AFROCENTRISMO: ENTRE UMA CONTRANARRATIVA HISTÓRICA UNIVERSALISTA E O RELATIVISMO CULTURAL*
P. F. De Moraes Farias**
C
inco livros recentes têm atiçado os debates em torno do afrocentrismo.1 Uma abordagem equilibrada do assunto desses livros pode ser feita a partir de alguns dos temas levantados, com perspicácia e erudição, pelo historiador afro-americano Wilson Jeremiah Moses em seu estudo sobre historiografia popular.2 Primeiro, embora tenha havido tentativas de definí-lo de maneira rígida, o “afrocentrismo” não é uma doutrina monolítica, mas um rótulo que cobre um leque de posturas e propostas (nem todas elas discutidas pelas cinco obras a que nos referimos
* Tradução do inglês de João José Reis. Uma versão anterior deste texto foi publicada sob o título “Afrocentrism: Between Crosscultural Grand Narrative and Cultural Relativism”, Journal of African History, vol. 44, no 2 (2003), pp. 327-340. * * Professor da Universidade de Birmingham, Inglaterra. 1 Yaacov Shavit, History in Black: African-Americans in Search of an Ancient Past, Londres, Frank Cass, 2001; Francois-Xavier Fauvelle-Aymar, Jean-Pierre Chrétien e Claude-Hélène Perrot (orgs.), Afrocentrismes: l’histoire des Africains entre Égypte et Amérique, Paris, Karthala, 2000; Théophile Obenga, Le sens de la lutte contre l’africanisme eurocentriste, Paris, Khepera/L’Harmattan, 2001; Molefi Kete Asante, The Painful Demise of Eurocentrism: An Afrocentric Response to Critics, Trenton NJ (Estados Unidos) e Asmara (Eritreia), Africa World Press, 1999; Clarence E. Walker, We Can’t Go Home Again: An Argument about Afrocentrism, Oxford, Oxford University Press, 2001. 2 Wilson Jeremiah Moses, Afrotopia: The Roots of African American Popular History, Cambridge, Cambridge University Press, 1998, pp. 3, 9-13, 17, 29, 32, 35-37, 62, 8485, 94-95, 191, 225, 230-231, 236, 239.
Afro-Ásia, 29/30 (2003), 317-343
317