BLUETRAVEL-IBIZA

Page 4

IBIZA CORRE UM ZUNZUM DE

QUE IBIZA É ILHA DE FARRA…

A Dom Camilo e ao seu vagabundo ao serviço de Espanha...

“D

om Vicente fez uma bonita obra”, pensa o viajante, enquanto passeia o olhar de alto a baixo e de lés a viés como uma borboleta desajeitada. Quando a beleza é grande há um certo desgoverno. Por esta altura, o viajante está sentado à beira do caminho de Sant Carles de Peralta debaixo de um sol acariciador e faz desenhos da casa de Dom Vicente num caderninho. É uma casa muito arranjada, coberta de flores e cercada por árvores de fruta, hortas cuidadas e um olival corpulento. Para onde quer que se olhe, a paisagem é alegre e feliz. No desenho do viajante a casa está desfavorecida, embora o burro sentado sobre o rabo e a lavadeira vesga debruçada no tanque estejam menos mal. Em 1522, o tetravô de Dom Vicente, de seu nome completo Andrés Cardamomo Linares y Marín, também conhecido por El Momo, comprou o outeiro de Can Curreu, acrescido de um olival selvagem, três gatos monteses, uma raposa perneta, um porco-espinho, duas onças, um boi pardo e uns poucos de choupos, castanheiros e ciprestes, para ali construir um posto dos correios.

Na ponta mais alta de um monte pelado, El Momo propunha-se levantar um posto de vigia de mouros e outros animais indesejados e não especificáveis. Durante quatro séculos, a família Linares e Marín acartou sacas de cartas e encomendas do porto de Eivissa até ao outeiro de San Rafael e deu caça grossa ao infiel. A chegada do “mais indesejado dos animais: o construtor civil”, segundo a expressão de Dom Vicente, foi a última e a mais dura batalha dos Marín. Enquanto os caciques de Eivissa se dedicavam a plantar monos de cimento sobre a praia e a desfigurar antigas estalagens e aldeias graciosas, o herdeiro de El Momo decidiu vingar a memória dos seus antepassados e criar uma obra de referência. “Hoje todos os donos de turismos rurais me copiam”, diz Dom Vicente e não precisa de modéstias nesta matéria, pois é a mais pura das verdades. A finca de Can Curreu, que servirá de hospedaria ao viajante, não tem rival entre as dezenas de propostas que semeiam a ilha de Ibiza, excepto o Can Domo, de Bárbara e Lorence, nas cercanias de Santa Eulària des Riu, que vale por ser um dos turismos rurais mais genuínos e aprazíveis. Das muitas arribações a Ibiza de Bárbara, uma belga viajada e de gosto finíssimo, acabou por nascer o Can Domo, um turismo rural menos sofisticado do que o >>>

CAN DOMO Pertence a Bárbara, uma belga trota-mundos que importou para uma paisagem de finca e olival a decoração balinesa. Materiais simples em antigos currais

100

B L U E

T R A V E L


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.