Içá no Mundo dos Gigantes

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IÇÁ

NO MUNDO DOS GIGANTES TEXTO: VÂNIA MARIA NOGUEIRA DE VASCONCELOS ILUSTRAÇÕES: CECÍLIA VASCONCELOS (TÍTI BÊVÍ)


Era meados de janeiro e já chegaram as grandes chuvas. Abaixo da grande Jaqueira, o movimento era intenso no formigueiro onde morava Içá, a pequena e diferente Içá! - Você lembra dela, não lembra? Aquela que sonhava conhecer o Mundo dos Gigantes. Pois é, agora, ela já é uma mocinha. Então como eu dizia, o formigueiro encontrava-se em grande alvoroço, pois era chegado o grande dia, o“dia da revoada”. As chuvas já chegaram, faltava apenas o sol aparecer...Içá, finalmente iria realizar seu grandesonho!


Toda a colônia está em festa e cada uma das formigas procuravam desempenhar suas funções. Enquanto isso, as tanajuras, mocinhas casamenteiras, estavam agitadas e tagarelavam sem parar. Apenas, Içá permanecia isolada em um canto, tentando organizar o turbilhão de pensamentos que passava por sua cabecinha. Pensava nos conselhos de sua mãe e de sua avó. Na vida no formigueiro segura e confortável. E nos perigos que iria enfrentar.


Apesar da umidade na colônia, o dia seguinte amanheceu diferente. Dava para sentir um calor vindo de fora, adentrando o formigueiro. Ao acordar Içá percebeu um clarão vindo da entrada, era o sol que surgia quente e radioso. Içá não se conteve de tanta euforia! Estava pronta! Agora sim, ela iria realizar seu grande sonho, conhecer os perigos e as maravilhas do misterioso. Mundo dos gigantes.


Já em suas filas, todas esperavam caladas, havia um suspense no ar, o grande momento da subida, era aguardado por elas. Em seu melhor traje, Içá se sentia linda e feliz. Enquanto esperava ficou relembrava as histórias que ouvira sobre o Mundo dos Gigantes, um lugar cheio de belezas, encantos, mais também de muitas surpresas e ameaças.


Custava a acreditar que finalmente iria poder ver o céu, as árvores, conhecer os outros bichos, os que andam de quatro patas, os que rastejam e os alados. Os famosos gigantes, figuras enormes que aprisiona tanajuras para depois comê-las. Içá, tremia só de pensar, ‘'precisava ficar longe desses animais e humanos”. Sabia que devia ter muito cuidado, que seu vôo não seria fácil, e que iria enfrentar vários perigos. Por isso precisava agir com sabedoria e, seguir os conselhos de sua mãe.


De repente começa a ver os primeiros raios de sol e vagarosamente avança rumo ao desconhecido, parecia está com sorte, pois até ali tudo estava tranquilo. E reza : - Ó Senhor, Deus das formigas não me desampare, me proteja de todos os males!


Assim, preferiu ficar entre as Ăşltimas da fila, nĂŁo queria se arriscar, pois percebeu que as primeiras tanajuras eram capturadas antes mesmo de atravessar a boca da entrada.

Podia ver grandes dedos que rasgavam a terra em volta do formigueiro e arrastava suas companheiras, as tanajuras que nĂŁo estavam atentas. Cautelosa, olhava para todos os lados e subiu devagarinho, sempre junto a parede, procurando proteger-se.


E assim, prossegue sua caminha. Faltava poucos passos até o trajeto final, já na saída fica paralisada diante de tantas belezas. Mas não pode se distrair, por isso cuidou logo de observar ao redor do formigueiro e percebe a presença de figuras estranhas que gritavam e gesticulavam inquietas. Por sorte, não lhe avistam e rapidamente Içá corre para se esconder embaixo de uma grande folha verde. Sentindo-se segura em seu esconderijo, aproveita para admirar a paisagem tudo a sua volta, o céu, as flores, os animais na terra e os alados, tudo era muito colorido e enorme. Nada lembrava seu habitat.


Estava extasiada com tanta beleza, porém se deu conta que precisava agir, não podia se dar ao luxo da distração, duas coisas estavam em jogo, sua vida e seu destino. Assim, tratou logo de observar com cuidado tudo a sua volta. O local estava repleto de gigantes que carregavam nas mãos um objeto estranho onde dezenas de tanajuras estavam aprisionadas. A cena a deixa aterrorizada! Seu temor aumenta ainda mais quando um enorme pé pisa na folha ao seu lado. Ao constatar o perigo, em silencio e cuidadosamente foge dali, passando de folha em folha até alcançar um lugar seguro, e aos poucos vai se afastando ainda mais da boca do formigueiro.


Esperançosa que ali é mais seguro, respira aliviada e murmura: - Ufa! Escapei por pouco. Preciso sair logo daqui, antes que eu seja encontrada. Ilusão, a sua! No novo esconderijo, ela vê bem a sua frente mais e mais tanajuras sendo capturadas, mortas e algumas comidas ainda vivas.


Os soldados coitados, tentavam inutilmente defendê-las com seus ferrões, e apesar de arrancarem gritos de dor dos invasores, estavam em desvantagem pelo tamanho e pela força dos mesmos. Assim, muitos deles acabavam por morrer esmagado nos dedos dos gigantes. A luta era desigual, os soldados não eram páreo para os gigantes.


Como se não bastasse, outras tantas, eram capturadas por gafanhotos, lagartos e outros animais alados.

Diante da cena, Içá, decidiu pensar no que fazer e lutar: - Assim, não vai sobrar nenhuma de nós! - Será que vou conseguir escapar? E pensa: ''É preciso reagir, continuar minha jornada...''


Então, aproveita para experimentar o cheiro e o sabor das flores, sabia que corria perigo, mas valia a pena, havia sonhado com isso durante muito tempo e guerreira como ela só, sabia que sairia vencedora. Ainda não tinha tido coragem de alçar vôo, e isso lhe angustiava. Mas, mas ao ver os gigantes com grandes folhas na mão, correndo atrás daquelas que não conseguiram alçar vôo, achou melhor lutar e enfrentar os gigantes. Cravou seus ferrões nas mãos que tentavam captura-las e ajudou várias amigas a salvar suas vidas.


O perigo ainda era grande e preferiu ficar quieta, não se arriscar. E fica assistindo a algazarra das crianças que corriam de um lado para outro, com galhos nas mãos, balançando suas folhas e cantando no mesmo ritmo: “Cai, cai tanajura que teu pai tá na gordura... Cai, cai tanajura que teu pai tá na gordura”...


A princípio achou engraçado, mas logo se deu conta que aquilo era um ritual de captura e ficou zangada com tanta maldade. Indignada com tanta crueldade, decidiu pensar em formas de extrair o melhor daquela situação. Quando percebeu que o sol estava desaparecendo, viu também que as crianças haviam indo embora e não tinha mais ninguém na boca do formigueiro. Tomando coragem, se aventurou num belo vôo!


Mas, resolve voltar até a boca do formigueiro. Embaixo da jaqueira, tudo era desolação, soldados, tanajuras e outras formigas estavam mortas, tudo era tristeza. Mais uma vez, Içá chora e se entrega a dor da revolta, pela perda irreparável de tantas vidas. E ali, ficou por horas. Sabia que não podia entrar no formigueiro, precisava seguir em frente, cumprir sua missão. Já se preparava para levantar vôo novamente, quando ouve gritos, pedidos de socorro, vindo de longe. Corre ao encontro daquela voz e se vê frente-a-frente com um macho, bastante ferido.


Muito machucado implorava ajuda. Içá prontamente foi até ele e cuidou de tratá-lo... -Calma, fique calmo, vou ajuda-lo. O que aconteceu? - Estava embaixo de uma folha e fui pisoteado por um gigante. - Qual seu nome? -Bitu, e o seu? Como conseguiu escapar? - Meu nome é Içá. Consegui me esconder e me manter viva, escapar daquela batalha, batalha não, aquilo foi um extermínio. Vi muitas cenas horríveis. - Mas, vamos cuidar de você. Por sorte suas asas estão intactas, é um milagre ainda estar vivo.


Íçá aprendera com sua mãe e avó que solidariedade e principalmente amor ao próximo são armas poderosas e essenciais a sobrevivência. Ela cuidou de Bitu até ele ficar totalmente curado, e durante esse tempo ficaram amigos, alias mais que amigos, eles se apaixonaram e juntos puderam formar um novo formigueiro.


Bitu não disfarçava o orgulho e a felilicidade de poder tornar-se rei ao lado da corajosa Içá. Juntos escolheram o local para o novo formigueiro. Ele estava certo, Içá tornou-se uma grande líder, era uma rainha sabia, generosa. Sempre que podia repassava os ensinamentos aprendidos na antiga colônia, seus costumes e tradições. No novo lar, tiveram muitas formiguinhas e foram felizes para sempre.


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