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Ano 10 · Edição 111 · R$ 5,30

Cachaça

A nobre bebida do Brasil MESA REDONDA Ricardo Amaral Cidade Prédio pioneiro revitalizado Meio Ambiente Produtos orgânicos alimentam Brasília

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Sumário

36

11 4458

28 60

10 Cartas

40 Turismo

66 Propaganda e Marketing

11 Mesa Redonda

42 Planos e Negócios

68 Vinho

16 Brasília e Coisa & Tal

44 Automóvel

18 Panorama Político

46 Vida Moderna

20 Política Brasília

48 Personagem

22 Visão de Brasília

50 Saúde

73 Esporte

24 Capa

52 Moda

74 Frases

28 Cidadania

54 Comportamento

75 Justiça

30 Gente

56 Exposição

32 Cidade

58 Cinema

34 Mercado de Trabalho

60 Gastronomia

36 Educação Holística

62 Agenda Cultural

80 Ponto de Vista

38 Tecnologia

64 Meio Ambiente

82 Charge

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PLANO BRASÍLIA

70 Tá Lendo o Quê? 72 Rindo à Toa

76 Diz aí, Mané 78 Cresça e Apareça



Expediente

Carta ao leitor Os produtores brasileiros de cachaça pretendem aumentar as exportações de sua bebida, mas esbarram numa carga tributária de quase 80 por cento que inviabiliza qual-

DIRETOR EXECUTIVO Edson Crisóstomo crisostomo@planobrasilia.com.br

quer pretensão. É o que mostra a matéria de capa desta

DIRETORA DE PROJETOS ESPECIAIS Nubia Paula nubiapaula@planobrasilia.com.br

nacional é cada vez mais recomendada por cachaciers

edição. Enquanto isso, a produção desse nobre destilado reunidos em Confrarias espalhadas pelo País. Em Brasília, a Confraria da Cachaça do Brasil já patrocinou, em 12 anos

Plano

BRASÍLIA Editora-Chefe Elisa de Alencar

de existência, 145 degustações, com a participação de produtores de vários estados. Chama a atenção, aqui, por exemplo, a Cachaça do Piloto e a Cachaça do Ministro, produzidas em Alexânia, no Entorno do DF. Nesta edição, uma mesa-redonda com o jornalista e

Chefe de Redação Joaquim Jodelle

colunista político Ricardo Amaral, autor do livro A Vida

DESIGN GRÁFICO Eward Bonasser Jr, Líbio Matni e Raphaela Christina

quer é Coragem sobre o papel da Presidenta Dilma como

CRIAÇÃO: Paula Alvim

ministra das Minas e Energia e chefe da Casa Civil nos dois

FOTOGRAFIA Fábio Pinheiro EQUIPE DE REPORTAGEM Alexandra Dias, Caroline Aguiar, Djenane Arraes, Lígia Moura, Pedro Wolff, Vanessa Martins e Yuri Achcar

mandatos de Lula. Outro interessante assunto é a filmografia do cinegrafista pioneiro Dino Cazzola, que registrou para a história importan-

COLABORADORES: Antônio Duarte, Antônio Testa, Atalá Correia, Bohumil Med, Carla Ribeiro, Carlos Grillo, Cerino, Érika Kokay, Fádua Faraj, Fernanda Duarte, Ricardo Movits, Romário Schetino e Tarcísio Holanda

tes momentos da curta, porém rica, saga da capital federal.

REVISÃO: Lígia Dib Carneiro

inauguração, o bloco D da 106 Sul, entregue em 1959,

IMPRESSÃO Ibep Gráfica

acaba de ser revitalizado. Seus moradores mais antigos

TIRAGEM 60.000 exemplares REDAÇÃO Comentários sobre o conteúdo editorial, sugestões e críticas às matérias redacao@planobrasilia.com.br AVISO AO LEITOR Acesse o site da editora Plano Brasília para conferir na íntegra o conteúdo de todas as revistas da editora www.planobrasilia.com.br PLANO BRASÍLIA EDITORA LTDA. SCLN 413 Bl. D Sl. 201 CEP: 70876-540, Brasília-DF Comercial: 61 3041.3313 | 3034.0011 Redação: 61 3202.1357 Administração: 61 3039.4003 revista@planobrasilia.com.br 28 de fevereiro de 2012 Não é permitida a reprodução parcial ou total das matérias sem a prévia autorização dos editores. A Plano Brasília Editora não se responsabiliza pelos conceitos emitidos nos artigos assinados.

Aliás, a propósito de Brasília, um prédio anterior à

guardam grandes recordações. Já trabalhando para os eventos da Copa do Mundo de 2014, a Secretaria do Trabalho se movimenta para qualificar pessoal de diversas funções, de modo a preparar a capital federal para receber com eficiência os visitantes. Um brasiliense, Hugo Parisi, praticante de saltos ornamentais em diversas competições internacionais, trabalha para levar o nome do Distrito Federal ao podium das Olimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro. Por último, a Universidade da Paz, a primeira instituição holística do mundo, a partir de Brasília, oferece o saber alternativo para os que veem o mundo por um outro viés. Tudo está a sua disposição. E tem mais. Leiam.

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Cartas Somos brasilienses de coração, pioneiros. Vivemos em Brasilia desde 1961. Vibramos com tudo de bom e importante que acontece na nossa cidade. A Direção da revista Plano Brasilia Gente está de parabéns por ter em sua equipe a excelente jornalista Marlene Galeazzi. Profissional de alto nível, conceituada, experiente , batalhadora. Não poderiam ter escolhido melhor a editora chefe desta revista que já é um sucesso! Deu gosto ler a Revista ! Ótimas reportagens, de grande qualidade. Adoramos! Sucesso! Fatima e Reginaldo Oscar de Castro Parabéns pela matéria com os “chorões” de Brasília. A família Ernest Dias é nosso patrimônio musical e histórico. Parabéns a Beth pelo resgate dos primeiros. É sempre bom conhecer a história daqueles que fizeram e fazem tão bem à nossa capital. Mônica Costa Lago Norte Parabéns pelo novo colunista, Antônio Testa. Gostei da análise sobre a política de Brasília. Muito lúcida e clara. As disputas aqui são muito corporativistas mesmo. Cada um defendendo a sua classe. Será que a cidade foi feita mesmo para ser partida? Por que os jornalistas não fazem uma reportagem com o tema? Juliano Azevedo Cruzeiro

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Fale conosco Cartas e e-mails para a redação da Plano Brasília devem ser endereçadas para: SCLN 413 Bl. D Sl. 201, CEP 70876-540 Brasília-DF Fones: (61) 3202.1357 / 3202.1257 redacao@planobrasilia.com.br

As cartas devem ser encaminhadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente. A Plano Brasília reserva-se o direito de selecioná-las e resumi-las para publicação. Mensagens pela internet sem identificação completa serão desconsideradas.


Mesa Redonda

Ricardo Amaral

Equipe Plano Brasília: Alexandra Dias, Caroline Aguiar, Elisa de Alencar, Joaquim Jodelle, Lígia Moura e Yuri Achcar | Fotos: Fábio Pinheiro

M

ineiro de Belo Horizonte, nascido em 1958, o jornalista Ricardo Amaral começou a carreira profissional em 1982. Passou por veículos, como o Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo, O Globo, Veja, Istoé Senhor, O Estado de S. Paulo, Época, Valor Econômico e Reuters. Cobriu como repórter cinco eleições presidenciais: da vitória de Fernando Collor, em 1989, até a reeleição de Lula, em 2006. Trabalhou na assessoria de Dilma Rousseff desde os últimos meses na Casa Civil até o final da vitoriosa campanha à Presidência da República. Em seguida, decidiu escrever o livro A vida quer é coragem (Ed. Primeira Pessoa), uma reportagem biográfica sobre a vida da presidenta.

PB > A decisão de escrever uma biogra-

não era um capricho do Lula, como

fia de Dilma Rousseff foi tomada durante

muita gente pode pensar. Tinha uma ló-

a campanha?

gica política, interna e pessoal. A minha

RA > A ideia do livro vem depois da elei-

visão é a de que a candidatura dela era a

ção. Nos dias seguintes, havia aquela ex-

melhor expressão do governo dele.

pectativa sobre o que cada um iria fazer. Olhando como a história foi contada nos

Mas ninguém imaginava Dilma como a sucessora.

jornais, foi de maneira muito fragmen-

Não havia um conhecimento da Dilma,

tada. Não cria um encadeamento lógico.

mas já havia uma identificação dela

Para muita gente, parecia que a Dilma

com Lula. O processo eleitoral não é só

ganhou porque era a candidata do Lula,

a campanha. O que eu procuro escrever

era mulher... A narrativa não estava

é que existe uma lógica. E qual é essa

completa. Faltava explicar, como eu digo

lógica? A reeleição do Lula foi a supera-

na introdução do livro. Como repórter,

ção de uma crise política muito grande,

eu queria contar essa aventura política.

o mensalão. Foi a maneira como ele encontrou uma saída política. O que

A candidatura de Dilma foi uma imposição

ele precisava? Primeiro, ir para a rua

de Lula ao PT?

fazer política, que foi o que ele fez. Em

Não sou porta-voz nem dele nem dela,

segundo lugar, fazer um governo que

mas tenho certeza de que foi uma coisa

fosse coerente com o projeto dele, que

natural. A escolha dela como candidata

ele pudesse minimamente entregar o

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peixe que ele vendeu na eleição. E o que

do PAC (Programa de Aceleração do

ele vendeu? Fazer o País voltar a crescer

Crescimento), já é um sinal claro. E ela,

dentro de uma lógica de estimular a

com um senso de lealdade muito gran-

dinâmica interna da economia como

de, também nunca perguntou. De caso

nunca foi feito antes, à base de distri-

pensado, Lula não abriu a discussão no

buição de renda, aumento da massa

PT, com os aliados... nem com ela! No

salarial e aumento do investimento. Ou

Natal de 2008, ela conversa com a filha,

seja, ele precisava fazer um baita de um

Paula, e o segundo marido dela, Carlos

governo. E, para fazer isso, a pessoa que

Araújo, e fala sobre o que tem saído

ele escolheu foi a Dilma.

nos jornais. E confirma à família que é mesmo a candidata de Lula. Nesse perí-

E quais são essas razões??

Olívio Dutra, por volta de abril ou

odo, de dois anos, houve a consolidação

O governo Lula foi um sucesso eleitoral

maio. Eles são muito íntimos e amigos,

da candidatura de Dilma. Já tinha feito

e político graças, entre outros fatores, à

Olívio é um dos melhores amigos do

o PAC e estava para sair o Minha Casa,

contribuição significativa que Dilma deu

Lula. Nesta conversa, Olívio comenta

Minha Vida.

a ele. Como coordenadora do governo,

que falavam por aí que, depois de

Dilma permitiu a Lula ir fazer política

Lula, Ciro Gomes seria o sucessor. E

Qual foi o peso da campanha eleitoral na

enquanto ela cuidava do governo e

vitória de Dilma?

fazia os resultados aparecerem. Ele en-

Para contar essa história, a campanha

controu a pessoa para fazer isso. O que

eleitoral é apenas um elemento. Nem

eu tento contar no livro é que a história pessoal e a história política de Dilma se encadeiam com a história do Brasil nos últimos 50 anos. Desde Getúlio à reeleição do Lula, as peças se encaixam perfeitamente. Eu mostro os contextos sociais, políticos e econômicos, em vários períodos, em que ela tomou as decisões dela.

Além de ser a eleição da primeira mulher para a presidência, era também um triunfo do Lula

sempre a campanha eleitoral é decisiva para uma eleição. De 1989 para cá, tivemos quatro presidentes eleitos. No meu ponto de vista, o único eleito por causa da campanha foi Fernando Collor. Ele não tinha uma história pregressa, se valeu daquele momento, soube aproveitar bem – usando métodos que eu condeno. Fernando Henrique se tornou presidente por um

Mas Dilma não era o primeiro nome do PT.

episódio épico: ele conduziu a implan-

Para quem olhava o governo de fora,

tação do Real. Você superar a inflação

viu logo no primeiro ano duas pessoas:

pergunta se não teria ninguém no PT.

foi um ato mais que heróico. Isso

José Dirceu e Antônio Palocci. Eram

Lula responde que tem sim e é uma

capitalizou Fernando Henrique, além

sucessores visíveis, talvez reconhecidos.

pessoa bem próxima a Olívio: a Dilma,

de outras qualidades que ele tinha.

Só que, em menos de três anos, os dois

que além de tudo tem a novidade de

Mas não foi por causa da campanha.

estavam fora do governo. Dirceu, em

ser mulher.

Quando apareceu o Real, ele disparou.

julho de 2005, e Palocci, em março de

O Lula já estava na quarta campanha.

2006, eram cartas descartadas. Mas,

Quando Dilma soube que era a candidata

Ele passou 20 anos tentando, com o

nesta fase, o Lula já pensava em Dilma.

de Lula?

mesmo discurso. Eu nunca acreditei

Essa é uma das revelações do livro.

Teve um telefonema, um jantar? Não

nessa história de “Lula, Paz e Amor”.

Antes da reeleição, no primeiro semes-

houve nada disso. Lula foi criando

Ele sempre foi o mesmo Lula. O que

tre de 2006, Lula menciona a Dilma

fatos consumados. Começou a levá-la

aconteceu é que a conjuntura política

como possível sucessora pela primeira

para as inaugurações e coisas do tipo.

em 2002 foi favorável a ele como não

vez. É uma conversa que ele teve com

Quando ele dá a Dilma a coordenação

tinha sido nas outras disputas.

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O próprio Fernando Henrique, na época,

julgamento ou responderam a algum

disse que era a vez de Lula.

tipo de processo. Outras 20 mil ficaram

Era uma confissão do fracasso do go-

com registro na polícia. Mais de 2 mil

verno dele. É uma tentativa de dourar a

denunciaram que foram torturadas.

derrota, tentando se tornar sócio da vitó-

Era preciso coragem para dizer isso,

ria do outro. A conjuntura era favorável

porque afirmar que foi torturado não

ao Lula, porque havia o esgotamento

trazia nenhum benefício para a pessoa.

daquele modelo. A hegemonia do PSDB

Ao contrário: corria o risco de voltar

e a do DEM estava esgotada. Lula foi

para a cadeia e apanhar mais ainda.

coerente durante vinte anos até chegar

Eles acabaram socialmente cercados. A

o momento dele. E Dilma, da mesma

avaliação da conjuntura foi errada, a

maneira, não é fruto de campanha.

cia ou a ditadura. O papel que me

escolha da luta armada foi equivocada,

propus foi mostrar as circunstâncias

mas havia razões para que esses erros

Mais de um ano depois de assumir o Palácio

que a levaram a fazer aquela opção.

fossem cometidos.

do Planalto, Dilma tem popularidade maior

Era uma opção sem volta.

até que a de Lula no mesmo período de

Quando Dilma busca outras alternativas?

governo. Ele acertou na escolha?

Quando chegou o momento de lutar

Acho que o povo estava certo. A maioria

pela redemocratização, fortalecer o

do eleitorado está satisfeita. Dilma está

MDB, lutar pela anistia, Dilma vai

sendo coerente com a história dela. Então, Dilma aprendeu a fazer política? Essa é outra razão pela qual escrevi o livro. Eu considero isso outro dos rótulos que ela carregou. Dilma está na luta política desde seus 16 anos. E nunca saiu. Há maneiras diferentes de fazer política. De fato, ela nunca tinha disputado uma eleição. Mas ela participou de campanhas e mais

Dilma permitiu a Lula ir fazer política enquanto ela cuidava do governo e fazia os resultados aparecerem

campanhas. Ela fundou partido, lutou

o livro, ficou clara essa coerência para mim: ela muda, mas não muda de lado. Antes de 1964, ela está com Jango, com as reformas de base. Depois de 64, ela está contra a ditadura. E quando se radicaliza a ditadura, ela vai para a luta armada. Depois, derrotada a luta armada, começa outro debate: da ditadura contra a democracia. E ela está do lado da democracia. Quando vem a questão da luta por aumento de salários, as

em organizações clandestinas. Fazia política o dia inteiro.

fazendo o que é possível. Escrevendo

greves, ela está do lado dos sindicatos. Não havia outro caminho? Realmente,

você

pensar

No PDT do Rio Grande do Sul, ela fazia que

o trabalho na ala das mulheres e na ala

Nesta fase da luta armada, Dilma é criticada

alguém vai pegar em armas para lutar

hoje

trabalhista. O PDT faz muito sentido na

por não ter defendido a democracia.

contra um governo que representa a

história da Dilma. E ela ficou 20 anos ali

Eu escrevi 304 páginas sem julgar

burguesia e os interesses do capital in-

até que pediram para que ela rompesse

ninguém. Desde 1947, quando ela

ternacional, submetido ao imperialismo

com Olívio Dutra (então governador do

nasceu, são mais de 100 personagens.

norte-americano, parece-nos comple-

Rio Grande do Sul).

E eu cheguei à última linha sem fazer

tamente fora de propósito. Agora, em

juízo de valor de ninguém, nem dos

1966, 67 e 68 não era. Existia uma ló-

Qual é uma das principais descobertas

militares. O que tentei apresentar

gica que levava àquilo. E tento mostrar

dos leitores?

foram as circunstâncias. Cinquenta

as circunstâncias que levaram Dilma e

Dilma tinha uma história pessoal muito

anos depois, não é correto perguntar

outros para esse caminho. Tivemos mais

rica. Em si, já valia a pena contá-la

se eles estavam querendo a democra-

de 10 mil pessoas que foram levadas a

independentemente de ela chegar à

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tivesse controlado a inflação, não tinha

percebeu a importância do gás e conse-

conseguido construir um modelo mais

guiu deixar fechado um contrato com

autônomo de desenvolvimento. O Brasil

a Petrobras para, quando houvesse um

era muito dependente do FMI, dos Esta-

gasoduto Brasil-Bolívia, o gás passasse

dos Unidos, do mercado. O Brasil que-

pelo Rio Grande do Sul. Ela fechou o

brou três vezes no governo FHC. Mas,

negócio do gás sem ter dinheiro. Con-

quando vem o apagão, é uma frustração

seguiu que o governo federal financias-

da sociedade muito grande. Quando os

se a empresa de gás do Rio Grande do

defeitos todos aparecem em um só.

Sul. Trouxe a Brasília os empresários gaúchos. Fez investimentos em energia eólica. O fato é que, em dois anos, a oferta de energia elétrica no Rio Gran-

Presidência da República. Primeiro, ela foi presa e saiu. Para muita gente, já teria sido o limite. Mas ela continuou. Ela ajuda a fundar um partido no Rio Grande do Sul, que chega ao governo do estado. Ela vira secretária... está ótimo! Aí ela vai olhando cada vez mais na direção da mudança, já tinha uma afinidade com Olívio Dutra. No primeiro governo do PT em um estado

A escolha da luta armada foi equivocada, mas havia razões para que esse erro fosse cometido

de do Sul aumentou 46%, enquanto o Brasil enfrentava racionamento. Foi aí que Dilma ganhou destaque? Quando Lula vai fazer o programa de governo, em 2002, Olívio Dutra diz a ele que tem uma secretária de energia que entende muito do assunto. Aí Lula coloca Dilma como ministra de Minas e Energia. Em um ano, ela fez

brasileiro, o Rio Grande do Sul, ela

um novo modelo energético, elogiado

assume um cargo muito importante: a

pelos investidores e que garantiu que o

Secretaria de Energia e Comunicação.

valor da tarifa não aumentasse – pelo

Para uma mulher que viveu a vida dela

O apagão sentenciou a derrota do PSDB?

contrário, houve redução. E entregou,

e fez a política sempre pela esquerda,

Quando veio o apagão, a geração de

de quebra, o Luz Para Todos, que

era uma vida legal. Poderia ter parado

energia no Brasil tinha empatado com

Lula não tinha pensado. Havia um

por ali. Mas não parou.

a demanda. Foram oito meses de racio-

programa de eletrificação rural que

namento, que custaram R$ 48 bilhões,

não funcionava, porque tinha que ser

Por que o apagão no governo FHC mereceu

de acordo com o Tribunal de Contas da

pago. E na roça ninguém pagava, não

um capítulo inteiro?

União. Foi um período de baixo astral

tinha dinheiro. Foi um dos programas

O apagão foi entre 2000 e 2001. O go-

para o País: o comércio fechava, as ruas

de maior sucesso do governo Lula.

verno FHC tinha estabelecido algumas

ficavam escuras, a indústria demitiu, 1

Mudou a vida das pessoas no campo.

mudanças definitivas no País. Na política

milhão de empregos sumiram. Quem

Não é luz apenas para assistir tevê.

fiscal, a criação da Lei de Responsabili-

tirou o Brasil do racionamento foi

É para ter geladeira, tirar leite, fazer

dade Fiscal. A moeda tinha dado certo, o

o povo, que passou a usar melhor a

suco, industrializar a produção. Coisa

controle da inflação estava funcionando,

energia elétrica. Isso provocou uma

que, nos Estados Unidos, foi feita nos

mas a um custo muito alto, porque era

decepção e trincou a imagem de bons

anos 30. Levamos quase 100 anos para

a âncora cambial. Foi o primeiro erro

gestores do PSDB. E o que a História

fazer isso. Quando vem o mensalão,

de Fernando Henrique. Mas eram as

fez? A Dilma é uma economista. Tinha

em 2005, José Dirceu sai. Quem era o

circunstâncias dele, não vou julgar. Ele

tido uma passagem pela área de ener-

melhor ministro para ir à Casa Civil?

vivia uma crise política interna. Perdeu

gia por um ano, no Rio Grande do Sul,

Não tinha outro: era Dilma. Ou seja,

os interlocutores dele, Mário Covas,

no último ano do governo Colares.

Dilma vai para o coração do governo

Luís Eduardo Magalhães. E, embora

Naquele ano, ela estudou o assunto,

Lula por conta do apagão.

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Brasília e Coisa & Tal

Romário Schettino

Licitação

Bienal do livro - I O mais importante projeto para o aniversário de Brasília deste ano é, sem dúvida, a I Bienal do Livro e da Leitura, preparada pela Secretaria de Cultura do DF. O secretário Hamilton Pereira está eufórico com o time de escritores que virá da África: Wole Soyinka, Nobel de Literatura (Nigéria); Paulina Chiziane, de Moçambique; e Conceição Lima, de São Tomé e Príncipe. Dos EUA virá Alice Walker, autora de A Cor Púrpura. Da América Latina, receberemos Hector Abad, Colômbia; e Michel Ballatin e Guillermo Arriaga (México). Participará ainda a neozelandesa Gill Pittar, autora da série infantil Milly Mollu. Do Brasil, estão escalados João Ubaldo Ribeiro, Ziraldo, Milton Hatoun, Ferreira Gullar, Lourenço Mutarelli, Ruy Castro e Cristóvão Tezza, entre outros. Fábio Rodrigues Pozzebom/ABr

Elza Fiúza/ABr

O governador Agnelo Queiroz finalmente lançou o tão esperado edital de licitação para renovar a frota de ônibus e tirar das mãos de três empresas os 80% do atual sistema de transporte público no DF. O povo de Brasília não aguenta mais andar em ônibus velhos, perigosos, e ser tão mal atendido como vem sendo há décadas. Essa é a grande chance de Agnelo se recuperar do baixo índice de aprovação que vem amargando desde que assumiu. Vamos ver se a máfia do transporte vai deixar.

Dilma e São Paulo

Antonio Cruz/ABr

O governo Dilma Rousseff está envolvido nas complicadas eleições municipais de São Paulo. A troca no Ministério da Pesca para atender ao PRB do senador Marcelo Crivella era uma tentativa de atrair o apoio de Celso Russomano (PRB) ao candidato do PT Fernando Haddad. O candidato Russomano já disse que não abre mão da candidatura, mas aceita Haddad como vice, o que é visto como piada pelas fontes petistas. O PT, que havia iniciado um namoro com o prefeito Gilberto Kassab (PSD), caiu do cavalo ao vê-lo junto com José Serra. Como se vê, a maré não está nada boa para o partido do governo federal.

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Bienal do Livro – II Está prevista a presença, na Bienal, do escritor Tariq Ali, paquistanês que vive na Inglaterra, crítico mordaz do neoliberalismo. Ali vem a Brasília lançar A noite da borboleta dourada, seu último romance do Quinteto Islã, que conta a história do islamismo desde os tempos do rei Saladino. Em entrevista a Nahima Maciel, do Correio Braziliense, Tariq Ali disse que “os EUA precisam desesperadamente de um novo partido ou movimento político”. Ele tem razão.

Bienal do livro - III A Bienal do Livro vai ocupar cerca de 190 mil metros quadrados da Esplanada dos Ministérios. Estandes e salões de exposição e debates serão instalados em frente ao Teatro Nacional, ao gramado próximo à Rodoviária e em todo o espaço interno e externo do Complexo Cultural da República (Museu e Biblioteca). O evento está com jeito de que vem para ficar e, se assim for, será uma referência permanente da capital da república. Oxalá!!


Comunicando CUT Jacy Afonso, ex-presidente da CUT-DF e tesoureiro da entidade nacional é candidato à presidência da CUT. A cada dia aumenta o apoio dos sindicalistas em todo o Brasil. Será que os paulistas vão deixar um brasiliense assumir a CUT nacional? Veremos

Divulgação

O probo senador Demóstenes Torres (DEM-GO) foi pilhado trocando gentilezas com o bicheiro Carlos Cachoeira. Demóstenes diz que não sabia que Cachoeira era contraventor e procurado pela polícia. Dá para acreditar nisso? A defesa da moralidade cai por terra a cada minuto na República. Aliás, não é segredo para ninguém: os corruptos também são contra a corrupção; nesse caso, a hipocrisia faz parte do discurso.

Divulgação

Telefone maldito

Ribondi sai O diretor e ator Alexandre Ribondi avisa que saiu da peça Goiânia – a comédia. Deixou a direção e retirou seus textos do espetáculo. Alega motivos pessoais para a decisão.

MPC também sai

El Roto

Divulgação

O cartunista El Roto, do jornal espanhol El País, publicou um livrinho contendo suas vinhetas para a crise. Em um dos cartuns, ele afirma: “Convém trocar os ministros de vez em quando para que pareça que são outros”. Que ironia!

O Movimento Pró-Conselho de Comunicação do DF (MPC) deixou o Grupo de Trabalho que se dispõe a convocar o Seminário de Comunicação do DF, previsto inicialmente para março e adiado para junho deste ano. O MPC avisa que continua na luta pela imediata implantação do CCS-DF e informa que “dá por concluída a tarefa a que se propôs de redigir uma proposta de Conselho de Comunicação Social para o DF. Essa proposta, que já é do conhecimento de todos, foi apresentada em audiência pública convocada pelo deputado Cláudio Abrantes (PPS) e entregue ao excelentíssimo senhor governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, conforme protocolo datado de 11 de julho de 2011, sem nenhum retorno até o momento”.

Indicação Cresce o número de apoio à indicação da jornalista Conceição Freitas ao Prêmio José Aparecido de Oliveira, concedido pela Secretaria de Cultura do DF. Esse prêmio distingue os brasilienses que defendem a preservação do patrimônio histórico e cultural de Brasília. Muito justo.

E-mail: romario@abordo.com.br

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Panorama Político

tarcísio holanda

As relações

de poder

no Brasil “No conjunto, eu apoio todas as medidas da presidenta, inclusive a minha saída. É uma decisão política dela de fazer o rodízio”, disse o deputado Cândido Vaccarezza, ao se despedir da liderança do governo na Câmara, exonerado pela presidenta Dilma Rousseff.

A

presidenta Dilma Rousseff mandou fazer um inventário dos problemas que existem nas relações do governo com o PMDB, o principal partido da sua base apoio depois do PT, e ficou surpreendida com as demandas. Ela quer pacificar os ânimos no partido, que andam exaltados com muitos achando que a legenda não tem tido da parte do governo o tratamento que merece. Desde a redemocratização, a norma tem sido essa demanda dos partidos que apóiam o governo por cargos e outras benesses. Quando o presidente resolve enfrentar esses pleitos,

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acaba sofrendo sérias decepções em votações de matérias de grande interesse de seu governo no Congresso. Essa tem sido uma rotina nas relações do Palácio do Planalto com o nosso parlamento. E certamente não será diferente com Dilma Rousseff. Ela não vai querer a instabilidade e o futuro incerto. Ulysses Guimarães e José Sarney provaram do pão que o diabo amassou para garantir a transição do regime ditatorial para uma verdadeira democracia representativa. Nas primeiras eleições diretas, após a queda da ditadura, as de 1989, Ulysses Guimarães vestiu-

-se de candidato a presidente da República pelo PMDB, partido que dominava e do qual era a própria cara. Sua votação foi insignificante para um homem que teve o papel importante que ele realmente assumiu na redemocratização do Brasil. Interessado no apoio de Lula e do PT, Ulysses mandou dizer ao líder petista que precisava que ele subisse em seu palanque. Lula nunca respondeu seu telefonema. Lula passou para o segundo turno com dificuldade. Venceu Leonel Brizola por pouco mais de 200 mil votos. E precisava de preciosos aliados contra Fernando Collor, o fenô-


meno que surgia. Aliados eram importantes para o petista, fossem quais fossem. A imagem moderada de Ulysses suavizaria a pecha de radical que Lula carregava com o seu PT. Naquela fase, Lula argumentou que não podia apoiar Ulysses, pois a sua imagem estava associada, irremediavelmente, à da desgastada “Nova República” do ex-presidente José Sarney. O PT daquela época achava que tinha uma reputação a defender. Fernando Collor acabou eleito pelo desconhecido PRN, um partido que não existia, derrotando o PMDB, o PFL e os grandes partidos de então. Naquela época, atacava duramente Sarney e seu governo para se eleger presidente da República e depois ser afastado melancolicamente do poder, arrastado para um processo de impeachment inédito por aqui e lá fora. Hoje, confraterniza com Sarney no Senado. Collor foi um fenômeno de mídia e de massa que ainda reclama um estudo sociológico meticuloso. É notório que o poder da mídia foi decisivo para a sua eleição, mas é claro que pesaram outros fatores que devem ser objetos de estudo. A verdade é que o fenômeno representado por Fernando Collor ainda é um desafio

à ciência política e aos cientistas políticos. Existem muitas teorias, mas nenhum estudo definitivo que não suscite dúvidas e contestações de outras pessoas. É um fenômeno que foi esquecido depois de sua meteórica passagem pelo poder. Depois daquela fase crítica, tivemos a transição comandada pelo presidente Itamar Franco, um mineiro de Juiz de Fora, um político singular, mas de grande integridade moral. Com Itamar, todas as forças que ajudaram a tirar Collor do poder foram convidadas a participar do governo, dando sustentação política no Congresso. O PT foi o único partido que se recusou a fazer parte do governo e desse projeto político, ficando de fora. O PMDB, na publicidade institucional que jogou nas emissoras de rádio e televisão, em 2012, gabava-se de ter ajudado a implantar o Plano Real, que trouxe a estabilidade econômica depois de duas décadas de inflação galopante no Brasil. Foi Itamar Franco quem assumiu a responsabilidade pelo Plano Real, embora seja notório que o programa econômico foi concebido por um grupo de brilhantes economistas recrutados pelo ministro da fazenda que ele

nomeou em 1994, um acadêmico que se fez senador, como suplente do senador Franco Montoro, Fernando Henrique Cardoso. Nos dois mandatos que Fernando Henrique Cardoso teve na Presidência da República (total de oito anos), o PSDB teve uma ajuda significativa na aliança com o PFL do falecido senador e soba baiano Antônio Carlos Magalhães e com o PMDB do velho Ulysses Guimarães, hoje dominado pelo líder da bancada na Câmara, Henrique Eduardo Alves, e o vice-presidente da República Michel Temer. FHC aprovou no Congresso as importantes e nem sempre populares medidas constantes do Plano Real. Assegurou a aprovação, inclusive, da emenda constitucional que garantiu a sua reeleição, falando-se que o então ministro das comunicações, o falecido Sérgio Motta, “comprara” parlamentares para aprovar a emenda polêmica. Verdade ou não, os jornais publicaram os nomes de quatro deputados do estado do Acre que tiveram algumas de suas conversas gravadas ao telefone confessando que foram comprados por Sérgio Motta, cada um, pela bagatela de 200 mil reais. Isso, hoje, faz parte da história.

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Política Brasília

Yuri Achcar

Pedro Ventura/Agência Brasília

Jogo de cena

tabelecido pela Lei de Responsabilidade Fiscal, vai se virar com o que tem. Servidores que estavam na Secretaria de Governo trabalhando na área vão ser remanejados.

Supersecretário menos poderoso Quando a Casa Civil foi extinta, nos primeiros meses do governo Agnelo, o secretário de governo, Paulo Tadeu, acabou acumulando as funções da pasta. Foi quando recebeu o apelido de supersecretário, centralizando as principais decisões do governo Agnelo. Com menos poder, Paulo Tadeu agora se concentrará na coordenação política. Pedro Ventura/Agência Brasília

Se o secretário de Educaçao, Denilson Bento, era do Sindicato dos Professores no Distrito Federal, por que não conseguiu evitar a greve? Circula nos corredores do Sinpro que o próprio secretário foi um dos incentivadores da paralisação. Bento teria trabalhado nos bastidores para que possa aparecer como o grande negociador que pôs fim ao impasse. Com isso, ganha pontos dos dois lados.

Agora vai? Elza Fiúza/ABr

O governador Agnelo Queiroz parece ter concluído a reforma administrativa. Depois de criar a figura do porta-voz, com o jornalista Ugo Braga recebendo status de secretário de Estado, foi a vez de nomear Swedenberger Barbosa como chefe da Casa Civil. Ex-assessor da secretaria-geral da Presidência, Berger, como é conhecido, circula bem por todas as alas do PT e agora é o responsável pela gestão administrativa do GDF – um dos maiores gargalos do governo Agnelo.

Nova estrutura, mesmo pessoal Estava prevista uma estrutura de 200 cargos para a nova Casa Civil. Como o governo está no limite de gastos com pessoal es-

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Já vai tarde A Secretaria de Juventude foi extinta e passou a integrar a Secretaria de Governo, como uma coordenadoria. Que tal uma pequena lista de outras secretarias que deveriam seguir o mesmo rumo? Algumas sugestões: da Mulher, do Idoso, da Criança, de Assuntos Estratégicos...

Lentidão nas licitações Está aí um dos principais problemas que o novo chefe da Casa Civil terá que resolver. Os diversos setores do governo andam batendo cabeça, e um não ajuda o outro quando é preciso lançar um edital na praça. Um exemplo: até hoje a Secretaria de Desenvolvimento Social não conseguiu licitar os cinco novos


Divulgação

Pimenta nos olhos dos outros Muita gente desconfia que a recente exposição negativa da Câmara Legislativa na mídia tem o dedo de autoridades do Executivo. Para fugir das críticas ao governo Agnelo, nada melhor que bater no parlamento local. Afinal, os distritais já apanham tanto da imprensa, não é?

Mary Leal/Agência Brasília

Esforço para melhorar a imagem

tos. O deputado comemorou a derrubada do veto. Wasny destacou que os funcionários contratados por essas empresas recebem baixos salários. “A nova lei vem equiparar milhares de trabalhadores àqueles que já gozam do privilégio de poder optar por planos de saúde oferecidos pelas empresas em que trabalham, destaca Wasny. Pedro Ventura/Agência Brasília

abrigos, porque a Terracap ainda não liberou as áreas. Enquanto isso, moradores de rua são assassinados.

“Hein?! É comigo?” (1) A Secretaria de Governo foi surpreendida por uma reportagem que mostrou o uso particular de um carro oficial do GDF. Enquanto o veículo foi flagrado na Asa Norte, em frente à loja onde uma vendedora de cosméticos trabalhava, o relatório de controle informava que o carro tinha saído a pouco mais de uma hora da garagem e estava em serviço na Administração do Riacho Fundo. Detalhe: a vendedora confirmou que estava com o carro há uma semana.

“Hein?! É comigo?” (2) A atual legislatura tem demonstrado esforço em melhorar a imagem do legislativo distrital. O que todos sempre diziam em discurso agora é realidade. O maior símbolo disso foi a extinção dos 14º e 15º salários. A decisão, sem dúvida, pesou no bolso de alguns deputados, principalmente daqueles que não são empresários. Mas todos votaram a favor da proposta para selar a paz com os eleitores.

Plano de saúde para todos A Câmara Legislativa derrubou o veto do governador e manteve a obrigação de que as empresas prestadoras de serviço ao GDF ofereçam plano de saúde para todos os funcionários. O projeto é de ninguém menos que o líder do governo na Casa, Wasny de Roure (PT). Agnelo havia vetado a proposta temendo que o aumento de gastos dos empresários seja repassado aos contra-

Outra surpresa para o governo foi o uso ilegal de bancos de praça como placas de publicidade. São mais de 400 em Samambaia, mas eles também estão espalhados pelo Recanto das Emas, por Santa Maria e Taguatinga. Se fossem bancos de praça, ok. Mas estão virados para a rua, em locais de bastante movimento. Muitas vezes, nem existe calçada. Só descobriram a ilegalidade depois que o caso ganhou repercussão na TV. A exceção foi o administrador de Santa Maria, Neviton Júnior, único que já havia tomado as primeiras providências para a retirada da propaganda irregular. Os outros não sabiam nem a quantidade de bancos ilegais instalados nas cidades que administram.

E-mail: yuriachcar@gmail.com | Twitter: @yuriachcar

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Visão de Brasília

Antonio Testa

Brasília,

B

a capital de jovens piromaníacos

rasília sempre teve um histórico de violência. É uma das referências internacionais neste assunto. Tanto contra o patrimônio alheio como contra pessoas. É assustador o crescimento do número de homicídios, de sequestros relâmpagos e, agora de volta, da inaceitável prática de colocar fogo nos mais desprotegidos. Chama muito a atenção a composição das quadrilhas locais, em que participam muitos menores; e até crianças praticam crimes. E ainda assim são protegidos pela legislação, por incrível que pareça! Menor infrator é uma coisa, e menor criminoso é outra. Em vez de ser abençoado pelo estatuto da criança e dos adolescentes, como é, deveria ser tratado com o máximo rigor pela legislação penal, como criminoso que é. Tamanha hipocrisia assusta: a população, que tanto imposto paga, é obrigada a sustentar um sistema falido que, em tese, deveria ressocializar criminosos. O povo, no entanto, é vítima. Paga para ser vítima! E criminosos menores de idade, que matam, estupram, assaltam à mão armada, são tratados como as verdadeiras vítimas da sociedade. Ora! Onde estão os pais desses bandidos mirins? Estes, sim, juntos com seus filhos criminosos deveriam ser responsabilizados. O cerne dessa questão social está na desagregação da unidade familiar. A quase totalidade desses criminosos não tem pais. A ausência da autoridade paterna sadia e educativa é uma das causas de tanto deboche e banalização pela vida do outro. Brasilienses, é hora de repensar e estabelecer um novo pacto familiar!

Inacreditável, porém.... A realidade indica que os parlamentares locais despertaram para o problema da violência juvenil e da mania que alguns jovens criminosos têm de incendiar pessoas, por sadismo, banalmente. Mas chama mais a atenção o fato de parlamentares que já foram reeleitos inúmeras vezes, alguns já terem participado do comando do executivo local, ainda insistirem que é preciso fazer um debate sério sobre essa questão. Brincadeira! Por que não agiram antes? Será que não anteviram esse problema, que não é novo? É surpreendente o fato de alguns defenderem menores criminosos, alegando que devem ser protegidos em seus direitos.Isso é, no mínimo, óbvio.Mas não responde nada sobre os direitos das vítimas. Existe muita hipocrisia esquerdista nesse discurso velho, obsoleto e inócuo. Não há nenhuma proposta sobre a questão central: a família! Onde estão os pais desses bandidos? O parlamento local bem que poderia ajudar a localizar esses omissos. E propor sua responsabilizaçao. 22

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É indispensável que o GDF e a sociedade organizada e demais instituições locais se mobilizem em torno de um projeto efetivo de planejamento familiar, que eduque os jovens sobre a questão da paternidade e da maternidade entre adolescentes. e suas responsabilidades e deveres. Do contrário, teremos cada vez mais criminosos juvenis e zumbis (craqueiros) nas ruas. Os primeiros protegidos pela legislação que lhes dá o direito de reincidir no crime livremente; e os segundos gerando sofrimento para si e seus familiares, além de serem um problema social de difícil solução e que consume cada vez mais recursos públicos . A sensação de insegurança que a maioria da população do DF tem é grande. Mas é importante que as pessoas colaborem com a polícia e deixem de se comportar como vítimas potenciais, prestando mais atenção nas suas rotinas. Dessa forma, podem dificultar a ação dos criminosos, que merecem um tratamento bem rigoroso das autoridades.

Votação 14º salário É inegável que um parlamentar tem que ser bem remunerado. Somente com recursos suficientes pode bem exercer seu mandato. O que muita gente não entendia era por que os distritais tinham 14º e 15º Salários, além de tantas outras regalias e benesses. Culturalmente, salários têm a ver com a compensação por um mês de trabalho. A conquista do décimo terceiro foi um grande avanço. Mas receber 14, 15 salários, mais inúmeras outras compensações causava muito mal estar junto à população. Uma dúvida estava na questão: por que os parlamentares, que dispôem de tanto poder e autonomia, não mudavam essa lógica e aprovavam um salário compatível com a importância de seu cargo? É sabido também que boa parte da verba de gabinete é usada para bancar militantes à disposição dos parlamentares. Muitos sem trabalhar.

Expectativa: Racionalizar os custos. Profissionalizar a gestão do gabinete. Eliminar o clientelismo. Investir na transparência. Tudo isso poderia produzir muitos ganhos políticos, sobretudo de imagem institucional. Racionalização sem proselitismo, nem demagogia, como defendem alguns. Mas com competência e objetividade. Brasília agradeceria muito se seus parlamentares dessem um salto qualitativo e parassem de agir como vereadores de um vilarejo do interior e produzissem, política e gerencialmente, como representantes de uma metrópole de importância internacional . Contudo isso exige foco estratégico e competência operacional. É uma utopia, essa expectativa? Parece que sim.


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Capa

Da Redação | Fotos: Moreno

Cachaça, lugar de honra

na história

do Brasil Mesmo com uma carga tributária de 80%, bebida conquista mercados cada vez mais nobres

A

pessoa que, pela primeira vez, participa da degustação de uma cachaça não tem ideia da complexidade que envolve a sua produção. É o que mostra o livro Viagem ao Mundo da Cachaça, de Manoel Agostinho Lima Novo. Apoiado em copiosa bibliografia, ele leva o leitor a conhecer didaticamente os caminhos – que chama de “estações” – da produção da bebida, procurando também transmitir a sensação de prazer que ela proporciona. Que o digam os participantes das inúmeras

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confrarias de cachaça espalhadas Brasil afora. No itinerário da viagem, Degustação é a primeira estação, seguindo-se de Análise Sensorial, Envelhecimento, Destilação, Fermentação, Moagem da Cana, Produção da Cana, Comércio da Cachaça, Operações de Laboratório e Componentes da Cachaça. Ensina Manoel Agostinho, por exemplo, que o termo “beber cachaça” não é apropriado, mas, “degustar cachaça”, sim. Assim é que a degustação é uma avaliação

subjetiva que consiste em observar, experimentar, comparar, apreciar e classificar, buscando o prazer dos sentidos. E mais: “quando se degusta uma cachaça usando apenas os limites sensoriais, sem buscar técnicas comparativas, trata-se tão somente de uma ‘degustação hedônica’”. A degustação é muito mais que uma reunião social, é algo que exige bastante conhecimento do cachacier (similar ao sommelier com o vinho), pois, entre as inúmeras formas de degustação, cita-se, por exemplo, a


Pareado, a mais simples, daí até a Dupla ou Dois em Três, a Triangular, Quadrado ou Três em Quatro. A degustação pode ser comparativa, tendo uma delas como referência, passando pela quantitativa e chegando-se à horizontal. O Brasil está deixando de ser o único país do mundo a se envergonhar do seu destilado. A cachaça deixou de ser uma bebida sem valor. Hoje tem admiradores mundo afora e já conta com legislação específica. Fatores que, combinados, impulsionam um mercado promissor, com lucro de até 600 milhões de dólares ao ano. São mais de 5 mil marcas de cachaça legalizadas no Brasil e uma produção de cerca de 1,4 bilhão de litros ao ano. Nessa conta, estão desde cachaças artesanais que levam anos para ficar prontas e podem custar até 500 reais a garrafa, ou até algo em torno de 10, 15 mil reais, até pingas industriais produzidas em algumas horas e vendidas a 2 ou 3 reais.

A Confraria de Brasília

Em Brasília, os cachaciers se reúnem há 12 anos na Confraria da Cachaça do Brasil – inicialmente, Clube da Cachaça. Recentemente, realizou sua 145ª degustação, quando foi avaliada a Cachaça do Ministro, produzida em Alexânia – Goiás, pelo ex-ministro do TCU, Carlos Átila. Além dela, a Cachaça do Piloto, também de Alexânia, de propriedade de Sebastião Gomes da Silva, o Tião Padeiro. Outras cachaças do Entorno, de Goiás e de outros estados já promoveram degustações em Brasília.

Brasil engarrafado Conta-nos o site do Instituto Brasileiro da Cachaça (www.ibrac. net) que a cachaça foi fundamental para a economia do Brasil Colônia e teve grande influência nos rumos da nossa história. Do canavial ao boteco, essa bebida ajudou a moldar a identidade nacional do brasileiro.

Em 13 de setembro de 1649, uma carta assinada pelo então rei de Portugal, Dom João IV, proibia a fabricação da cachaça no Brasil. Motivo: desde aquela época, a aguardente de cana-de-açúcar estava se tornando, em detrimento do vinho português, a bebida predileta da colônia – e da costa oeste da África também. E a Companhia de Comércio de Portugal, descontente, recorreu à Coroa para que providências fossem tomadas. Não queria perder mercado, mesmo que fosse para fregueses pouco abonados, escravos e mestiços que só tinham mesmo condições de consumir a cachaça. O destilado, que já era produzido nestas terras, tinha preço muito mais acessível que o vinho, trazido de navio do outro lado do oceano Atlântico. Só que ninguém deu bola para essa lei seca no Brasil. Não que o País fosse território de cachaceiros ou alcoólatras incuráveis. Havia outra questão por trás: a economia de Portugal – e era isso que decidia o destino de sua colônia mais lucrativa, o Brasil – dependia consideravelmente da produção e do consumo da aguardente. A Coroa precisava vender açúcar. A produção de açúcar nos engenhos da colônia, por sua vez, dependia de muito trabalho pesado: aí entravam os escravos, uma vez que “a civilização do açúcar não teria sido feita” sem o negro, como escreveu Gilberto Freyre em seu livro Nordeste. E o valor desses escravos muitas vezes era mensurado em cachaça. Sim, pois a pinga produzida no Brasil passou a servir, junto com o tabaco, de moeda de troca por escravos na costa africana.

A moeda cachaça A produção de aguardente de cana-de-açúcar surgiu como uma consequência das lavouras açucareiras. A cachaça teria sido resultado da produção do melaço, uma das etapas da fabricação do açúcar. No processo, a borra adocicada que se concentrava

sobre a garapa borbulhante era removida com uma espumadeira e jogada numa tábua – daí o termo português “cachaça” que, derivado do espanhol cachaza, era o nome da espuma do caldo. Ali, a borra açucarada fermentava, transformando o que é doce em álcool. Rapidamente, a tecnologia portuguesa de produção de bagaceira adaptou-se aos engenhos, e daí surgiram os alambiques para destilar a bebida. E pronto, eis a cachaça: “A revelação gostosa e catastrófica para negros africanos e amerabas brasileiros. Dissolvente dinástico, dispersador étnico, perturbador cultural”, escreveu o folclorista Luís da Câmara Cascudo, em seu livro O Prelúdio da Cachaça. Antes dela, tanto os negros como os índios desconheciam bebida tão poderosa. Sabe-se que os índios produziam um tipo de bebida fermentada a partir da mandioca mastigada e cuspida. Chamava-se cauim. Os africanos também bebiam um vinho obtido do caldo de palma. Mas, segundo Câmara Cascudo, nada chegava aos 18 ou 22 graus alcoólicos da cachaça produzida na época (as caninhas modernas chegam a superar os 50% de álcool). Na África, aos poucos, o consumo do vinho de palma foi sendo substituído pela cachaça. Isso não se deu por acaso: os colonizadores deliberadamente trabalharam para criar um mercado consumidor dos destilados produzidos na Europa e na América. “À medida que a substituição se processou, foi criado o mercado onde a aguardente foi utilizada como ‘moeda’ no tráfico de escravos”, afirma o pesquisador Carlos Magno Guimarães, historiador da UFMG. A cachaça, assim, passou a ser um “cheque descontável do Daomé à Angola, do delta do Níger à foz de Cunene”, escreveu Luís da Câmara Cascudo. Daí a explicação do porquê de nada adiantou a proibição real de 1649. Tampouco uma outra, dessa vez assinada por Dom Pedro II (o

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rei português que sucedeu João IV, marcou a economia colonial amenão o imperador brasileiro), que ricana no século XVII. As bebidas também proibia o envio de cachaça quentes e estimulantes, desde aquepara Angola. Proibindo a produção, la época, aprofundaram o desequio consumo e a venda da cachaça, líbrio da balança comercial inglesa o que se tinha, segundo Câmara com a Ásia, por causa da crescente Cascudo, era o contrabando “inevi- compra de chá. Isso foi o estopim de tável e prolífero”. E muito lucrativo, duas guerras da Inglaterra contra a pois todos os riscos que a operação China, no século XIX, as chamadas envolvia – e mais um pouco – eram Guerras do Ópio. Os britânicos embutidos no preço ao comprador. queriam forçar os chineses a aceitar Calcula-se que, em média, 310 mil ópio, e não prata, como pagamento litros de cachaça foram enviados por pela quantidade monstruosa de chá ano para Angola, o que correspon- que compravam. dia a quase 80% das bebidas alcoólicas que chegaram àquela colônia (as Anestesia demais eram vinho e bagaceira, de Além de ser moeda de troca para Portugal). Aproximadamente 25% a compra de escravos, havia ainda dos escravos trazidos para o Bra- outro motivo que tornava a cachasil – entre 1710 e 1830, ao menos ça imprescindível para o Brasil – foram trocados por cachaça. “Se colonial: para os negros africanos, acrescentarmos também o tabaco ela funcionava como amortecedor da Bahia, chega-se à cifra de quase tanto da fome quanto da tristeza a metade dos cerca de 2 milhões de que embalavam a longa viagem escravos trazidos no século 17 tendo de travessia do Atlântico. Na dieta sido trocada pela cachaça e pelo diária dos escravos, vinha ainda da tabaco”, diz o historiador Henrique cana o consolo e a anestesia para Carneiro, em seu livro Pequena Enci- suportar as agruras do regime clopédia das Drogas e Bebidas. escravocrata. “Confirmando desde O contrabando de drogas, aliás, então a tese sempre atual de que já naquela época, não era apenas a humanidade, em todas as épocas coisa nossa não. O tráfico de álcool históricas, sempre teve um pendor já era comum no mundo quando o por buscar substâncias químicas Brasil aderiu à moda. “Há milênios que aliviem suas dores”, diz Henriexiste o tráfico de álcool, especial- que Carneiro. mente do vinho, no mundo mediLúcio Rodrigues da Cunha, presidente terrâneo. A parda Confraria da Cachaça tir do século XVI, ele se expandiu e se ampliou enormemente com a emergência dos destilados”, diz Carneiro. Segundo ele, outros ciclos comerciais também se fincaram na história em torno das drogas, além do comércio de aguardente que

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E o Brasil Colônia dispunha de matéria-prima suficiente para produzir alívio para uma multidão de sofredores cativos. A pinga era o combustível do trabalho forçado. A tal ponto que a viajante inglesa Maria Graham, visitando o Recife em 1821, chegou a anotar sobre os escravos que a cachaça era o “incentivo pelo qual fazem qualquer coisa”. Com o eixo da economia se deslocando para Minas Gerais e seu ouro, os negros transferiram do Nordeste para lá o hábito e a tecnologia da produção de aguardente (e deram início ao que hoje é uma das marcas mais sagradas de Minas, a cachaça artesanal). Por essas e outras é que, insustentável, a proibição real à aguardente caiu em 1661. Governos da capitania de Minas Gerais ainda tentaram, pontualmente, inibir a proliferação dos alambiques, porque – claro, é de sua natureza – a danada também fazia lá seus estragos. Em terras mineiras, não combinava com os poços profundos, nos quais, não raro, os escravos tinham que adentrar para buscar ouro. Além disso, também se temia que a cachaça estimulasse a rebeldia dos negros. Mas essas proibições dos governos das capitanias também caíam rapidinho. De modo que nenhuma outra restrição apareceu, segundo Câmara Cascudo, após


co de como a cachaça é falada na boca do povo, de norte a sul do País. Cambeba, Mata Preguiça, Do Ministro, Cana Fabricada inicialmente Brava, Cachaça do Piloto e Makondo – Alexânia pelos negros, passou a ser Morro Velho e Feiticeira – Rio Verde consumida por todos – até Rebeldia Orizonina, Marçalina e Mercedes – Orizona Cachaça Alma Gêmea – Planaltina de Goiás pelo presidente do Brasil. E E, se a cachaça foi imCachaça Castelo Branco – Campos Belos foi usada como símbolo de portante para a manutenção Cachaça da Posse – Guapó nacionalidade desde que o da economia açucareira e, Vale do Cedro – Palestina Brasil Colônia brigava para depois, para o ciclo do ouro, Pirenopolina – Pirenópolis se livrar de Portugal e ser ela também teve seu papel na Atitude – Anicuns Brasil somente. Na Revolução resistência e na luta contra a Água Quente – Caldas Novas Pernambucana de 1817, o escravidão. “Na realidade coloCachaça Serra da Mesa – Serra da Mesa vinho foi substituído por canial, a aguardente evidenciava o seu caráter contraditório”, escre- alimentos, no comércio ilegal feito chaça em algumas missas. Era uma veu o historiador mineiro Carlos nas vendas, que eram o equivalente forma de protesto e de afirmação Magno Guimarães, em artigo na ao que hoje conhecemos como bo- em prol da República. Na Confedecoletânea Álcool e Drogas na História tecos, mercearias – diferença é que, ração do Equador, em 1824, que foi do Brasil. “Ao mesmo tempo em que naqueles tempos, eram clandestinas uma reação contra o absolutismo de contribuía para a manutenção da e, como tal, faziam um comércio ilí- Dom Pedro I, a mesma coisa: líderes ordem escravista, era combatida cito. Como o de trocar alimentos pela revolucionários brindavam vitórias como ameaça a essa mesma ordem.” cachaça dos negros fugidos – e, assim, com cachaça. E até na guerra contra o Paraguai, quando entre 1864 e Que a aguardente esteve associada a ajudá-los a viabilizar os quilombos. 1870 cerca de 300 mil paraguaios eventos de rebeldia, isso é inegável. morreram, os soldados brasileiros “Mas que ela tenha sido a causa da Cachaça é coisa nossa revolta é, no mínimo, questionável”, Se a cachaça está presente na (ao todo eram aproximadamente diz Carlos Magno. Obviamente, história do Brasil desde o começo, 160 mil homens) se abasteciam pois a verdadeira causa de rebeliões a ponto de ter sido um tanto res- de cachaça. Embora presente na de escravos era a própria situação ponsável por sua trajetória, nada história social, política e econômica lastimável da escravidão. mais lógico que ela seja a bebida desde o começo do Brasil, tecendo Os negros dominaram rapida- alcoólica nacional por excelência. laços, tampando dores, dando mente as técnicas de destilação da Há tempos que a pinga tem sido alegria e coragem, apenas em 2001 pinga, e a aguardente de cana passou mencionada como o trago favorito um decreto presidencial instituiu a ser produzida e consumida nos destas bandas. Entre os anos de a bebida mais democrática do País quilombos – inclusive no quilombo 1816 e 1822, o naturalista francês como a bebida nacional. Comemora-se o Dia Nacional da dos Palmares, entre Pernambuco e Auguste Saint-Hilaire já anotava ser Cachaça em 13 de setembro. Alagoas, que era o maior de todos “a cachaça a aguardente do País”. e acabou destruído em 1710. Tanto Hoje, estima-se que existam de nas senzalas quanto nos quilombos, a 40 mil a 50 mil produtores espalha- Ação do Ibrac “marvada” já era elemento de rituais dos pelo País. “Muito embora, pela Criado em 2006, o Ibrac tem e danças negras. E, como afirma Car- natureza da fabricação, seja muito como prioridades a articulação los Magno, que pesquisou o papel difícil quantificar”, diz o químico junto ao Governo Federal para a da cachaça nos quilombos de Minas Douglas Wagner Franco, do Labo- redução da carga tributária, estiGerais (segundo ele, de 1733 a 1748, ratório para o Desenvolvimento da mada em cerca de 80 por cento, pelo menos 49 núcleos de negros fu- Química da Aguardente, da USP principalmente no interesse das gidos foram descobertos e destruídos em São Carlos – o cientista se refere micro, pequenas e médias produpelas autoridades da capitania), ela aos numerosos alambiques de fundo toras; organização de cooperativas cumpriu um papel importante para de quintal que podem passar em de produtores; aprovação junto a a manutenção dessas comunidades. branco nas estatísticas. Mais de 500 Apex-Brasil do Projeto Setorial de Isso porque, para os quilombolas, apelidos para a “dita cuja”, de bran- Promoção da Exportação de Cachaa cachaça também era, sim, dinheiro. quinha a dengosa, assovio-de-cobra ça (PSI) e promoção de exportações Até eles, que eram fugitivos do gover- e meu-consolo, já foram catalogados junto a mercados como o dos Estano, conseguiam trocar a bebida por em tentativas de se formar um léxi- dos Unidos. 1759 (salvo hoje, em dia de eleição) ao direito de embriagar-se de cachaça até entortar a língua e cair duro com a cara no chão.

As cachaças do Entorno

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Cidadania

Por: Lígia Moura | Fotos: Divulgação

Santiago de Compostela:

O caminho

da

Peregrinação atrai milhares de religiosos de todo o mundo

S

antiago de Compostela, na Espanha, é muito mais do que um ponto turístico - atrai peregrinos desde a Idade Média. O percurso reúne um mix de religiosidade, história e belas paisagens. A jornada não é fácil. Inclui andar durante dias na estrada, cruzar rios e subir montanhas. Todo esse esforço demonstra muita fé e um desafio de superação física. No catolicismo, é considerada uma das romarias mais tradicionais, ao lado de Roma e Jerusalém. Gil Marcelino, 66 anos, Sônia Helena, 66, Vaninho Ribeiro, 57, e o casal Marcos Tadeu, 56, e Ana Maria, 58, reuniram-se, para contar as experiências que tiveram ao seguir a rota que leva ao Caminho de Santiago de Compostela. Cada um a seu modo e no seu tempo, descreveu como vivenciou esse momento tão especial. Contam eles que o caminho francês é muito bem sinalizado. Existem setas amarelas (pintadas em árvores, pedras, muros, casas, barrancos e prédios), marcos de pedra com a concha do peregrino, pedras pintadas de amarelo nas estradas e trilhas, pedras amontoadas umas sobre as outras. Eles explicam que a credencial do peregrino é dada a todas as pessoas que vão fazer o caminho. Quem fizer pelo menos 100 km a pé ou de bicicleta, ou ainda 200 28

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km a cavalo, ao final apresenta a sua credencial, devidamente carimbada pelos lugares por onde andou, para receber a “Compostela” – um certificado oficial escrito em latim, com o nome do peregrino e que atesta ter percorrido o caminho por motivos religiosos, além de servir como recordação da experiência. Vaninho conta que a vontade de fazer o Caminho surgiu quando estava navegando na Internet. De repente, apareceu na tela o Caminho de Santiago. “Eu me envolvi totalmente, comecei a pesquisar a respeito, e de repente me vi dentro do Caminho. Comecei a pesquisar sobre as etapas, a programação e li as histórias”, relembra. O que mais chamou a atenção de Vaninho foram os 18 quilômetros totalmente desertos, sem água e sem nenhuma mina. St. Jean-Pied-du-Port, Navarra e Galícia são lugares lindos. A subida dos Pirineus é dolorosa mas deslumbrante, diz. “Cada cidade tem sua peculiaridade”. Ele fez o percurso em setembro de 2011 e afirma que a experiência foi muito gratificante. “Eu não sei como, mas fui colocado no Caminho e eu acho que não saio mais. Pretendo voltar e fazer de novo a caminhada”.

O casal Marcos Tadeu e Ana Maria conta que seus dois filhos moravam na Europa. Para matar a saudade, combinaram de se encontrar com eles em algum país. O lugar escolhido para o encontro foi a Espanha, para juntos realizarem o Caminho de Santiago de Compostela. “Passamos uma época muito boa, o tempo ajudou, o local é muito bonito e muito gostoso de andar. A temperatura é amena, os campos todos verdes. Tudo isso e mais o lado emocional fez com que fosse uma experiência inesquecível”, revela Marcos. Ele diz que a família não teve uma programação pré-definida. A viagem aconteceu em julho de 2010. Foram oito dias em pousadas e hotéis. “Não programamos a viagem, simplesmente nos levantávamos e seguíamos andando. Na hora que sentíamos cansados, nós parávamos”, relembra. Para Sônia Helena, o desafio foi fazer a caminhada. Ela queria o Caminho Francês, uma caminhada de 30 dias. Significa que a pessoa tem que ter uns 35 a 40 dias de folga para realizar o percurso. “Eu não conseguia obter essa folga no trabalho”. Sônia analisou outras alternativas. No


Caminho Português, conseguiria fazer em nove ou dez dias, já que suas férias eram de 15. Essa opção se enquadrou em suas expectativas em maio de 2008. “O Caminho Português não tem infraestrutura, mas a pessoa pode andar tranquila, porque não corre risco nenhum.

Eu caminhei sozinha o tempo inteiro sem o menor problema”. “Eu fui muito mais uma caminhante do que uma peregrina”, confessa. Ela fez o Caminho com o marido, Luís Alberto. Enquanto ela caminhava, ele a acompanhava de carro. O que facilitou muito. “Eu não fiquei em albergue, não precisei carregar dez quilos nas costas, porque as coisas foram dentro do veículo”, conta. “Eu e meu marido estudamos o percurso e determinamos um ponto de encontro em que o caminho cruzasse com

a rodovia. Ao final do dia, ele me buscava”. Depois disso, seguiam para o hotel e, no dia seguinte, ele a deixava no mesmo ponto e ela continuava a caminhada. “Isso significa que minha mochila era muito menor”, ressalta. Para ela, o trecho mais difícil do Caminho Português é uma subida que vem logo depois que se passa a Ponte de Lima, uma vila Portuguesa. “Em uma distância de dois quilômetros, você tem que subir 280 metrôs, com uma inclinação de 60 graus”, descreve. Além disso, não há trilha, a pessoa tem que andar no meio de um bosque, com pedras soltas. O risco de escorregar é muito grande. “Volto a Santiago, mas não repetiria a caminhada”. Gil é o mais experiente do grupo. Ele fez o Caminho Francês em 2007, 2009 e 2011. Ele diz que a pessoa tem que vivenciar, tem que introspectar o caminho, suar, orar, chorar, cantar, sentir dor e liberar suas emoções. Para começar a caminhada, existem algumas opções. Isso vai depender do tempo, do condicionamento físico e da idade. Segundo Gil, tem europeu ou asiático, por exemplo, que não tem 30 dias de férias como os brasileiros. Eles fazem o trajeto aos poucos. Ficam 10 dias em um ano, depois mais 10. No ano seguinte a pessoa continua da cidade onde parou. Gil tem histórias emocionantes para contar. Uma delas aconteceu em sua

primeira viagem. Ele chegou à catedral de Santiago, um pouco mais de 11 da manhã. No último dia ele fez um pequeno trecho e se preparou para a missa diária do peregrino ao meio-dia. “Quando cheguei à praça principal, chamada Obradoiro, em frente à catedral, eu comecei a chorar já na entrada”, lembra. A emoção foi muito forte. Quando entrou na catedral, passo a passo, Gil chegou até onde era permitido ir. Ele descreve que existe um trecho que tem duas fileiras de bancos bem cercadas. E ainda existe um cordão grosso isolando esses locais, reservados para as pessoas mais importantes da comunidade. Então, ele chegou no primeiro cordão e se ajoelhou. De repente, uma senhora que estava vestida com um uniforme de vigilante da igreja, levantou o cordão e disse: “Você pode passar!”. Gil ficou sem entender, mas não disse nada. “Para a minha surpresa, ela pegou o segundo cordão que fica próximo da área privativa, onde passam os padres que vem pela direita para realizar a missa e ela disse novamente: “Você pode passar!”. Ele seguiu uns lances de escada onde ficam os leitores e as freiras que acompanham a missa. “Naquele momento eu cheguei, me ajoelhei e chorei por pelo menos uns dez minutos. Só me levantei quando o ataque de choro acabou”. O mais marcante para Gil foi o fato de que quando ele estava diante do primeiro cordão, perto dele estava um grupo de italianos que também queriam entrar. Eles questionaram a mulher perguntando por que Gil, o brasileiro, sempre identificado pela bandeira no alto da mochila, podia e eles não. Então, ela respondeu: “Porque ele tem espírito de peregrino”, lembra, emocionado.

Nome do apóstolo Por que o ano é Jacobeu? O Ano Santo Jacobeu ou Ano Santo Compostelano, é celebrado nos anos em que o dia 25 de julho, festa de São Tiago, coincide com um domingo. Em 1122, por determinação do papa Calisto II, ocorreu o primeiro Ano Santo Compostelano. Mas quem estabeleceu que a Festa do Apóstolo São Tiago coincidisse com um domingo foi o papa Alexandre III, no ano de 1179. Por isso, é comum referir-se aos anos santos de Santiago como anos santos Jacobeus ou Jacobeo (castelhano) e Xacobeu (galego), (visto que no galego não existe a letra j e ela é substituída pela letra x), uma vez que Tiago e Jacob são os mesmo nomes.

Botafumeiro O Botafumeiro é um turíbulo, uma espécie de incensário, pesando 80 quilos e medindo 1,60 m de altura. Só é usado em datas especiais, nos dias de festa, no mês de julho (que é o mês do aniversário de Santiago) e nos anos Jacobeus em determinadas ocasiões. Coincidentemente, em ocasiões e anos diferentes, sem nenhuma razão, todos eles tiveram a sorte de presenciar esse momento dentro da Catedral de Santiago. Curiosidade os próximos anos Jacobeus vão acontecer em: 2021, 2027, 2032, 2038, 2049, e continuam com intervalos de 6/5/6/11 anos.

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Gente

Erivelton Viana

Por: Edson Crisóstomo

Isabel Veiga, Angela Borsoi e Sonia Lacombe Telmo Ximenes

Eduardo Leandro e Natalia Arruda

J.B.Serra e Gurgel, Waldin Rosa, Flávio Safha e Ciro Marcos Rosa

Renata Conill e Fabiana Ortiga Hoff

Política Cereja do bolo O Partido dos Trabalhadores, desde o governo Cristovam Buarque, fez e deseja fazer da administração de Brasília referência e modelo de administração, por isso é dado como certo o desembarque de 2 técnicos do governo federal para reforçar o time de Agnelo Queiroz. Sendo o primeiro Swedenberger Barbosa, aliás Berger é aguardado desde o ano passado e somente agora foi liberado pela presidenta Dilma Rousseff.

Saindo da UTI O convênio que o GDF acaba de firmar com o Hospital da Universidade Católica de Brasília possibilita o atendimento a pacientes do Serviço Único de Saúde (SUS) das regiões de Taguatinga, Areal, Águas Claras, Samambaia, Riacho Fundo I, Riacho Fundo II e Recanto das Emas. Atualmente, esses pacientes dirigem-se a outros postos de atendimento. A meta é que esses pacientes correspondam a 60% do total. O Centro de Especialidades Ambulatoriais (CEA) do Hospital da Universidade Católica de Brasília (HUCB) localiza-se em Águas Claras. Com a ampliação da sua estrutura física, o antigo ambulatório passará a ter 48 consultórios e 22 médicos, que atenderão em mais de 20 especialidades.


Ruthi Dabbah e Ana Célia Hesketh

Caixa Rápido Decora Fácil O Shopping ID comemora a boa repercussão da campanha fácil 2012. Nos 42 dias de liquidação, o fluxo de pessoas aumentou em 67% quando comparado ao mesmo período do ano passado. Aos domingos, este fluxo fez a felicidade dos lojistas. Especulação perde O aumento em 30 por cento da área do Parque Olhos D’Água é uma grande vitória do secretário do Meio Ambiente e Recursos Hídricos, Eduardo Brandão, que elogia a presteza do governador Agnelo Queiroz. Brandão, há muito tempo, defende a melhoria de todos os parques do Distrito Federal. Sua equipe está mapeando todos os parques, e a população pode aguardar novidades alvissareiras.

Telmo Ximenes

Natalia Arruda e Racquel Borges Telmo Ximenes

Irmãos André Sousa e Mário Oliveira

Janaina Ortiga Abi-Ackel, Liliane Ana Paula Ana Maria RorizTalavera, e Samanta Sallum Arsky e Weni Maranhão

Geleia Geral Bienal do Livro de Brasília A Bienal do Livro, que será inaugurada dia 14 de abril abrindo as festividades do 52º aniversário da capital, tem objetivos ambiciosos, muito além do evento deste ano, segundo o secretário da Cultura, Pedro Tierra: entusiasmar a população, principalmente a juventude, com o hábito da leitura. “Qualquer país que pretenda crescer, muito mais do que economicamente, precisa investir na cultura. Assim sendo, estará apto a se igualar àqueles que fazem do desenvolvimento das artes, da literatura, da música sua principal razão da existência”. A bienal é apenas o começo dessa história.


Cidade

Por: Pedro Wolff | Fotos: Fábio Pinheiro

Prédio pioneiro

bloco D

da 106 Sul Depois de quase 63 anos, a revitalização

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primeiro bloco residencial construído em Brasília foi entregue no dia 20 de junho de 1959, em um descampado onde seria o futuro Plano Piloto. Após uma festa realizada recentemente para comemorar a revitalização do bloco D da quadra 106 sul, há hoje uma placa que atesta o seu pioneirismo. Suely Nakle de Roure, atual síndica do bloco D, conta sua história no prédio, desde aquela época. Ela lembra que a primeira vez que veio de Goiânia para Brasília foi em 1959. Mas ainda não viera para ficar. Em 1961, veio definitivamente, fixando residência na cidade, na SQS 106, no dito bloco C. “Ainda existem várias moradoras que foram pioneiras, Dona Léia e Dona Olinda Jorge, aposentada do Ministério da Educação. Muitos faleceram. As famílias eram de funcionários públicos”. Suely relembra que, já na década de 1980, o prédio era constituído por servidores públicos e profissionais liberais. Naquele tempo, devido às evidentes avarias, os moradores decidiram mandar fazer uma reforma completa. “A reforma durou dois anos, principalmente na parte hidráulica e no revestimento das paredes. Agora Brasília recebe de novo esse prédio”, diz. Três décadas depois, obviamente houve necessidade de uma reforma ainda completa. O prédio de seis andares, com três entradas sociais e uma de serviço, tem muita história para contar, principalmente dos primeiros moradores que ainda permanecem por lá. Dona Olinda Jorge diz que nem tudo foram rosas. “Este prédio, que hoje é histórico, foi feito mais para a inauguração de Brasília, então deixou muito a desejar”. Agora, ela mostra-se satisfeita com a reforma promovida


por Suely. “Tentamos nada. Antes tínhamos Dona Suely, a síndica, com dona Olinda, uma das moradoras mais antigas por várias vezes essa que ir até Goiânia reforma, mas preciou à Cidade Livre para fazer compras”. samos da pessoa da Completa Dona Suely para fazê-la”, elogia Dona Olinda a Olinda: “Brasília é uma grande cidade, iniciativa da síndica. onde você respira por Dona Olinda conta com gosto os anos entre essas árvores maravilhosas”. vividos no prédio: A síndica Suely “Na década de 1960, a minha preocupação só lamenta a falta de documentos públicos era deixar as crianças para atestar a primadebaixo do bloco. Mas zia do bloco D. “Já sempre desciam com tentamos encontrar uma babá. Naquela época era seguro. Hoje documentos na Novacap e na Adminisnão temos mais aquela tranquilidade”, diz. “Eu estive na inauguração do Hospital tração de Brasília. Não conseguimos Ela conta um pouco da evolução Sara Kubistchek. E acompanhei que a nada da história do prédio, nem natural pela qual Brasília passou. cidade evoluiu bastante. Hoje não falta sequer a planta original”, queixa-se.

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Mercado de Trabalho

Por: Vanessa Martins | Fotos: Fábio Pinheiro

Distrito Federal

começa o aquecimento para

a Copa do Mundo Programa do governo qualifica profissionais para o megaevento esportivo de 2014 e inspira projetos sociais

C

opa do Mundo de 2014 está próxima, e o Brasil já começou a se preparar para recebê-la. O Distrito Federal não ficou para trás, já avançou qualificando seus profissionais para o maior evento mundial dos próximos anos. Qualificopa é o nome do programa de qualificação profissional e social promovido pela Secretaria de Trabalho do Distrito Federal e tem como objetivo melhorar os serviços prestados pela cidade e qualificar os trabalhadores para o evento. O programa que está na sua 3ª etapa já capacitou quase 2 mil profissionais desde o ano passado, quando iniciaram os trabalhos. No início do mês de fevereiro, foi instalado um quiosque na Rodoviária do Plano Piloto para receber as inscrições dos cursos que iniciariam em março. Foram 4 mil inscrições para 2.638 vagas gratuitas, entre elas, as de: garçons, camareiras, vendedores, supervisores de hospedagem, webdesigner, técnicos em informática básica, técnicos em organização de eventos, operadores de caixa e de microcomputadores, atendentes de cartório e profissionais de telemarketing. Até a Copa do Mundo, a Secretaria de Trabalho do Distrito Federal prevê que o Qualificopa capacite até 10 mil pessoas por ano, proporcionando a esses trabalhadores

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que retornem ou se fortaleçam no mercado de trabalho. A professora de telemarketing, Alice Carvalho, 47 anos, participou da 1ª turma do Qualificopa em 2011. “Esse curso veio em boa hora, eu estava desempregada na época e então fiquei sabendo desse projeto e me inscrevi no curso de supervisão de hospedagem. A empresa responsável pelo curso foi a Axiomas Brasil, gostei muito das aulas e dos professores. E eles também nos ofereciam vale-transporte, alimentação, material didático, seguro de vida e uniforme para assistirmos às aulas”, relembra. A aluna também informou que esta semana recebeu uma ligação da Agência do Trabalhador: “Ligaram me perguntando se eu já estava trabalhando e requisitaram meu currículo para possível recolocação no mercado de trabalho”. A Assessoria de Comunicação da Secretaria de Trabalho informou que ainda não há datas definidas para novas inscrições, e as convocações estão sendo feitas pelo banco de dados dos 18 mil já inscritos no projeto. Para os que já se candidataram, as listas dos selecionados para a 4ª turma do Qualificopa serão divulgadas no site da Secretaria de Trabalho (www. trabalho.df.gov.br) a partir do dia 08

de maio, e a convocação dos alunos será feita por e-mail e telefone até o dia 11 de maio.

Alice Carvalho se prepara para voltar ao mercado de trabalho


“Taxista Nota 10” Entre os muitos projetos sociais inspirados na Copa nasceu também nência no curso são de três meses e o limite é de até um ano em o Taxista Nota 10. A iniciativa é uma parceria do Sebrae com o Servi- cada idioma. Após a aprovação, o projeto oferece um certificado de ço Social do Transporte (SEST) e o Serviço Nacional de Aprendizagem nível básico.” do Transporte (SENAT). O projeto que começou no final de 2011 é Durante o curso de gestão de negócios, os alunos receberão 15 voltado para os taxistas e visa capacitá-los através dos cursos de edições de um jornal especializado com conteúdos direcionados inglês, espanhol e gestão de negócios. Os cursos estão disponíveis para a qualificação do aluno como: noções de empreendedorismo, marketing, cuidados com o veículo e turismo. Cada exemplar virá para todas as capitais que sediarão os jogos da Copa. Segundo a analista de educação do Sebrae, Juliana Chaves, os com um selo e, ao final do curso, ao apresentar as 15 unidades no cursos de idiomas são bem voltados para o cotidiano dos taxistas: Sest ou Senat, o aluno ganhará um adesivo para colocar no seu “Aqueles que se inscreverem receberão um kit com vídeo, cd de táxi: Taxista Nota 10. Este adesivo o caracterizará como um serviço áudio e impresso, o que facilitará o aprendizado, pois, enquanto diferenciado para a Copa. estiverem na rotina dos seus trabalhos, também poderão estudar. Os taxistas que se interessarem poderão até a Copa de 2014 O curso também ensina de maneira didática cumprimentos aos procurar o Sest ou o Senat para se inscreverem no curso de estrangeiros, noções de direção no trânsito, de primeiros socorros, idiomas ou o Sebrae mais próximo da sua cidade para o curso de entre outros conhecimentos com conteúdos que tenham a ver com a gestão de negócios. A inscrição é feita na hora levando a carteira de taxista, documentos de identificação e a Carteira Nacional de realidade deles”, informou a analista. “Eu estou adorando o curso, principalmente porque posso pra- Habilitação (CNH). ticar durante o trabalho, nos intervalos, entre um passageiro e outro. Além de ser um conhecimento que não vou utilizar somente na época da Copa, mas para a vida toda”, informou Roberto Max de Almeida Júnior, 29 anos e taxista há dois anos. “Os alunos podem fazer todos os cursos oferecidos pelo projeto, mas os de idiomas não podem ser feitos ao mesmo tempo, é preciso terminar um para começar o outro, e o de Gestão de Negócios pode ser conciliado com o de idiomas sem nenhum problema”, alertou Juliana. A analista do Sebrae também informou que a prova do curso de idiomas ocorre quando aluno se sentir preparado para fazê-la. “Como o curso é a distância, o aluno tem tempo para se preparar e, quando sentir que está apto, só precisa agendar a prova. A nota mínima para passar é 6, mas a prova poderá ser repetida quando o aluno sentir que está Roberto Max alterna o trabalho e os estudos entre um passageiro e outro preparado. O tempo mínimo de perma-

COPA DO MUNDO INSPIRA PROJETOS SOCIAIS E não foi somente o Governo do Distrito Federal que se inspirou no megaevento esportivo de 2014. A Casa Thomas Jefferson também pegou carona e lançou o curso Hello Brazil! A Casa que está se aproximando dos 50 anos de idade resolveu presentear a sociedade com um projeto de cunho social, oferecendo 150 bolsas de estudo. Segundo o Assessor Executivo da Coordenação, Robson Moura, o curso de Inglês é de nível iniciante e tem a duração de 4 semestres, é direcionado

aos profissionais maiores de 18 anos que atuam nas áreas de atendimento ao público e ao turista, como: hotelaria, comércio, transportes, gastronomia, entretenimento e voluntariado. “O projeto inicialmente era de oferecer 120 bolsas de estudos, mas a quantidade de inscritos foi muito grande, mais de mil formulários foram preenchidos e, em função disso, a Casa Thomas Jefferson conseguiu aumentar para 150 o número de bolsas”, completou o assessor. Em razão do cunho social do projeto, a mensalidade será de R$ 75,00

e caberá ao aluno adquirir o livro adotado a cada semestre. Ao término do curso, todos com a assiduidade mínima de 80% receberão certificados de conclusão. “Serão sorteadas, ao final do curso, cinco bolsas de estudos integrais com validade de um ano para o aluno continuar seus estudos na Casa Thomas Jefferson”, informou Robson Moura. Serviço SEBRAE – Mais informações 0800.570.800

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Educação Holística Texto e Fotos: Caroline Aguiar

Formação para

um mundo melhor A Universidade da Paz foi fundada em Brasília e espalhou-se pelo mundo. Há mais de duas décadas, voluntários trabalham pela construção de um mundo melhor

H

á 24 anos, Brasília foi escolhida para ser sede da terceira Universidade da Paz do mundo. Hoje, a Universidade Holística, conhecida como Unipaz, já se espalha por 18 estados brasileiros e outros cinco países. Com o objetivo de desenvolver a cultura da paz, a instituição ministra cursos transdisciplinares que trabalham a relação do ser humano consigo mesmo, na sociedade e com o meio ambiente. Ao contrário das universidades tradicionais, que focam na formação profissional, a Unipaz tem como intuito a formação de um ser humano completo, em harmonia com o mundo. Muito além de matérias ou teorias, a Unipaz proporciona o autoconhecimento do indivíduo, ensina valores e mostra como a pessoa pode levar essas lições para o dia a dia, melhorando as relações pessoais e profissionais. Lydia Rebouças, psicóloga e vice-reitora da Unipaz-DF, explica que a universidade é uma opção para aqueles que querem uma formação mais integral. “A educação holística é

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mais ampla, mais abrangente. Pessoas que não acreditam mais na educação tradicional, fragmentada, é que nos procuram. Todos vêm em busca de valores, de enraizamento. A universidade tradicional é limitada”, relata. A psicóloga explica como funcionam os cursos. “Buscamos vivenciar as teorias, porque realmente só vai haver transformação se a pessoa sentir na alma o que estamos falando. Unimos pensamento, sentimento, sensação e intuição. Tudo acontece para que a ponte entre essas esferas seja feita”, justifica. Ao contrário do que muitos pensam, a universidade não possui cunho religioso, apenas incentiva que a pessoa esteja ligada ao seu lado espiritual. “Não temos religião, mas respeitamos todas elas. O nosso conceito é de transreligiosidade, procuramos os pontos de encontro de todas as crenças, o que une a diferenças”, observa Lydia. Apenas a visita à Unipaz de Brasília já é uma vivência e tanto. Localizada no Parkway, a Granja do Ipê, construída por Israel Pinheiro e onde ele morou

por algum tempo, abriga universidade. Espalhadas por um espaço verde enorme estão as estruturas que recebem os alunos. Tem alojamento, refeitório, espaço para vivências e palestras. O verde exuberante do local e o silêncio profundo dão espaço para o barulho de uma cachoeira que fica dentro do terreno. Apenas a contemplação da água caindo já é uma fonte de paz e reflexão.

Lições de Vida As aulas trabalham em três esferas, que eles chamam de ecologia interior, social e ambiental. A ecologia interior trata do indivíduo, como ele lida com alguns sentimentos, a maneira como vive e reage às emoções. A ecologia social trata do relacionamento com os outros. “Os conflitos são inevitáveis e a gente tem que aprender a conviver com isso da melhor forma possível. Ele é natural e inevitável”, explica Lydia. Já a ecologia ambiental trabalha em cima das relações do indivíduo com o meio onde ele vive. Conscientiza sobre


Calendário de cursos Formação Holística de Base para Jovens – Início em maio Formação Holística de Base – Abril de 2012 a março de 2013 (um final de semana por mês) Formação em Shiatsu – Março a Maio de 2012 (um final de semana por mês) Colônia de Féria Unipaz – Julho o respeito ao meio ambiente e também aborda as relações com o meio urbano. Vários cursos são ministrados ao longo do ano. A maioria deles é realizada um final de semana por mês, por um período determinado. São vários temas com objetivos e público-alvo diferentes. Há opções para todas as idades, inclusive para crianças e jovens. Entre os mais procurados está o de formação holística de base, destinado para adultos. São 22 encontros, um final de semana por mês, no sistema de imersão. Os alunos chegam à universidade na sexta-feira à noite e vão embora no final da manhã do domingo. “A formação holística de base é um espaço fecundo para o despertar de uma consciência plena e de uma inteligência integral, virtudes fundamentais para o enfrentamento dos imensos desafios globais do nosso momento histórico, que nos convoca ao exercício de uma visão global para uma ação local e de uma aliança entre o conhecimento e o amor, entre o saber e o ser”, explica Roberto Crema, reitor da Universidade Internacional da Paz. O curso está dividido em três etapas: o despertar, o caminho e a obra-prima. A primeira consiste em integrar as funções psíquicas (sensação, intuição, pensamento e sentimento), harmonizando o lado pessoal. O caminho é a fase em que as vivências das pessoas são aplicadas às esferas do conhecimento científico, espiritual, filosófico e artístico. Já a etapa final é para que o aluno relate aos demais o seu processo de integração. O curso de formação holística de base possui uma versão destinada a jovens de 14 a 18 anos. Para 2012, também está programado um curso de shiatsu, técnica de massagem japonesa que consiste em

pressionar, com o polegar, pontos específicos da acupuntura. A técnica melhora o balanceamento energético do corpo e a qualidade. Já na época de recesso escolar, as crianças podem se esbaldar na colônia de férias. O roteiro inclui banho de cachoeira, teatro, música, dança, circo, contação de histórias, labirinto, horta orgânica e muita aventura. Todos os cursos são pagos, pois é com essa verba que os voluntários que trabalham na Unipaz mantêm o local. A universidade é uma organização não-governamental, por isso não prevê obtenção de lucros com suas atividades.

Um pouco de história A Unipaz foi fundada em 1987, após a realização do I Congresso Holístico Internacional, em Brasília. Logo depois do evento, o então governador José Aparecido cedeu o terreno da Granja do Ipê para a instalação da universidade. Os psicólogos Pierre Weil, Monique-Thoenig e Jean-Yves Leloup foram os idealizadores do projeto. Pierre Weil mudou-se para Brasília para colocar a ideia em prática e tornou-se presidente da Unipaz. Weil é autor do clássico, A Arte de Viver em Paz, foi Prêmio Unesco 2000 da Educação para a Paz e candidato a Prêmio Nobel da Paz, em 2003. Ele faleceu em 2008, foi cremado e as cinzas foram jogadas na cachoeira da Granja do Ipê. Dez congressos internacionais foram realizados pela Unipaz. O próximo Congresso Internacional da Paz será de 6 a 9 de setembro, no parque Ibirapuera, em São Paulo. Serviço Unipaz DF (61) 3380.1828 unipazdf@gmail.com

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8 6 1 1 0 9 8 2 0 9 4 6 0 8 8 6 0 5 7 9 2 0 6 5 0 2 3 4 6 8 7 8

01 0012801 001 0012801 0 312931163129312931163129 3 Mercado 0 1 8 de 3 Trabalho 0013018301830013018 490249314902490249314902 683068306830683068306830 523952495239523952495239 104410681044104410681044 296629522966296629522966 045004100450045004100450 261826292618261826292618 102810041028102810041028 080608260806080608260806 282028102820282028102820 061506080615061506080615 que pensa. 2 nuvem 8 0 é0algo 8 0Qualquer 0 7 0 0 em 0 mais 0 0A hospedagem 0comum 0 0 do 0 0se 2 007 7 7 que utiliza serviços na Internet se utiliza do cloud computing 2Entenda 5 2pessoa 2 5062529252925062529 9 o que é 170217001702170217001702 0 9 0 0 0 9 2 5 0Exemplos 900090009250900 122612171226122612171226 801580098015801580098015 560056125600560056125600 651265806512651265806512 908390569083908390569083 125412651254125412651254 0 3 6 6 0 3 9 0 0 3 6 6 0 3 6 6 0Vantagens 3900366 249824122498249824122498 561756035617561756035617 280828242808280828242808 072907560729072907560729 585758285857585758285857 692469076924692469076924 970097589700970097589700 Por: Lígia Moura | Fotos Victor Hugo Bonfim

Cloud Computing:

Computação em nuvem

A

expressão em tecnologia do momento chama-se cloud computing. Mas, afinal o que é isso? Em uma explicação simples, podemos dizer que se trata de um tipo de computação que permite a partilha de recurso por meio da Internet. Em outras palavras, no cloud computing, toda a informação de softwares e sites “não” são armazenados em um local físico, e sim abstrato. Daí a derivação do nome cloud, que traduzido significa nuvem, caracterizando o banco em que são armazenados estes dados. Portanto, muitos aplicativos, como, por exemplo, arquivos e dados relacionados, não precisam estar instalados ou armazenados no computador do usuário. Este conteúdo passa a ficar disponível nas “nuvens”, ou seja, na Internet. O fornecedor da aplicação fica responsável por todo o processo de desenvolvimento, manutenção, escalonamento, utilização, backup,

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etc. Enquanto isso, o usuário apenas acessa e utiliza.

Uma das vantagens da cloud computing é que este modelo possibilita utilizar aplicações diretamente da Internet, sem que estas estejam instaladas no computador do usuário. As pessoas que usam serviços na Internet estão utilizando o cloud computing, quando usa o e-mail, quando realiza gerenciamento de dados de um perfil nas redes sociais ou ainda quando realiza a transferência de arquivos em sites. Para ilustrar esse modelo, basta pensar em um serviço bastante utilizado diariamente, o e-mail. No modelo convencional de computação, suas mensagens ficam salvas no software de e-mail, dentro do seu computador. Ao contrário do que acontece com os e-mails baseados em web (Hotmail, Gmail ou qualquer outro de sua preferência), o usuário pode acessar a conta com todas as suas mensagens, arma-

zenadas em um servidor alheio, a qualquer hora, em qualquer lugar, por meio da Internet. Grandes empresas, como Ama-zon, AT&T, Dell, HP, IBM, Intel, Microsoft e Yahoo, estão de olho nisso e anunciaram planos e investimentos nessa área. A Gartner, empresa de consultoria que desenvolve tecnologias relacionadas à área de TI, aponta o cloud computing como sendo uma das três mais importantes tendências emergentes, em um espaço de tempo que pode variar de três a cinco anos.

Um sistema como este tem muitas vantagens. Uma vez que o armazenamento de dados está em um local abstrato e não físico, há uma economia bastante simbólica de hardwares. A otimização dos dados faz com que as empresas gastem menos recursos com aparelhos e manutenção, tornando-as mais sustentáveis.

0 3 3 4 6 5 1 2 0 2 1 0 2 0 0 2 1 0 1 8 5 6 9 1 0 2 5 2 0 5 6 9

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Turismo

Da Redação | Fotos: Divulgação

Fazenda Velha, parte da história do Brasil e do Distrito Federal Patrimônio histórico e artístico do DF, além de espaço para grandes eventos, a estrutura traz uma parte importante da memória do País

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ventos com história ficam na memória. Acervo vivo do Brasil Colônia e um símbolo da ocupação da região Centro-Oeste, a Fazenda Velha proporciona ao visitante uma volta ao passado. Restaurada e reconhecida pelo Patrimônio Histórico e Artístico do DF, é hoje um exemplar vivo da memória do século XIX. Distante 33km da Rodoviária do Plano Piloto, no Núcleo Rural Capão da Erva, região administrativa de Sobradinho, a fazenda possui um conjunto arquitetônico característico do estilo de vida e da produção regional do Brasil de 250 anos atrás. A casa sede, construída em 1884, traduz muito da história do homem no Planalto Central e conta com um museu rural. No local, é possível visualizar o funcionamento das estruturas de produção da rapadura, da farinha, e também equipamentos que remontam os hábitos das antigas fazendas de nossa região: casa-sede, capela, Beth Ernest Dias investiga o chorinho da década de 1960 em Brasília

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casa da rapadura, casa de farinha, carro de boi, monjolo, entre outros. Mais tarde, em 1892, foi cenário de um importante período da história brasileira, quando recebeu Luiz Cruls e sua Comissão Exploradora do Planalto Central que aqui esteve com o objetivo de demarcar a área onde seria construída a nova capital do Brasil. Graças a este capítulo da história, a proprietária Maria Inês Vianna passou a desenvolver um projeto voltado para os grupos escolares. O objetivo é que os estudantes compreendam o universo sociocultural e a trajetória histórica e valorizem os bens culturais e ambientais que nos foram dados como legado pelos nossos antepassados. Em 1996, a Fazenda Velha foi restaurada por Roeland Emiel Steylaerts. Neste trabalho, para que não perdesse a identidade do patrimônio, foram observados os padrões de construção da época, datada de 1884.Foi mantido ao máximo o madeiramento original, feito pelos escravos – apenas o ripamento de buriti foi totalmente substituído. No concurso das 7 Maravilhas de Brasília, realizado pelo Patrimônio Histórico e Artístico do DF, a Fazenda Velha ficou em 10º lugar. Concorrendo com outros ícones da capital, a construção ficou a frente de pontos turísticos como o Memorial JK e o Museu da República.

Espaço para grandes eventos corporativos e sociais, a Fazenda Velha também está aberta para visitas, que devem ser realizadas em grupos e agendadas previamente. Os pacotes contam com almoço, lanche da tarde e visitas guiadas.

Serviço Fazenda Velha (61) 8303.5078 / 9333.1159

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Planos e Negócios Bamboler Baby O Bamboler Baby vem atender a uma demanda cada vez maior de pais em busca de roteiros diferenciados para os filhos menores de dois anos. O objetivo é proporcionar aos bebês descontração na medida certa, sem estressá-los, e com brincadeiras que têm como foco o desenvolvimento de cada um. São duas horas de atividades em espaço aconchegante e minuciosamente preparado para eles. O grande diferencial, certamente, está no aprendizado que os pais – alguns deles “de primeira viagem” – levam para casa, como dicas que ensinam as maneiras corretas de incentivar os bebês a rolar, sentar, engatinhar e andar, sem pular fases e respeitando cada idade. Para tanto, o evento contará com a expertise de fisioterapeutas da área infantil. Destaque para Rejane Costa, coordenadora de fisioterapia da UTI Neo Natal do Hospital Aliança de Salvador. Especialista em fisioterapia motora para bebês e recém-nascidos com larga experiência na área, Rejane sempre dá uma verdadeira aula aos pais presentes.

Serviço Bamboler Baby Espaço Bamboler - SMPW quadra 5,conjunto 2, lote 3, Park Way (61) 8301.8755 bamboler@hotmail.com Ingressos: R$100 por criança *desconto de 10% para a 2ª criança da mesma família

Maria de Fátima Cake designer Maria de Fátima criou caixas surpresas de dar água na boca. Com o fim do carnaval, a atenção agora é voltada para a Páscoa e, por isso, as produções da cake designer Maria de Fátima estão a todo vapor. Para a data, ela preparou ovos de páscoa de chocolate ao leite, meio amargo, branco e belga, todos recheados com doces feitos pela própria cake designer, entre eles os mais pedidos são o de bicho de pé, o de cocadinha, o de trufa de morango e o queridinho dos paladares: o de brigadeiro. Como o chocolate, atualmente, tornou-se uma dica de presente, Maria de Fátima criou verdadeiras caixinhas de surpresa que podem ser transparentes ou de madeira e virão recheadas com ovos, tendo dentro confetes de chocolates coloridos e chocolates em formato de coelhinhos de páscoa. Para os que preferem as cestas, a cake designer preparou cestas com produtos – xícaras, canecas, pratos de bolo com pá de cerâmica pintados, coelhinhos de pelúcia, e suas delícias, como as bisnaguinhas de chocolate, biscoitinhos, brownies e cupcakes de chocolate, entre outras maravilhas! Um verdadeiro sonho! Para facilitar a compra de todas essas delícias, Maria de Fátima fará pronta entrega dos ovos de páscoa, nos tamanhos 250g a 750g. Uma forma de facilitar tanto a rotina atribulada de hoje em dia quanto as compras de última hora. Aproveite e tenha uma Páscoa ainda mais doce!

Serviço Maria de Fátima Cake Designer & Café Designer SHCGN CR Quadra 716 Bloco C Loja 30 (61) 3368.9321 | 3034.6777 | 9966.2846 www.mfcakedesigner.com Twitter: @mfcakedesigner

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Unique Runway

Para quem pratica algum esporte aquático em piscina ou apenas gosta de nadar por diversão, é natural que o cloro usado para tratar a água cause irritação nos olhos e reações alérgicas, além de deixar pele e cabelos ressecados. Pensando no conforto e na saúde dos alunos, a academia Runway, nas unidades da Asa Norte e do Sudoeste, acaba de instalar um novo equipamento que trata a água por meio do ozônio (O3). “É um tratamento revolucionário, que acaba com a ditadura do cloro”, afirma Fábio Padilha, um dos sócios da empresa. O sistema instalado permite que a água obtenha as características mais próximas da água potável. O O3 age como um oxidante eficiente. É mais forte que o cloro e 3.125 vezes mais rápido na inativação de bactérias, segundo informações da empresa que instalou o equipamento, a OXclean. Essa forma de tratamento injeta o ozônio na tubulação onde circula a água. O ozônio, então, é liberado na água e atua como germicida, destruindo praticamente 100% dos microorganismos presentes na água, além de eliminar odores indesejados. A água ozonizada, inclusive, vem sendo utilizada para tratamentos estéticos, para remover manchas na pele e eliminar o cloro da água nos cabelos proveniente do abastecimento municipal.

Serviço Runway Asa Norte SCRN 710/11 – Bloco C – Loja 20. (61) 3349.3236 Runway Sudoeste CLSW 303 – Bloco B -Ed. Rhodes Center – 3° Subsolo. (61) 3342.5000

A tradicional casa de festas Unique Palace, próximo à Ponte JK, na via de acesso ao Lago Sul, irá ingressar no segmento gastronômico. O espaço lança durante o mês de março o Unique Buffet, que nasce com a chancela Cordon Bleu – a mais conceituada escola de gastronomia do planeta, em Paris. A formatação da proposta culinária, os cardápios e receitas têm a assinatura da chef-consultora Lena Gomes, que estudou na escola francesa, além de trabalhar com chefes internacionais renomados, como Emmanuel Bassoleil, Robert Marcouse e Christophe Lidy. A gestão do dia a dia será comandada por Caroline Borges, que retorna à arte das caçarolas com esse novo empreendimento. De canapés e salgadinhos a sofisticadas receitas e drinques, o Unique Buffet deverá atuar em seu próprio espaço, que comporta recepções de 30 a 1,2 mil pessoas, e em eventos externos. Apresentação para a Imprensa.

Serviço Unique Buffet SCES tr. 2, cj. 42, Setor de Clubes Esportivos Sul - Brasília - DF (61) 3362.0525

Yuri Piscinas

Piscinas de multi-estruturas, de azulejos e vinil. A Yuri Piscinas é uma empresa que trabalha desde a construção ao acabamento, incluindo serviços de reformas. São produtos de qualidade e manutenção profissional. Higiene garantida. Tudo para lhe atender da melhor forma. Entre em contato hoje ainda e aproveite essa super promoção de piscinas de vinil por R$ 550,00 o metro quadrado. O aquecimento, para você aproveitar nos dias frios, custa R$ 130,00 o metro quadrado.

Serviço Yuri Piscinas SLMN Trecho 03 N. 079 - Lago Norte (61) 4101.7856 | 9832.7812

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Automóvel

Da Redação | Fotos: Divulgação

Jeep® Wrangler 2012

ganha motor e câmbio novos

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exer em um ícone nunca é fácil e foi esse desafio que a Jeep® enfrentou para modernizar o conjunto mecânico do Jeep Wrangler 2012, que recebeu motor e câmbio totalmente novos. O resultado não poderia ter sido melhor: 40% a mais de potência, 10% de ganho no torque e ainda gasta menos gasolina. Para completar, o funcionamento ficou bem mais suave e silencioso, elevando a já emblemática capacidade na condução off-road. O grande responsável por essa evolução é o moderno e premiado Pentastar V6, que vem equipando vários modelos do Grupo Chrysler. Com 3,6 litros e 284 cv, ele

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representa um salto enorme em relação ao propulsor anterior – um V6 3.8 de 199 cv. O torque agora é de 347 Nm (antes eram 315 Nm). Com dois comandos de válvulas no cabeçote, o novo propulsor entrega desempenho muito superior. O tempo da aceleração de 0 a 100 km/h, por exemplo, caiu 25% e agora é de 8,6 segundos. Outra contribuição da força extra do Jeep Wrangler 2012 se dá no fora de estrada, como a Jeep confirmou mais uma vez em seguidos testes na lendária trilha Rubicon. Localizada no norte da Califórnia, na região de Sierra Nevada, ela é uma das mais difíceis do mundo.

Além de oferecer uma performance melhor, o Pentastar V6 também se destaca pelo refinamento. Os níveis de ruído, vibração e aspereza foram muito reduzidos. Por sua vez, a eficiência cresceu. Agora, o Wrangler é capaz de rodar até 9 km/l, marca significativa para um veículo projetado para ser um verdadeiro todo-terreno. Essas características também se devem ao novo câmbio automático, de cinco marchas – o anterior era de quatro velocidades. Essa caixa de transmissão é a mesma do Jeep Grand Cherokee. Por dentro, os ocupantes encontram uma cabine moderna e bem acabada, evolução lançada para o


ano-modelo 2011. Dessa forma, é possível dizer que o Jeep Wrangler evoluiu quase uma geração de 2010 para cá. Produzido em Toledo, no estado norte-americano de Ohio, o mais icônico dos veículos off-road é oferecido na versão Sport, de duas portas, e Unlimited Sport, de quatro portas. Esta última se destaca pelo aumento de 52 cm na distância entre-eixos e no comprimento, o que proporciona espaço interno e porta-malas mais amplos.

Mecânica refinada Feito de alumínio, o Pentastar V6 é mais de 40 kg mais leve do que o motor anterior, outro fator que contribui na melhora do consumo do Jeep Wrangler, além da maior eficiência de todo o conjunto motriz. A suavidade e o baixo nível de ruídos do novo propulsor são reforçados pelo novo sistema de coxins, pela parede de fogo mais eficaz em abafar os sons vindos do cofre e pela capa do motor, algo inédito no modelo. Ainda contribuem a montagem direta no Pentastar de todos os acessórios, como bomba da direção hidráulica, alternador e compressor de ar-condicionado. Essa prática torna mais firme a fixação desses itens, deixando-os menos suscetíveis a vibrações e ruídos. A potência e o torque adicionais do Pentastar V6 exigiram que os engenheiros da Jeep retrabalhassem a suspensão, em especial os amortecedores, para tornar o rodar mais equilibrado tanto no uso on-road como off-road.

Mais que completo A robustez e a valentia do Jeep Wrangler não o impedem de ter uma ótima lista de equipamentos de série. Entre eles, destacam-se itens de segurança, como dois air bags frontais, barra anticapotamento, controles de tração e estabilidade, faróis de neblina e freios a disco nas quatro rodas com ABS. Em relação aos recursos de comodidade, o Jeep Wrangler também se sobressai em relação à concorrência direta, com uma lista generosa. Ela inclui ar-condicionado, banco do motorista com regulagem de altura, banco traseiro rebatível, capota dupla (rígida e de lona), coluna de direção ajustável em altura, limpador do vidro traseiro (fixo na capota rígida), controle de velocidade de cruzeiro, rádio AM/FM com CD player, compatibilidade MP3 e entrada auxiliar, rodas de alumínio 17”, tapetes suplementares acarpetados, tração 4x4 manual Part Time (Command-Trac®) travas, retrovisores e vidros elétricos e volante de couro, entre outros itens. No caso do Jeep Wrangler Unlimited, ainda há banco traseiro rebatível e bipartido na proporção 60/40 com três apoios de cabeça.

INFORMAÇÃO GERAL • Tipo de carroceria: duas portas (quatro portas), utilitário-esportivo • Fábrica: Toledo Supplier Park, Toledo, Ohio, Estados Unidos • Ano de lançamento: 1987 • Motor: Pentastar V6, Dohc, 24 válvulas • Tipo e descrição: seis cilindros em “V”, dispostos a 60°, duplo comando de válvulas no cabeçote • Deslocamento: 3.605 cm³ • Diâmetro x curso: 96 mm x 83 mm • Sistema de válvulas: duplo comando de válvulas roletado, 24 válvulas, com sistema de variação de abertura • Injeção de combustível: sequencial, multiponto, eletrônica • Construção: bloco de alumínio fundido em alta pressão e cabeçote de alumínio • Taxa de compressão: 10.2:1 • Potência: 284 cv [209 kW] a 6.350 rpm • Torque: 35,4 mkgf [347 Nm] a 4.300 rpm • Rotação máxima do motor: 6.600 rpm, limitada eletronicamente • Requisitos de combustível: sem chumbo, regular, 87 octanas • Capacidade de óleo: 5,7 L • Capac. de líq. de arrefecimento:13,25 L • Controles de emissão: dois conversores catalíticos de três vias, sensores de oxigênio aquecidos e recursos internos do motor • Linha de montagem: Trenton South Engine Plant, Trenton. Michigan, EUA Serviço Chrysler Brasil (11) 4949.3913

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Vida Moderna

Da Redação | Fotos: Fábio Pinheiro

Ensinando a gerenciar U

Franquia ajuda arquitetos a administrar escritórios

m dos grandes problemas da ministração, controle e manutenção rizar os espaços, visando conforto e maioria dos escritórios de arqui- no desenvolvimento dos trabalhos bem-estar aliados a uma boa relação tetura está diretamente ligado à da empresa. Sempre com a visão de custo/benefício em projetos residengestão. Os arquitetos, em sua maioria, que o arquiteto deverá desenvolver ciais, comerciais e corporativos. saem da faculdade com pouca expe- projetos e não se preocupar com a riência prática, muito conhecimento administração do negócio”. INFORMAÇÕES DA FRANQUIA O administrador explica que a técnico e teórico e nenhuma experiênA Arquitetura do Brasil dá todo cia administrativa, ou seja, quando se Arquitetura do Brasil procura “valo- apoio necessário, em todas as fases veem no mercado Quanto custa ter uma franquia da ARQUITETURA DO BRASIL de trabalho, basicamente tem duas Tipo de Negócio Rede de escritórios de arquitetura opções: procurar Data de Fundação 2008 um emprego na Investimento Inicial R$ 30 a 40 mil iniciativa privada ou iniciar uma em- Taxa de Franquia R$ 10 mil preitada por conta Royalties 7% do faturamento bruto própria abrindo o Taxa de Publicidade 3% do faturamento bruto seu próprio negócio. Capital de Giro mínimo de R$ 15 mil O administrador de empresas Faturamento Médio Mensal R$ 15 a 30 mil Rodrigo Del Monte Lucro Líquido em torno de 40% sobre faturamento bruto Veludo acaba de Prazo Médio de Retorno do De 12 a 24 meses criar a Arquitetura do Brasil, com o Investimento 60 meses objetivo de sim- Prazo de Contrato plificar o trabalho Área da Unidade 40 m2 daqueles profis2 Funcionários sionais. “Nossa Auxílio na busca do ponto comercial e negociação, apoio na impreocupação é dar Apoio ao franqueado todo o apoio para plantação da franquia, projeto arquitetônico exclusivo, programa que os arquitetos de treinamento, cursos de capacitação e manuais de operação, consigam abrir o software de controle financeiro, equipe de consultoria de campo, seu próprio negódisponibilização de hotsite e investimento em marketing cio com um modelo de gestão que pro- E-mail rodrigo@arquiteturadobrasil.com.br porcione diversas Site www.arquiteturadobrasil.com.br ferramentas de ad(61) 3340.4547 Telefone

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de desenvolvimento da franquia, auxílio na busca do ponto comercial e negociação, apoio na implantação, projeto arquitetônico exclusivo, programa de treinamento, cursos de capacitação e manuais de operação, software de controle financeiro, equipe de consultoria de campo, disponibilização de hotsite e investimento em marketing.

Rodrigo Veludo: administração da vida profissional de arquitetos

TREINAMENTO O franqueado será treinado para utilização do Software de Gestão Financeira. O Software permite o controle total da unidade, tanto para controle do franqueado quanto do franqueador. Todo suporte será dado através de um help desk especializado, capaz de resolver problemas e exe-

cutar atualizações do sistema. Os gerentes de franquia são aptos a aplicar os treinamentos e instruções sobre a operação completa do sistema. O franqueado terá todo o suporte e acompanhamento necessário para implantação de sua unidade franqueada. Esse acompanhamento será feito por um profissional ha-

bilitado e treinado especificamente para procedimentos de abertura e inauguração. Esse profissional acompanhará a obra, o treinamento da equipe, os aspectos burocráticos e legais, contato com fornecedores e todos os procedimentos necessários para garantir a abertura no prazo estipulado.


Personagem

Da Redação | Fotos: Divulgação

É Tudo Verdade, conta

Dino Cazzola

Dino fez um registro histórico de grande valor ao reunir o crescimento e a evolução arquitetônica, urbanística, social e política da capital federal

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elecionado para a mostra competitiva brasileira do festival É Tudo Verdade, Dino Cazzola – Uma filmografia de Brasília estreia em São Paulo no final de março no CineSESC e nos dias 26 e 27 de março no Unibanco Arteplex no Rio de Janeiro. Em Brasília, as exibições acontecem no Centro Cultural Banco do Brasil nos dias 9 e 10 de abril. A entrada é franca. (Informações completas no final do texto). Dirigido e produzido pela historiadora e pesquisadora Andrea Prates e pelo cineasta Cleisson Vidal, o longa é fruto de um extenso trabalho de imersão no acervo filmográfico reunido por Dino Cazzola. Considerado um dos precursores na filmografia jornalística de Brasília, ele esteve presente na cidade desde a sua construção. O documentário resulta da análise de 3.287 rolos de filme com aproximadamente 300 horas de material gravado entre as décadas de 60 e 70. Foram três anos entre pesquisa, produção, digitalização, filmagem e montagem de Dino Cazzola – Uma filmografia de Brasília, viabilizado com o patrocínio do Programa Petrobras Cultural e por meio do apoio do Ministério da Cultura e da Agência Nacional do Cinema – Ancine. O filme teve consultoria do restaurador Francisco Moreira, com montagem de Lea Van Steen e trilha sonora original composta por Iura Ranevsky, consagra48

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do violoncelista, professor da escola de música da UFRJ (RJ). “Transformar o caos em uma história para dar visibilidade ao acervo e mostrar a necessidade de preservar o material ainda recuperável foi o ponto de partida para o documentário”, revela Andrea Prates. “A nossa primeira visão do acervo do Dino era de equipamentos de filmagem, arquivos de aço, caixas e mais caixas de papelão e

centenas de latas de filmes com claros sinais de deterioração. Rótulos lidos ao acaso indicavam a extensão do ‘tesouro’ ali guardado: ‘Construção do Eixo Norte-Sul’; ‘Discurso Tancredo Neves 1961’; ‘Construção da Catedral de Brasília’; ‘JK caminhando pelas obras de Brasília”, entre outros, descreve a diretora. Foram analisados mais de 3 mil rolos de filmes e 300 horas de material raro produzido entre as décadas de 60 e 70

As mais de 500 latas foram guardadas por Dino no sótão de sua casa e estima-se que 70% do material foi perdido pela falta de infraestrutura para garantir sua preservação. No acervo, além das imagens de autoria de Dino, também foram encontradas outras de cinegrafistas anônimos. Destacam-se, entretanto, as imagens feitas pelos cinegrafistas mineiros José Silva e Sálvio Silva. Pioneiros no registro filmográfico da cidade, José e Sálvio foram contratados pela Novacap (empresa estatal responsável pela construção de Brasília) para gravar o andamento das obras. O material era veiculado nos cinejornais por todo o Brasil como propaganda do governo de Juscelino Kubitschek. Sobre o material analisado, o diretor Cleisson Vidal afirma: “Em um acervo tão grande, com cerca de 300 horas, exaltar certas imagens é, em certo ponto, temerário, pois cada pessoa que olhar esse acervo valorizará a tônica de sua busca. A mim, foi impressionante ver depoimentos de Juscelino Kubitschek, inéditos e pouco vistos. Há muita coisa, como imagens do Teatro Nacional, em total abandono e toda a parte de remoção de favelas do Plano Piloto para a Ceilândia”. Para o diretor, “o documentário vai além do tempo presente. É obra que também serve de conhecimento, reflexão crítica e aprofundamento de temas”.


“Vamos filmar para a história”, dizia Cazzola Dino Cazzola nasceu em 1932 na cidade de Broni, na Itália, onde já registrava os horrores da 2º Guerra Mundial, como revelam imagens encontradas em seu acervo. Sua vinda para o Brasil deu-se por meio do contato com os pracinhas brasileiros. Encerrado o conflito, Dino chegou ao País, em 1959, como se fosse um militar brasileiro que perdera os documentos. Apoiado em testemunhos de familiares e cinegrafistas que acompanharam a trajetória de Dino, o filme destaca seu filho, Júlio Cazzola, que relata a ligação do pai com a capital federal: “Ele criou um amor pela cidade pelo fato de ter visto Brasília nascer, em contraposição à perda que sofreu na Itália, quando viu sua cidade totalmente destruída”. Evilásio Carneiro, cinegrafista, descreve como Brasília estava quando Dino chegou: “Ele pegou muita coisa já em pé, mas muita coisa começando...”. Já Dona Quitita, viúva de Sálvio Silva, cinegrafista que trabalhou por muito tempo ao lado de Cazzola, afirma: “Brasília era aquela terra de ninguém e, ao mesmo tempo, terra de todo mundo”. Paulo Guerra, cinegrafista que também trabalhou com Dino, conta que o produtor era um visionário e acreditava na importância dos filmes como registro histórico, mostrando-se um verdadeiro apaixonado pela cidade. “O Dino me dizia: ‘Vamos filmar para a história!’”, relembra Guerra.

Prodic, primeira produtora Dino trabalhou na TV Brasília produzindo imagens que mostravam o centro do poder: viu passar pelo planalto os presidentes Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros e João Goulart. Imagens mostram os sinais de um futuro sombrio: JK se despede do País e começam os anos de chumbo; assume, em 1964, o general Castello Branco e, em 1967, Costa e Silva; instaura-se o AI5, suspendendo as garantias constitucionais, e a Universidade de Brasília é invadida. Os jovens representavam um perigo para o regime, como lembra o artista

plástico Xico Chaves: “por isso eles achavam que era preciso eliminar a juventude idealista que queria construir um país novo... e assassinaram, empurraram pra clandestinidade! Foi uma estratégia. Uma vil estratégia!”. O momento era da censura e da propaganda militar pesada. “Dino foi um dos poucos cinegrafistas que filmaram o fechamento do Congresso, mas a direção da TV Brasília, na época, não conservou o material e o jogou no lixo”, relembram os cinegrafistas Joaquim Nascimento e Paulo Guerra. Cazzola saiu da TV Brasília e criou a Prodic, a primeira produtora da capital federal. Passou a fazer imagens e também a distribuí-las para as principais emissoras do País, além de produzir peças publicitárias para o governo. Na era Médici, o País vivia a alegoria do desenvolvimento acelerado e a euforia da conquista da Copa de 70. Exilados, retornaram ao País, e Dino registrou a polêmica entrevista do músico Geraldo Vandré ao desembarcar no aeroporto de Brasília. Os cinegrafistas Evilásio Carneiro, Paulo Guerra e o jornalista Geneton Moraes Neto dão as suas versões do material que sumiu. A produtora foi invadida e o material, roubado. Sobre esta época, Julio Cazzola revela: “Quem nasceu em um regime de exceção acha tudo normal”. Em paralelo, o filme também mostra o esforço para recuperar o acervo com o restaurador Francisco Moreira analisando as películas. Seu testemunho reforça o estado de degradação encontrado: “Na verdade, você não tem mais filme, você tem um borrão de imagem irrecuperável”. Moreira é um dos mais experientes profissionais na recuperação de filmes, trabalhou por mais 20 anos na Cinemateca do MAM (RJ), onde foi curador de preservação, além de ter estudado na Staatliches Filmarchiv der DDR, na então Alemanha Oriental, no Service National des Archives du Film, na França, e na UCLA Film and Television Archives, nos Estados Unidos. Uma locução em off do próprio Dino que faleceu em 1998, aos 66 anos, descreve sua preocupação

com a importância e preservação do registro histórico: “O meu maior sentimento, o que mais sinto, é que Brasília, com menos de um quarto de século de idade, tenha menos provas, menos documentos históricos do que Roma que foi fundada há quase três milênios.”

Terra Firme Produções Este é o segundo longa codirigido por Andrea Prates e Cleisson Vidal: em 2005, lançaram Missionários, documentário sobre uma banda de rock formada por detentos de uma penitenciária no Rio de Janeiro. Naquele ano, o filme participou dos festivais: É Tudo Verdade (São Paulo), Fórumdoc BH (Belo Horizonte), Festival do Rio e Mostra do Filme Etnográfico (Rio de Janeiro). Andrea Prates – Historiadora de formação, Andrea é natural de Brasília. Desde 1984 é pesquisadora do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN/MinC. Cleisson Vidal – Nascido em Minas Gerais, graduou-se em análise de sistemas, comunicação social e fez pós-graduação em história da arte. Começou a carreira como assistente de câmera em documentários e vídeo clipes. Em 2003, teve sua primeira oportunidade como diretor de fotografia no documentário Evandro Teixeira - Instantâneos da Realidade, do diretor Paulo Fontanelle. A partir daí, fotografou nove longas- metragens de documentário e cinco curtas de ficção. Entre seus trabalhos estão Migrantes – codireção com Beto Novaes (2008); A Rota do Pescado (2009); Juventudes Sulamericanas – Diálogos (2009), Sob o Verde da Memória (2011) e Helena Comprimida (2012). Cleisson também fez a direção de fotografia dos documentários Hysteria e Artur Omar, de Evaldo Mocarzel (ambos em fase de pós-produção). Em 2007, criou a Terra Firme Produções para transformar em documentários suas pesquisas e questionamentos socioculturais.

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Saúde

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Por: Caroline Aguiar | Ilustrações: Eward Bonasser Jr.

mitos e verdades sobre a gravidez

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1 – Barriga pontuda é indício de que o bebê é do sexo masculino, barriga redonda é menina

O formato da barriga da mãe nada tem a ver com o sexo da criança. Por mais que os antigos dissessem que o pênis do bebê deixaria a barriga pontuda, isso não faz sentido. Gianini explica que a genitália do feto é muito pequena, não possui volume suficiente para alterar o formato da barriga. O que pode interferir nessa questão é a posição do bebê. Quando a barriga está mais espalhada pode ser indício de que a criança está atravessada e não na diagonal, que é o posicionamento ideal para o parto normal. Se o bebê realmente estiver deitado, pode ser necessário que o parto seja cesariano.

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2 – A mãe não pode dormir de lado A grávida pode dormir em qualquer posição. Nos últimos meses é até aconselhável que ela durma de lado, sobre a parte esquerda do corpo. Essa posição descomprime a veia cava, que retorna o sangue do corpo para o coração. Assim, o inchaço diminui.

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uitas mulheres têm o sonho de ser mãe e esperam ansiosamente por esse momento. Mas, quando chega a confirmação da gravidez, as dúvidas e perguntas se multiplicam. Os nove meses de espera se transformam em um período de muita ansiedade e questionamentos. Nessa hora, o que não falta é alguém para dar palpite, uma tia com uma receita milagrosa ou uma vizinha com um conselho. Muito se fala sobre a gravidez, lendas e mitos se arrastam ao longo da história. Para tirar essas dúvidas, a Plano Brasília foi conversar com o ginecologista e obstetra Gerson Gianini. O especialista explica quais mitos têm algum fundamento e quais não devem ser levados em consideração.

3 – A diminuição da quantidade de pelos da mãe é sinal de que o bebê é do sexo feminino A quantidade de pelos da mãe nada tem a ver com o sexo da criança, mas sim com questões hormonais. Aliás, no período da gravidez, a mulher fica com unhas e cabelos mais saudáveis e bonitos por causa dos hormônios. A queda de cabelos fica estagnada durante a gestação, mas volta a acontecer depois que o bebê nasce. Não é a amamentação que provoca a queda dos fios, como alguns dizem. O que acontece é que todo o cabelo que deveria ter caído durante os nove meses de gestação e não caiu se solta após o parto, geralmente nas duas primeiras semanas depois do nascimento do bebê. Esse processo é normal e não é motivo para preocupação.


4 – Grávidas não devem ficar perto de gatos

6 – Os desejos de comer algo diferente podem ser sinal de falta de nutrientes. Alguns desejos podem sim estar relacionados com a falta de ferro. “Vontade de comer terra, tijolo e vasos pode ser sinal de anemia. A gestante deve procurar o médico para fazer uma reposição com medicamentos”, explica Gianini. Já outros desejos estranhos não têm fundamento. Mas o médico recomenda que eles sejam atendidos porque, afinal de contas, eles farão bem à gestante. Ela só não pode exagerar nas gorduras e alimentos não muito saudáveis. Se a grávida tem muito enjoo, comer o que dá vontade é o mais recomendável porque, provavelmente, aquele alimento não lhe causará náuseas.

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9 – Tomar banho quente faz mal

Tanto a água muito quente ou muito fria podem estimular contrações, o que pode fazer com que a gestante entre em trabalho de parto antes da hora. Portanto, o recomendável é que o banho seja com a água em uma temperatura amena.

Os reais efeitos para qualquer pessoa, inclusive gestantes, dos adoçantes ainda não são bem conhecidos. Por isso, os médicos costumam pedir que as grávidas evitem esse tipo de alimento. Os que possuem sacarina e ciclamato de sódio não são recomendados. Os menos prejudiciais seriam aqueles compostos de aspartame. O açúcar em excesso também deve ser evitado e, quanto mais refinado, pior ele é para o organismo. Uma boa saída é utilizar o açúcar mascavo. 8 – Tomar sol pode dar manchas

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Independente da exposição ao sol, as manchas no rosto durante a gestação são comuns, é o que se chama de melasma gravídico. Tomar sol pode agravar a situação, por isso é melhor evitá-lo e sempre usar protetor solar. Depois da gravidez, as manchas podem desaparecer sozinhas ou com a ajuda de cremes específicos.

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7 – Alimentos diet e light devem ser evitados

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A recomendação se justifica pelo fato de o gato ser um dos principais hospedeiros do protozoário que causa a toxoplasmose e a doença poder ser transmitida pelas fezes do animal. Mas Gianini explica que a maioria dos casos de toxoplasmose é transmitida pela ingestão de frutas e verduras mal lavadas ou carne mal passada. “É muito mais recomendável que a família tenha cuidado redobrado na higienização dos alimentos do que abrir mão do seu gato de estimação. Até porque, se fosse para esse animal passar a doença, a pessoa já teria tido a doença antes da gestação e não necessariamente depois de engravidar”, esclarece o obstetra. A toxoplasmose durante a gravidez pode causar problemas cerebrais e visuais na criança.

A atividade sexual pode ser mantida durante toda a gestação sem causar prejuízos para o bebê. O sexo só não é recomendado depois que a mãe sente as primeiras contrações, iniciando o trabalho de parto, e nas seis primeiras semanas após o nascimento da criança. Gianini explica que o desejo sexual é uma questão bastante pessoal. Algumas grávidas têm aumento da libido e outras diminuição. “É complicado quando há uma discordância entre o casal. Às vezes, a mulher até tem desejo, mas o marido perde o interesse, ou vice-versa. Outras têm nojo do parceiro e assim por diante. O importante é ter paciência e diálogo entre o casal”, explica o médico.

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5 – É proibido ter relações sexuais durante a gravidez

10 – A barriga “pular” é sinal de que o bebê está soluçando Sim, como todas as pessoas, os bebês também soluçam quando estão dentro da barriga. Isso não é motivo de angústia para a mãe e não há o que fazer. É só esperar um pouco que a crise de soluço vai passar.

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Moda

Por: Fernanda Duarte

As criações de Butler &

Tiara com flores cravejadas de pedras coloridas

H

Wilson

á mais de 40 anos, os trabalhos de Nicky Butler & Wilson Silmon encantam. A dupla de ingleses começou vendendo suas criações em mercados de antiquários em 1969 e hoje é um dos nomes mais fortes do mercado de semi joias e está no closet de famosas e anônimas que amam acessórios com estilo. A marca já tem até revendedores no Brasil, onde muitas já descobriram os encantos das joias de Butler & Wilson!

Anel de caveira com a bandeira da Inglaterra

Anel de aranha, os bichos estão sempre presentes nas criações Brincos com pingentes de caveiras

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As caveiras, também sempre presentes, dão um ar exótico ao colar de pedras pretas

Anel duplo de caveiras, para dois dedos

Anel de borboleta com pedras furta-cor

Colar de várias voltas com bocas

Clutch de festa cravejada de pedrinhas

Serviço Butler & Wilson www.butlerandwilson.co.uk

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Comportamento Da Redação | Fotos: Moreno

Educar é ter

atitude e bom senso Jorge Lima e Natália com as filhas Karine e Louise

Seguir conselhos dos pais ainda é o melhor caminho

P

ais que não interferem se omitem, não orientam, correm o risco de ver seus filhos palmilharem os descaminhos que tanto afligem as famílias modernas. Esses pais e filhos têm até preconceitos quando ouvem a palavra “conselho”, acham que é coisa de antigos. Geralmente, os jovens não admitem sequer ouvir conselhos sobre drogas, gravidez indesejada e outros comportamentos. Eles estão “fora dessa”, dizem com a arrogância própria da juventude. Depois, quando o indesejável acontece... Mas não são poucos os pais que “pegam no pé” dos filhos, com total aquiescência destes, ou melhor, aceitação. Eles pregam

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bom senso e atitudes firmes. É o caso dos pais das meninas Karina, 20, e Louise, 19, que estudam em universidades, são concurseiras e namoram como quaisquer outras jovens. E elas não se queixam da firmeza dos pais. Karine e Louise estudaram durante dez anos no Colégio Imaculada Conceição. Agora, Karine cursa serviço social na Universidade de Brasília e direito no Ceub. Já Louise estuda direito, na Universidade Federal de Uberlândia (UFU), onde mora seu irmão Alexandre, 30, funcionário do Banco do Brasil. Antes, Louise havia iniciado o curso de ciência política, na UnB, mas abandonou para fazer direito, objeto de seu fascínio. Alexandre faz, lá mesmo em Uberlândia, curso de pós-graduação em finanças.

seus pais dialogam “muito, e constantemente, sempre procurando nos orientar. Não vejo isso como algo negativo ou maçante”.

Religião Dona Natália, mãe dos três, é uma portuguesa criada no Zaire, onde o pai, que era comerciante, trouxe para os filhos exemplos de religiosidade, com o que concorda o marido Jorge Lima, aposentado do Banco do Brasil. A família, os Nunes Ferrão, acham que os preceitos religiosos, hoje em dia, ajudam os filhos a trilhar os melhores caminhos. “Dizer o contrário é algo tão fora de propósito que nem vale a pena discutir; os exemplos estão nas ruas”, observa o pai, Jorge. Um dos 13 filhos do cearense Raimundo Pereira Lima, Jorge viveu em Goiânia até os 18 anos, seguindo o rumo de qualquer família pobre: foi engraxate e vendedor de jornal, até vir para Brasília, onde serviu no exército; depois, foi balconista de farmácia. No intervalo do almoço, estudava, até conseguir passar, com muito esforço, num concurso para o Banco do Brasil. Esse exemplo Jorge mostra para os filhos, dizendo que, com igual esforço, eles poderão ir muito além.

O que muita gente vê como ‘bronca’, é um simples conselho. É melhor isso, ‘bronca’, advertência ou conselho, como queiram, do que ouvir, depois, ‘coitada’

Atitude vale Diz Karine, com a irmã assentindo com a cabeça, que não se importa em levar “bronca” dos pais. “Ruim é ser chamada a atenção por estranhos por erros cometidos; se os pais corrigem a gente, podemos evitar esse conflito na escola com os professores e no trabalho, no futuro, com os chefes”, afirma. “O que muita gente vê como ‘bronca’, é um simples conselho. É melhor isso, ‘bronca’, advertência ou conselho, como queiram, do que ouvir, depois, ‘coitada’”, filosofa a menina Louise, acrescentando que

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Exposição

Da Redação | Fotos: Divulgação

Pixinguinha Exposição inédita percorre a vida do grande compositor e instrumentista, contando um pouco da história da música brasileira

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maior compositor de choro de todos os tempos. O maior flautista que o Brasil já teve. O maior expoente da música brasileira, ao lado de Villa-Lobos. Estes e outros títulos costumam acompanhar o nome de Alfredo da Rocha Vianna Filho, o Pixinguinha. Mas talvez nenhum outro ofereça a exata dimensão do artista quanto o depoimento do crítico e historiador Ary Vasconcelos: “Se você tem 15 volumes para falar de toda a música popular brasileira, fique certo de que é pouco. Mas se dispõe apenas do espaço de uma palavra, nem tudo está perdido; escreva depressa: ‘Pixinguinha’”. Gênio incontestável da música no Brasil, Pixinguinha vai ganhar uma grande exposição, no ano em que completaria 115 anos de idade. É Pixinguinha, mostra realizada pelo Centro Cultural Banco do Brasil Brasília e que ocupará o Pavilhão de Vidro e a Galeria 2 do prédio brasiliense. Um imenso acervo à disposição do visitante, que, além de aprender um pouco mais sobre a vida do grande mestre da música brasileira, vai tomar contato com períodos e acontecimentos pouco comentados da história do Brasil – como o fato de Pixinguinha ter sido o primeiro orquestrador brasileiro a trabalhar junto às gravadoras. A exposição Pixinguinha tem curadoria de Lu Araújo. Há vários anos, a produtora carioca está mergulhada na vida do artista: “Pesquiso a vida e a obra de Pixinguinha desde 1997. É inegável que ele foi um dos pioneiros na cultura brasileira no século XX. Foi uma dessas figuras raras, um líder nato,

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um sábio, sem nunca impor condição para isso. Promoveu transformações estéticas, trouxe modernidade à música e participou de importantes momentos para o surgimento da nossa música popular, como a produção em massa de discos e surgimento do rádio no Brasil. Os projetos que realizo visam ampliar o olhar e conhecimento do público sobre este importante artista e as suas plurais atuações”, revela. Lu Araújo é também o responsável pela organização e coordenação do livro Pixinguinha – o gênio e seu tempo, que acaba de ser editado pela Casa da Palavra em parceria com Lume Arte. O livro, que será lançado em Brasília durante a temporada da exposição, é um belíssimo trabalho de recuperação iconográfica, que apresenta o registro fotográfico de sete décadas da vida do maestro, seus grupos e parceiros, com textos do historiador André Diniz. A mostra reúne material colhido em diversas coleções públicas e particulares, como MIS – Museu da Imagem e do Som, Fundação Biblioteca Nacional, Arquivo Nacional, Instituto Moreira Salles, Coleção G. Ermakoff e vários outras.

A EXPOSIÇÃO A exposição Pixinguinha é um projeto idealizado em parceria com o neto do artista, Marcelo Vianna, que disponibilizou todo o acervo familiar e o maestro Caio Cezar, também responsável pela direção musical da mostra. Há vários anos, o trio vem promovendo o resgate de Pixinguinha e já levou ao mercado três CDs da Série Pixinguinha com arranjos originais do artista e o

documentário Nós somos um poema, que revela a parceria de Pixinguinha com Vinícius de Moraes. “Queremos mostrar os principais pontos da vida de Pixinguinha e desfazer alguns nós que a história não conta”, adianta Lu Araújo. Para isso, a mostra está especialmente concebida de forma a promover um percurso, mostrando a precocidade do músico (aos 11 anos já tocava flauta, aos 14 já tinha um emprego), seu profissionalismo, suas parcerias. O visitante poderá ver de perto o saxofone e a flauta usados por Pixinguinha, seus documentos pessoais, passaporte, gravatas, chapéu, discos, condecorações e principalmente fotografias e vídeos que recuperam imagens de época. A exposição estará dividida em 12 salas, dispostas de forma relativamente cronológica. Na Sala 1, o espectador poderá ter uma ideia da Pensão Vian-


na, a pensão onde seus pais abrigavam músicos populares que não tinham onde morar. O espaço apresenta o nascimento de Pixinguinha, sua convivência em família e os primeiros passos do ainda menino no caminho da formação musical, incentivado pelo pai flautista amador e pelos irmãos também músicos. Retratará os precursores da música no final do século XIX e início do século XX e as principais formações de choro, os regionais e as bandas militares. Uma foto mostra o menino Pixinguinha com um cavaquinho, o primeiro instrumento que ele ganhou. Outras imagens apresentam Joaquim Callado, Patápio Silva, Anacleto de Medeiros, entre outros. A Sala 2 apresenta o rápido crescimento de Pixinguinha como músico. Estão presentes neste contexto a importância do carnaval no início do século XX, através dos Ranchos Carnavalescos e do Grupo Caxangá dos quais Pixinguinha participou. Ainda, o primeiro emprego na Choperia La Concha aos 14 anos; sua inserção nos grupos musicais que acompanhavam os filmes mudos e a participação como músico nas orquestras dos espetáculos de teatro de revista. A organização do grupo Oito Batutas, a ocupação da luxuosa sala de espera do Cine Palais por músicos negros e a enorme repercussão causada pelo fato junto à imprensa e à sociedade carioca do período. Estarão expostas diversas fotos do grupo Oito Batutas, entre 1919 e 1922, além de vídeos com imagens do carnaval na década de 1920 e um filme do Cinema Mudo, em que o público poderá ouvir e experimentar a sensação de acompanhar uma trilha sonora ao vivo, como acontecia nos cinematógrafos da época. Na Sala 3, o espectador poderá ver o impacto que a temporada de seis meses em Paris causou nos integrantes do grupo Os Batutas. Estão fotos do embarque, passaportes, recortes de jornais da época. Pixinguinha, Donga e companhia saíram do Brasil com imagem de grupo de choro e voltaram com pose e instrumentos de banda de jazz. A Sala 4 mostra o Brasil em 1922, ainda sob os ecos da Semana de Arte

Moderna, e a ligação de Pixinguinha com Mário de Andrade – foi o músico que orientou o autor para falar das religiões africanas, na primeira edição de Macunaíma. Na Sala 5, uma incursão na vida familiar do artista, com fotos de Pixinguinha e sua esposa Beti, com quem viveu por 45 anos, e um pouco da história da Companhia Negra de Revistas, onde os dois se conheceram. Alguns dos programas de rádio que Pixinguinha participou estão recuperados na Sala 6, que apresenta fotos de grandes artistas da época, microfones, troféus e informações sobre o Grupo da Guarda Velha, que reunia Pixinguinha, Donga e João da Baiana. Estarão à disposição do visitante menus com áudios de gravações da época, na voz de artistas, como Carmen Miranda e Orlando Silva, e imagens de um vídeo de Thomaz Farkas sobre o grupo. A Sala 7 é especialmente dedicada a Carinhoso e terá gravações de vários artistas que cantaram a música, como Elis Regina, Tom Jobim, Orlando Silva, Marisa Monte, Tom Zé, Roberto Carlos, além de depoimentos que conectam Pixinguinha com o cenário musical brasileiro contemporâneo. Representada a partir de 300 imagens, que vão de 1920 a 1980, a Sala 8 aborda os rumos que a música brasileira tomou a partir da liderança de Pixinguinha em nossa música popular. Gravações de instrumentistas feitas dos anos 80 até os tempos atuais apresentam as novas versões para a música deste mestre. “Nós somos um poema”. Assim Pixinguinha, Donga e João da Baiana se referiam à amizade dos três, que atravessou décadas. A Sala 9 será dedicada a este exemplo raro de amizade, com fotos, vídeos que falam deles e de Clementina de Jesus, imagens da Pequena África, região onde eles viviam e áudios com gravações dos quatro artistas. Outra parceria, desta vez entre Pixinguinha e Vinícius de Moraes, dá o tom à Sala 10, espaço para o espectador tomar contato com a trilha que ambos compuseram para o filme O Sol Sobre a Lama, de Alex Viany, que marca a estreia no cinema do ator Othon Bastos, rodado na antiga Feira de Água de

Meninos, em Salvador, em 1963. Serão exibidos fotos do filme, roteiro, cartas trocadas entre o músico e o diretor e um documentário que recupera a histórica parceria de Pixinguinha com Vinícius de Moraes. Estudiosos e especialistas afirmam que nunca ninguém mais tocou a flauta como Pixinguinha. Mas aos 48 anos de idade, o artista trocou a flauta pelo sax. Corria o ano de 1944 e Benedito Lacerda fez uma proposta ao amigo: gravarem juntos pela RCA, ele na flauta e Pixinga, como era carinhosamente chamado pelos amigos, no sax. Desta parceria, nasceram 17 discos de 78rpm, em 34 faixas antológicas que reúnem algumas das mais belas gravações de choro de todos os tempos. Esta história está registrada na Sala 11, que contém os instrumentos usados pelo músico, todos os discos, críticas da época e fotografias. E o percurso pela vida e obra de Pixinguinha termina na Sala 12, batizada de São Pixinguinha. Nela, uma tela de 12 metros exibirá um documentário com sequência de imagens em movimento e depoimentos de grandes nomes da música e da cultura. No local, cadeiras de balanço estarão dispostas para os visitantes descansarem enquanto assistem ao filme, numa clara alusão à foto de Walter Firmo, que mostra o artista sentado no quintal de casa numa cadeira de balanço, uma espécie de síntese de Pixinguinha. O documentário termina com imagens do desfile da Portela em 1974, quando a escola homenageou o grande mestre, imortalizando o refrão: “Pizindim, Pizindim, Pizindim, era assim que a vovó Pixinguinha chamava. Menino bom na sua língua natal. Menino bom que se tornou imortal.” Serviço Pixinguinha Centro Cultural Banco do Brasil Brasília Pavilhão de Vidro e Galeria 2 De 13 de março a 6 de maio de 2012 Horário: de terça a domingo, das 9h às 21h Entrada franca (61) 3108.7600

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Cinema

Ricardo Movits

Fotos: Divulgação

Maldição

no cinema F

azer um filme não é fácil, mesmo onde existe uma indústria para isso. Em Hollywood, os estúdios de cinema financiam o filme. Aqui no Brasil, os cineastas dependem dos editais das empresas e do governo. Mesmo com todo o profissionalismo e cuidado que as produções hollywoodianas têm com seus produtos cinematográficos, acidentes acontecem e alguns se tornam até lendas urbanas. Aqui estão alguns filmes que merecem destaque:

POLTERGEIST – TRILOGIA O primeiro filme da trilogia foi lançado em 1982, Poltergeist – O Fenômeno. Steven Spielberg foi produtor, roteirista e um dos montadores do filme. Conta a lenda que Spielberg assumiu também a direção do filme depois de detectar o péssimo trabalho de Tobe Hooper. Tobe Hooper teria amaldiçoado o filme. Vários atores ligados aos 3 filmes da franquia morreram tragicamente. A garotinha Heather O’Rourke, que

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interpretou Carol Ann, morreu aos 12 anos, devido a complicações de uma gripe, durante as filmagens da parte 3. A jovem Dominique Dunne, que fez sua irmã, foi estrangulada pelo namorado logo após as filmagens do primeiro filme. Julian Beck e Will Sampson de Poltergeist 2 morreram pouco depois das filmagens. O garoto Barry Oliver, o outro irmão, quase foi sufocado durante as filmagens do primeiro. Foi a única das crianças a sobreviver, mas sua carreira como ator terminou ali.

O EXORCISTA Neste filme de 1973 dirigido por William Friedkin, pelo menos 9 pessoas envolvidas na produção morreram inesperadamente, além de um misterioso incêndio que destruiu parte dos cenários num final de semana. O diretor pediu ao padre consultor técnico que exorcizasse os sets de filmagem, mas ele apenas concordou em benzer. Um raio destruiu uma cruz de 400 anos, no

dia da premiere em Roma. Foi um dos primeiros filmes a utilizar mensagens subliminares na montagem e, talvez por isso, várias pessoas passaram mal durante as exibições no cinema. Ainda é considerado um dos filmes de terror mais assustadores.

O CORVO Dirigido por Alex Proyas, o filme foi lançado em 1994 sem o ator principal Brandon Lee que morreu durante as filmagens e foi substituído por um dublê e computação gráfica. Brandon Lee faria uma cena em que era baleado, mas o cartucho de festim foi misteriosamente substituído por uma bala real, que atingiu o ator no abdômen e o matou. A morte prematura de seu pai, Bruce Lee, pouco após as filmagens de Operação Dragão, causou rumores sobre uma maldição que atingiu a família. Outros acidentes aconteceram nas filmagens. Um carpinteiro foi eletrocutado logo no primeiro dia de filmagem. Treze dias depois uma


Brando e que, se ele realmente abandonasse o papel, iria convidar Jack Nicholson, Robert Redford ou Al Pacino para substituí-lo. Após muita negociação, Brando concordou em atuar no filme, com uma condição: de que ele aparecesse sempre nas sombras, para que o público não notasse que ele estava 40 quilos acima do seu peso normal. Ninguém percebeu nada.

tempestade destruiu o principal cenário, atrasando a produção. Mais tarde, mais uma bala foi encontrada no lugar da bala de festim pouco antes de ser usada numa cena. Um homem enfurecido jogou o carro sobre o estúdio de gesso, e um dublê caiu de um telhado. Um cenógrafo feriu gravemente a mão com uma chave de fenda. Mesmo depois de tudo isso, O Corvo virou seriado de TV em 1998 e teve as seqüências, O Corvo – A Cidade dos Anjos de 1996, O Corvo – Salvação de 2000 e O Corvo-Vingança Maldita de 2005.

A PROFECIA O filme dirigido por Richard Donner e lançado em 1976 teve muitas histórias trágicas relacionadas com a produção. Pouco antes do início das filmagens, o filho de Gregory Peck se matou. Dois aviões levando os atores e a equipe foram atingidos por raios. O hotel onde estava a equipe foi bombardeado pelo IRA, mas todos se salvaram, porque estavam num restaurante almoçando. Um avião alugado para o filme foi substituído por um voo comercial e caiu matando todos a bordo. O mais incrível aconteceu com o responsável pelos efeitos especiais,

SANGUE DE BÁRBAROs John Richardson. Numa sexta-feira 13 de agosto de 1976, ele sofreu um acidente de carro, e seu assistente foi cortado pela roda dianteira. Quando conseguiu sair dos destroços, Richardosn viu uma placa na estrada que marcava Ommen 66,6. Omen é o título original do filme e 666 dispensa explicações. Mesmo assim, o filme gerou sequências. A Profecia é o 1º de uma série de três filmes baseados no personagem Damien. Os demais são A Profecia 2 (1978) e A Profecia 3 - O Conflito Final (1981). Houve ainda um quarto filme da série, feito diretamente para a TV americana chamado A Profecia 4 - O Despertar.

APOCALYPSE NOW Em Apocalypse Now dirigido por Francis Ford Coppola e lançado em 1979, as filmagens, programadas para 6 semanas, levaram 16 meses. O ator principal, Martin Sheen teve um ataque cardíaco. As negociações para ter Marlon Brando no elenco foram bastante complicadas. Tendo recebido antecipadamente US$ 1 milhão, Brando ameaçou abandonar o projeto ainda antes das filmagens começarem. Coppola, por sua vez, respondeu que não se importava com a ausência de

Sangue de Bárbaros dirigido por Dick Powell em 1955 foi um desastre pela infeliz escolha das locações num deserto em Utah, onde haviam sido realizados testes nucleares. O resultado foi trágico: das 220 pessoas envolvidas na produção, 91 desenvolveram câncer e 46 morreram prematuramente em função da doença, incluindo os astros John Wayne, Susan Hayward, Agnes Moorehead e o diretor Dick Powell. O filme ficou engavetado por quase 20 anos e foi o último produzido pelo milionário Howard Hughes. Antes de entrar no cinema para assistir a um filme, saiba que muita coisa acontece por trás das telas e das câmeras. Acreditando ou não, os fatos nos mostram que todo cuidado é pouco quando trabalhamos com gente. O erro humano pode causar uma tragédia como a do filme O Corvo. Uma ideia ignorando os fatos pode ser fatal como em Sangue de Bárbaros. Outras tragédias podem ter influências sobrenaturais e que estão além de nossa compreensão. Ao utilizar ossos humanos na piscina do primeiro filme de Poltergeist, o diretor não mensurou o perigo que é brincar com o desconhecido. Até a próxima.

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Gastronomia Da Redação | Fotos: José Filho

Lagash celebra

25 anos

de tradição árabe

em Brasília

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m meados de 1985, Fátima Hamú comprou uma loja na comercial da quadra 308 norte, em Brasília. Cerca de um ano depois, ela deu início às obras no local, que seria uma confeitaria. “Minha mãe fazia bolos, doces e bombons para casamentos, por isso decidimos investir nesse ramo.”, explica. Mas, em um dia inspirado, ao entrar em sua confeitaria quase pronta, ela teve um estalo criativo: Por que não abrir um restaurante árabe? A ideia foi aceita por sua irmã e sua mãe, sócias no negócio. Meses depois, em 13 de fevereiro de 1987, o restaurante Lagash abria suas portas na capital federal. Vinte e cinco anos depois a casa continua a oferecer um cardápio com pratos que espelham o que a cultura culinária árabe tem de melhor. Fátima Hamú apresenta suas receitas aprendidas com a mãe e os avós, que privilegiam sabores,

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aromas e texturas dos ingredientes típicos do Oriente. Os pratos são servidos em preparações fartas, que remetem à comida caseira e ao conceito de comfort food. No cardápio, muitas preparações estão desde a abertura do restaurante. O Cordeiro Marroquino é o prato mais servido há 25 anos! Na receita, a carne terna é cuidadosamente preparada e desfiada com nozes e cebola, servida com arroz alitria (feito com macarrão cabelinho de anjo e manteiga caseira), além de batatas coradas (R$ 46,90 - individual). Clássicos como charuto de folha de parreira, esfirras e quibes também são uma constante. Para harmonizar, a casa dispõe de um carta de vinhos com mais de 200 rótulos de diversos países produtores, inclusive Líbano, Marrocos e Tunísia. Um dos ingredientes mais utilizados no Lagash é a carne de carneiro. “Usamos mais de 300 quilos


por mês.”, conta a chef. Fátima faz questão de que seja uma carne nova e fresca, sempre buscando um sabor delicado e que dê mais suavidade aos pratos. “Retiramos toda a gordura excessiva do carneiro antes de ele ir para a receita, assim garantimos que não tenha aquele sabor forte de que muita gente não gosta.”, explica Fátima. Desde a abertura, o Lagash oferece também pratos especiais para entrega e menus completos para almoços e jantares. Fátima Hamú, proprietária e especialista na culinária árabe Um dos mais pedidos é o carneiro inteiro assado e recheado. A carne fica 12 horas marinando em diversos temperos e depois passa mais sete horas no forno, recheado com arroz de frutas secas, snoubar e especiarias. O resultado é um prato que serve cerca de 20 pessoas, com a carne suculenta e delicada, acompanhada pelo saboroso arroz. Atualmente o Lagash tem 60 lugares, divididos entre os dois salões e a varanda. O espaço interno

é totalmente climatizado, decorado com peças que remetem à cultura árabe. Entre cada ambiente, belos vitrais com linhas artísticas típicas do oriente médio adornam as paredes. Em 2008, foi aberto o Empório Árabe do Lagash, são cerca de quatrocentos produtos que refletem os sabores típicos do restaurante. As prateleiras apresentam ervas, grãos, castanhas, frutas secas, geleias e doces de países do Oriente Médio. Além de ingredientes, como xaropes à base de romã, damasco e jallab (tâmara), tahine (pasta de gergelim), água de rosas, calda de flor de laranjeira e uma infinidade de temperos e especiarias, como zaatar, anis estrelado, cardamomo, macadâmia, snoubar e outros. Fátima também produz em sua cozinha algumas delícias expostas no Empório, como esfirras, quibes fritos e assados. No expositor de frios, a chef oferece coalhada, abobrinha confit, homus, babaganush e queijo chanclique com azeite e zaatar, todos vendidos por quilo.

Serviço

Lagash CLN 308, bloco B, loja 11/17, Asa Norte, Brasília-DF (61) 3273.0098 | 3273.9208 Twitter: @lagashbsb www.facebook.com/lagashrestaurante Horário de funcionamento:12h às 16h e das 19h às 0h (dom. só almoço até 17h) Funcionamento do Empório: Segunda a sábado das 11h às 0h - Domingo de 11h às 17h

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Agenda Cultural

Por: Djenane Arraes | Fotos: Divulgação

Lenda em evolução Bob Dylan vai mostrar em Brasília canções cuidadosamente desenvolvidas ao longo de mais de 50 anos de carreira

B

Origens

merman virou Dylan, nome que adotou em homenagem ao poeta Dylan Thomas. Apesar do apreço pelo rock, foi o folk, mais precisamente o cantor Woody Guthrie, que o levou a Nova York. Entre as ruas de Greenwich Village, reduto de cantores de blues e de folk, ele começou a apresentar canções críticas e de protestos genais. O sucesso chegou com o The Freewheelin’ Bob Dylan. Lançado em 1963, o disco era marcante desde a capa. Bob aparecia abraçado com a então namorada e musa inspiradora, a artista e ativista Suze Rotolo. A fotografia foi tirada por Don Hustein e mostra o casal caminhando pela West 4th Street, em Greenwich Village, apenas a alguns metros do apartamento que o casal dividia. A primeira faixa do disco foi nada menos do que Blowin’ in The Wind, um hino ativista regravado por centenas, inclusive por Joan Baez. Bob Dylan ganhou status de deus do folk. Mas ele não estava tão interessado assim em manter uma condição que por si só era limitante. Daí a introdução da guitarra elétrica, apesar de todo o barulho acústico, e a preocupação desde cedo em aprimorar-se artisticamente. Lá se vão mais de 50 anos de carreira e 56 discos de inéditas e compilações. É um trabalho impressionante desenvolvido por uma lenda viva que o brasiliense terá a oportunidade de assistir. Não dá para perder.

Assim como aqueles que viveram a adolescência na década de 1950, Robert Allen Zimmerman adorava rock. Era fã de Elvis Presley, Buddy Holly e do bluesman Muddy Waters. Essas pessoas inspiraram o jovem Bob a montar uma banda e, consequentemente, sair a tocar em bares, praças e onde mais o aceitassem. Foi nessa lida que o Zim-

Serviço Bob Dylan em Brasília 17 de abril às 21h30 Ginásio Nilson Nelson Ingressos: de R$ 120 a R$ 250

ob Dylan foi o maior símbolo da música folk de cunho político da década de 1960. Em clássicos como Ballad of Donald White, Like a Rolling Stone e Master of War, ele criticou a sociedade e a política estadunidense. Ato de coragem numa época em que o mundo estava em ebulição. Mas não é este Bob Dylan a que o público brasiliense vai assistir no dia 17 de abril, no Ginásio Nilson Nelson. O artista que estará no palco não é mais aquele ícone, mas sim uma lenda viva da música internacional que tornou-se maior do que o movimento que integrou no início da carreira. O artista que faz turnê em cinco capitais em 2012 há muito tempo não se dedica exclusivamente ao violão. Deixou de ser um purista do folk desde 1965, na ocasião do lançamento do disco Bringing it All Back Home. Para algumas pessoas, a introdução da guitarra elétrica foi uma traição ao movimento. Para Dylan, introduzir um pouco de eletricidade na música dele foi um resgate às origens e o início da evolução também como instrumentista. Ele acredita que a evolução da música está associada ao palco. É ali, ao vivo e no calor da plateia, que a música evolui. Por isso é que o brasiliense não deve ir ao show pensando em assistir versões fiéis de clássicos. Dylan pode surpreender e mostrar uma versão diferente.

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Música

Bohumil Med*

Música e o vinho

U

m dos compositores populares de maior sucesso na história da música é o austríaco Johann Strauss, o filho, (1825/1899), considerado o rei da valsa – dança da moda, na época –, autor de No Belo Danúbio Azul (conhecida simplesmente como Danúbio Azul), a valsa mais tocada até hoje. Segundo historiadores, Strauss foi símbolo de uma época que glorificava uma alegria de viver jamais superada. Diz-se até que o encanto que suas valsas provocam assemelha-se ao prazer que o vinho produz, numa compatibilidade perfeita como o próprio compositor transmite na famosa valsa Vinho, Mulheres e Música opinião compartilhada pelo francês Claude Debussy (1862/1918), quando compôs Prélude à l’après-midi d’un faune e o prelúdio A Porta do Vinho. Como na música, também se encontra poesia no vinho. Há nele a expressão de um autor que manifesta prazeres, emoções e um talento criador muito além da técnica adquirida. Dessa conjuminância é que deve originar sua harmonização com obras musicais.

à tentação de um vinho italiano quando ouviu Pavarotti cantando O sole mio. O movimento Outono das Quatro Estações, de Vivaldi, A Fortuna, da Carmen Burana, de Carl Orff, ou os brindes frequentes nas óperas românticas também aumentam os prazeres dos apreciadores da bebida favorita do deus romano Baco (Dionísio para os gregos). Os ouvintes do rock também têm suas preferências. Eles aprovaram, por exemplo, a combinação de Cabernet Sauvignon com Rolling Stones e Chardonnay com Tina Turner. E a vinícola australiana State Warburn lançou uma coleção de quatro variedades de uvas, recomendadas para harmonizar com sucessos da legendária banda de rock AC/DC. Diante dessas e de outras conclusões sobre o agradável casamento da música com o vinho, os restaurantes já poderiam apresentar ao cliente uma carta sugerindo a harmonização do vinho, não só com o prato escolhido, mas também com a música de fundo.

HARMONIZAÇÃO

FELIZES PARA SEMPRE

Existem vários tratados, artigos e sugestões sobre harmonização do vinho com iguarias. Já a literatura sobre harmonização do vinho com música é bem escassa e, apesar de não haver subsídio técnico, já está provado que a música altera a percepção do sabor do vinho. Vejam algumas conclusões: numa universidade, na Escócia, formaram-se vários grupos de estudantes para degustar o mesmo vinho. Os grupos foram acomodados em espaços separados, ambientados com músicas diferentes. Ao final da experiência, a avaliação divergiu bastante de um grupo para o outro. Outro tipo de experimento, feito para saber que tipo de música mais se harmonizaria com os variados tipos de uvas, constatou, por exemplo, que, no restaurante com música cantada por Edith Piaf, a venda de vinhos franceses aumentou. Já o “Anel de Nibelungo”, de Wagner, estimulou o consumo de vinho branco alemão, e ninguém resistiu

A lua de mel desse casal começou bem antes da consumação. Vem desde a plantação dos vinhedos. Uma pesquisa comprovou os efeitos positivos que as ondas sonoras resultantes da execução das obras musicais têm sobre o sistema radicular, foliar e floral, que pode até proteger as plantações dos parasitas e predadores das uvas. Já no processo fermentativo, a música proporciona aumento de glicerina e diminuição de açúcar, deixando o vinho mais profundo e denso. Parte técnica de lado, o que interessa é a prática. Assim, levanto um brinde com música a todos – Saúde!! E, um importante lembrete: beba sempre com moderação, e se beber, não dirija nunca! *Bohumil Med Professor emérito da Universidade de Brasília. Com a colaboração de Regina Ivete Lopes

A maior livraria musical da América Latina está localizada em Brasília. Aqui você encontra: • Livros de música, DVDs didáticos-musicais, • Métodos e Partituras: • Importados e nacionais; • Em todos os estilos; • Para todos instrumentos musicais; • Nivel iniciante ao avançado

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Meio Ambiente

Por: Lígia Moura | Fotos: Moreno

Alimentos orgânicos

atraem mais

consumidores E tornam população mais saudável O que são produtos orgânicos? Os produtos orgânicos atraem, cada vez mais, um número maior de pessoas que buscam uma alimentação mais saudável. O produto orgânico é produzido em um ambiente onde os princípios agroecológicos seguem regras de uso responsável do solo, do ar, da água, e dos demais recursos naturais. A agricultura orgânica se difere da tradicional, porque ela não admite o uso de fertilizantes sintéticos solúveis, agrotóxicos e transgênicos. Os diferentes tipos de solo e clima do Brasil sem dúvida o colocam como um país com grande potencial para o crescimento dessa produção.

Uma história de sucesso! A fazenda Malunga, que possui 120 hectares e mais de 220 funcionários, segue esse modelo de produção orgânica há 28 anos.

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A agrônoma e dona da marca Malunga, Clevane Ribeiro, 42 anos, conta que a fazenda possui a certificação da Ecocert (garantia dada aos produtos orgânicos aos principais mercados mundiais, segundo o guia ISO 65), registrado no Ministério da Agricultura. Ela relembra que a ideia começou com o seu marido, o deputado distrital, Joe Valle (PSB), 47 anos, quando ele ainda era estudante da UnB. Desde os tempos de universidade, Joe e seus amigos questionavam o sistema de produção convencional. Depois, cada um seguiu seu rumo e Valle continuou o projeto. Com uma loja que vende produtos exclusivamente orgânicos, a agrônoma diz ter mais de 500 itens cadastrados e todos de procedência brasileira. Com relação à produção, ela afirmar ter uma ideologia de não usar agrotóxico e

fazer produtos diferenciados. “Não é uma produção fácil, porque nós não temos tecnologia, nem insumos no mercado. O Brasil tem muito a crescer nesse sentido. Os países da Europa têm orgânicos que vão desde a comida de cachorro à fralda de bebê”, observa. Por esse motivo, ela diz que se preocupa em visitar produções do mundo inteiro e do Brasil, a fim de se especializar nesse modelo de plantio saudável. Clevane ressalta que faz entregas há mais de 17 anos, praticamente em toda Brasília. “Passamos a distribuir para supermercados há 13 anos. No total são mais de 60 supermercados nas grandes redes de Brasília”. Ela diz que existem algumas exigências e requisitos básicos a serem seguidos a risca pela empresa. “Os supermercados tem check-list e algumas auditorias, por isso procuramos estar sempre


dentro das regras”, conta. O serviço de delivery atende também a consumidores.

O que a lei diz? Os produtos orgânicos estão submetidos a uma regulamentação específica, desde 1º de janeiro de 2011. Todos os agricultores brasileiros que desejam comercializar produtos orgânicos devem estar identificados com o selo do Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica (SISOrg). O selo serve para atestar que o produto encontra-se de acordo com as novas regras. O que dizem as novas regras? Bem, elas estabelecem alguns requisitos que incluem armazenamento, rotulagem, transporte, certificação e fiscalização. No Brasil, a Lei 10.831/03 é conhecida como Lei dos Orgânicos, regulamentada pelo Decreto 6.323/07.

Tipos de consumidores Para a nutricionista Ângela Fernandes, 44 anos, existem três tipos de consumidores dos produtos orgânicos. O consumidor ecológico e militante é aquele que sabe o que quer. Conscientizado e informado, ele faz suas compras com atenção. Verifica se o rótulo tem algum selo de certificação dos produtos para saber a origem, como foi produzido e que garantias têm. Ele questiona a ausência de embalagens degradáveis para os produtos orgânicos. Evita alimentação industrializada e produtos que tenham resíduos químicos. O segundo tipo é o consumidor que deseja iniciar um novo estilo de vida e de consumo. Ele procura

informações sobre como está a sua alimentação. Aceita recomendações de pessoas que conhecem os produtos orgânicos, já que estas pessoas têm mais informações a respeito dos produtos e seus benefícios. Neste caso, cabem aqueles que estão buscando um novo estilo de consumo por causa de doenças ou intoxicação. Para melhorarem a alimentação, procuram orientações médicas e de nutricionistas. Por último, temos o consumidor gourmet, que procura produtos de alta qualidade, sejam eles orgânicos ou não. Os produtos orgânicos lhe interessa por causa da garantia do sabor e do frescor dos alimentos. Este consumidor prioriza que o produto processado não tenha conservantes ou aditivos de qualquer espécie. Ainda que por motivos diferentes, é igual ou mais exigente que o consumidor militante. Fabiana Andrade tem apenas 24 anos. Desde os 18, adotou a filosofia de cuidar do corpo e da mente. Quando ela conheceu os orgânicos, ficou impressionada com o sabor dos alimentos e com os benefícios que essa mudança de postura lhe trouxe. “Eu compro somente produtos orgânicos pensando em ter uma qualidade de vida no futuro. Atualmente está mais fácil encontrar esses produtos nas prateleiras dos mercados”, ressalta. Para Antônio Moura, 48 anos, a mudança de consumo ocorreu mais tarde. Mesmo assim, ele sente os benefícios de uma alimentação livre de agrotóxicos. “Na minha opinião, todos devem fazer o melhor para cuidar da saúde. Comecem já!”. Fica o convite de Antônio aos leitores.

Serviço Fazenda Malunga - Empório Orgânico CLN 315 bl. E lj. 60 (61) 3202.6003 www.malunga.com.br O site disponibiliza o serviço de delivery

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Propaganda e Marketing

Carlos Grillo*

Esses criativos geniais e seus

clientes limitados

N

a Roma antiga, quando retornava vitorioso de uma batalha, um general embarcava numa biga e desfilava pela cidade para ser aclamado pelo povo e receber sua salva de palmas no Senado.Por força de lei, um escravo seguia a pé o cortejo e, a cada 500 jardas, subia na biga para sussurrar no ouvido do general: “Lembra-te que és mortal”. Algo como: aproveite os momentos de júbilo, mas mantenha-se humilde, pois disso depende a sua vida. Conheci essa história no livro Qual é a Tua Obra? do filósofo Mario Sergio Cortella. Ao ler a passagem, logo me ocorreu um paralelo com o mundo da publicidade e do marketing promocional. Em especial, no que se refere às relações, por vezes esquizofrênicas, entre as agências e os seus clientes. Embora desejem uma parceria, é lugar comum ver ambos tratarem-se como adversários ou até mesmo como inimigos.De um lado está o cliente: limitado, autoritário, despreparado, incapaz de alcançar a grandeza e a genialidade das soluções apresentadas pelos criativos. Do outro lado, está o profissional da agência: imaturo, irresponsável, ególatra, reativo, incapaz de aprofundar-se nos problemas da empresa e de entender o consumidor. Apesar de unidos por acordos comerciais e interesses mútuos, optam por travar batalhas sem sentido, das quais todos saem derrotados. E o que é pior: diante da impossibilidade de vencer, um lado dedica-se à triste prática de diminuir e ridicularizar o outro. Mas quem está certo, então? Temo que ninguém. Agências e clientes poderiam, em favor do bem comum, reavaliar suas posições. Com parcimônia. Com autocrítica. Com bom senso. E, acima de tudo, com cuidado. Escancarar os problemas e destilar preconceitos nas arenas públicas só estimula o confronto. Infelizmente, essa ainda é uma tática usada com frequência. Às vezes, por erro de avaliação. Às vezes, por ingenuidade.Mas,via de regra, motivada por dois pecados capitais: a soberba e a vaidade. O fato é que a paz para esse tipo de conflito não está nas ruas. Está em casa. A solução não está na publicidade. Está no endomarketing. Está no perfil da empresa.

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No seu modelo de gestão. Na sua cultura organizacional. Nas suas políticas de RH. Na orientação e no exemplo dos gestores para suas equipes. Trocar o debate pelo combate e o respeito pelo desdém apenas dividiu o setor. Em um polo, ficou o universo dos anuários e das premiações. Repleto de peças ótimas do ponto de vista criativo, mas muitas vezes absurdas do ponto de vista da comunicação. No outro pólo, o universo do cotidiano com peças duvidosas do ponto de vista da comunicação e aberrações criativas. Mas, e se houvesse um equilíbrio? Bem, o criativo levaria em conta que suas peças não são publicadas com manuais de instrução. E que ele dispõe de poucos segundos para arrebatar o consumidor e estabelecer um diálogo. Por sua vez, o cliente consideraria que é necessário boa dose de ousadia para não passar despercebido. E que aqueles mesmos poucos segundos separam gastos inúteis de investimentos. Ah, os prazos seriam ampliados, assim como o esforço das partes em encontrar uma ideia não só adequada, mas também brilhante. O trabalho se tornaria mais desgastante, mas a relação seria mais saudável. A necessidade de acordo é urgente. Por quanto tempo os generais da criação vão dar de ombros a quem deveriam encantar? Até quando vão tomar por ignorantes e mal humorados aqueles que aprovam suas campanhas e pagam seus soldos? Será que um dia os generais anunciantes vão baixar suas canetas e negociar? Hoje, estima-se que mais de 40% dos clientes estão insatisfeitos e desejam trocar suas agências. Mais do que nunca, esse é o momento do mercado absorver a lição dos antigos romanos. Fica a sugestão: contratem estagiários para assoprarem nos ouvidos dos seus chefes: “Lembra-te que és mortal”. “Lembra-te que és mortal”. “Lembra-te que és mortal”.

*Carlos Grillo Sócio-Diretor da Fermento Soluções em Comunicação E-mail: grillo@fermentopromo.com.br Twitter: @carlosgrillo


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Vinho

Antônio Duarte *

Borgonha C

Côte D’Or – Côte de Beaune

ontinuando nossa viagem pela Borgonha, vamos visitar o outro lado da Côte D’Or, região dos grandes vinhos brancos, sem dúvida dos melhores do mundo. Faça sua base em Beaune, cidade medieval e famosa por ter sido a capital do Ducado da Borgonha, antes da unificação da França. Lá você deve visitar o famoso Hospices de Beaune, obra-prima da arquitetura da Borgonha (1443). O Hospices foi um hospital para pobres, fundado pelo Chanceler do Duque da Borgonha Nicolas Rolin, para garantir seu lugar no céu. Hoje é um belíssimo museu. O hospital foi transferido para outro local em 1971. A sua manutenção é feita por doações que são vendidas em um famoso leilão no terceiro domingo de novembro. As vendas estão ao redor das 300 mil garrafas/ano. Os preços são altos, mas justificado pela causa. Os vinhos são vendidos em barril e amadurecidos e engarrafados pelo comprador. Outra visita obrigatória é o Museu do vinho dos Duques de Borgonha. Vale visitar e degustar seus vinhos. Sob as ruas medievais de Beaune existe um outro tesouro. Quilômetros de caves que escondem milhares de garrafas. O visitante pode degustar, pois as caves ficam abertas, como a Marché aux Vins, pelo preço do ingresso, degustar umas 20 marcas de vinho, ou adquirir algumas garrafas, a preços melhores que os das lojas. A partir de Beaune, faça seu roteiro com as dicas abaixo: As comunas mais importantes são: Aloxe - Corton, Pernand - Vergelesses, Savigny - Les - Beaune, Chorey - Les - Beaune, Beaune, Pommard, Volnay, Monthélie, Auxey - Duresses, Saint - Aubin, Mersault, Blagny, Puligny - Montrachet, Chassagne 68

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- Montrachet e Santenay. Selecionamos abaixo as mais importantes: Aloxe-Corton – é a primeira comuna que desce do vilarejo de Nuits Saint Georges para o sul e encontra vinhos brancos e tintos de qualidade ótima e excelente. Os Grand Cru são o Corton (tinto), e o Corton - Charlemagne e Charlemagne (brancos). O Corton - Charlemagne e o Charlemagne, brancos de grande estrutura, citados ao lado dos Mersault como os de grande qualidade da Borgonha e do mundo. Leva este nome em homenagem ao Rei Carlos Magno, antigo proprietário de vinhedos na região. Os Premier Cru são em número de dezesseis. Pommard – Produz excelentes tintos, geralmente de muita estrutura e que precisam de oito a dez anos para afinarem. São vinhos ditos másculos por sua austeridade. A região não possui nenhum Grand Cru, mas existem 28 Premier Cru. Volnay – tintos ricos em aromas elegância e finesse, porém um pouco mais leves que os de Pommard, dizem mesmo que são mais femininos e portanto mais redondos. Tal como o anterior, não há Grand Cru e os Premier são em número de 34, exclusivamente de tintos. No entanto, os vinhedos de Volnay-Santenots, na divisa com Mersault, produzem um vinho de uma elegância extrema. Mersault – Nesta sub-região, predominam os vinhos brancos e de muita classe, elegância e longevidade. São dezessete Premier Cru e nenhum Grand Cru, sendo um predomínio dos brancos, com aproximadamente 95% do total da produção. Puligny-Montrachet – região de ouro para os brancos da Borgonha, produzindo apenas muito poucos tintos. Provém desta região o Le Montrachet, que é considerado o melhor vinho branco

da França, com parte do vinhedo em Puligny e parte em Chassagne, assim como Bâtard - Montrachet. Os outros grand cru, também exclusivamente brancos, são o Bâtard - Montrachet, Bienvenue - Bâtard - Montrachet, e o Chevalier - Montrachet. Os Premier Cru somam 18 vinhedos. Chassagne-Montrachet – pode-se considerar que esta sub-região produz vinhos muito bons. Apenas um pouco inferiores em nível dos que os Puligny-Montrachet. Divide o vinhedo de Montrachet com o vizinho. O Grand Cru exclusivo desta comuna é o Criots-Bâtard-Montrachet. Produz-se nesta região uma quantidade maior de tintos, embora os brancos sejam mais afamados.

CÔTE CHALONNAISE É uma sub-região que está começando a crescer tendo em vista que os vinhos produzidos são de boa qualidade, ainda que inferiores aos da Côte D’Or, mas que possuem uma boa relação custo X benefício. Existem cinco comunas: Mercurey, Givry, Rully, Montagny e Bouzeron. No entanto, a mais conhecida é realmente Mercurey que produz cerca de dois terços da quantidade de toda região e quase a totalidade (noventa e cinco por cento) de tintos . Os vinhos tintos são mais leves que os do norte e portanto, ficam prontos em cerca de dois anos. São produzidos também nesta região uma quantidade grande de vinhos genéricos, como os Bourgogne (singelo) e o Bourgogne Aligoté, que são como na maioria fermentados em tanques de concreto. Alguns produtores mais prestigiosos fazem alguns vinhos envelhecidos em barril de carvalho. *Antônio Duarte Presidente da Associação Brasileira de Sommelier


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Boa leitura com um bom café

Tá lendo o quê?

Locação, venda e assistência técnica de máquinas para café espresso Brasília: 106 Norte Bl.C Lj. 52 | Tel: 61.3033-1010 Goiânia: Rua 17 nº 64 - St Oeste | Tel: 62.3942 4588

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Cristina Calegaro

Nelson Calandra

Livro O poder de delegar

Livro 101 Dias em Bagdá

Livro Sem Medo de Viver

Livro Caminhando

Autor Donna M. Genett

Autor Äsne Seierstad

Autor Max Lucado

Editora Best Seller

Editora Record

Editora Thomas Nelson Brasil

Autor Desembargador Sebastião Luiz Amorim Editora Letras do Pensamento

Muitos profissionais acabam tomando para si atividades que, se delegadas de maneira correta, com objetividade e detalhamento necessários, renderiam grandes resultados, e mais: proporcionariam o tempo, a tranquilidade e o distanciamento essenciais a uma gestão competente. O livro mostra como melhorar seu desempenho, diminuir as margens de erro, assegurar resultados sempre positivos e aliviar-se do estresse.

Trata-se do relato da jornalista norueguesa especializada em cobrir guerras. Neste caso, ela relata a guerra do Iraque, ocorrida em 2003. Em seu depoimento, observa-se nitidamente a postura do ditador Sadan Hussein que governava seu país impondo medo à população, embora tivesse inúmeros seguidores. De outro lado, a autora relata a força americana e a destruição que ela traz, atingindo inúmeros civis. Da mesma forma, percebe-se claramente o interesse americano em guerrear, usando como pretexto a ideia de que o Iraque seria perigoso ao mundo por possuir arsenal atômico, o que nunca foi comprovado, pelo contrário.

O autor mostra um novo caminho para uma vida sem medo, que ajuda a libertar e redescobrir a fé. Recomendo a obra porque nós vivemos cercados pelo medo: crise econômica, terrorismo, guerras, doenças, desemprego. Como podemos sobreviver tendo de lidar com tantos temores?

Ana Paula Garcia

Bruno von Sperling

Presidente da AMB

Uma homenagem aos amigos e parentes do colega e amigo Sebastião Amorim, o livro Caminhando reúne relatos líricos e memórias sobre sua infância e o dia a dia do magistrado. Em um registro minucioso da trajetória deste exímio escritor – com diversas obras publicadas e voltadas ao Direito –, o trabalho ainda apresenta inúmeras poesias e um belo acervo fotográfico, que auxiliam a contar esta brilhante trajetória.

Ki-Filé Cavalcante

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Rindo à Toa Por: Fádua Faraj

Preciso de um cupido que tenha uma bazuca no lugar de arco e flecha. A mulher enganou o Cão, Adão, Sansão e Lampião, agora imagina tu que é bestão! Se um dia quem você ama lhe trair e você pensar em se jogar de um prédio, lembre-se: você tem chifres e não asas. Os problemas da vida são como um tarado bem dotado: melhor encarar de frente, porque se você der as costas.... Se você ainda não encontrou a pessoa certa, vai se divertindo com a errada mesmo! É preciso amar as pessoas como se elas fossem te emprestar dinheiro amanhã. Casamento é igual a uma piscina gelada, o primeiro que pula fica fingindo que a água tá boa. Celulites não são apenas celulites, elas querem dizer...”Eu sou gostosa”. Só que em Braille ! Até a dengue tem casos e você não!

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Esporte

Da Redação | Fotos: Divulgação

Hugo Parisi

garante vaga para as

Olimpíadas de Londres Satiro Sodre/Divulgacao CBDA

Brasileiro garantiu a vaga olímpica ao ficar entre os 18 semifinalistas da Copa do Mundo de Saltos Ornamentais

O

saltador brasileiro Hugo Parisi, brasileiro melhor colocado no ranking mundial de saltos ornamentais, acaba de garantir a vaga para participar dos Jogos Olímpicos de Londres 2012, que serão realizados em julho. Hugo conquistou a vaga durante a Copa do Mundo de Saltos Ornamentais, que está sendo realizada no London Olympic Aquatic Centre, mesmo local onde serão realizados os Jogos. Para conquistar a vaga, Parisi precisava se classificar entre os 18 semifinalistas da competição. Após o último salto, Hugo somou 431,45 pontos e terminou a prova em 14° lugar. “Foi uma competição muito tensa, mas consegui me concentrar no que tinha que fazer e realizei uma prova muito boa. Agora que já cumpri minha principal missão, que era garantir a vaga olímpica, quero me concentrar para a semifinal da Copa do Mundo para tentar melhorar a pontuação”, comentou o saltador. Participaram da eliminatória 42 atletas de todo o mundo. Hugo estava em 20° lugar até o final da 5ª rodada. Na 6ª e última rodada, Hugo realizou seu melhor salto e assumiu a 14ª colocação, garantindo sua vaga olímpica. “O Hugo saltou muito bem e mereceu a vaga. Ele vem trabalhando duro e agora está recebendo a recompensa do seu esforço. Neste ano, nosso objetivo é chegar numa inédita final olímpica e vejo que estamos no caminho certo”, comentou Ricardo Moreira, treinador do atleta. Outro brasileiro na prova, Cassius Duran, terminou a competição na 37ª colocação e não se classificou para a semifinal. Os 12 primeiros colocados da semifinal se classificam para a final.

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Frases Aquele que rouba minha carteira rouba lixo. Aquele que rouba meu bom nome rouba o que não lhe faz mais rico, mas me torna mais pobre.

Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados. MillorFernandes

William Shakespeare

Sou bem diferente, sou, das outras mulheres todas. Eu quero, antes os meus defeitos que as virtudes de todas as outras. Florbela Espanca

Para tornar a realidade suportável, todos temos de cultivar em nós certas pequenas loucuras. Marcel Proust

O maior pecado, depois do pecado, é a publicação do pecado. Machado de Assis

A vida é jovial. A morte é a calma. É a transição entre uma e a outra que nos cria problemas. Isaac Asimov

Quem quis, sempre pôde.

A guerra é a obra de arte dos militares, a coroação da sua formação, a insígnia dourada da sua profissão. Não foram criados para brilhar na paz.

Luís Vaz de Camões

Isabel Allende


Justiça

Atalá Correia*

Os desafios da

H

Lei Maria da Penha

á motivos de sobra para se assustar com os dados estatísticos relativos à violência doméstica, realçados a partir da promulgação da Lei Maria da Penha (Lei 11.340, de 7.8.2006). De janeiro a novembro de 2011, foram registrados pela polícia 10.171 casos em todo o Distrito Federal. Mais de 900 casos por mês. Aproximadamente 30 casos por dia. E esses números representam apenas aquela pequena parcela de ofensas, ameaças, lesões corporais, estupros e homicídios que chegam ao conhecimento das autoridades. Como pudemos conviver tanto tempo com isso, sem que houvesse uma legislação específica para tratar do tema? A resposta, nada evidente, é: somos uma sociedade muito mais machista do que ordinariamente imaginamos. Nunca havíamos nos dado conta de tamanha calamidade. Basta isso para constatarmos que a Lei Maria da Penha representa um indescritível avanço para concretizar direitos fundamentais das mulheres. Ocorre que a promulgação de leis e a formação de estatísticas não são fins em si mesmos, mas meios para que se alcance um fim maior, qual seja, o combate e redução desse cenário de violência doméstica. Passados mais de cinco anos deste marco regulatório, ainda há muito a avançar. Apenas um dia de trabalho junto às vítimas revela que a violência doméstica tem raízes em profundos distúrbios familiares, sociais e psíquicos, para os quais a lei, a pena e a prisão são remédios, no mais das vezes, insuficientes. A grande maioria delas sofre ao lado daquele que ama, ou pensa amar. Essa especial característica da violência doméstica é chamada de duplo-vínculo. Faz com que a vítima escolha manter-se próxima do agressor, muitas vezes sob a ilusão de que aquele episódio não se repetirá, de que aquela foi a última vez ou, ainda, de que há conserto para a situação. Em muitos casos, a violência cessa – ou tem tudo para cessar – com o divórcio, mas este não é uma escolha plausível. As vítimas não desejam se divorciar, não querem a punição do agressor. Simplesmente anseiam que cesse a violência, assim como o frequente abuso de álcool e drogas por parte dos agressores.O duplo-vínculo explica porque muitas vítimas se retratam da reclamação apresentada contra seus ofensores, porque um sem número delas sofre reiteradas lesões antes de denunciar a situação e porque

algumas permanecem ao lado dos agressores enquanto eles cumprem a pena. Há dupla vitimização. A mulher sofre na pele a violência doméstica e, em razão de sua especial situação de dependência, não consegue por meios próprios desvincular-se de seu agressor.A jurisprudência de nossos tribunais, até poucos dias atrás, não era sensível a essa peculiaridade. Predominava o entendimento de que, dada a notícia da ocorrência de lesões corporais à polícia, a mulher poderia se retratar, colocando um ponto final no processo criminal contra seu agressor. No dia 9 de fevereiro, julgamento do Supremo Tribunal Federal esclareceu que era equivocada a interpretação da lei que vinha sendo feita. Agora, prevalece a interpretação de que, após a comunicação do fato à polícia, as autoridades devem investigar e punir o agressor independentemente da vontade da vítima. Protege-se a mulher das pressões que contra ela possam ser exercidas. No entanto, como qualquer decisão judicial, a manifestação do STF se limita a corrigir os caminhos pelos quais se interpreta a lei. Ela não extrapola, e nem poderia, o aspecto jurídico do problema.Uma lei rigorosa é necessária, mas insuficiente para lidar com a violência doméstica. É necessário implementar políticas públicas que permitam restaurar harmonia no seio familiar e emancipar as mulheres social, econômica e psicologicamente. Os avanços a serem perseguidos devem ser intensificados com o fornecimento amplo e gratuito de apoio às famílias envolvidas. Psicólogos e médicos certamente detêm ferramentas mais apropriadas para tentar restabelecer, se possível, alguma harmonia no seio familiar. O Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios conta com uma rede de profissionais de saúde amplamente capacitada para o apoio aos envolvidos em tais casos. Mas o papel desses profissionais, no âmbito do Judiciário, só se dá após a criminalização da violência doméstica. Essa atuação deveria se dar de forma preventiva, em postos de saúde e hospitais, para que seus esforços encontrem a família antes que a desarmonia se transforme em violência. (*) Atalá Correia Professor do IDP (Instituto Brasiliense de Direito Público), mestre em Direito pela USP e juiz de Direito do TJDFT

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Diz Aí, Mané

No mundo há 20% de água potável e 3% de água doce.

Eu gosto da pena de morte. Quem comete crimes terríveis merece uma punição. É um jeito de ele aprender a lição na próxima vez.

Com a repurificação da água muitos peixes voltaram à vida.

Fumar mata. Se você morrer, terá perdido uma importante parte da sua vida.

A concentização é um fato esperançoso para o território mundial.

A situação tende a piorar: o madereiros da Amazônia destroem a Mata Atlântica da região.

…eu não concordo nem discordo, muito pelo contrario.

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Tem que destruir os destruidores por que o destruimento salva a floresta.

Assista depois, capitulo inédito de Vale a Pena Ver de Novo. Galvão Bueno


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Cresça e Apareça

carla ribeiro*

Esporte

e superação

O

discurso que valoriza o esporte como instrumento na formação cidadã dos jovens é comum. Vários aspectos peculiares à prática esportiva podem ratificar essa assertiva. Com o intuito de motivar os leitores a adotar a prática do esporte como ritual a ser seguido diariamente, quero abordar uma dessas características: a superação. Sem entrar no mérito dos benefícios à saúde que a prática esportiva resulta aos atletas, a questão que formulo aqui é: como a prática esportiva pode ser benéfica na formação do indivíduo e por quê? Primeiro, é oportuno ressaltar que o praticante de exercícios físicos precisa se alimentar melhor do que aqueles que não têm esse hábito, uma vez que há aumento nos índices de radicais livres no corpo humano com o esforço despendido na prática de exercícios, daí a necessidade de se suplementar ou qualificar o valor nutritivo das refeições. De fato, alguns valores parecem ser regras nas diversas modalidades esportivas. Por exemplo, a ideia de superação. Tanto para os iniciados como para os iniciantes na prática esportiva, esse preceito está presente. Do primeiro dia, quando a técnica é vacilante e o corpo débil, até à época da quase perfeição, quando corpo e técnica se confundem, a superação é um princípio que precisa ser adotado pelo praticante. Ela é necessária para que as dificuldades dos primeiros treinos não suplantem a satisfação obtida com o domínio da prática ou com a obtenção da condição física desejada. Outro conceito emerge para melhor entendimento do termo: limite. A questão é relativamente simples: todos têm limites físicos e mentais. Porém, eles podem ser alterados dependendo do empenho e da dedicação do indivíduo. Cada indivíduo que inicia uma atividade física precisa tentar se superar, essa é a ideia que abordamos aqui de superação. Inicialmente na Grécia antiga, o atleta tinha como meta superar os seus próprios limites. Quando conseguia, era divinizado. Considerado semideus, porque superava suas barreiras individuais. O esforço para ir além do resultado

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anterior exigia do atleta empenho. Algumas vezes, a busca por melhores marcas, resultava na vitória sobre outros. A vitória, atualmente almejada por todo atleta, era decorrência do objetivo de se superar. É certo que os avanços tecnológicos tanto na órbita de melhores equipamentos esportivos, roupas que proporcionam melhores desempenhos aos atletas de alto rendimento, técnicas especializadas que ofertam melhor desempenho físico, suplementos e hormônios que potencializam a força muscular, quanto o rico comércio que movimenta o mundo esportivo, com a exigência de resultados cada vez mais espetaculares, trouxe outro sentido para a ideia de superação. Dependendo do compromisso do praticante com a modalidade e com as entidades de administração e prática esportiva, a superação envolve também a obtenção de marcas e recordes. Deve-se superar também o outro. Mas a experiência de conseguir a cada dia um pouco mais do que conseguia antes - esse progresso que pode ser alcançado com empenho - proporciona ao praticante satisfação física e mental. A experiência, por exemplo, de participar de uma maratona pode ser enriquecedora para o crescimento emocional do praticante, conforme comprovam várias pesquisas que tentam mensurar os níveis de satisfação do corredor maratonista. Abordarei, em outra oportunidade, outros aspectos da prática esportiva. Fato é que a superação é extremamente relevante para o enfrentamento da rotina de desafios da atualidade, especialmente no que diz respeito à acirrada competitividade que faz emergir diariamente centenas de marginalizados, e requer preparo intelectual, físico e emocional do indivíduo para que ele exerça a prerrogativa de cidadão e saia da margem social. Sem dúvida, o esporte é importante instrumento para preparar o campeão de que a atualidade demanda. *Carla Ribeiro é advogada, doutoranda em psicologia organizacional, mestra em sociologia, tetracampeã mundial de caratê e presidente do projeto Formando Campeões



Ponto de Vista

Erika Kokay*

O poder e N

o batom

este mês, em que comemoramos o Dia Internacional da Mulher, marcado na Câmara dos Deputados pela celebração dos 80 anos do direito da mulher ao voto, é fundamental refletirmos sobre nossas conquistas e os múltiplos desafios que ainda se delineiam para tornarmos mais justa e mais democrática a sociedade brasileira. Considero que a grande revolução ocorrida na segunda metade do século XX foi a das mulheres – uma revolução que saiu do âmago feminino com uma força imensa e se exteriorizou de forma inexorável, abrindo caminhos e galgando obstáculos. Avançamos muito nesta busca de sermos nós mesmas. Hoje não apenas rememoramos que 129 mulheres morreram carbonizadas numa fábrica de tecidos em Nova York, no dia 08 de março de 1857, quando lutavam por uma jornada de trabalho mais humanizada. Não apenas lembramos que há apenas 80 anos as mulheres neste país têm o direito de votar. Afinal, cada conquista da mulher foi tecida com dor e com muita coragem. É o caso da Lei Maria da Penha, sancionada há apenas seis anos pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva e cimentada nas dores das mulheres que tinham medo de voltar para casa, de estar justamente no espaço onde podemos ser nós mesmas – no nosso lar. Ora, quando há medo de voltar para a própria casa é porque o universo em que se vive está eivado de violência e contaminado por uma lógica de dominação em que aqueles que se sentiam donos das terras também se sentem donos das mulheres e das crianças. É a lógica das capitanias hereditárias, hoje pós-modernas, em que ocorre a despersonalização da mulher, transformada em espelho dos desejos do homem; uma lógica fascista em que há a negação do outro enquanto semelhante. No último dia 09 de fevereiro, demos mais um passo nesta luta da mulher, com a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que assegurou a constitucionalidade da Lei Maria da Penha e lhe deu ainda mais força. Sem dúvidas, o Brasil ficou mais democrático com o entendimento da Suprema Corte de que essa lei não fere o princípio constitucional de igualdade, e sim o contrário. A lei Maria da Penha busca proteger as mulheres para garantir uma cultura de igualdade de direitos efetiva, sem preconceitos, sem discriminação e sem violência. É um marco legal que não só as mulheres têm que empunhar, mas toda a sociedade, porque é um instrumento de busca de direitos. Não podemos dizer que vivemos uma democracia plena enquanto tantas mulheres ainda tombam sob as armas do machismo e do sexismo. A cada 15 segundos, uma mulher sofre alguma agressão física no Brasil. A cada duas horas, uma é assassinada. Mulheres de todas as profissões, classes sociais e idades sofrem violências físicas, que deixam marcas na pele, e também

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psíquicas, morais, sexuais ou patrimoniais, cujas marcas ficam na alma. A persistência dessa violência constitui um pesado retrocesso civilizacional e é uma forma cruel de controle sobre o nosso poder e a nossa sexualidade. Nós queremos o poder sim. Mas não o poder contra os homens, nem o poder de dirigir instituições falidas, mas o de sermos nós mesmas, o de exercermos a condição humana que nos foi castrada. Queremos desconstruir todas as burcas invisíveis que ainda fazem com que nós, mulheres, sejamos apenas 8,7 por cento dos 513 deputados federais eleitos em 2010. Em média, temos no Brasil somente 9% de mulheres em todas as esferas do Poder Legislativo, somando as Câmaras de Vereadores, as Assembleias Legislativas e o Congresso Nacional. É uma percentagem menor que a dos países árabes. E nós somos hoje 52% da população brasileira. É preciso que as mulheres estejam em todos os espaços de poder. Este é o lema que vamos trabalhar neste 2012. Já elegemos a primeira mulher a ocupar a Presidência da República, Dilma Rousseff, que levou à Assembleia Geral das Nações Unidas um Brasil altivo, emergente, que continua a crescer, em plena crise internacional, com mais justiça social e distribuição de renda. Já temos uma Secretaria de Políticas para as Mulheres, hoje conduzida pela valorosa ministra Eleonora Menicucci. Temos ainda, pela primeira vez, uma mullher presidindo o Tribunal Superior Eleitoral - Cármen Lúcia Antunes Rocha. Também temos, pela primeira vez, uma mulher na presidência de uma das maiores empresas deste país, a Petrobras - Graça Foster. Passo a passo, vamos ocupando os espaços e combatendo todas as formas de discriminações, que são muitas. Algumas podemos medir: as mulheres são as primeiras a serem demitidas, ganham menos que os homens, são as maiores vítimas da violência doméstica. Outras são imensuráveis. É o caso da ditadura da perfeição: quando a mulher adentra o espaço culturalmente ocupado pelo homem, não pode errar. A desigualdade de gênero é tecida com os fios de uma perversa lógica sexista. Basta! Queremos, sim, ter o poder da caneta, o poder do microfone, mas queremos continuar usando o batom. Nós, mulheres do século XXI, queremos abrir e ocupar todos os espaços naturais da mágica condição humana. Só assim poderemos bater no peito e dizer que vivemos numa sociedade em que cabe todo mundo e onde ninguém se sente excluído.

*Erika Kokay Deputada Federal e Vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados


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