na Câmara e no Senado continuam mais preocupados com as eleições e com o braço cada vez mais exercitado da Polícia Federal, do Ministério Público e da Justiça Federal. No único país em que há a jabuticaba da prisão só no juízo final (vale o trocadilho), ainda se discute se uma pessoa condenada duas vezes ainda deve cumprir pena. Se eu contar ao meu amigo português, ele vai me devolver: “e vocês fazem piada de português?” Um país desse tamanhão, com tantas terras para produzir alimentos, com um subsolo tão rico, com esse marzão rico em alimentos e em petróleo, com esse clima, com essa topografia e com essa gente bem-humorada e querendo fazer o bem, por que não temos nem ordem nem progresso como proclama a nossa bandeira? Seria uma compensação do universo por ter nos dado tanto potencial? Sei que o gargalo é a cabeça. Dos políticos e da nossa. Não cumprimos leis, horários, protocolos, e a ordem vira desordem. Sem esse motor regulado, desregulamos nossa marcha, sempre no vai-ou-racha ciclotímico. Assim, é preciso abrir cabeças e ver como se organiza o mundo que progride. Um mundo onde ordem e progresso estão inscritos nas cabeças – não precisam estar nas bandeiras. Mas não se abrem cabeças sem se abrirem caminhos para o sangue do país irrigar cada economia. Estamos atrasados há décadas nisso – em rodovias, ferrovias, hidrovias, aeroportos. Isso sem falar na má qualidade do que existe; sem falar da falta de manutenção e de sinalização; da insegurança; da lentidão; dos atrasos; do emaranhado legal e tributário. E lá vamos nós. E sai da frente, porque ou vai ou racha.


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De 11/1 a 13/7/2018

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São Paulo-SP

De 11/1 a 27/7/2018

10/9/2018

Curitiba-PR

De 11/1 a 31/8/2018

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