Capítulo 1 Em um final de semana alimentando a minha ociosidade, como um intruso, claro que fazendo de conta que nem prestava a atenção, fiquei no meu canto ouvindo as falas e os cantos de uma apresentação que envolvia Milton Nascimento e Caetano Veloso. O que cantavam não era novidade, mas suas falas me prendiam cada vez mais e também me encantavam, pois aquela conversa fazia uma espécie de tradução para outra língua quanto à „coisas‟ que envolveram a canção “A Terceira Margem do Rio”. Eu, ainda quietinho no canto, atento ao DVD, ouvia os autores da desta obra prima falarem da outra: “A Terceira Margem do Rio” que se trata da criação de Guimarães Rosa. Então a minha imaginação foi mais longe ainda, ou melhor, foi para o outro lado do rio. Qual rio? Fui para o outro lado do rio Camanducaia que corta a minha cidade em duas fatias, sendo uma mais próxima do sul de Minas e a outra „virada‟ pro lado de „sum paulu‟ como dizem os mineiros. E esta „salada‟ com um misto de mineirice baiana, sob foco paulista, provocou reflexões e interpretações sobre as palavras que em determinado momento são cantadas por Milton e Caetano: “Meio a meio o rio ri por entre as árvores da vida O rio riu, ri por sob a risca da canoa O rio viu, vi e ninguém jamais ouviu O rio, ouviu, ouvi a voz das águas